“AS PESSOAS QUE LEEM TEM MAIOR COMPREENSÃO DE
MUNDO, ENTENDEM O PORQUÊ DAS COISAS” - A CONCEPÇÃO DE
LEITURA DOS PROFESSORES
SANTOS, Eli Regina Nagel dos – FURB
[email protected]
Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O professor necessita de uma constante atualização. A leitura é a porta central rumo à
democratização do pensamento. Durante muito tempo, a leitura era vista simplesmente como
um ato de decodificação de letras e sons. A escola trabalhava com a formação de leitores que
não conseguiam compreender e correlacionar os textos lidos com a realidade. A cada dia a
sociedade exige das pessoas mais competências e habilidades, por isto a leitura está cada vez
mais presente na vida de cada um. Os motivos para se ler podem ser variados. Alguns leem
para informarem-se, outros para aprender, outros, a fim de se divertir. Nessa comunicação
optou-se por compartilhar uma pesquisa realizada no ano de 2006, com o objetivo de analisar
a concepção de leitura expressa pelos professores. Os autores que ajudaram a fundamentar
essa pesquisa foram: Silva, Oliveira, Kleiman e Raths. Os sujeitos participantes foram 40
professores de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental de uma Rede de
Ensino Municipal localizada no Vale de Itajaí (SC). A coleta deu por meio de uma questão
aberta, respondida individualmente na presença do pesquisador, com o seguinte comando:
Qual a importância da leitura na vida das pessoas? Para esta questão foram criadas categorias
de análises para uma melhor organização do trabalho e compreensão dos resultados. Foram
classificadas em: adjetivar, utilitário pela razão, utilitário pela emoção e chavões. Concluiu-se
que a maior parte lê por alguma razão, muitas vezes com um objetivo pré-estabelecido, pela
necessidade de comunicação, busca de sentidos, originando assim, sua concepção de leitura,
sendo que esta pode refletir na prática escolar, e conseqüentemente, na formação leitora de
seus alunos, seja ela positiva, ou negativamente.
Palavras-Chave: Leitura. Professores. Concepção.
Introdução
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A construção da prática pedagógica está muito ligada com a concepção de mundo, de
homem e de conhecimento que temos de determinados contextos sociais, culturais e históricos
em que vivemos e nos relacionamos.
A prática da leitura é indispensável para a participação social efetiva, pois, por meio
dela, o ser humano pode se comunicar, ter acesso à informação, expressar e defender o seu
ponto de vista, partilhar ou construir visões de mundo/conhecimento. Saber ler é condição
necessária ao cidadão e principalmente ao educador; por meio da leitura, pode-se conhecer o
mundo sem sair do lugar, ter uma familiaridade com grande número de textos. Mas, faz-se
necessário que a prática de leitores seja crítica e contextualizada e não uma simples
decodificação mecânica de fonemas e grafemas, sem buscar o entendimento e reflexão das
diferentes estruturas textuais. No entanto, o leitor pode ser sujeito na relação com o texto ou
apenas um sujeitado a este, tudo depende da postura que assume diante do mesmo.
Assim, dependendo da concepção de mundo, de homem, de leitura, defendida pelos
professores, legitima-se sua concepção de ensino. Diante disso, objetivou-se analisar a
concepção de leitura expressa pelos professores. Os sujeitos participantes foram 40
professores de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental de uma Rede de
Ensino Municipal localizada no Vale de Itajaí (SC) - Brasil. A coleta deu-se por meio de uma
questão aberta, respondida individualmente na presença do pesquisador, com o seguinte
comando: Qual a importância da leitura na vida das pessoas?
Para esta questão aberta foram criadas categorias de análises de conteúdo, a fim de
facilitar a interpretação e reflexão dos dados coletados. O questionário era um instrumento
anônimo, na qual, optou-se por caracterizar os sujeitos por números - que estes são infinitos,
utilizando à escrita dos entrevistados na análise dos dados.
A leitura, além da decodificação das letras.
