UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÓCIO ECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
ESTUDO ECONOMÉTRICO: TEORIA DO PROSPECTO, VIÉS DA
REVERSÃO À MÉDIA E ATUALIZAÇÕES DO NÍVEL DE REFERÊNCIA
NO EFEITO DIPOSIÇÃO
ALISON FIUZA DA SILVA
Florianópolis
2012
ALISON FIUZA DA SILVA
ESTUDO ECONOMÉTRICO: TEORIA DO PROSPECTO, VIÉS DA
REVERSÃO À MÉDIA E ATUALIZAÇÕES DO NÍVEL DE
REFERÊNCIA NO EFEITO DIPOSIÇÃO
Monografia apresentada ao Curso de Ciências
Econômicas Da Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito parcial para obtenção do
grau Bacharel em Ciências Econômicas
O rientador: Prof. Dr. André Alves Portela Santos
Coorientador: Prof. Dr. Newton C. A. da Costa Jr.
Florianópolis
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
A banca examinadora resolveu atribuir nota 9,5 ao aluno Alison Fiuza da Silva na
disciplina CNM 5420 - Monografia, pela apresentação deste trabalho.
Banca examinadora:
Prof. Dr. André Alves Portela Santos
Orientador
Prof. Dr. Newton Carneiro A. da Costa Jr.
Coorientador
Prof. Dr. Eraldo Sérgio Barbosa da Silva
Membro
DEDICATÓRIA
À minha mãe,
Rosimari,
pela
determinação e luta na minha
formação e dos meus irmãos e
também pelas palavras de amor que
me ajudaram nos momentos difíceis
longe de casa.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Newton C. A. da Conta Jr. e ao Prof. André Alves Portela Santos, por
sua orientação e contribuição ao desenvolvimento deste trabalho e também, pelos seus
exemplos como pessoa, m estre e educadores.
Aos meus irmãos, Alex Sandro Fiuza da Silva e Jusiéli Cristina Fortes Leal, que
estiveram sempre do meu lado.
Aos meus amigos e colegas de faculdade, considerados minha segunda família,
Am anda C arabetti Gouvêa, Apoena Karolyne, Thaís Ortega Scaramuzzi, Tiago Horn,
Fabiane Mafini Zambon, Ricardo M artins Gonzaga, Guilherme Demos, Carolina
Cândido, Daniel Avancini, Paulo Victor da Fonseca, Jadna Marcos e a todos os outros
pelos momentos inesquecíveis de divertimento e companheirismo.
Aos meus amigos do grupo de pesquisa de Finanças Comportamentais, Marco
Goulart, Anderson Dorow e em especial ao W ladem ir Prates, pois sua ajuda foi de suma
im portancia para a realização dos experimentos que se tornaram a base do presente
estudo.
Ao meus amigos de trabalho, Dacy Dassoler, Alice Dassoler e Edson Jeremias,
pessoas que me ajudaram de todas as formas p ara a minha formação.
É difícil agradecer todas as pessoas que de algum modo, nos momentos serenos e
ou apreensivos, fizeram ou fazem parte da minha vida, por isso agradeço a todos de
coração.
“O mais importante não é fazer coisas que os indivíduos já estão
fazendo, e fazê-las um pouco melhor ou um pouco pior, mas
fazer aquelas coisas que atualmente deixam de ser feitas”
JOHN MAYNARD KEYNES
RESUMO
FIUZA, Alison da Silva. Estudo econométrico: Teoria do prospecto, viés da reversão à
média e atualizações do nível de referência no efeito disposição. 2012. p.58. Monografia
(Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
Os modelos da economia neoclássica pressupõem a perfeita racionalidade dos agentes
econômicos. Na teoria da utilidade esperada, por exemplo, os agentes alocam suas decisões na
maximização de sua utilidade esperada ou futura. Em contraposição a esta última teoria surge
a teoria do prospecto, desenvolvida por Kah neman e Tversky (1979) e aplicada largamente
pelas finanças comportamentais. Esta teoria apresenta a base para o entendimento do agente
econômico como aquele com racionalidade limitada, descrevendo com detalhes os possíveis
desvios da racionalidade pura levado por certos aspectos emocionais ou psicológicos do
indivíduo. O efeito disposição originalmente proposto por Shefrin e Statman (1985) propõe
que os agentes econômicos vendem mais rapidamente os ativos que subiram de preço do que
aqueles que caíram de preço A presente pesquisa, situada no campo das finanças
comportamentais, tem como objetivo testar a explicação da teoria do Prospecto e do viés da
reversão à média no efeito disposição em um ambiente de simulação de investimentos e
identificar os pontos de referências usados pelos indivíduos participantes dos experimentos.
Para cumprir esses objetivos, foram estimados modelos logísticos em painel para a propensão
a vender ou manter uma ação em relação a uma dummy de consistência de ganho, uma dummy
de consistência de perda e quatro tipos diferentes de níveis de referência. Este trabalho
mostra que a teoria do prospecto e o viés da reversão à média são improváveis para explicar o
efeito disposição. Dados de negociação experimental mostram que a propensão marginal para
vender uma ação aumenta com o aumento do ganho, enquanto que uma parametrização
razoável de uma função de valor da teoria o prospecto prediz que a propensão vai diminuir
com o aumento dos ganhos e que a propensão marginal para vender é aproximadamente
constante ou insensível no domínio das perdas, enquanto a teoria do prospecto novamente
prevê pela função valor que irá diminuir a medida que aumenta a perda. O padrão encontrado
também é diferente do que é previsto sobre o viés da reversão à média. Em relação aos níveis
de referência encontramos que os investidores apresentam efeito disposição ao tomarem como
referência o nível de preço em relação ao preço de compra e o preço máximo da ação,
contudo, é com relação ao nível de preço máximo que estes participantes apresentam um
efeito marginal mais robusto.
Palavras-chave: Efeito disposição, Teoria do Prospecto, Níveis de Referência e Regressão
Logística
ABSTRACT
The neoclassic models presuppose the perfect rationality of the economic agents. In the
expected utility theory, the agents set their decisions on the maximizations of their utility. In
the oposite direction of this theory, there is the Prospect Theory, developed by Kahneman and
Tversky (1979) and widely applied on behavioral finances. This Theory introduces the basis
for the understanding of the economic agents with limited rationality, describing with details
all the possible deviations from pure rationality taken by emotional and psychological aspects
of the individuals. The disposal effect, originally proposed by Shefrin and Statman (1985),
proposes that economic agents sell the assests that increased their prices faster than the ones
that decreased their prices. This research, settled in the behavioral finances field, has as
objective testing the explanation of the Prospect Theory and the average reversal bias on the
disposal effect in an environment of investment simulation and identifying the reference
points used by individuals participating. To satisfy these objectives, logistic panel models
were estimated considering the propension to sell ou keep an asset related with a consistency
earning dummy, a loss consequence dummy and four different types of reference level. This
work shows that the Prospect Theory and the average reversal bias are unlikely to explain the
disposal effect. Experimental negotiation data show that the marginal propension to sell an
asset is raising with the earning raising, while a reasonable parametrization of a value function
of the Prospect Theory foresay that the marginal propension will diminish as the earning
raises and that the marginal propension to sell is approximately constant or insensitive on the
loss domain, while the Prospect Theory one more time foresees by a value function that it will
decrease as the loss raises. The pattern found is also different from the expected considering
the average reversal bias. When it comes to the reference levels, it was found that investors
show disposal effect when taking as reference the price level relatively to the purchase price
and the maximal price of the asset. However, it is relatively to the maximal price level that
investors show a marginal effect more robust.
Keywords: Disposition effect, Prospect Theory, reference level and logistic regression
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Função Utilidade.......................................................................................................... 21
Figura 2. Curva do Valor da Teoria do Prospecto..................................................................... 24
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Resultados agregados .................................................................................................. 36
Tabela 2. Resultados agregados no viés da reversão à média .................................................. 39
Tabela 3. Resultados da diferença entre homem e mulher ........................................................ 43
Tabela 4. Resultados homens e mulheres no viés da reversão à média ...................................45
Tabela 5. Resultados da diferença entre grupo e indivíduo ......................................................49
Tabela 6. Resultados grupos e indivíduos no viés da reversão à média .................................. 50
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço de compra
(agregado).....................................................................................................................................32
Gráfico 2. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço máximo
(agregado).....................................................................................................................................34
Gráfico 3. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço de compra
(homem e mulher)......................................................................................................................... 41
Gráfico 4. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço máximo
(homem e m ulher)........................................................................................................................42
Gráfico 5. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço de compra
(grupo e indivíduo)........................................................................................................................ 47
Gráfico 6. Propensão para venda como uma função do retorno em relação ao preço máximo
(grupo e indivíduo) ....................................................................................................................... 48
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12
1.1
1.1.1
OBJETIVO.........................................................................................................................14
Objetivo Geral................................................................................................................ 14
1.1.2 Objetivos Específicos.......................................................................................................... 14
1.1.3 Justificativa........................................................................................................................... 14
2
REFERENCIAL T E Ó R IC O ..........................................................................................17
2.1
Economia Experimental.................................................................................................... 17
2.2
Teoria Neoclássica..............................................................................................................19
2.3
Finanças Comportamentais e Teoria do Prospecto.......................................................... 22
2.4
Viés da Reversão à M édia................................................................................................. 24
2.5
Efeito Disposição................................................................................................................25
3
M ETODOLOGIA.............................................................................................................27
4
RESULTADOS..................................................................................................................31
4.1
Inspeção Gráfica dos Resultados Agregados....................................................................31
4.2
Análise Econométrica dos Resultados Agregados.......................................................... 36
4.3
Diferença entre Homem e Mulher.................................................................................... 40
4.3.1 Inspeção Gráfica da Diferença entre Homem e Mulher..................................................40
4.3.2 Análise Econométrica da Diferença entre Homem e Mulher......................................... 42
4.4
Diferença entre Indivíduos e Grupos................................................................................ 46
4.4.1 Inspeção Gráfica da Diferença entre Indivíduos e Grupos............................................. 46
4.4.2 Análise Econométrica da Diferença entre Indivíduos e Grupos..................................... 48
5.
CONCLUSÃO...................................................................................................................52
6.
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................54
12
1 INTRODUÇÃO
A economia é uma ciência social que se utiliza das interpretações empíricas da
sociedade para a formulação da grande maioria das teorias existentes. O presente estudo tem
como destaque a tomada de decisões sob condições de risco, contrapondo a teoria da utilidade
esperada, advinda da escola neoclássica e a teoria do prospecto (TP) utilizada pelas finanças
comportamentais.
Segundo Haugen (2001) as finanças modernas têm como principal fundamento a
racionalidade ilimitada dos agentes econômicos e a eficiência dos mercados financeiros. Na
teoria econômica neoclássica, os agentes tomam suas decisões com base na teoria da utilidade
esperada de von Neumann e Morgenstern (1944) e na teoria de carteiras de Markowitz (1952).
A teoria da utilidade esperada possui na ciência econômica uma posição consolidada
em virtude de seu domínio em grande parte dos instrumentos econômicos por que oferece
representação plena do comportamento do agente econômico realmente racional sob
incertezas. Alguns dos principais axiomas aos quais a teoria da utilidade tem como base são:
mais é melhor do que menos, integralidade e transitividade, Pindyck e Rubinfeld (2002).
De acordo com Ross at al. (2002, p.87):
Mercados eficientes de capitais são aqueles nos quais os preços correntes de
mercado refletem as informações disponíveis. Isso significa que os preços
correntes de mercado refletem o valor presente dos títulos e que não há
maneira alguma de se obter lucros extraordinários com o uso de informações
disponíveis.
