XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004
Um Estudo sobre Empresas Juniores como Fonte de Aprendizagem
Jair Toledo de Souza (UFJF) [email protected]
Junia Côrtes Facão de Paulo (UFJF) juniafalcã[email protected]
Vanderli Fava de Oliveira (UFJF) [email protected]
Resumo
O objetivo principal deste trabalho é ressaltar a importância de uma Empresa Júnior (EJ) de
Engenharia de Produção para a consolidação dos cursos, e principalmente, o crescimento
dos alunos, a partir das experiências vividas durante o período de criação e consolidação da
Mais Consultoria em Engenharia de Produção, Empresa Júnior do curso de Engenharia de
Produção da UFJF. Para tanto apresenta-se um breve retrospecto sobre as Empresas
Juniores e sobre o processo de criação e implantação da Mais Consultoria e discorre-se
sobre os benefícios desta para os alunos e para o curso.
Palavras chave: Empresas Juniores, Aprendizagem, Engenharia de Produção
1. Introdução
Segundo a Brasil Junior (Confederação Nacional de Empresas Juniores), Empresa Júnior é
uma associação civil, sem fins lucrativos, constituída por alunos de graduação de
estabelecimentos de ensino superior, que presta serviços e desenvolve projetos para empresas,
entidades e sociedade em geral nas suas áreas de atuação sob a supervisão de professores e
profissionais especializados (NEJ/UFJF, 2003).
Para Takeuchi (2003), a Empresa Júnior tem a natureza de uma empresa real, com diretoria
executiva, conselho de administração, estatuto e regimento próprio, com uma gestão
autônoma em relação à direção da faculdade, centro acadêmico ou qualquer outra entidade
acadêmica. A mesma autora ainda elenca como objetivos das EJs o disposto no quadro 1.
Proporcionar ao estudante a aplicação prática de conhecimentos teóricos, relativos à área de
formação profissional específica.
Desenvolver o espírito crítico, analítico e empreendedor dos alunos.
Contribuir com a sociedade através de prestação de serviços, proporcionando ao micro,
pequeno e médio empresário especialmente, um trabalho de qualidade a preços acessíveis.
Intensificar o relacionamento empresa-escola.
Facilitar o ingresso de futuros profissionais no mercado, colocando-os em contato direto
com o seu mercado de trabalho.
Valorizar a instituição de ensino como um todo no mercado de trabalho.
Fonte: Takeuchi, 2003
Quadro 1 - Principais Objetivos das EJs
A primeira Empresa Júnior de que se tem notícia surgiu na ESSEC (L'École Supérieure dês
Sciene Economiques et Commerciales) França em 1967. Desde então o Movimento Empresa
Júnior (MEJ) vem se difundindo e pode ser considerado como um fenômeno econômico e
empresarial: um faturamento de 19 milhões de dólares em 114 empresas juniores, mais de
4.200 projetos, 1 100 membros trabalhando em projetos apenas na França. O processo de
internacionalização ocorreu em 1986 e hoje existem Empresas Juniores espalhadas por todo o
mundo: Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Eslovênia , Suíça, Alemanha, entre outros. A
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Europa conta hoje com uma Associação Européia de Empresas Juniores (JADE) e
Confederações Nacionais em todos os países.(Takeuchi, 2003)
No Brasil, a idéia foi introduzida pela Câmara de Comércio França-Brasil em 1988. As
primeiras Empresas Juniores começaram a surgir no final deste ano, com as Empresas
Juniores da Escola Politécnica da USP, FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), da
FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da Universidade Mackenzie (Andrade, 1995).
Relacionado à Engenharia de Produção o movimento Empresa Júnior é recente no país, sendo
registrada a primeira Empresa Júnior desta modalidade há aproximadamente 12 anos, o que
foi constatado no 1º Encontro Nacional de Empresas Juniores de Engenharia de Produção
realizado pela ABEPRO JOVEM em outubro de 2003 em Ouro Preto - Minas gerais - Brasil.
