PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E IOGA:
EXPECTATIVAS DE PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Micheli Adriane Betti Gielfi – UNESP Bauru – [email protected]
Caroline Guerra Lopes - UNESP Bauru – [email protected]
Kelle Cristina da Silva Vital Costa - UNESP Bauru - [email protected]
Diego Cardoso Ragnole Silva - UNESP Bauru – [email protected]
Fernanda Rossi- UNESP Bauru – [email protected]
PROEX
1. INTRODUÇÃO
A formação continuada de professores(as) está cada vez mais presente na
pauta educacional mundial, particularmente em função de dois fatores conforme
elucida Gatti (2008): as pressões do mundo do trabalho em constante transformação e
a constatação pelos sistemas governamentais dos precários desempenhos escolares
de grandes parcelas da população. Essa dimensão da profissão docente, de modo
geral, é concebida como um meio para a transformação da qualidade do ensino e da
aprendizagem a partir da mudança da prática pedagógica do(a) professor(a).
A concepção que defendemos de formação continuada fundamenta-se nos
estudos de Imbernón (2009), ao conceber que a formação continuada de professores
deve englobar todas as dimensões do sujeito humano que é o(a) professor(a), além
dos conhecimentos específicos de uma determinada área e/ou os fundamentos da
prática pedagógica, deve considerar o desenvolvimento emocional e atitudinal dos
docentes.
Na formação docente na área da Educação Física é salutar vivenciar a
experiência de pensar com o corpo, pois ao movimentar-se, criar, expressar-se,
professores apreendem sensações e informações que podem vir a nutrir e enriquecer
o fazer pedagógico. Compreende Strazzacappa (2001) que desenvolver um trabalho
corporal com os professores assume uma dupla função: primeiro a de despertá-los para
as questões do corpo na escola e, segundo, a de possibilitar a descoberta e
desenvoltura de seus próprios corpos. De acordo com a autora:
Os professores, ao sentirem no corpo estas descobertas, podem
compreender melhor o que se passa nos corpos de seus alunos,
crianças ou adolescentes. Ao experimentarem o prazer do movimento
e os benefícios que estes trazem [...] podem ver com outros olhos
estas atividades na escola. (STRAZZACAPPA, 2001, p. 77)
Diante da premissa de vivenciar o movimento corporal e propor novas
perspectivas de movimento na escola, elaboramos o Programa de Formação
Continuada “Corporeidade e Ioga na escola”, desenvolvido como Projeto de Extensão
por uma Universidade pública em parceria com uma Secretaria de Educação Municipal
do interior paulista, ao considerar que essa prática possibilita, através de posturas
psicofísicas, o gerenciamento das emoções, amenizar os desgastes na profissão
docente, o resgate de valores humanos, a percepção corporal e seu impacto na
prática pedagógica, como ressalta Rosa (2011).
Dentro do contexto desse programa formativo, o objetivo desta pesquisa
consistiu em identificar e analisar os motivos da adesão de professoras da educação
infantil ao Programa de Formação na área da Educação Física, denominado
“Corporeidade e Ioga na escola”, o qual tem como propósito a vivência, a
disseminação e a produção de conhecimentos relacionados ao conteúdo da Ioga para
o ensino na infância.
A formação continuada, apoiada numa reflexão sobre a prática educativa,
promove um processo constante de autoavaliação que orienta a construção contínua
de
competências
profissionais.
Porém,
esse
processo
de
reflexão
exige
questionamentos críticos e análises constantes da intervenção educativa, o que
“supõe que a formação continuada estenda-se às capacidades e atitudes e
problematize os valores e as concepções de cada professor e da equipe” (BRASIL,
2002, p. 70).
Nesse sentido, compreender as razões que motivam professores(as) a
participarem das ações de formação vai ao encontro da concepção do docente como
protagonista da sua formação, trazendo aqueles que fazem a educação acontecer no
nosso país para o centro do processo formativo. A formação continuada é necessidade
intrínseca para os profissionais da educação e faz parte de um processo permanente
de desenvolvimento profissional e pessoal que deve ser assegurado a todos.
Entretanto, ações descontextualizadas do cotidiano e das necessidades dos
professores produzem poucas implicações para a prática pedagógica. Conforme
ressalta Estrela (2003, p. 54), a contribuição para a mudança dos processos
educativos deve partir da cultura dos professores, “o que aliás será mais coerente com
a defesa que se faz, em termos teóricos, de ‘dar vez e voz’ aos professores”, bem
como atribuir a devida importância aos “contextos para a compreensão da ação
formativa ou educativa”.
