VII ENCONTRO ENSINO EM ENGENHARIA
PROGRAMA
COOPERATIVO
A FORMAÇÃO DO EMPREENDEDOR
Humberto Chiaini de Oliveira Neto - [email protected]
Engenheiro Civil, M.Sc. pela UFF
UNIPAC Barbacena MG
Danilo Pereira Pinto - [email protected]
Engenheiro Eletricista, D.Sc. Coppe - UFRJ
UFJF – Faculdade de Engenharia
RESUMO: Frente aos desafios surgidos com a globalização da economia, estruturas de diversos
setores dentro da sociedade, estão se vendo obrigadas a corrigir rumos, no intuito de se adaptarem de
modo positivo à nova sociedade que se desenha.
O setor da educação, reconhecido como um dos principais pontos para o enfrentamento dessas
mudanças, também se vê frente a reorganizações , no sentido de fornecer bases mais seguras de
crescimento aos indivíduos na nova sociedade onde a informação é o insumo mais importante para
qualquer atividade.
Este trabalho procura sugerir novos meios didático – pedagógicos na condução dos estudantes da
área tecnológica, de forma a muni-los de ferramentas adequadas para o enfrentamento das novas
perspectivas e da enorme concorrência do mercado de trabalho.
O objetivo é proporcionar ao aluno, uma educação que o torne mais criativo, mais desembaraçado e
com maior autonomia, quer como empreendedor ou empregado.
A estes meios de educar, poder-se-ia denominar Educação Empreendedora.
Palavra Chave: Empreendedorismo, Prática Docente, Formação Profissional
1.INTRODUÇÃO
Em virtude do cenário econômico atual, o mercado de trabalho vem se adaptando às novas
exigências das empresas, acarretando inúmeras modificações nos mecanismos até agora em vigor.
Estudam-se novas leis para o setor, novas relações empresa/empregado, novas modalidades de
contrato de trabalho, além do fato de os índices de desemprego estarem muito altos em quase todo o
mundo, sem perspectivas de reversão a curto prazo.
Devido às alterações tecnológicas introduzidas na produção de um modo geral, a ONU até já
cunhou uma expressão para definir o fenômeno : “crescimento sem emprego ”.
Mesmo aqueles poucos empregos que estarão disponíveis, as exigências serão inúmeras, não só no
campo da qualificação do pretendente, quanto do seu perfil pessoal.
Frente a tal realidade, os meios de educação têm a responsabilidade de formar indivíduos capazes
de se inserir em tal conjuntura e construírem seu sucesso.
O fato da escassez do emprego formal e das exigências que se coloca para se alcançar os poucos
que existem, aponta para um outro proceder nesta área : o empreendedorismo.
Portanto, seja para conquistar um emprego formal ou para montar negócio próprio, o egresso das
instituições de ensino tecnológico, têm de possuir, além de boa qualificação técnica, uma performance
de atuação que contemple as exigências do mundo atual.
Frente a este cenário, os objetivos que se pretende alcançar neste estudo, são os seguintes :
I. Promover pesquisas no âmbito da educação, no sentido de se formular uma
metodologia didático – pedagógica que permita ao aluno desenvolver um perfil que
se adeqüe aos novos padrões do mercado de trabalho ( mais criativo, mais
desembaraçado, maior autonomia ), além de qualificá-lo tecnicamente;
II. Testar em sala de aula, as propostas originadas dos estudos relatados em I ;
III. Promover convênios entre a universidade e empresas, no sentido de se buscar
colaboração na formação do aluno ( seu futuro trabalhador ), com o intuito de se aliar
a teoria à prática;
IV. Incentivar e dar subsídios para o trabalho empreendedor (construção de empresas
próprias), como alternativa de se obter o sucesso profissional.
2.CENÁRIO ATUAL
ARISTÓTELES ( filósofo grego, 384-322 a. C. ) , fez a seguinte colocação :
“ Há duas coisas nas quais se baseia o sucesso em qualquer lugar: a primeira é que a
intenção e a meta da ação devem ser determinadas de forma correta; a segunda, é
encontrar os meios que levam a essas metas. Assim temos de dominar ambos nas artes e
nas ciências: a meta e o caminho para atingir a meta.”
Efetivamente, passados mais de dois mil anos, a afirmação do filósofo em seu 7º livro “
POLITIKA” , é atual e se insere perfeitamente na questão da educação, onde para se atingir a meta de
preparar pessoas para a vida profissional, há que se dominar e aperfeiçoar os meios de alcançar tal
objetivo.
