AO ANOITECER!
Venâncio está sentado em uma cadeira, lendo um jornal.
Depois de três minutos desse silencio, ele para a leitura e fica olhando para o espaço vazio
como no ar, como se estivesse olhando para um futuro e um passado distante, e se levanta
segundos após essa reflexão, e vai até a mesa ao seu lado com o jornal enrolado na mão e
simula estar matando um inseto na mesa batendo com o jornal na mesma.
Após simulara o assassinato do inseto sobre a mesa ele se inicia em solilóquio:
Venâncio: - Assim se faz o destino zomba da vida como se existisse!
E novamente se volta para a cadeira e se faz em reflexão por alguns segundos em silencio.
E após o silencio se faz em monologo novamente:
Venâncio: - E no silencio me faço de vida, no silencio encontro comigo mesmo.
Pausa...
Venâncio: - E às vezes encontrar -se consigo mesmo é encontrar-se com Deus, com o seu Deus.
(apontando o dedo indicador para a plateia)
Pausa...
Venâncio levanta-se novamente em silencio e vai até a mesa em que assassinou o inseto e
diante dela mexe em algo sobre a mesma e para ereto estático em reflexão por alguns
segundos.
E em soliloquio faz sua apresentação de existência e sizo:
Venâncio:- Eu sou Venâncio, não tenho mais o que, apenas sou esse ser distante de tudo e de
mim mesmo.
Venâncio:- Sou um vigilante, eu faço vigília, do meu quintal eu dou conta de todas as estrelas
do céu, certa noite deu-me por falta de uma delas! Cadê a profana estrela que estava ali e me
desavisou?
Venâncio:- Ah era uma estrela cadente e caiu, e enquanto ela caia eu tive 5 segundos, cinco
segundos para fazer o pedido! E fiz, e fiz, e fiz.
Faz-se silencio novamente, e Venâncio fica taciturno e de expressão fechada sisudo.
Passa-se alguns segundos de reflexão em silencio, Venâncio se volta para a cadeira e senta
novamente, apanhando o jornal que ele deixou sobre a mesa enrolado.
E com o jornal aberto em sua frente tapando o seu rosto ele se inicia em monologo
novamente:
Venâncio: - E fiz! E enquanto eu estava de olhos fechados fazendo o pedido, meus sonhos
estavam despertos, a esperança batia em minha porta dos fundos, e os milagres aconteceram.
Pausa...
Venâncio se apega à leitura novamente e se faz em silencio por alguns segundos.
Pausa...
Venâncio: - O milagre que esperei nunca me aconteceu! A estrela que escolhi caiu no mar e se
afundou.
Pausa...
Venâncio: - Mas eu faço vigília, do telhado de minha casa eu dou conta de todas as ondas do
mar, e torço, Deus como eu torço, para que uma delas se distorça de seu percurso natural e se
desvie para que eu possa ver brilho de luz no fundo do mar, brilho de luz no fundo do mar. (diz
isso com a expressão fechada olhando para a plateia com o jornal na mão).
Venâncio levanta-se novamente com o jornal aberto e em silencio, e após estar ereto amassa o
jornal, e chuta em direção ao espaço vazio.
Permanece ereto olhando para o jornal, mas em direção ao longínquo, faz – se uma reflexão
de alguns segundos e caminha em direção à mesa, apoia-se nela e vai se virando para a plateia
em monologo:
Venâncio:- Ao anoitecer eu entro em trevas, pois que minha existência se apaga com o sol, e o
milagre que esperei nunca me aconteceu.
Venâncio:- Ao anoitecer tudo me é falta, e de tudo eu não tenho falta, mas me falta o tudo que
eu não tenho!
Venâncio:- Ao anoitecer eu fico assim, por ser assim um Venâncio que se cansou de si, um
Venâncio que não quer mais milagres.
Pausa...
Venâncio caminha para a plateia, pachorrento e em silencio, passa-se alguns segundos
olhando para a plateia, mas pra bem mais longe!
Pausa...