As mudanças dos preços das ações acontecem, portanto, pela incorporação de novos
eventos e informações ao preço atual do ativo o que leva a conclusão de que os preços futuros
não refletem necessariamente o desempenho dos preços passados.
As finanças comportamentais são uma critica e uma reinterpretação das limitações da
escola neoclássica de economia que deu origem às finanças modernas. Criada em meados do
século XX, Macedo (2003, p.46) explica que ela engloba temas como finanças, economia,
psicologia e também métodos quantitativos. Sua principal diferença em relação às finanças
modernas está na racionalidade limitada dos agentes e nos limites de arbitragem nas
negociações de ativos no mercado.
Conforme afirmam Weber e Camerer (2006, p.187), ao relatarem a importância das
finanças comportamentais na complementação das limitações da teoria econômica tradicional
A economia comportamental procura informar a economia e a teoria
econômica de como as pessoas e as instituições econômicas se comportam
realmente. Importante, a maioria dos economistas comportamentais tem o
13
objetivo, não de desenvolver uma alternativa à teoria econômica e aos
métodos, mas ao invés disso incorporar suposições e métodos novos no
mainstream da pesquisa econômica.
O estudo das finanças comportamentais é uma forma de identificar como as emoções e
os vieses cognitivos podem influenciar no comportamento do agente econômico quando estes
passam por um processo de decisão sob risco e como estes padrões não racionais de
comportamento podem modificar o mercado. Pesquisas em psicologia social, teoria da tomada
de decisões e comportamento do consumidor mostram que as emoções têm forte influência
nas decisões dos indivíduos. Entretanto, modelos tradicionais de economia e finanças
desconsideram o impacto das emoções nestes contextos von Neumann e Morgenstern (1944),
Markowitz (1952), Fama (1970) e Modigliani e Miller (1958).
Kahneman e Tversky publicaram um artigo na revista Econometrica, em 1979 no qual
apresenta uma alternativa à teoria da utilidade esperada, que ficou conhecida como Teoria do
Prospecto. Segundo Kahneman e Tversky (1979), existem três princípios básicos que podem
diferenciar a TP da teoria da utilidade. O primeiro consiste em estabelecer um ponto de
referência na tomada de decisão, o segundo está relacionado com as transformações da
probabilidade do jogo e a terceira está relacionada à função valor.
Na TP a função valor diferencia-se da função utilidade esperada em um aspecto
essencial, ela apresenta um ponto de referência, uma posição determinada pelas impressões
subjetivas do indivíduo. O ponto de referência representa o ponto de comparação do agente
contra o qual os cenários alternativos são contrastados.
O efeito disposição, por outro lado, pode ser em decorrência da TP, pois consiste na
aversão ao risco no campo dos ganhos e na propensão ao risco no campo das perdas. No
entanto, Segundo Zuchel (2001, p.3), a análise desse efeito é assim constituída:
Os investidores escolheram vender [ativos] vencedores e segurar os
perdedores simplesmente porque acreditam que os [ativos] vencedores têm
sistematicamente menores retornos futuros do que [ativos] perdedores. Uma
razão para isso é que os investidores esperam que os preços revertam à
média.
No modelo original do efeito disposição de Shefrin e Statman (1985) afirmam que
além da TP há outros fatores que podem determinar o efeito disposição, como: contabilidade
mental, aversão ao arrependimento e autocontrole.
O presente estudo analisa com base em modelos logísticos em painel, se a TP e o viés
da reversão à média são modelos capazes de explicar o efeito disposição, além de identificar
os pontos de referências usados pelos investidores sob condições de risco. Dentre os pontos de
referências que são analisados encontramos o preço de compra como referência da função de
14
valor da TP, o preço do último período (THALER e JOHNSON, 1990) e preço máximo e/ou
mínimo (GNEEZY, 2004).
1.1 OBJETIVO
1.1.1
Objetivo Geral
O objetivo geral é analisar se o efeito disposição pode ser explicado pela TP e/ou pelo
viés da reversão à média através de experimentos de laboratórios.
1.1.2 Objetivos Específicos
Para alcançar o objetivo principal estabelecemos os seguintes objetivos específicos:
i.
Identificar o efeito disposição em estudantes em laboratórios
ii.
Verificar se existe diferença significativa entre os resultados obtidos em relação ao gênero
e ao formato do experimento.
iii.
Verificar se a suposição feita por Shefrin e Statman (1985) no modelo original do efeito
disposição de que os investidores usam preço de compra como nível referência é
verificado.
1.1.3 Justificativa
As finanças modernas procuram entender os mercados financeiros, utilizando modelos
em que os agentes são racionais. Contudo, Frydman et al. (2010, p.02) afirmam que algumas
dessas evidencias são intrigante, no sentido de que é difícil de conciliar o entendimento do
mercado financeiro utilizando modelos em que os agentes avaliam seus investimentos de
acordo com os pressupostos teóricos da utilidade esperada,
Segundo Barberis e Thaler (2003, p.1053) os comportamentos das negociações
individuais não são facilmente compreendidos nesse campo teórico por isso que em respostas
às dificuldades enfrentadas pelo paradigma tradicional surgiram as finanças comportamentais
como uma nova abordagem aos mercados financeiros. Para Barberis e Thaler (2003, p.1053)
os fenômenos financeiros podem ser mais bem compreendidos utilizando modelos em que
alguns agentes não são totalmente racionais.
Nos últimos vinte anos os economistas têm acumulado uma grande quantidade de
evidências sobre como os investidores individuais estão gerindo suas carteiras financeiras ao
15
longo do tempo. A maior parte dos trabalhos, como Odean(1998a), Barber e Odean (2000,
2001), Choi et al. (2009), Grinblatt e Keloharju (2009) usam happenstance data encontrado
nas histórias das operações de investidores em corretoras de ações.
Frydman et al. (2010, p. 02) afirmam também que as pesquisas com novos modelos
estão sendo feitos com tratamentos experimentais em laboratórios para buscar novas
evidências sobre o comportamento dos investidores individuais. A vantagem dos dados
experimentais é de que fornece aos pesquisadores um grau de controle sobre o ambiente de
negociação e informação, o qual possibilita a determinação e manipulação das teorias de
forma mais completa. Partes dessas novas pesquisas estão contidas em Plott e Sunder (1988),
Camerer e Weigelt (1991, 1993), Weber e Camerer (1998); Bossaerts e Plott (2004),
Bossaerts et al. (2007).
Usando o método experimental para complementar as pesquisas com os dados reais do
mercado financeiro é importante porque nos mercados reais é impossível controlar as
expectativas dos investidores para observar as decisões individuais. Ao utilizar o método
experimental é possível acompanhar as decisões de um indivíduo, bem como a história que
levou a essas decisões, além de permitir maior controle nas variáveis que podem influenciar
as decisões.
Com os argumentos baseados em Kahneman e Tversky (1979) Odean (1998a, 1999) e
Weber e Camerer (1998) evidenciam que estudantes têm uma maior propensão a vender ações
com retorno positivo e manter ações em seu portfólio com retorno negativo caracterizando o
chamado efeito disposição.
O efeito disposição tem atraído consideravelmente atenção, pois tem provado ser um
desafio a ser explicado pelos modelos de comportamento das finanças comportamentais
Frydman et al. (2011, p.02). Esse impasse tem motivado o desenvolvimento de teorias
alternativas como Shefrin e Statman (1985), Barberis e Xiong (2009), Kaustia (2010) com o
intuíto de determinar outras explicações mais consistentes para o efeito disposição.
Segundo Gneezy (2004, p.405), determinar a forma como os ganhos e perdas são
codificados pode resultar em previsões diferentes dos modelos e seus efeitos, em especial o
efeito disposição, portanto, uma melhor compreensão do modo como os níveis de referência
são formados podem melhorar a nossa compreensão do comportamento dos mercados e
aumentar o poder descritivo dos modelos.
Gneezy (2004, p.410) também afirma que “qualquer teste para o efeito disposição testa
a hipótese conjunta desse padrão de atitude de risco e um nível de referência particular”. Na
TP, Kahneman e Tversky (1979) analisaram o caso em que as pessoas usavam a posição do
16
ativo atual como nível de referência e acrescentam que embora este é provavelmente
verdadeiro para a maioria dos problemas de escolha, há situações em que os ganhos e perdas
são codificados em relação a uma expectativa ou nível de aspiração que difere do stato quo.
Weber e Camerer (1998) estudaram através de um experimento se os participantes
tendem a ser mais propensos ao rico e avessos ao ganho. No entanto, eles não observaram a
forma como os níveis de referência são formados, por isso salientaram a necessidade de que
isso seja feito: “... we need to know more about how reference points adapt over time andhow
multiple reference points are balanced1” Weber e Camerer (1998, p. 182).
As mudanças em relação ao nível de referência são determinantes para tomar decisões
sobre risco é o que afirma Gneezy (2004, pg. 404),
In the traditional theory o f decisions under uncertainty (expected utility),
utility is determined by final states o f wealth. However, empirical evidence
suggests that the behavior o f individuals is best described by assuming that
the significant carriers o f utility are not states o f wealth but changes relative
to a reference level2.
Enquanto evidências empíricas sobre o nível de referência não existirem, muito pouco
se saberá sobre como a história de um processo influencia o nível de referência na tomada de
decisão sob risco.
Por isso, a localização do nível de referência e a forma em que os
problemas de escolha são codificados surgem como fatores críticos na análise das decisões.
1 Nós precisamos saber mais sobre como o ponto de referência se adaptada ao longo de um tempo e como vários
pontos de referência são equilibrados.
2 Na teoria tradicional de decisões sob incerteza (utilidade esperada), a utilidade é determinada por estados finais
de riquezas. No entanto, a evidência empírica sugere que o comportamento dos indivíduos é mais bem descrito
ao assumir que a utilidade não é significativa no estado de riqueza, mas mudanças em relação ao nível de
referência.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Economia Experimental
A maior parte da teoria econômica estudada nas universidades foi desenvolvida fora
dos laboratórios, ou seja, a economia é considerada uma ciência não experimental. Samuelson
e Nordhaus, (1985, p. 8) afirmam que “Economics ... cannot perform the controlled
experiments o f chemists or biologists because [...] cannot easily control other important
factors.
Like astronomers or meteorologists, [...] generally must be content largely to
observe3”.
A utilização de experimentos controlados é ainda pouco relevante comparado com o
grande número de estudos da economia não experimental. Significativos desenvolvimentos
nesta área da economia tornaram-se possíveis com o surgimento de novas teorias, com
destaque para a TP, adotada como principal referência pelas finanças comportamentais, que
visa uma interpretação diferente em relação às teorias neoclássicas. O enfoque experimental é
uma ferramenta importante no estudo dos vieses comportamentais e de apreçamento de ativos,
encontrados nas finanças modernas e estudados pelas finanças comportamentais. Este enfoque
também pode ser aplicado à teoria dos jogos, à organização industrial, aos mercados
financeiros eficientes, aos leilões, dentre outras teorias. A TP é uma alternativa para
transcrever as limitações da teoria neoclássica e constitui um ponto de referência para o
desenvolvimento da economia comportamental.
Foi a partir da segunda metade do século XX que surgiram os primeiros experimentos
na economia. Desde então, laboratórios permanentes nesta área foram estabelecidos nas
principais universidades norte americanas e europeias. A economia experimental foi julgada
pelos economistas neoclássicos como algo inútil e de pouca credibilidade, tendo em vista que
as decisões dos agentes econômicos poderiam ser facilmente verificadas por modelos préestabelecidos.
