Mulheres e Serviço Social: o que mudou? O que permanece? 1
Rita de Lourdes de Lima
Modalidade do trabalho:
resultado de investigação
Eixo temático:
Classes, gênero, etnia e sociabilidade.
Palavras-chave:
Assistentes Sociais. Mulheres. Gênero.
Divisão sexual do trabalho. Serviço Social.
1. Introdução
A pesquisa, ora apresentada, é parte da tese de doutorado em serviço social realizado
na UFPE que trata das representações sociais dos assistentes sociais sobre o serviço
social e sobre o “ser mulher”.
Partimos do pressuposto que há uma representação social tradicional das mulheres na
sociedade que lhes atribui como características inatas o serviço, a docilidade, a
abnegação entre outras. O serviço social surgiu e se construiu historicamente, como uma
profissão destinada a “mulheres” e com forte ligação com os valores cristãos e
humanitários. Em Natal, particularmente, o surgimento do serviço social se deu numa
conjuntura de agudização da questão social, na qual, setores dominantes e a hierarquia
católica criaram o serviço social. Deste modo, o serviço social nasceu ligado ao
pensamento religioso, à burguesia e sendo uma profissão de mulheres e para mulheres.
A profissão passou por mudanças que modificaram o seu perfil, contudo, a predominância
feminina ainda persiste em função da representação social tradicional das mulheres na
sociedade e da divisão sexual do trabalho.
Este trabalho objetivou, portanto, conhecer as representações dos(as) assistentes
sociais de Natal sobre o serviço social e sobre o “ser mulher”. Trabalhamos com
associação de palavras com 171 Assistentes Sociais (167 mulheres e 4 homens),
escolhidos a partir dos inscritos no CRESS/14a região(Conselho Regional de Serviço
Social/RN). Utilizamos o software “Evoc” para ajudar na análise e organização dos dados.
Os resultados apontam a mesclagem de elementos novos e antigos, mas com
predominância de elementos novos no núcleo central das duas representações, indicando
que houve transformações significativas nas formas das representações investigadas.
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Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la
coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica
Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.
1
Apresentamos a seguir, os dados encontrados e fazemos uma rápida análise dos
mesmos.
2. A representação dos assistentes sociais sobre o serviço social
O conceito de representação comumente é associado a dois fenômenos: primeiro, ao
processo de fazer corresponder dois elementos (representante e representado), no qual o
primeiro substitua ou apresente o segundo; segundo, a um aspecto do resultado deste
processo, ou seja, ao produto, o elemento representante (Santos, 1996). Neste sentido, a
noção de representação remete à atividade simbólica que, cotidianamente, utilizamos.
Já a noção de Representação Social foi utilizada pela primeira vez por Moscovici que
partiu da idéia de que os grupos utilizam sistemas de referências para classificar pessoas
e grupos e para interpretar os acontecimentos da vida cotidiana. A circulação crescente
das informações científicas e/ou coletivas através do acesso aos meios de comunicação e
o processo natural que se dá nas conversas, misturado com experiências, impressões e
recordações pessoais, cria o fenômeno de formação no senso comum, de “teorias”
coletivas sui generis que visam interpretar e ressignificar o mundo real e regular as
condutas desejáveis ou não (MOSCOVICI, 1978).
Partindo deste conceito, alguns teóricos desenvolveram explicações acerca da
estrutura das representações sociais, assinalando que todas elas têm um núcleo central –
no qual se fazem presentes os elementos centrais da representação – e a periferia –
nesta ficam os elementos menos fortes na representação estudada.
Após a contabilização dos resultados da associação de palavras com a ajuda do
software Evoc, os resultados encontrados acerca da representação social dos(as)
assistentes sociais sobre o serviço social indicou um crescente afastamento dos valores
dos quais o Serviço Social se originou e com os quais se identificou por tanto tempo. A
palavra “cidadania” foi a mais citada (79 vezes), indicando, no nosso modo de ver, uma
modificação da representação social dos(as) assistentes sociais sobre o serviço social.
