ALIMENTOS ORGÂNICOS SÃO GARANTIA DE COMIDA BOA E SAUDÁVEL PG.7 CARROS ELÉTRICOS SÃO A APOSTA PARA O FUTURO DA MOBILIDADE URBANA PG. 18 ARQUITETURA VERDE: PROJETOS SUSTENTÁVEIS REPRESENTAM CASAS ECOLOGICAMENTE CORRETAS PG. 37 TIBÁ A ECOVILA QUE CRESCE SOB A DIVERSIDADE HUMANA 1 ÍNDICE O renascimento de um parque 27 Tibá A ecovila que cresce sob a diversidade humana 28 Recicle mais, Pague menos 35 Arquitetura Verde 37 Construa sustentável Prime Dog: uma aneira diferente de se fazer fast food 5 Tipos de dietas que excluem o consumo de alimentos de origem animal 6 A tendência dos alimentos orgânicos Cartão Postal Esgoto Lixo nosso de cada dia 7 14 16 Um Futuro sustentável para a mobilidade 18 Ciclovias na cidade dos carros 26 Uma horta em minha casa / pallets E para onde vai todo esse lixo? Empreendedor mirim Uma gota acalmou meu coração 43 45 46 48 49 3 EDITORIAL Carta ao leitor Caro leitor, Esta revista é a oportunidade de você poder entender melhor um novo universo. É a mesma oportunidade de você poder enxergar possibilidades de salvar nosso planeta. Porque a sustentabilidade é algo complexo demais para ser resumido em apenas um exemplar. A intenção de toda a editoria da “Gaya” é trazer à você uma amplitude do campo sustentável, para que seja possível você interpretar o seu bairro ou até sua casa de forma diferente. Por trás das reportagens desta edição estamos na tentativa de o público poder viajar em um novo assunto que abre novas possibilidades. Por isso, nossa esperança é de que você passe a conhecer sustentabilidade e meio ambiente da forma como o campo especializado os entendem. E, assim, poder saber que tudo pode ser mudado e restaurado. Boa leitura! Expediente Filipe Moreira, 21 anos, estudante de jornalismo. Persuasivo e sempre disposto em desenvolver novos projetos. Lucas Phelipe, 21 anos, estudante de jornalismo. Excêntrico e predisposto, sempre está de prontidão para fazer o que é pedido. Monique Monteiro, 20 anos, estudante de jornalismo. Divertida e criativa, busca saber o que é possível ser feito para trazer o novo. Nayme Bizaio, 21 anos, estudante de jornalismo. Equilibrada e concentrada, pensa pela equipe e encontra soluções criativas para os problemas. Prime Dog: uma maneira diferente de se fazer fast food Com uma parede dedicada apenas a adesivos de bandas de rock e mensagens ativistas como “Não maltrate um animal” e “Seja vegetariano”, o restaurante Prime Dog, localizado na Zona Sul de São Paulo, vive cheio. Popular entre o público vegetariano e vegano (termo que vem do inglês vegan, utilizado por Donald Watson, fundador da Vegan Society), o estabelecimento iniciou como um restaurante fast food comum. Devido a muitos pedidos, o restaurante implantou, há cinco anos, o cardápio que exclui produtos de origem animal entre suas opções de refeições. Tem salsicha de soja, tofupiry, cheddar vegano, etc. A gerente Renata Santana, conta que o lucro do restaurante aumentou após a implantação. ”Hoje, mais de 50% do lucro são vem dtas vendas de alimentos para este público mais ativista”. Na cozinha do restaurante, todos os alimentos são preparados separadamente: Há uma chapa para preparo de alimentos de carne bovina, outro para alimentos vegetarianos e outra para veganos. A maioria dos produtos são fornecidos pela Goshen, porém, o restaurante já trabalha com algumas fabricações próprias e sempre aceita sugestões dos clientes. Por Nayme Bizaio Serviço Rua: Vergueiro, 1960 Telefone: 5539-0179 Horário: das 11h30 às 04h00 5 TIPOS DE DIETAS QUE EXCLUEM O CONSUMO DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL VEGETARIANISMO SEMIESTRITO OVOLACTOVEGETARIANISMO Composta por alimentos de origem vegetal, ovos, leite e derivados deles. LACTOVEGETARIANISMO Tradicional na Índia, essa dieta se caracteriza pela exclusão de ovos e qualquer tipo de carne. VEGETARIANISMO ESTRITO É uma dieta que exclui todos os produtos de origem animal. Dieta que exclui quase todos os alimentos de origem animal, abrangendo somente o mel. OVOVEGETARIANISMO Dieta composta apenas por alimentos de origem vegetal e ovos, com exclusão dos produtos lácteos e seus derivados e de carne. NÚMERO TENDE A CRESCER... Segundo uma pesquisa realizada pelo IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - no segundo semestre de 2012, cerca de 8% da população brasileira se declara vegetariana. Com a popularização e a industrialização de alimentos voltados para este público, este número deve crescer ainda mais nos próximos anos. MAS TOME CUIDADO! Apesar de diminuírem o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, a nutricionista Ana M. Maçal afirma que é necessário consumir outros alimentos ricos em ferro, como vegetais verde-escuro, feijões, algas, e associá-los com alimentos ricos em vitamina C, para potencializar a absorção deste mineral. 6 6 Por Nayme Bizaio A TENDÊNCIA DOS ALIMENTOS ORGÂNICOS 7 A tendência dos alimentos orgânicos Por muito tempo, o homem pensou apenas em maneiras de como aperfeiçoar o tempo de produção e fornecer alimentos em grande escala e abusou de produtos químicos para isso. Hoje, preocupandose mais com o meio ambiente e com o seu organismo, o consumo de alimentos orgânicos só tem aumentado no Brasil. Hoje em dia, é comum vermos alimentos sem conservantes nas prateleiras dos mercados, cardápios recheados de opções saudáveis entre os restaurantes e diversos sites que estimulam a alimentação natural. Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), órgão responsável pelas certificações do território nacional, o Brasil possui cerca de 1 milhão de hectares de alimentos orgânicos e a procura por estas certificações aumentam gradativamente a cada ano. MAS AFINAL, O QUE É O ALIMENTO ORGÂNICO? São chamados de alimentos orgânicos os que são cultivados de maneira específica, sem agrotóxicos (no caso de verduras, legumes e frutas) e no caso de alimentos de origem animal - como a carne - sem a introdução de hormônios de crescimento, anabolizantes ou outras drogas. Os alimentos orgânicos contribuem para o organismo e também para o meio ambiente, pois não possuem qualquer tipo de adubo químico, assim como pesticidas. Este tipo de alimento também não provem 8 de sementes transgênicas, já que nessa especialidade o produtor não pode modificar as características reais do solo e do meio a serem utilizados no plantio. Segundo Ana Clara Marçal, nutricionista do consultório DietNet, os alimentos orgânicos possuem maior quantidade de nutrientes e são mais saborosos, já que não há agentes químicos que possam alterá-los. “Este tipo de alimento auxilia bastante no controle de doenças, sempre recomendo aos meus pacientes”, afirma a médica. Por Nayme Bizaio Maria Aparecida Camargo e Evallney Marinho, o casal vende alimentos de origem orgânica no portão de casa. ALIMENTOS ORGÂNICOS POR PREÇO CAMARADA O casal Evallney Marinho (49) e Maria Aparecida Camargo (52) vende alimentos orgânicos na garagem de sua casa. A iniciativa surgiu no começo do ano, quando Maria teve um problema estomacal. Nesta época, Marinho trabalhava na distribuidora de alimentos orgânicos Veio da Terra. Por orientação de um médico, Maria passou a consumir os alimentos provenientes da empresa em que seu marido trabalhava. Quando Marinho ficou Por Nayme Bizaio desempregado, tiveram a ideia de se tornarem fornecedores secundários da Veio da Terra e implantaram o negócio, de forma improvisada na garagem de sua casa no Jd. São Luís, localizado no extremo sul da cidade de São Paulo. Maria conta que o investimento inicial foi de R$ 500,00 e que, no começo, muitas pessoas questionavam se os alimentos vendidos eram orgânicos e qual a diferença em relação ao alimento industrializado. A loja começou vendendo apenas alface, couve e agrião. Agora, já conta com alimentos como a cenoura, abobora e vargem dentre as suas opções. 