Todo homem que sabe ler tem em seu poder a possibilidade de superar-se, de
multiplicar as formas de sua existência, de tornar sua vida completa, significativa e
interessante. (ALDOUX HUXLEY)
A palavra ler possui muitas definições. Às vezes, entende-se que trata de um
instrumento de acesso à cultura e à aquisição do conhecimento. Já no dicionário Larousse
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Cultural (1993, p. 681) a leitura é concebida como “[...] ato ou efeito de ler, análise,
interpretação que se faz de uma obra”.
Na busca de uma definição, o Referencial Curricular de Santa Catarina (1998, p.31)
nos dá subsídio dizendo:
Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo em que o leitor realiza um
trabalho ativo de construção do significado do texto, apoiando-se em diferentes
estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que
sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão.
Há quem defenda que ler seja simplesmente decifrar e decodificar fonemas e grafemas
que podem atribuir diferentes significados em um mesmo texto. Outros destacam que “[...] ler
é envolver-se. Vamos nos afundando nas areias movediças do texto, deixando-nos encobrir
pelas palavras, envolvidas por todos os lados, com a luz e o ar...ler é a felicidade do olhar.”
(LOUREIRO apud WERNER, 1995, p.14)
Silva (1996, p.32) nos dá suporte dizendo que:
A leitura, isto é, o instrumento necessário à compreensão do material escrito,
também pode ser vista como uma fonte possível de conhecimentos. E se a
experiência cultural for tomada como um comprometimento do indivíduo com a sua
existência, verifica-se a importância que a leitura exerce na vida do indivíduo.
A leitura inicia-se muito antes da entrada na escola e acompanha o indivíduo por toda
a vida, desdobrando-se como fonte de prazer, conhecimento, descoberta. A leitura ultrapassa
os muros escolares, possibilita uma conquista de autonomia, permite uma transposição do
senso comum, sendo possível receber informações culturais, sociais e econômicas. Isto fica
claro na seguinte fala:
A leitura não é somente a apropriação do ato de ler e escrever; ela envolve o
domínio de um conjunto de práticas culturais que envolvem uma compreensão do
mundo diferente daquela dos que não têm acesso à leitura. A leitura tem um papel
tão significativo na sociedade que podemos dizer que ela cria novas identidades,
novas formas de inserção social, novas maneiras de pensar e agir. (BADEJO, 2005,
p.5)
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A aprendizagem da leitura constitui-se a partir do domínio crítico da linguagem e da
competência de comunicar-se pela escrita, e entender o que se apresenta por de trás das letras,
os pensamentos que existem nas entrelinhas do texto.
A leitura pode fazer parte na vida das pessoas de forma significativa, através de um
intercâmbio de suas vivências. Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), a
leitura e a escrita estão ligadas uma a outra, não se pode separá-las, pois ambas nos dão uma
visão de mundo. No entanto, na escola, se dá mais ênfase na escrita pela formação das
palavras do que na leitura.
A leitura não é necessariamente uma descoberta do mundo, mas por meio dela é
possível que ocorra um enriquecimento pessoal do leitor, diante das experiências individuais
que ele constitui com o texto. O domínio da leitura envolve uma série de habilidades
complexas que precisam ser desenvolvidas progressivamente.
De acordo com os PCN (2001), a leitura tem como finalidade formar leitores
competentes e como conseqüência bons escritores. Um leitor competente compreende,
analisa, seleciona e se organiza considerando os diversos textos que circulam socialmente.
A maneira que se interage com os textos é diferente para qualquer indivíduo, pois o
resultado da leitura precede das experiências pessoais. Toda interpretação oriunda de um
universo de significados, pois cada leitor traz consigo uma vivência e uma atitude diferente.
Na manutenção deste pensamento, Monteiro Lobato (1882 – 1948) comenta, que: “quem não
lê, mal fala, mal ouve, mal vê”.
São diversas as razões para ler, pois através da leitura, consegue-se comunicar de igual
para igual com o mundo, seja no tempo ou no espaço. Em relação a estas idéias convém
lembrar das contribuições de D’Ambrosio (1998, p.31) “[...] através da comum ação
(comunicação) interagimos com os outros, desta forma ampliamos e aprimoramos nossas
maneiras de conhecer/construir conhecimentos e assim nos inscrevemos, ao mesmo tempo em
que influenciamos, na cultura de que fazem parte”.
