Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
“O QUE É UMA ESCOLA DE QUALIDADE?”: COM A PALAVRA,
FUNCIONÁRIOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DO RN
Angelica K. da Cunha Moura (Bolsista PROPESQ/UFRN)
Josélia D. Pereira (Bolsista PROGRAD/UFRN)
Miguel Fernandes Bezerra Neto (Docente da EE José Lúcio Ribeiro, Brejinho-RN)
Prof. Dr. Marlécio Maknamara (Centro de Educação/ UFRN)
Resumo
O presente trabalho apresenta e analisa a visão de funcionários de escolas públicas do RN
após uma provocação sobre o que seria uma escola de qualidade. O objetivo principal foi dar
voz ativa aos funcionários no processo de construção de uma escola de qualidade,
classificando suas respostas em seis grupos característicos. Para tais funcionários, uma escola
de qualidade poderia ser: promotora da cidadania; focada no professor; regida pelo
pensamento empresarial; centrada nas políticas públicas; profissionalizante e
assistencialista. Concluímos que os funcionários participantes desta pesquisa não estão
alheios às principais problemáticas que cercam a escola. Percebemos ainda a ocorrência de
uma forte influência das ideias neoliberais nas concepções dos funcionários.
Palavras-chave: Educação escolar. Escola de qualidade. Concepções dos funcionários.
Introdução
Uma educação de qualidade está intimamente relacionada com a expectativa daqueles
que cercam a escola. Ao se questionar qual o papel da escola, estamos também questionando
se a escola possui dispositivos satisfatórios para cumprir esse papel. Então, surgem perguntas
como: o que esperar da escola? O que os discentes devem aprender para suprir as expectativas
iniciais?
Partindo dessa premissa, o presente trabalho objetivou estudar as diferentes
concepções sobre o que é uma escola de qualidade na visão dos funcionários da rede pública
da cidade do Natal. Embora esses funcionários não estejam envolvidos diretamente nos
processos didático pedagógicos em sala de aula, faz-se necessário um apanhado do
pensamento daqueles que fazem parte da equipe funcional da escola. Desse modo, é de suma
importância dar a esses profissionais da escola, voz ativa no debate em busca de uma escola
de qualidade.
O ambiente escolar é um espaço social heterogêneo, pois nele, habita uma variedade
significativa de sujeitos. Esses sujeitos contribuem para a cultura escolar através das suas
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ações e experiências vividas no cotidiano (DAYRELL, 1996). Uma vez que fazem parte da
cultura e do ambiente escolar, os funcionários também possuem sua fatia de contribuição
nesse espaço heterogêneo e são sujeitos conscientes em relação às questões da escola pública.
Eles também podem elencar suas qualidades e suas deficiências e foi isso que perseguimos na
presente pesquisa.
Referencial teórico
Historicamente a escola contemporânea é marcada, desde a sua origem no século XIX,
por ser uma instituição que subsidia o processo industrial de uma determinada sociedade com
mão de obra adestrada. Ela também divulga a ideologia e valores de uma elite dominante.
Porém, como instituição socioeducativa, a escola vem sendo questionada sobre o seu papel
perante os processos que cercam a economia, política, sociedade e a cultura do mundo
contemporâneo (LIBÂNEO et al., 2013).
O mundo contemporâneo está sob as diretrizes da globalização. Um processo que
designa uma gama de fatores econômicos, sócio-políticos e culturais que cercam a formação
do indivíduo. Esse processo exige do homem sua adaptação às possíveis mudanças de
paradigmas sociais. Atualmente, as mudanças de paradigmas estão atreladas a informação. A
informação vem sendo ferramenta de sucesso social. Ou seja, o homem está inserido numa
sociedade regida pelo conhecimento (CASTELLS apud DE MARI, 2011).
Na sociedade do conhecimento, a escola não é a única fonte de conhecimento. O
conhecimento está difundido nas ações sociais e nos meios de comunicação do mundo atual.