9 A tendência dos alimentos orgânicos Atualmente, o casal possui o Certificado de Conformidade Orgânica, fornecido pelo IBD, e procura o selo e a licença para trabalhar com restaurantes especializados neste tipo de alimentação e em feiras livres. “A maioria das pessoas compram por curiosidade e depois vêm nos contar que deixaram a verdura por uma semana na geladeira e que ela não amarelou, o que acontece bastante com os alimentos que possuem agrotóxicos”, conta Maria. “Teve um cliente que melhorou de uma ulcera comendo os alimentos que vendemos aqui”, relembra Marinho. Maria Helena (81) conta que vai todas as semanas comprar alguns produtos na loja improvisada. “Tudo que tem aqui é muito bom e barato”. “Agora as pessoas estão entendendo melhor o que é o orgânico, estão pensando mais na saúde”. Maria e Evallney contam que as pessoas estão se preocupando mais com a saúde e procurando alimentos naturais. “Estamos confiantes, vamos investir bastante nisso. Daqui a pouco, queremos tirar o carro da garagem”, finalizam entre risos. DE VOLTA AS RAÍZES “Você se importa se eu jantar agora? É que se eu não fizer isso agora, eu não faço mais” perguntou a gerente do restaurante Banana Verde, Luísa Boschini, no início da entrevista para a revista Gaia. Localizado na região mais cool de São Paulo, a Vila Madalena, o restaurante inaugurado há sete anos, pelo economista 10 Iberê Cannabrava e a chefe de cozinha Priscila Herrera, une o melhor da sofisticação e da natureza. O estabelecimento é sustentável até em suas instalações: foi construído com material natural, abusa das portas e janelas para evitar o uso do ar condicionado e tem uma luz baixa que lembra o início da noite numa praia ou em uma casa no campo. A tendência dos alimentos orgânicos / De volta as raízes Luiza conta que, em média, a casa recebe cerca de 100 visitantes durante o almoço e 50 no jantar. Nos finais de semana, esse número quase duplica, chegando a 180 consumidores no almoço e 70 no jantar. PRATOS Terça-feira: Fritada de palmito pupunha e queijo coalho; arroz cateto com vermelho; feijão fradinho; espinafre acebolado; tomates assados no forno a lenha. Quarta-feira: Berinjela assada no forno a lenha com molho de coalhada e dill; arroz cateto com lentilhas caramelizadas; vagem ao alho e azeite de limão siciliano; quinua com legumes e cogumelos. Quinta-feira: Cassoulet de feijão branco com legumes; arroz cateto com negro; acelga chinesa; shitake grelhado no azeite. Sexta-feira: Shimeji assado no forno a lenha; arroz cateto com espinafre ao alho; feijão preto; abóbora ao molho de castanhas de caju. Sábado: Kafta de shimeji com molho de coalhada e dill; arroz cateto com lentilhas e cebolas caramelizadas Domingo: Pupunha grelhada com vinagrete e chips de banana; arroz cateto com sementes; feijão preto com legumes; farofa de castanhas e couve ao alho. A iniciativa de abrir um restaurante natural surgiu da ideologia de alimentação de um de seus donos. “A maioria dos vegetarianos, por exemplo, têm uma pegada mais fast food. O conceito do restaurante é de comer bem, de uma maneira saudável”, conta Luísa. SOBREMESAS - Frutas ao Forno a Lenha. - Frutas da estação assadas no forno a lenha com vinho do Porto e sorvete de - mascarpone e praliné de castanhas. - Cheesecake - Receita especial feita com fava de baunilha orgânica, compota de goiabada cascão e amora. - Bolinho de Chocolate com Frutas Vermelhas - Bolinho de chocolate orgânico AMMA 60%, sorbet de frutas vermelhas, praliné de castanhas e coulis de amora. - Mousse com Avelã e Frutas Vermelhas - Mousse de chocolate orgânico AMMA 100%, com mel de agave, avelã e coulis de frutas vermelhas. - Banana Caramelizada com Sorvete - Banana caramelizada sobre sequilho de leite, creme inglês de baunilha orgânica, sorvete de tapioca e trufas de castanhas do Pará. - Torta de Chocolate Detox - Torta raw de chocolate com calda de frutas vermelhas. - Frutas da Estação com Calda de 11 11 Por Nayme Bizaio 10 MOTIVOS PARA CONSUMIR ALIMENTOS ORGÂNICOS 1 ) Faz bem a saúde; 2) Os alimentos contêm mais nutrientes; 3) As substâncias químicas ficam fora do seu prato; 4) Sua comida fica mais saborosa; 5) Protege as gerações futuras; 6) Restaura a biodiversidade; 7) Protege a qualidade da água; 8) Reduz o aquecimento global e economiza energia; 10) Ajuda a manter as pequenas propriedades agrícolas; 11) É um exercício de cidadania. ONDE COMPRAR ALIMENTOS ORGÂNICOS? 12 Feira do Produtor Orgânico da AAO Parque da Água Branca Terças, Sábados e Domingos - das 7 às 12 h Nova Feira do Produto Orgânico e Agricultura Limpa - Ibirapuera Sábados das 7 às 13h Av. Francisco Matarazzo, 455 -Perdizes São Paulo - SP / CEP- 05001-900 Tel. (11)3875-2625 e-mail: [email protected] Modelódromo do Ibirapuera, com entrada pela Rua Curitiba, 292 - Vila Mariana Produtos:bebidas,cafés,ervas,temperos, frutas, grãos, hortaliças,laticínios, mel, pães, biscoitos, processadose,etc. Produtos: frutas, hortaliças, bebidas, cafés, ervas, temperos, grãos, laticínios, mel, pães, biscoitos e processados. Onde comprar alimentos orgânicos? Feira Orgânica do Ibirapuera Domingos das 7 às 12 h Rua Tutóia, (estacionamento da Igreja do Santíssimo Sacramento) - Vila Mariana - São Paulo / SP - CEP - 04007-000 Produtos: bebidas, ervas, temperos, frutas, grãos, hortaliças, laticínios, mel, pães, biscoitos, etc. Feira Orgânica Parque Previdência Sábados, o dia todo Rua Pedro Peccinini, 88 - Km 12 da Raposo Tavares - Jardim Adhemar de Barros - São Paulo / SP - CEP - 05577-000 Produtos: bebidas, cafés,ervas, temperos, frutas, grãos,hortaliças, laticínios, mel, pães, biscoitos e processados diversos. Feira de Orgânicos do Mercado Central de São Paulo Sábados das 7 às 13 h Feira Livre de Produtos Biodinâmicos e Orgânicos Quintas-feiras das 7hs e 12hs Rua Cantareira - Centro de São Paulo - CEP - 02433-008 Rua São Benedito - bairro Alto da Boa Vista, em São Paulo, entre as ruas Américo Brasiliense e Alexandre Dumas Produtos: bebidas, ervas,temperos, frutas, grãos,hortaliças, laticínios, mel,pães, biscoitos e processados. VEG Armazém - Novo espaço de compras e serviços para sua saúde e bem-estar End.: Rua das Monções, 478 - Bairro Jardim Santo André - São Paulo - SP Tel.: (11)4437-2893 Site: vegarmazem.com.br/home/ Produtos: produtos naturais, integrais e orgânicos Produtos: hortaliças, frutas e legumes. Feiras Orgânica de Laranjeiras Cidade: Rio de Janeiro Estado: RJ Endereço: Praça Jardim Laranjeiras R. General Glicério, altura do n. 224. Bairro: Laranjeiras CEP: 22245130 Telefone: 21 91946867 E-mail: [email protected] Feira de Produtos Orgânicos e Naturais - MOA International Brasil Sábados das 8 às 13h Rodovia Castello Branco, km66,5 – Mairinque – SP Tel.: (11)4246-2211 13 13 CARTÃO POSTAL ESGOTO Por Filipe Dias O rio Pinheiros se move somente quando a SABESP quer. RIOS PINHEIROS E TIETÊ, ANTES GRANDES PALCOS DE COMPETIÇÕES AQUÁTICAS, HOJE, ESTAMPAMA POLUIÇÃO DA CAPITAL PAULISTA Dois grandes rios cortam a capital paulista. Pinheiros e Tietê separam o centro da cidade do subúrbio e já foram muito importantes para a economia de São Paulo inteiro. Principalmente no caso do Tietê, que ajudou, literalmente, na construção de todo o estado. Atualmente não é assim, os rios, agora, tem mau cheiro e águas turvas, nada lembram os tempos antigos. O Tietê nasce na Serra do Mar, em Salesópolis, e é dono de uma característica única, é um dos poucos rios do mundo todo que não correm em direção ao oceano, mesmo estando do lado da cidade praiana de Bertioga, ele segue para o interior, em direção ao Paraná. Em sua nascente, na reserva ambiental Parque Nascentes do Rio Tietê, a água brota 14 limpa e transparente. Porém, em Biritiba Mirim o estrago já começa a ser observados. Agrotóxicos e fertilizantes que são jogados pelas comunidades rurais da região mudam a química da água e fazem as plantas aquáticas se proliferarem além da conta e competirem o oxigênio com os peixes do rio. A situação complica de verdade quando as águas passam por Mogi das Cruzes, quando o rio recebe esgoto doméstico da cidade e de seus arredores, que chegam direto ao rio sem tratamento algum. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente, cerca de 60 toneladas de esgoto são despejadas na área por dia, e isso de maneira irregular. Depois disso o rio passa por São Paulo, recebendo mais dejetos irregulares e perdendo todo o oxigênio. O caso do Rio Pinheiros também é triste, antes palco de competições de remo, dos mais tradicionais clubes do Brasil inteiro como o Pinheiros, o Flamengo e o Fluminense, agora é uma espécie de canal, que o governo consegue mudar a direção das águas de acordo com a necessidade. Isso é possível graças a Usina Elevatória de Tração, que foi construída nos anos 1950, no encontro do Rio Pinheiros com o Tietê. A Usina, na época, bombeava a água do rio em direção à sua origem: o Rio Grande e o Guarapiranga. Mas em 1992, o procedimento foi proibido pela Resolução Conjunta SMA/SES 03/92, pois a poluição poderia contaminar toda a água do reservatório. Diante de tantos problemas, era evidente a necessidade de despoluir os rios. Em 1991, o então governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho incumbiu à SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) a tarefa de criar um plano de despoluição para o Rio Tietê. Com estudos anteriores do SANEGRAN (Saneamento da Grande São Paulo) a SABESP criou o Projeto Tietê, que atualmente, é o maior projeto de recuperação ambiental do país, segundo o Ministério do Meio Ambiente. No início do projeto, segundo a SABESP, o esgoto da capital paulista e da região metropolitana da cidade era despejado quase sem tratamento no rio. No ano de 2004, o percentual de águas tratadas já era superior a 60%, e atualmente, como conta o supervisor técnico Ricardo Escudeiro, os níveis são ainda maiores: “já está maior que 70 %, e a intensão é chegar a 90% até 2020”. Ele ainda explica que o processo de despoluição é demorado, porque as técnicas na área ainda são muito novas e estão em teste: “é tudo muito novo e é difícil saber o que dá certo”, atesta, e termina: “um dos problemas é identificar lugares onde o esgoto irregular é despejado no rio e combater este tipo de coisa”. O Pinheiros começou a ser despoluído sete anos após o Tietê, em 1998, porém, diferente do rio que nasce em Salesópolis, as primeiras técnicas de despoluição foram um fiasco, que representaram o gasto de quase 200 milhões com uma técnica de flotação. “Não dava certo, e ninguém admitia que não