O serviço social, como já assinalamos, nasceu ligado a agudização da questão social,
ligado a um discurso religioso e humanitário que o associava diretamente às mulheres,
fossem católicas ou protestantes. Assim, as representações ligadas ao serviço social
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nesta época eram a caridade, a ajuda, o amor ao próximo e a justiça numa perspectiva
cristã. Contudo, junto com estes valores predominavam práticas autoritárias, baseadas na
idéia compartilhada pelas assistentes sociais da superioridade dos seus valores e
crenças.
Ora, a partir dos anos 1970, o serviço social questionou suas bases tradicionais e
começou a traçar um novo caminho teórico-metodológico e ético-político. Esse caminho
se propõe a buscar o reconhecimento dos direitos sociais dos(as) usuários(as) dos
serviços, ou seja, o(a) usuário(a) é visto(a) como cidadão(ã) de direitos. Neste sentido, o
serviço social se distanciou da postura inquisitória e policialesca que caracterizou seu
surgimento e uma parte de sua prática histórica. Mesmo que ainda hoje, entre as
atribuições do serviço social nas instituições, se encontre a triagem ou seleção dos(as)
usuários(as) para acesso ao serviço, os(as) assistentes sociais encaram esta atribuição
institucional de outra forma: é uma oportunidade de assegurar direitos sociais aos
usuários. Desta forma, a alta freqüência da palavra “cidadania” parece indicar o mesmo
sentido: o serviço social e sua prática hoje tem um novo significado para os(as)
profissionais 7.
A segunda palavra mais citada foi “assistência”, palavra que, aos menos avisados,
pode parecer remeter às bases históricas tradicionais do serviço social. Contudo,
justamente durante a década de 1980, ou seja, já depois de iniciado o processo de
ruptura profissional com o serviço social tradicional, um grupo de profissionais se
preocupou em resgatar criticamente o significado histórico desse termo e em distingui-lo
de “assistencialismo”.
Nesta discussão realizada naquele período estabeleceu-se a distinção entre as ações
de cunho assistencialista - ou assistência na perspectiva “stricto sensu” - e aquelas ações
de cunho assistencial - ou realizadas na perspectiva “lato sensu”. As primeiras são
aquelas que visam a perpetuar a dependência da população, ou seja, é um conjunto de
atividades de caráter fragmentado, indefinido, instável, apresentando-se como auxílios
temporários ou emergenciais que são repassadas como favor, benesse, bondade do
poder público ou do político que as realiza. As segundas, mesmo se carregadas de
elementos contraditórios, podem ser prestadas na perspectiva do direito e inclusão
social8.
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Destarte, associar serviço social à assistência não mais significa vê-lo como caridade e
ações emergenciais, mas como associado a cidadãos(ãs) portadores de direitos sociais.
Estas duas palavras mais citadas e presentes no núcleo central mostram portanto, do
nosso ponto de vista, uma nova configuração na representação acerca do serviço social.
Outras palavras com uma alta freqüência e que vão igualmente nesta mesma perspectiva
são: “compromisso” (21 vezes), “orientação” (27) e “participação”(20).
Por outro lado, a palavra “ajuda”, mesmo com uma freqüência de 16 vezes, teve um
rang baixo, ou seja, foi uma das palavras primeiramente lembradas quando se falava em
serviço social, o que mostra a permanência da associação entre a profissão e o ato de
ajudar ou a caridade falada nos primórdios profissionais. A palavra “dedicação”, apesar de
ter sido citada somente 10 vezes, foi também uma das palavras primeiramente lembradas
ao se falar sobre serviço social. Isto mostra ainda uma relação com a idéia de
missão/vocação/dedicação, presente nos primórdios da profissão e ainda hoje 9. A
convivência destas palavras junto com “cidadania”, “assistência”, “compromisso”,
“participação”, “orientação”, “inclusão”, “educação”, entre outras, no núcleo central da
representação social, mostra que ocorreu uma importante transformação nesta, embora,
ainda seja forte no meio profissional a noção de ajuda como associada ao serviço social.
