ARTIGOS
A NÁLISE
DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
DE INDIVÍDUOS DE
18 A 50 ANOS
Body composition and body mass index in individuals from 18 to 50 years
old
Adriana Lopes Martins 1 , Márcia Moreira Mamedes 1 , Marcus Paulo P.
de Oliveira 1, José Ney Ferraz Guimarães 2, Fátima Palha de Oliveira 3
RESUMO
Com o objetivo de avaliar a composição corporal (CC) e o índice da massa corporal
(IMC) de indivíduos de 18 a 50 anos de ambos os sexos, foram estudados 489
voluntários, sendo 190 do sexo feminino (média=27 ±7,5 anos) e 399 do sexo masculino
(média=25 ±7anos). A amostra foi dividida em 3 grupos: grupo I: de 18 a 24 anos;
grupo II: de 25 a 30 anos e grupo III: de 30 anos em diante, e a análise foi feita
considerando o sexo. As medidas de dobras cutâneas (DC) foram feitas com compasso
(Cescorf, precisão de 0,1 mm) e o protocolo adotado para os cálculos foi o proposto
por Jackson & Pollock (1985). A ANOVA one way foi usada para comparar os resultados
(p ≤ 0,05) dos grupos, em associação com o teste de Tukey HSD. As diferenças para
as variáveis consideradas no estudo foram mais evidentes entre o grupo I e o III.
Apesar dos resultados médios obtidos para IMC corresponderem à classificação normal
(18,5 a 24,9), o que retrata um risco mínimo (< 25) para doenças associadas a este
índice, foi verificado, em ambos os sexos, a tendência de maior prevalência (%) de
indivíduos com sobrepeso e obesidade I entre indivíduos com mais idade.
PALAVRAS-CHAVE
Composição corporal, percentual de gordura, massa corporal magra, IMC
ABSTRACT
With the propose to evaluate body composition (BC) and body mass index (BMI),
489 voluntary individuals between 18 and 50 years old were studied, being 299 male
(25 ±7years) and 190 female (mean=25 ±7years). They were divided into three groups:
group I (18 to 24 years), group II (25 to 30 years) and group III (beyond 30 years). The
skinfold caliper Cescorf (precision of 0,1 mm) was used to measure subcutaneous fat,
and Jackson & Pollock (1985) protocol was adopted to obtain BC. The ANOVA one
way was adopted to compare the results (p ≤ 0,05) of the groups with the Tukey HSD
test. The differences among the studied variables are more evident between groups I
1
Professor(a) de Educação Física – graduado(a) pela UFRJ
2
Professor de Fisiologia do Exercício e Avaliação Física da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ
– Mestre em Bases Fisiológicas da Ed. Física pela UFRJ
3
Professora de Fisiologia do Exercício e Avaliação Física da Escola de Educação Física e Desportos da
UFRJ-DSc pela COPPE UFRJ
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and III. In spite of the BMI mean results correspond to the normal range (18,5 to
24,9), it was observed a larger incidence of overweighed and obese individuals among
the older.
KEY WORDS
Body composition, body fat, lean body mass, body mass index
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento do estudo da composição corporal veio trazer
valiosas informações para diversas áreas de conhecimento. O grande interesse pelos aspectos quantitativos e qualitativos da composição corporal
estimulou o desenvolvimento de técnicas acessíveis para sua mensuração.
Entre outras técnicas dispõem-se da medida de dobras cutâneas com o
adipômetro, que é um aparelho de baixo custo, fácil manuseio e que
apresenta uma precisão aceitável nos resultados de estimativa de densidade corporal e gordura corporal, que facilitou a identificação seletiva de
grande número de pessoas com sobrepeso e obesidade.
A marcante preocupação em identificar e quantificar pessoas com
excesso de peso observada atualmente deve-se ao fato da obesidade ser
considerada um problema de saúde pública dos mais graves, pois está
associada a uma série de doenças crônicas degenerativas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que o número de obesos adultos
gire em torno de 300 milhões em todo o mundo. Só no Brasil, segundo
dados do Ministério da Saúde, 32,9% da população está acima do peso
considerado saudável, sendo que 4,8% dos homens e 11,7% das mulheres
são obesos.