funcionava, continuavam investindo em um projeto falho, acho que por orgulho”, comenta o ecologista Alexander Kavaguchi. Atualmente, o Pinheiros recebe o mesmo tratamento que o Tietê, mas os níveis de oxigênio e de esgoto tratado despejado nas águas não melhoram. Kavaguchi atesta que tratar o esgoto não é suficiente: “não basta limpar, jogar água limpa, catar lixo do fundo. É preciso uma educação da população para não poluir a cidade. O que você (população paulista) joga nas ruas, também acaba caindo no rio, a chuva leva”. Os projetos de despoluição esperam trazer a vida de volta aos rios até 2030. Enquanto isso, as águas são impróprias para o uso, em uma das maiores crises hídricas que São Paulo já viveu. Na capital paulista o Rio TietÍ perde o aspecto de um rio, por causa das obras na margem 15 LIXO NOSSO DE CADA DIA reutilizar; é quase como um mantra para os envolvidos”,aponta Cristina. Cristina explica que a ideia, de separar o lixo produzido na praça de alimentação e usar os resíduos orgânicos para compostagem, nasceu após a lei nº 12.305 de dois de agosto de 2010, que regulamenta o tratamento que os resíduos produzidos devem ter em todo território nacional e o possível fim dos aterros sa nitários. As praças de alimentação do shopping servem em média 10 mil refeições diárias e geram, de acordo com Cícero Aquino, auxiliar de compostagem, de 800 quilos a uma tonelada de resíduos por dia. Cícero se orgulha em dizer que todo lixo é reciclado ou reutilizado de alguma forma. “É totalmente sustentável, tudo o que o shopping produz delixo a gente Projeto de shopping recicla.” O tratamento dos resíduos da capital paulista começa ainda com a equipe de limpeza, reaproveita o lixo os funcionários fazem a seleção do diário da praça de lixo e destinam às lixeiras corretas. Na alimentação, em um segunda etapa, o lixo reciclável passa projeto que reverte por mais uma separação e preparo para resíduos em o transporte. Ele é levado para uma emprego e alimentos cooperativa de reciclagem e a história do lixo reciclável acaba aqui, as próximas Em meio ao intenso trânsito na Avenida etapas do processo são somente para Rebouças, no bairro de Pinheiros, zona os resíduos orgânicos. oeste de São Paulo, uma iniciativa chama atenção. Uma horta, feita inteiramente Cícero é o responsável pela terceira de resíduos orgânicos, no teto de um etapa, consiste na transformação do lixo dos maiores shoppings da capital orgânico no material de compostagem. paulista, mostra que mesmo um lugar Ele explica que os resíduos entram em que é pautado pelo consumo, pode ser, uma máquina para serem moídos e também, sustentável. aquecidos e para que sejam adicionadas enzimas que aceleram o processo de O projeto nasceu em 2011, como conta a decomposição e transformação em assessora de comunicação do shopping adubo. Em condições naturais este tipo Eldorado Cristina Fernandes. Com o de processo pode levar até 180 dias, nome de“Recicla Mundo”,está sustentado mas com a adição do acelerador de em três pilares. “Reduzir, reciclar e compostagem acontece em minutos. “O que a natureza leva meses para fazer, a gente faz em 15 minutos”, aponta Cícero. Além do acelerador, outros dois produtos são usados: a enzima de ignição, que dá a temperatura responsável por fermentar o composto e a enzima de tratabilidade, responsável por eliminar os odores e “tornar o trabalho mais confortável”, segundo Cícero. Mirian Reis, outra auxiliar da compostagem, é quem cuida do material que sai da primeira máquina, já sem odor. Agora o composto vai passar por uma espécie de peneira, “para tirar algum pedaço de plástico ou qualquer outra coisa que fica e não é orgânica”, explica. Depois dos dois processos, o composto está quase pronto. Ele agora fica descansando para perder toda a humidade. As três enzimas de tratamento ainda estão agindo para garantir que o material fique totalmente seco. Por último, o composto é levado até o terraço do shopping, em caixas. Neste estágio, são plantados alimentos diversos, compondo a horta. São 2000 m² de área livre no telhado do Shopping, como esclarece o engenheiro ambiental Rui Signori, um dos idealizadores do projeto, porém, a horta ainda não ocupa todo o espaço. Atualmente são 400m², divididos entre verduras, temperos, ervas, flores e uma drogaria natural, com diversas plantas medicinais. “O plano é cobrir toda a área aberta, com plantas. Ainda estamos engatinhando, mas a proposta é fazer algo bem maior”, explica Rui. A horta, já está em sua 12ª safra, e já foram cultivados diversos tipos de legumes e verduras e toda produção é distribuída para os 420 funcionários do shopping. Em uma colheita de feijão, que rendeu 20 quilos de alimento, foi organizada uma feijoada para todos, conta a assessora de comunicação do shopping eldorado Cristina Fernandes:”Em junho, a colheita rendeu 20 quilos de feijão, 40 maços de couve, além de temperos. Os alimentos foram transformados em uma feijoada para os 420 colaboradores”. Além dos alimentos, as ervas também são muito apreciadas. O auxiliar de compostagem Cícero brinca: “se estiver com dor de cabeça, tem aspirina natural aqui, além de três tipos de boldo”. Ele ainda comenta, que o dono do shopping aproveita a safra de capim santo: “ele não vive sem o chá. Antes, ele bebida de saquinho, mas agora ele pede pra colher todo dia da horta”. Fora o projeto de reciclagem e uso do lixo para adubo , é importante salientar que a água utilizada para irrigar a horta é de reuso também. O shopping trata 40% de toda a água de seu esgoto para irrigar a horta e para as atividades de limpeza, como explica Cristina Signori, mulher de Rui e , também, idealizadora do projeto: “O tratamento da água ainda é algo novo, mas queremos conseguir tratar toda água do shopping, em um futuro próximo. A única água que não será de reuso, é a para beber”. Pioneiro na iniciativa, o Shopping conquistou em setembro o troféu de Ouro do Prêmio Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) 2014, na categoria Newton Rique de Sustentabilidade. 17 17 UM FUTURO SUSTENTÁVEL PARA A MOBILIDADE Por Filipe Dias Carros sustentáveis podem ser o futuro dos meios de transporte, mas a falta de políticas para tornaros preços acessíveis, além da pouca estrutura para veículos elétricos no país, dificulta que eles caiam no gosto do brasileiro. Veículos elétricos ou híbridos (com combinação de motor a gasolina e a eletricidade) ainda são novidade no Brasil.Segundo a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), estão catalogados na legislação brasileira cerca de 418 veículos. Segundo o site da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), a pouca quantidade seria explicada pela falta depolíticas de incentivo. Na Europa a realidade é diferente, 18.939 veículos foram matriculados no continente, somente no primeiro semestre de 2013, de acordo com o site da Embaixada Francesa no Brasil. Ainda segundo a embaixada, a França é o maior mercado de elétricos da Europa inteira, foram mais de oito mil veículos registrados no ano. O país alcançou a marca de 3,1% do mercado global de carros elétricos particulares, explicado pela grande oferta da montadora 18nacional Renault. Porém, o maior sucesso de vendas e todo o território europeu não é da montadora francesa, e sim na coreana Nissan. Lançado em 2010, o Leaf já somou mais de 100 mil unidades vendidas em todo mundo. Destas mais de 100 mil, 11.120 unidades foram comercializadas na Europa. A Nissan explica que o veículo só alcançou tal marca por conta dos incentivos fiscais e da infraestrutura que os governos europeus proporcionam ao mercado de elétricos. No Brasil, as políticas para facilitar a aquisição e melhorar o mercado para as montadoras de elétricos ainda são tímidos. Sérgio Gwercman, diretor de redação da revista Quatro Rodas, da Editora Abril, relaciona a baixa popularidade dos veículos ao baixo investimento do governo na área, para diminuir o preço final ao consumidor: “como o carro fica caro demais, o que reduz a demanda, as montadoras praticamente deixam de oferecê-lo no portfólio”. Para promover os veículos de emissão zero, as prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro apostaram em táxis elétricos. Em uma parceria com a Nissan, e empresas de energia como a Petrobrás, no Rio; e AES Eletropaulo, em São Paulo, que começou em 2012, alguns condutores de táxi receberam unidades do Nissan Leaf para um experimento de aceitação da população e de promoção da ideia sustentável. BMW I3 FOTO: 19 Filipe Dias Um Futuro sustentável para a mobilidade O Rio de Janeiro tem a maior frota de táxis elétricos, são 15 veículos na capital fluminense, que circulam entre os aeroportos Santos Dumont e Galeão, pelo Centro, Barra da Tijuca e pela Zona Sul. Em São Paulo a Frota é menor, 10 táxis totalmente elétricos rodam na cidade. Os pontos ficam na região do centro econômico da capital paulista. O taxista Marcelo Martinez utiliza o Nissan Leaf para trabalhar diariamente e destaca a qualidade do veículo: “Ele é confortável, silencioso e não polui. Hoje eu não troco por um carro a gasolina”. brasileiras, a incidência de imposto é bem alta”, diz Bueno e completa:” A categoria de taxação