Particularmente no ambiente atual, onde a economia globalizada e os mercados abertos
aumentaram a concorrência em todos os setores, as questões ligadas à Educação têm de ser
repensadas, no sentido de se agregar valores novos ao seu contexto , para que ela possa responder a
tais desafios, visto que “ a Educação tem sido proclamada como uma das áreas-chave para enfrentar
os novos desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico na era da informação. “ (
Gohn – 1999 ).
A questão da informação na atualidade, é algo que caracteriza com grande força nossa sociedade.
Tal aspecto, segundo TOFFLER, Alvin e TOFFLER Heidi (1996), assume um caráter
importantíssimo, o que se evidencia quando os autores afirmam :
“ Enquanto terra, trabalho, matérias-primas e capital foram os principais ‘ fatores de
produção’ na economia da Segunda Onda do passado, o conhecimento – amplamente
definido para incluir dados, informações, imagens , símbolos, cultura, ideologia e
valores – é agora o recurso fundamental da economia da Terceira Onda”.
Lembramos aqui que TOFFLER ( 1997 ) em sua obra ao dividir a história da humanidade em três
grandes ondas, assim considera a questão : a era da Primeira Onda como tendo começado por volta do
ano 8.000 a. C. , até cerca de 1650-1750 d. C. e se caracterizou pela revolução agrícola, onde
começaram a surgir as primeiras aldeias e povoados, terras cultivadas e uma nova maneira de vida,
diferente do que ocorria até ali, ou seja, a existência de pequenos grupos humanos muitas vezes
migratórios . Tal onda ( a Primeira ) dominou soberanamente até 1650-1750, quando começou a
perder força para a revolução industrial ( a Segunda Onda ) , que também modificou profundamente o
‘modus vivendi’ na terra. Lá, a vida que era do campo, passou a ser urbana e com as conseqüentes
grandes alterações que ocorreram. O autor afirma em seus estudos, que o auge da Segunda Onda
ocorre por volta de 1955 nos Estados Unidos, onde pela primeira vez o número dos colarinhos brancos
e prestadores de serviços passou a ser maior que o número de operários. Naquela década o mundo
assistiu à introdução do computador em larga escala, a aviação comercial a jato e outras inovações
tecnológicas de grande impacto. Naquele momento o autor sugere que a Terceira Onda começou a
ganhar força nos Estados Unidos e a partir daí ela chegou com alguma diferença de datas à maioria das
nações industrializadas.
TOFFLER ( 1997 ) , ainda afirma que o aspecto dominante da terceira Onda é a informação,
caracterizando esta nova sociedade como a “Sociedade da Informação” , onde há a substituição da
força muscular pela força mental como fator de produção.
No entanto, ter informações pelo simples fato de possui-las, não garante que elas sejam usadas
corretamente para se tomar decisões acertadas. Conforme BARABBA e ZALTMAN ( 1992 ), “ a
vantagem competitiva está cada vez em ‘como’ as informações são usadas, em vez de ‘quem’ tem as
informações”, sinalizando para a importância de se possuir e de se dominar a informação.
No mesmo sentido GOHN ( 1999 ), coloca que :
“ A Educação ganha importância na era da globalização porque o elevado grau de
competitividade ampliou a demanda por conhecimentos e informação. Entretanto, a
diferença entre hoje e ontem não é apenas quanto ao aumento da demanda, mas quanto à
qualidade e ao tipo de educação a ser oferecida.”
Portanto, dentro dos paradigmas emergentes no contexto da globalização, podemos ressaltar
alguns pontos importantes no que diz respeito à educação :
I – A Educação é área-chave para enfrentar os desafios da civilização globalizada
II – No contexto atual, o conhecimento é o recurso fundamental da economia;
III – Ter e saber usar o conhecimento é primordial.
3.PERFIL DO PROFISSIONAL NO NOVO MERCADO DE TRABALHO
Tem-se verificado um aumento significativo de mudanças no âmbito do mercado de trabalho,
podendo-se afirmar que está em crise.
Como toda crise, duas vertentes podem ser observadas : as negativas, com implicações de alto
custo social, mas também as positivas que estimulam inovações.
