MATEMÁTICA BÁSICA E CONSUMO SUSTENTÁVEL
NUM PLANO CONTEXTUALIZADO: UMA RELAÇÃO
POSSÍVEL
Enyton Rodrigues Guimarães (UNICID) *
Resumo
O propósito deste artigo é apresentar a relação da matemática básica com a
sustentabilidade e a qualidade de vida. Nesse sentido, procura-se alinhar os conteúdos
de maneira que, a partir da simplicidade dos conceitos, possam-se explorar, com
segurança, problemas contextualizados e contribuir para um maior equilíbrio entre o
indivíduo (corpo, mente) e a sociedade, por meio de atividades a serem desenvolvidas
com alunos a partir do 9º ano do Ensino Fundamental.
Palavras-chave: Matemática. Consumo sustentável. Sustentabilidade. Qualidade de
vida. Direito à educação.
Abstract
The purpose of this paper is to present the relation of basic math to sustainability and
quality of life. In this sense, we try to align the content in a way that, from the
simplicity of the concepts can be explored safely contextualized problems and
contribute to a better balance between the individual (body, mind) and society through
activities to be developed with students from 9th grade of elementary school.
Keywords: Mathematics. Sustainable consumption. Sustainability. Quality of life.
Right to education.
Introdução
O consumo sustentável, sem desperdícios, gera economia financeira, que por
sua vez, liberta as pessoas dos empréstimos e financiamentos, propiciando que possam
viver livres dos tormentos dos juros altos, atentando à melhor qualidade de vida, tanto
*
Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Cidade de São Paulo, UNICID. Licenciado
em Matemática pelo Centro Universitário Assunção, UNIFAI. Docente no Centro Estadual de Educação
Tecnológica Paula Souza.
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do ponto de vista individual (equilíbrio entre corpo e mente), quanto coletivo (vida em
sociedade).
Este artigo propõe uma visão macro da interdependência da sustentabilidade
ambiental em relação à matemática e a qualidade de vida, sendo que não é pretensão
deste artigo tratar os conteúdos de forma isolada, mas apontar que, por meio de
conceitos simples, os professores podem levar os alunos a conceber os conhecimentos
relacionados à matemática e ao consumo de forma mais ampla, explorando temas
transversais, além da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.
Com base nessa discussão, não obstante aos pensamentos isolados em relação à
sustentabilidade, pretende-se evidenciar os conceitos de determinados conteúdos, que
julgamos imprescindíveis, tais como: frações, equivalência, ordenação, equações do 1º
grau, grandezas proporcionais, porcentagem, área de polígonos, estatística descritiva,
destacando-se a importância desses conceitos em relação aos temas transversais,
contemplados em problemas contextualizados.
Pretende-se, ainda, identificar os conhecimentos prévios dos alunos em relação
aos conteúdos mencionados anteriormente, além das habilidades e competências, as
quais se espera que os alunos desenvolvam, com as atividades propostas. Desta forma,
julgamos ser possível revelar aos alunos a importância da linguagem e da escrita na
interpretação de problemas, promovendo a maturidade e uma nova visão conectada do
mundo em que vivem, garantindo-lhes um crescimento intelectual e crítico, inserindo-os
nas diversas áreas do saber.
1 Referencial teórico
1.1 Sustentabilidade ambiental
O conceito de sustentabilidade é complexo. Guedes (2015) conceitua
sustentabilidade como uma característica ou condição, de um processo ou de um
sistema, que permite sua permanência em certo nível, por um determinado prazo. Nas
últimas décadas, este conceito tornou-se um princípio, pelo qual, o uso dos recursos
naturais não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras.
"Sustentabilidade também pode ser definida como a capacidade do ser humano interagir
com o mundo, preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais
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das gerações futuras” (GUEDES, 2015, p. 67-68)
Nunes (2008) define sustentabilidade ambiental como a habilidade pessoal,
grupal ou organizacional de manutenção de um ambiente, buscando impactá-lo,
negativamente, o mínimo possível. Assim, a instrumentalização desse conceito
pressupõe o convívio harmônico do homem com o meio e com os recursos da biosfera.
