PERCURSO: SAMÃO
UZ
CG DE GONDIÃES
SAMÃO
CARACTERÍSTICAS DO PERCURSO
Percurso em laço, que se inicia e termina no Samão, com uma extensão
aproximada de 12.8 quilómetros. De grau de dificuldade médio, este percurso tem
troços bastante expostos ao sol e ao vento.
Sob o ponto de vista faunístico, na área em que este trilho se desenvolve,
ocorrem diversas espécies como o corço (Capreolus capreolus), o javali (Sus
scrofa), a perdiz (Alectoris rufa), o coelho (Oryctolagus cuniculus), a raposa
(Vulpes vulpes), o lobo (Canis lupus) – sobretudo na zona da aldeia da Uz – e
diversas rapinas diurnas e nocturnas como o milhafre (Milvus migrans), a
Águia-d´asa-redonda (Buteo buteo) e a coruja.
ACESSO AO PERCURSO
Partindo de Cabeceiras de Basto (Mosteiro de S. Miguel de Refojos) siga
em direcção a Arco de Baúlhe pela EN 205 - cerca de seis quilómetros -. Uma vez
chegado a Arco de Baúlhe, tome a direcção de Vila Pouca de Aguiar, pela EN 206.
Decorridos aproximadamente sete quilómetros, passará pela localidade de Cavês.
Prossiga a sua viagem por mais cinco quilómetros, até atingir um cruzamento do seu
lado esquerdo, com a indicação da localidade de Moimenta. Tome-o e suba pela EM
518 em direcção a Moimenta. Uma vez em Moimenta, siga por mais seis quilómetros
em direcção a Cunhas. Em cunhas encontrará um novo cruzamento com placas
indicando as localidades de Vilar/Samão/UZ. Siga em direcção a Samão, passando
pelo lugar de Vilar. Uma vez no Samão poderá facilmente encontrar a placa de
início do trilho, à entrada do lugar.
Distância à
origem (km)
Tempo à
origem (horas)1
Altitude (m)
Samão
0.00
0.00
735
Uz
3.60
1.20
935
CG Uz
4.60
1.40
985
CG Gondiães
10.00
3.33
745
Samão
12.80
4.26
735
DESCRIÇÃO DO TRILHO
Este trilho raiano, situado na sua quase totalidade num planalto no
extremo Norte do concelho, permite ao visitante sentir simultaneamente os
perfumes das realidades minhotas e transmontanas.
Na área planáltica, existem, para além das áreas florestais e dos matos,
áreas de cultivo, as chamadas licenças de cultura.
Sob o ponto de vista florístico, o pinhal de pinheiro (Pinus pinaster) bravo
domina, associado a matos de carqueja (Chamaespartium tridentatum) e urze
(Erica umbellata). Ocorrem contudo, em pequenos bosques, bétulas (Betula
celtiberica), píceas (Picea sp.), cameciparis (Chamaecyparis pisifera) e o corno
godinho (Sorbus aucuparia), muitas vezes associados a pastagens de montanha.
1
A simbologia utilizada para referenciar os tempos é constituída por 4 dígitos, por exemplo:
00.50: significa 50 minutos
À saída do lugar, no local onde o empedrado termina, do lado esquerdo,
pode observar um grande lameiro. É neste lameiro, conhecido como Lameiro das
Papas, que se realiza a distribuição dos géneros na Festa das Papas.
1000
900
800
Suba pela estrada florestal durante cerca de 1.5 quilómetros, até atingir
um cruzamento. Localize-se. Do seu lado esquerdo tem um grande lameiro, à sua
frente tem uma bela mancha de píceas, bétulas, pinheiros e cameciparis. À sua
direita, descrevendo um cotovelo algo apertado, a estrada florestal sobe,
atravessando o pinhal. Siga por aí, em direcção ao lugar da Uz – aproximadamente
2 quilómetros -.
Altitude (m)
700
600
500
400
300
200
100
0
0
7
10
12,8
Distância (Km)
SAMÃO
Não é possível falar-se do Samão sem se falar da Festa das Papas. Esta
festa, antiquíssima, em honra a S. Sebastião, realiza-se anual e alternadamente, a
20 de Janeiro, no Samão e em Gondiães.