A constatação da prevalência de indivíduos com sobrepeso e obesidade fornece dados que respaldam a importância de programas de educação para a saúde que integrem a prática orientada de atividade física e a
instalação de hábitos alimentares saudáveis, como medidas preventivas.
O presente estudo foi desenvolvido com o propósito de quantificar e
analisar a composição corporal (CC) de homens e mulheres entre 18 e 50
anos, residentes no bairro de São Gonçalo no município de Niterói, de
modo a verificar a prevalência de pessoas com sobrepeso e obesidade
nesse grupo.
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2. MATERIAIS
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E MÉTODOS
A amostra do presente estudo (n=489) foi retirada do banco de dados
de avaliação física de uma academia de ginástica de São Gonçalo-Niterói.
Esse banco de dados tinha, na época do estudo (2001), o total de 1000
pessoas que foram avaliadas por cinco avaliadores da academia, nos anos
de 1999 e 2000. Considerando que a habilidade do avaliador pode ser
uma fonte de erro nas medidas antropométricas (Pollock & Jackson, 1984),
antes de iniciar o presente estudo foi feita uma análise da concordância
entre os 5 avaliadores da academia, segundo o método proposto por
Pederson & Gore (2000).
A partir dos resultados dessa análise interavaliadores decidiu-se por
considerar no estudo apenas as medidas antropométricas armazenadas no
banco de dados que foram computadas pelos avaliadores que apresentaram resultados semelhantes. Dessa forma, retirou-se do banco de dados
apenas os resultados de 489 adultos, sendo 190 do sexo feminino (idade
média = 27 ±7,5 anos) e 299 do sexo masculino (idade média = 25 ±7
anos) que foram analisados separadamente, devido ao padrão de distribuição de gordura ser diferenciado pelo gênero (McArdle et al., 2000).
Com relação à idade, dividiu-se a amostra em 03 grupos: grupo I (de
18 a 24 anos), grupo II (de 25 a 29 anos) e grupo III (acima de 30 anos).
Essa estratificação foi feita considerando que entre 18 e 25 anos o indivíduo atinge o pico de massa muscular, período que é seguido por uma fase
de manutenção dessa massa muscular desenvolvida e, após os 30 anos,
observa-se um declínio nas medidas fisiológicas que, naturalmente, vai
variar com o estilo de vida da pessoa (McArdle et al., 2000).
Na amostra masculina o grupo I foi composto por 196 voluntários, o
grupo II por 50 e o grupo III por 53. Na amostra feminina o grupo I foi
composto por 86 voluntárias, o grupo II por 45 e o grupo III por 59.
As medidas de dobras cutâneas (DC) foram feitas com um adipômetro
de marca Cescorf (Mitutoyo) com escala de 0,1 mm e pressão mandibular
de 10 g/mm2. Foi usado o lápis dermográfico para demarcar os pontos
medidos. Todas as medidas foram realizadas no lado direito do corpo,
por três vezes não consecutivas, sendo a média dos valores próximos
computada para efeito de cálculo. As dobras cutâneas do grupo masculino foram feitas nos pontos: Tríceps (Tr), Subescapular (Se) e Tórax; e do
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grupo feminino nos pontos: Tríceps (Tr), Suprailíaca (Si) e Abdome (Ab),
segundo descrição de De Rose (1984).
A massa corporal total foi medida na balança Filizola e a estatura foi
obtida com o altímetro a esta acoplado.
Foram analisadas as seguintes variáveis: Idade (anos); Estatura (cm) e
Massa Corporal Total (MCT). A partir dos dados obtidos foram calculados os seguintes parâmetros: somatório das três DC (∑DC) masculina
e feminina (mm); o percentual de gordura corporal (%G) que foi estimado segundo o método proposto por Jackson & Pollock (1985) considerando a faixa etária. Foram estimados os valores esperados para %G nas
faixas etárias consideradas no estudo, adotando-se o método proposto
por Pollock & Wilmore (1993) e procedeu-se a comparação entre a
quantidade de gordura medida e a esperada. A massa corporal gorda
(MCG) foi estimada a partir do %G e da MCT, [MCG = %G . MCT/
100]. A massa corporal magra (MCM) foi estimada à partir da subtração da MCG da MCT.
