EFICÁCIA DE SOLUÇÕES AQUOSAS DE CLOREXIDINA
PARA DESINFECÇÃO DE SUPERFÍCIES
EFFICACY OF CHLOREXIDINE AQUEOUS SOLUTIONS TO
DISINFECT SURFACES
Andrea Moreira Jacobucci Bambace
Érica Joseline de Almeida Barros
Silvana Soléo Ferreira dos Santos
Antonio Olavo Cardoso Jorge
Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté
RESUMO
A prevenção da infecção cruzada é parte fundamental na conduta prática de um tratamento odontológico, sendo a
desinfecção de superfícies um dos procedimentos para manutenção da biossegurança. Considerando o grande número de
superfícies operatórias que podem ser contaminadas durante o tratamento odontológico, torna-se claro que o uso de
desinfetantes constitui uma das principais etapas de assepsia efetiva. O objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia de
soluções aquosas de clorexidina na desinfecção de superfícies em concentrações de 0,5%, 1%, 2%, 3% e 4%, comparando a
do álcool 70% gel e líquido, bem como verificar sua viabilidade econômica. Cepas de Streptococcus mutans,
Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Candida albicans e Klebsiella pneumoniae foram utilizadas para a
contaminação de superfícies de couro, fórmica e aço inoxidável e então realizada a desinfecção utilizando a técnica “spray
wipe spray” com cada solução. Após cada desinfecção foram feitas coletas utilizando placas de superfície (RODAC)
contendo ágar BHI, incubadas e as ufc/placa contadas. Soluções aquosas de clorexidina a partir de 1%, foram eficazes na
desinfecção de todas as superfícies para todos os microrganismos testados, seguidas pela solução aquosa de clorexidina
0,5%, álcool etílico 70% gel e líquido.
PALAVRAS-CHAVE: clorexidina, contaminação, superfície, desinfecção, biossegurança.
INTRODUÇÃO
Controle de infecção cruzada e biossegurança são temas de grande importância para a prática
odontológica e vêm despertando nos últimos anos maior interesse em virtude, principalmente, do avanço da
epidemia AIDS (BASTOS, 2001). Infecção cruzada pode ser definida como a transmissão de agentes infecciosos
entre pacientes e equipe dentro de um ambiente clínico, podendo ocorrer por contato direto com tecidos,
secreções, sangue ou gotículas que contenham agentes infecciosos, ou através de bordos cortantes de
instrumentais contaminados que não foram corretamente esterilizados (SAMARANAYKE; SCHEUTZ;
COTTONE, 1993).
A prevenção da infecção cruzada é parte fundamental na conduta prática de um tratamento odontológico,
sendo um dos procedimentos fundamentais para manter a biossegurança nos consultórios odontológicos a
realização da desinfecção de superfícies (FANTINATO et al.,1994). Considerando o grande número de
superfícies operatórias que podem ser contaminadas por sangue, saliva ou secreções durante o atendimento
odontológico, torna-se claro que o uso de desinfetantes constitui uma das principais etapas de assepsia efetiva. A
limpeza e desinfecção das superfícies operatórias fixas e partes expostas do equipo reduz, significativamente, a
contaminação cruzada. Para tanto o produto químico escolhido deve realizar, efetivamente, as funções de
descontaminação e desinfecção (BRASIL, 2000).
A desinfecção do consultório deve ser realizada com substâncias químicas desinfetantes de nível médio
ou intermediário, que serão empregadas em todos os locais do consultório onde for possível encontrar
microrganismos carregados pelos aerossóis ou pelas mãos da equipe odontológica, sendo elas: chão, armários,
Rev. biociênc.,Taubaté, v.9, n.2, p.73-81, abr-jun 2003.
paredes, equipamento (refletor, cuspideira, cadeira, suctores, equipo, mangueiras, caixa de comando e canetas),
mocho, etc. (GUANDALINI; MELO; SANTOS, 2000). Na desinfecção destas superfícies podem ser utilizados
o álcool 70%, compostos sintéticos do iodo, compostos fenólicos ou hipoclorito de sódio, de acordo com o
material das mesmas. Tem sido preconizada a técnica spray wipe spray, que consiste na pré-limpeza e
desinfecção pela aplicação do desinfetante na superfície com auxílio de um burrifador e a seguir, limpeza da área
com toalha de papel e realização de nova aplicação do desinfetante. Tradicionalmente, o álcool etílico tem sido
utilizado na desinfecção das superfícies (JORGE, 1998). Apesar de não ser aprovado pelo Centro de Controle de
Doenças e Prevenção (CDC) para esta finalidade, Silva e Jorge (2002) observaram redução estatisticamente
significativa de microrganismos quando da utilização de álcool 70%, embora não tenha sido o melhor
desinfetante testado.