de importação dele é a mesma de uma Ferrari”. Além de táxis 100% elétricos, a cidade de São Paulo tem uma frota de 100 táxis híbridos, que segundo a Secretaria do Meio Ambiente poluem 40% menos que os modelos de táxi convencionais. Para os taxistas poderem ter um carro híbrido ou elétrico é necessário se cadastrar na prefeitura e esperar uma longa fila para conseguir o veículo, aponta Nelson Afonso da Silva, taxista que dirige um Toyota Prius. Ele destaca que o ponto mais positivo do carro é o de não ter que ser carregado na tomada. Taxi de Martinez, recarregando na concessionaria Nissan da Av. dos Bandeirantes. Martinez não revela valores, mas atesta é mais lucrativo ter um táxi elétrico: “o valor das recargas é mais barato que a gasolina”. Infelizmente, o Nissan Leaf não está disponível para o mercado convencional de veículos ainda. A previsão de lançamento, segundo a Nissan, era para este ano, mas não aconteceu. Marcelo Bueno, representante da marca, esclarece que não existe previsão de lançamento. “Por problemas estruturais nas cidades, por ele ser um carro importado e pelo governo ainda dar prioridade às fábricas taxista Nelson Afonso exibe orgulhoso seu taxi elétrico. O Prius, como conta o taxista, liga com o motor a gasolina e depois de 30 segundos dá a partida no motor elétrico, que funciona até a velocidade de 50 km/h. ̶ acima disso o carro volta a trabalhar com motor à combustão. Silva atesta que só existem vantagens em ter um táxi híbrido, do ponto de vista ambiental e também econômico: “o carro polui pouco, não faz barulho e é mais econômico”. Segundo o taxista, quando trabalhava com carro com motor à combustão, gastava cerca de R$ 60 de Etanol por dia. Assumindo que o combustível, há um ano e meio atrás, custava cerca de R$1,50 por litro, o custo diário era de R$ 90. Agora, o custo diário de abastecimento de Silva é 84% menor. “Eu abasteço a cada dois dias, R$ 30 de gasolina, uso cinco litros por dia”, aponta. O Prius, diferente do Leaf, não está no Brasil apenas para servir de táxi, também está disponível para o mercado convencional e qualquer um pode adquirir o veículo. O híbrido sai da concessionária por R$ 111.000 e o auto valor é justificado pelas concessionárias da Toyota, pelo alto valor de importação do produto. Outra opção de carro com baixa emissão de poluentes é o Ford Fusion Hybrid, que foi lançado no início de 2014 e é considerado o carro mais econômico do país pelo Inmetro. A Ford oferece o veículo como um dos tops de linha da montadora no Brasil, em seu portfólio, e a versão mais completa custa R$ 133.900, esmo com isenção fiscal do governo. Fábio Gavino, vendedor da Ford, explica que o veículo chega com o alto valor, por conta das taxas de importação: “esse carro vem do México, e não vem em quantidade grande, por isso sai caro”. Gavino ainda comenta que ele só sai da concessionária totalmente completo e o preço é compatível com os preços de outros carros luxuosos da marca. “Esse custa mais de R$ 130 mil, e o que é só a gasolina custa 126.900. Os preços são muito parecidos”, conta o vendedor. Ford Fusion Hybrid e Toyota Prius: Os híbridos são muito novos, mas já é possível observalos pelas ruas de São Paulo. 21 21 O BMW I3 está disponível para o mercado brasileiro desde julho. O único veículo 100% elétrico disponível no mercado brasileiro atualmente é o I3, da montadora alemã BMW. Ele começou a ser vendido por aqui no mês de julho, mas já roda na Europa desde 2013. Feito somente na Alemanha, o importado sai da concessionária por R$ 235.950, na versão “full” (completa) e por R$ 225.950. Renato Barbosa, representante de vendas da BMW Autostar, explica que a falta de incentivos fiscais é o a maior causa do alto valor do carro: “o governo tem uma boa política de isenção para híbridos, mas para os totalmente elétricos ainda não. Este carro (I3) era para chegar, custando R$ 170 mil e não mais de R$ 230 mil”. Barbosa relata que o carro é feito também por materiais reciclados em seu interior: “os bancos são feitos com 60% de pet reciclado e o interior das portas de uma fibra de uma madeira de reflorestamento, chamada Kenaf”. Além disso o enchimento dos bancos é feito com lã reutilizada. Ele conta também que a saída do carro ainda é pequena. “Ele é exclusivo da nossa concessionária e nós vendemos 11 I3 em São Paulo”, comenta. O representante de vendas relaciona a baixa popularidade da categoria de elétricos ao baixo investimento para promover os veículos no mercado brasileiro: “as pessoas ainda não acreditam na capacidade dos elétricos”, lamenta. O I3 é 100% elétrico, porém, também produz CO², em quantidades mínimas. Isso, porque o carro, além do motor à energia elétrica, tem um gerador à gasolina, que funciona como um extensor de autonomia. “Quando a bateria chega a 20% de carga, o gerador é ativado e mantém o carro por mais 110 quilômetros”, afirma Renato Barbosa. A tecnologia não para por ai, o carro ainda vem com um chip que fica sempre conectado à internet e permite controlar o carro, mesmo estando longe, por um aplicativo de celular. Outra coisa que a BMW oferece aos compradores do I3 é um aparelho chamado Wallbox, carregador rápido do carro. Em tomadas convencionais 110 volts, o veículo demora 15 horas para carregar totalmente a bateria; nas tomadas 220 volts, sete horas; já com o “Wallbox”, o tempo de recarga é reduzido para aproximadamente duas horas. Em contrapartida, as opções para carregar a bateria de elétricos e híbridos nas ruas são quase inexistentes. Estima-se que, atualmente, o Brasil disponha de 50 carregadores, o número não alcança nem 1% da quantidade de postos de gasolina. Em São Paulo, é possível encontrar carregadores em shoppings da capital e em algumas concessionárias da Nissan, porém, os pontos de recarga da montadora japonesa são só para os táxis elétricos Leaf. Os cinco pontos de recarga servem para apenas 10 táxis de toda capital, como expõe o coordenador de imprensa da Nissan Alexandre 23 Carvalho: “Esses carregadores são rápidos (recarregam 80% bateria em até 20 minutos) são usados para os taxistas do programa da prefeitura no qual a Nissan participa. Não é aberto a qualquer dono de elétrico. Ele necessita de um cartão para destravar o carregador”. A falta de carregadores, além da falta de políticas de isenção fiscal, é o principal problema apontado para justificar a baixa popularidade dos carros. O taxista Marcelo Martinez lamenta não poder sair da cidade de São Paulo com seu Leaf, porque não vai ter onde recarregar a bateria: “Quando a Nissan investir em pontos de recarga pelas estradas vai ficar melhor”. Com exceção da montadora japonesa, nenhuma outra montadora investiu em pontos de recarga rápida na capital paulista, nem dentro das concessionárias. Mesmo com estrutura ainda precária e com pouca propaganda para os carros sustentáveis, a possibilidade de um 24 carro elétrico brasileiro é possível. O NanicoCar, pequeno elétrico com “DNA” tupiniquim, sustentabilidade com valor acessível para o mercado do Brasil. Bruno Mase, representante da marca criadora do veículo, conta que o carro ainda não é produzido em série, mas a montadora espera conseguir fazer isto a partir de maio de 2015, com preço aproximado de R$ 20 mil. Segundo Mase, o carro ainda vai ir com um carregador a energia solar, para não gerar custo nenhum para o proprietário, a não ser a manutenção regular. “Este carro consome sete quilowatts, por carga, o carregador solar vai até nove. Assim dá para carregar sem influenciar na conta de luz”. Além do veículo elétrico, que é promessa para o próximo ano, a Nanico-Car já produz um carro movido inteiramente a gás natural, que polui menos, e chega ao consumidor por menos de R$ 20 mil. O NanicoCar deve começar a ser produzido para venda em 2015. A ciclovia da Av. Faria Lima é uma das mais antigas em São Paulo e também a mais utilizada. Fonte: CET SP CICLOVIAS NA CIDADE DOS CARROS A Prefeitura paulistana enfrenta um grande desafio: implantar espaços para um novo tipo de transporte e que conquistem uma população exigente São Paulo é uma das maiores metrópoles do mundo. Com seus mais de 11 milhões de habitantes, a cidade enfrenta dia a dia desafios de infraestrutura e de administração pública. E, visando a melhora de locomoção na cidade, a prefeitura decidiu por fazer mudanças no trânsito paulistano. Desde 2009 que a administração está em processo de implantação do projeto de espaços reservados para ciclistas na cidade. E, por mais que ainda haja dificuldades na aceitação da população, a prefeitura acredita que esse processo é uma mudança cultural e que a adaptação é gradativa. De acordo com a assessoria da CET “criação de novas ciclovias, assim como a implantação das faixas exclusivas para ônibus, à direita do viário, significa uma mudança de cultura no sentido de valorizar o transporte coletivo ou as alternativas que possam ser implementadas”. A CET acredita que cada vez mais pessoas irão aderir ao uso de ciclovias e ciclofaixas, já que é possível enxergarmos que a estruturação para automóveis particulares não tem sido Ciclovias na cidade dos carros A Prefeitura paulistana enfrenta um grande desafio: implantar espaços