A leitura abre janelas para o humor, para a aventura, para mobilizar diferentes tipos
de sentimentos, para conhecer o mundo, culturas diferentes e a própria cultura. Dando suporte
a este pensamento, os PCN (2001, p. 53) apontam que:
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A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção de
significado do texto, não se trata simplesmente de extrair informações da escrita,
decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que
implica, necessariamente, compreensão, na qual os sentidos começam a ser
constituídos antes da leitura propriamente dita. Qualquer leitor experiente que
conseguir analisar sua própria leitura constatará que a decodificação é apenas um
dos procedimentos que utiliza quando lê: a leitura fluente envolve uma série de
outras estratégias de seleção, antecipação, interferência e verificação, sem as quais
não é possível rapidez e proficiência...
Dependendo do gênero discursivo, a postura que o leitor assume diante do texto é
diferente, podem variar conforme as circunstâncias: o tempo, o espaço, a situação e
interferências do meio em que está inserido. Por isto, a cada releitura do texto, há
possibilidade de produzir uma nova reflexão sobre o mesmo. Lulu Santos (1987) nos faz
refletir com uma de suas canções...
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é igual ao que a gente viva um segundo...
(SANTOS; MOTTA, 1987)
Qualquer leitura exige esforço, concentração, determinação e domínio da língua. Para
enriquecer os conhecimentos é preciso pesquisar e ler obras sobre os mais diversos assuntos,
que apresentam curiosidades, desafios, compreensão de sentidos, considerando o texto e sua
integralidade de significados, ampliando os níveis de leitura, tendo em mente que “[...] o
pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é por meio delas que ele passa a
existir”. (VYGOTSKY, 1991, p. 71)
A prática de leitura deve se fazer presente no cotidiano das pessoas, intercalando as
diversas modalidades de leitura, a saber: ler para estudar, ler para escrever, para analisar a
intenção do autor, ler para revisar, para divertir-se. Estas leituras têm por função a formação
de leitores competentes, buscando elencar critérios para a seleção do material a ser lido.
Só se aprende ler lendo ou ouvindo os outros ler. Ser leitor é pré-requisito,
principalmente a um professor. O professor que pouco lê, terá dificuldades de incentivar e
conduzir suas práticas pedagógicas, visando uma formação leitora de seus alunos. A leitura na
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escola é passaporte para o mundo letrado. A aprendizagem e o gosto pela leitura são maiores
em ambientes que as pessoas lêem bastante. Pennac (1993, p.139) defende que todo leitor tem
direito: “[...] de ler, de pular páginas, de não terminar de ler um livro, de reler, de ler qualquer
coisa, de ler em qualquer lugar, de ler uma frase aqui outra ali, de ler em voz alta, de calar”. O
importante é ler.
Dependendo da concepção de mundo, de homem, de leitura, defendida pelos
professores, legitima-se sua concepção de ensino. Tomio (2002, p.31) acrescenta: “[...] a
concepção de conhecimento do professor tem implicações na sua prática pedagógica”.
No entanto, a leitura dos professores pode interferir na formação de alunos leitores,
pois geralmente, dá-se prioridade a conteúdos que não motivam os alunos a ler, a refletir e a
interagir o texto com sua vivência. Se o professor tem a leitura em sua vida, apenas como
exigência de trabalho e não como fundamento para a vida pessoal e profissional, pode vir a
oferecê-la, assim, a seus alunos. Segundo Garcia “[...] o que o professor pensa sobre o ensino,
influência a sua maneira de ensinar, pelo que se torna necessário conhecer as concepções dos
professores sobre o ensino”. (GARCIA apud TOMIO, 2002, p.31)
Como o objetivo da pesquisa é analisar como os professores expressam sua concepção
de leitura procede-se à análise das categorias de leituras, na próxima seção.
Analisando os dados
Constatou-se que todos os entrevistados são do sexo feminino e 73% com idade entre
21 a 40 anos. Sendo que 67% ganham até 3 salários mínimos, somando 1/3 dos entrevistados
com nível de estudo o ensino médio e 43% com nível superior incompleto e restante possuem
nível superior completo (21%). Também, que a metade dos professores trabalha no ensino
fundamental.
