COMO A FAMÍLIA, A MÍDIA E A ESCOLA INFLUENCIAM NO
CONCEITO DE MEIO AMBIENTE DE ALGUNS DISCENTES DE
6° ANO DA ZONA RURAL E URBANA DE ANÁPOLIS, GO
Poliana J. Reis1
Ramilla B. Santos¹
Vanessa, Araújo-Lima¹
Franciele M. de Souza¹
Adda Daniela L. Figueiredo2
RESUMO: O meio ambiente não é apenas caracterizado por sua fauna e flora, mas faz parte da
realidade de vida de todos os indivíduos. O convívio no ambiente, urbano ou rural determina a
predominância de certos hábitos que moldam os indivíduos de acordo com a sua realidade. Desta forma,
conceituar a natureza engloba uma estruturação familiar e até mesmo midiática. O presente trabalho tem
por objetivo identificar as diferenças conceituais de meio ambiente, ocasionadas pela influência familiar,
escolar e da mídia, entre discentes de 6º ano em escolas da zona rural e urbana do município de
Anápolis - GO. Nas duas escolas utilizou-se de rodas de conversa, desenhos e questionários para avaliar
as representações dos alunos á cerca do meio ambiente. Foi notável a predominância de conceitos
antropocêntricos na zona rural e naturalista na zona urbana, nas rodas de conversa o tema central em
ambas as escolas foi poluição. Por meio das técnicas de abordagem utilizadas observamos que as
diferenças entre os alunos da zona rural e urbana estão concentradas apenas nos aspectos de localização,
pois suas concepções de meio ambiente são igualmente naturalistas.
PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente, Representações, Família, Mídia, Zona rural, Zona urbana.
Introdução
O meio ambiente não é apenas caracterizado por sua fauna e flora, mas faz parte da
realidade de vida de todos os indivíduos. Além disso, o mesmo é influenciado pela cultura que
impera em determinada localidade (Martinho & Talomoni, 2007). Esse processo cultural forma a
identidade social do sujeito mediante à sociedade contemporânea, refletindo em suas ações e
considerações (Setton, 2002).
1
Discentes do curso de Ciências Biológicas – Habilitação em Biologia Licenciatura, 4º período; Unidade de
Ciências Exatas e Tecnológicas, UnUCET/UEG, Anápolis-GO. [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
2
Pesquisadora – Orientadora, curso Ciências Biológicas, Unidade de Ciências Exatas e Tecnológicas, UnUCET/UEG,
Anápolis-GO.
1
A fragmentação da sociedade em periferia e centro e/ou zona urbana e rural levam algumas
pessoas a criarem diversos tipos de preconceitos. O convívio diferenciado e contextualizado no
ambiente de cada região, determina a predominância de certos hábitos que moldam os indivíduos de
acordo com a sua realidade. Desta forma, conceituar a natureza engloba uma estruturação familiar e
até mesmo midiática, possibilitando especificações peculiares e dependentes às tradições e
informações veiculadas por esses fatores (Setton, 2002).
O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para melhor
compreendermos as inter-relações entre indivíduo e ambiente, suas expectativas, satisfações,
julgamentos e condutas (Zapieron et al., 2007).
Cada indivíduo percebe e reage diferentemente diante das ações sobre o meio. As respostas
ou manifestações são, portanto, resultados das percepções de cada indivíduo. Embora nem todas as
manifestações psicológicas sejam evidentes, elas são constantes e afetam nossa conduta, na maioria
das vezes, inconscientemente (Santos & Ruffino, 2007).
A intervenção midiática é relevante quando é sujeita a um processo dividido em três
instâncias: produção, recepção e difusão. Isso explica como produzir os conteúdos a serem
transmitidos; como recepcioná-los e engajá-los no dia-a-dia, para que se tenha uma internalização
das mensagens; e como difundi-las abrangendo a massa populacional e por isso modificando a
realidade, ou seja, a vida dos indivíduos. Então se vê a forte influência da mídia como agente de
socialização dentro de uma dada sociedade e a sua capacidade de interferir na relação entre o
indivíduo e meio ambiente (Setton, 2002).