Devido à proibição da comercialização do álcool na forma líquida, outras substâncias passaram a ser
utilizadas para desinfecção de superfícies, principalmente o álcool gel, produto que substituiu comercialmente o
álcool convencional.
A clorexidina é uma substância química que foi introduzida há muitos anos como anti-séptico de largo
espectro contra bactérias Gram-positivas e negativas (DAVIES et al., 1954). É uma biguandina com
propriedades catiônicas. Quimicamente é classificada como Digluconato de Clorexidina, é uma molécula
estável, que quando ingerida é excretada pelas vias normais, sendo que a pequena porcentagem retida no
organismo não é tóxica. Quando em baixas concentrações, provoca lixiviação de substâncias de pequeno peso
molecular, como o potássio e o fósforo, exercendo efeito bacteriostático e bactericida em altas concentrações
(SILVA, 2002). Age nas bactérias rompendo a integridade de suas membranas citoplasmáticas resultando na
perda de constituintes celulares vitais como o ácido nucleico e potássio (JORGE, 1997). Desta maneira, embora
a clorexidina mate formas vegetativas de bactérias, não demonstra efetividade contra esporos, exceto em
temperaturas elevadas (SIQUEIRA et al., 1998).
Em odontologia, a solução alcóolica de clorexidina surgiu como desinfetante de campo cirúrgico e de
canais radiculares (CAWSON; CURSON, 1959). Atualmente, suas aplicações aumentaram, sendo eficaz na
higienização de próteses (SESMA et al., 1999), degermação das mãos (SILVA et al., 2000; MAGRO FILHO et
al., 2000), redução do número de S. mutans na cavidade bucal e, conseqüentemente, na redução do risco de cárie
e doença periodontal (DENARDI, 1994; RIBEIRO; BUSSADORI, 2000), podendo ser utilizada na forma de gel,
dentifrício, colutório, irrigações, chicletes e até mesmo “spray” (DENARDI, 1994).
Existe grande interesse na odontologia em encontrar uma substância química para desinfecção nos
consultórios odontológicos que tenha atividade antimicrobiana de amplo espectro, estabilidade no
armazenamento, ausência de toxicidade, substantividade, seja facilmente encontrado e tenha baixo custo, entre
outras características. O presente estudo tem como objetivo verificar a eficácia de soluções aquosas de
clorexidina, na desinfecção de superfícies, em diferentes concentrações (0,5%, 1%, 2%, 3% e 4%) comparando a
do álcool 70% gel e líquido, bem como verificar sua viabilidade econômica.
MATERIAL E MÉTODO
Cepas padrão de Streptococcus mutans (CCT 1910), Staphylococcus aureus (ATCC 6538),
Pseudomonas aeruginosa (ATCC 2753), Candida albicans (F 72) e Klebsiella pneumoniae (ATCC 18833)
foram semeadas em meios específicos para obtenção de cultura de 24 horas. Ágar Mitis Salivarius Bacitracina
Sacarose (MSBS) para S. mutans, ágar Infuso Cérebro-Coração (BHI) para S. aureus, ágar MacConkey (MC)
para a P. aeruginosa e K. pneumoniae e ágar Sabouraud para C. albicans. Todas as cepas foram incubadas em
estufa bacteriológica a 37o C por 24 horas, exceto para a cepa de S. mutans, que foi incubada em estufa com
tensão de 5% de CO2. Após incubação, cada cepa foi suspensa em 10mL de solução salina 0,9% esterilizada, até
atingir a escala número um de McFarland (3x108céls/mL) e homogeneizadas por 30 segundos em agitador de
tubos Vortex.
Foram utilizadas para o experimento sete superfícies de couro (5cm2), sete de fórmica (5cm2) e sete
bandejas clínicas de aço inoxidável. As superfícies foram contaminadas, em ambiente asséptico, com 0,1 mL de
cada suspensão e espalhadas com auxílio de alças de Drigalsky.