O índice de massa corporal (IMC= MCT/estatura2, Kg/m2), desenvolvido por Quetelet (1870), foi adotado na presente amostra para estimar a prevalência de indivíduos com sobrepeso e obesidade. Esse índice
expressa a distribuição da massa corporal em relação à estatura e tem
sido recomendado para estudos populacionais por sua facilidade de execução (Anjos, 1992). Sua avaliação não é recomendada para indivíduos
atletas, mulheres grávidas, crianças ou idosos sedentários por apresentarem alterações peculiares na massa corporal (McArdle et al., 2000).
Na análise do IMC, foi adotado como limite de corte para sobrepeso
o valor de IMC=25, como sugerido pela World Health Organization
(1990) e para graus de obesidade adotou-se a classificação proposta por
Garrow & Webster (1983) (obesidade grau 1: IMC entre 25 e 29,9; grau 2:
IMC entre 30 e 39,9 e grau 3: IMC superior a 40). Foi classificado como
baixo peso IMC menor que 20 (McArdle et al., 2000).
Para a análise do risco de doenças degenerativas pelo IMC foi adotada no presente estudo a proposta de Calle et al., (1999) (IMC<25 risco
muito baixo; 25<IMC<27 risco baixo; 27<IMC<30 risco moderado;
30<IMC<35 risco alto; 35<IMC<40 risco muito alto; IMC>40 risco
extremamente alto).
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O tratamento estatístico e o cálculo dos parâmetros estudados foram
realizados com o programa “Estatística” (versão 4.2 / 1993, para Windows).
Obteve-se a estatística descritiva das variáveis e, para a comparação entre
os grupos, foi usada a Análise de Variância (ANOVA one way) e o teste de
comparação múltipla de Tukey HSD.
3. RESULTADOS
E DISCUSSÃO
SEXO FEMININO:
A MCT do grupo III encontra-se significativamente (p=0,0005) mais
elevada que a dos demais grupos (Tabela 1). Observa-se na literatura que
o aumento da idade é acompanhado por um aumento na MCT (McArdle
et al., 2000) que é determinado, em geral, por uma diminuição do metabolismo basal e em decorrência da natural perda de massa muscular
devido ao maior grau de sedentarismo em faixas etárias mais avançadas.
Com relação às DC medidas e o ∑DC, pode ser observado na Tabela 1
que o grupo III apresentou os valores médios mais elevados para estas variáveis. A ANOVA e o teste de Tukey (Tabela 1) permitiram a constatação que
o grupo III apresenta acúmulo de gordura subcutânea significativamente (p<
0,05) maior na região triciptal e abdominal e no ∑DC, do que os demais
grupos. Esse resultado corresponde ao esperado, visto que a gordura corporal apresenta uma tendência natural de aumentar ao longo da vida (Parizková
et al., 1965). Essa tendência ao maior acúmulo de gordura ocorre sem que as
diferenças sexuais deixem de existir, ou seja, em todas as faixas etárias, as
mulheres apresentam valores mais elevados para espessura de dobras cutâneas
que os homens, fato também observado na amostra analisada (Figura 1).
O %G do grupo III apresentou-se estatisticamente superior (p=0,002)
ao dos grupos I e II (Tabela 1), e pode ser observado um aumento dos
valores médios desta variável com o aumento da idade (Figura 1). O
cálculo dos valores esperados para %G nas faixas etárias do presente
estudo foi feito segundo Pollock & Wilmore (1993) e revelou que as médias de todos os três grupos femininos encontram-se acima do esperado
para a faixa etária e sexo (Figura 2 e Tabela 1). Segundo McArdle et al.
(1998), um %G acima de 30% para mulheres jovens corresponde à obesidade. Este não é um bom prognóstico para a amostra analisada no
presente estudo, visto que o grupo feminino de 18 a 24 anos (grupo I)
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apresentou valor médio de 32%, indicando uma prevalência de casos
com resultados acima deste índice no grupo. Para mulheres de mais idade
a obesidade seria caracterizada por um %G acima de 37%, segundo o
autor. Desta forma conclui-se que o grupo III, apesar de apresentar valores absolutos mais elevados para as variáveis relativas à gordura subcutânea (DC, ∑DC, %G e MCG), na análise relativa à idade apresenta melhor prognóstico que o grupo I para a obesidade. É importante ressaltar
que apesar do %G tender a aumentar com a idade, é uma atitude saudável manter o %G abaixo de 30% (McArdle et al., 1998).
