Vinicius de Moraes
Vinícius – 1913- 1980- R.J.
• Filho de músicos amadores, formado em Direito
•
•
•
•
•
•
, estudou em Oxford.
Em 1943- ingressou na carreira diplomática,
serviu durante 20 anos.
1968 – aposentou-se da carreira.
Dedicou-se à carreira musical.
MPB- Tom Jobim, João Gilberto,Toquinho,Baden
Powell, Edu Lobo, Carlos Lyra.
Músicas do candomblé.
Casou-se dez vezes.
• 1933- O caminho para a distância.
• 1943- Cinco elegias
• 1954 – Antologia Poética.
• 1956- Orfeu de Conceição.
• 1968- Poesia completa e prosa.
• Viveu como poeta, cantor, compositor,
boêmio, uniu o popular o intelectual.
Antologia Poética- 1968
•
•
•
•
•
1954- Revisada e organizada pelo próprio autor.
Nesse obra, o poeta identifica duas fases:
1) transcendental, mística (até Ariana,1936)
Transição- Cinco elegias- 1943
2) abandona o idealismo e aproxima-se do
mundo material. A partir de 1938- novos
poemas. Esse segunda parte tem um espaço
maior na antologia.
evolução
• Vinícius procurar modernizar as inovações
de 22 e, aos poucos, desliga-se dos
rigores e comportamentos ditados para a
poesia da época. A quebra da expectativa
é uma das fortes características do
“Poetinha”.
Primeira fase
• Concepção espiritualizada e cristã.
• Os poemas são plenos de religiosidade (céu,
•
•
•
inferno,tentações, pecados, Deus).
Em suma: o choque entre a pureza e o pecado
inevitável. Daí a impossibilidade de redimir-se.
O homem como escravo das exigências da
carne.
A figura feminina: representação da carne, do
pecado, da tentação, da culpa.
Primeira fase- forma
• Predomínio do verso livre.
• Verso longo (bárbaro)
• Linguagem retórica- para ser lida.
• Vocábulos religiosos- círio, céu...
• Polissíndeto
• Ás vezes, estrofes regulares.
A criação
• Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz
para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de
todo mal. (...)
Alba
• Ontem, Alba, sofri porque vi subitamente
a nódoa rubra entre a carne pálida ferida
Eu vinha passando tão calmo, Alba, tão
longe da angústia, tão suavizado
Quando a visão daquela flor gloriosa
matando a serenidade dos lírios entrou em
mim
E eu senti correr em meu corpo
palpitações desordenadas de luxúria.
Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa
me trouxe a lembrança do teu sexo que
eu não via
• Sob a lívida pureza da tua pele aveludada e
calma
Eu sofri porque de repente senti o vento e vi
que estava nu e ardente
E porque era teu corpo dormindo que existia
diante de meus olhos.
Como poderias me perdoar, minha amiga, se
soubesses que me aproximei da flor como um
perdido
E a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas
e senti escorrer de mim o sêmen da minha
volúpia?
Transição
• O Poetinha reconheceu um período de transição
•
•
•
em sua obra: Cinco elegias, 1943.
Invocação da mulher única até A última elegia.
Persistem temas como: a luta contra a carne,
mas atenua-se o tema, aceita-se o próprio
desejo, a transgressão; Agora o amor está
presente. O amor se traduz pela busca da
mulher amada.
Espiritualidade vs materialidade feminina.
Transição – forma
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Estrofes regulares
Vocabulário litúrgico
Inserção de trechos de prosa
Linguagem mais coloquial
Tom religioso acrescido do coloquial
Humor
União do inglês ao português
Intertextualidade
Neologismo
Disposição gráfica
Exemplos: A vida vivida
• O que é a mulher em mim senão o Túmulo
•
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos abraços vou caminhando para
a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?
O que é o meu Amor, ai de mim! senão a luz
impossível
Senão a estrela parada num oceano de
melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?
• O que é o meu Amor? senão o meu desejo
iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou
acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade
enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante,
peregrino de todos os instantes
Cinco elegias
• Elegia quase uma ode: contanto com a
realidade.
• Elegia lírica: sentimento amoroso.