Historicamente, de acordo com Friedman e Cassar (2004, p. 13), a economia foi a
última disciplina a se tornar experimental. A física foi a primeira das ciências naturais a
utilizar experimentos. Em meados de 1600 ela começa a construir sua base experimental, ao
3 Economia... não pode executar os experimentos controlados de química e biologia por que [...] não pode
controlar outros importantes fatores. Como os astrônomos ou meteorologistas, [...] em geral, o conteúdo em
grande parte deve ser de observação.
18
controlar a queda de objetos em planos inclinados, desenvolvida por Galileu. A química foi
criada como uma ciência experimental dois séculos mais tarde. Foram os precursores que
desenvolveram técnicas de laboratório (envolvendo escalas de equilíbrio e frascos), que
testaram as previsões da nova teoria molecular.
De acordo com Friedman e Cassar (2004, p.65), as razões para uma disciplina se
tornar experimental é dada pelo conjunto de duas ações. Primeiro a teoria precisa se
desenvolver suficientemente para gerar testes laboratoriais e em seguida os pioneiros desta
tarefa devem criar técnicas de laboratório úteis e de fácil replicação.
Portanto, baseado nesse argumento de desenvolvimento experimental e tomando como
base as teorias das finanças modernas, que foram construídas a partir de uma abordagem
microeconômica neoclássica, surge o enfoque experimental das finanças comportamentais,
que é baseado nos aspectos psicológicos do ser humano.
Weber e Camerer (2006, p.187) enfatizam a importância que a economia
comportamental e a economia experimental têm nas pesquisas em economia:
Uma característica importante da pesquisa na economia comportamental é a
sua dependência em experimentos de laboratório. Simples, cuidadosamente
controlado, experiências laboratoriais revelaram-se particularmente valiosas
para a realização do tipo de testes das hipóteses em economia que são
centrais para a abordagem comportamental.
Como já salientado, um dos trabalhos mais importantes para a consolidação da
economia e das finanças comportamentais foi aquele elaborado por Kahneman e Tversky
(1979). Este trabalho teve como base teórica a reinterpretação do agente econômico racional.
A TP apresenta a base para a criação do agente econômico com racionalidade limitada,
descrevendo com detalhes os possíveis desvios da racionalidade pura levado por certos
aspectos emocionais ou psicológicos do indivíduo.
Outro pioneiro no estudo experimental que foi laureado com o Nobel de Economia
juntamente com Daniel Kahneman em 2002 foi o economista Vernon Smith (1989, p.155),
que interpreta a mudança feita pela economia experimental na economia neoclássica:
Vários psicólogos (Edwards, Kahneman, Lichtenstein, Slovic, Tversky) e
economistas (Allais, Ellsberg) foram pioneiros no desenvolvimento de
modelos experimentais para recolher provas sobre escolhas hipotéticas e reais
do comportamento individual. Estas provas geralmente tendem a ser
incompatíveis com a teoria da utilidade esperada, e com algumas das
hipóteses de comportamento fundamentais na teoria da demanda (Kahneman;
Knetsch; Thaler, 1986; Knetsch; Sinden, 1984), tais como o princípio do
custo de oportunidade, e as implicações da teoria da demanda que devem
existir somente "pequenas" diferenças entre a vontade para pagar (willingness
to pay) e a vontade de aceitar (willingness to accept).
19
Para verificar a validade dos experimentos econômicos e consolidar sua credibilidade
na análise econômica é necessário que sejam apresentadas algumas características
importantes para a realização de um experimento de laboratório. Destacam-se quatro:
1.
Deve-se explicar em detalhes o experimento antes de seu início através de material
escrito com as instruções e possíveis ganhos dos participantes;
2.
os participantes de um experimento devem repetir suas tarefas diversas vezes e os
economistas experimentais analisam os dados das últimas repetições, pois é quando se
supõe que os participantes estejam perfeitamente ajustados ao ambiente experimental;
3.
experimentos
econômicos
normalmente
pagam
aos
participantes
melhores
qualificados com dinheiro, ou promovem outros tipos de incentivos, na tentativa de
tornar o ambiente controlado do experimento em algo mais real;
4.
todo e qualquer experimento econômico deve compartilhar sua real intenção com os
participantes, evitando assim a chamada decepção dos participantes após o estudo.
De acordo com Smith (1987, p.9), uma das características básicas de um experimento
econômico deve ser a monotonicidade, ou não saciedade, que significa que “os participantes
preferem estritamente qualquer aumento no instrumento de remunerações”, ou seja, receber
mais é melhor que menos, a não ser que seja algo negativo.
Friedman e Cassar (2004, p.26) retratam outra característica, a relevância: “relevância
significa que, para cada agente, a recompensa corresponde a uma função de resultados claros.
Por exemplo a reconpensa em função do lucro ou utilidade, e o sujeito entende isso”.
Ainda segundo Friedman e Cassar (2004, p.27) a dominância “significa que os
incrementos na recompensa devem ser muito mais importantes do que os outros componentes
da função utilidade do sujeito que são afetados pelo experimento”. Isso demonstra a
necessidade de premiar os melhores colocados de acordo com os objetivos do experimento.
Portanto, a economia experimental está reconstruindo a teoria econômica tradicional,
com a finalidade de determinar as limitações da economia neoclássica
2.2 Teoria Neoclássica
A economia neoclássica é uma evolução da teoria clássica, ela por si só utiliza e
compreende uma grande parte dos paradigmas dos clássicos e aprimoram outros. A pesquisa
a ser desenvolvida aborda a teoria neoclássica com o objetivo de compreender o campo das
finanças modernas e compará-lo com a teoria do prospecto, que é à base das finanças
comportamentais.
20
A credibilidade da teoria neoclássica foi impulsionada pela teoria dos jogos de von
Neumann e Morgenstern (1944). Bernstein (1997, p.110) comenta a importância da utilidade
desde 1738, com Bernoulli, até a teoria dos jogos:
A utilidade foi um conceito tão poderoso que, nos duzentos anos seguintes,
formou a base do paradigma dominante que explicava a tomada de decisões
humana e das teorias da escolha em áreas bem além das questões financeiras.
A teoria dos jogos - a abordagem inovadora do século XX à tomada de
decisões na guerra, na política e na gestão empresarial - faz da utilidade uma
parte integral de todo seu sistema
Como descrito anteriormente, a teoria da utilidade esperada pode ser apresentada com
alguns axiomas básicos. Pindyck e Rubinfeld (2002) apresentam três desses axiomas:
•
Integralidade: as preferências são completas e possíveis de serem comparadas e
ordenadas. Um consumidor poderá, então, escolher entre as cestas A ou B (supondo
apenas estas duas) ou ser indiferente a elas, ou seja, sua satisfação será idêntica ao
escolher qualquer uma das duas.
•
Transitividade: se um consumidor escolhe a cesta de bens A em relação à cesta de
bens B, e prefere a cesta de bens B em relação à cesta C, logo tem que preferir a cesta
A se tiver de escolher entre A ou C. Isso possibilita uma consistência nas escolhas do
consumidor.
•
Mais é melhor do que menos: Supondo que as mercadorias sejam desejáveis, o
consumidor sempre preferirá quantidades maiores de cada mercadoria, nunca ficando
plenamente satisfeito.
Podemos verificar através da figura 1, a função utilidade, que maximiza seu valor a
partir do aumento de seus ganhos, que é dado pela multiplicação da probabilidade dos
possíveis prêmios.
Segundo Kahnemann e Tversky (1979, p.264), “uma pessoa é avessa ao risco se
preferir a certeza do prospecto (x) a todo o prospecto de risco com valor esperado x. Na teoria
da utilidade esperada, a aversão ao risco é equivalente à concavidade da função utilidade”.
Matematicamente, U =
X ií(x), onde U significa a utilidade (riqueza) final ou valor
esperado, adquirida pelo somatório das “p” probabilidades multiplicada pelas utilidades
possíveis, “u(x)”.
21
Uma interpretação concreta da teoria da utilidade é apresentada em Arruda (2006,
p.25):
A teoria da utilidade esperada, um dos pilares das finanças modernas, referese a uma abordagem nominativa do processo decisório, pois apresenta uma
forma de como os seres humanos, idealmente, deveriam tomar suas decisões.
Segundo esta teoria, quando os indivíduos devem escolher entre alternativas
diversas, eles analisam cada alternativa por meio da determinação da
utilidade dos possíveis resultados e escolhem aquele que, de acordo com este
cálculo, deve proporcionar a maior utilidade.
A racionalidade (MACEDO, 2003, p.38), é um aspecto muito importante para o
entendimento da teoria da utilidade, de forma objetiva, todos os agentes econômicos têm a
capacidade de processar todas as informações disponíveis no mercado. Portanto, a teoria da
utilidade não leva em consideração os fatores emocionais. Os erros cometidos pelos agentes
são aleatórios e não tendenciosos de acordo com o momento do mercado por isso que segundo
Bernstein (1997, p. 87):
Sob condições de incerteza, a racionalidade e a medição são essenciais para
a tomada de decisões. As pessoas racionais processam as informações
objetivamente: os erros que cometem na previsão do futuro são erros
aleatórios, e não o resultado de uma tendência obstinada para o otimismo ou
o pessimismo. Elas respondem às novas informações com base em um
conjunto claramente definido de preferências. Elas sabem o que querem, e
lançam mão das informações em apoio às suas preferências
Ainda nos falta destacar a eficiência do mercado financeiro, que é proporcionado pelo
agente econômico racional, no qual o preço dos ativos reflete totalmente a informação
disponível. Segundo Fama (1970, p.383), “um mercado no qual os preços dos ativos sempre
refletem completamente todas as informações disponíveis é chamado de eficiente”. As
afirmações de Fama (1970, p.387) sobre os mercados eficientes descrevem três aspectos:
22
I.
os investidores são considerados racionais, visando maximizar o retorno dos
seus investimentos,
II.
o comportamento irracional existente é aleatório, não causando efeitos sobre os
preços agregados, e
III.
mecanismos regulatórios
irracionais sobre os preços.
impossibilitam
a influência
de
investidores
Outra característica do mercado é a possibilidade de ocorrência de arbitragem nos
preços, esta arbitragem consiste em comprar a um preço abaixo do mercado e vende-lo a um
preço mais alto. Num mercado eficiente isto só poderia acontecer de maneira aleatória,
imprevista.
2.3 Finanças Comportamentais e Teoria do Prospecto
As finanças comportamentais têm recebido notoriedade e adeptos nos últimos anos,
principalmente por buscar novas interpretações para o atual paradigma das finanças
modernas. Esta notoriedade é resultante de seu sucesso ao explicar o comportamento dos
agentes econômicos frente à tomada de decisão sob risco, ao incorporar às teorias de finanças
alguns modelos advindos da psicologia cognitiva.
As finanças comportamentais presumem que os agentes econômicos não agem de
forma racional na totalidade de suas escolhas, não avaliando corretamente as informações
recebidas e tendendo a tomar decisões com base numa racionalidade limitada.
Para Bernstein (1997, p.271) são duas as principais deficiências humanas:
Primeira, a emoção muitas vezes destrói o autocontrole que é essencial à
tomada racional de decisões. Segunda, as pessoas muitas vezes não
conseguem entender plenamente com que estão lidando. Elas experimentam
o que os psicólogos denominam dificuldades cognitivas.
No aspecto financeiro, abordagem dessa pesquisa, as finanças comportamentais
utilizam a racionalidade limitada dos agentes para detectar a não eficiência do mercado
financeiro, isto é, durante a tomada de decisão os aspectos emocionais, simplórios, unidos
com a incapacidade dos agentes em processar todas as informações, os altos custos e riscos
elevados, limitam o processo de arbitragem. Segundo Milanez (2003, p.3), "desvios
sistemáticos e significativos de preços com relação ao valor "fundamental" são normais
(esperados) e podem perdurar por tempo indeterminado".