2. METODOLOGIA
A pesquisa fundamentou-se na abordagem qualitativa e caracteriza-se como
descritiva. Os dados foram coletados a partir de discussão em grupo focal no primeiro
dia de encontro do projeto de Formação Continuada “Corporeidade e Ioga na Escola”.
Participaram da pesquisa 29 professoras com formação em Pedagogia, atuantes na
Educação Infantil da rede pública municipal de ensino.
O objetivo do referido programa de formação consiste em promover ações de
formação continuada junto às professoras com o foco na apreensão dos
conhecimentos da Ioga para desenvolver com as crianças na escola, bem como na
(re)construção da própria corporeidade, para que estas possam (re)significar sua
prática pedagógica, mediante o desenvolvimento da consciência corporal e a
compreensão da importância do movimento para si e para a formação da criança.
Ao longo de um ano de formação, com carga horária estimada em 80 horas, o
programa consistirá em encontros semanais com a vivência de práticas da Ioga,
técnicas de respiração, relaxamento e automassagem, e estudos teóricos sobre o
corpo/corporeidade, o movimento e a criança. Objetiva-se, ainda, ao final do processo,
a produção de material didático-pedagógico para o ensino da Ioga na educação
infantil.
Na sequência, apresentamos os resultados da pesquisa, mediante a discussão
dos motivos apresentados pelas professoras para participação no programa de
formação, com fundamentação na produção da literatura referente à temática
investigada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os motivos para a adesão ao programa de formação continuada na área
da Educação Física e, especificamente, em relação aos conhecimentos da Ioga,
relatadas pelas professoras da educação infantil, sobressaíram como categorias: o
cuidado de si, a busca de estratégias para propiciar relaxamento às crianças e a
aprendizagem de novos conteúdos no âmbito do movimento corporal para ensino na
educação infantil. Ressalta-se que algumas professoras citaram mais de um motivo
para adesão ao programa.
a)
A busca pelo cuidado de si
As professoras que ressaltaram o cuidado de si no momento de escolha do
programa (21 professoras indicaram tal motivo) perceberam-se como estressadas,
agitadas e preocupadas com que esses estados pudessem afetar os seus alunos,
tornando-os também estressados, ansiosos e mais agitados. Ao declararem tais
motivos, algumas professoras se autojulgaram egoístas, por tomarem a decisão de
escolha a partir do olhar para si mesmas, primordialmente, e não somente nas
possibilidades do trabalho com Ioga dentro da escola com as crianças.
Conforme os estudos de Gil (2008 apud ROSA, 2011), enfatiza-se que o
estresse ocupacional é a soma de respostas físicas e mentais ou reações fisiológicas
que, quando exacerbadas, se transformam em reações emocionais negativas. O
estresse pode ser descrito como qualquer momento que o indivíduo tenha uma tensão
aguda, ou uma tensão crônica, e que desencadeie uma alteração em seu estado físico
e/ou emocional, e por consequência, haverá uma resposta de adaptação
psicofisiológica que pode ser negativa ou positiva no organismo (ABREU et al., 2002
apud ROSA, 2011).
Rosa (2011) explica que, por meio dos benefícios proporcionados aos
professores pela prática da Ioga, é possível transmitir aos seus alunos elementos que
contribuam para um desenvolvimento diferenciado durante as aulas, de modo a
minimizar conflitos, situações desgastantes e estresse para ambas as partes.
A Ioga consiste em um método de autorregulação consciente que conduz à
integração física, mental e emocional, e possibilita a relação harmônica do ser humano
com o meio que o rodeia. Também é popularmente conhecida por reduzir o estresse,
melhorar o humor, o condicionamento físico e promover bem-estar de forma geral.
A Ioga surgiu como filosofia há cerca de cinco mil anos na península indiana e,
ao longo dos séculos, ramificou-se em diferentes linhas ou tradições, assumindo
formas diversificadas de ser praticada em cada cultura (FEUERSTEIN, 1998). Uma
das linhas mais disseminadas no ocidente e que está sendo adotada para o Programa
de Formação, objeto deste estudo, é a Hatha Ioga, que dá ênfase aos ásanas
(posturas) e aos pranayamas (respiração) (BORELLA et al., 2007).