Nesse contexto, de preservação e convivência harmônica do homem com o
meio ambiente, emerge o conceito de consumo sustentável, que pressupões o consumo
consciente, também chamado de “consumo verde”, “consumo ético” ou “consumo
responsável”. Essa forma de consumo é aquela em que o consumidor, além de procurar
melhor qualidade e preço, “inclui em seu poder de escolha, a variável ambiental, dando
preferência a produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, tanto na produção,
quanto na distribuição, no consumo e no descarte final” (BRASIL, 2005, p. 18). Essa
postura remete a uma nova proposta de política ambiental.
Dentre os diversos aspectos de que trata a sustentabilidade ambiental, daremos
ênfase ao consumo sustentável evidenciando conteúdos matemáticos na resolução de
problemas contextualizados. Partindo da consciência à prática relacionada aos diversos
grupos de consumidores, iniciaremos esta etapa apresentando algumas atitudes que
fazem a diferença.
1.1.1 Água
Segundo Cavalcanti (2011), o consumo mundial de água aumentou cerca de
seis vezes no século XX, principalmente devido ao elevado crescimento populacional e
ao uso indisciplinado da água. Dessa forma, o desperdício e a contaminação, devido à
falta de saneamento básico em algumas regiões, vêm dando subsídios a previsões de
que, em 2050, uma em cada quatro pessoas viverá num país com problemas de
desabastecimento de água.
1.1.2 Lixo
A palavra lixo se origina do latim lix, que significa cinza. Segundo o SEAC-SP
(2015), lixo é qualquer resíduo originário das atividades humanas ou produzido pela
natureza, em aglomerações urbanas. No dicionário, lixo se define como sujeira,
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imundície, algo inútil e sem valor. Na linguagem técnica, é sinônimo de resíduos
sólidos e é representado por materiais descartados pelas atividades humanas.
Nesse contexto, nada mais responsável, do que tentarmos produzir menos lixo,
pois resíduos domésticos jogados a céu aberto ou em aterros irregulares provocam
contaminação nas águas subterrâneas e poluem o ar com gases tóxicos. Por conta disso,
o ideal é que se evite, na origem, que o lixo seja produzido, podendo recusar
embalagens desnecessárias, reaproveitando sobras de alimentos e preferindo os mesmos
a granel. Quando isso não ocorre, o ideal é aproveitar embalagens, fazer doações de
materiais, dentre outra ações.
1.1.3 Energia
Para Cansian (2006), a palavra energia se origina do grego ergos que
significa trabalho. O conceito de energia, nas Ciências Físicas está relacionado à
capacidade de qualquer corpo, uma substância ou um sistema físico produzir trabalho,
ação ou movimento. A maioria das fontes de energia tem grande impacto no meio
ambiente, sendo a energia solar uma das exceções, por ser renovável, não poluir o ar,
nem a água.
Por outro lado, a queima da gasolina, diesel, gás e carvão mineral, devido à
emissão de gases tóxicos, trazem grandes prejuízos à população, como doenças
respiratórias, entre outras. A queima de combustíveis fósseis também colabora para o
aquecimento global, de forma que se os carros e indústrias continuarem queimando
combustíveis provenientes do petróleo no ritmo atual, a temperatura média do planeta
aumentará em 5º C (cinco graus Celsius), nos próximos 50 anos.
Portanto, a maioria dos problemas a serem solucionados, de imediato, em razão
de sua gravidade, podem ser combatidos com mudanças simples, de ações cotidianas
das pessoas. Assim, são exemplos de atitudes que fazem a diferença:
 Fechar a torneira ao escovar os dentes;
 Não usar o vaso sanitário como lixo;
 Não utilizar mangueira para limpar a calçada;
 Eliminar vazamentos;
 Recusar embalagens desnecessárias;
 Evitar mercadorias com muitas embalagens;
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 Usar uma bacia para lavar a louça;
 Comprar produtos ecologicamente corretos;
 Comprar somente o necessário.
Podemos observar que as atitudes, mudanças de comportamento e consciência,
fazem diferenças significativas, não só para o meio ambiente, mas também para o bolso,
como veremos na segunda parte deste artigo, em Sustentabilidade Financeira. Antes de
iniciarmos a próxima etapa, cabe uma reflexão sobre o exemplo dado pelo professor e a
atividade proposta, ou seja, aquela que o professor pode aplicar aos seus alunos.