Nesta seção procede-se a análise da questão aberta que tinha como a seguinte
pergunta: Qual a importância da leitura na vida das pessoas?
Para esta questão foram criadas categorias de análises para uma melhor organização
do trabalho e compreensão dos resultados. Foram classificadas em: adjetivar, utilitário pela
razão, utilitário pela emoção e chavões. É oportuno mostrar o gráfico que determina a
freqüência que empregaram cada categoria.
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Gráfico1– Qual a importância da leitura na vida das pessoas?
adjetivar
11%
10%
utilitários pela via
da razão
25%
utilitários pela via
da emoção
54%
chavões
Fonte: Professores da Rede de Ensino do Município do Vale de Itajaí (SC)
Adjetivar - Esta categoria foi criada, tendo em vista o agrupamento de respostas que
utilizaram adjetivos para defender sua concepção sobre leitura, tais como: é importante, é
essencial, fundamental.
Adjetivam a frase, mas não explicam “por quê”. Verifica-se isto na escrita do
professor 1 que diz: “A leitura é de suma importância na vida das pessoas.” Talvez, por que
através da leitura se pode aprender muito, além de trazer muitas informações, ela oportuniza
viajar mentalmente e conhecer outros lugares.
No mesmo sentido, o professor 16 fala que: “Ler é essencial na vida de qualquer
pessoa...” pode ter se referido à palavra essencial, já que a leitura possibilita testar os valores
e experiências, conhecer melhor o mundo e um pouco de nós mesmos. Ajuda na
comunicação, favorece na entrada do mercado de trabalho e na vida em sociedade. Busco
respaldo em Silva (1996, p.42), quando aponta uma das funções da leitura da seguinte
maneira:
A leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais
essencial ainda, à própria vida do Ser Humano. O patrimônio simbólico do homem
contém uma herança cultural registrada pela escrita. Estar com e no mundo
pressupõe, então, atos de criação e re-criação direcionados a essa herança. A leitura,
por ser uma via de acesso a essa herança, é uma das formas do Homem se situar com
o mundo de forma a dinamizá-lo.
Nesse mesmo caminho de reflexão, o professor 5 diz: “A leitura é de fundamental
importância na vida das pessoas.” No dicionário Larousse (1993, p. 536) a palavra
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fundamental tem como significado “[...] que serve de base, de fundamento, necessário,
determinante.” Foram estes os adjetivos utilizados para expressar a concepção de leitura dos
professores, por 10% dos entrevistados, registrando que não se deve só ler por ler, mas
procurar entender o que se está lendo. Pois, a leitura é uma forma simples de ter acesso a
novas ideias e conhecimentos.
Outra categoria optou-se por denominá-la de “Utilitária pela via da razão”, desse
modo, na escrita dos professores, constatou-se o uso da leitura como fonte de conhecimento,
informação, enriquecimento pessoal e profissional. Utilizam a leitura com alguma função, a
fim de compreender, interpretar, entender e ampliar o vocabulário. Fica claro na escrita do
professor 12, “através da leitura podemos ficar informados dos mais variados assuntos”.
Leem por alguma razão, muitas vezes com um objetivo pré-estabelecido, pela
necessidade de comunicação, busca de sentidos, originando assim, sua concepção de leitura.
Para o professor 3: “as pessoas que leem têm maior compreensão de mundo, entendem o por
quê das coisas”. Menciona-se aqui Ezequiel Silva (1993, p. 24) que diz:
A leitura caracteriza-se como um dos processos que possibilita a participação do
homem na vida em sociedade, em termos de compreensão do presente e passado e
em termos de possibilidade de transformação sociocultural futura. E por ser um
instrumento de aquisição, transformação e produção de conhecimento, a leitura, se
acionada de forma crítica e refletiva (...) combate alienação, capaz de facilitar as
pessoas e aos grupos sociais a realização da liberdade nas diferentes dimensões da
vida.