A tradição oral conta que em tempos idos, estas aldeias foram
dramaticamente fustigadas por uma grande fome e por uma grande peste. Aflitos,
os populares, na sua profunda fé, procuraram amparo em S. Sebastião. O Santo
atendeu as súplicas das desesperadas almas e afastou daquelas paragens a terrível
calamidade.
O povo, reconhecido pelo milagre realizado, comprometeu-se a celebrar a
festa em honra a S. Sebastião. Desta festa consta a missa, o sermão, a procissão e
a oferta aos peregrinos de pão de centeio, vinho, carne de porco e de papas – estas
papas feitas com farinha e com a água de cozer a carne de porco -. São estas
famosas papas deram os seu nome à festa.
Partindo da placa de início de trilho, atravesse o lugar em direcção ao
topónimo Alto do Rio do Pito.
Se reparar bem, logo no início do caminho, o lado direito é limitado por um
alinhamento de pedras, uma extensão aproximadamente de 100 metros, que
continua para a encosta depois de ser cortado pela curva do estradão. São os
restos do paredão nascente de um fojo de lobo. Conhecido como Fojo da Uz,
desenvolve-se por cerca de 500 metros subindo a encosta até à portela do Alto
da Meijoadela. Apesar de muito destruído, ainda se conhece o poço do fojo onde
outrora os lobos eram capturados e posteriormente mortos pelos monteiros. Num
esteio do paredão oeste existe uma gravação, de difícil compreensão mas onde
parece ler-se a data de 1668. Embora se encontre num lamentável estado,
praticamente irrecuperável, esta construção atesta bem da importância do
pastoreio na economia destas populações serranas.
Se reparar, à medida que sobe em altitude o coberto vegetal já não é o
mesmo. As bétulas, os cameciparis e as píceas dão lugar ao pinhal. Este, mais
acima, dá progressivamente lugar aos matos.
Esta mudança espelha de forma clara as mudanças que ocorrem ao nível
do solo. Repare no aspecto do solo. À medida que sobe, a espessura do solo diminui
e verifica-se um aumento dos afloramentos rochosos. Acompanhando esta
progressiva diminuição da espessura do solo, nota-se uma progressiva diminuição
do porte da vegetação, assim como a substituição das espécies arbóreas por
espécies arbustivas. À menor espessura do solo corresponde uma menor
capacidade de suporte do mesmo e consequentemente uma alteração da tipologia
de vegetação presente. Não deixe de reparar que este problema pôs-se também ao
Homem, quando aqui instalou os postes para a linha telefónica – repare nas
sapatas em pedra que alguns postes têm-.
Chegado ao planalto, os matos rasteiros de urze e carqueja sarapintam a
monocromia das rochas.
Atravesse a Uz.
UZ
A aldeia da Uz, é uma das aldeias mais tradicionais da Serra da Cabreira.
Para além do seu património construído ainda espelhar com bastante fidelidade a
traça arquitectónica tradicional, com as casas em pedra, alguns telhados em colmo,
as suas gentes, sobretudo pelas actividades a que ainda se dedicam, também são
testemunhos vivos e preciosíssimos dos costumes e tradições ancestrais. Para
além de existirem algumas senhoras que ainda se dedicam aos lavores em linho, lã e
croché, há ainda um senhor que sabe e pratica a arte de colmar. As tradicionais
cegadas (em Julho) e malhadas (em Agosto) ainda são executadas manualmente,
com as gadanhas, as foices e os malhos!
A economia da aldeia centra-se na sua actividade agro-pecuária. Os
produtos que aqui se cultivam reflectem bem as condições de montanha em que a
Uz se encontra. A batata e o centeio dominam, por serem aqueles que melhor
resistem ao frio e a solos não muito ricos. O gado, em especial o caprino e ovino
fazem parte integrante deste universo, em que os ritmos da natureza ainda
dominam e marcam os ritmos dos Homens.
À saída do lugar, siga em frente no cruzamento que agora se lhe depara.
Decorridos aproximadamente 1 quilómetro, do seu lado esquerdo, junto a um
pequeno bosque de bétulas e píceas encontra a Casa de Guarda da Uz, construída
em 1953 pelos Serviços Florestais.
Continue a sua marcha em direcção ao topónimo Antas, seguindo sempre a
sinalização presente ao longo do trilho.