Mesmo assim, a palavra “amor”, que no início da profissão era central ao se falar sobre
serviço social, parece ter sido substituída por “compromisso”, que agora consta no núcleo
central da representação. “Amor” ficou com uma freqüência de apenas 6 evocações e
com um rang alto (3,67), ou seja, não foi uma das palavras primeiramente lembradas ao
se falar em serviço social. O mesmo pode ser dito da palavra “comunidade” (5 vezes
evocada e com rang de 5,60), palavra-chave nas décadas do desenvolvimentismo no
Brasil (1950-1970) e que passou a ser questionada por ocasião do novo projeto
profissional
Junto com a palavra “amor”, aparecem palavras novas no discurso profissional, que
pouco a pouco estão entrando no universo representacional dos(as) assistentes sociais,
inserindo na periferia da representação uma “transformação progressiva”. Tais palavras
estão também associadas ao novo projeto profissional, mas não com a mesma força que
“cidadania”, “compromisso”, “assistência”. Daí se explica o seu aparecimento na periferia
distante da representação. Entre estas podemos enumerar: “articulação”, “assessoria”,
“competência”, “conquistas” e “democracia”.
4
O que se observa, portanto, é que a representação social dos assistentes sociais
sobre o serviço social mescla, tanto no núcleo central quanto no sistema periférico,
elementos que remetem a formas tradicionais do modo de ser profissional juntamente
com elementos que estão ligados ao novo modo de ser da profissão, com predominância,
entretanto, dos novos elementos. Pode-se assinalar, desta forma, que o serviço social
ainda se encontra em fase de transformação. O serviço social não se despiu totalmente
da velha roupagem, é verdade, mas tampouco permanece da mesma forma. Pelo
contrário, percebemos fortes indícios de um processo de transformação na forma de
representar o serviço social e tal processo já atingiu o núcleo central, configurando, assim,
uma transformação na representação social.
3. A representação dos assistentes sociais sobre “o ser mulher”
Com relação à representação social sobre o “ser mulher”, também parece-nos que se
deram transformações importantes na forma de se perceber e representar as mulheres,
apesar de, à semelhança da representação acerca do serviço social, aparecerem
elementos no núcleo central da representação que remetem a valores tradicionais ligados
à figura feminina.
É o caso da palavra “amor” que, neste caso, aparece no núcleo central com uma
evocação alta (13 vezes) e um rang médio de 3,0, o que indica que a associação mulheramor ainda é forte entre os(as) entrevistados(as). Contudo, deve-se assinalar que todas
as outras palavras componentes do núcleo (“cidadania”, “coragem”, “determinação”,
“força”, “luta”, “trabalho”) remetem à representação da palavra “mulher”, como um ser
forte, determinado, corajoso e que trabalha. Deste modo, as mulheres se vêem como
seres fortes e decididos, mas, ao mesmo tempo, se vêem fundamentalmente como um
ser de “amor”, voltado para este elemento e tendo-o como valor básico.
Destas palavras presentes no núcleo central da representação social, é importante
assinalar que a palavra “luta” foi a mais citada (84 vezes), vindo em seguida a palavra
“força (45 vezes). As duas palavras aparecem muito juntas e tendo, por vezes, o conteúdo
semântico muito próximo. Neste sentido, podem remeter tanto a esta nova representação
do “ser mulher” – ser corajoso, batalhador, forte, trabalhador - como também significar a
luta
diária
das
mulheres
no
mercado de
trabalho, acrescida da jornada de
trabalho com filhos e cuidados domésticos na volta para casa.
5
Da mesma forma que no núcleo central, na periferia próxima se mesclam elementos
novos e antigos e assim, junto com “capacidade”, “competência”, “conquistas”,
“inteligência” aparecem, com muita força, as palavras “maternidade” (36 vezes, rang de
3,69) e “sensibilidade” (44 vezes, rang de 3,89) remetendo a uma representação
tradicional sobre o “ser mulher”. Já as palavras “família” e “dedicação” foram pouco
lembradas – respectivamente 7 e 8 vezes –, mas aparecem também na primeira periferia,
pois foram primeiramente evocadas. Contudo, apesar destas palavras estarem presentes
e remeterem a uma representação antiga sobre o “ser mulher”, elas se constituem
minoria, pois, na primeira periferia predominam os elementos que remetem a uma nova
forma de ver as mulheres.