A Hatha Ioga teve origem em meados do século XX, influenciado pela cultura
inglesa. As aulas enfatizam os exercícios físicos (posturas), exercícios de respiração e
exercícios de meditação e concentração. Ainda, os exercícios de Hatha Ioga se
distinguem de exercícios físicos em geral por trabalhar intensamente sobre as funções
dos órgãos internos, como articulações e a medula (BAL; KAUR, 2009; SHERMAN et
al., 2005 apud MOTA,2013), além de atuar no sistema nervoso em sua regeneração
celular, melhorando as funções orgânicas, circulação e respiração (MALGORZATA et
al., 2006 apud MOTA,2013).
Desse modo, a expectativa dessas professoras de buscar nas vivências da
Ioga benefícios para suas condições emocionais vem ao encontro da proposta inicial
do programa, pois dentre seus objetivos destaca-se o propósito da (re)construção de
própria corporeidade e consciência corporal, conforme ressaltado anteriormente.
b)
Estratégias para propiciar o relaxamento às crianças
Relacionada à preocupação de autocuidado, destacou-se dentre os relatos de
15 professoras que a motivação para frequentar o Programa de Formação
“Corporeidade e Ioga na escola” consistiu na busca de apreender estratégias para
proporcionar o relaxamento às crianças, estabelecendo assim, um ambiente escolar
de atenção plena, equilíbrio e harmonia.
Moraes (2007) estima que com a prática regular da Ioga durante as aulas, os
alunos adquiram o conhecimento de seus corpos e de seus limites mediante a vivência
de ásanas e técnicas de respiração, além do desenvolvimento de capacidades físicas
de flexibilidade, equilíbrio, força e resistência. Mediante tal trabalho, que a criança
perceba o outro, com suas qualidades e dificuldades, aprendendo a respeitá-la,
transformando, também, seu comportamento emocional e interpessoal e, por
consequência,
aspectos de
indisciplina
que
tanto
interferem no
ensino
e
aprendizagem.
Para Martins e Cunha (2011), as posturas de Ioga (passivas e ativas) nas aulas
objetivam levar a criança a momentos de profunda interação social com os colegas,
bem como a estados de relaxamento, concentração e contemplação.
Outra reflexão relacionada ao movimento corporal na escola vem de estudos
que indicam que, por vezes, predomina uma concepção racionalista e de
disciplinarização dos corpos, de controle dos gestos e manifestações, acarretando
para a criança a redução da espontaneidade, da liberdade de criação e livre
expressão, como se fosse possível conhecer o mundo e apropriar-se dos saberes
somente pela razão, sem envolver a percepção dos sentidos corporais. A apropriação
do mundo depende da experimentação do sujeito, e na educação formal na infância,
as experiências lúdicas, principal meio de reconhecimento do mundo pela criança, são
geralmente adaptadas para atingir finalidades secundárias, colocando em segundo
plano a importância que a vivência lúdica tem em si mesma para o desenvolvimento
pleno infantil (ROSSI, 2013).
Constata-se que ainda permeia a dicotomia corpo e mente na escola
contemporânea, sendo predominante a supervalorização dos conhecimentos dito
intelectuais em detrimento de outras linguagens da criança. Kishimoto (2001),
pensando no contexto da educação infantil, questiona:
Qual a participação do corpo e do movimento na educação? A
fragmentação
e
compartimentalização
de
aspectos
do
desenvolvimento infantil (físico, intelectual, psicológico, social)
espelham-se nas concepções dos profissionais, na organização do
espaço físico, materiais e práticas pedagógicas. Na sala de aula
ocorre o desenvolvimento intelectual e psicológico, no pátio, o físico e
social. [...] As práticas pedagógicas atribuem maior tempo para
atividades intelectuais voltadas para aquisição das letras e números.
Brinquedos e brincadeiras aparecem no discurso, mas na prática
restringem-se ao recreio e momentos de transgressão das normas.
(KISHIMOTO, 2001, p. 7)
A proposta de inserção dos conteúdos de Ioga na escola coaduna com a
perspectiva de proporcionar uma formação integral às crianças pela experiência corpóreosensorial (MARTINS, CUNHA (2011), sem compartimentalizar ou supervalorizar alguma
de suas dimensões, mas, mediante o tratamento pedagógico lúdico da Ioga, contribuir
para que a criança aprenda sobre si mesma, sobre a importância dos outros e do meio
que a cerca.
c)
Aprendizagem de novos conteúdos no âmbito do movimento corporal
para ensino na educação infantil
A terceira categoria evidenciada nesta pesquisa refere-se ao interesse das
professoras na aprendizagem de novos conteúdos no âmbito do movimento corporal para
enriquecer sua prática pedagógica na educação infantil, sendo que 10 professoras
ressaltaram esse aspecto.