Ao longo deste trecho do trilho, nomeadamente junto ao topónimo
Toubarrão, repare que existem, no meio da Serra, diversos terrenos vedados por
muretes em pedra. Estas parcelas de terreno são denominadas Licenças de Cultivo.
E porquê Licenças de Cultivo? Porque o Estado, proprietário destes terrenos, ao
arrendá-los, concedia uma licença ao arrendatário privado que lhe permitia cultivar
as terras em questão. O aluguer destes terrenos objectivava, no seu início,
proporcionar a alguns populares mais carenciados um meio de subsistência..
Como pode reparar, só alguns pequenos bosques e campos “quebram” com
o domínio dos matos e dos afloramentos rochosos... Este tipo de paisagem
representa “[…] uma etapa – evolutiva ou regressiva – das áreas potencialmente
«dominadas» pelos carvalhais caducifólios.” (Campos, 1996)
Estas formações são no entanto importantes habitates – de refúgio,
alimentação e reprodução – para um elevado número de espécies faunísticas: “[…]
albergam uma rica comunidade de insectos, répteis, aves e mamíferos. No que
respeita a estes últimos, as maiores densidades·…] encontram-se precisamente
nesta unidade paisagística, funcionado os matos como o local de alimentação de um
grande número de predadores como o búteo, o peneireiro, o falcão peregrino, o
tartaranhão, a águia-cobreira, a raposa e o gato bravo, entre outros.” (Gomes,
1996)
Para a compreensão deste espaço, desta unidade de paisagem, é contudo
necessário ter-se uma visão de conjunto, e necessariamente dinâmica de todo este
ecossistema de montanha. Cada uma destas unidades paisagísticas, sejam aldeias,
campos, lameiros, matos ou floresta, apesar da sua individualidade, resultante por
exemplo da sua diversidade estrutural, das tipologias e intensidades de utilização
a que estão sujeitos, assumem necessariamente uma vertente essencial na
complementaridade funcional de todo este sistema.
Do seu lado esquerdo tente observar a magnífica paisagem do
Vale do Rio da Ribeira e da Rib. de Gondiães. Para lá do Vale é Barroso.
Prossiga a sua caminhada seguindo sempre a cartografia e a sinalização
presente no terreno. Decorridos cerca de 550 metros (desde o topónimos Antas),
encontra agora do seu lado esquerdo, na encosta do Rio da Ribeira, o topónimo
Carvalhosa.
CARVALHOSA
De acordo com as Inquirições mandadas fazer por Afonso III e 1258,
entre a Uz e Vilar de Cunhas (então só designada por Vilar), existia o lugar de
Antas, com 8 casais. A esse lugar deverão corresponder as ruínas da Carvalhosa,
como é sugerido pela proximidade dos topónimos.
Continue a sua caminhada por mais 3 quilómetros, até chegar ao cruzamento junto
à Casa de Guarda de Gondiães.
Como pode constatar, está agora dentro da maior mancha florestal
contínua do distrito de Braga.
Prossiga a sua marcha por mais 2 quilómetros, até chegar ao Samão, onde
termina este trilho.
Trilho pedestre das Papas
idealizado por
Eng.º António André
realizado por
Eng.º António José Teixeira de Campos
textos
Eng.º António José Teixeira de Campos
apoio científico
Dr. Luís Fernando de Oliveira Fontes – Unidade de Arqueologia da Universidade do
Minho
editor
CIASC - Centro de Interpretação e Animação da Serra da Cabreira
data
Setembro 1997
BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, A. J. Teixeira
1996
Plano de Gestão da Área do perímetro Florestal da Serra da Cabreira,
Trabalho de Fim de Curso na Licenciatura em Engenharia Biofísica,
Évora, Universidade de Évora.
1997
Levantamento das Estruturas Patrimoniais Humanas mais relevantes da
Serra da Cabreira, Trabalho realizado no âmbito da execução do
projecto Centro de Interpretação e Animação da Serra da Cabreira,
Vieira do Minho (não publicado).
GOMES, Pedro T.
1996
“A relação Homem/Floresta/Agricultura - a Região do Minho”, Revista
Florestal, Vol. IX, n.º 4, Outubro – Dezembro: 22-27.
P.M.H. Inq. 1258
1882 Portugaliae Monumenta Historica, Inquiritiones, I, Lisboa.
FICHA TÉCNICA
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T.P.das Papas