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RESENHA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à Prática
Educativa. 36.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Everaldo Porto de Oliveira e Lailton Soares
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Luciana Miyuki Sado Utsumi
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Esta obra se faz imprescindível à condução do corpo discente em prol de
uma sociedade mais justa e de valores pautados numa igualdade social: na
formação crítica de professores que, além de educar, estarão conscientizando e
orientando aos futuros cidadãos. Com base num dos aspectos principais de sua
abordagem pedagógica, constata que “formar” é muito mais que treinar o educando
no desempenho das tarefas; chama a atenção dos educadores formados ou em
formação à responsabilidade ética, esclarecendo-os na arte de conduzir seres à
reflexão crítica de suas realidades. A Pedagogia do professor Paulo Freire relata
propostas de práticas pedagógicas necessárias à educação como forma de
proporcionar a autonomia de ser do educando, respeitando sua cultura, seu
conhecimento baseado somente nas suas experiências e sua maneira de entender o
mundo que o cerca.
O autor ressaltou que a temática abordada neste livro foi uma constante
preocupação ao longo de sua vida como educador. Esta obra é um condensado de
pensamentos defendidos em seus outros livros, que visam à educação do ser
humano e a constante procura de novas técnicas que valorizarão a curiosidade
ingênua e crítica, se transformando em teoria do conhecimento (estudo crítico do
conhecimento científico). Condena a rigorosidade ética que se curva aos interesses
capitalistas, que excluem do processo de socialização, os desordenados do mundo.
Podemos destacar alguns valores como simplicidade, humanitarismo, esperança e
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Alunos do Curso de Licenciatura Plena em Matemática da Faculdade Interação Americana –FIA
Pedagoga, Mestre em Educação na linha de Formação de Educadores, Docente e Supervisora de
Estágios das Licenciaturas da Faculdade Interação Americana – FIA.
Contato: ([email protected]).
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bom senso: aspectos distantes da sociedade atual, onde o capitalismo impera
conduzindo as massas ao consumismo desenfreado e a alienação coletiva pelos
meios de comunicação. O abandono educacional em que vivem nossas escolas
prende-as as táticas de ensino ultrapassadas e incoerentes. Propõe uma
humanização do professor enquanto mentor e guia no processo educativo-social,
conscientizando os educandos de todas as camadas sociais, sobretudo os de baixa
renda, das manipulações políticas que os mantêm sob seu julgo.
Seu maior interesse é transmitir saberes necessários à prática educativa
de professores formados ou àqueles que ainda estão em formação. É importante a
observação do professor e se atentar a melhor prática apropriada para sua
comunidade.
O educador democrático trabalha com os educandos a rigorosidade
metódica para se aproximar dos objetos que podemos conhecer. Transmite uma
possível exigência para a presença de educadores e educandos: que não tenham
medo da curiosidade em questão, que busquem a condição em que aprender
criticamente é possível. Com essas condições de verdadeira aprendizagem, os
educandos e educadores vão se transformando em verdadeiros investigadores,
construindo assim com humildade e persistência a reconstrução do saber gostoso
do saber ensinado.
É preciso transmitir os conteúdos com mais clareza, respeitando as idéias
do autor segundo as quais ensinar também é uma forma de aprender, ensinar não é
transmitir conhecimento, não devemos nos acomodar, mas sim, criar as
possibilidades para sua produção e construção. “Quem ensina aprende ao ensinar e
quem aprende ensina ao aprender”.
A escola e os professores precisam respeitar os saberes dos educandos
e sempre que possível, trabalhar seu conhecimento empírico, sua experiência
anterior; aconselha-se a discussão sobre os problemas sociais que as comunidades
carentes enfrentam e a desigualdade que as cercam. O professor que desrespeita a
curiosidade do educando, seu gosto estético, sua linguagem, o professor que ironiza
o aluno, que o minimiza entre outras ofensas em prol da ordem em sala de aula,
transgride os princípios fundamentais éticos de nossa existência, e esta
transgressão jamais poderá ser vista ou entendida como virtude, mas como ruptura
com a decência.