Na escrita dos professores, notou-se que 54% mencionaram termos originados e
categorizados por via da razão. Segundo Kleiman (1995), a leitura é uma interação em que
autor e leitor constroem sentidos de um texto, o que significa que para o fenômeno da
compreensão, este traz sua experiência sociocultural, determinando assim, leituras diferentes
para cada leitor e também, para um mesmo leitor, conforme seus conhecimentos, interesses e
objetivos naquele momento.
Mediante este assunto apresentamos a escrita do professor 19 que diz: “A leitura
possibilita um melhor relacionamento com a vida, com as outras pessoas. Através da leitura,
além de estar informando notícias, as pessoas também conseguem desenvolver um bom
diálogo e até usar palavras novas e bonitas”.
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A leitura, por via da razão, pode ser geradora de novas experiências para o indivíduo,
que privilegia a reflexão, compreensão e a troca de ideias entre os leitores/livro ou entre os
leitores/leitores.
A terceira categoria de análise foi denominada “Utilitária pela Emoção” visto que
muitos professores destacam a leitura como um meio de despertar os sentimentos, a emoção,
a imaginação, o prazer, a paixão, os sonhos, por meio das palavras impressas. Oliveira (1996,
p. 28) afirma que:
Leitura com prazer [...] é aquela capaz de provocar riso, emoção e empatia com a
história, fazendo o leitor voltar mais vezes ao texto para sentir as mesmas emoções.
É aquela leitura que permite o leitor viajar no mundo do sonho, da fantasia e da
imaginação e até propiciar a experiência do desgosto, uma vez que esta também é
um envolvimento afetivo provocador de busca de superação.
O professor 21 relata: “A leitura faz as pessoas viajar, imaginar, é como se
vivêssemos aquilo que estamos lendo”. Isto se torna possível pela leitura do prazer, podendo
despertar o gosto pelos livros, por meio dos sentimentos e das habilidades de pensamento a
imaginação, a curiosidade entre outras, defendidas por Rahts (1967, p.29) que afirma “[...] a
imaginação exige que deixemos de lado o que é prosaico; exige invenção e originalidade,
liberdade para pensar no que é novo, diferente”.
Nesse mesmo sentido trazemos a fala do professor 22 que declara “o que mais
considero na leitura é o poder de dar asas à imaginação, à criatividade”. O professor que se
utiliza da leitura para ampliar seu conhecimento e despertar suas emoções tem possibilidade
de conduzir o aluno a esta mesma ação.
Da mesma forma, o professor 9 relata que “A leitura é uma fonte de prazer, pois com
ela podemos sonhar, criar, imaginar, vivenciar emoções, ou seja, viajar num mundo sutil e
particular” (professor 9). Assim, as leituras por via da emoção foram citadas por 25% dos
entrevistados. As leituras literárias, que passam por via da emoção, despertando sentimentos,
imaginação, a criatividade. Oliveira (1996, p. 22) transcreve que:
Uma obra literária é aquela que aponta a realidade comum roupagem nova, criativa,
deixando espaço ao leitor para entrar na sua trama e descobrir o que está nas
entrelinhas do texto. Um dos critérios a serem considerados para avaliar uma obra
literária é verificar se ela contém o fantástico, o mágico, o maravilhoso, o poético.
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A última categoria a ser analisada nesta questão foi nomeada de “Chavões”, por se
tratar de uma categoria em que foi agrupada a respostas das professoras que utilizaram em
seus escritos, termos encontradas em estudos teóricos, sobre o assunto, Ex: leitura de mundo,
construção de sentido, leitura crítica, busca de significados, visão ampla. Na realidade citam,
mas podem não ter clareza sobre o significado de cada termo.o que não ficou claro nessa
pesquisa.
Para o professor 1: “Ler não significa apenas decodificar um texto, mas implica uma
busca de significado” para o mesmo professor “quanto mais viajamos no mundo da leitura,
teremos uma visão ampla do que está acontecendo à nossa volta.” Bom seria, se os
professores usufruíssem e trabalhassem a leitura com o pressuposto de ampliação, visão,
construção de sentidos, caracterizando-as e colocando-as como possibilidade para reflexão e
re-criação, por meio de uma leitura crítica. Para Silva (1996, p. 79), leitura crítica é:
A condição para a educação libertadora é a condição para a verdadeira ação cultural
que deve ser implementada nas escolas. A explicitação desse tipo de leitura, que está
longe de ser mecânica (isto é, não geradora de significados), será feita através da
caracterização do conjunto de exigências, com o qual, o leitor crítico se defronta, ou
seja, constata, coteja e transforma.