Conforme coloca HOCHLEITNER ( 2000 ) :
“ Cada pessoa pode, e deve, assumir a responsabilidade pelo seu futuro. A imaginação e
a criatividade de cada indivíduo, aliadas a uma porção acrescida de responsabilidade
social, são capazes de alterar modos de pensar e valores para poder superar mais
facilmente as crises e os conflitos.”
As empresas atualmente, face à competitividade que têm que apresentar no mercado, têm
necessidade de possuir em seus quadros, profissionais com características que atendam ao ambiente
econômico em que se inserem.
Neste aspecto BARBIERE ( 1996 ) assim se expressa:
“ Nesse contexto a empresa necessita de profissionais cujo perfil vai além da formação
acadêmica tradicional e segmentada, exigindo atributos adicionais de caráter e
comportamento, bem como a visão sistêmica de tecnologia, de mercado e de gestão.”
Importante observar, que tais características implicam necessariamente em uma postura criativa
por parte do profissional, para que tenha possibilidades de incorporar novas idéias, tenha velocidade
mental, saiba trabalhar em equipe, tome decisões, incorpore e assuma responsabilidades, tenha auto –
estima, sociabilidade e atue como cidadão.
BULMAHN ( 2000 ) , Ministra da Pesquisa da República Federal da Alemanha, ao abordar esta
questão, declara que:
“Na sociedade de informação, não basta considerar definitivo o que se aprendeu uma
vez. O aperfeiçoamento profissional será muito exigente. O desenvolvimento da técnica
está sendo tão rápido que o conhecimento adquirido não pode ser usado por longo
tempo. Aprender a vida toda não é apenas um ideal que se almeja, mas uma necessidade
vital.”
POLES ( 1999 ) ao pesquisar o mercado de trabalho para seu artigo na revista VEJA ( 20 de
outubro de 1999, pág. 88 ) conclui que :
“ Como bastam seis meses para que novas tecnologias comecem a ocupar o lugar
daquelas utilizadas pelo especialista, para se manter em forma ele tem de estar
constantemente aprendendo algo novo.”
Todas estas questões apontadas pelos estudiosos, são características que devem compor a
personalidade do indivíduo, pois a bagagem técnica dos candidatos a um lugar no mercado de trabalho
( quer como empregado ou empreendedor ), não difere muito umas das outras, além do fato de se
poder treiná-los. Já a personalidade é algo que o indivíduo já traz consigo através de uma formação ao
longo do tempo.
Daí a importância das instituições de ensino tecnológico, quer em nível médio ou superior, em
oferecer ao aluno valores novos para sua personalidade em formação, que coadunem com suas
necessidades futuras.
Ao discutir o futuro dos estudantes atuais no mercado de trabalho, FRANCO ( 2000 ) coloca que :
“.... no futuro do emprego ou do trabalho, é certo que teremos cada vez menos
‘profissões’ e cada vez mais ‘profissionais’. O foco do mercado de trabalho está em
constante evolução para buscar sempre a melhor pessoa , levando em conta toda sua
formação humana, e não apenas o aprendizado especificamente técnico ... Hoje , e cada
vez mais, é preciso antes de tudo ser. Mas ser o quê ? Ser humano ... Para um jovem
estudante, é preciso dizer que o futuro que o espera depende menos do mundo e mais
dele mesmo.”
A revista VEJA ( 19 de outubro de 1994 – pág. 91 ) em sua seção “ESPECIAL”, apresenta o
quadro a seguir, onde analisa o “perfil do profissional” através do tempo :
-
-
Antes da década
de 70
A experiência é
ferramenta usada no
comando.
É acomodado.
É dependente.
É carreirista.
É resistente à
mudança.
Seu salário é
determinado pela
empresa.
Seu conhecimento
é fruto da
experiência
profissional.
-
-
-
Entre as décadas
de 70 e 90
O grau de
escolaridade é sua
ferramenta de
comando.
É confiante.
Ë político.
Procura ser
criativo.
Ajusta-se às
mudanças.
É muito
competitivo.
Seu salário é
negociado com a
empresa.
Seu conhecimento
-
-
Hoje em dia
( 1994 )
Sua performance
é sua ferramenta
de comando.
É curioso.
É independente.
Gera mudanças.
É cooperador.
Seu salário é
conquistado pela
importância do
seu trabalho.
Seu conhecimento
é fruto da
aplicação prática
da teoria.
De hoje em diante
-
-
-
As realizações de
sua equipe são a
ferramenta de seu
sucesso.
É estudioso.
Tem uma visão
global das coisas.
