Violência em casa já é o que mais leva crianças a abrigos, diz ONG Gazeta do Povo Online - PR - VIDA E CIDADANIA - 01/06/2010
G1/Globo.com
Perfil de quem aguarda adoção mudou, dizem prefeituras. Abandono provocado pelo
vício de pais em drogas também está mais frequente
Os abrigos estão lotados de crianças à espera de adoção. Além de casos de abandono
pela mãe, há menores que foram vítimas de abuso sexual, meninas que engravidaram do
próprio pai, crianças que tiveram todos os irmãos adotados e se sentem rejeitadas
porque não foram escolhidas por uma família substituta. Há também os adolescentes que
foram separados dos pais após inúmeras agressões físicas. Outros foram adotados e,
depois, devolvidos pelas famílias substitutas sem explicações.
O perfil de quem está em abrigo mudou nos últimos dez anos. Antes, a questão
econômica era a principal causa da separação de pais e filhos. Hoje, a violência
doméstica - inclusive o abuso sexual - lidera o número de ocorrências, seguida pelo
abandono provocado pelo vício em drogas. Esse é um retrato que se reflete em todo o
país.
O coordenador dos abrigos da Liga Solidária, , Mariano Gaioski, explicou ao G1 que a
mudança nesse perfil teve início em 2006. ?Estamos vivendo agora a plena transição da
mudança do público das crianças abrigadas. Com a melhoria da renda média, as
características delas mudaram. A questão econômica ainda existe, mas os casos de
traumas sociais e emocionais pesados superaram essa condição. São casos de abuso
sexual, pedofilia e maus-tratos?, disse.
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São
Paulo (SMADS), há 2,3 mil vagas para crianças na rede de instituições conveniadas.
Dessas vagas, 3,3% são ocupadas por vítimas de violência sexual. A prefeitura informou
que nos Núcleos de Proteção Social Especial, voltados para atender menores vítimas de
abuso e suas famílias, são atendidas em média 1.000 pessoas por mês.
Drogas
Além dos maus-tratos e do abuso sexual, as drogas ganham cada vez mais espaço entre
as razões para separação de pais e filhos. Há crianças que são abandonadas pelos pais
viciados, mas também ocorrem situações em que os próprios adolescentes são viciados.
O secretário de Assistência Social e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Jader Martins
Moraes, contou ao G1 que também percebeu mudanças no perfil das crianças abrigadas
na cidade. ?Além das vítimas de violência, temos o problema dos adolescentes usuários
de drogas.
A família acaba querendo entregar esses jovens para a tutela do estado, porque não tem
condições de cuidar. Mas esse é um problema de saúde, não de assistência social?,
afirmou. Ele ainda explica que, em Cuiabá, existe um abrigo específico para manter as
vítimas de violência sexual, que passam por tratamento diferenciado.
Já o uso de drogas pelos pais é uma das principais causa do abandono de crianças em
Vitória, conforme explicou a secretária Municipal de Assistência Social, Ana Maria
Petronetto Serpa. ?Aqui, nós temos os órfãos do crack. O abrigo de 0 a 6 anos está
lotado de crianças que são separadas da família por causa das drogas. A negligência
dos pais também é causada pelo consumo de drogas lícitas, como o álcool?, afirmou.
A secretária de Cidadania e Assistência Social de Rio Branco, Estefânia Pontes, relatou
que houve um aumento no número de crianças que param em abrigos após sofrer
violência sexual. ?Uma grande quantidade de crianças sofreu abuso, mas também temos
jovens que são vítimas de exploração sexual, às vezes até pela própria família. Nos
últimos três anos, esses casos de exploração começaram a se tornar muito frequentes.
Antes, eram acontecimentos pontuais, em que fazíamos um trabalho individual,
conversávamos diretamente com a família. Hoje, isso não é mais possível, está
generalizado.?
Estefânia ressalta também que muitas mães abandonam os filhos durante os fins de
semana por causa das drogas. ?São casos de abandono temporário. Nesses dias, a
chefe de família deixa até os filhos pequenos sozinhos por causa da dependência
química. Também temos casos de jovens dependentes, que evadem constantemente dos
abrigos para consumir drogas. É um perfil recente e temos tentado discutir formas de
fazer uma abordagem diferenciada para atender esses jovens.?
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