Venâncio:- Ei, (apontando o indicador para a plateia) se você souber nadar, faça- me o favor,
quem sabe só você pode dar o que já é meu, o milagre que esperei nunca me aconteceu, e a
estrela que escolhi caiu no mar e se afundou!
Pausa...
Venâncio:- Esse é o meu anoitecer, esse é o meu viver, eu sou o Venâncio sem mais o que!
Pausa...
Após alguns segundos inicia-se em soliloquio novamente:
Venâncio:- Nunca fui mais longe do que aquela curva, (aponta para o fundo do teatro com o
indicador) sei não, se além da curva tem vida, somente sei que cá de onde eu olho vejo tudo e
vejo além do tudo.
Pausa...
Venâncio:- Somente cá me basta pra tudo, pois que tenho tudo, só ainda não aprendi a nadar,
pois o córrego daqui não me serve para me banhar.
Pausa...
Venâncio se volta para a cadeira novamente, antes de se sentar ele se vira e olha em direção
ao jornal ao chão, caminha para o jornal e o apanha, e em seguida se volta para a cadeira e se
senta em silencio olhando para o jornal amassado.
Pausa...
Após alguns instantes ele desamassa o jornal e o abre novamente e diz:
Venâncio:- Ao anoitecer há pessoas que rezam por você, e há também os da esquerda que
nem ao menos se importam. (em solilóquio com o jornal tapando o seu rosto)
Após fazer o soliloquio Venâncio, amassa o jornal novamente, levanta-se da cadeira com o
jornal amassado na mão, anda de um lado para o outro pachorrento e taciturno, e ainda com o
jornal na mão, aí ele para e olha o jornal amassado na mão e com gesto de fúria atira-o ao
chão, e em monologo diz:
Venâncio:- Mas pra que me importar se eu ainda tenho o quê! (diz isso caminhando para a
plateia)
Venâncio:- Sou Venâncio que tem o quê! (diz isso já próximo da plateia)
Pausa...
Venâncio:- tenho o anoitecer, e Deus está dentro dele, mas não tenho Deus dentro de mim,
pois não tenho milagre, não sou o milagre.
Venâncio diz isso virando se de costas para a plateia e caminha em direção à mesa, onde está o
cadáver do inseto, e ao se aproximar da mesa ele se apoia, e em monologo diz:
Venâncio:- Cá está o que a vida me oferece! (apontando o dedo do indicador para o inseto
morto em cima da mesa).
Venâncio:- Esse é o meu anoitecer, esse é o meu o quê!
Após dizer isso olha para o jornal atirado ao chão, e taciturno caminha até ele, após chegar
próximo do jornal, ele se abaixa e o apanha, levanta ereto com o jornal na mão amassado,
freneticamente o abre e lê uma notícia.
Venâncio:- “O sonho terminou, faleceu hoje assassinado em frente ao hotel em que estava
hospedado, John Lennon”.
Pausa...
Venâncio novamente caminha para a plateia, sisudo, e em monologo diz:
Venâncio:- ele não teve o anoitecer, (apontando o dedo para o jornal aberto em sua mão) ele
apenas passou pela vida, ele teve o que!
Pausa...
Venâncio:- ao contrario de mim, pois eu tenho o anoitecer, e o meu o que, não passou, pois
não o tive, agora o tenho, mas ficou tarde, porque eu estou no anoitecer!
Pausa...
Venâncio:- e o meu anoitecer foi toda a treva quem entrou em minha vida, nunca obtive o
milagre que esperei, apenas senti a esperança de tê-lo!
Pausa...
Venâncio:- e agora com essa certeza concretizada tenho o meu o que, pois tenho a certeza de
Após dizer isso Venâncio se volta para a mesa em silencio e se apoia ereto na mesma, e após
esse feito ele se inicia em monologo de finalizar a sua existência e ato:
Venâncio:- eis aqui o que sou, eis aqui o meu o que, eis aqui o que busco, e minha sina
supérflua, o meu anoitecer perfeito, o meu ser Venâncio, o milagre que me fugiu!
FIM.
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Venâncio está sentado em uma cadeira, lendo um jornal. Depois de