Ora, somos resultado de um longo processo de construção histórica da representação
social da figura da mulher e da figura do homem, construídas como seres dicotômicos e
antagônicos. As últimas décadas de luta e participação social e política das mulheres
tentam romper com esta visão, construindo percepções de mundo e das pessoas menos
dicotômicas e mais parceiras e companheiras. Percebe-se, portanto, uma representação
social que tem em si muito mais elementos novos, construídos nas lutas e transformações
sociais pelas quais passou a sociedade.
Desta forma, no sistema periférico, portanto, distante da representação social sobre o
“ser mulher” dos(as) assistentes sociais, aparecem 3 elementos para os quais achamos
necessário chamar atenção. Os termos “preconceito” e “violência” aparecem na periferia
distante, o que é motivo de preocupação, pois pode indicar que, a partir do surgimento
desta nova mulher, mais decidida, forte, trabalhadora, os(as) assistentes sociais possam
estar se esquecendo de que o preconceito e a violência persistem na sociedade, às
vezes de forma silenciosa e subterrânea, mas presente, atuante, excludente e
silenciadora.
A mulher, vista como independente, determinada, resolvida, parece, num primeiro
momento, distante do preconceito e da violência. É como se eles já não mais existissem
na sociedade. Este pode ser um dos motivos para que estes elementos apareçam na
periferia distante da representação social sobre o “ser mulher”. Embora estes dois
elementos possam estar longe da realidade pessoal e/ou afetiva de cada uma, o fato de
ser mulher - mesmo quando numa classe privilegiada e com uma relação afetiva
satisfatória -, faz com que não nos deparemos cotidianamente com o preconceito e a
6
violência contra as mulheres. É necessário alertarmos para isto, pois as modificações
sociais, embora significativas, ainda deixam muito a desejar e é preciso estar atento a
denúncia da violência e do preconceito, para avançarmos mais ainda na busca de
transformações cada vez maiores, no sentido de relações mais igualitárias entre os
gêneros.
O terceiro elemento que nos chamou atenção e que também aparece na periferia
distante da representação social sobre o “ser mulher” dos assistentes sociais é o termo
“vaidade”. Historicamente associado à mulher, esse termo, ao mesmo tempo em que
significava o cuidado e embelezamento da imagem pessoal, carrega também o forte traço
semântico que o associava à futilidade, falta do que fazer. Havia um raciocínio subjacente
e implícito que partia do pressuposto de que, se a mulher se preocupava excessivamente
com a beleza era porque lhe faltava o que fazer, não tinha outras preocupações mais
importantes – diferentemente do homem – e por isso, a vaidade era, na verdade, pura
futilidade de pessoas vazias e desocupadas.
A sociedade atual, com o seu discurso em torno da boa forma, corpo “sarado” e da
beleza, modificou a forma de ver e tratar a vaidade, incentivando os cuidados com o
corpo, cabelos, pele, enfeites etc.
Desta forma, a vaidade foi se tornando uma característica comum aos dois sexos - o
que a torna menos associada ao sexo feminino ou ao “ser mulher”. Esta equalização da
importância da vaidade para os dois sexos veio reforçar a permissão de um novo olhar
para a vaidade. Se, agora, o homem também se cuida e é vaidoso - e ele tem coisas
muito importantes para realizar - então isto é positivo e não mais futilidade. Parece-nos,
portanto, que estas determinações fizeram o termo “vaidade” migrar para a periferia
distante na representação social sobre o “ser mulher”.
Ainda nessa periferia aparecem elementos que remetem, do ponto de vista semântico,
à figura da mulher dócil, intuitiva, sentimental. São eles: “amizade”, “beleza”, “carinho”,
“feminilidade”, “intuição”, “sentimento”, “solidariedade”. Por outro lado, aparecem também
elementos que, do nosso ponto de vista, significam novos valores que estão sendo
incorporados ao sistema periférico sem representar questionamento ao núcleo central,
mas que com o passar do tempo podem vir a se incorporar a ele. São eles: “profissão”,
“sabedoria”, “poder” e “preconceito”.