Nesse panorama a escola perdeu a exclusividade da produção do conhecimento. Uma vez que,
na atualidade, tal produção pode ser elaborada em todos os ambientes. Desse modo, ocorre a
origem de novas necessidades e interesses do alunado que são, via de regra, desconsiderados e
não respeitados por essa instituição (PASQUALINI e MAZZEU, 2007).
Por outro lado, é atribuída à escola a função de criar condições necessárias para a
inserção dos jovens nessa nova cultura (DE MARI, 2011), mas a escola assume o papel de
produtora e reprodutora do consenso social.
Adicionado a isso, são atribuídas à escola as funções de: formação profissional, espaço
de inclusão social, produtora/reprodutora de conhecimento, campo de debates políticos e etc.
Porém, ainda se faz necessário o questionamento sobre os “reais fins” da escola (BARROSO
FILHO, 2000).
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Fazendo parte dessa rede social do conhecimento, os funcionários da educação são
aqueles que não trabalham diretamente em sala de aula com os alunos. Porém, são parte
integrante e fundamental do ambiente educacional escolar. Possuem cargos de secretaria,
serviços gerais, merenda e portaria. São responsáveis diretamente pela manutenção e
funcionamento do ambiente escolar (LIBÂNEO et al, 2013). Desse modo, os funcionários,
com base na sua vivência na escola e parte integrante da mesma, possuem voz ativa no debate
sobre “o que seria uma escola de qualidade?”.
Metodologia
O artigo em questão consiste numa análise de respostas dos funcionários acerca do que
seria uma escola de qualidade. Como atividade do componente curricular Estágio
Supervisionado de Formação de Professores I do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os estudantes foram
convidados a coletar respostas de funcionários, discentes, docentes e pais relacionados às
escolas públicas de Natal para a seguinte pergunta: “O que é uma escola de qualidade?”. A
coleta dos depoimentos deu-se a partir de escolha aleatória dos sujeitos que iriam responder a
pergunta. Cada licenciando cursando o referido componente ficou responsável por abordar
pelo menos dois sujeitos pertencentes a cada um dos grupos supracitados.
De posse das respostas, a turma de licenciandos dividiu-se em quatro equipes (uma
para cada grupo de respostas dos sujeitos participantes da pesquisa). Cada equipe ficou
responsável por analisar o conteúdo das respostas e, em seguida, apresentar e discutir os
resultados de sua análise para toda a turma do componente em questão. Tais respostas
trouxeram visões do que consistia uma escola de qualidade para os sujeitos ligados às escolas
públicas da cidade do Natal. No presente trabalho, a análise se debruça sobre a totalidade das
respostas coletadas dos funcionários e analisadas nas turmas do referido componente
curricular, totalizando sessenta e quatro respostas.
Resultados e discussões
De posse das sessenta e quatro respostas, foi feita uma classificação qualitativa das
mesmas. Desse modo, houve a emersão de seis grupos característicos oriundos das
concepções dos funcionários a respeito da questão “o que é uma escola de qualidade?”. Estes
grupos foram intitulados: promotora da cidadania; focada no professor; regida pelo
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pensamento
empresarial;
centrada
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nas
políticas
públicas;
profissionalizante
e
assistencialista. A figura 1 mostra o gráfico com a distribuição percentual das 64 respostas
nos grupos.
Figura 1 – gráfico percentual sobre concepções de funcionários de escolas públicas através da pergunta “o que é uma escola de
qualidade?”.
A caracterização e análise dos grupos em particular seguem a ordem decrescente do
percentual das respostas.
1. Promotora da cidadania
Não é difícil encontrar o discurso de que a educação tem como objetivo preparar o
cidadão para a vida. É na escola que se tem os primeiros processos sociais fora do seio
familiar (OLIVEIRA, 2008). A escola deveria desenvolver atividade que insira o educando na
ideologia democrática e na base da existência social. A educação escolar é um meio de
preparar o indivíduo para a execução de papeis políticos específicos numa sociedade
(FERNANDES apud GHANEM, 2012). Porém, a escola não deve ser apenas um instrumento
para preparar o indivíduo para a integração social. A escola tem que viver a cidadania em sua
plenitude. Contribuindo para a compreensão da realidade, na promoção do exercício da
liberdade e da responsabilidade social (ALARCÃO, 2001).