para um novo tipo de transporte e que conquistem uma população exigente Outras grandes metrópoles – como Nova Iorque, que conta com 675km de ciclovias – fizeram esta escolha não apenas por optimização de espaço nas ruas, mas também porque o uso aumentado de bicicletas causa impacto positivo significante no meio ambiente da cidade. Estes meios de transporte 25 não emitem, por exemplo, dióxido de carbono (CO²), que agride a camada de ozônio e deixa o ambiente mais quente. Além de também ser um veículo que não necessita de combustível e seu custo para produção é consumo é consideravelmente mais baixo se comparado a veículos motorizados. Hoje São Paulo conta com 180km de espaço cicloviário e, ainda de acordo com a CET, até o fim de 2015 mais 400km serão implantados. “A meta da gestão é implantar 400 km de ciclovias até o final de 2015. Os novos percursos deverão ser espalhados pela cidade conectados com outros modais de transporte, como terminais de ônibus, equipamentos públicos, escolas, praças, parques e locais de trabalho”, completou a assessoria. AV. PAULISTA: PALCO DA CIDADE Av. Paulista é o coração de São Paulo. O local é o mais movimentado da cidade e, por isso, a demanda de veículos é alta. No ano passado a avenida foi palco de vários protestos e alguns deles por acidentes envolvendo ciclistas. Há poucas semanadas a prefeitura abriu licitação para consulta pública para implantação de ciclovia na av. Paulista até o fim de 2015. O projeto visa otimizar o uso das ciclovias em toda a região central, pois será ligada a outras ciclovias que se espalham pela cidade. CICLOSAMPA A cidade tem feito parcerias com diversas empresas particulares para promover o uso de bicicletas. O mais recente acordo foi feito com o Bradesco Seguros e o Movimento Conviva e que arrega o nome de Ciclosampa. O projeto consiste em instalações de pontos para aluguel de bicicletas, mas que são bem diferentes. Elas não têm correia, não enferrujam, seus pneus não furam e já vem equipadas com luzes LED para o uso noturno. Projeto Ciclosampa visa o uso de bicicleta mais duradouras. Fonte: CET SP 26 Hoje, o paulistano já pode encontrar 15 pontos na cidade, que funcionam das 10 às 22 horas em todos os diasda semana e ficam nas regiões da Av. Paulista, Oeste e Sul. Os pontos aceitam apenas o uso de cartão de crédito, e por pessoas com idade acima dos 18 anos. O RENASCIMENTO DE UM PARQUE Prefeitura de Taboão da Serra lamenta supostos maus cuidados aos animais e promete garantir boa administração do Parque das Hortênsias Visão da Rua das Rosas, no interior do parque, que será restaurado pela prefeitura de taboão da serra. Fonte: Divulgação O Parque da Hortênsias, localizado na cidade de Taboão da Serra, é referência de lazer e programa familiar em toda a região. Isso porque o parque possui cerca de 48.000m2 de área verde e por ser o único a manter um zoológico em funcionamento. O espaço foi inaugurado em 1978, passando por várias administrações municipais. Sua entrada já foi cobrada e deixada de ser por inúmeras vezes. Porém, uma polêmica em Novembro de 2013 forçou a interrupção de seu funcionamento. Nesse mês cerca de 55 ativistas acusavam a administração do parque por maltrato a animais, depois de um casal de leões ter morrido no espaço e cerca de 10 espécies de peixes sumirem do lago. Claudia Onofre, de 55 anos e moradora da região a 7 anos relatou que “naquele dia ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. Sabíamos que o parque já não era o mesmo, mas nunca imaginamos que os funcionários fossem capazes de judiar dos bichos”. Claudia ainda comentou que os ativistas exigiram o fechamento imediato do parque para manutenção, através de petição. “Eles passaram nas casas da região com uma petição para assinarmos”, completou. A Prefeitura de Taboão da Serra informou, através da assessoria, que o espaço de zoológico do parque encontra- se fechado para visita desde março deste ano, que a manutenção do local pode levar dois anos e que todos os animais que se encontravam sobre cuidados da prefeitura foram transferidos para locais adequados a eles. Ainda de acordo com a assessoria, a prefeitura investiga toda a administração do local para esclarecer os cuidados feitos aos animais e à manutenção. Mas a preocupação ainda norteia moradores do município. Júlia Pereira, 16 anos, cresceu na cidade e sempre visitou o parque, quando criança. “É um absurdo a prefeitura fechar os olhos para as condições em que o parque se encontrava durante tanto tempo”, disse Júlia. “Se não havia condições de manter, deveriam ter tomado providências antes de animais morrerem”. A prefeitura garante que após a reinauguração do Parque das Hortênsias, “a administração será observada de perto, para que nenhum problema ou notícias tristes venham fazer parte novamente da história de um Parque tão tradicional e importante para região”. Nenhum funcionário do parque quis ser entrevistado. 27 TIBÁ A ECOVILA QUE CRESCE SOB A DIVERSIDADE HUMANA Por Monique Monteiro 29 Tibá A ecovila que cresce sob a diversidade humana Pra quem mora na cidade grande e está acostumado com transito, asfalto e buzina de moto, três horas de viajem pelo rodoanel é quase um sonho. Tanto que durmo os 300 km de São Paulo até São Carlos, todo. A estradinha de terra é coberta pelo mato alto e tem cheiro de chuva. O som das aves é tão nítido que quase me esqueço que estou apenas no interior - principalmente quando um falcão resolve pousar tão perto do carro. Mais quinze minutos e uma placa, escondida atrás das árvores tentando indicar o caminho, mostra: Ecovila Tibá. A porteira é velha de madeira quase podre, típica de fazenda antiga. Os cavalos interrompem a pastagem e quase consigo imaginar o que pensam ‘’ coitada dessa gente da cidade, se soubessem da missa a metade...’’. Estacionamos o carro e somos recebidos por lambidas calorosas e patas cheias de barro. Fiquei meio sem graça por tirar o pessoal da cama às 08h40 da manhã de um sábado, mas foi o jeito. A ideia de morar em um lugar de pouco impacto ambiental surgiu em uma conversa, em 2004, entre a analista de TI Gleise Segatto de Oliveira Teixeira, de 33 anos, seu atual marido Jeyson Teixeira,- atuais moradores da ecovila Tibá - e Diogo, um amigo de faculdade que estava voltando para São Carlos, cursar doutorado, que trouxe uma proposta antiga: montar um condomínio 30 de amigos que prese por qualidade de vida e sustentabilidade. Tibá A ecovila que cresce sob a diversidade humana Com a proposta aceita, era a vez de colocar em prática. Para que tudo desse certo, foram necessárias pesquisas, visitas e muitas conversas. Notou-se, então, que a grande dificuldade em concretizar a ideia, está no acordo de posse, loteamento e divisão de terras e herança, no caso de casais que já tenham filhos ou que pretendam ter, ‘’ a gente pensou em antes de procurar a terra, procurar pessoas jurídicas. Daí tiramos um grupo interno de pesquisas para encontra-las e encaixa-las nas nossas ideias. Queríamos um clube, não um título, por isso pensamos em posse compartilhada e conversamos até chegar na associação sem fins lucrativos de cunho associativo ‘’, explica Gleise. Baseados na teoria sobre o processo de inserção da autora de Creating a Life Together, Diana Leafe Christian, onde trata que o indivíduo precisa ser inserido ao meio em que pretende viver, para ser sócio- morador da ecovila Tibá, é preciso que haja vivencia na mesma - pois, engana-se quem acha que a expressão ‘’ condomínios ‘’, usada por Diogo, faz jus ao modelo da, cidade -, sendo assim, é necessário que futuro morador conheça a estrutura física da Tibá, que consiste em: MAPA DA ECOVILA TIBÁ 31 Horta, totalmente limpa de agrotôxicos, para consumo dos moradores da ecovila. Conforme o número de pessoas inseridas na ecovila aumenta, mais mudanças e renovações são necessárias pois cada um que chega traz um diferencial, ‘‘É como estarmos num barco e cada vez que uma pessoa entra, esse barco balança, daí temos que ajustar para poder continuar. E até hoje é assim’’, define Gleise. Para manter o barco estabilizado, foram criadas metodologias de convivência que consistem na separação de tarefas simples de rotina, como lavar louça e cozinhar, até as de manutenção e preservação de toda a ecovila, como cuidados com alimentação – horta e safra -, limpeza e planejamentos internos. Liberdade espiritual também entra na conciliação das metodologias e é uma das pautas de maior amplitude para todos os moradores, é importante que não haja conflitos a partir de diferenças religiosas e que todos estejam dispostos e abertos às possíveis discussões. Não é à toa que, para que o dia comece em perfeito contato com a natureza e com todos a sua volta, um ritual de harmonização é o primeiro passo: todos dão as mãos e num gesto quase íntimo de sintonia, entoam aquele famoso mantra: ‘’ aooooonnnnn, aoooonnn ‘ Temos uma tarde terapêutica onde recebemos pessoas de diferentes segmentos religiosos. Então tem gente que vem fazer Yoga, ler cartas, fazer massoterapia, gente que faz cabala ... ‘’, conta Gleise. De repente um morador expulsa de dentro de sua calça, o que seria um fi-Tibá A ecovila que cresce sob a diversidade