• Elegia desesperada: tristeza mais geral.
• Elegia ao primeiro amigo: sofrimento do
apaixonado.
• A última elegia: sentimento de um
apaixonado, de modo mais agressivo.
Exemplos transição- o, roofs of
chelsea
• O roofs of Chelsea! / Encantados roofs,
multicolores, briques, bridges, brumas / Da
aurora em Chelsea! ô melancholy! / “I wish, I
wish I were asleep…” but the morning / Rises, o
perfume da madrugada em Londres / Makes me
fluid… darling, darling, acorda, escuta /
Amanheceu, não durmas… o bálsamo do sono /
Fechou-te as pálpebras de azul… Victoria &
Albert resplende / Para o teu despertar; ô
darling, vem amar / À luz de Chelsea!
Segunda fase -o falso mendigo
1) Temática do cotidiano, social, engajamento,
2) Figura da mulher: mais carnal, erótica,
dessacralizada.
• Convite, sofrimento, aceitação, sobrevivência.
• Tom melancólico: solidão, saudade da amada,
infância, efemeridade e degeneração física,
pessoal. Dimensão humana da dor.
3) Humor, Ironia
5) natureza; antilirismo;familiares;metalinguagem;
cantar os amigos: Baudelaire, Verlaine, Hart,
Octávio Frias...
2ª. Fase- forma
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Despojamento da linguagem.
Persiste o religioso, mas dessacralizado.
Abandono da retórica
Menor uso do verso longo, exploram-se os versos curtos:
redondilhos.
Versos polimétricos, sonetos.
Não há uma constância métrica.
Soneto
Registro equilibrado da linguagem moderna.
Ausência de pontuação regular.
Exemplos - soneto
• Soneto de fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
• E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem
vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
antilirismo
• Fico ali respirando o cheiro bom do
estrume
• Entre as vacas e os bois que me olham
sem ciúmes
• E quando por acaso uma mijada ferve.
Sinos de Oxford- morte
• Consolai-me as mágoas
Que não passam mais
Minhas pobres mágoas
De quem não tem paz.
Ter paz… tenho tudo
De bom e de bem...
Respondei-me, sinos:
A morte já vem?
Operário em construção social
• Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
• Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
Mensagem à poesia:
metalinguagem
• Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não
posso ir esta noite ao seu encontro.
O poeta e a lua: natureza
• Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
• Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
Os acrobatas- erótico
Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!
Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.
Como no espasmo.
E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus
Receita de Mulher. Dessacralização:
mulher física
• As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize
elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
• Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso
que súbito tenha-se a
impressão de ver uma
garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só
encontrável no terceiro minuto da aurora.
inovações
• Neologismo: aerodivinais, outramente.
• Experimentalismo:
• Azul....Azul...
• Azul e branco
• Azul e branco
• Azul e
• Clássico e o popular
• Figuras de linguagem: anáfora, apóstrofe,
comparação, metáfora, personificação,
quiasmo, anadiplose, paralelismo,
paradoxo.
versos livres e poesia hermética
• Oh, estranho humus deste ser inerte e
que sinto latente
• Escorre sobre mim como o luar nas fontes
pobres
• Embriaga o meu peito do teu bafo que
como o sândalo
• Enche o meu espírito do teu sangue que é
a própria vida.
humor
• Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
• Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
Que os filhos são!
• E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
• Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Considerações finais
• Na trajetória de Vinícius:
•
a linguagem grandiloqüente dos
primeiros poemas vai aos poucos
cedendo lugar à expressão mais
acessível, mais próxima do cotidiano,
mais comunicativa.
• O autor deslocou-se da religiosidade neo•
•
•
simbolista para a urgência biográfica. O eixo
temático passou para a intimidade dos afetos e
para a vivência erótica.
O poeta oscila entre as angústias do pecador e o
desejo do libertino.
Do verbalismo parnasiano para um estilo direto
e ardente.
Os temas alargam-se para a valoração do
trabalho humano e consciência da denúncia.
Formas do livro
• Soneto
• Balada
• Elegia
• Ode
• Madrigal (ária para o assovio)
Download

Vinicius de Moraes