Esses relatos evidenciam a preocupação com o movimento corporal na
formação integral da criança. De acordo com Nóbrega (2005) para pensar o lugar do
corpo na educação (e na escola) é necessário, primeiramente, conceber o sujeito
como um ser corporal, ou seja, compreender que o corpo da criança não é um
instrumento das práticas educativas, já que as produções humanas (ler, escrever,
dançar, jogar, contar...) somente são possíveis pelo fato do indivíduo ser corpo.
Propostas para a educação na infância precisam contemplar as diferentes
linguagens infantis nas suas múltiplas formas de expressão e uma concepção de
criança e infância(s) que considere o ser humano na sua totalidade, inserido num dado
contexto histórico, social, cultural que valorize a dimensão lúdica, colocando o
movimento corporal como linguagem em que a criança perceba e crie o mundo em
que vive, estimulando-a nas aprendizagens, mas compreendendo que criança não é
somente um vir a ser, que ela já é, é produto da cultura e também produtora, que
produz saberes entre elas (as crianças), possibilitando assim efetivarem-se como
sujeitos de suas aprendizagens e de suas vidas (ROSSI, 2013).
De acordo com Faria et al. (2014) pensar a Educação Física, manifestada pela
incorporação da cultura corporal, é promover o gerenciamento da formação de
cidadãos conscientes e reflexivos. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), a área possui objetivos que vão além da prática isolada e é remodelada de
acordo com as novas demandas sociais e educacionais como uma disciplina
expressiva própria do campo da linguagem corporal. Conjuntamente, (SILVA, 2013
apud FARIA, 2014) menciona que é possível observar semelhanças das orientações
dos PCNs com os princípios que permeiam algumas práticas de Ioga.
No campo da educação, a francesa Micheline Flak destacou-se como a
primeira educadora a propor a Ioga na escola, no contexto francês, nos anos de 1970
(PRADO, 2014). Mediante a perspectiva de conceber o aluno de modo integral, o grupo
R.Y.E. (RECHERCHE SUR LE IOGA DANS L’ÉDUCATION, 2000) – Pesquisa de Ioga na
Educação, vem desenvolvendo estudos e ações em Ioga na escola em diversos países
europeus e americanos desde esse período, sob liderança de Micheline Flak e Jacques
de Coulon. Os autores desenvolveram metodologias voltadas à utilização de exercícios de
respiração e relaxamento no contexto escolar, contribuindo para que toda aprendizagem
se torne um processo desenvolvido com entusiasmo e harmonia. Os alunos aprendem a
controlar o estresse e a ficarem mais atentos, assim como despertar a criatividade e
desenvolver a confiança em si próprio (FLAK; COULON, 2007).
De acordo com Flack, a importância da prática da Ioga nos dias de hoje é
proporcionar equilíbrio às crianças e trabalhar valores morais, contribuindo para que
as mesmas aprendam a controlar situações de estresse e para que se desenvolvam
conscientes da importância do ser humano integral (CHAVES, 2010).
A Ioga fundamenta-se numa filosofia constituída por oito passos, ensinada pelo
mestre Patañjali e descrito nos Yoga Sutras de Patañjali, que inclui princípios filosóficos,
posturas de ioga, aprendizagem dos exercícios de respiração, concentração e meditação
associadas a técnicas de relaxamento. Os passos são conhecidos como: yamas
(disciplina externa), nyamas (disciplina interna), ásanas (posturas), pranayama (controle
da respiração), pratyahara (abstração dos sentidos), dharana (concentração), dhyana
(meditação) e samadhi (integração).
Os valores e atitudes da Ioga - yamas e nyamas - são princípios que o indivíduo
deve buscar e praticar por toda sua vida, construindo essencialmente o valores e virtudes
que incidam diretamente sobre o respeito por si e pelos outros. Os yamas são constituídos
por: ahimsa (não-violência), satya (verdade, não mentir), asteya (não roubar),
brahmacharya (fazer tudo muito bem feito) e aparigraha (não acumular). Já as disciplinas
internas, os nyamas, são: saucha (pureza, limpeza), santosha (contentamento), tapas
(perseverança, disciplina), svadhyaya (estudo) e isvara-pranidhana (caminho espiritual)
(MASSOLA, 2008).
