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10 I .EDU I Terça-feira, 30 de Março de 2010
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ARQUIVO PESSOAL
JOSÉ SIEBER LUZ
Formado em Direito e Relações Internacionais pela
PUC-SP. Oficial de Proteção da Acnur (agência de refugiados da ONU) em Cabul, capital do Afeganistão
“Na Jordânia, trabalhava com
pessoas que estavam em
assentamentos no Iraque e (com a
invasão dos EUA) foram expulsas.
Muitos desses refugiados estão no
Brasil hoje. Acompanhei a viagem
deles: um trajeto longo, difícil,
mas extremamente gratificante.
Recompensas. Tantas exigências trazem compensações, no
âmbito financeiro e pessoal. O
salário de quem está na primeira missão no MSF, por exemplo, é de € 1.000 (R$ 2.400) –
depositado numa contado Brasil, já que a ONG paga uma diária para despesas pessoais. E o
salário sobe a cada missão.
“É gratificante saber que tra-
zemos assistência às populações mais vulneráveis do planeta.Paramim,esseéoexercício pleno da medicina”, conta
o psiquiatra Renato Souza, da
Cruz Vermelha, que já esteve
em países como Índia, Nigéria,
Moçambique, Iraque, Líbano,
Sudão e Uganda.
Souza e outros brasileiros
têm alguns trunfos nas missões, como a imagem simpática criada por astros do futebol,
como Pelé e Ronaldo. Ironicamente, um deles é a convivência com a violência, a pobreza e
a diferença social no País. “Por
encarar tudo isso diariamente,
o brasileiro sabe, por exemplo,
que não se reage a um assalto. E
issopodeserbemútil.Suaatitude diante da violência ou da miséria é de menos choque que a
de um europeu, que costuma
ter mais informação, mas menos vivência e preparo emocional”, afirma Delley, do MSF.
“Brasileiro tem facilidade de
expressar, ouve com interesse”, diz Fernanda Ferreira, do
Save the Children. Para o economista Igor Moraes, também
do MSF, o brasileiro leva vantagem no tempo que qualquer integrante de uma missão precisa até conseguir trabalhar com
desenvoltura. “Por vermos miséria todo dia, a adaptação é
mais rápida.”
CAPA
SAMUEL DE OLIVEIRA
ARQUIVO PESSOAL
tal”, conta Graziella Piccolo,
que, nos seus 15 anos de Cruz
Vermelha, já esteve em mais de
dez países na América Central,
Ásia, África e Oriente Médio.
“Ser testemunha de tanta
dor e perceber que você jamais
vai suprir todas as necessidades dessas pessoas pode ser algobemfrustrante.Por issoprocuramospessoas com personalidade forte”, explica Izard.
Presente em praticamente
todos os anúncios de emprego
da seção de classificados, a capacidade de trabalhar em equipe ganha mais peso num contexto de guerra. Funcionários
da Acnur, a agência de refugiados da ONU, exemplificam
bem esse perfil, pois trabalham
noscantosmais remotoseperigosos do mundo. É o caso do
advogado José Sieber Luz, que
depois de ter passado pela Bósnia-Herzegovina e Colômbia,
agora está no Afeganistão.
Entreinessaáreahumanitáriaem1999,quandofui
consultorjurídicodaCáritasdeSãoPaulo,auxiliando os refugiados que chegavam ao Brasil.
Depois fui para a Bósnia-Herzegovina, onde comeceiatrabalharnaAcnurcomosrefugiadosedeslocados internos. Também atuei com a proteção de
refugiados nas fronteiras entre Colômbia e Equador e Colômbia e Venezuela.
Agora estou no Afeganistão, onde me dedico à população civil que é obrigada a abandonar suas casas por causa do conflito. É um privilégio entender
eaprendercomosrefugiados–suasculturas,seus
costumes e também a força e resiliência que mostrama cada dia. Oque pesa é a boa e velha saudade
de casa, do Brasil, que sempre nos acompanha.”
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“Na Jordânia, trabalhava com pessoas que estavam em