Conforme afirmam Weber e Camerer (1998, p.187), podem confirmar a importância das
finanças comportamentais no estudo da realidade:
A economia comportamental procura informar a economia e a teoria
econômica de como as pessoas e as instituições econômicas se comportam
23
realmente. Importante, a maioria dos economistas comportamentais têm o
objetivo, não de desenvolver uma alternativa à teoria econômica e aos
métodos, mas ao invés disso incorporar suposições e métodos novos no
mainstream da pesquisa econômica.
O artigo de Kahnemann e Tversky (1979) ajudou a impulsionar as finanças
comportamentais. Este artigo é uma crítica à teoria da utilidade esperada que ficou conhecida
como a teoria do prospecto. Esta teoria advoga que as pessoas tomam suas decisões com base
no valor potencial das perdas e ganhos em relação a um ponto de referência e não no valor
final de sua riqueza como apregoa a teoria da utilidade esperada. A base para a formação
dessa teoria foi resultado de experimentos econômicos que tinham como objetivo detectar a
interferência emocional ou mental na tomada de decisão sob-risco. Desta forma, ela é uma
teoria descritiva: procura modelar escolhas reais, em vez de decisões ótimas.
A TP evidencia que os agentes econômicos podem ser ao mesmo tempo agentes com
aversão ao risco ou agentes com propensão ao risco, essa característica vai depender da
situação pela qual os indivíduos estão alocados nos domínios dos ganhos ou das perdas em
relação a um ponto de referência.
Segundo Kahneman e Tversky (1979), existem três princípios básicos que podem
diferenciar a TP da teoria da utilidade, o primeiro consiste em estabelecer um ponto de
referência na tomada de decisão, o segundo está relacionado com as transformações da
probabilidade do jogo e o terceiro está relacionado à função valor. Em relação à função valor,
Kahneman e Tversky (1979, p.280) exemplificam que ela é definida pelos desvios em relação
a um ponto de referência. Esta função apresenta-se côncava para ganhos e convexa para
perdas, além disso, sua inclinação é mais acentuada para perdas do que para ganhos.
Na análise da figura 2, percebe-se a diferença entre os gráficos da TP e a teoria da
utilidade.
24
V a Lor
1 C ô n cav a p ara ganhos
(a v e rs ã o a o r is c o )
f
P erd as
C o n v e x a p a ra p e rd a s
( p r o p e n s ã o a o r is c o )
^
G anhos
/
/
M a is ín g re m e p a r a p e r d a s
do que p ara ganhos
( A v e rs ã o a p e r d a s )
Figura 2 - Curva do Valor da Teoria do Prospecto
Fonte: Kahnemann e Tversky (1979)
2.4 Viés da Reversão à Média
Nos modelos de finanças comportamentais Chan, Frankel e Kothari (2004, p. 6)
afirmam que o “viés da representatividade geralmente leva uma reação inicial exagerada.
Portanto, a representatividade prevê inversões de retornos subsequentes”, ou seja, a
implicação da representatividade é que os investidores podem exagerar sobre os retornos
passados, assim, definir retornos muito altos ou muito baixos, o que gera inversão de retornos
futuros.
Kahneman e Tversky (1972, p.431) descrevem formalmente a representatividade ao
afirmarem que “uma pessoa que segue a heurística da representatividade avalia a
probabilidade de um evento incerto pelo grau com que ele é similar em suas propriedades
essenciais à sua população e reflete as características salientes do processo pelo qual é
gerado”.
Segundo eles existe um conjunto amplo de vieses cognitivos que emanam da
heurística da representatividade. Dentre eles encontramos o viés da reversão a média.
Uma explicação para as razões do efeito disposição se baseia em expectativas de
retornos futuros, ao quais os investidores podem optar por vender ações ganhadoras e manter
ações perdedoras simplesmente porque acreditam que os vencedores têm sistematicamente
retornos futuros mais baixos do que os perdedores.
Esse viés é conhecido por reversão à média que emana da heurística da
representatividade foi testado por Odean (1998a) ao qual considerou que investidores são
racionais (Teoria da Utilidade Esperada) em manter as perdedoras e em vender as vencedoras,
porque eles imaginam racionalmente que as perdedoras vão subir de preço voltando ao valor
anterior e as vencedoras irão cair de preço, configurando a chamada reversão à média.
25
Segundo Odean (1998a, p. 1778) “se retornos futuros esperados para os perdedores são
maiores que para os vencedores, a crença dos investidores seria justificada e racional”.
Zuchel (2001, p.3) afirma que o efeito disposição pode ser causado pela reversão à
média em,
Mean reversion in prices implies negative autocorrelation o f returns: above
average returns in one period imply that the expected value o f returns in
subsequent periods are below the long-run average. If there is in fact no such
mean reversion. The investor falsely believes returns to be negative
autocorrelated, such a pattern in returns motivates the disposition effect: after
high returns, an investor expects lower returns inducing him to sell and after
low returns, he expects higher returns inducing him to hold on to the asset or
even purchase additional shares4
2.5 Efeito Disposição
O efeito disposição pode ser constatado, entre outros ambientes, no mercado de ações,
onde os agentes econômicos têm como característica a aversão ao risco no campo dos ganhos
e propensão ao risco no campo das perdas.
De forma simples ele surge quando o preço de uma ação esta acima de seu preço de
compra havendo a tendência de que o ganho seja logo convertido (aversão no campo dos
ganhos), mas, quando o preço da ação se encontra em um patamar abaixo do preço de compra,
os agentes econômicos tendem a permanecer com a ação, não fazendo a sua liquidação, com
a perspectiva de que possa haver uma mudança no mercado e esse preço volte a subir ao preço
de compra. Essa conclusão é apresentada por Bernstein (1997, p.276) como “a aversão à
perda” (loss aversion), aliada ao ego, leva os investidores a aferrarem-se aos seus erros na vã
esperança de que um dia o mercado justificará seu julgamento e os fará ir à forra”, essa
situação é definida como a propensão ao risco no campo das perdas.
Foram realizados vários experimentos em economia para verificar a validade dessa
hipótese, como por exemplo, o estudo realizado por Weber e Camerer (1998), que fizeram
uma simulação, via questionário, com estudantes alemães ao longo de 14 períodos de
negociação onde os preços de seis ações podiam variar. O resultado encontrado foi a
identificação do efeito disposição.
4 Reversão à média dos preços implica autocorrelação negativa dos returnos: retorno acima da média em um
período implica que retornos esperados em períodos subsequentes estão abaixo da média de longo prazo. Se não
há de fato reversão à média. O investidor acredita falsamente que os retornos tem autocorrelação negativa, esse
padrão de retorno motiva o efeito disposição: depois de altos retornos, o investidor espera retornos menores,
induzindo-o a vender e depois de baixos retornos, ele espera retornos mais elevados, induzindo-o a segurar o
ativo ou até mesmo comprar ações adicionais.
26
Houve também a realização de diversas pesquisas diretamente no mercado financeiro
para identificação do efeito disposição. Uma destas pesquisas foi feita por Odean (1998) e
Barber e Odean (1999), que utilizaram 10.000 contas de investidores que realizaram
operações diárias nas bolsas de NYSE, Amex e Nasdaq no período de 1987 a 1993. O
resultado foi de que os investidores também apresentaram o efeito disposição. Zuchel (2001,
p.3) analisa essa característica:
Os investidores escolheram vender [ativos] vencedores e segurar os
perdedores simplesmente porque acreditam que os [ativos] vencedores têm
sistematicamente menores retornos futuros do que [ativos] perdedores. Uma
razão para isso é que os investidores esperam que os preços revertam à média
27
3
METODOLOGIA
Para testar a propensão dos agentes econômicos em vender ou manter ações, foi
utilizado uma amostra de 285
estudantes resultantes
de pesquisas
experimentais
desenvolvidas na Universidade Federal de Santa Catarina com estudantes do ensino presencial
dos cursos de Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Relações Internacionais e
Administração. Na pesquisa foi utilizado um software chamado ExpEcon (Experimentos
Econômicos), que foi desenvolvido por Goulart, Schmaedech e Costa Jr. (2009).
O ExpEcon simula um mercado de ações simplificado e tem como base o experimento
de Weber e Camerer (1998). Neste software open-source estão contidos os preços de seis
ativos fictícios, nomeados pelas letras A, B, C, D, E e F.
A simulação foi composta por 30 períodos, sendo que o software já fornece
inicialmente 3 períodos iniciais, para que os graduandos possam ter uma noção da situação do
mercado. Portanto, haverá, para a tomada de decisões de compra e venda de ativos, 27
períodos. Para cada período realizado os participantes têm 3 minutos para realizar as suas
decisões.
O modelo econométrico que foi adotado para a realização da presente pesquisa
consiste na realização de um modelo de variável dependente qualitativa. De acordo com Long
& Freese (2001) os modelos com variavel dependente qualitativa permitem ao pesquisador
explorar como cada variável explanatória afeta a propabilidade de um evento ocorrer. Desse
modo, o modelo aqui proposto busca estimar a probabilidade de observar se a venda ou
manutenção de uma deterninada ação varia em relação aos níveis de referência do preço das
ações máximo, mínimo, de compra e do último período e das possíveis explicações para o
efeito disposição.
No nosso estudo a regressão logística é feita com dados em painel. O modelo logístico
é um modelo de escolha binária (KAUSTIA, 2010), baseada na função de probabilidade
logística.
Quanto às características distintas do modelo logístico de regressão, segue-se que o
mesmo possui distribuição binominal ao invés da distribuição normal. Essa característica
invalida todos os testes estatísticos baseados no pressuposto de normalidade e que a variância
de uma variável dicotômica não é constante confirmando os sinais de heterocedasticidade.
A regressão logística é semelhante à regressão múltipla em muitos resultados, mas é
diferente no método de estimar coeficientes.
Ao invés de minimizar os desvios quadráticos
28
(mínimos quadrados), a regressão logística maximiza a “verossimilhança” de que um evento
ocorra.
Para estimar empiricamente a propensão a vender de uma ação utilizou-se uma
variável Dummy, decisão de comprar ou manter um ativo contra a decisão de vender ativos.
Consideramos, para a variável binária dependente, 1 para venda do ativo e 0 para compra ou
manutenção do ativo em carteira.
As variáveis independentes do modelo logístico são os níveis de referência que os
investidores podem assumir numa decisão de compra, manutenção ou venda do ativo. Os
níveis de referência são o preço máximo, mínimo, do último período e o preço de compra do
ativo. No presente trabalho as inferências de como a propensão a vender uma ação varia em
função do preço máximo, mínimo, do último período ou do preço de compra do ativo serão
analisados através dos efeitos marginais dos parâmetros do modelo logístico.
Para testar a influência do viés da reverão à média foram adotados alguns
procedimentos, apresentados na sequência. Em primeiro lugar foi estabelecido um critério
para determinar os ganhos e as perdas observadas nas transações efetuadas pelos participantes
analisados.
Nesse sentido, para efetuar o registro dos ganhos e perdas foram construídos númerosíndices para medir a evolução do retorno do preço da ação e a evolução do retorno do
mercado, conforme exemplificado a seguir.
O pressuposto aqui adotado foi que a relação do retorno do preço de compra e o
retorno do mercado poderiam expressar de forma razoável a evolução do preço do ativo,
demonstrando assim se o viés da reversão à média explica o efeito disposição (LUCCHESI et
al, 2010). O retorno do mercado é o retorno médio dos seis ativos em cada um dos períodos
da simulação. Assim, o seguinte número índice é gerado:
Número-índice da ação (NIA) =
Onde, RM é o retorno do mercado e RPC é o retorno da ação em relação ao preço de compra.