Trinta minutos após a contaminação foi coletado o grupo controle (sem desinfecção) com placas de
superfície (RODAC) contendo ágar BHI, deixadas em contato com a superfície por 30 segundos. Logo após,
cada superfície foi submetida ao processo de desinfecção pela técnica “spray wipe spray” para cada solução, e
cada superfície recebeu a aplicação do desinfetante com auxílio de um borrifador, em seguida esfregou-se com
gaze esterilizada e foi novamente aplicado o desinfetante que permaneceu na superfície por 10 minutos. Foram
utilizadas para desinfecção das superfícies soluções aquosas de clorexidina (0,5%, 1%, 2%, 3% e 4%), álcool
70% gel e líquido.
Após o período de desinfecção, foram feitas coletas com placas de superfície (RODAC) deixadas em
contato por 30 segundos em cada superfície para cada microrganismo. As placas, controle e pós-desinfecção,
foram incubadas a 370C por 24 horas em estufa bacteriológica, exceto para as contaminadas com S. mutans que
foram incubadas em estufa com tensão de 5% de CO2. Após incubação, as unidades formadoras de colônias (ufc)
foram contadas e feitos esfregaços corados pelo método de Gram para confirmação da morfologia da cepa
utilizada.
A cada experimento as superfícies foram submetidas a descontaminação com hipoclorito de sódio (2,0 a
2,5%) por 30 minutos, lavadas com água, sabão e auxílio de uma escova, embaladas e esterilizadas em autoclave
1210C por 15 minutos para a reutilização.
Para a verificação da viabilidade econômica das soluções testadas foram feitas cotações de preço para
cinco litros de cada solução em três farmácias de manipulação.
RESULTADOS
Todas as soluções desinfetantes testadas demonstraram eficácia na desinfecção de superfícies em couro,
fórmica e aço inoxidável, considerando-se a ausência ou pequeno crescimento de ufc/placa quando comparado
ao grupo controle (Quadros 1, 2, 3, 4 e 5).
Quadro 1- Resultados obtidos no experimento: controle e após desinfecção para a cepa de Klebsiella
penumoniae
Microrganismo
Superfície
Couro
Klebsiella
pneumoniae
Aço inoxidável
Fórmica
Solução desinfetante
nº de ufc/placa controle
nº de ufc/placa
após desinfecção
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
16
20
40
10
50
30
50
108
23
58
15
46
21
10
24
11
34
19
20
45
70
0
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Quadro 2- Resultados obtidos no experimento: controle e após desinfecção para a cepa de Pseudomonas
aeruginosa
Microrganismo
Superfície
Couro
Pseudomonas
aeruginosa
Aço inoxidável
Fórmica
Solução desinfetante
nº de ufc/placa controle
nº de ufc/placa
após desinfecção
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
*Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
Incontáveis
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0
Quadro 3- Resultados obtidos no experimento: controle e após desinfecção para a cepa de Streptococcus mutans
Microrganismo
Superfície
Couro
Streptococcus
mutans
Aço inoxidável
Fórmica
Solução desinfetante
nº de ufc/placa controle
nº de ufc/placa
após desinfecção
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
105
99
incontáveis
489
incontáveis
incontáveis
incontáveis
390
incontáveis
430
450
incontáveis
incontáveis
420
incontáveis
172
258
incontáveis
222
incontáveis
incontáveis
0
0
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0
Quadro 4- Resultados obtidos no experimento: controle e após desinfecção para a cepa de Staphylococcus
aureus
Microrganismo
Superfície
Couro
Staphylococcus
aureus
Aço inoxidável
Fórmica
Solução desinfetante
nº de ufc/placa controle
nº de ufc/placa
após desinfecção
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
incontáveis
incontáveis
320
incontáveis
370
incontáveis
incontáveis
202
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
incontáveis
0
0
0
0
0
02
0
0
0
0
0
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0
02
0
0
0
0
0
0
08
Quadro 5- Resultados obtidos no experimento: controle e após desinfecção para a cepa de Candida albicans
Microrganismo
Superfície
Couro
Candida albicans
Aço inoxidável
Fórmica
Solução desinfetante
nº de ufc/placa controle
nº de ufc/placa
após desinfecção
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
Clorexidina 0,5%
Clorexidina 1%
Clorexidina 2%
Clorexidina 3%
Clorexidina 4%
Álcool 70% gel
Álcool 70%
incontáveis
39
43
79
49
137
incontáveis
53
208
270
380
44
38
326
183
203
37
151
37
84
85
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
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01
0
0
0
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0
Para as cepas de K. pneumoniae, P. aeruginosa e S. mutans, a desinfecção com todas as soluções
resultaram em 100% de redução no número de ufc/placa nas superfícies em couro, aço inoxidável e fórmica
(Quadros 1, 2 e 3).