7
Neste sentido, acreditamos que a representação social dos(as) assistentes sociais
sobre o “ser mulher” encontra-se em processo de transformação. Tal transformação pode
ser constatada através da presença destes novos elementos que foram sendo
gradativamente incorporados ao sistema periférico e, com a permanência das práticas
sociais novas, foram pouco a pouco migrando para o núcleo central.
4.
Conclusão
A que nos leva, portanto, a análise destas duas representações? A primeira
consideração a ser feita é que as transformações na forma de representar o “serviço
social” e o “ser mulher” andaram juntas em seu processo de transformação. A sociedade
mudou, as mulheres conquistaram novos espaços e o serviço social acompanhou o seu
tempo.
Desta maneira, ao longo destes 30 anos, o serviço social, acompanhando as
modificações sociais e assumindo a postura de comprometimento com os setores para os
quais se destina seu trabalho, delineou um novo projeto profissional, que foi aceito e
incorporado pela maioria dos(as) profissionais. Assim sendo, parece-nos que o serviço
social está tecendo uma nova forma de se ver e de se construir historicamente. Essa nova
forma ainda está em processo de construção e mudança, mas seus sinais são evidentes.
O mesmo pode ser dito da forma como os(as) assistentes sociais vêem as mulheres,
ou melhor dizendo, como vêem a si mesmas, pois são mulheres em sua maioria. Neste
sentido, as mulheres assistentes sociais construíram uma nova forma de se ver e de ver
as mulheres e esta nova forma é mais compatível com o que experimentam em suas
vidas e em suas lutas diárias. Trata-se de uma mulher determinada, trabalhadora,
lutadora, forte e que mescla com todos estes elementos o amor, colocando-o como base
de suas ações. Sendo assim, é também uma mulher em transição e em processo de
transformação de suas representações.
Destarte, o Serviço Social nasceu como profissão feminina para “cuidar dos pobres”,
para realizar a vocação religiosa das mulheres caridosas da Igreja. No seu percurso
histórico, contudo, as mulheres, que construíram a história da profissão, trilharam um
longo caminho. Após o processo de secularização, já nos anos 1980, iniciou-se um
8
processo de questionamento as suas bases teóricas e aproximou-se de vertentes críticas
que lhe propiciaram o desvelamento de seu significado social.
Se a imagem social predominante da profissão é indissociável de
certos estereótipos socialmente construídos sobre a mulher na
visão mais tradicional e conservadora de sua inserção na
sociedade, o processo de renovação do Serviço Social é também
tributário da luta pela emancipação das mulheres na sociedade
brasileira, que renasce com vigor no combate ao último período
ditatorial,
em
parceria
com
as
lutas
pelo
processo
de
democratização da sociedade e do Estado no país (IAMAMOTO,
1998, p. 105).
Assim sendo, o Serviço Social hoje, busca um caminho que, respondendo de forma
competente as demandas legítimas dos setores pauperizados da sociedade, através da
prestação de serviços sociais, tenta assegurar os direitos sociais dos usuários dos
serviços. Neste sentido, tenta nortear a sua ação profissional a partir dos princípios
defendidos pelo atual Código de Ética profissional12 que estabelece o reconhecimento da
liberdade como valor ético central, a defesa intransigente dos direitos humanos, a recusa
ao arbítrio e ao autoritarismo bem como a toda forma de preconceito, na busca da
construção de uma sociedade mais justa.
Por fim, esta mesclagem de elementos novos e antigos, mas com predominância de
elementos novos no núcleo central das duas representações, parece indicar que houve
transformações significativas nas formas das representações investigadas.
Essas transformações que surgiram nas representações estudadas mesclam
elementos das transformações conceituadas por Abric (1998 e 2000) como resistente e
progressiva, ou seja, elementos novos, trazidos por práticas sociais novas, foram se
incorporando à periferia das representações e mesmo ao núcleo central, sem grandes
rupturas, modificando as representações de forma lenta e gradual.
9
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