Estão contidas nesse grupo as respostas que indicam que uma escola de qualidade está
centrada na inserção do indivíduo na comunidade e sua formação como cidadão. Não apenas a
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integração do cidadão na sociedade, mas a comunidade contribuindo para essa formação. A
educação não apenas como fator de interação social, mas, também, de mudança e
aperfeiçoamento da vida social (GHANEM, 2012).
Adicionado a isso, ocorre nos funcionários, a preocupação de que a sociedade deve
ajudar nessa formação do cidadão. Há neles a percepção que a escola não trabalha na
educação de forma isolada: ela seria apenas parte integrante do processo educativo e social.
Assim, F1 respondeu que uma escola de qualidade:
F1 - “É aquela que objetiva a formação do sujeito com base na perspectiva dele e da
sociedade. A prática pedagógica deve ser embasada acerca da sociedade que se pretende
formar. crítico e reflexivo”.
Os funcionários argumentam que a escola deve assumir o papel em prol do
amadurecimento do pensamento crítico e social dos educandos. Com fins de melhor atuação
em seu papel social e planejamento futuro de suas vidas. É percebido que o processo de
formação integral do indivíduo é, em essência, um processo educativo. Assim, surge a
necessidade de apropriação da cultura humana, a fim de que o indivíduo possa objetivar a sua
própria existência (PASQUALINI e MAZZEU, 2008). Nesse sentido, F2 pensa que uma
escola de qualidade:
F2 - “Consiste numa gestão democrática com parcerias e participação da comunidade
escolar com o objetivo de desenvolver ações que venham a contribuir no desenvolvimento
integral do aluno, preservando os valores: solidariedade, honestidade, amor e justiça”.
2. Focada no Professor
Nessa categoria, os funcionários veem as relações em torno do professor como o
principal fator para uma escola de qualidade. É uma escola que oferece bom ensino, limpeza
do prédio e não faltar [sic] professor, assim respondeu um dos funcionários entrevistados.
Um dos fatores que mais aparecem nas respostas focadas na figura do professor, é a carência
de um corpo docente completo, bem como assiduidade dos que já compõe o quadro de
professores da escola. Ceccon (1992) identificou a mesma problemática na visão dos pais.
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Evidenciando que esse problema já vem ocorrendo há muito tempo, além de ser percebido por
mais de uma frente na comunidade escolar.
Percebe-se ainda, na visão dos funcionários, a necessidade de interesse por parte dos
alunos ao que é discutido em sala de aula. A relação professor-aluno é vista como o centro
para um bom resultado no processo de ensino-aprendizagem. Ainda segundo eles, os alunos
são resistentes a conhecer e aprender assuntos nos quais não vê utilidade. Não desenvolvem o
gosto pelo saber, pela aprendizagem, pelo estudo e pelo esforço (TOGNETTA, 2011). Essa
situação pode ser visualizada na fala a seguir:
F3 - “Os professores vá [sic] todo dia para sala de aula, os alunos estejam interessados no
que os professores estão passando em sala de aula (...) trabalho do corpo docente em prol
dos alunos com o objetivo únicos de todos unidos em prol da educação”.
A escola tem a tarefa de formar pessoas que saibam articular os conhecimentos
baseados nas informações que adquiriram ao longo da vida (TOGNETTA, 2011). Instiga a
participação ativa do educando, não se detém apenas naquela educação onde “somente o
professor fala” sem provocar os alunos a questionarem os mesmos.
Ocorre também a preocupação com a qualificação dos professores. Uma gama dos
funcionários pensa que uma escola para ser considerada de boa qualidade precisa de
professores mais capacitados. Os pais valorizam padrões acadêmicos altos e boas práticas de
ensino (ALARCÃO, 2001). Por isso, tem sido recorrente queixa a falta de preparo dos
professores na ótica dos funcionários da escola (CECCON et al., 1992). Argumenta um
funcionário:
F4 - “Uma escola de qualidade é aquela que tem professores competentes e que propicia ao
educando a sistematização dos conhecimentos. Ensina aos alunos a refletir e a questionar o
seu cotidiano procurando solucionar os problemas. Equipe que trabalhem de forma coletiva
na perspectiva de uma boa educação”.
