Não tente agradar os seus clientes Tempo aproximado de leitura: 15 minutos A ideia de que há que agradar aos clientes popularizou-se tanto que rara vez os gestores questionam outra opção. Mas pergunte a si mesmo o seguinte: quantas vezes uma pessoa fala, especificamente, de uma organização porque o seu serviço é de excelência? Seguramente, poderá pensar em poucos exemplos, como o de um cliente que ficou muito bem impressionado com o serviço de boas vindas da organização. Agora pergunte: quantas vezes as pessoas cortam a relação com uma organização devido a uma má experiência com o serviço que lhe foi prestado? Entre o bom e o mau, os clientes tem tendência em punir com mais frequência um mau serviço do que a reconhecer ou premiar um bom serviço e, isso, pode afectar a reputação da nossa organização. No presente artigo apresentamos os resultados de um estudo que mostra como a lealdade se consegue, principalmente, através da oferta de um serviço correcto e não um serviço em que se deslumbra o cliente com promessas. Muitas organizações não conseguem cumprir com as suas deslumbrantes promessas daí resultando uma perda de imagem e clientes, tanto actuais como potenciais. O estudo lança três questões fundamentais, que os gestores deveriam colocar a respeito da sua organização: O que tanto afecta o serviço que se oferece ao cliente, no que toca à sua lealdade-fidelidade? Que serviços ao cliente incrementam a lealdade e quais os que não o fazem? Pode a sua organização incrementar a fidelização sem aumentar os custos operativos do serviço ao cliente? Há dois aspectos a ter em conta que afectam a estratégia do serviço ao cliente. Primeiro, agradar o cliente não produz lealdade, pelo que se deve reduzir esforços e dar ao cliente o que ele exactamente necessita, nem mais nem menos. Segundo, actuar neste sentido ajudará a melhorar o serviço ao cliente, a diminuir custos e reduzir queixas por promessas não cumpridas. 33 Fevereiro 11 Cerca de 80% das organizações utilizam os questionários de satisfação como principal métrica para avaliar a experiencia do consumidor. É com base neles que os gestores arrogam que os clientes mais satisfeitos são os mais leais. Contudo, o estudo conclui que a relação entre satisfação e lealdade não é assim tão estreita: cerca de 20% de clientes “satisfeitos” afirmam ter a intenção de deixar a organização face aos 28% dos clientes “insatisfeitos”, percentagens não muito distantes. Um exemplo: O nosso centro tem uma quota mensal acima da média do praticado pela concorrência e nele temos clientes muito satisfeitos porque o serviço oferecido é de excelência. No entanto, se esses clientes decidirem reduzir parte dos seus gastos pessoais é provável que o façam cortando em luxos e, se assim for, é plausível que desistam do nosso centro e se inscrevam num centro mais económico, com serviços similares embora de menor excelência. Torne fácil As organizações criam clientes leais quando conseguem resolver as suas reais necessidades/problemas de forma fácil e rápida. Entendendo este conceito, podemos alterar o nosso ênfase na interacção com os clientes. Assumir o repto de, simplesmente, “tornar fácil” a vida do cliente pode também conferir maior liberdade à organização, sobretudo para as que anseiam o desafio de agradar ao cliente. Pedir à nossa equipa de trabalho que tente exceder as expectativas dos nossos clientes é uma perda de tempo e esforço. Ao invés, dizer-lhes que o importante é “tornar fácil” a vida dos clientes é conduzi-los a um princípio sólido de actuação. Relação lealdade-fidelidade (em %) 7.0 5.25 3.5 Tentar ir mais além das expectativas Generalizou-se a ideia de que os clientes são mais leais às organizações que vão mais além. Porém, os resultados do estudo em questão mostram que ir mais além nas expectativas do cliente (por exemplo, oferecer um serviço gratuito de massagem, reembolsar uma quota mensal, etc.) mantêm clientes marginalmente mais fieis do que, simplesmente, cobrir as suas reais necessidades. 