Metodologia pautada nos princípios freirianos
Por Luiz Marine/Instituto Paulo Freire
Passos para uma educação libertadora, o Tema Gerador
e a seleção dos conteúdos
A concepção libertadora de educação concebe o conhecimento como algo não
absoluto. A verdade que ele nos proporciona é sempre uma verdade
aproximada. Para concretizar uma prática de sala de aula coerente com essa
concepção é necessário:
•
Respeito à identidade cultural do educando.
•
Apropriação
significativos,
e
produção
de
forma
de
conhecimentos
crítica,
para
a
relevantes
e
compreensão
e
transformação da realidade social.
•
Compreensão do que é ensinar e aprender.
•
Estímulo à curiosidade e à criatividade do educando e do educador.
•
Desenvolvimento do trabalho coletivo na Unidade Educacional.
•
Democratização das relações na Unidade Educacional.
•
Afirmação do papel do educador como mediador do processo de
ensino-aprendizagem.
•
Interação entre comunidade e Unidade Educacional como espaço
de valorização da cultura popular.
A metodologia que nos parece adequada para colocar em prática essa
concepção de educação libertadora é aquela que, respeitando a fala do
educando por meio do diálogo, traz-nos constantemente a realidade estudada,
o entendimento e a percepção que o educando tem dessa realidade. Para isso,
consideramos fundamental realizarmos a Leitura do Mundo inicial por meio da
saída a campo, seguindo os três passos a seguir:
1. Organização da saída a campo, para que os educandos saibam o
que vão fazer, como fazer e o tempo de que precisarão para
investigar a área.
2. Coleta de dados e informações por meio de observação, conversa
com educandos e pessoas da comunidade, utilizando-se de diário
de campo, máquina fotográfica, filmadora, questionário, entrevista,
filmes, livros, documentos, jornais e revistas.
3. Levantamento dos diferentes interesses dos educandos, indo da
aparência até a essência.
A realidade que se apresenta à nossa frente exige investigação para ser
compreendida na sua dimensão e na sua complexidade. Esses três passos
possibilitam ir além da realidade aparente e conhecê-la “por dentro”, com mais
profundidade.
A eleição do Tema Gerador e a seleção dos conteúdos
O trabalho com o Tema Gerador convoca o educador e o educando para uma
nova postura diante dos conteúdos programáticos a serem desenvolvidos, da
sua abrangência e do seu significado para todos os envolvidos no processo de
ensino e aprendizagem. A seleção dos conteúdos deve contar com a
participação do educador e dos educandos e ser realizada a partir da Leitura
do Mundo inicial, conforme os três passos já mencionados. Para a realização
da saída a campo e a eleição do Tema Gerador, sugerimos os seguintes
procedimentos:
• Elaboração coletiva do planejamento, envolvendo educador, educando e
comunidade.
• Decisão coletiva pela realização da Leitura do Mundo inicial, da
realidade local, envolvendo educador, educando e comunidade.
• Delimitação do espaço a ser investigado e elaboração de um roteiro de
investigação que oriente os educandos sobre o que cada grupo vai
fazer.
• Indicação de aspectos relevantes a serem observados pelos educandos
(culturais, sociais, estruturais, ambientais).
• Definição das pessoas da comunidade a serem entrevistadas, com
estabelecimento de critérios para essa definição.
• Elaboração de questionário para as entrevistas, deixando claro o que se
quer saber.
• Organização do material a ser utilizado na Leitura do Mundo inicial
(diário de campo, lápis, máquina fotográfica, filmadora, gravador).
• Divisão dos grupos para a realização da Leitura do Mundo inicial, com a
definição de função de cada grupo (quem vai observar e registrar por
escrito, quem vai fotografar, quem vai entrevistar, quem vai filmar, quem
vai gravar).
• Definição do tempo para a realização da Leitura do Mundo inicial.
• Sistematização dos dados e informações coletados por cada um dos
grupos e comentários gerais sobre a Leitura do Mundo inicial.
• Apresentação dos dados e informações coletadas e problematização
dos educandos e dos educadores sobre esses dados e informações.
•
Formação de blocos de assuntos afins conforme os dados e
informações apresentados.
• Indicação, pelos educandos e pela educadora, de possíveis Temas
Geradores com base nas informações e nos dados apresentados.
• Eleição do Tema Gerador pelos educandos, com a mediação da
educadora fazendo algumas problematizações que contribuam para uma
melhor compreensão da tarefa.
• Indicação dos subtemas, pelos educandos, com a mediação da
educadora fazendo algumas problematizações que contribuam para uma
melhor compreensão da tarefa.
• Eleição, do primeiro subtema a ser trabalhado em sala de aula, pelos
educandos,
com
a
mediação
da
educadora
fazendo
algumas
problematizações que contribuam para uma melhor compreensão da
tarefa.
• Socialização da contribuição da educadora sobre o papel de cada área
do conhecimento para o desenvolvimento do Tema Gerador e do
primeiro subtema a ser trabalhado em sala de aula.
• Socialização da contribuição da educadora sobre os conteúdos
necessários para o desenvolvimento do Tema Gerador e do primeiro
subtema a ser trabalhado em sala de aula.
É importante observar que o subtema, eleito pelos educandos, não deve ser
abordado separado do Tema Gerador, também eleito pelos educandos. Os
subtemas funcionam como partes do tema gerador. O Tema Gerador, como o
nome indica, gera os subtemas e convoca as áreas do conhecimento para sua
investigação.
O trabalho com Tema Gerador é uma pesquisa científica que exige o rigor
metódico para a sua execução, como indica um dos 27 saberes do livro
Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire.
A partir desses procedimentos mencionados, a educadora organiza as
atividades a serem desenvolvidas em sala de aula por meio de planos de aula
– desde o diagnóstico inicial até as orientações finais para a conclusão do
portfólio e avaliação de encerramento do processo de alfabetização.
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