3. Regida pelo pensamento empresarial
As reformas neoliberais, na década de 1990, ganharam força nas disputas ideológicas
nos grandes centros de decisões mundiais. Tais reformas, em sua essência, determinavam a
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necessidade de implantação das políticas macroeconômicas subordinadas à lógica do
mercado. No Brasil, o modelo fabril exerceu forte influência nas propostas curriculares e na
cultura organizacional das escolas (AZEVEDO, 2007).
Alinhadas a esta lógica neoliberal estão as respostas de funcionários incluídas neste
grupo. Para estes funcionários, a escola de qualidade é comparada a uma empresa.
Encontram-se no corpo das respostas expressões como: “Manter a escola em dia” e “um bom
chefe”. A cultura da mercantilização se faz presente pela tentativa de introduzir os valores e a
linguagem empresarial na escola. Isso fica evidenciado na fala do funcionário a seguir:
F5 - “Uma escola com um bom prédio com condições de receber os alunos, com bons
professores que se dedicam a sua aula, um bom chefe (diretor) para manter a escola sempre
em dia”.
Nesse contexto, pode-se perceber que uma escola de qualidade deve-se adaptar aos
princípios e valores da economia de mercado. Forma cidadãos clientes, produtores e
consumidores, identificados com a ideologia de mercado (AZEVEDO, 2007). Expressões
como “bom atendimento” e “funcionários empenhados” inserem a escola pública num
contexto capitalista e estão presentes nas respostas de alguns dos sujeitos aqui em cena. A
escola deveria seguir as regras de mercado experimentando novas estratégias organizacionais
e institucionais para conquistar clientes (COSTA, 2012). Isso se aproxima das seguintes falas:
F6 - “É a escola que oferece um bom atendimento, boa merenda, bom relacionamento entre
pais/escola, uma equipe capacitada”.
F7 - “Boa direção, bons projetos, funcionário empenhados para o bem estar dos alunos,
merenda de boa qualidade, atividades físicas, bons professores e pontuais, empenho dos
funcionários nas suas respectivas funções”.
Assim, é evidente que a ordem econômica mundial influencia as concepções dos
funcionários sobre uma escola de qualidade. Já que o sistema econômico vigente, o
capitalismo, está presente no dia a dia dos cidadãos. Influenciando consideravelmente o
pensamento do que seria um produto e/ou serviço de qualidade.
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4. Centrada nas políticas públicas
Para os funcionários desse grupo, uma escola de qualidade é aquela que precisa do
amplo apoio dos órgãos públicos para garantir condições de ensino-aprendizado. No sistema
educacional atual, toda educação pressupõe políticas que exiges um apoio administrativo.
Tais políticas devem coordenar as dimensões curriculares e pedagógicas com intuito de
fornecer ambiente colaborativo e facilitador (ALARCÃO, 2011). Assim:
F8 - “Uma escola de qualidade, consiste no conhecimento de todos que fazem parte da
mesma, a desenvolverem trabalhos que beneficie principalmente o aluno. Para isso é
necessário que os órgão públicos ofereçam qualificação [sic] melhores, condições de
trabalho para os profissionais. Para se ter um escola de qualidade, é preciso que haja
compromisso da parte de todos os envolvidos.”
Nota-se na fala de F8, que na visão do funcionário, a administração pública não tem
exercido o papel de fornecer condições para uma escola de qualidade. Adicionando a esse
quadro, os funcionários questionam a eficiência e aplicabilidade da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), pois para eles uma escola de qualidade está intimamente ligada
à sua total aplicação. Em decorrência disso, F9 propõe:
F9 - precisaríamos ser mais transparentes (governo e membros da escola), que os
professores não trabalhem só por amor, precisamos ter boa remuneração. Que todos sejam
unidos e que a Secretaria de Educação assuma mais o seu papel. Que todos fossem mais
unidos e usassem mais a LDB”.
