SAÚDE
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O excesso de peso no
Brasil já é considerado epidemia:
atinge metade da população adulta e
um terço das crianças de até 10 anos.
Para evitar que esse problema se alastre
pelas próximas gerações, as escolas
têm investido em ações inteligentes
em favor da alimentação saudável
Escola é lugar de
comer bem
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• Agosto 2012 • REVISTA DO IDEC
“C
omer, comer” já foi o melhor
para poder crescer. Hoje, o hino
da hora do lanche é outro: convencer os pequenos a comerem menos e de
forma mais saudável. Quase um terço das
crianças brasileiras com idade entre 5 e 9
anos encontram-se acima do peso, e outras
525 mil sofrem de obesidade mórbida. Entre
os adolescentes, 21,7% pesam mais do que
deveriam, número esse que sobe para cerca
de 50% na faixa etária adulta. Diante desses
dados alarmantes, divulgados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
no primeiro semestre deste ano, com base
nos parâmetros da Organização Mundial de
Saúde (OMS), a alimentação na escola (e a
forma como a nutrição é abordada nas aulas)
tornou-se preocupação de primeira ordem
do governo, que incentiva as instituições de
ensino estaduais e municipais por meio de
diversos programas (veja exemplo à página
28), e dos colégios particulares.
Neste mês, a Federação Nacional das
Escolas Particulares (Fenep), em convênio
com o Ministério da Saúde, lançará no Rio
Grande do Sul o primeiro manual de uma
série que trará orientações de alimentação
saudável para professores, alunos e funcionários; o primeiro volume dará ênfase ao
que é servido na cantina. O objetivo é que,
a partir de agora, as escolas de todo o território nacional sejam, aos poucos, instruídas
por essa ação. “O Ministério da Saúde quer
conscientizar as crianças e, assim, diminuir
a incidência de obesidade, inclusive entre os
adultos”, explica Amábile Pacios, presidente
da Fenep, enfatizando a importância da iniciativa para a saúde pública do país. “O aluno
será cúmplice nesse processo. A ideia é que
ele reproduza o que aprender na escola em
casa, com a família, como aconteceu com o
uso do cinto de segurança”, ela completa.
ESCOLAS MAGRAS
Muitas instituições já vêm desenvolvendo
programas criativos e bem-sucedidos no que
diz respeito à alimentação ideal para as crianças mesmo antes de receberem o manual da
Fenep e do Ministério da Saúde.
No Colégio Fênix, de Petrópolis (RJ),
ganha pontos quem recheia a lancheira com quitutes saudáveis.
Os pontos são somados e, uma vez por mês, o aluno mais dedicado ganha um presente estampado com seu personagem favorito
– pode ser a Fada Fibrinha, a Princesa Proteína ou o Carboidrato
Complexo (um garotinho andando de bicicleta), entre outros.
Eles foram criados pela nutricionista Patrícia Vieira da Cunha, que
desenvolve um projeto voluntário no colégio desde 2004. Ela descobriu uma maneira cativante e divertida de convencer as crianças
do maternal até o sexto ano do Ensino Fundamental a fugirem
dos alimentos “perigosos”, como o carboidrato simples presente
nos biscoitos e nos salgadinhos, representado por um bonequinho
mafioso. “O impacto do projeto é grande. Vemos que os alunos
passam a prestar mais atenção ao que comem”, avalia Patrícia,
que também trabalha no hospital universitário da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além da competição lúdica, ela
propõe outras atividades, como a leitura de rótulos dos alimentos
industrializados e o estudo da pirâmide alimentar. “Fico gratificada quando ouço um aluno dizer ‘quero levar pão integral para
ganhar mais pontos’”, diz.
Os resultados de ações similares também são sentidos na escola
Carlitos, de São Paulo (SP), onde frituras não têm lugar na cantina
e o lanche que os alunos levam de casa é rigorosamente controlado. “Orientamos os pais sobre o que deve ser trazido. Biscoitos e
bolinhos industrializados passam bem longe da lancheira”, revela a
nutricionista Adriana Martins de Lima, que acompanha as atividades
da escola, como o minuto da fruta, em que todas as crianças fazem
uma pausa para comer peras, maçãs e bananas distribuídas pela
escola. Nos intervalos é servido suco natural e, no almoço, água.
