leite
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Balde
mais cheio
Paula Guatimosim - especial para A Lavoura
Embrapa Pecuária Sudeste
Desenvolvido pela Embrapa Pecuária
Sudeste para beneficiar, principalmente,
a pecuária leiteira familiar, o programa
Balde Cheio é fruto de esforço conjunto
entre pesquisa e extensão para
promover melhorias de manejo e
gestão da propriedade
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leite
O
Programa de Desenvolvimento Integrado da
Pecuária Leiteira Balde Cheio utiliza tecnologia
inédita desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste (São
Carlos/SP). Iniciado em 1999, já é adotado por todos os
Estados da Federação, exceto Roraima e Distrito Federal,
beneficiando mais de 13.700 produtores de leite. A meta é
aumentar a produtividade e gerar mais lucro por meio da
adoção de técnicas de manejo de pastagem, controle zootécnico e, principalmente, gestão da propriedade.
Embrapa Pecuária Sudeste
A união entre pesquisa e extensão rural oferece novos
conceitos aos pecuaristas de leite, especialmente aos pe-
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quenos produtores com pouco acesso à assistência técnica
e gerencial. Este objetivo é alcançado por meio da capacitação dos profissionais de extensão rural e produtores, da promoção da troca de informações regionais e monitoramento
dos impactos ambientais, econômicos e sociais.
Parcerias
O estabelecimento de parcerias é uma das principais estratégias do Programa Balde Cheio. Elas são firmadas com
diversos tipos de instituições públicas — como órgãos de
assistência técnica e extensão rural vinculados às secretarias
estaduais de Agricultura, prefeituras, instituições de ensino
e pesquisa, instituições financeiras, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento — e entidades privadas, como
cooperativas, laticínios, associações, federações de agricultura, Sebrae, instituições de ensino e pesquisa e profissionais autônomos.
A capacitação e a troca de informações acontecem na
propriedade rural, que se transforma em “sala de aula” e passa a ser uma unidade demonstrativa (UD). A programação
inclui aulas teóricas, tanto para extensionistas quanto para
produtores, na Embrapa Pecuária Sudeste e nas propriedades selecionadas. A partir da estruturação da propriedade,
com base nas orientações do projeto, a UD passa a ser uma
referência na região.
Como participar do
Projeto Balde Cheio
1. O produtor ou técnico interessado deve en-
trar em contato com a instituição responsável
pela Programa na sua região (em Minas Gerais é
a Faemg, por exemplo).
2. A instituição orienta sobre os procedimentos
iniciais para adesão ao Programa.
3. A entidade interessada disponibiliza, pelo
menos, um técnico extensionista, que é capacitado na metodologia do Programa.
4. O técnico acompanha o coordenador técnico
ou o supervisor regional do Programa em visitas
na região, para conhecer suas obrigações.
5. É agendada a primeira visita do coordenador
técnico ou supervisor regional ao município, com
a presença de produtores, do técnico e de representantes da entidade parceira. Neste momento,
são esclarecidas dúvidas e todos firmam o compromisso de trabalhar pelo bom desenvolvimento das atividades.
6. O técnico é encaminhado para “estágio” de uma
semana em um projeto em funcionamento indicado pela instituição e pelo coordenador técnico.
7. Entidade, técnico e produtores escolhem a
Unidade Demonstrativa do município e informam ao coordenador técnico e supervisor regional a propriedade escolhida.
8. São encaminhados ao responsável da enti-
dade parceira no município, para preenchimento
e assinatura, o Termo de Compromisso e Adesão
ao Programa e o Cadastro do Técnico. Ele é o
coordenador local do Balde Cheio e o contato da
instituição no município. A ele deve ser relatado
qualquer problema com o Programa.
9. O técnico é encaminhado para treinamento
de nivelamento, em data previamente informada.
Contato
Mais informações podem ser obtidas
através do telefone (16) 3411-5626 ou
pelo site www.cppse.embrapa.br/sac.
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José Israel Abrantes - Faemg
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José Vianei Dornelas, do Rancho Esperança, produzia 70 litros de leite/dia. Dois anos mais tarde, dobrou a produção, e cinco anos depois,
com as mesmas 14 vacas, produz 238 litros em área de pastagem menor, graças ao pastejo rotacionado
O papel da extensão rural
Em Minas Gerais, o Balde Cheio é realizado pelo Sistema Faemg/Senar. Daniel
Fonseca Belo de Araújo, da Conagro Consultoria, firmou convênio com três prefeituras e supervisiona o projeto em 72 propriedades nos municípios de Senhora dos Remédios, Desterro do Melo e Alto Rio Doce, na região dos Campos das
Vertentes, próxima de Barbacena; Queluzito, vizinho de Conselheiro Lafayete, e
Santana do Garambéu, próximo a Andrelândia, rumo ao Sul de Minas.
No município de Senhora dos Remédios são 50 propriedades assistidas pelo
programa Balde Cheio. Segundo Daniel de Araújo, é fundamental que o produtor, ao aderir ao programa, siga à risca as recomendações. “Quem não assume o
compromisso é cortado”, diz ele, que no primeiro ano do projeto em Senhora dos
Remédios precisou subtrair 12 produtores. Por sorte havia 14 na “fila de espera”.
O técnico explica que, em geral, tenta-se juntar de quatro a cinco produtores
de uma mesma região para ‘ratear’ os custos, já que a visita à propriedade custa
um salário mínimo. Ele explica que a adesão ao programa não é tarefa fácil, já que
demanda compromisso, disponibilidade de tempo e muito interesse do produtor.
“Mas basta um bom pecuarista para estimular o restante do grupo”, alega.