As EJs, além, do reconhecimento que angariaram nos cursos pelos resultados que vêm
auferindo, têm sido consideradas como aspecto a ser contabilizado no processo de avaliação
das condições de ensino que é realizado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) para reconhecimento e recredenciamento dos cursos de Engenharia.
É importante ressaltar, ainda, que a Resolução CNE/CES 11 (11/03/2002) que “institui as
diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Engenharia”, estabelece
claramente que o Projeto Político Pedagógico do curso deve estimular atividades
complementares como a participação dos alunos em empresas juniores (1).
(1).§2º Deverão também ser estimuladas atividades complementares, tais como trabalhos de iniciação
científica, projetos multidisciplinares, visitas teóricas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de
protótipos, monitorias, participação em empresas juniores e outras atividades empreendedoras (grifo
dos autores).
A participação em Empresa Júnior enseja ao estudante a oportunidade de desenvolver
habilidades que dificilmente seriam obtidas em outros espaços do curso, razão pela qual tem
sido contemplada inclusive em dispositivos legais.
2. Breve Retrospecto sobre a Mais Consultoria em Engenharia de Produção
Idealizada por iniciativa própria dos alunos do curso de Engenharia de Produção da UFJF, a
MAIS Consultoria é fruto de um longo processo que teve início em 2001, com a disciplina
Tópicos Especiais em Engenharia de Produção, ministrada pelo então Mestrando em
Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ George A Galvão Esteves, Professor Convidado
da UFJF e que foi um dos fundadores da Empresa Júnior do curso de Administração de
Empresas da UFJF em 1993, quando integrava o corpo discente do mesmo. Esta disciplina
teve como ementa o conteúdo de Empreendedorismo, o que acabou por motivar um grupo de
alunos que, juntamente com a Coordenação de Curso, deram os primeiros passos no sentido
da criação da MAIS Consultoria.
O início da implantação da Empresa Júnior ocorreu 2002, quando os alunos se reuniram para,
primeiramente, aprender e entender o que é uma Empresa Júnior. Várias reuniões foram
realizadas por um grupo significativo de alunos do curso e envolvendo quase a metade do
total de matriculados. Nestas reuniões a EJ foi sendo construída e os primeiros documentos
referentes a esta foram formatados. Também, neste período iniciaram-se as negociações junto
a Faculdade de Engenharia, assim como, benchamarking com outras Empresas Juniores,
visado implementar articulações para a efetiva criação. No mês de Agosto de 2002, ocorreu
uma Assembléia Geral dos alunos do curso onde a criação da Empresa Júnior foi aprovada
por unanimidade sendo que cerca de 40% dos alunos do curso estiveram presentes. Foram
realizadas reuniões semanais abertas onde as idéias foram colocadas e debatidas, visando
tornar a construção da EJ um ato coletivo. Conservando o espírito da democracia, foram
realizadas eleições para a diretoria piloto, para agilizar as negociações e efetivamente fundar a
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empresa.
Este movimento foi repentinamente freado pelo fato de ter existido na Faculdade de
Engenharia da UFJF, uma Empresa Júnior e que acabou sendo fechada por não ter
apresentado resultados positivos para os alunos, professores e instituição. Dentre os principais
problemas relatados sobre esta EJ não cumprir satisfatoriamente o seu estatuto e desrespeitar
cláusulas contratuais, o que causou-lhe, inclusive, problemas judiciais e intervenção da
Faculdade. Com isso os lideres do movimento tiveram que elaborar novas estratégias para a
criação da EJ, o que culminou com a implantação mesmo sem o apoio da Direção e do
Conselho da Faculdade de Engenharia, iniciando as suas atividades de forma improvisada e
ocupando uma parte da sala da Coordenação da Engenharia de Produção. Além da
Coordenação, na Faculdade de Engenharia, a MAIS só contou com o apoio do Departamento
de Engenharia de Produção. O movimento corria o risco de sucumbir pelas barreiras impostas
pela Faculdade de Engenharia, caso essa atitude de criação da EJ na “semi-clandestinidade”,
não fosse tomada.