A influência da vida familiar é fato histórico e ainda atual. Ela configura em sua base
descendentes, de mesma formação cultural e moral junto às suas relações, criando uma hierarquia
com origens próprias (Setton, 2002). Já a escola é considerada como um ambiente onde se ensina e
se aprende, propondo mesclar as diversidades, valorizando a heterogeneidade. Antigamente a escola
era vista como uma instituição que selecionava seus integrantes e os condicionavam a determinadas
circunstâncias, entretanto esta é uma visão já obsoleta (Ferreira, 2007; Setton, 2002).
Relacionar essas diferentes concepções de meio ambiente possibilita o estudo de uma
educação ambiental que parte de uma linha civilizatória e envolvimento social (Estado – sociedade
civil) e sua implementação deve ter raízes na educação formal e informal para que se obtenha uma
expansão pública e uma tomada de consciência (Sorrentino et al., 2005).
Disseminar o que é educação ambiental por parte dos professores no âmbito escolar é de
grande importância para verificar o quanto ela influencia nas respostas decorrentes em
questionários, entrevistas, rodas de conversa (grupo focal), desenhos, indicando um certo apreço e
entendimento do assunto.
Desse modo, o presente trabalho tem por objetivo identificar as diferenças conceituais de
2
meio ambiente, ocasionadas pela influência familiar, escolar e da mídia, entre discentes de 6º ano
em escolas da zona rural e urbana do município de Anápolis - GO.
Materiais e Métodos
Foram avaliadas duas turmas de 6º ano de duas escolas municipais de Anápolis, são:
Escola Municipal Inácio Sardinha de Lisboa, localizada no distrito de Interlândia, Anápolis-GO e a
Escola Municipal Alfredo Jacomossi, localizada no Bairro Vila Norte, Anápolis-GO; cada turma
composta por 30 alunos em média.
Realizou-se inicialmente as rodas de conversa. De maneira informal os alunos foram
convidados a participar de conversas sobre meio ambiente, problemas ambientais e a contar acerca
de suas vivências em casa e suas relações com a natureza.
Após as conversas foi solicitado aos alunos que fizessem um desenho com conteúdo
voltado para a natureza. Com o término dos desenhos, foram aplicados os questionários compostos
por dez questões, abertas e fechadas, para avaliar as representações acerca do meio ambiente,
relacionadas à influência familiar, das mídias e da escola. O modelo do questionário está exposto
abaixo:
Modelo de Questionário
Município: _________________________________________________
Zona:
( ) Rural
( ) Urbana
Sexo:
( ) Mas.
Idade:______________
( ) Fem.
1. Para você, o que é o meio ambiente?
_______________________________________________________________________________________
2. Marque todas as opções que você acha que ajudam a conservar o maio ambiente:
( ) Desmatar as beiras dos rios
( ) Economizar água
( ) Fazer brinquedos de sucata
( ) Não quebrar as plantas
( ) Escrever nos dois lados do papel para economizar
( ) Outros. Quais ______________________________
3. Você sabe o que é o cerrado? Explique.
_______________________________________________________________________________________
4. Cite três exemplos de degradação ambiental.
_______________________________________________________________________________________
5. Cite três exemplos de animais silvestres.
_______________________________________________________________________________________
6. Você assiste televisão? Qual é seu programa favorito? Por quê?
_______________________________________________________________________________________
3
8. Você tem acesso à internet?
( ) Sim
( ) Não
9. Seu pai ou sua mãe costumam ajudar nas lições de casa?
_______________________________________________________________________________________
10. Cite algum conhecimento sobre meio ambiente, que você aprendeu com seus pais, na TV, na internet ou
na escola?
_______________________________________________________________________________________
Resultados e Discussão
Os valores porcentuais acerca das representações sobre meio ambiente, dos alunos da zona
rural e urbana, estão evidenciados na Tabela I.