Apesar da redução significativa do número de ufc/placa, a cepa de S. aureus foi o microrganismo mais
resistente à desinfecção. Na superfície em couro, onde foi utilizado o álcool 70% gel, cresceram duas ufc/placa.
Na superfície em fórmica e aço inoxidável onde foi utilizado o álcool 70% líquido, cresceram respectivamente
oito e duas ufc/placa, após a desinfecção (Quadro 4).
Para a cepa de C. albicans, houve redução de 99,45% das ufc/placa quando da utilização de solução
aquosa de clorexidina a 0,5%, somente para a superfície em fórmica, sendo que a mesma solução resultou em
100% de redução no número de ufc/placa para as superfícies em couro e aço inoxidável. As demais soluções
testadas reduziram em 100% o número de ufc/placa em todas as superfícies contaminadas com C. albicans
(Quadro 5).
A análise estatística destes resultados pelo método de ANOVA não permitiu afirmar que os parâmetros
tenham influência ou significância, pois há um número muito elevado de dados nulos (iguais a zero), porém pela
observação dos resultados obtidos, pode-se verificar que soluções aquosas de clorexidina a 0,5%, álcool 70% gel
e líquido tiveram desempenho inferior ao das soluções aquosas de clorexidina a partir de 1,0%.
Os valores obtidos após cotação dos preços em farmácias de manipulação estão listados no Quadro 6.
Quadro 6- Cotação de preços das soluções aquosas de clorexidina e álcool em farmácias de manipulação.
SOLUÇÃO
Clorexidina 0,5% 5L
Clorexidina 1,0% 5L
Clorexidina 2,0% 5L
Clorexidina 3,0% 5L
Clorexidina 4,0% 5L
MANIPULÁRIO
FARMA
FORMULA
VIVÊNCIA
MÉDIA DOS
PREÇOS
50,80
34,20
31,10
38,70
70,24
44,16
53,00
55,80
112,80
64,00
98,00
91,60
155,04
84,00
120,00
119,68
179,40
103,90
185,00
156,10
Álcool 70% gel 5Kg
35,20
*
41,20
38,20
Álcool 70% - 5L
23,00
*
30,00
26,50
A solução aquosa de clorexidina 1% apresentou preço médio de R$ 55,80, custo mais elevado que o
álcool 70% gel (R$ 38,20) e álcool 70% líquido (R$ 26,50). Apesar da solução aquosa de clorexidina 0,5% ter
preço menor que a solução a 1%, não obteve o melhor resultado na desinfecção das superfícies testadas. As
soluções de clorexidina a partir de 2%, apesar de terem demonstrado eficácia na desinfecção, apresentaram
preços muito elevados.
DISCUSSÃO
A escolha das espécies de microrganismos utilizados no presente trabalho teve como base o trabalho
realizado por Silva e Jorge (2002), no qual foi verificado que os microrganismos mais freqüêntemente isolados
das superfícies de equipamentos odontológicos, após atendimento clínico, foram estreptococos bucais,
estafilococos cogulase negativa, leveduras do gênero Candida, e enterobactérias. Pseudomonas aeruginosa foi
inserida neste trabalho por ser resistente a vários desinfetantes (MIMICA et al., 1994).
Samaranayake, Scheutz e Cottone (1993) reporta que a solução alcóolica de clorexidina é amplamente
utilizada como desinfetante de superfície fora dos Estados Unidos. Segundo Feist e Micheli (1989), soluções
alcóolicas de clorexidina em baixas concentrações são eficientes na redução da microbiota da cavidade bucal.
Vignarajah (1991) recomenda a utilização de soluções alcoólicas de clorexidina a 0,5% ou 1% como
desinfetantes de imersão. Soluções alcoólicas de clorexidina em altas concentrações (4%) são utilizadas como
agentes anti-sépticos na degermação das mãos, nos estudos de Silva et al. (2000) e Magro Filho et al. (2000).
Feist e Michele (1989) objetivando analisar a ação da clorexidina sobre alguns microrganismos,
observou que a concentração do agente antimicrobiano é fator decisivo para sua ação sobre os microrganismos.
Nenhum dado na literatura foi encontrado quanto à eficácia de soluções aquosas de clorexidina em qualquer
concentração.