A MCM das mulheres apresentou pequena variação (DP) dentro dos
grupos e o valor mais elevado foi encontrado no grupo III. Não foi
observada diferença significativa (p=0,32) para MCM comparada entre
os grupos (Tabela 1). Este resultado permite a constatação que a diferença na MCT, observada entre os grupos, deve-se sobretudo à presença de
maior quantidade de gordura armazenada, visto que os grupos apresentaram MCM semelhantes.
Na amostra analisada foi observado que, no sexo feminino, a DC
abdominal, em todas as faixas etárias consideradas, apresentou maiores
valores absolutos do que as DC tríceps e suprailíaca (Tabela 1). Este fato
pode representar um prognóstico não favorável, pois estudos (Dulcimietre
et al., 1986; Higgins et al., 1988) têm apontado que o padrão de distribuição de gordura corporal é um fator de risco mais importante para as
condições de morbidade e mortalidade do que a própria obesidade. Tem
sido observada na literatura disponível uma estreita associação entre algumas complicações metabólicas e o maior acúmulo de gordura na região
abdominal (padrão centrípeto), independente da idade e quantidade total
de gordura. A quantidade excessiva da distribuição centrípeta da gordura
corporal pode aumentar a suscetibilidade da diabetes, contribuir para o
aparecimento das hiperlipidemias, comprometer o metabolismo das
lipoproteínas no plasma e dificultar a manutenção da pressão arterial em
níveis satisfatórios (Guedes & Guedes, 1998).
Baseado nesta constatação, ressalta-se a necessidade de um programa
nacional de educação para a saúde, em que se estimule a atitude preventiva que vise a manutenção de baixos %G, estimulando-se a prática da
atividade física e adoção de hábitos alimentares saudáveis.
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O IMC médio dos grupos femininos apresentou resultado classificado
como normal no critério de obesidade adotado, e baixo risco de doenças
associados ao IMC, segundo as primeiras diretrizes federais do National
Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Disease, (McArdle et al.,
2000). Contudo, na análise da prevalência de casos classificados como
baixo peso, sobrepeso e obesidade nos grupos, foi verificado que o percentual de indivíduos classificados como apresentando baixo peso diminuiu no grupo de indivíduos com idade mais elevada, ao mesmo tempo
em que se observou um aumento do percentual dos classificados como
portadores de sobrepeso nesse grupo. No grupo I (18 a 24 anos) constatou-se a presença de 15% de indivíduos com sobrepeso e 2% com obesidade de grau I (Tabela 2). No grupo III (30 anos em diante) 8% dos casos
apresentou obesidade de grau I e 2,5% obesidade de grau II. Os resultados encontrados nessa amostra retratam a realidade brasileira apontada
pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição - INAN (1991), que
mostra ser de 38% a prevalência de excesso de peso na população feminina brasileira.
Como foi verificado que a diferença de MCT entre os grupos femininos é explicada pela maior presença de gordura corporal, e que, para
estatura, não houve diferença entre os grupos na amostra analisada, podese inferir que valores mais elevados de IMC refletem uma maior quantidade de gordura corporal.
SEXO MASCULINO:
O grupo III masculino apresentou valor para MCT significativamente mais alto (p= 0,0005) que o grupo I (Tabela 1). Observa-se, também
para o sexo masculino, um aumento com a idade da MCT. Tal como no
grupo feminino, foi observada entre os homens a presença de indivíduos
com valores de MCT bem mais elevados que a média dos grupos a que
pertencem, indicando a presença de casos de excesso de peso nos três
grupos (Tabela 1).
Observa-se também no grupo masculino uma tendência a apresentar
valores mais elevados na espessura de dobras cutâneas nos grupos de
idade mais avançada. O grupo III apresentou maior espessura na DC na
região triciptal e subescapular do que o grupo I (p≤ 0,05). Para dobra
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cutânea de tórax a diferença é significativa entre os três grupos. A dispersão nesta variável é alta, havendo valores máximos bastante elevados
(Tabela 1). É na região subescapular que os homens apresentaram maiores valores absolutos para dobras cutâneas.
O ∑DC foi mais alto no grupo III e o %G apresentou diferenças
estatísticas (p= 8,35 e-11) entre os três grupos e as duas variáveis apresentaram, também, a tendência de valores mais elevados nos grupos de indivíduos com mais idade.