No dia 23 de Janeiro de 2003, a MAIS Consultoria nasceu e foi realizado o primeiro processo
trainee, idealizado pela diretoria piloto. Para a realização deste processo seletivo a Empresa
Acesso Comunicação Júnior auxiliou na realização das entrevistas e estagiárias de Psicologia
avaliaram as dinâmicas de grupo. O Processo foi montado desta forma visando refletir o que
ocorre na prática e, também, para que o mesmo fosse o mais imparcial possível.
Com o staff de 13 membros, as atividades da então recém fundada Mais Consultoria
iniciaram-se. Esse período também se caracterizou pelo processo de estruturação interna da
Empresa, assim como, o início de algumas parcerias. As parcerias com órgãos como
SEBRAE/MG e Centro Industrial foram fundamentais para a aceitação da empresa por parte
da Faculdade de Engenharia.
Visando ainda superar obstáculos devido à forma como foi criada, foi feito um acordo com a
Direção da Faculdade e a MAIS foi “oficializada” como um Projeto de Extensão, inclusive,
com abertura de conta na Fundação Centro Tecnológico (FCT) da Faculdade, sob
responsabilidade do Coordenador de Curso e do Chefe do Departamento de Engenharia de
Produção. Embora esse fosse um fator de desconforto, na prática, a MAIS funcionava de
forma autônoma e livre de intervenções, como uma EJ plena.
Além desta dificuldade, foi necessário a elaboração de projetos para a estruturação dos
processos internos da empresa, observando-se as áreas da Engenharia de Produção, sendo este
um momento importante para a empresa e, também, de desafio para os seus membros. Outro
ponto positivo para a MAIS foi a prática do benchmarking o que acabou por ser de grande
auxilio na sua estruturação.
4. Contribuição para a formação acadêmica
A implantação da Mais Consultoria é uma prova real de que os alunos desde o primeiro
período até os últimos podem trabalhar e aprender uns com os outros, quando ocorreu uma
troca de idéias, de conhecimentos e de identificação para com a empresa. Essa participação
efetiva de todos é importante, por se tratar de uma empresa do curso de Engenharia de
Produção como um todo, e não de um grupo dentro deste. Acima de tudo, a empresa é de
todos os alunos e parceira estratégica do curso.
Outro ponto positivo para os membros da EJ de Engenharia de Produção é a possibilidade de
convivência com Empresas Juniores de outros cursos como Comunicação, Administração de
Empresas, Economia, Turismo além dos outros cursos de Engenharia da UFJF,
desenvolvendo assim habilidades, inclusive vocabular, para lidar com vários tipos de
profissionais com os quais um Engenheiro de Produção deve travar contato na realização de
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suas atividades profissionais.
Outra contribuição para a formação acadêmica é a realização de projetos sob orientação de
professores, o que permite a formação de consultores juniores aptos para a execução desses
projetos. É importante ressaltar, ainda,. o trabalho de integração disciplinar realizado pela
equipe de projeto e pelos orientadores, quando, em um mesmo projeto são elencados
conhecimentos de várias disciplinas do curso, desde o ciclo básico até as profissionalizantes e
específicas. Esta fase de estudo para a execução dos projetos permite que o aluno desenvolva
uma outra postura frente às disciplinas, o que resulta em auto-aprendizagem e,
conseqüentemente, maior facilidade de aprender, deixando-os mais motivados no curso, pois
conseguem visualizar aplicações práticas para os conteúdos teóricos que estão sendo
ministrados.