Exemplo: construir uma tabela de frequência simples e elaborar um relatório
parcial dos resultados:
Você costuma deixar a torneira aberta ao escovar os dentes?
a) sempre
b) nunca
c) algumas vezes
d) muitas vezes
Tabela de frequência simples:
Questão
FA
FR
Sempre
15
37,5%
Nunca
2
5%
Algumas vezes
10
25%
Muitas vezes
13
32,5%
Total
40
100%
Conteúdos evidenciados: regra de três, proporção, porcentagem e conceitos de
tabelas de frequência simples.
Comentários/justificativas: a estatística descritiva permite que se investiguem
situações-problemas, referentes ao que se pretende saber. Fechando todas as lacunas,
mediante questionários, podemos ter bons resultados, basta saber interpretá-los, isto é o
que chamamos de relatório final.
Material utilizado: Calculadoras científicas e planilhas Excel; esta última é
utilizada, caso se deseje construir gráficos de barras ou de setores.
Atividade proposta: dividir a sala em cinco grupos e organizar uma pesquisa
com 100 pessoas de seu bairro ou conhecidos, sobre as “Atitudes que fazem a
diferença”, com as seguintes orientações:
 Construam as tabelas de frequência simples;
 Tabulem os dados, calculem as frequências acumuladas (FA), nº de
ocorrências e as frequências relativas (FR%) em valor percentual;
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 Caso achem necessário, para facilitar a interpretação dos dados, construam
gráficos na planilha Excel;
 Produzam um relatório,
apresentando
conclusões gerais
sobre o
comportamento das pessoas em relação ao consumo sustentável.
A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades e
competências:
Habilidades: entender os conceitos estatísticos, equivalência, ordenação,
grandezas proporcionais e porcentagem; evidenciar situações problemas e elaborar
questionários adequados à solução dos mesmos.
Competências: interpretar os dados de uma pesquisa científica e produzir
relatórios adequados a partir de tabelas e gráficos, em uma diversidade de problemas e
áreas do saber.
2
Sustentabilidade financeira
Segundo Fernandes (2011), embora o conceito de sustentabilidade esteja mais
relacionado à dimensão ambiental, ele pode ser aplicado também ao campo financeiro,
no que se refere ao equilíbrio entre renda e consumo, de modo a suprir as necessidades
presentes e, ao mesmo tempo, garantir necessidades futuras. O conceito de
sustentabilidade financeira é aplicável às empresas para medir a capacidade dessas
entidades de autoproverem recursos financeiros para enfrentar contratempos
econômicos, visando a longevidade de suas atividades.
Assim, é de fundamental importância que se perceba a interdependência da
sustentabilidade ambiental em relação à sustentabilidade financeira. Podemos
considerar a sustentabilidade financeira como um subconjunto da Educação Financeira,
hoje evidenciada em quase todas as escolas, muitas delas em parceria com a
FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos).
Esta parceria tem como objetivo incentivar o jovem a conhecer diversas
modalidades de investimentos, tanto em rendas fixas como em rendas variáveis (açõesBMF-Bovespa), Títulos do Tesouro, CDB, além da elaboração de planilhas de custos,
redobrando os cuidados com os financiamentos, cartões de crédito, entre outros.
Desta forma, prosseguiremos com exemplos fornecidos pelo professor e
atividades propostas para os alunos, permitindo maior conexão com a primeira etapa.
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Exemplo 1: pesquisas comprovam que lâmpadas fluorescentes consomem 40
watts em relação às fluorescentes que consomem 60 watts. Desta forma, calcule a
porcentagem de consumo e a economia das lâmpadas fluorescentes em relação às
incandescentes, e ainda a economia de uma família que gasta R$ 80,00 com iluminação,
usando lâmpadas incandescentes.
2.1 Solução evidenciando conteúdos matemáticos básicos, interpretação e
argumentação
Inicialmente alguns alunos poderiam fazer a seguinte argumentação: se as
lâmpadas fluorescentes consumissem 30 watts e as incandescentes 60 watts, a razão
seria 30/60, o que significa que as lâmpadas fluorescentes consomem a metade das
lâmpadas incandescentes, gerando uma economia de 50%. Aleatoriamente, em relação
aos dados do problema, concluímos que a razão entre as lâmpadas fluorescentes e as
lâmpadas incandescentes é de: 40/60 = 0,66666.... ou 66,66%.