Lidera mudanças.
É facilitador.
Seu salário é
conquistado pelo
resultado de seu
trabalho e de sua
equipe.
Seu conhecimento
é fruto do
é baseado na
teoria acadêmica.
Quadro 3A : Perfil do Profissional
Fonte : Revista VEJA ( 1994 )
aprendizado
contínuo.
4.EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
De maneira geral, os meios de formação acadêmica e profissional na área técnica têm como
metodologia didático - pedagógica , posturas cujo enfoque prevê, para o aluno egresso de seus
domínios, a obtenção de um emprego formal em empresas estatais ou privadas.
Até a década de 1980 eram estes os pensamentos que orientavam as questões da educação tanto no
Brasil quanto em outros países.
SANTOS ( 1995 ) assim se expressa em relação a este tema :
“ Pouca ou nenhuma ênfase – ou estímulo – foi destinada para orientar os estudantes a
considerarem a opção de criar um negócio próprio. É natural que tenhamos um forte
condicionamento do nosso meio cultural para considerar, em primeiro lugar, a ‘caça ao
emprego’ sonhado.”
Entretanto, a partir do início da década de 1980, a realidade na área do trabalho começou a se
modificar frente às alterações ocorridas no meio produtivo. Novas tecnologias passaram a compor as
linhas de produção, novos modelos gerenciais surgiram, tudo isto concorrendo para o enxugamento
das estruturas empresariais, contribuindo para a eliminação de postos de trabalho.
Apesar de tais alterações no cenário econômico mundial, o que a cultura brasileira ainda conserva
é a idéia de que um bom emprego deve ser a meta do indivíduo para atingir sua realização pessoal e
profissional.
No entanto, a escassez de empregos promissores e seguros é uma realidade e tal fato não pode ser
ignorado pelos meios de formação tecnológica, sob pena de se verificar mais à frente, falta de
demanda aos seus cursos, o que, aliás, já vem diminuindo sensivelmente.
PATI ( 1995 ) coloca que :
“ Toda pessoa é fruto da relação constante entre os talentos e características que herdou
e os vários meios que freqüentou durante a vida.”
Portanto, sendo a escola um dos meios que o indivíduo freqüenta, é decisiva na formação de sua
personalidade e poderá lhe imprimir características importantes para o sucesso profissional.
As características do futuro profissional para atender ao perfil do novo mercado de trabalho, não
pode ser alcançada através dos padrões de ensino verificados hoje na grande maioria das instituições
de ensino tecnológico tanto a nível de ensino médio quanto superior.
PEREIRA ( 1995 ) , apresenta dados
que, embora retratando apenas criadores de empresas
novas e em diversas áreas do conhecimento, nos remete a refletir sobre a realidade neste aspecto :
“ .... segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio, aproximadamente 80% das
empresas criadas não chegam a atingir 2 anos de atividade e que apenas 10%
conseguirão completar 5 anos de atividade, ou seja, são estas últimas aquelas que
sobrevivem e se consolidam como empreendimentos bem sucedidos “.
Com estes dados, pode-se observar que a qualidade dos empreendimentos são ruins o que
necessariamente reflete a qualidade dos empreendedores.
Embora os números mostrem problemas na área do empreendedorismo, SANTOS (1995) coloca
que : “ os desafios para os empreendedores neste crepúsculo do século são ponderáveis , e não
invencíveis.”
A nosso ver, uma das maneiras de enfrentar tais problemas é fazê-lo através da Educação
Empreendedora.
5.ELEMENTOS DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
Frente à conjuntura atual a educação empreendedora poderá trazer valores novos para aqueles que
enfrentarão em breve o mundo do trabalho. O objetivo é muni-los de algumas ferramentas que os
ajudarão na competição que irão enfrentar, quer como donos do próprio negócio ou empregados em
empresas.
FILLION ( 1991 c ), afirma que no campo da educação empreendedora,
“ Os elementos essenciais parecem ser o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, bem
como a habilidade de canalizar energia para os objetivos que o empreendedor quer atingir.”
Outro dado importante apontado como fundamental aos empreendedores, é o estudar
continuamente . COLLINS E MOORE ( apud. FILLION – 1999 b ), afirmam que “ empreendedores
de sucesso nunca param de aprender.”
Tal aspecto, nos remete a refletir sobre o aprender a aprender, característica básica da educação
empreendedora.