Os grupos masculinos apresentaram valores médios de %G acima do
esperado para a idade segundo Pollock & Wilmore (1993), estando, contudo, mais próximos dos valores esperados do que os grupos femininos
(Figuras 2 e 3). Para os critérios de McArdle et al. (1998), que estabelece
20% de gordura como padrão esperado para homens saudáveis, apenas o
grupo III apresentou resultados acima desse limite.
Também no grupo masculino não foi obtida diferença significativa
entre os grupos para a variável MCM (p=0,62). Pode-se então, inferir
que é uma quantidade maior de massa de gordura que determina a
diferença para a MCT entre os grupos I e III (Tabela 1).
Nos grupos masculinos observou-se maiores valores na espessura da
DC subescapular em relação às DC tríceps e tórax, o que aponta para
uma maior concentração de gordura na região do tronco (centrípeta).
Como a medida de DC abdominal não foi computada nesse estudo para
o sexo masculino, deve-se ter precaução nessa afirmativa.
Em relação ao IMC verificou-se que o grupo I tem classificação normal para o seu valor médio, enquanto os grupos II e III são classificados
como apresentando sobrepeso. Quando se analisa os resultados médios
dos grupos, o risco para doenças associadas ao IMC é mínimo para os
indivíduos mais jovens (grupo I) e baixo para os grupos II e III (Tabela 1).
A verificação da prevalência de casos de obesidade no grupo masculino apresentou prognóstico pior do que os grupos femininos. Foi constatado que existe um maior percentual de casos de indivíduos com sobrepeso
e com obesidade de grau I e II nas três faixas etárias em relação aos
grupos correspondentes femininos (Tabela 2). Verifica-se, ainda, no grupo masculino, uma maior prevalência de pessoas com sobrepeso e obesidade em indivíduos de idade mais avançada (grupo III que tem idade
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mínima 30 e máxima 48 anos) quando mais da metade dos componentes
do grupo (53%) é classificada como apresentando sobrepeso pelo IMC. Como
também o %G encontra-se acima do esperado para a faixa etária, acreditase que o IMC elevado retrata a maior quantidade de gordura subcutânea,
que é a responsável pelo aumentado IMC de alguns indivíduos.
Foi verificado que mesmo nos grupos I e II, que são compostos por
indivíduos jovens, existe a presença de alguns casos com risco moderado
(9%), alto (2%) e muito alto (0,5%) para doenças associadas ao IMC
elevado. No grupo III, 31% dos componentes do grupo apresentam risco
moderado e 9% risco alto para doenças associadas a elevado IMC, evidenciando a necessidade de intervenção preventiva através de priorização
de atividades aeróbias e orientação nutricional.
4. CONCLUSÕES
E RECOMENDAÇÕES
Composição Corporal: Constatou-se um maior acúmulo de gordura
corporal absoluta no grupo III, que explica a diferença de massa corporal
total entre os grupos, visto que não foi encontrada diferença para a variável MCM. Todos os grupos de ambos os sexos apresentaram %G acima
do esperado para a faixa etária, evidenciando a necessidade da intensificação do trabalho aeróbio visando alcançar valores menores de %G,
MCG, DC, para os indivíduos classificados com sobrepeso e obesidade.
Índice de Massa Corporal: O IMC médio do grupo feminino analisado obteve classificação normal em todas as faixas etárias, o que corresponde a um risco mínimo de doenças associadas a esta variável. O grupo
masculino de maior faixa etária (grupo III) apresentou classificação de
sobrepeso e os demais estão dentro de valores normais. Foi observado um
aumento progressivo do total de pessoas classificadas como portadoras de
sobrepeso e obesidade I com o aumento da idade.
Distribuição de Gordura Corporal: A análise da espessura das dobras
cutâneas medidas evidenciou uma tendência de acúmulo de gordura
centrípeta (gordura da região central do corpo) em ambos os sexos. Os
resultados ressaltam a necessidade de se alertar aos componentes da amostra
para medidas preventivas de doenças associadas a esta tendência.