Portanto,
Se, NIA >1 ;
então, RM é maior que RPC, tendência é que o investidor manter a ação, e
se, NIA < 1;
então, RM é menor que RPC, tendência é que o investidor venda a ação.
Portanto, para determinar o viés da reversão à média foi criado duas variáveis dummy.
A primeira chamada de dummy de consistência de ganho e outra chamada de consistência de
perda.
29
Para a variável consistência de ganho, quando RPC for maior que o RM a tendência no
viés da reversão à média é que os investidores vendam as ações. Por isso, considera-se 1 para
a consistência de ganho quando RPC for maior que o RM e 0 quando RMu é menor que
RPCu.
Para a variável consistência de perda, quando RM é maior que RPC a tendência no
viés da reversão à média é que os investidores mantenham as ações. Por isso, considera-se 0
para a consistência de perda quando RM é maior que RPC e 1 quando RM é menor que RPC.
Com o objetivo de verificar se o viés da reversão à média influencia a realização de
ganhos e perdas por parte dos participantes, as variáveis explanatórias são duas variáveis
dummys para captar a consistência dos ganhos e perdas realizados com base no desempenho
precedente das ações.
Nas variáveis explicativas a tendência é que para a dummy consistência de ganho
(DCG) apresente um sinal positivo, pois depois de altos retornos, o investidor espera retornos
mais baixos, ou seja, maior será a probabilidade de um investidor vender uma grande
proporção dessas ações. Por outro lado, na variável dummy consistência de perda (DCP) tenha
um sinal negativo, pois depois de baixo retorno, o investidor espera retornos mais elevados,
induzindo-o a segurar o ativo.
No presente estudo os modelos estimados foram em nível agregado (todos os
indivíduos) e em relação ao gênero e formato do experimento. Para testar se existe ou não
diferença significativa entre os gêneros e ao formato dos experimentos em relação aos níveis
de referência para a propensão a vender ou manter ação, foi realizado um teste de diferença de
proporção.
O
conjunto de dados utilizados para o modelo em painel apresenta dados para todos os
285 sujeitos da amostra, segundo Wooldridgre (2003, pg. 440) esse tipo de amostra é
denominado de painel equilibrado.
A equação 1 descreve o modelo logístico em dados em painel,
V it = P l + &2 ^ 2 i t + /?3 %3it + p4 ^ 4 it + ($5 ^ 5 it + Uit
1.
A equação 2 descreve o efeito marginal ou a chamada função de distribuição logística
(GUJARATI, 2006),
Pi
1+ e y i
1- P i
l+e y i
v.
— — = — - j r = e yi
2.
30
Onde Pi é a probabilidade de vender uma ação e 1 — Pj é a probabilidade de manter
Pi
uma ação. Nesta equação 2, ^ ^ é simplesmente a razão de chances a favor de vender ou
manter uma ação.
Para estimar o modelo logístico em painel utilizamos o comando xtlogit do programa
Stata e os subcomando RE para efeitos aleatórios e FE para efeitos fixos. A matriz de
variâncias e covariâncias das estimativas dos parâmetros é robusta, conforme a correção
proposta Windmeijer (2005), utilizando a opção robust no comando xtlogit. O teste Hausman
foi utilizado para determinar qual dos efeitos fixos ou aleatório é mais apropriado para o
modelo
31
4
RESULTADOS
4.1 Inspeção Gráfica dos Resultados Agregados
O modelo de referência para explicar o efeito disposição tem como base a TP de
Kahneman e Tversky (1979). Ela é uma teoria sobre a tomada de decisões sob risco que supõe
que os indivíduos tomam decisões pelo cálculo da utilidade de ganho e perdas potencialmente
medidos em relação a um ponto de referência. Por isso, os agentes são avessos ao risco ao se
depararem com preços mais elevados do que seu nível de referência (côncavo na função
valor) e propensos ao risco ao se depararem com preços mais baixos do que seu nível de
referência (convexa na função valor). Esse padrão de comportamento é apoiado por
evidências empíricas: Fishburn e Kochenberger (1979), Hershey, Kunreuther, e Schoemaker
(1982), Kahneman e Tversky (1979), Payne, Laughhunn, e Crum (1980), Thaler e Johnson
(1990), Tversky e Kahneman (1992).
Em geral, o ponto de referência levado em consideração nas pesquisas que
identificaram o efeito disposição foi o preço de compra do ativo ( Shefrin e Statman (1985) e
Odean (1998)). Segundo Shefrin e Statman (1985), é a partir da contabilidade mental que os
investidores assumem no preço de compra do ativo o ponto de referência natural ao qual são
avaliados os ganhos e as perdas.
À primeira vista a TP pode ser útil para explicar o efeito disposição. Contrariamente a
esta intuição, Barberis e Xiong (2009) demonstraram que é muito difícil para derivar um
comportamento consistente com o efeito disposição usando este modelo. Eles mostram que
um investidor que deriva suas decisões da TP, muitas vezes, apresenta o oposto do efeito
disposição. No trabalho realizado por Kaustia (2010, p. 809) sua conclusão também monstra
que a TP é pouco provável para explicar o efeito disposição ao mostrar que a propensão a
vender uma ação é inconsistente com a TP.
O gráfico 1 mostra a probabilidade de uma venda como uma função de ganho/perda de
capital derivada dos efeitos marginais da regressão logística. A partir da análise do gráfico 1,
interpretamos que nossos resultados não corroboram a TP. Isso por que, em primeiro lugar, a
propensão marginal para vender uma ação está aumentando quando há ganhos positivos
enquanto que uma parametrização razoável de uma função de valor da TP prediz que a
propensão marginal a vender vai diminuir com o aumento dos ganhos (KAUSTIA,
2010,p.801). Em segundo lugar, a propensão marginal para vender é aproximadamente
32
constante ou insensível no domínio das perdas enquanto a TP novamente prevê pela função
valor que irá diminuir a medida que aumenta a perda.
Gráfico 1. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço de
Compra
Elaboração e Fonte - Autor
Conclui-se que, a TP tomando o preço de compra como o preço de referência na
função valor prevê que a propensão marginal a vender uma ação diminui à medida que o
preço da ação afasta-se do preço de compra em qualquer direção levando a formação do efeito
disposição, uma previsão rejeitada pela analise do gráfico 1, ao qual determina que o efeito
disposição não é explicado pela TP.
Em nosso estudo buscou-se uma nova base explicativa para a causa do efeito
disposição. Segundo Kaustia (2010, pg. 792) o efeito disposição também pode ser causado
por uma resposta racional a novas informações, na crença da média à reversão dos retornos
das ações e pela psicologia do investidor. Shefrin e Statman (1985) afirmam que além da TP
há outros fatores que podem causar o efeito disposição, como contabilidade mental, aversão
ao arrependimento e autocontrole.
Shefrin e Statman (1985), Shefrin (2002) e Barberis e Xiong (2011) desenvolveram o
modelo comportamental no qual a hipótese central é que os investidores derivam utilidade
direta da realização de ganhos e perdas a partir de ativos que eles possuem. A utilidade é
33
concebida de forma positiva ou negativa, sendo positiva quando experimentam uma explosão
de utilidade ao venderem um ativo com ganho (a quantidade de utilidade depende do tamanho
do ganho realizado em relação ao preço de compra) e uma explosão negativa quando vendem
o ativo com uma perda, a quantidade de desutilidade novamente depende do tamanho da
perda realizada em relação ao preço de compra.
Barberis e Xiong (2011) chamaram esse modelo comportamental de realization utility.
Eles também mostraram que o efeito disposição surge de forma distinta da encontrada na TP
por Shefrin e Statman (1985) e Barberis and Xiong (2009). Na teoria da realization utility o
efeito disposição surge “with a linear functional form fo r utility and a positive time discount
rate5” (BARBERIS e XIONG 2011, p.262).
Shefrin (2002) também contribuiu para explicar o efeito disposição, mas foi através da
aversão ao arrependimento. Shefrin (2002, p. 10) considerou que “o arrependimento é
experimentar a emoção de não ter tomado a decisão correta”. Por isso que, para o autor o
arrependimento é mais do que a dor da perda, é a dor associada ao sentimento de ter sido
responsável pela perda. Nesse sentido Shefrin e Statman (1985) afirmaram que os investidores
podem resistir à realização de perdas, por que tal atitude é uma prova de que sua avaliação
estava errada. Nesse caso, os investidores mostrariam relutância em vender seus ativos, pois
seriam obrigados admitir seus próprios erros.
Shefrin e Statman (1985) concluíram também que a contrapartida positiva do
arrependimento é o orgulho. Desse modo, a busca pelo orgulho e a aversão ao arrependimento
levam a uma disposição para realizar ganho e adiar perdas.
De forma intuitiva, pode-se interpretar a teoria da realization utility, do orgulho e da
aversão ao arrependimento: um investidor obtém prazer a partir de ganhos de capital que
realizam e, além disso, é impaciente, pois ele estará muito interessado em vender ações com
ganho. Por outro lado, o investidor acha doloroso vender ações com perda por isso vai atrasar
a venda das ações.
Segundo Barberis e Xiong (2011, p.252), os investidores derivam utilidade
diretamente de ganhos e perdas realizadas na venda do ativo que eles possuem da seguinte
maneira,
um investidor se sente bem em vender uma ação com um ganho, porque,
com a venda, ele esta criando o que ele vê como um episódio de investimento
positivo. Por outro lado, ele se sente mal quando vende uma ação com perda,
porque, com a venda, ele está criando o que ele vê como um episódio de
investimento negativo.
5 Por meio de uma forma funcional linear para a utilidade e uma taxa de desconto intertemporal positiva.
34
Barberis e Xiong (2011, p.252), também afirmam na teoria da “realization utility”
que os investidores assumem como nível de referência o preço de compra para determinar a
propensão a vender ou manter uma ação. Contudo, os autores afirmam também que é
provável que exista um nível de referência de preço mais robusto para determinar a propensão
a vender ou manter uma ação.
Segundo Kaustia (2010,pg 793) ao segurar ações perdedoras os investidores agem
sobre o preço alvo com base em sua avaliação do preço justo da ação, contudo, não se
esperaria que o preço de compra fosse o preço alvo, mas sim, algum preço mais elevado. Por
isso que os desvios maiores dos preços devem dar mais razão para atualizar os preços alvos.
Isso nos leva a compreensão de que existe um nível de referência em que há um preço
máximo para determinar os preços alvos dos ativos.
Nossos resultados concluem que o nível de referência aos quais os investidores levam
em consideração para manter ou vender uma ação é o preço máximo e não o preço de compra
das ações. No gráfico 2, abaixo, essa conclusão pode ser verificada.
Gráfico 2. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço
Máximo
•
%
• t*
-50
0
• •• •
"
•
50
Intervalo de Retorno
Fonte e Elaboração -Autor
100
150
35
Por isso, o efeito disposição encontrado em nossos sujeitos através da propensão a
vender ou manter o ativo tem mais eficácia quando o investidor assume o preço máximo
como nível de referência. Portanto, nosso resultado é consistente com as teorias de Shefrin e
Statman (1985), Shefrin (2002) e Barberis e Xiong (2011), isso por que a maximização do
orgulho, realization utility e a aversão ao arrependimento é mais propensa a acontecer quando
o investidor assume como nível de referência o preço máximo do ativo.
Com relação ao preço máximo a dor da perda é muito maior do que em relação ao
preço de compra do ativo, o mesmo acorre no sentido oposto, o prazer e satisfação é muito
mais robusto em relação ao preço máximo do que em relação ao preço de compra.