Podemos também provar esta relação por regra de três, exemplo:
60
=
40
=
100%
x
Aplicando a propriedade fundamental das proporções e resolvendo a equação
do 1º grau, chegaríamos ao mesmo resultado 66,66%, que significa uma economia de
33,33%. Esta aplicação poderia ser feita em qualquer outro tipo de lâmpada. Mas, neste
caso específico, tendo o consumidor um gasto mensal de R$ 80,00 com iluminação,
usando lâmpadas incandescentes, ele passa a economizar 33,33% que corresponde a
R$ 26,66, ou seja, gastaria apenas R$ 53,34 com iluminação.
Conteúdo evidenciado: as quatro operações (adição, subtração, multiplicação e
divisão), frações, equivalência, proporção, regra de três, porcentagem e uma boa
interpretação.
No exemplo anterior (exemplo 1), evidenciamos a economia doméstica de uma
família no consumo de energia; agora veremos um exemplo da economia doméstica na
construção civil, que se refere ao acabamento na reforma de uma residência
Exemplo 2: Para que não haja desperdícios, Pedro deseja calcular quantas
caixas de ladrilhos gastaria para revestir o piso de um cômodo de 5 m de comprimento
por 3 m de largura. Sabendo-se que cada ladrilho mede 40 cm de comprimento, 30 cm
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de largura e cada caixa contém 24 ladrilhos.
2.2 Solução evidenciando conceitos de área de figuras planas e medidas
Primeiramente devemos nos ater às medidas, pois as mesmas não são
compatíveis. Que tal transformarmos as medidas do ladrilho em metros?
Comprimento = 40 cm = 0,40 m
Largura
= 30 cm = 0,30 m
Agora vamos calcular as áreas do cômodo e do ladrilho:
Área do cômodo = largura . comprimento
Área do cômodo = 3 .
Em
seguida,
5 = 15 m²
calcularemos
a
área
do
ladrilho
em
metros:
Área do ladrilho = base . altura
Área do ladrilho = 0,30 . 0,40 = 0,12 m²
Dividindo a área maior (cômodo) pela área menor (Ladrilho), temos :
15 / 0,12 = 125 ladrilhos.
Sabendo-se que cada caixa contém 24 ladrilhos, dividiremos o número total de
ladrilhos pelo conteúdo de cada caixa e obteremos aproximadamente o número de
caixas a serem utilizadas.
125 / 24 = 5,2
Então devemos comprar seis caixas, isso não é desperdício, pois eventualmente
podemos substituir algum ladrilho quebrado ou ladrilhar outro cômodo com os mesmos
ladrilhos.
Exemplo 3: Em um supermercado dois concorrentes anunciam seus preços e
marcas de sucos de fruta, Suco A e Suco B, ambos com a mesma aceitação de mercado.
O fabricante do suco A vende a caixa contendo 600 ml por R$ 5,00, enquanto seu
concorrente que resolve competir pela preferência dos clientes, vende a caixa do suco B,
contendo 550 ml por R$ 3,20. Desta forma, comprando qual dos produtos terei
economia, sabendo-se que ambos possuem a mesma qualidade?
Inicialmente, devemos verificar quanto custaria o suco A se fosse vendido em
embalagens de 550 ml.
Volume (ml)
600
Preço (R$)
5
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550
x
600 x
=
2750
x
=
2750/600
x
=
R$ 4,58
Assim sendo, comprando o suco B, por R$ 3,20, lucrarei R$ 1,38, o
equivalente a uma economia de 28%.
Veja:
Preço ( R$ )
Percentual ( % )
5
100
1,38
x
Multiplicando os extremos e os meios e resolvendo a equação do 1º grau,
temos:
x = 28% .
Conteúdo evidenciado: grandezas proporcionais, regra de três, porcentagem,
propriedade fundamental das proporções e equação do 1º grau.
Comentários/justificativas: o exemplo apresentado evidencia a relação entre
matemática básica e sustentabilidade financeira num plano contextualizado, como
proposta deste artigo, envolvendo conteúdos das últimas séries do Ensino Fundamental.