humana lhote invasor de aranha armadeira, sem ser atacado. Permanecendo calmo, totalmente equilibrado e em sintonia com o ambiente leva o inseto para longe das crianças, que o seguem curiosas e, ao contrário do esperado, não aparentam sentir medo algum. Diferente de mim, que por ironia, ao ir buscar meu material fotográfico no carro, sou surpreendida por um cavalo que vem bastante irritado em minha direção. Segurei firma na porta do carro - confesso que minhas pernas tremeram nessa hora – e lembrei da harmonização que acontecerá mais cedo, o que foi minha salvação pois ele me encarou e como que em um aceno com a cabeça foi como se me dissesse para nunca mais duvidar da eficácia da harmonização e muito menos das vantagens de estar em sintonia com o meio ambiente. Resignificar o olhar acerca de como as coisas podem ser, não tem foco apenas no desenvolvimento sustentável mas também, e principalmente, na educação. Segundo um artigo escrito pelo pedagogo e educador comportamental, sobre Educação Sustentável, Prof. Roberto Dimas:A‘’Educação Sustentável é um novo conceito de educação, que tem como eixo central a formação do ser humano, fundamentada na vivência dos valores universais positivos, visa ao desenvolvimento de sua Inteligência Ética, através do despertar do Cérebro Ético... Para que essa inteligência se destaque é fundamental que o indivíduo vivencie os valores que se constituem numa linguagem universal, compreendida por todos. Isso o impedirá de se envolver em comportamentos de risco, além de ter um desenvolvimento de sua relação intrapessoal que garanta equilíbrio e saúde. Assegura também uma convivência interpessoal saudável, facilitando a comunicação, fortalecendo a tolerância e promovendo a inclusão. Garante também uma vida profissional mais produtiva, saudável e sustentável...’’. Um segundo fator crucial é a qualidade da educação. Não são apenas anos de escolaridade que garantem que todos tenham uma educação relevante, mas sim a combinação do conteúdo com vivencias e realizações reais, por isso a integração de princípios, valores e práticas acabam sendo tão importantes quanto a quantidade. Como diz Paulo Freire “Se estivesse claro para nós que foi aprendendo que aprendemos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, em que variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzam cheios de significação” Encontrar uma escola que continue o trabalho educacional construído na ecovila, é tarefa difícil para os pais que moram, na ecovila, com filhos pequenos e trabalham na cidade. As dificuldades começam na busca por uma escola que siga os mesmos pensamentos sustentáveis, e embora seja encontrada é de difícil acesso. A alternativa então seria contratar uma educadora em tempo integral ou matricula-los em escolas particulares o que não exclui nenhuma das dificuldades já citadas e ainda apresenta o agra vante financeiro. É importante ressaltar que arquitetar 33 Tibá A ecovila que cresce sob a diversidade humana uma ecovila é um projeto a longo prazo, portanto é indispensável que sejam definidos os equipamentos de maior prioridade e que possam gerar qualquer tipo de renda para que a mesma possa se auto sustentar, e que hajam prévias de devolutivas a partir do que já foi préestabelecido e investido. Outra maior dificuldade encontra-se na sustentação da redução de danos ambientais. Na aplicação de recursos para a compra de materiais necessários, para construções de cisternas, bio fossas, aparelhos para irrigação de horta e agrofloresta, manutenção de todo o sistema agropecuário, de permacultura entre outros. Manter esse tipo de funcionamento não custa apenas dinheiro, mas também exige tempo e maior atenção e estudo quanto a elaboração desses sistemas. Nesse caso, as atividades econômicas mais adequadas são: a compostagem dos resíduos orgânicos – concepção de adubo -, reaproveitamento de água não necessariamente apenas pelo uso de cisterna, mas também na reutilização de água usada em limpezas de rotina , geração de energia fotovoltaica – uso de telas para captação de luz solar- e cultura de hortaliças – para manter o solo rural. Em relação a arquitetura, os mesmos critérios já citados também devem ser seguidos. Todos os projetos para futuras construções, passam por aprovações em uma comissão especializada formada por todos os moradores, onde é decidido qual é a maneira mais 34 adequada de ser colocado em pratica, e que utilize técnicas de bioarquitetura – construção sustentável - , materiais renováveis e que tenham baixo investimento. Tais como: construção com terra, bambus, energia solar para aquecimento, energia eólica, captação e armazenamento de água dos telhados, reaproveitamento das águas servidas – chamadas águas cinzas, ou seja, não industrial ou completamente tratada - e os já citados. Outra alternativa para diminuir custos é a utilização da ‘’ moeda solidária’’. Esta moeda, característica da ecovila Tibá, é a criação de uma conta corrente que cada morador disponibiliza para debitar ou creditar quantias, sem a representação de valores em papel. Se um morador precisa de ajuda na horta ou em alguma manutenção da casa, basta acertar um valor com outro morador que esteja disponível a ajudalo e autorizar assim, um débito na conta de quem recebe e um crédito na conta do prestador. Esse sistema também pode ser utilizado para produtos e serviços prestados por um grupo, ‘’ a horta comunitária, por exemplo, pode contratar pessoas para as colheitas e as pessoas podem alugar seu quarto de visitas para receber um estagiário para trabalhar no reflorestamento. Ou então, pode ser feito um rateio para custear as coisas da marcenaria. ‘’, explica Gleise, ‘’Serve para incentivar a participação de todos nas trocas, e que ninguém só receba ou só faça favores. ‘’, completa. Esse sistema também ajuda na administração da renda, evitando possíveis gastos desnecessários. RECICLE MAIS, PAGUE MENOS Projeto da AES Eletropaulo beneficia mais de 4,5 mil clientes Em 17 meses a AES Eletropaulo já investiu mais de R$ 2 milhões no projeto Recicle Mais, Pague Menos que incentiva pessoas a trocarem materiais recicláveis como metal, plástico, vidro ou papel por desconto na conta de luz. O cliente pode se cadastrar em qualquer um dos oito pontos de coleta, para tanto, deve levar a conta de energia. O cadastro será identificado por meio de um cartão necessário para futuras coletas, que serão pesadas e precificadas de acordo com a tabela praticada pelo mercado de reciclagem. Não há limite para descontos, o que significa que as contas podem ser descontos, o que possibilita que as contas podem ser zeradas. Segundo Mariana Rodrigues, assessora da AES, 1,7 mil toneladas de resíduos recicláveis foram coletados nos pontos da área de concessão da distribuidora. Esse total representa mais de 4,5 mil clientes participantes do projeto e 6,5 toneladas de gás carbônico (CO2) que deixaram de ser emitidos. Foram concedidos mais de R$ 101 mil de bônus na conta de energia. A iniciativa faz parte do Programa Consumo Mais Inteligente, que além da comunicação no entorno dos pontos de coleta sobre como efetuar a separação de maneira adequada, o projeto realiza atividades junto a escolas para mobilizar as crianças e educá-las sobre o tema. Neste ano isso foi feito por meio de gincanas e uma ação com álbum de figurinhas na qual a cada dois quilos de resíduos recicláveis a criança ganhava duas figurinhas. 35 Grupo de rotarianos do Leste no posto de recolhimento do Programa Recicle mais, pague menos Atualmente existem oito pontos de coleta, sete na cidade de São Paulo e um em Barueri.Confira os pontos de coleta: Jaguaré (São Paulo capital): Rua Floresto Bandecchi, 156, na Sociedade Benfeitora Jaguaré Horário de funcionamento: Segundas, quartas e sextas, das 09h às 12h30 e das 13h30 às 16h Águia de Haia (São Paulo capital): Av. Águia de Haia, 2636, no Assaí Atacadista Horário de funcionamento: terça à sábado, das 10h às 13h e das 14h às 17h. Guaianases (São Paulo Capital): Estrada Dom João Nery, 4.031, no Assaí Atacadista Horário de funcionamento: terça a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 17h. 36 36 Barueri (SP): Av. Marginal Direita (s/n), no Jardim Paulista, ao lado da UBS Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 09h às 12h30 e das 13h30 às 16h. Heliópolis (São Paulo capital): Rua Coronel Silva Castro, altura do n° 202 Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 09h às 12h30 e das 13h30 às 16h. São João Clímaco (São Paulo capital): Rua São João Clímaco esquina com a Rua Luís Abodanza Horário de funcionamento: terças e quintas, das 09h às 12h30 e das 13h30 às 16h. Aos sábados, das 9h às 12h30h. ARQUITETURA VERDE A busca por alternativas para salvar o planeta tem dado à sociedade soluções criativas, principalmente no ramo da construção civil. O século XXI acarretou à humanidade quantidade incontável de tecnologias e inovações estruturais. Vamos desde computadores que antes ocupavam uma sala inteira e que hoje cabem na bolsa, a estudos para a cura da paralisia. Avanços na medicina, na sociedade e em toda estrutura de rotina têm alterado a forma de o homem lidar com a vida natural do