1.75 0 Abaixo das Expectativas Dentro das Expectativas Acima das Expectativas genera O que significa exactamente “tornar fácil”? Simplesmente: reduzir ou eliminar obstáculos. Foram identificadas diferentes tipos de queixas que são recorrentes na interacção cliente-serviço, incluindo três que incidem no esforço que o cliente tem de empreender para ver resolvido um determinado assunto. Muitas vezes, o cliente tem de contactar repetidamente a organização para que lhe resolvam um problema. O que não pode, de todo, acontecer. Se com justiça um cliente reclama, por exemplo, um incorrecto debito na sua conta deve-se resolver o problema imediatamente. Não se pode permitir que o cliente nos volte a recordar esse facto. Neste domínio, o estudo revela que há organizações que implementaram com êxito um modelo de baixo esforço para o cliente, no que diz respeito aos serviços que a mesma lhe presta (low-customer-effort). Inclusivamente, utilizam uma escala Likert na qual o cliente avalia de 1 a 5 o esforço requerido para levar a cabo uma acção ou ver resolvido um problema (Customer Effort Score – CES). Por exemplo: “Avalie o grau de esforço requerido para realizar uma reserva de um campo de ténis de 1 a 5, sendo 1 pouco esforço e 5 muito esforço”. Os clientes publicitam mais um mau serviço do que um bom serviço Cerca de 25% dos clientes relatará a outras pessoas os casos positivos do nosso serviço. Cerca de 65% dos clientes relatará a outras pessoas os casos negativos do nosso serviço. Cerca de 23% dos clientes satisfeitos dizem-no a 10 ou mais pessoas. Cerca de 48% dos clientes insatisfeitos dizem-no a 10 ou mais pessoas. Perante estes dados, é muito importante não ter clientes insatisfeitos pois, na maioria dos casos, não tardarão a contar tal insatisfação a outras pessoas prejudicando, assim, a reputação da organização. Neste sentido, as redes sociais (Facebook, Twitter, Blogs…) são armas de dois gumes, pois tanto os clientes satisfeitos como os insatisfeitos podem opinar sobre o nosso trabalho, não só em espaços virtuais criados pela organização como em espaços criados pelos próprios clientes. No sector dos hotéis, por exemplo, é já um hábito que antes de se fazer uma reserva num hotel se consulte as opiniões das pessoas que ali tenham estado hospedadas, comentários que podem influenciar em muito a decisão do potencial cliente. Portanto, devemos estar atentos à nossa reputação nas redes sociais. www.itik.es Comentários: [email protected] “A origem de toda a desilusão é a expectativa exagerada” Anónimo Diferentes clientes, diferentes expectativas Cada pessoa é diferente e, portanto, é natural que as suas expectativas em relação ao serviço prestado também o sejam. As expectativas do cliente deverão estar em consonância com a proposição de valor da nossa organização, aspecto que toda a equipa deve conhecer. Se a expectativa de uma pessoa se baseia num serviço de excelência (serviço de toalha, sabão e perfume nos duches, espaços termais, etc) e a proposição do nosso centro se baseia na relação preço/qualidade, é muito provável que essa pessoa nunca venha a ser nossa cliente. Pelo contrário, se um cliente optou pelo nosso serviço tendo por base a relação preço-qualidade de certo que não se desiludirá por não encontrar no centro um serviço de toalha, sabão e perfume nos duches, entre outras mordomias, porque o serviço prestado corresponde às suas expectativas. Relativamente ao serviço, há que diferenciar entre: Serviço desejado: o que o cliente espera. Quando uma pessoa se dirige ao nosso centro espera encontrar uma sala de fitness com máquinas de exercício cardio- vasculares com um ecrã de televisão em cada máquina Serviço adequado: limiar do serviço aceitável. O cliente ao chegar ao centro observa que as máquinas não dispõem de ecrã individual, embora haja na sala vários ecrãs de televisão. Ainda que não cumpra a 100% com as suas expectativas, o serviço está dentro da zona de tolerância permitida. Serviço Serviço adequado desejado Zona de Tolerância Serviço não adequado Em poucas palavras Muitas vezes somos levados a acreditar que para garantir a lealdade ou fidelidade dos nossos clientes devemos ultrapassar as suas expectativas. Na verdade, estamos apenas a desperdiçar esforço e tempo em agradá-los quando, na realidade, o importante é centrar-nos e dar resposta às suas reais necessidades. Desta maneira crescerá a sua lealdade para com a organização, além de que falará positivamente da mesma. Para conhecer as expectativas dos nossos clientes devemos antecipar-nos evitando, assim, queixas e reclamações. Há que escutar e aprender com os clientes desiludidos e orientar a organização na resolução dos problemas que nos colocam, assim como conhecer a sua zona de tolerância. Adaptação do artigo: Dixon, M; Freeman, K & Toman, N. Stop trying to delight your customers. Harvard Business Review - Jul-Aug 2010