Devemos salientar que além de entenderem conceitos e desenvolverem
competências, os alunos do 9º ano já são capazes de pensar em um planejamento
financeiro. Desta forma, propomos que elaborem uma Tabela de Custos Fixos e Custos
Variáveis, lembrando aos alunos que estes últimos revelam, muitas vezes, o consumo
desenfreado. Em alguns momentos aumentamos as nossas despesas domésticas com
custos variáveis, e não lembramos em que gastamos; isto significa que poderíamos ter
evitado esse gasto. Prosseguiremos, a seguir, com uma atividade relacionada ao
exemplo.
Atividade proposta: elaborar uma tabela de custos fixos e custos variáveis,
verificando as possibilidades de obter economia. Faça comparação de preços, evite
desperdícios e faça uso dos conceitos de grandezas proporcionais e porcentagem.
Compare esta tabela com a do mês anterior e verifique se houve ganhos financeiros e
qual foi o percentual.
A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades e
competências:
Habilidades: entender os conceitos de grandezas proporcionais, porcentagem,
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equações do 1º grau, além de problemas contextualizados, envolvendo propriedades
algébricas.
Competências: interpretar problemas de qualquer natureza, que envolvam
grandezas proporcionais e porcentagem.
Após terem concluído esta atividade cabe a seguinte reflexão: agregar valores
sempre foi prioridade, em vista aos gastos desnecessários. Nesse sentido, devemos
preferir investir nossas economias a financiar, mesmo que, muitas vezes, utilizemos
nossos investimentos, como forma de pagamento.
Os próximos exemplos e atividades desta etapa serão voltados a investimentos
e financiamentos, assuntos que julgamos relevantes para o 9º ano do Ensino
Fundamental. Antes de iniciarmos nossas atividades devemos nos ater à existência de
financiamentos e investimentos de curto e de longo prazo. Entretanto, daremos ênfase
aos de longo prazo, passando superficialmente pelo investimento de curto prazo, como
segue:
Exemplo 4: quanto terei daqui a 83 dias, caso aplique um capital de R$ 20.000
à taxa de 12% ao ano?
Analisando o problema, podemos notar que se refere ao cálculo do montante,
uma vez, que se pretende calcular o valor futuro. Sendo assim, temos:
M?
C = R$ 20.000,00
i = 0,12 a.a
n = 83 dias
Em todo tipo de problema que envolve taxas e prazos, devemos verificar a
compatibilidade dos prazos desejados em relação aos prazos da taxa, verificando se são
equivalentes, ou seja, proporcionais, neste caso específico, não são. Então, iniciaremos
o problema fazendo estas transformações:
M = C . ( 1 + i )n
M = 20.000 . ( 1,12 )83/360
M = 20.000 . ( 1,12 )0,23,
Então temos:
M = R$ 20.528,17
Com uma calculadora científica, calculamos o montante do seguinte modo:
1,12 yx ou ^ 023 = x 20.000 =
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Como M = C + J
J=M–C
J = 20.528,17 – 20.000
J = R$ 528,17
Isto significa que tive um rendimento de R$ 528,17 por 33 dias.
Vimos uma situação problema de curto prazo. O ideal é verificar também outro
exemplo de longo prazo e fazer as devidas comparações entre financiamentos e
investimentos.
Imaginemos que uma família, atentando ao consumo sustentável, consiga
economizar R$ 350,00 mensais. Tendo em vista este dinheiro extra, resolve comprar um
automóvel de R$ 20.000,00 em 72 parcelas, à taxa de 2,80% ao mês, ao invés de
investir. Será que ela teria feito um bom negócio?
Solução: inicialmente calcularemos o valor das parcelas do financiamento, em
seguida, iremos calcular quanto teria economizado, caso tivesse aplicado em um fundo
de previdência privada, no mesmo período.
PMT = ?