planeta. Durante um grande período essa corrida tecnológica custou caro para a natureza, e ela assistiu a capacidade destrutiva que a civilização tem. Mas também viu que temos criatividade para inovar e reconstruir. Por isso entramos neste século otimistas e mais preocupados do que nunca com a forma que lidamos com o meio ambiente. Percebemos antes que fosse tarde o quanto dependemos dos recursos naturais para sobrevivência e até para o progresso humano. Então profissionais estudam a cada dia como podemos desenvolver um relacionamento saudável com o planeta, usar seus recursos e aproveitar de sua diversidade sem destruí-lo. Especificamente olhando para as nossas habitações, vários arquitetos e engenheiros da construção civil passaram a procurar soluções criativas e seguras para edificações cada vez mais ecologicamente corretas. Desenvolveram materiais de construção reutilizáveis, otimizaram os espaços para receberem mais luz natural, usaram da tecnologia para beneficiar a natureza e viver em paz com ela e por aí vai. São anos de pesquisas, especificamente desde 2000, quando arquitetos americanos se preocuparam em fazer com que as construções interagissem com a natureza. Mas então os horizontes se expandiram. Os projetos não podiam apenas ser ecologicamente corretos, eles tinham de ser acessíveis e tinham que contribuir para a sociedade como um todo. Os projetos precisavam ser completos. A construção de um arranha-céu tinha de ir além de ser não-agressivo à natureza, ele tinha que ser o mais barato possível e beneficiar a todos, na medida do possível. Hoje temos vários recursos que contribuem para a natureza, mas as verten tes de precificação e acessibilidade ainda estão por ser transpostas. Um desafio que engenheiros e químicos estão dispostos a enfrentar. Estes profissionais acreditam que tudo o que pode beneficiar para a diminuição do impacto ambiental, deve ser democratizado e utilizado por todo o planeta porque, de acordo com eles, se toda a sociedade trabalhar em harmonia, então é possível acreditar na reconstrução da convivência pacífica entre homem e natureza. Por Lucas Phelipe 37 NÃO APENAS UM VETOR DE SUSTENTABILIDADE Em conversa com Giovanni Campari, de 37 anos e professor de arquitetura da Faculdade Belas Artes em São Paulo, foi possível observar que a sustentabilidade vai além dos parâmetros ambientais, invadindo os campos econômicos e sociais. “Hoje um material de construção ecologicamente correto custa muito caro, e isso dificulta na aquisição do mesmo para a construção civil”, disse Giovanni, ao lembrar também que não é necessário apenas o desenvolvimento de tecnologias para a confecção destes materiais – que ainda custam caro – mas que é preciso a especialização de mão de obra capaz de manusear tais artefatos. “Enquanto não nos preocuparmos em investir seriamente no setor de educacional de edificações, e encararmos dois pilares importantes da sustentabilidade, que são 38 ‘econômico’ e ‘social’, ainda estaremos embargados em construções rusticas feitas de tijolo e concreto.” A maior preocupação hoje está não apenas em procurar alternativas sustentáveis para a construção. Estas pesquisas devem acarretar à sociedade estabilidade econômica e igualdade social. A sustentabilidade, por exemplo, deve se iniciar na educação, que é a fundação para mudanças ecológicas e permanência na conscientização no futuro. E não só isso, para o progresso da construção civil, é necessário que a economia do país esteja estável, para que o mercado arquitetônico seja bem sucedido. E ainda a sustentabilidade deve desenvolver a igualdade social, fazendo com que os materiais ecológicos não sejam símbolo de status, mas de crescimento social em um país inteiro. Foi pensando nisso que projetos brasileiros como o de construir casas com garrafas PET e barro nasceram. Pesquisadores têm se dedicado em descobrir formas de não destruir o planeta com nossas necessidades mas, de acordo com Giovanni, autoridades mundiais devem passar a se preocuparem em transformar noções de sustentabilidades a partir da geração mais nova, que passa a viver em um ambiente onde nada pode ser descartado sem motivo. “Não podemos fechar os olhos para a educação, quando ela é um vetor indispensável para o desenvolvimento da arquitetura sustentável”, completou Giovanni. Por Lucas Phelipe O uso de placas solares em residências é o meio que gera maior custo-benefício à quem adere. Fonte: Divulgação TECNOLOGIA A FAVOR DA NATUREZA Por Lucas Phelipe São vários os exemplos de junção da tecnologia com a arquitetura para beneficiar a sustentabilidade. Apesar de esses materiais parecerem extremamente agressivos para o meio ambiente, especialistas encontram formas de fazer com que eles contribuam para a arquitetura. O avanço tecnológico ajudou principalmente no desenvolvimento da reutilização de água e redução de energia solar. As soluções vão de coisas simples até aparelhos gigantescos. Um exemplo é o desenvolvimento de placas para captação de energia solar. Hoje o mercado oferece dois tipos delas, a que capta o calor para aquecimento de água e a que transforma os raios ultravioletas em eletricidade. Apesar de o investimento ser relativamente alto para uma residência, este valor é revertido em futuras contas de consumo de energia. Diversas partes do mundo têm investido sem medo nesta tecnologia, pois acreditam que podem ter retorno financeiro a longo prazo. Placas solares são um ótimo exemplo de sustentabilidade completa. Elas evitam o consumo excessivo de energia, dispensando construção de mais centrais de geradores de energia; revertem em economia financeira, já que quem opta por esta solução consome menos energia das empresas que a fornecem; e pode, finalmente, democratizar a energia elétrica na sociedade, levando o benefício a lugares onde as usinas elétricas não 39 Projetos audaciosos criam casas ecologicamente corretas que oferecem tanto conforto quando qualquer outra morada conseguem alcançar. Outro exemplo são as centrais de tratamento de água caseiras. Muitas residências nas metrópoles – principalmente em condomínios - resolveram implantar a solução para uso de água da chuva para piscina, torneiras de cozinha e descarga de vaso sanitário. As centrais de tratamento não ocupam muito espaço e coletam principalmente água da chuva para ser reutilizada. Esta água é chamada de “água cinza”, ou seja, que não serve para o consumo humano, porém pode ser útil para regar jardins ou lavar carros, por exemplo. Mas ainda existem centrais que conseguem transformar água contaminada em potável, ideal para se consumir. Este recurso também exemplifica bem a noção de sustentabilidade inteira, pois diminuem o consumo de água que vem 40 dos mananciais e são distribuídos por empresas de saneamento e beneficiam em dois aspectos: ambiental e econômico; ainda alcança lugares onde não existem mananciais de água doce para coletar água do solo e trata-la para o consumo humano. Infelizmente, em aspecto social, estas tecnologias ainda não foram popularizadas e se tornado acessíveis. Mas projetos sociais têm se preocupado em levar estes benefícios a lugares que precisam e que podem ter acesso a recursos básicos de saneamento. Existem ainda outras tecnologias das quais a arquitetura tem se beneficiado para desenvolver projetos como produção de tijolo com garrafas PET, telhas que absorvem o calor para aquecimento de água ou até teto solar para minimizar consumo de energia durante o dia. Arquitetura Verde Brasil um passo atrás Tem sido uma verdadeira “Corrida do Ouro” em todos os países para reverter impactos negativos que a sociedade causou à natureza. Integrantes do G20 (Grupo com 20 países mais desenvolvidos) investem pesadamente em recursos para pesquisas em materiais que podem transformar a construção civil. Ainda existem alguns que passaram a incentivar sua população a utilizar de alternativas sustentáveis em suas residências. Japão e os Estados Unidos criaram programas que dão descontos nos impostos para quem investir em estruturas de captação de energia solar em suas casas ou empreendimentos. Porém no Brasil ainda não é feito muito. Temos iniciativas de empresas particulares que premiam empreendimentos sustentáveis e outras que incentivam a instalação de cisternas nas residências. Mas o governo ainda não se manifesta neste campo. “Ainda estamos engatinhando neste aspecto, apesar de já alcançarmos uma melhora considerável”, comentou Giovanni ao lembrar que o Brasil ainda é um dos poucos países que utilizam em suas construções concreto bruto e tijolos de barro, mesmo em grandes construções. 