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Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. É função do
professor continuar pesquisando para que seu ensino seja propício ao debate e a
novos questionamentos. A pesquisa se faz importante também, pois nela se cria o
estímulo e o respeito à capacidade criadora do educando. As novas descobertas
teóricas precisam ser debatidas e aceitas mesmo que parcialmente. Contudo, é
importante que se preserve de alguma forma, o velho, as formas tradicionais de
educação. É condenada qualquer forma de discriminação, racial, política, religiosa,
de classe social, pois esta nega radicalmente a democracia e fere a dignidade do ser
humano. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever, por mais
que se reconheça a força das condições que terão de enfrentar.
Quanto ao reconhecimento da identidade cultural, o respeito é
absolutamente fundamental na prática educativa progressista. Um simples gesto de
um professor representa muito na vida de um aluno. Aquilo que pode ser
considerado um gesto insignificante pode valer como força formadora para o
desenvolvimento intelectual e acadêmico do educando. O professor que “pensa
certo”, deixa transparecer aos educandos que a beleza de se estar no mundo é a
capacidade de perceber que intervindo nele, nós próprios o reconheceremos e
transformaremos.
Portanto, ensinar exige bom senso, uma vez que se deve observar o
quanto coerente e coeso os educadores estão sendo ao cobrar os conteúdos das
suas disciplinas. O exercício ou a educação do bom senso vai superando o que há
no educando de espontâneo na avaliação que fazemos.
Como conseqüência deste processo, o aluno deve ser educado de forma
a lutar pelos direitos dos professores, apoiando sua luta por salários mais justos e
respeitando sua profissão. Os órgãos da classe deveriam priorizar o empenho da
formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política e
repensar a prática das greves, inventando uma nova maneira de lutar que seja mais
eficaz. A luta dos professores pela dignidade de sua função, não só é
democraticamente importante, bem como pode ser interpretada como uma prática
ética.
Em se tratando das comunidades carentes, podemos dizer que as
mudanças são difíceis, mas são possíveis. Com base neste saber fundamental, é
que a ação político- pedagógica será programada com alegria e esperança, respeito
e conscientização. Não, obviamente, impondo à população sofrida que se rebele,
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que se mobilize ou se organize para se defender. Trata-se de desafiar os grupos
populares para que percebam a violência e a profunda injustiça que caracterizam
sua situação. Desta forma, a educação se faz presente como forma de intervir no
mundo.
Por ser uma atividade de natureza humana, o ato de educar exige
segurança, competência profissional, comprometimento e generosidade. O professor
que não leva a sério sua formação, que não estuda, nem se aprimora, não tem força
moral para coordenar as atividades de sua classe. Porém, há professores
cientificamente preparados, mas autoritários e arrogantes, ou seja, a incompetência
profissional desqualifica a autoridade do professor. Essa é uma autoridade coerente
e democrática exigida de si mesmo, para a construção de um clima de real
disciplina, que jamais minimiza a liberdade. Esta convicção de que a disciplina
verdadeira não existe na estagnação, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que
os instiguem e na esperança que os despertam.
Podemos concluir que esta obra é uma condensada de saberes
necessários e indispensáveis a uma prática educativa coerente com os padrões
éticos que regem a sociedade. Paulo Freire, ao estruturar este livro, levou em
consideração as próprias experiências como educador em comunidades carentes. É
uma obra de cunho sociológico, pois vivencia as práticas docentes e métodos
didáticos nas comunidades de baixa renda. Analisa parcialmente as questões
professor e aluno, os conteúdos disciplinares, a vivência comunitária e o papel da
família no processo pedagógico, posicionando-se de forma coesa, visando ao
progresso em médio prazo e pelas próprias comunidades. Sua contribuição é que os
educadores se posicionem criticamente, questionando, orientando e incentivando os
educandos a pensar e a reivindicar os seus direitos, influindo na sociedade, embora
sugira que ao assumir este compromisso, o educador o assuma com ética, amor e
alegria, porque serão das crianças que educamos hoje que partirão as mudanças
que renovarão a sociedade brasileira.
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