Reforçando o nosso resultado um estudo feito por Heath, Hunddarte e Lang (1999)
concluíram que os níveis de referência são dependentes dos valores extremos do passado, ou
seja, a venda de um ativo praticamente dobra quando o preço dele ultrapassar o preço máximo
atingido durante o ano anterior. Portanto, o preço máximo de uma ação é utilizado como o
nível de referência que aumenta o poder descritivo para explicar o efeito disposição. Gneezy
(2004, pg. 404) demonstra esse resultado:
My father invested some money in the stock market when the index was 190.
A few months later the index jumped to 240, and then, after some time, fell to
200. Knowing my father I urged him to sell his position, telling him that the
market was too risky at the moment. My father replied: ‘To sell now, after I
lost 40 points? No way!”6
Shefrin e Statman (1985) ponderam que existe uma assimetria entre a força de
orgulho e a do arrependimento, o que leva a indecisão a ser favorecida em detrimento da ação.
Consequentemente, os investidores propensos a esse viés podem ficar relutantes em realizar
tanto ganhos quando perdas, conforme mostra a seguir Shefrin e Statman (1985, p.782)
[... ] considere um investidor que vende uma ação específica, por exemplo a
GM, com um ganho, mas continua a monitorar o seu progresso. Caso o preço
da ação da GM continue subindo, então, o sentimento inicial de orgulho será
envolvido pelo arrependimento de ter vendido tão rapidamente.
Quando o investidor assume como nível referência o preço máximo das ações o viés
ao qual Shefrin e Statman (1985) relatam deixa de existir, já que o arrependimento da venda
do ativo não pode acontecer.
6 Meu pai investiu algum dinheiro na bolsa quando o índice era de 190. Alguns meses mais tarde, o índice subiu
para 240e, em seguida, depois de algum tempo, caiu para 200. Conhecendo meu pai eu pedi para ele verde sua
posição, dizendo-lhe que o mercado era muito arriscado no momento. Meu pai respondeu “vender agora, depois
de perder 40 pontos? De jeito nenhum!”
36
4.2 Análise Econométrica dos Resultados Agregados
Nesta seção, apresenta-se os resultados para a execução de regressões logísticas e seus
efeitos marginais em relação à amostra agregada. Na tabela 1, abaixo, é analisado uma
regressão múltipla, sendo as variáveis explicativas quatro tipos alternativos de níveis de
referência para a venda ou manutenção de uma ação em carteira.
__________ Tabela 1. Resultados Agregados____________
Y ít = P l + @2 %2it + /?3 %3lt + /?4
it + P s X 5it + u it
Número de Obs.= 27278
Número de Grupos=284
Estatísticas Descritivas
Max = 136.11
Preço de Compra
1 — Pt
_ 1 + eyi
1+
Probabilidade da Venda
0.04675
Min = -90.62
t = 8.53***
Média=0.3198
(Erro Padrão=0.0054)
4.78%
Estatísticas Descritivas
Preço Máximo
Probabilidade da Venda
Max =127.77
0.3668
*7
<N
r-‘
3
=
Min = -40.00
Média= 0.8065
(Erro Padrão=0.0098)
44.32%
Estatísticas Descritivas
Preço Mínimo
Probabilidade da Venda
Max =45.45
-0.3249
Min = -84.37
t = -34.01***
Média = -0.5303
(Erro Padrão=0.0095 )
0.00%
Estatísticas Descritivas
Preço do Último Período
Probabilidade da Venda
Max =127.77
-0.0428
Min = -84.37
t = -5.03***
0.00%
Média=0.1984
(Erro Padrão =0.0085 )
A tabela 1 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra dos
dados é composta por 284 estudantes num total de 27278 observações. As variáveis
explicativas consistem nos preços de referências usados pelos investidores na
tomada de decisões, são eles: Preço de compra, preço máximo, preço mínimo e
preço do último período. A variável dependente do modelo é uma variável dummy,
1 para a venda e 0 para a manutenção de ações. As estatísticas descritivas
correspondem a cada uma das variáveis independentes.
A probabilidade da venda de uma ação é calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros em cada nível de referência.
Os símbolos *, ** e *** denotam significância estatística da estimativa nos níveis de
10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram calculados de
maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
37
Nossos resultados fornecem a evidência em relação aos pontos de referência que um
investidor pode tomar como base para suas decisões de investimento sob risco. Eles mostram
que para os níveis de referência em relação ao preço máximo e de compra a probabilidade de
venda é maior para um ganho realizado do que para uma perda realizada, ou seja, os
investidores apresentam efeito disposição ao levarem em consideração o preço máximo e de
compra como nível de referência. Contudo, em relação ao preço mínimo e do último período
os investidores não apresentam efeito disposição.
Com relação ao preço de compra da ação, o parâmetro indicado é significativo, p-valor
menor que 0.05, contudo, o efeito marginal é baixo, igual a 4.78%. Isso significa que, em
relação ao preço de compra a probabilidade de um investidor vender um ativo quando este
apresentar um ganho positivo é de 4.78%. Já, com relação ao preço máximo da ação, o efeito
marginal também é significativo, p-valor menor que 0.05, e igual a 44.32%, Isso significa
que, em relação ao preço máximo a probabilidade de um investidor vender um ativo quando
este apresentar um ganho positivo é de 44.32%.
Os efeitos marginais encontrados prevêem uma fraca condição em que ocorrem
vendas exclusivamente com base num nível de referência fixo, preço da compra da ação, no
entanto é maior com base num nível de referência dinâmico, preço máximo do ativo, ou seja,
a propensão maior para a venda ou manutenção do ativo, efeito disposição, é considerado pelo
investidor em função da perspectiva do valor máximo do ativo. Como já identificado nos
resultados gráfico anteriores, os investidores são mais propensos a usar o preço máximo do
ativo como nível de referência para tomar decisão sob risco.
Conclui-se que a explicação do efeito disposição vai ao encontro das teorias de Shefrin
e Statman (1985), Shefrin (2002) e Barberis e Xiong (2011). Contudo, o resultado vai de
encontro com a hipótese de Barberis e Xiong (2011) de que o preço de referência do
investidor para determinar a propensão a vende ou manter o ativo é o preço de compra, nossos
resultados indicam que a propensão a vender ou manter um ativo é maior em relação ao preço
máximo.
Weber e Camerer (1998) analisaram que, para um grande número de períodos, o
último preço de cada período pode ser utilizado como ponto de referência. Esperava-se que os
investidores ao determinar o preço do último período como nível de referência estivesse
disposto a “empatar” ou compensar as perdas passadas, já que o preço da ação poderia subir
novamente a partir de qualquer preço.
Com relação ao preço do último período como ponto de referência da ação, o efeito
marginal é significativo, p-valor menor que 0.05, contudo nulo, uma vez que o parâmetro é
38
negativo isso nos leva a conclusão de que a probabilidade de um investidor vender um ativo é
zero ou temos a certeza de 100% que o investidor ao analisar o preço do último período como
referência ele manterá o ativo em carteira. Conclui-se que com relação ao preço do último
período não há efeito disposição.
Com relação a análise dos parâmetros do nível de referência de preço do último
período a suposição feita por Thaler e Johnson (1990), de que os investidores são expostos ao
efeito disposição por ganhos e perdas posteriores a venda quando o nível de referência do
preço é o último período não é valida segundo nossos resultados.
Com relação ao preço mínimo encontramos o mesmo resultado em relação ao do preço
do último período como referência, o efeito marginal é significativo, p-valor menor que 0.05.
Contudo nulo, uma vez que o parâmetro é negativo isso nos leva a conclusão de que a
probabilidade de um investidor vender um ativo é zero ou temos a certeza de 100% que o
investidor ao analisar o preço mínimo como referência ele manterá o ativo em carteira.
Conclui-se que com relação ao preço mínimo não há efeito disposição.
Na tabela 2 abaixo, encontramos os resultados agregados do modelo de regressão
logística ordenados para testar a influência do viés da reversão à média no efeito disposição
através da proporção vendida da ação. Nas variáveis explicativas a tendência é que para a
dummy consistência de ganho (DCG) apresente um sinal positivo, pois quanto maior for a
consistência de ganho, maior será a probabilidade de um investidor vender uma grande
proporção dessas ações. Por outro lado, caso a variável dummy consistência de perda (DCP)
tenha um sinal negativo, ou seja, quanto maior a consistência de perda, menor será a
propensão a vender um ativo. Por outro lado a variável retorno do mercado foi analisada com
o intuito de identificar o quanto o retorno do mercado influência na venda ou compra de
ações.
39
Tabela 2.
Resultados Agregados no Viés da Reversão à média
Vit = P l +
%2it + @3 %3it + /?4 %4it + u it
Pi
1 + eyi
-------- = -------------= eJl
1-Pí
1 + e~yt
Número de Obs = 24767
Número de Grupos =285
Dummy Consistência Ganho
Probabilidade da Venda
-0.8327
0.00%
t = -120.34***
(Erro Padrão=0.0069)
Dummy Consistência Perda
Probabilidade da Venda
0.1342
14.37%
t = 39.18***
(Erro Padrão=0.0034)
Retorno Mercado
Probabilidade da Venda
0.0005
t = -2.23**
0.05%
(Erro Padrão =0.0002 )
A tabela 2 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra
dos dados é composta por 285 estudantes num total de 24767 observações. As
variáveis explicativas consistem são dummy para consistência de ganha, dummy
para consistência da perda e o retorno do mercado . A variável dependente do
modelo também é uma variável dummy, 1 para a venda e 0 para a manutenção de
ações.
A probabilidade da venda de uma ação é calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros em cada nível de referência.
Os símbolos *, ** e *** denotam significância estatística da estimativa nos
níveis de 10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram
calculados de maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
Conforme pode ser observado, a variável dummy consistência de ganho apresentou um
sinal negativo e estatisticamente significativo ao nível de 1%. Esse resultado mostra que
quanto maior a consistência de ganho maior a chance de um investidor manter a ação em
carteira. No entanto, em relação a variável dummy consistência de perda apresentou um sinal
positivo e estatisticamente significativo ao nível de 1%.
Os resultados trouxeram, por um lado, indícios de que ganhos cada vez mais
consistentes com base no desempenho precedente de uma ação fazem com que os agentes
econômicos permaneçam com o ativo em carteira e em relação as perdas consistentes levam
os agentes econômicos a vender o ativo. Em geral, a partir dos resultados conclui-se que o
viés da reversão à média não proporciona o efeito disposição. As pesquisas realizadas por
Kaustia (2010) e Lucchesi, Yoshinaga e Castro Jr. (2010) chegam a este mesmo resultado.
40
O parâmetro para a variável retorno do mercado é estatisticamente significativo ao
nível de 5%. Esse resultado indica que um retorno do mercado positivo leva os investidores a
ter uma propensão marginal a vender uma ação na ordem de 0.05%.
4.3
Diferença entre Homem e M ulher
Nesta seção o propósito geral é identificar a existência de possíveis diferenças entre o
gênero do agente econômico e o efeito disposição. Para isso, foram realizados testes-t que
verificaram a diferença de proporção entre os níveis de referência que homens e mulheres
usam para tomar suas decisões de venda ou manutenção de ações.
4.3.1
Inspeção Gráfica da Diferença entre Homem e M ulher
A partir da analisa do gráfico 3, interpretamos que, nossos resultados não corroboram
com a TP, para ambos os sexos. Isso por que, em primeiro lugar, a propensão marginal para
vender uma ação esta aumentando quando há ganhos enquanto que uma parametrização
razoável de uma função de valor da TP prediz que a propensão marginal vai diminuir com o
aumento dos ganhos.