Flak e Coulon (2007) traduziram as seis primeiras etapas das oito descritas no
Yoga Sutra de Patañjali (yamas, nyamas, ásanas, pranayama, pratyahara e dharana) para
o desenvolvimento da Ioga na escola. Para os autores, a Ioga educacional não abrange
as duas últimas etapas (dhyana e samadhi) por estas serem específicas da vida adulta. A
metodologia elaborada pelos franceses possibilita diferentes condições para que a criança
possa desenvolver-se em sua totalidade. São elas:
1- Viver juntos, em que devem ser propiciadas situações para que os alunos
trabalhem tanto na Ioga quanto nas outras atividades em conjunto, estimulando essa
relação de ajuda e cooperação;
2- Eliminar toxinas, refere-se à limpeza física e mental, buscando a eliminação de
pensamentos indesejados e negativos;
3- Manter uma postura reta, de modo a não prejudicar seu corpo e sua mente
adotando condições de desânimo;
4- Respirar bem e ter calma, pois, ao acalmar a respiração, acalma-se também a
mente podendo então concentrar-se em si mesmo e naquilo que se realiza;
5- Relaxamento, sendo necessária uma pausa depois de longo trabalho para que
haja assimilação e aprendizagem do conteúdo e concentração.
6- Concentração em um ponto, pois através da mente tranquila, pode-se obter
aprendizagem de diferentes métodos, buscando a apreensão através dos sentidos
internos, percepções e visualizações, atribuindo, assim, significados tornando o
conhecimento mais sólido.
Corroborando para estes resultados, Prado (2014) afirma que com as práticas
de técnicas da Ioga, o docente é capaz de se concentrar melhor em seu trabalho,
centralizar a atenção dos alunos, além de tornar a aula mais dinâmica. Envolvendo-os,
desta forma, permite-se o reconhecimento do outro, o conforto e o relaxamento que,
às vezes, se faz necessário para assimilar o aprendizado. O Ioga educacional contribui
para a promoção da afetividade e melhor convivência das diferenças que nos
deparamos em sala de aula, promovendo o bom convívio.
Portanto, o ensino da ioga na escola deve buscar construir formas para orientar
e conscientizar os alunos sobre suas emoções, investir no autoconhecimento, nas
posturas físicas, técnicas de atenção, concentração e meditação. O reconhecimento
da importância da linguagem corporal e da dimensão lúdica da infância integra o
processo de ensino e aprendizagem deste conteúdo, a ser mediado por jogos e
brincadeiras, contação de histórias, ao som de músicas diversas, imitação de animais
etc. Trata-se de propiciar a vivência autêntica das manifestações corporais,
contribuindo para que as crianças possam elaborar seus próprios significados
relacionados à sua prática e à sua própria existência pelas diferentes formas de
expressão presentes na infância, pois a criança precisa
Manifestar-se através de diferentes linguagens, o que significa
permitir e reconhecer que a oralidade, a escrita, o desenho, a
dramatização, a música, o toque, a dança, a brincadeira, o jogo, os
ritmos, as inúmeras formas de movimentos corporais, são todos eles
expressões das crianças, que não podem ficar limitadas a um
segundo plano. Em nossa cultura, a escrita tem ocupado um espaço
considerável nas intervenções educativas em detrimento de outras
linguagens que também são manifestações humanas. Descobrir junto
com as crianças essas “outras” linguagens é um desafio a ser
superado. (SAYÃO, 2002, p. 61, grifo da autora)
Buscamos, desse modo, que o projeto de formação exposto, por intermédio da
vivência e apreensão dos conhecimentos da Ioga, forneça subsídios para que as
professoras ampliem as possibilidades de vivência da linguagem corporal das
crianças, contribuindo para que as mesmas desenvolvam-se em todos os seus
aspectos, ou seja, como o ser humano integral que é.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos relatos das professoras da educação infantil, acerca dos
motivos de adesão ao programa de formação continuada em Educação Física, com o
foco nos conhecimentos da Ioga, constatamos que ser professor não se separa do ser
humano, que sente, sofre, experimenta, compartilha e dá o melhor de si para conduzir
a criança e orientá-la em seu processo de aprendizagem.
Destacamos que esse grupo expressa a preocupação em cuidar de si mesmo
para também conduzir o processo de educação com as crianças com qualidade. Tal
busca, nesse programa de formação docente, perpassa pelo autoconhecimento, a
atenção à corporeidade, ao gerenciamento das emoções e ao domínio dos
conhecimentos relacionados à Ioga para ensino na educação infantil.
Concluímos que a formação na área da Ioga poderá contribuir com tais
objetivos, proporcionando novas possibilidades de movimentos e autoconhecimento,
tanto às professoras participantes, como às crianças no cotidiano escolar.
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