Adriana ensina os estudantes a balancearem a alimentação comendo
com maior rigor nos dias úteis (dias azuis) e mais livremente nos
fins de semana (dias verdes). Mas ela esclarece que é preciso ensinar
a garotada a encarar a comida como uma expressão da cultura, e
não apenas como algo que deve ser controlado. Na Carlitos, uma
vez por mês é feito um almoço especial baseado na culinária do
país que está sendo estudado. “Elas adoram! Alguns pratos, como o
goulash (guisado de carne, de origem húngara), até entraram para o
nosso cardápio permanente”, conta Adriana, animada.
PRATINHO SAUDÁVEL
A alimentação ideal da criança é um pouco diferente da do adulto, já que ela deve ingerir menos calorias, mas, ao mesmo tempo,
consumir alimentos que lhe forneçam energia suficiente para todas
as suas atividades. “Os pequenos necessitam, ainda, de alimentos
nutritivos para fortalecer o sistema de defesa do organismo, pois
se encontram em fase de crescimento”, ressalta a nutricionista
Fernanda Maniero, doutora pelo Instituto do Coração (Incor) do
Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
“O ideal é fazer substituições, como trocar o refrigerante pelo suco
natural e a farinha de trigo refinada pela integral”, sugere.
Fugir do açúcar e das gorduras, grandes aliados do ganho de
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SAÚDE
peso, costuma ser uma tarefa desafiadora, já
que a criançada adora tudo o que vem em
pacotinhos coloridos e agrada automaticamente ao paladar. “Não devemos proibir nada com
rigidez, já que o proibido se torna interessante.
Devemos, isso sim, oferecer com menor frequência frituras e industrializados”, pondera
Mirella Bini Egli, nutricionista com experiência em escolas particulares. Ela defende que
pais e professores acompanhem de perto o
que a criança coloca em seu prato. Só assim se
pode prevenir o alastramento ainda maior da
obesidade – que, na infância, antecipa males
típicos da fase adulta, como colesterol alto,
hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica, além de desencadear transtornos psicológicos e problemas ortopédicos.
As nutricionistas Fernanda e Mirella acreditam que a força-tarefa formada pela escola
e pela família é a melhor arma contra esse
verdadeiro mal do século. “Quando a criança
passa o dia na escola, é fundamental que o
cardápio seja bem variado e ofereça até aquilo
que ela não aprecia. O contato constante com
alimentos não tão ‘queridos’ fará com que
ela passe a consumi-los”, defende Mirella.
Fernanda apoia: “A apresentação de alimentos saudáveis faz toda a diferença na criação
de novos hábitos. É necessário, também, que
os pais e professores incentivem a prática de
atividades físicas e brincadeiras”, finaliza.
Cintura fina na escola pública
A
Escola Estadual Monsenhor Francisco Miguel Fernandes
fica no pequeno município de Rio Espera, em Minas
Gerais, que tem apenas 7 mil habitantes. Mas a preocupação com a saúde de seus 800 alunos é grande: o projeto Cintura
Fina quer eliminar peso e medidas de seus 108 participantes –
entre os quais, estudantes, docentes e funcionários – até o mês de
outubro, além de divulgar globalmente a alimentação saudável.
As reuniões do projeto, mediadas por duas nutricionistas voluntárias, acontecem fora do horário de aula e abordam temas como
mastigação e teor nutritivo de alimentos.
Essa iniciativa é um dos frutos do Grupo de Desenvolvimento
Profissional (GDP), programa do governo estadual cujo objetivo
é a capacitação extraturno de professores. Desde 2009, o corpo
docente da escola Monsenhor recebe financiamento e orientação
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para trabalhar com o tema Meio Ambiente.
“Começamos com a coleta seletiva do lixo,
depois passamos para a horta escolar, e,
por fim, sentimos que era hora de abordar a alimentação saudável”, conta Teresinha
Maximiana Campos Rangel, uma das coordenadoras do Cintura Fina, lembrando que
há anos a instituição segue o cardápio encaminhado pelo governo do estado. “Também
recebemos incentivo da prefeitura, que selecionou produtores de alimentos orgânicos
da região para que se tornassem nossos fornecedores. Não consumimos nada que tenha
agrotóxicos”, orgulha-se a professora.
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