Em
segundo lugar,
a propensão marginal
para vender é
aproximadamente constante ou insensível no domínio das perdas enquanto a TP novamente
prevê pela função valor que irá diminuir a medida que aumenta a perda.
Na analise gráfica concluímos que os homens possuem uma propensão maior para a
venda de ações no domínio dos ganhos do que as mulheres, ou seja, eles tendem ser mais
avessos ao ganho que as mulheres, consequentemente, mais propensos ao efeito disposição.
Contudo, no domínio das perdas ambos os sexos tem o mesmo comportamento.
O teste estatístico para determinar a significância da diferença nos resultados
encontrado é apresentado nas tabelas 3 e 4.
41
Gráfico 3. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço de
Compra
• Homem
• Mulher
Fonte e Elaboração - Autor
Conclui-se que, para ambos os sexos a TP é uma previsão rejeitada pela analise do
gráfico 3, ou seja, o efeito disposição não pode ser explicado pela teoria do prospecto.
Analisamos nesse momento, se o nível de referência usado entre homens e mulheres
para a venda ou manutenção de uma ação difere. Os resultados encontrados mostram que o
nível de referência aos quais os investidores assumem para uma maior propensão a venda ou
manutenção da ação é o preço máximo e não o preço de compra das ações. No gráfico 4,
abaixo, essa conclusão pode ser verificada.
42
Gráfico 4. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço
Máximo
CN
« •M
à'
sVv
n
IO
%»
T
-50
0
j
•
*
•
••
— i------------------------------------
50
Intervalo de Retorno
• Máximo Homem
100
150
• Máximo Mulher
Fonte e Elaboração - Autor
Por isso, o efeito disposição encontrado em homens e mulheres através da propensão a
vender ou manter o ativo tem mais eficácia quando eles assumem o preço máximo como nível
de referência. Nesse gráfico percebemos que não há uma diferença entre os sexos, ambos
agem de forma similar.
4.3.2
Análise Econométrica da Diferença entre Homem e M ulher
Nesta seção, apresenta-se os resultados das regressões logística e seus efeitos
marginais para homens e mulheres. Na tabela 3, abaixo, é analisado uma regressão múltipla,
sendo as variáveis explicativas quatro tipos alternativos de níveis de referência para a venda
ou manutenção de um ativo em carteira. Foi realiado um teste-t de duas proporções que
detecta a significação da diferença entre homens e mulheres.
Nossos resultados fornecem a evidencia sobre os pontos de referência que homens e
mulheres tomam como base para suas decisões em condições de risco. Eles mostram que para
os níveis de referência em relação ao preço máximo, de compra e do último período a
43
probabilidade de venda é maior para um ganho realizado do que para uma perda realizada, ou
seja, os eles apresentam efeito disposição ao levarem em consideração o preço máximo e de
compra como nível de referência. Contudo, em relação ao preço mínimo os gêneros não
apresentam efeito disposição.
Tabela 3. Resultado entre Homens e Mulheres
H om em
Preço de Compra
Número de
Obs.= 16945
Preço Máximo
Preço Mínimo
4.60%
P.V.
20.01%
P.V.
Preço do Último Período
Número de
Obs.= 16945
Número de
Grupos =150
0.0471***
t = 12.01
(Erro Padrão =0.0039)
Preço Máximo
0.00%
P.V.
4.82%
P.V.
Preço de Compra
3.04%
t = 2.18***
P.V.
Preço Máximo
Número de
Grupos =81
0.1783***
t =21.73
(Erro Padrão=0.0082)
Preço Mínimo
Número de
Obs.= 9511
D iferença Estatística
Número de
Grupos =81
0.0299***
t =7.84
(Erro Padrão=0.0038)
Número de
Obs.= 9511
Número de
Grupos =150
(-0.1012)***
t = -20.66
(Erro Padrão=0.0048)
Preço de Compra
Número de
Obs.= 9511
Número de
Grupos =150
0.1824***
t = 27.26
(Erro Padrão =0.0066)
Número de
Obs.= 16945
P.V.
Número de
Grupos =150
0.0450***
t = 14.42
(Erro Padrão=0.0031)
Número de
Obs.= 16945
M ulher
19.52%
P.V.
t = 0.27
Preço Mínimo
Número de
Grupos =81
(-0.1100***)
t = -17.07
(Erro Padrão =0.0064)
Preço do Último Período
Número de
Obs.= 9511
Número de
Grupos =81
0.0274***
t = 5.76
0.00%
P.V.
2.78%
t = 0.78
Preço do Último Período
t = 2.31***
(Erro Padrão =0.0046)
A tabela 3 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra dos
dados é composta por 150 estudantes homens num total de 16945 observações e 81
mulheres num total de 9511 observações. As variáveis explicativas consistem nos
preços de referências usados pelos investidores na tomada de decisões, são eles:
Preço de compra, preço máximo, preço mínimo e preço do último período. A
variável dependente do modelo é uma variável dummy, 1 para a venda e 0 para a
manutenção de ações.
O teste-t de duas proporções é usado para detectar a significação entre homens e
mulheres em relação as níveis de referência.
P.V. é a probabilidade da venda de uma ação calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros.
Os símbolos *, ** e *** denotam significância estatística da estimativa nos níveis de
10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram calculados de
maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
44
Com relação ao preço de compra da ação, o parâmetro indicado é significativo, p-valor
menor que 0.05 para ambos os sexos, contudo, o efeito marginal é baixo, igual a 4.60% para
homem e 3.04% para as mulheres. Isso significa que, em relação ao preço de compra a
probabilidade de um homem vender uma ação quando este apresentar um ganho é de 4.60% e
a mulher é de 3.04%. Percebe-se, que os homens são mais avessos ao ganho que a mulher,
essa diferença é estatisticamente significativa entre os gêneros.
Com relação ao preço máximo da ação, o efeito marginal também é significativo, pvalor menor que 0.05 para homens e mulheres, 20.01% e 19.52%, respectivamente. Existe
uma pequena diferença entre os sexos, contudo, o teste-t demonstra que não há diferença
significativa para os sexos em relação ao preço máximo da ação.
Com relação ao preço do último período como ponto de referência da ação, o efeito
marginal também é significativo, p-valor menor que 0.05, homens apresentam 4.82% de
chance de vender uma ação quando há um ganho e as mulheres 2.78%. Essa diferença é
estatisticamente significativa.
Para o preço mínimo encontramos o efeito marginal é significativo, p-valor menor que
0.05. Contudo nulo para homens e mulheres, uma vez que o parâmetro é negativo isso nos
leva a conclusão de que a probabilidade de um investidor vender um ativo é zero ou temos a
certeza de 100% que o investidor ao analisar o mínimo como referência ele manterá o ativo
em carteira. Conclui-se que com relação ao preço mínimo não há efeito disposição.
Na tabela 4 encontramos os resultados para o modelo que identifica o viés da
regressão logística influência no efeito disposição ou na proporção de venda ou manutenção
da ação para homens e mulheres.
45
Tabela 4. Resultados Homem e Mulher no Viés da Reversão à média
H om em
M ulher
Número de Obs =12987
Número de Grupos =152
Número de Obs = 7156
Número de Grupos =81
Dummy Consistência Ganho
Dummy Consistência Ganho
-0.8326
P.V.
t = -85.70**
0.00%
(Erro Padrão=0.0097)
P.V.
t = 28.72***
14.23%
(Erro Padrão=0.0046)
0.03%
(Erro Padrão=0.0003)
t = 0.43
0.00%
Dummy Consistência Perda
0.1295
t = 20.45***
Dummy Consistência Perda
P.V.
t = 0.33
13.82%
Retorno Mercado
P.V.
t = 1.07
P.V.
(Erro Padrão=0.0063)
Retorno Mercado
0.0003
Dummy Consistência Ganho
(Erro Padrão=0.012)
Dummy Consistência Perda
0.13331
-0.8420
t = -65.85***
D iferença Estatística
0.0012
t = -2.99***
Retorno Mercado
P.V.
t = -1.28
0.12%
(Erro Padrão =0.0004)
A tabela 4 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra
dos dados é composta por 152 estudantes homens num total de 12987
observações e 81 mulheres num total de 7156 observações. As variáveis
explicativas são: dummy para consistência de ganha, dummy para consistência
da perda e o retorno do mercado . A variável dependente do modelo também é
uma variável dummy, 1 para a venda e 0 para a manutenção de ações.
PV é a probabilidade da venda de uma ação, calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros em cada nível de referência.
Os símbolos
e *** denotam significância estatística da estimativa nos
níveis de 10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram
calculados de maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
Conforme pode ser observado, a variável dummy consistência de ganho apresentou um
sinal negativo e estatisticamente significativo ao nível de 1% para homens e estatisticamente
significativo ao nível de 5% para mulheres. Esse resultado mostra que quanto maior a
consistência de ganho maior a chance de um homem ou mulher manter a ação em carteira. No
entanto, em relação a variável dummy consistência de perda apresentou um sinal positivo e
estatisticamente significativo ao nível de 1% para ambos os sexos. Nossos resultados mostram
que para homens e mulheres o viés da reversão à média não proporciona a explicação do
efeito disposição.
O efeito marginal dos parâmetros para a variável retorno do mercado é
estatisticamente significativo ao nível de 1% para as mulheres, mas não é estatisticamente
significativo para os homens Esse resultado indica que um retorno do mercado positivo leva
as mulheres a ter uma propensão marginal a vender uma ação na ordem de 0.12%.
46
4.4
Diferença entre Indivíduos e Grupos
Nesta seção o propósito geral é identificar se indivíduos e grupos se diferenciam em
relação ao ponto de referência e as motivações quando apresentam o efeito disposição. Para
isso, foram realizados testes-t que verificaram a diferença de proporção entre os níveis de
referência que indivíduos e grupos usam para tomar suas decisões de venda ou manutenção de
ações.
4.4.1
Inspeção Gráfica da Diferença entre Indivíduos e Grupos
A partir da analisa do gráfico 5 interpretamos que, nossos resultados vão de encontro à
TP, para indivíduos e grupos Isso por que, em primeiro lugar, a propensão marginal para
vender uma ação esta aumentando quando há ganhos positivos enquanto que uma
parametrização razoável de uma função de valor da TP prediz que a propensão marginal vai
diminuir com o aumento dos ganhos. Em segundo lugar, a propensão marginal para vender é
aproximadamente constante ou insensível no domínio das perdas enquanto a TP novamente
prevê pela função valor que irá diminuir a medida que aumenta a perda.
Na analise gráfica concluímos que indivíduos e grupos possuem similaridade para a
venda de ações no domínio dos ganhos e no domínio das perdas ambos apresentam também o
mesmo comportamento.
Conclui-se que, para ambos os formato do experimento a TP é uma previsão rejeitada
pela analise do gráfico 5, ou seja, o efeito disposição não pode ser explicado pela TP
47
Gráfico 5. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço
de Compra
CD
CNJ
T
0
50
Capital gain/loss
• Grupo
• Indivíduo
Fonte e Elaboração - Autor
Analisamos nesse momento, se o nível de referência usado entre indivíduos e grupos
para a venda ou manutenção de uma ação difere. Os resultados encontrados mostram que o
nível de referência aos quais eles assumem para uma maior propensão a venda ou manutenção
da ação é o preço máximo e não o preço de compra das ações. No gráfico 6, abaixo, essa
conclusão pode ser verificada
Por isso, o efeito disposição encontrado em indivíduos e grupos s através da propensão
a vender ou manter o ativo é mais eficácia quando eles assumem o preço máximo como nível
de referência. Nesse gráfico percebemos que não há uma diferença entre eles, ambos agem de
forma similar
48
Gráfico 6. Propensão para Venda como uma Função do Retorno em Relação ao Preço
Máximo
CN -
LO
Intervalo de Retorno
• Grupo
• Individuo
Fonte e Elaboração - Autor
4.4.2
Análise Econométrica da Diferença entre Indivíduos e Grupos
Nesta seção, apresentam-se os resultados das regressões logísticas e seus efeitos
marginais para indivíduos e grupos. Na tabela 5, abaixo, é analisado uma regressão múltipla,
sendo as variáveis explicativas quatro tipos alternativas de níveis de referência para a venda
ou manutenção de um ativo em carteira. Foi realizado um teste-t entre duas proporções que
detecta a diferença significativa entre indivíduos e grupos.