Ainda FILLION ( 1991 a ) , faz três reflexões sobre a relação educador/educando na educação
empreendedora :
1ª reflexão : “ O educador deverá adquirir a lógica do empreendedor e isso se faz seja pelo
contato direto com os empreendedores, seja pelo estudo de empreendimentos, seja pela leitura de
testemunhos e de vidas de empreendedores.”
2ª reflexão :
“ A relação educador/educando recai mais sobre a maneira de ensinar do que
sobre o assunto ensinado. Desenvolver os empreendedores é, primeiro, trabalhar sobre atitudes. ( ... )
pode-se dizer que o modelo de educação tradicional é inadequado para formar empreendedores
porque condiciona à passividade”.
3ª reflexão : “ Temos necessidade de formar os empreendedores, pessoas autônomas e criativas,
que serão capazes de definir a partir do não – definido, é esta a visão. (...) devemos formar a futura
mão-de-obra para tornar-se mais inovadora. Assim, os indivíduos e as organizações terão melhor
desempenho.”
Portanto, observa-se que não se trata de introduzir matérias ou cursos novos nos programas já
existentes. A proposta se volta fundamentalmente para a maneira de ensinar. É conduzir o educando a
questionar mais e a relativizar os conteúdos , ao invés de fornecer respostas prontas, incentivando o
educando a se desembaraçar sozinho.
Quanto ao nível de ensino a que esta proposta possa se encaixar, somos de parecer que seria
conveniente tanto ao ensino médio quanto ao superior.
Entretanto FILLION ( 1991 a ) , afirma :
“ Falar de educação empreendedora no secundário é falar do nível mais determinante para
desenvolver o potencial empreendedor dos jovens. É nele que o processo de identificação e de
aquisição de modos de aprendizagem própria tomarão forma.”
GIBB ( apud CARAMÉS – 1995 ) , apresenta em seu trabalho, uma comparação entre abordagens
de ensino convencional e empreendedora, o que pode ser visualizado no quadro a seguir :
CONVENCIONAL
Ênfase no conteúdo que é visto como meta
EMPREENDEDOR
Ênfase no processo
Aprender a aprender
Conduzido e dominado pelo instrutor
Propriedade do aprendizado pelo participante
O instrutor repassa o conhecimento
O instrutor como facilitador e educando.
Participantes geram conhecimento.
Currículo e sessões fortemente programadas.
Sessões flexíveis e voltadas para as necessidades.
Objetivos de ensino impostos
Objetivos de ensino negociados.
Prioridade para o desempenho
Prioridade para a auto - imagem geradora de
desempenho
Desenvolvimento de conjecturas e do pensamento Conjecturas e pens amento divergentes vistos
divergente
como parte do processo criativo.
Ênfase no pensamento analítico e linear. Parte Envolvimento de todo o cérebro. Aumento da
esquerda do cérebro.
racionalidade do cérebro esquerdo através de
estratégias holísticas , não lineares, intuitivas .
Ênfase na confluência e fusão dos dois processos.
Quadro 5A– Educação Convencional x Educação Empreendedora
Fonte : GIBB apud CARAMÉS ( 1995 )
6.MÉTODOS E TÉCNICAS
FILLION ( 1991 a ) , frente às reflexões e estudos que realizou na área da educação para
empreendedores, propõe como metodologia de ensino, algumas posturas que, resumidamente , são
apresentadas no quadro a seguir.
ETAPAS PARA O ENSINO
EMPREENDEDOR
1 – Situar-se como docente
COMENTÁRIOS
2 – Conhecer o mundo dos criadores e dos
empreendedores
3 – Eliminar
conformismo
a
pressão
em
relação
ao
4 – Reforçar a autonomia e a liderança dos
estudantes
5 – Ilustrar o ensino com exemplos da vida real.
Cultivar a imaginação.
6 – Levar o estudante a definir por si mesmo
situações, problemas e visões.
7 – Habituar o estudante a identificar aquilo que
lhe interessa, motivá-lo a aprender.
8 – Ser aberto à realidade circundante.
- O docente deve se situar em relação ao mundo
do trabalho , procurando observar a configuração
de diversos tipos de empreendimentos e
empregos.
Ler
e
acompanhar
atividades
dos
empreendedores, convidando-os à sala de aula
para explicarem de que maneira a matéria
lecionada lhe foi e está sendo útil em suas vidas.