P = R$ 20.000,00
i = 0,028 a.m
n = 72 parcelas
PMT = P . [ ( 1 + i )n . i ] / [ ( 1 + i )n – 1 ]
PMT = 20.000 . [ ( 1,028 )72 . 0,028 ] / [ ( 1,028 )72 – 1 ]
PMT = 20.000 . [ 0,204485391 / 6,303049688 ]
PMT = 20.000 . [ 0,032442294 ]
PMT = R$ 648,85
Neste caso a pessoa usaria a sua economia e ainda teria que completar, devido
à alta taxa de juros. Veja-se que um carro de R$ 20.000,00, custaria R$ 648,85 x 72 =
R$ 46.717,20, mais que o dobro. Então vamos verificar a situação inversa. Caso ela
fizesse uma aplicação num fundo de previdência privada que paga por volta de 0,8 % ao
mês, neste mesmo período, temos:
M = C . [ ( 1 + i )n – 1 ] / i
Aplicando a fórmula do Montante em n parcelas, temos:
M = 350 . [ ( 1,008 )72 – 1 ] / 0,008
M = 350 . [ 0,774836338 / 0,008 ]
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M = 350 . [ 96,85454225 ]
M = R$ 33.899,09
Assim, investir é sempre um ótimo negócio, pois com apenas uma economia de
R$ 350,00 a pessoa, após 72 meses, poderia comprar o carro e ainda ficar com saldo
positivo, isto é, teria R$ 13.899,09 além do automóvel, podendo estar melhorando
consideravelmente a Qualidade de Vida.
Conteúdos evidenciados: as quatro operações, potenciação, equivalência,
proporção, porcentagem e conceitos financeiros.
Fórmulas utilizadas:
M = C . ( 1 + i )n Cálculo do Montante
onde: M = montante
C = capital
i = taxa
n = prazo
PMT = P . [ ( 1 + i )n . i ] / [ ( 1 + i )n – 1 ] Cálculo das Prestações
onde :
PMT = valor das prestações
P = valor do bem financiado
i = taxa
n = prazo
M = C . [ ( 1 + 1 )n – 1 ] / i
Cálculo do Montante em “n” parcelas
onde : M = montante em “n” parcelas
C = capital aplicado mensalmente
i = taxa
n = prazo
Comentários/justificativas: este conteúdo pode ser contemplado no 9º ano do
Ensino Fundamental, devido a evidente relação das fórmulas com taxas equivalentes,
grandezas proporcionais, porcentagem, equações do 1º grau e conceitos financeiros.
Material utilizado: calculadora financeira
Atividade proposta: verificar a partir de uma tabela de Custos Fixos e Custos
Variáveis a quantia que uma família poderia economizar caso tivesse atentado ao
consumo sustentável.
Utilize a Fórmula de Investimentos:
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M = C . [ ( 1 + i )n – 1 ] / i e verifique se houve ganho em longo prazo.
A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades: entender
conceitos e fórmulas financeiras; resolver exercícios observando a importância dos
conteúdos: grandezas proporcionais e porcentagem (embora com utilização de
calculadora científicas).
Competências: saber interpretar e comparar situações problemas que envolvam
juros compostos, nas diversas operações financeiras de crédito e investimento.
3 Qualidade de vida
Para Pereira, Teixeira e Santos (2012), o conceito de Qualidade de Vida é
abordado, por muitos autores, como sinônimo de saúde e, por outros, como um conceito
mais abrangente, em que as condições de saúde seriam um dos aspectos a serem
considerados: “Suas definições na literatura especializada apresentam-se, tanto de forma
global, enfatizando a satisfação geral com a vida, como dividida em componentes, que,
em conjunto, indicariam uma aproximação do conceito geral” (PEREIRA; TEIXEIRA;
SANTOS, 2012, p. 241).
Almeida, Gutierrez e Marques (2012) afirmam que a Qualidade de Vida
também se relaciona a um alto padrão de bem-estar na vida das pessoas, sejam elas de
ordem econômica, social ou emocional. A área de conhecimento em qualidade de vida
encontra-se numa fase de construção de identidade: “ora identificam-na em relação à
saúde, ora à moradia, ao lazer, aos hábitos de atividade física e alimentação, mas o fato
é que essa forma de saber afirma que todos esses fatores levam a uma percepção
positiva de bem-estar” (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012, p. 15).
Assim, não existe um consenso sobre o que constitui Qualidade de Vida
(conceitos e dimensões), se levarmos em consideração métodos específicos de
avaliação. A Qualidade de Vida vai ao encontro da situação que o indivíduo vivencia
no momento. Por exemplo: encontra-se enfermo, diz que a qualidade de vida está
relacionada à saúde. Quando está bem, relaciona este bem-estar aos bens materiais. Para
outros, Qualidade de Vida pode representar beleza numa paisagem, na satisfação de
uma vida familiar em comunhão.