Nossos resultados fornecem a evidência sobre os pontos de referência que indivíduos e
grupos assumem como base para suas decisões em condições de risco. Eles mostram que para
os níveis de referência em relação ao preço máximo, de compra e do último período a
probabilidade de venda é maior para um ganho realizado do que para uma perda realizada, ou
seja, eles apresentam efeito disposição ao levarem em consideração o preço máximo e de
compra como nível de referência. Contudo, em relação ao preço mínimo eles não apresentam
efeito disposição.
49
Grupo
Preço de Compra
Número de
Obs.= 6241
Preço Máximo
t = 20.07
(Erro Padrão =0.0071)
Preço Mínimo
3.28%
P.V
15.44%
P.V
Preço do Último Período
Número de
Obs.= 6241
Número de
Grupos =52
0.0250***
t = 5.66
(Erro Padrão =0.0044)
Preço Máximo
0.00%
P.V
2.53%
Preço de Compra
3.73%
P.V
t = -0.54
Preço Máximo
Número de
Grupos =33
0.1435***
t = 14.85
(Erro Padrão =0.0096)
Preço Mínimo
Número de
Obs.= 3313
P.V
Número de
Grupos =33
0.0366***
t = 7.91
(Erro Padrão=0.0046)
Número de
Obs.= 3313
Número de
Grupos =52
-0.0877***
t = -15.43
(Erro Padrão =0.0056)
Preço de Compra
Número de
Obs.= 3313
Número de
Grupos =52
0.1436***
Número de
Obs.= 6241
P.V
Número de
Grupos =52
0.0323***
t = 9.26
(Erro Padrão=0.0034)
Número de
Obs.= 6241
Tabela 5. Resultados Grupos e Indivíduos
Individual
Diferença Estatística
t = 0.01
15.43%
P.V
Preço Mínimo
Número de
Grupos =33
-0.0501***
t = -8.64
(Erro Padrão =0.0058)
Preço do Último Período
Número de
Obs.= 3313
Número de
Grupos =33
0.0287***
t = 5.20
t =-3.30
0.00%
P.V
2.91%
Preço do Último Período
t = -0.37
(Erro Padrão=0.0055)
A tabela 5 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra dos
dados é composta por 52 grupos num total de 6241 observações e 33 indivíduos
num total de 3313 observações. As variáveis explicativas consistem nos preços de
referências usados pelos investidores na tomada de decisões, são eles: Preço de
compra, preço máximo, preço mínimo e preço do último período. A variável
dependente do modelo é uma variável dummy, 1 para a venda e 0 para a manutenção
de ações.
P.V. é a probabilidade da venda de uma ação calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros.
O teste-t de duas proporções é usado para detectar a significação entre homens e
mulheres em relação as níveis de referência
Os símbolos *, ** e *** denotam significância estatística da estimativa nos níveis de
10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram calculados de
maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
Com relação ao preço de compra da ação, o parâmetro indicado é significativo, p-valor
menor que 0.05 para indivíduos e grupos, contudo, o efeito marginal é baixo, igual a 3.28%
para grupos e 3.76% para o individual. Isso significa que, em relação ao preço de compra a
probabilidade de um indivíduo vender uma ação quando este apresentar um ganho é de 3.76%
e o grupo é de 3.28%. Percebe-se, que os indivíduos isolados são mais avessos ao ganho que a
quando em grupo, contudo essa diferença não é estatisticamente significativa.
Com relação ao preço máximo da ação, o efeito marginal também é significativo, pvalor menor que 0.05 para indivíduos e grupos, 15.43% e 15.44%, respectivamente. Não
existe uma diferença entre eles, a confirmação é dada com o teste estatístico não significativo.
50
Com relação ao preço do último período como ponto de referência da ação, o efeito
marginar marginal também é significativo, p-valor menor que 0.05, grupos apresentam 2.53%
de chance de vender uma ação quando há um ganho e os indivíduos isolados 2.91%. Essa
diferença também não é estatisticamente significativa.
Para o preço mínimo encontramos o efeito marginal é significativo, p-valor menor que
0.05. Contudo nulo para grupos e indivíduos, uma vez que o parâmetro é negativo isso nos
leva a conclusão de que a probabilidade de um investidor vender um ativo é zero ou temos a
certeza de 100% que o investidor ao analisar o mínimo como referência ele manterá o ativo
em carteira. Conclui-se que com relação ao preço mínimo não há efeito disposição.
Na tabela 6 encontramos os resultados para o modelo que identifica se o viés da
regressão logística influencia no efeito disposição ou na proporção de venda ou manutenção
da ação para grupos e indivíduos.
Tabela 6. Resultados Grupos e Indivíduos no Viés da Reversão à média
Grupo
Individual
Número de obs.= 4577
Número de Grupos=52
Número de obs.= 2424
Número de Grupos =34
Dummy Consistência Ganho
Dummy Consistência Ganho
-0.8307
t = -53.27***
P.V
0.00%
Dummy Consistência Perda
t = 17.01***
P.V
15.51%
( Erro Padrão=0.0084)
t = 0.03
(Erro Padrão=0.0004)
P.V
Dummy Consistência Perda
0.1778
t = 14.07***
t = -0.45
0.00%
Dummy Consistência Perda
P.V
t = -1.6
19.46%
(Erro Padrão=0.0126)
Retorno Mercado
0.00001
Dummy Consistência Ganho
-0.8126
t = -33.76***
( Erro Padrão=0.024)
(Erro Padrão=0.0155)
0.1442
Diferença Estatística
Retorno Mercado
Retorno Mercado
P.V
0.00%
0.0013
t = 1.90**
P.V
t = -1.29**
0.13%
(Erro Padrão=0.0006)
A tabela 6 apresenta os parâmetros, os t-valores e o erro padrão a partir de um
modelo regressivo logístico estimado por máxima verossimilhança. A amostra
dos dados é composta por 52 grupos de estudantes num total de 4577
observações e 34 indivíduos num total de 2424 observações. As variáveis
explicativas são: dummy para consistência de ganha, dummy para consistência
da perda e o retorno do mercado . A variável dependente do modelo também é
uma variável dummy, 1 para a venda e 0 para a manutenção de ações.
A probabilidade da venda de uma ação calculada pelo efeito marginal dos
parâmetros em cada nível de referência.
Os símbolos
e *** denotam significância estatística da estimativa nos
níveis de 10%, 5% e 1%, respectivamente. Os resíduos estimados foram
calculados de maneira robusta.
Fonte e Elaboração - Autor
51
Conforme pode ser observado, a variável dummy consistência de ganho apresentou um
sinal negativo e estatisticamente significativo ao nível de 1% para grupos e indivíduos
isolados. Esse resultado mostra que quanto maior a consistência de ganho maior a chance de
um grupo ou indivíduo isolado manter a ação em carteira. No entanto, em relação a variável
dummy consistência de perda verificou-se um sinal positivo e estatisticamente significativo ao
nível de 1% para ambos. Nossos resultados mostram que para indivíduos isolados e grupos o
viés da reversão à média não determina a explicação do efeito disposição.
52
5.
CONCLUSÃO
Até recentemente a teoria econômica foi considerada como uma ciência não
experimental que teve de contar com modelos para constituir sua base teórica ao qual se
encontra restrita a um agente econômico motivado por interesses próprios e capaz de tomar
suas decisões racionalmente. Mas, a pesquisa econômica atualmente busca novas alternativas
para modificar a postura tradicional, em particular, da racionalidade ilimitada. Além disso, a
pesquisa cada vez mais se baseia em novos dados de experimentos de laboratório. Portanto, o
trabalho realizado teve dois focos, o primeiro foi o estudo teórico e empírico da tomada de
decisões humanas com ênfase na economia comportamental e o segundo analise das teorias
sobre o efeito disposição por meio de dados experimentais.
Os experimentos na área de economia surgem como uma possibilidade para
demonstrar que muitas de suas teorias podem ser representadas por situações de controle
laboratoriais e desta forma serem “testadas”, como nas outras ciências experimentais. Estes
testes podem corroborar a favor ou contra a teoria em foco. No caso da economia neoclássica,
pode explicar algumas de suas limitações.
A economia neoclássica tem como base a teoria da utilidade, que tem como principal
pressuposto um agente econômico perfeitamente racional. Dado um agente econômico
racional, as finanças modernas explicam a existência de um mercado de capitais eficiente e
em equilíbrio.
Por outro lado, as finanças comportamentais partem da suposição de que os agentes
não são perfeitamente racionais e podem apresentar alguns vieses em relação a teoria
tradicional que podem levar o mercado a ineficiência. Um desses vieses é o efeito disposição.
Para explicar esse efeito diversas abordagens têm sido empregadas, como a TP e o viés da
reversão à média.
Nossos estudos concluíram que o efeito disposição não é explicado pela TP. Isso por
que, em primeiro lugar, a propensão marginal para vender uma ação esta aumentando quando
há ganhos enquanto que uma parametrização razoável de uma função de valor da TP prediz
que a propensão marginal vai diminuir com o aumento dos ganhos. Em segundo lugar, a
propensão marginal para vender é aproximadamente constante ou insensível no domínio das
perdas enquanto a TP novamente prevê pela função valor que irá diminuir a medida que
aumenta a perda.
53
Uma explicação alternativa racional (reversão à média) para o efeito disposição
também não proporcionou resultados efetivos. O padrão da realização de ganhos e perdas é
muito diferente do que é previsto pelo viés da reversão à média.
Em geral os resultados parecem consistentes com uma explicação psicológica para o
efeito disposição. Essa explicação se encontra na teoria da realization utility, do orgulho e da
aversão ao arrependimento, onde, um investidor obtém prazer a partir de ganhos de capital
que realizam e, além disso, é impaciente, ele estará muito interessado em vender ações com
ganho. Por outro lado, o investidor acha doloroso vender ações com perda por isso vai atrasar
a venda das ações.
No entanto, embora os resultados sejam consistentes com a psicologia cognitiva, o
presente estudo não por objetivo realizar um teste para verificar tal hipótese, por isso como
sugestões para futuras pesquisas propõe-se o estudo da psicologia cognitiva na explicação do
efeito disposição.
O estudo também conclui que os níveis de referência usados pelos investidores para a
venda ou manutenção de ações é o preço de compra e o preço máximo das ações. Contudo, é
em relação ao preço máximo da ação que o efeito marginal apresenta um valor mais robusto
do que o preço de compra, ou seja, existe uma tendência de que o efeito disposição seja maior
para os investidores que levam em consideração o preço máximo como nível de referência.
Em relação ao preço do último período e o preço mínimo os resultados mostram que não
existe propensão marginal para a venda de ações.
Sugerem-se, para trabalhos futuros, pesquisas que buscam analisar a influência de
variáveis psicofisiológicas na tomada de decisão e o estudo de outras variáveis que
influenciam a propensão a venda ou manutenção de ações.
54
6.
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