41 Giovanni ainda lembrou da nova alternativa que os EUA encontraram para as construções de prédios. “Funciona como uma espécie de ‘Lego’. As construções são pré-moldadas em fábricas, e os prédios são construídos com materiais mais adaptáveis e mais baratos que o concreto como um brinquedo de montar”, e esta é uma alternativa prática para países como o Brasil, que buscam solução para impactar menos no meio ambiente com suas construções e otimizar o acesso a projetos de habitações populares, como a COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação). “Estas alternativas são excelentes para construção de casas populares. Usam materiais como o aço, que demanda mais energia na produção, mas que tem reutilização 42 mais eficiente comparado ao concreto”, completou Giovanni. Mas ainda é necessário lembrar que o Brasil ainda não alcançou o patamar no desenvolvimento sustentável, não devido à falta de recursos tecnológicos, mas por falta de mão de obra especializada. Giovanni ainda lembrou que o Brasil precisa investir no desenvolvimento educacional, pois estas soluções necessitam de mão de obra especializada. “Como dito anteriormente, a sustentabilidade começa na base, que é a educação. Porque dela se desenvolve conscientização econômica e ambiental, e é por aí que precisamos começar”, finalizou. Royal Center, em Porto Alegre: modelo de construção verde Foto: Internet Construa sustentável Edifique sua casa com opções de materiais que não agridem o ambiente 1 – Telhado com isolamento térmico: É fácil. Basta apenas pintar os telhados de branco e assim evitar a absorção de calor. 2- Pisos recicláveis feitos de pneus são duráveis e resistentes. Perfeitos para os quartos da sua casa. 3 – As telhas de fibra vegetal também garantem o isolamento térmico, além de ter custo acessível. 4 – Lâmpada de LED: tem vida útil maior que a da lâmpada incandescente, além de consumir 80% menos energia. 5 – Tintas incomodam, principalmente pelo cheiro. Por isso desenvolveram uma tinta que tem baixa concentração de compostos orgânicos, diminuindo o cheiro e agredindo menos o meio ambiente. 43 Dicas Sustentáveis UMA HORTA EM MINHA CASA Projeto de grupo da Universidade de São Paulo, com ligação ao Internacional Design para o Desenvolvimento Social, visa ensinar como construir uma horta vertical de baixo custo. Depois de uma visita à comunidade de Dois Palitos, em Embu das Artes, na Grande São Paulo, um grupo de pessoas ligado ao IDDS (Internacional Design para o Desenvolvimento Social) criou um manual para a construção de uma horta vertical, de garrafas pet, com o objetivo de melhorar a vida dos moradores da comunidade. A ideia surgiu depois que o grupo constatou que o gasto com alimentos, incluindo temperos e ervas comprometia, em muito, o orçamento das famílias da comunidade. O manual ensina a fazer dois tipos diferentes de hortas verticais, que cabem no quintal, e até mesmo dentro de casa. Elas têm custo de até R$ 10. A horta de “serpente” leva oito garrafas pet de dois litros, cinco metros de cordas, um pedaço de mangueira de dois metros e meio e arame, para amarrar a estrutura. Além de pedrinhas, terra, sementes e mudas. O custo total, analisando os preços dos materiais em depósitos, sai em média por R$ 07. A outra horta, “cisne”, leva menos garrafas pet, cinco. Porém, na lista de materiais para esta horta, está uma taboa de madeira de aproximadamente um metro, onde as garrafas serão afixadas por pregos, outro material que a horta pede. O resto dos materiais é igual aos da primeira, porém, em menor quantidade. O manual ainda ensina como fazer a compostagem de maneira correta para as hortas verticais. E pode ser encontrado no site da Universidade de São Paulo. Dicas Sustentáveis PALLETS Sua nova opção sustentável para decoração Geralmente os pallets não são muito apresentáveis, principalmente quando os vemos em depósitos ou feiras. Mas eles se tornaram boas opções de decoração para ambientes compactos, principalmente. Por isso designers de interiores encontraram soluções criativas para reaproveitar este utensílio tão desajeitados: 1 - Estantes para TV: quando não há espaço nem opção criativa para modificar a sala, a estantes para tv de pallets é eficiente e criativa, ótima para apartamentos. 2 - Caixas de feira na sua biblioteca: para um design mais criativo e moderno, o uso dessas caixas pode ser a solução mais em conta. Caixas de feira são totalmente adaptaveis 45 Como é realizado o descarte de todo lixo? Arthur Neves - O hospital realiza a separação dos materiais recicláveis no abrigo de resíduos. Sendo assim, após recebermos os resíduos, os separamos em alumínio/ papel/ papelão/plástico/ sucata metálica. A partir daí, cada material seguirá o próprio fluxo na cadeia de reciclagem. O que é feito com o material não reciclável? AN - Os resíduos comuns, que não são recicláveis, são enviados para aterro do grupo ESTRE (Estrada Araçariguama Ambuitá - Itapevi). Já os resíduos infectantes, que apresentam risco de patogenicidade, são encaminhados para incineração na empresa SILCOM. Nos últimos anos, houve mudanças na maneira de realizar a reciclagem? AN - Certamente com o passar do tempo surgem novas tecnologias de reciclagem. Exemplo disso é a reciclagem de pilhas e baterias. Tratase de um processo feito pela empresa SUZAQUIM, que recicla, trata e utiliza esses resíduos para a produção de sais e óxidos metálicos. De certo modo, pode-se dizer que um dos fatores preponderantes para o surgimento deste mercado foi o surgimento de legislação (PNRS 2010) que previa como deveria ser feita a logística reversa destes resíduos, impedindo que houvesse contaminação do meio ambiente. Sendo assim, pode-se dizer que a maneira de realizar reciclagem é dinâmica, sendo regida pela legislação vigente, bem como das tecnologias existentes no mercado. 46 E PARA ONDE VAI T Durante todos os dias, centenas de pessoas circulam por um hospital. É uso de seringa para um lado, luvas para o outro, mas afinal, onde vai parar tudo isso? A revista Gaia TODO ESSE LIXO? conversou com o Coordenador de Resíduos no setor de Meio Ambiente do Hospital São Paulo, Arthur Neves, para entender como todo este material é descartado. O que o descarte incorreto pode provocar ao meio ambiente? AN - Há inúmeras substâncias tóxicas nos resíduos que apresentam grande risco ao meio ambiente se descartadas inadequadamente. De um modo geral, os principais riscos são a contaminação do solo e corpos d’água, prejudicando as condições em que habitam os seres deste habitat e o próprio homem que se utiliza destes recursos para sobreviver. Há uma empresa terceirizada para realizar este serviço? AN - A empresa ECOURBIS, que possui a concessão para coleta e destinação de resíduos do serviço de saúde em algumas regiões do município de São Paulo, realiza esse serviço para os resíduos infectantes e químicos gerados no HSP. Já os resíduos comuns são coletados pela empresa Isotec Ambiental. Proporção entre os resíduos comuns, infectantes e recicláveis gerados nos Hospital São Paulo (Outubro/2014) 47 EMPREENDEDOR MIRIM A ideia de Vanis Buckholz em recolher lixo reciclável no bairro onde mora, surgiu quando aprendeu sobre a importância de reciclar em uma aula no ‘’ Dia da Terra’’, em sua escola na Califórnia, ESTADOS UNIDOS. Após ficar impressionado com o que podia fazer com seu lixo e a professora o ter desafiado , junto com seus colegas de classe, a fazer a diferença no planeta, o garoto começou a reciclar em casa. E usando uma bicicleta passou a recolher, também, o lixo de seus vizinhos. O negócio de reciclagem deu tão certo que com apenas 7 anos , e com a ajuda de seus pais, Vanis fundou uma empresa chamada MyRecycler que hoje – três anos depois – utiliza um caminhão para conseguir recolher todo o lixo, não só de seus vizinhos mas também de empresas do seu bairro. Como toda empresa a MyRecycler gera lucros e, mesmo que não seja tão alto, 25% são doados à uma instituição dedicada a crianças sem- teto chamada Project Hope Aliance. ‘’Sou um garoto de muita sorte!’’, afirma. 48 Vanis Buckholz e o seu carrinho de resíduos sólidos Fonte: Divulgação UMA GOTA ACALMOU MEU CORAÇÃO Finalmente São Pedro lembrou da gente, pensei. Depois de 7 meses sem cair uma gotinha de chuva, cogitei a possibilidade de pedir a São Longuinho que a encontrasse - vai ver que ela se perdeu lá em cima, mudou de rota, quem sabe? Os olhares apontaram para o céu, esperançosos. São Paulo parou, como de praxe em dia de tempestade, mas não houve stress. Em meio ao transito caótico, as janelas abertas mostravam o alivio. Teve gente que sorriu, cantou e até dançou. Alguns tentaram se proteger com o paletó, saco plástico, papelão mas não teve jeito. E talvez, no fundo, 49 Uma gota acalmou meu coração a gente nem quisesse que tivesse mesmo. A chuva era uma trégua. Trégua para os que tinham o peito alagado, coitados, de tanta agonia por não saber o fazer, ou pior, o que beber. Foi trégua para as crianças que saíram chutando enxurrada, dando risada, já que a água, agora, igualava tudo como tinha de ser. Quem sabe assim, Alckmin decide logo o que fazer. Em alguns lugares, teve gente que jura que choveu canivete, caiu toró, o bastante pra nunca mais passar sede. Pra nunca mais passar mal tomando aquela água que mais 50 parecia leite - ou as vezes até barro. Outras disseram que viram levando tudo o que via pela frente. Levando casa e até parente. Fiquei chateada. O consolo foi saber que pelo menos essa chuva amenizou um pouco a seca que estava. E pelas estradas da nossa São Paulo corria a esperança de que, se não pelo nosso companheiro Alckmin, talvez a chuva, mesmo com toda sua bravura, levasse com ela memórias de meses difíceis e as substituíssem por horas mais alegres. 51 52