- Aqueles que obtêm as melhores notas não são,
necessariamente, aqueles que melhor aprenderam
a aprender, a bem identificar e a definir o seu
“saber – ser” . O papel do professor deverá, de
preferência, consistir em respeitar, sustentar,
reforçar as características pessoais, os elementos
de diferenciação de cada um.
- o estudante tem necessidade de ser reforçado no
seu encaminhamento e de desenvolver um modelo
que lhe seja próprio ; o seu.
- Fornecer aos estudantes tanto quanto possível,
exemplos de criadores, de empreendedores tirados
da vida real.
No sistema educativo atual, dá-se ao aluno
muitos problemas de natureza analítica para
resolver. É necessário promover um equilíbrio a
esta questão , dando-lhe mais exercícios de
criatividade para cultivar e desenvolver a
imaginação.
- Fornecer ao estudante trabalhos e exercícios para
que sejam levados a efetuarem por si mesmos um
encaminhamento . É necessário habituá-los a
trabalhar sobre suas próprias idéias: fornecer -lhes
exercícios para ajudá-los na estruturação de seus
pensamentos, para tornar realistas e realizáveis os
seus sonhos.
- Aprender a questionar para conceber, aprender a
aprender, tornam-se aqui elementos fundamentais
no processo de educação empreendedora, porque é
necessário que o aluno tome consciência daquilo
que lhe interessa.
- Os empreendedores são pessoas que devem ficar
bem informadas sobre o que se passa ao seu redor
. Eles devem ser formados pelo estudo da história,
para compreender os contextos e ai compreender o
seu, mas também para pensar em termos de
cenários e alternativas para o futuro.
- O empreendedor é uma pessoa prática que arma
as ações concretas. Acontece que o ensino
permanece teórico e não chega a obter esse tipo de
espírito. Variando as estratégias pedagógicas,
permitindo aos estudantes desempenharem um
papel pró - ativo em relação à sua própria
aprendizagem, não apenas o tira da passividade,
mas cria-se condições para que eles tomem
consciência de seus próprios meios, de seus
talentos.
Desenvolve-se o reflexo de imaginar o que
seria feito e de fazê-lo em seguida.
10 – Tornar-se um docente empreendedor.
- Mostrar iniciativa, sustentar as iniciativas.
Instrumentalizar-se dentro destas idéias e tentar
manter uma energia, um dinamismo com o qual os
alunos poderão identificar -se.
Quadro 6A – Metodologia para o ensino empreendedor
Fonte : adaptado de FILLION ( 1991 a )
9 – Gerar ocasiões para levar o estudante a agir.
Com esta proposta, FILLION ( 1991 a ) , conclui afirmando :
“ Para nós, educadores, o cliente é o aluno. Para bem desempenharmos nosso papel,
devemos ter capacidade de adaptação às necessidades novas e diferentes”.
7.CONCLUSÕES
As relações do mundo do trabalho, a escassez de empregos formais, a conjuntura econômica atual
levam à necessidade de formação de empreendedores. Em contrapartida, a metodologia de
ensino/aprendizagem empregada até hoje é a mesma de várias décadas.
Em relação ao docente, espera-se que adquira maiores conhecimentos nas áreas didáticopedagógica , modificando posturas ultrapassadas de ensino, bem como a construção de uma relação
educador/educando mais real em relação a sociedade hodierna, capacitando-o adequadamente para o
fornecimento de bases seguras ao sucesso de seus educandos.
Em relação ao corpo discente, contribuir para, além de uma sólida formação técnica, que se torne
pessoas autônomas, criativas e inovadoras, requisitos básicos para o sucesso no novo mercado de
trabalho que vem se desenhando.
8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Utilização Criativa das Informações do Mercado , TRAD. Barbara Theoto Lambert, São Paulo,
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FILION, Louis Jacques, A Natureza dos Pequenos Negócios e Suas Implicações para as Atividades
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FILION, Louis Jacques, Visões e Relações : Elementos para um Metamodelo Empreendedor, in
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FRANCO, Simon, Farol Alto , São Paulo, in Revista Exame, n.º1, ano 34, 12 de janeiro de 2000, pág.
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GOHN, Maria da Glória, Educação Não – Formal e Cultura Política, São Paulo, Cortez Editora, 1999,
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HOCHELEITNER, Ricardo Diez, Perspectivas para a Vereda da Esperança : Como Viveremos
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TOFFLER, Alvin e TOFFLER Heidi, Criando uma Nova Civilização – A Política da Terceira Onda,
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