Poderíamos, então, tentar definir Qualidade de Vida como a busca incessante
da satisfação pessoal por meio de conhecimentos adquiridos e de alterações no estilo de
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vida, no sentido de obter um equilíbrio entre o individual (corpo, mente) e o social.
Enfim, acreditamos que seja um comportamento pessoal, por desejar mudanças.
Neste sentido, podemos dizer que o resultado do consumo sustentável deve
estar atrelado à Qualidade de Vida do indivíduo, principalmente, ao bem estar
financeiro, em viver uma vida tranquila, sem os tormentos dos financiamentos. Usufruir
de bons momentos de lazer, manter seus filhos em boas escolas e universidades, poder
pagar um bom plano de saúde e ainda adquirir bens.
4 Direito à educação
Considerando o movimento “Todos pela Educação”, fundado em 2006, que
congrega a iniciativa privada, especialistas e gestores da Educação, na missão de
contribuir para a garantia de que todas as crianças e jovens tenham uma educação de
qualidade até 2022, ano do bicentenário da independência do Brasil, o movimento só
será de fato, independente, quando todas as crianças e jovens tiverem acesso a uma
educação de qualidade.
Para isso, foram estabelecidas cinco metas (TPE, 2006):
1) Toda criança e jovem de 4 a 7 anos na escola;
2) Toda criança plenamente alfabetizada até oito anos;
3) Todo aluno com aprendizado adequado à sua série;
4) Todo aluno com o ensino médio concluído até os 19 anos;
5) Investimento em Educação ampliado e bem gerido.
Com relação à terceira meta, “Todo aluno com o aprendizado adequado à sua
série”, é necessário que se investigue o que leva os alunos a se desinteressar pelos
estudos, para saber os reais motivos do baixo rendimento, e por que não conseguem
desenvolver os conteúdos necessários à sua série.
Uma questão importante é buscar as razões da pouca participação dos alunos
em atividades que envolvam a Língua Portuguesa, em especial, a linguagem escrita e
que estão relacionadas às dificuldades de interpretação, sobretudo em matemática. Isto
sugere a adequação de um projeto amplo, relacionado a narrativas que são ferramentas
muito importantes no processo ensino-aprendizagem, que ainda podem ser
complementadas com o percurso de escolas bem definidas, amparadas pela recuperação
contínua e apresentação de temas contextualizados, que são imprescindíveis à
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aprendizagem significativa e foram o foco deste artigo.
Assim, acreditamos que tais ferramentas são meios e não fins, pois enxergar
“fundo e largo” é ultrapassar os limites da escola, investigando os problemas que
envolvem família, escola e comunidade. O que poderia fazer a diferença é uma maior
integração entre corpo docente, gestores, pais de alunos e comunidade escolar, a fim de
entender melhor os aspectos internos e externos que inibem o crescimento dos alunos,
por meio de pesquisas estatísticas bem elaboradas.
Considerações finais
Destacamos a necessidade de uma discussão mais profunda em torno da atual
Proposta Curricular de Matemática para o Ensino Fundamental II, que deveria incluir
Grandezas Proporcionais e Estatística Descritiva, conteúdos que deveriam ser voltados a
Projetos de Pesquisas e Educação Financeira, em todas as séries do Ensino
Fundamental.
Se essa reforma já houvesse sido implantada, nossos alunos estariam
constantemente interagindo com Educação Financeira e Estatística Descritiva,
desenvolvendo habilidades e competências nas diversas áreas do saber. Os conteúdos
mencionados poderiam ser tratados como temas transversais, sem prejuízo às atuais
propostas de ensino.
Atentando à evidente importância destes conteúdos no percurso do Ensino
Fundamental, podemos afirmar que só foi possível obter resultados favoráveis nas
demonstrações de exemplos e atividades propostas devido à implementação de
estratégias. Trabalhamos em pequenos grupos de atividades, apropriando-nos do
conhecimento prévio de alguns alunos que interagiram de forma colaborativa com os
demais. Enfim, acreditamos que em breve quando os alunos vivenciarem a prática dos
conteúdos estatísticos e financeiros os resultados serão ainda melhores.
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