Tabela I - Diferenças percentuais nas representações, conhecimentos e influências entre alunos da
zona rural e urbana
Zona Rural
Zona Urbana
Representações
28% naturalista
68% naturalista
Desenhos
23% naturalista
68% naturalista
Conhecimentos Gerais
Cerrado
57% souberam definir
50% souberam definir
Degradação
60% citaram corretamente
45% citaram corretamente
Animais silvestres
83% citaram corretamente
100% citaram corretamente
Acesso às mídias
TV
95%
96%
Internet
45%
40%
Influências
Ajuda dos pais
77%
72%
Influência dos pais
83%
90%
Influência das mídias
72%
72%
Influência da escola
58%
81%
Foi notável a predominância das representações antropocêntricas na zona rural e naturalista
na zona urbana o que pode estar relacionado aos conhecimentos gerais e o cotidiano desses alunos.
As definições de meio ambiente apresentados pelos alunos demonstram uma associação naturalista
do ambiente embora diferentemente de outros trabalhos de mesma vertente. Em ambas as escolas a
família é a que exerce maior influência nas representações sobre meio ambiente.
Nas rodas de conversa a abordagem central em ambas as escolas foi a poluição, porém
relacionada com o tipo de ambiente em cada região. A vertente religião, pertinente à família, não
teve influência nas opiniões sobre meio ambiente descritas pelos alunos.
4
Para Meyer (1991), é importante que o professor trabalhe estimulando o re-olhar e
redescobrir o ambiente em que vivemos. No entanto é necessário reconhecer que o ser humano não
é apenas parte integrante, mas elemento completamente indissociável do ambiente;
Diferentes visões e interpretações que os alunos possuem a respeito de sua realidade
poderão levar o professor a formular diferentes propostas ou programas de ação, influenciando os
planos de trabalho educativo (Carvalho, 1989).
Em trabalhos de mesma vertente, realizados em São Paulo, notou-se a religião como fator
determinante para representar o ambiente ou os problemas ambientais (Martinho & Talamoni,
2007). No presente trabalho essa visão foi descartada podendo nos indicar um amadurecimento
dessas representações e uma possibilidade de conscientização do homem como fator determinante
para a natureza.
Quanto às origens das representações, pode-se observar que a família teve maior
repercussão nas influências exercidas sobre os aluno, tanto da zona rural como urbana,
diferentemente dos trabalhos anteriores que trazem as mídias como principal fator de influência.
Estas análises foram obtidas a partir de características qualitativas expressadas tanto nas rodas de
conversa como nos questionários.
Considerações Finais
Por meio das técnicas de abordagem utilizadas observamos que as diferenças entre os
alunos da zona rural e urbana estão concentradas apenas nos aspectos de localização, pois suas
concepções de meio ambiente são igualmente naturalistas.
Analisando as origens das representações sobre meio ambiente, observa-se um dado singular
que é a maior interação da família na composição do conhecimento, em ambas as escolas. Logo,
nota-se a importância das interações para promover a tomada de consciência desses indivíduos,
visando a construção de uma educação ambiental que se consolide com coerência e o devido
respeito à natureza.
Referencias Bibliográficas
Copiani, P. M. O lugar e as escolas e suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos
práticos: implicações para o ensino de ciências e educação ambiental. Campinas: Ciências &
Educação, 2007.
5
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interpretativa, dois e três anos após sua realização. São Paulo: Biological Sciences, 2006.
Ferreira, D. Manual de sociologia: dos clássicos à sociedade da informação. São Paulo: Atlas,
2007.
Martinho, L. R.; Talamoni, J. L. B. Representações sobre o meio ambiente de alunos da quarta
série do ensino fundamental. Andradina: Ciências & Educação, 2007.
Santos, S. A.M.; Ruffino, P. H. P. Estudo de bacias hidrográficas: sensibilização. São Paulo:
Educação e Meio Ambiente, 2002.
Setton, M. G. J. Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. São Paulo:
Educação e Meio Ambiente, 2007.
Sorrentino, M.; Traiber, R.; Mendonça, P.; Ferraro, L. Educação ambiental como política pública.
São Paulo: Educação e Pesquisa, 2002.
Weissmann, H. Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões. Porto Alegre: ArtMed,
1998.
Zapieron, S. L. M.; Fagionato, S.; Ruffino, P. H. P. Ambiente, representações sociais e percepção.
São Paulo: Educação e Meio Ambiente, 2007.
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