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Curiosidade
O programa prova que
é possível aumentar
substancialmente a produção
sem expandir o rebanho
Produção mais que triplicada
Um dos seus casos de sucesso é o
produtor José Vianei Dornelas, do Rancho Esperança, em Senhora dos Remédios, que aderiu ao programa assim
que ele foi lançado, em 2008, ano em
que produzia 70 litros de leite ao dia,
e vemos um motor velho encostado
num canto, sem uso, sugerimos que
seja vendido para gerar receita para
a compra de insumos”, conta o extensionista. As bezerras são desmamadas
precocemente e apenas 35% do total
de nascidas serão criadas para futuras
matrizes. Os 65% restantes deverão
ser vendidas para gerar recursos a
serem investidos na criação daquelas 35%. “A maioria dos pecuaristas
acha que manter bezerras e novilhas
é como fazer uma poupança. E não é.
Elas custam muito”, explica Araújo.
Potencial produtivo
José Israel Abrantes - Faemg
Outro caso exemplar pode ser visto
no Sítio Mateus, do produtor Romeu
da Silva Coelho, no município de Desterro de Melo, onde o grande desafio
da equipe era saber o potencial produtivo dos animais. Lá, uma vaca mestiça,
quatro meses depois do parto estava
produzindo sete litros de leite por dia.
Após dois meses no sistema de pastejo
rotacionado, a mesma vaca passou a
produzir 12kg/leite/dia; e, quatro meses depois, já produzia 17 kg ao dia e
entrou no cio.
É preciso calcular o volumoso e o concentrado em função
da produção do animal e não o contrário.
com 14 vacas mestiças (3/4). Dois anos mais tarde, dobrou a produção e, hoje,
cinco anos depois, sem aumentar sequer uma cabeça no rebanho, produz 238
litros diariamente. E isso reduzindo a área de pastagem de 4,5 hectares para 1,7
ha, graças ao pastejo rotacionado.
Daniel Fonseca de Araújo revela que o “pulo do gato” é manter os animais por
apenas um dia em cada piquete. “Assim, o gado come apenas as pontas do capim,
— de melhor qualidade nutricional — , e não sobrecarrega a área com excesso
de fezes”. Ele explica que o número de piquetes varia, principalmente em função
do ciclo do capim. “O mais importante é o produtor ficar ‘craque’ no sistema de
pastejo rotacionado. Só recomendamos a irrigação das pastagens depois que ele
domina a rotação”, alega.
Baixar os custos
Tudo é feito para baixar os custos da produção de leite, com base na redução do volumoso e, acima de tudo, do concentrado. “Se chegamos no sítio
“A matriz era uma excelente leiteira
e o produtor não imaginava o seu potencial”, observou Daniel. Ele explica
que é preciso calcular o volumoso e o
concentrado em função da produção
do animal, e não o contrário. Em sua
opinião, um concentrado de relativo
baixo custo é a cana-de-açúcar misturada à ureia. Uma vaca que esteja produzindo 35kg/leite/dia, o equivalente
a 22% de proteína, deve consumir de 4
a 5 quilos de ração por dia. Já uma vaca
que produz 10kg/dia, pode consumir
apenas um quilo de ração ao dia.
Outra preocupação fundamental
da consultoria é a sanidade do rebanho. Assim que chegam à propriedade, os técnicos fazem exames de
brucelose e tuberculose. Depois, elaboram um calendário que, além das
vacinas obrigatórias contra aftosa e
brucelose, incluem imunização contra raiva, clostridioses (que abrange
sete doenças), IBR, BVD, leptospirose
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leite
e campilobacteriose (essas quatro últimas também reunidas numa única
vacina). A inseminação artificial também é estimulada, visando aumentar
o índice de prenhês e melhorar o potencial produtivo do rebanho.
Mudança de hábito
Responsável pelo acompanhamento técnico de 23 propriedades que
fazem parte do programa, nos municípios de Carmo do Cajuru e Bom Despacho, desde o final de 2007, Mozar
Salviano Barreto diz que a tecnologia
do Balde Cheio é simples, mas requer
muita disciplina. “Os produtores passaram a vida inteira trabalhando da
forma errada, achando que estavam
certos”, ressalta ele, lembrando que,
por isso, os resultados só aparecem no
médio e longo prazos.
A Fazenda Mato Dentro, em Carmo do Cajuru, a 15 km de Divinópolis, é um de seus exemplos de sucesso e, por isso, já recebeu mais de mil
visitantes interessados nesse modelo
de produção. Para viver da pecuária
leiteira, o proprietário Roberto Leonardo de Souza precisava arrendar
terras vizinhas e já havia decidido
vender a propriedade de quatro hectares para quitar suas dívidas.
Hoje, ele e a esposa Ilda cuidam sozinhos do rebanho de 23 vacas, das quais
80% a 85% em lactação, produzindo
uma média 17 litros/dia. Parte da produção é usada na fabricação de queijo
minas fresco, vendido na cidade por um
valor agregado maior, ajudando compor
a renda de R$ 4 mil mensais do casal.
A irrigação só foi adotada dois anos
após o início da adesão ao programa,
principalmente para garantir a produção de aveia e azevém, alimentos oferecidos às vacas como suplementação
durante o inverno. Assim, o produtor
conseguiu reduzir a mão de obra e aumentar a produção leiteira, mesmo em
uma área menor.
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José Israel Abrantes - Faemg
Resultado exemplar
Roberto Leonardo, da Fazenda Mato Dentro, virou modelo na região. 80 a 85% do rebanho da fazenda está em lactação produzindo 17 litros/dia
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Balde cheio