5. Profissionalizante
Seguindo a égide da ideologia neoliberal, alguns funcionários vestem sob novas
roupagens o pensamento da escola tecnicista. Para eles, a escola é uma via de capacitação
para o mercado de trabalho. Gentili (1995) aponta que nas sociedades capitalistas neoliberais,
a escola acrescenta a função de influenciar os discentes para não pensar em cidadania.
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Em virtude disso, a escola é tratada como via de formação profissional ou acesso à
carreira. Essa formação profissional está atrelada à ascensão social. Para Ghanem (2012),
apesar de muitos teóricos não considerarem a educação como fator de mudança social, tal
pensamento ainda ocupa a posição central na opinião pública em relação à escola. Essa
afirmativa pode ser percebida nas falas a seguir:
F10 - “Uma escola de qualidade é bem mais que uma estrutura de qualidade, consiste em um
ensino que se propõe a qualificar o indivíduo para o trabalho e para o mundo”.
F11 - “É uma escola que proporciona mais que educação, e sim qualidade de vida, no que
diz respeito a preparação para as necessidades do mercado de trabalho”.
Tal perspectiva também é encontrada no texto de Ceccon et al. (1992). Para o autor, a
escola é vista como uma escada, um meio de ascensão social. Melhores chances de
conseguirem melhores empregos. Eles seguem dizendo que ainda persiste o pensamento de
que o cidadão sem diplomas e qualificações não conseguirá um bom emprego.
6. Assistencialista
Esse grupo está evidenciado um tipo particular de zelo para com os discentes. A
escola estaria, para eles, intimamente ligada a ações como cuidar, proteger, amparar, orientar.
Então, para os funcionários desse grupo, uma escola de qualidade é aquela que fornece
assistência psicológica, que trabalha as questões acerca das drogas. F1 contribui para essa
lógica dizendo:
F12 - “O que eu queria é que existisse psicólogo na escola. Uma escola de qualidade é essa.
Tem que explicar sobre as drogas. Ter um psicólogo dentro da escola, a polícia dentro da
escola, não vir só apenas visitar”.
Vale salientar que o funcionário em questão possui um filho envolvido com drogas.
Para ele, a escola, por via da informação, seria o principal meio de combate a essa prática.
Silva et al. (2013) argumenta que, para os funcionários, uma escola é vista como
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assistencialista quando se pensa que deveria atuar fornecendo estadia, alimentação e lazer aos
alunos.
Considerações finais
Os funcionários ao se defrontar com a pergunta “o que é uma escola de qualidade”
foram instigados a pensar sobre suas expectativas que cercam a escola. Em outras palavras,
pensaram sobre como ela deveria ser. Com a provocação supracitada, percebe-se que os
funcionários participantes desta pesquisa não estão alheios às principais problemáticas que
cercam a escola. Os principais problemas por eles apontados são: a escola deveria promover
ainda mais o exercício da cidadania e as questões que cercam o professor, desde a sua
carência até o compromisso do professor com atitudes assíduas.
Percebe-se ainda a ocorrência de uma forte influência das ideias neoliberais nas
respostas dos entrevistados, ao ponto de influenciar fortemente a formação de dois grupos. As
correntes de pensamento desses dois grupos possuem como plano de fundo a lógica
capitalista. Para alguns dos sujeitos entrevistados uma escola de qualidade deve se assemelhar
à cultura organizacional de uma empresa, deve ter forças para competir no mercado em busca
de atingir metas bem definidas. Próximo dessa lógica, o grupo Profissionalizante opina que
uma escola de qualidade deve preparar os discentes para o mercado de trabalho, sendo mero
instrumento de estabilidade e ascensão social.
Deste modo, reconhecer a escola como um campo de debates e discussões de cunho
político é premissa para a busca de uma escola de qualidade. Todos aqueles que trabalham na
escola devem ter voz ativa nesse processo. Em plena sociedade do conhecimento, a escola
deve procurar construir uma identidade democrática e formadora de indivíduos com o
pensamento crítico: isso inclui o pensamento de discentes, pais/mães, docentes e demais
servidores.
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