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Tabela 1
Resultados da comparação entre os grupos
VARIÁVEIS
MASCULINO
FEMININO
Grupos
I
(18-24
anos)
II
(25-29
anos)
III
(> 30
anos)
ANOVA
/ Tukey
I
(18-24
anos)
II
(25-29
anos)
III
(> 30
anos)
ANOVA
/ Tukey
MCT (kg)
72 ± 12
73 ± 13
79 ± 13
I ≠ III
59 ± 11
58 ± 10
63 ± 12
I e II ≠ III
Estatura
1,76± 0
1,73± 0
1,74 ± 0
I ≠ II
1,62 ± 0
1,61 ± 0 1,61 ± 0
a
14 ± 6
16 ± 8
17 ± 6
I ≠ III
23 ± 8
23 ± 6
28 ± 8
I e II ≠ III
b
18 ± 10
21 ± 11
26 ± 10
I ≠ III
29 ± 13
26 ± 11
31 ± 11
ns
c
13 ± 7
15 ± 8
21 ± 9
I e II ≠ III
39 ± 15
41 ± 14
47 ± 15
I ≠ III
Somatório DC
(mm)
45 ± 23
53 ± 25
63 ± 22
I ≠ III
92 ± 32
90 ± 29 106 ± 31 I e II ≠ III
%G medido
16 ± 7
19 ± 7
24 ± 6
I ≠ II e III
32 ± 7
32 ± 6
36 ± 6
I e II ≠ III
%G esperado
10
15
18
ns
19
20
23
ns
MCM (kg)
59 ± 7
58 ± 7
60 ± 6
ns
39 ± 6
38 ± 4
40 ± 5
ns
MCG (kg)
12 ± 7
15 ± 8
19 ± 7
I ≠ III
19 ± 7
19 ± 6
23 ± 8
I e II ≠ III
IMC kg.(m2)-1
23 ±4
25 ±4
26 ±4
I ≠ III
22 ±4
22 ±3
24 ±4
I e II ≠ III
DC
ns
II ≠ III
MCT= Massa Corporal Total; DC= Dobras Cutâneas; %G= Percentual de Gordura;
MCG= Massa Corporal de Gordura; MCM= Massa Corporal Magra; IMC= Índice de
Massa Corporal; Dp= Desvio padrão; Tr= Triciptal; Si= Suprailíaca; Ab= AbdominalDC
a= tríceps; b= subescápula masculino e suprailíaca feminino; c= tórax masculino e
abdominal feminino. ANOVA - diferença significativa para p ≤ 0,05; e o teste de
comparação múltipla de Tukey aponta quais os grupos diferem entre si; ns= diferença não
significativa entre os grupos.
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Tabela 2
Percentual de casos classificados quanto ao grau de obesidade e risco de doenças associadas ao IMC
VARIÁVEIS
MASCULINO
II
I
Grupos
FEMININO
I
III
II
III
Classificação do IMC para obesidade (%)
Baixo peso
08
04
04
15
11
05
Normal
65
56
32
65
71
60,5
Sobrepeso
23,5
32
53
15
15,5
24
Obesidade grau I
1,5
06
11
02
02
08
Obesidade grau II
0,5
02
-
-
-
2,5
Obesidade grau III
-
-
-
-
-
-
Classificação do IMC para risco de doença (%)
Mínimo
73
60
36
80
86
66
Baixo
15
10
24,5
07
02
12
Moderado
09
22
31
08
11
12
02
06
09
02
02
08
0,5
02
-
02
-
02
-
-
-
-
-
-
Alto
Muito Alto
Extremamente
Alto
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DE
J A N E I R O , 9 (2): 97 - 110, 2001 –
3/13/03, 9:05 AM
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A DRIANA L. M ARTINS , M ÁRCIA M. M AMEDES , M ARCUS P. P.
DE
O LIVEIRA , J OSÉ N EY F. G UIMARÃES , F ÁTIMA P.
Figura 1
Gordura percentual (%) nos três grupos avaliados
Figura 2
Comparação entre % medido e % esperado para o sexo feminino
108
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– C A D E R N O S S A Ú D E C O L E T I VA , R I O
108
DE
J A N E I R O , 9 (2): 97 - 110, 2001
3/13/03, 9:05 AM
DE
O LIVEIRA
ANÁLISE
DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
DE INDIVÍDUOS DE
18
A
50
ANOS
Figura 3
Comparação entre % medido e % esperado para o sexo masculino
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J A N E I R O , 9 (2): 97 - 110, 2001
3/13/03, 9:05 AM
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Body composition and body mass index in individuals from 18 to 50