Neste sentido, sugere-se repensar a leitura em sala de aula, a fim de levar o aluno a ter
respaldo diante do texto e debater sobre ele. Por isto, a prática leitora e a concepção que o
professor adota em sua vida refletem na prática escolar, e conseqüentemente, na formação
leitora de seus alunos, seja ela positiva, ou negativamente.
Concordamos com Pennac
quando questiona: “E se em vez de exigir a leitura, o professor decidisse partilhar sua própria
felicidade de ler?” (PENNAC, 1993, p. 50)
Para finalizar este estudo, apresenta-se a última fala do professor 33, que diz: “Ler é
importante para as pessoas não terem somente informações, mais leitura de mundo, leitura
crítica”. Na qual, defende-se que, ter leitura de mundo não necessariamente significa leitura
da palavra, pois esta se inicia antes da alfabetização e acompanha o indivíduo no decorrer da
vida.
Desde muito cedo a criança já é uma leitora do mundo (FREIRE, 1997), ela começa a
observar, antecipar, interpretar e interagir, dando significado a seres, objetos e signos que a
rodeia. Manguel (1997) leva-nos a compreender que a leitura não está só nas páginas de um
livro, não está restrita às letras impressas em um papel. Cada pessoa tem uma ou variadas
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formas de ler. O agricultor lê o céu para prevenir-se da chuva. O poeta lê o coração para
escrever seus versos. A mãe lê no semblante da criança sua expressão de alegria ou tristeza.
Em todos estes gestos está a leitura. Existem diversos tipos de leituras: a leitura da palavra, da
imagem, do mundo.
Para Silva (1996) a capacidade de ler é um processo de construção de sentidos do
texto, a partir do contexto em que o leitor está inserido e dos conhecimentos já adquiridos,
dando-lhe condição de interferir no meio em aqui está e alcançar possíveis mudanças.
Resumindo, as pessoas que leem mais podem ter maior facilidade de expressão e
oportunidades de se manterem inseridas em um contexto e no mercado de trabalho.
Considerações finais
Constatou-se que os professores priorizam a leitura pela via da razão, que esta serve de
informação e conhecimento. As leituras de conhecimento auxiliam na formação pessoal e
profissional, ajudam a manter-se atualizados e inseridos, com mais oportunidade na
sociedade. Elas abrem os horizontes e levam o leitor a agir criticamente. Desde que esta
leitura seja feita com atenção, gerando uma reflexão e não somente uma decodificação de
letras.
A leitura pode ser prazerosa, muitas vezes é uma forma de lazer. Sabe-se que o lazer é
uma necessidade básica do ser humano, indispensável à saúde física e mental.
A leitura é um processo contínuo de aprendizagem, que vai enriquecendo, a partir do
momento em que se descobre à beleza e a emoção com as palavras impressas. Reconhecer
que os livros trazem, também, aventura, conhecimento, diversão e magia para a vida, é ainda,
uma forma de alimentar a alma, de exercitar a liberdade de fantasia, de sonhar. Sonhos
possíveis ou imagináveis. Esta foi a segunda concepção defendida pelos professores.
O professor enquanto mediador da leitura espera-se que tenha respaldo no seu trabalho
oferecendo não somente pela via da obrigação escolar. A leitura por obrigação é uma leitura
morta, tão pouco vai ajudar na construção do sentido para o aluno. Para que isso se efetive,
facilita se o professor for leitor e tiver a concepção de leitura na qual se fundamenta, uma vez
que a partir da concepção de leitura e ensino dele vai gerar também a pratica pedagógica do
professor.
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WERNER, Patrícia C. A Leitora e os Leitores na Escola: Um olhar sobre a leiturização na
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“as pessoas que leem tem maior compreensão de mundo