Silva e Jorge (2002) verificaram que solução alcoólica de clorexidina a 5% foi o desinfetante que
proporcionou maior redução microbiana em superfícies. Os resultados do presente trabalho demonstraram que a
solução aquosa de clorexidina 1% foi, entre as soluções de clorexidina testadas, a menor concentração a
apresentar eficácia na desinfecção de superfícies em couro, fórmica e aço inoxidável.
Giuliana et al. (1999) demonstraram que Candida albicans era mais resistente à ação da clorexidina que
outras espécies do gênero Candida. Os resultados do presente trabalho demonstraram resistência de Candida
albicans somente para a superfície em fórmica quando utilizada solução aquosa de clorexidina 0,5% para
desinfecção.
Foi observado durante o experimento que as soluções aquosas de clorexidina 3% e 4% deixavam a
superfície em couro esbranquiçada após a segunda aplicação do desinfetante, pela técnica spray wipe spray, que
desaparecia após fricção com gaze umidecida em água.
Apesar do álcool etílico 70% não ser aceito como desinfetante efetivo pela American Dental Association
(ADA) e pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) (FERREIRA, 1995), esta substância é
amplamente utilizada pela classe odontológica principalmente por seu baixo custo, facilidade de aquisição, baixa
toxicidade, estabilidade no armazenamento, ser incolor e evaporar sem deixar resíduos no equipamento. A
literatura demonstra que apesar de não ser o desinfetante mais eficaz, resultou em redução significativa de
microrganismos após seu uso para desinfecção (SILVA; JORGE, 2002). No presente trabalho, o álcool 70%
líquido, seguido pelo álcool 70% gel foram os desinfetantes que apresentaram menor redução na quantidade de
ufc/placa somente para a cepa de S. aureus.
Foi possível observar durante o experimento que o álcool 70% gel deixou resíduos em todas as
superfícies, principalmente na superfície em couro (aspecto melado) que perdurou enquanto a superfície não foi
lavada com água, sabão e escova.
Vignarajah (1991) propôs-se a avaliar alguns fatores que poderiam influenciar na escolha da solução
desinfetante. Um desses fatores foi o preço das soluções desinfetantes usadas na prática odontológica. Desta
forma, convém discutirmos também o custo e a eficácia das substancias utilizadas no presente estudo.
O álcool 70% líquido apresentou o menor preço seguido pelo álcool 70% gel, porém não foram os
desinfetantes mais efetivos entre os analisados, no entanto, a solução aquosa de clorexidina a 1% foi eficaz e
teve o menor custo entre as soluções aquosas de clorexidina mais efetivas. O custo mais elevado para a solução
aquosa de clorexidina 1%, em relação ao álcool 70% gel e líquido, justifica-se pela sua baixa comercialização.
CONCLUSÃO
• Soluções aquosas de clorexidina a partir da concentração de 1% demonstraram maior eficácia na desinfecção
de superfícies quando comparadas com solução aquosa de clorexidina 0,5%, álcool 70% gel e líquido;
• Dentre as substâncias testadas, a solução aquosa de clorexidina 1% foi a substância química que apresentou a
melhor relação entre custo e eficácia para desinfecção de superfícies, sendo efetiva para todas as superfícies e
todos os microrganismos testados.
ABSTRACT
The cross infection prevention is a fundamental part from an odontologic treatment and one of the fundamental
procedures to keep the biosecurity is the surface disinfecting. The high number of operatory surfaces that could
be contaminated during the odontological treatment certainly makes the use of disinfectant one of the main
phases of the effective asepsis. The objective of this study was to verify the efficiency of aqueous solutions of
chlorhexidine 0,5%, 1%, 2%, 3% and 4% comparing to 70% gel and liquid alcohol, as well as to verify economical
aspects of their use. Strains of S. mutans, S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans and K. pneumoniae, were utilized
to contaminate the surfaces of leather, formic laminate and stainless steel, then the solutions were used to
disinfect the surfaces using the “spray wipe spray” technique. After the disinfecting period, it was collected
using surface plates (RODAC) containing BHI agar, incubated and the ufc/plate counted. Aqueous solution of
chlorhexidine from 1% was effective in disinfecting the entire set of surfaces and microorganism, followed by
the aqueous solution of chlorhexidine 0,5%, 70% gel alcohol and 70% liquid alcohol.
KEY WORDS: chlorexidine, contamination, surfaces, disinfection, biosecurity.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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em : 17 jan 2001
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