Além das vantagens citadas acima, o “empresário júnior” tem a oportunidade de gerenciar
uma empresa real, que sofre com as instabilidades do mercado, no entanto ele tem o apoio de
uma Instituição de Ensino Superior para dar o suporte técnico necessário sem interferência na
forma de gestão da empresa. Os consultores juniores desenvolvem características de
liderança, empreendedorismo, negociações, profissionalismo, ética, trabalho em equipe,
trabalho sob pressão (cumprimento de prazos, atritos com clientes, restrições inesperadas,
etc). Um importante aprendizado é o de lidar com as frustrações, pois muitas vezes se
preparam para um projeto e este não é realizado.
" ´Trabalhando` na Empresa Júnior, o aluno tem a oportunidade de articular, de forma menos
virtual e mais empírica, os conhecimentos que estão sendo acumulados ao longo da sua
formação universitária, por intermédio de projetos de ´verdade`, e submetidos a exigências de
qualidade também de ´verdade`. Surgem, ou mudam radicalmente, valores como
responsabilidade, cumprimento de prazos, ética profissional, compromisso, autoridade e
outros” (Andrade, 1995).
5. Conclusões
Com a globalização e o conseqüente acirramento da competição das empresas, estas
necessitam desenvolver vantagens competitivas o que aumentou a necessidade de
investimentos em pesquisas para a elaboração de novos produtos ou serviços. A Universidade
por sua vez é um espaço de pesquisa, com laboratórios e equipamentos disponíveis,
pesquisadores e corpo técnico experiente que precisam de campo para desenvolver suas
experiências. Neste contexto, a interação universidade-empresa vem surgindo como uma
forma das empresas buscarem na universidade os subsídios para desenvolver novos produtos
(Takeuchi 2003).
No entanto, no Brasil há dificuldades no relacionamento empresas-universidades, ao contrário
do que se pode observar em países com os Estados Unidos ou na Europa, mas as Empresas
Juniores podem incrementar esta integração. Para tal é necessário que as instituições de
ensino superior disponibilizem o suporte adequado para o surgimento, manutenção e
crescimento das EJ´s. Para a Engenharia de Produção especificamente, pode-se notar nas EJ´s
existentes o crescimento que estas trazem para os respectivos cursos, tais como: divulgação,
maior integração com a sociedade, parcerias com instituições relacionadas e acima de tudo
melhor formação dos alunos.
Apesar do paradigma de separação entre teoria e prática imperar nas universidades brasileiras,
são importantes os esforços no sentido de integrá-las, como é o caso do MEJ. No atual
contexto mundial é necessária a formação de um profissional com visão sistêmica, para poder
absorver as informações disponíveis e tomar decisões rápidas frente às constantes mudanças.
Dentro deste novo paradigma as EJ´s são uma ferramenta útil no sistema de formação do
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Engenheiro de Produção e de muitos outros profissionais. “O desenvolvimento, no âmbito da
Universidade, da experiência de Empresa Júnior aponta para inúmeras possibilidades
instigantes, desde que seja assumido como instrumento válido pela Academia” (Andrade,
1995).
6. Bibliografia
KIT Empresa Júnior NEJ/UFJF (2003) - www.nej.ufjf.br
ANDRADE, E P (1997) - O Ensino de Engenharia e a Tecnologia. Tese de D Sc, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro,
Brasil
TAKEUCHI, K T & SENHORAS, E M (2003) - Empresa júnior como um mecanismo de interação empresauniversidade: um estudo de caso nos cursos de engenharia da UNICAMP. In: COBENGE 2003, Rio de Janeiro:
ABENGE.
OLIVEIRA, Vanderli F (2002) - Teoria, Prática e Contexto no Curso de Engenharia. In: PINTO, D P;
NASCIMENTO, J L. (Org.). Educação em Engenharia: Metodologia. São Paulo, 2002, v. 1, p. 1-296
ABEPRO (2004) - Associação Brasileira de Engenharia de Produção, www.abepro.org.br
ABEPRO JOVEM (2004) – Divisão discente da ABEPRO www.jovem.abepro.org.br
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Um estudo sobre empresas juniores como fonte de