Alergia a cosméticos
Andréia Bartachini Gomes
Mestre em Farmácia (2006) e Doutora em Ciências (2011) pela Universidade de São Paulo (FCF/USP). Atualmente
participa do corpo docente das Faculdades Oswaldo Cruz (curso de farmácia) e da Universidade Anhembi Morumbi
(diversos cursos da Escola de Ciências da Saúde). Ministra aulas nos cursos de pós-graduação em Análises Clínicas
das Faculdades Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Farmácia, com ênfase em Análises Clínicas, com atuação
principalmente nos seguintes temas: imunoensaios, proteínas recombinantes, neurocisticercose.
Colaboradora do livro Ativos Dermatológicos
Confira este e outros artigos no livro ATIVOS DERMATOLÓGICOS – 8 VOLUMES
Edição Comemorativa - 10 anos
Lançamento em julho de 2013
A cosmetologia, ciência que estuda cosméticos desde seus componentes até as suas
aplicações no produto final, vem assumindo um importante papel no mundo atual, na medida
em que ocorre sofisticação das técnicas e formulações, além de melhorias das matérias-primas,
resultando em produtos cada vez mais complexos. Parte desse avanço deve-se a um aumento
progressivo da utilização de cosméticos pela população, somado à mudança do seu estilo de
vida.
Segundo as Resoluções 79/2000 e 335/1999 da ANVISA, os cosméticos são distribuídos
em quatro categorias (produtos para higiene, cosméticos, perfumes e produtos para bebês) e
dois grupos de risco. De forma geral, esses produtos apresentam risco mínimo (grau 1) ou risco
potencial (grau 2), ou seja, são produtos com baixo risco quando utilizados corretamente.
Dentre as reações indesejadas, relatadas na literatura, as dermatites alérgicas aos
cosméticos apresentam importante papel por apresentarem destacada importância médica. As
reações alérgicas podem ser produzidas por exposição continuada de um indivíduo a uma
determinada substância presente no produto, podendo ocorrer também quando houver
conjugação entre algum componente da formulação com proteínas da pele. Essas reações
podem aparecer em sítios distintos e/ou no próprio local de aplicação, podendo se manifestar
por eritema, edema e secreção com formação de crostas.
As dermatites apresentadas pelos pacientes podem advir de substâncias que provocam
irritação, presentes na formulação, ou podem ser desencadeadas pela própria resposta
imunológica do paciente. Portanto, para melhor discutir os mecanismos e substâncias
envolvidos, é necessária uma visão geral da cinética do sistema imunológico, suas propriedades
e seus componentes.
Quando o ser humano entra em contato com substâncias estranhas, geralmente
oriundas de agentes etiológicos, tais como: bactérias, vírus, fungos e parasitas, uma sucessão
de eventos é desencada a fim de eliminá-los. Os mecanismos envolvidos nessa defesa são
denominados resposta imunológica.
Didaticamente, a resposta imunológica é dividida em inata e adaptativa, de acordo com
suas características e mecanismos envolvidos.
RESPOSTA IMUNOLÓGICA INATA
A resposta imunológica inata envolve diferentes tipos celulares como: macrófagos,
neutrófilos, células dendríticas, células de Langerhans, eosinófilos, basófilos, mastócitos e
células natural killer. Há também o sistema complemento, composto de proteínas séricas na
forma de zimogênio, produzidas pelo fígado e ativadas na presença de agentes agressores.
Adicionalmente, esse sistema contém as denominadas barreiras naturais, que abrangem
barreiras mecânicas (pele, reflexos fisiológicos e movimento ciliar), químicas (pH, muco,
lisozima e secreção sebácea) e microbiológicas (microbiota e produtos do metabolismo
bacteriano).
Os mecanismos envolvidos nessa resposta abrangem componentes que já existiam
antes do estabelecimento dos processos infecciosos e que rapidamente são ativados após os
processos de agressão. Além disso, o sistema imunológico inato também é capaz de responder
a diversas substâncias que não são originadas de agentes agressores, mas que não deveriam ser
encontradas em tecidos saudáveis, como cristais intracelulares. Por esse motivo, a resposta
imunológica inata correlaciona-se diretamente com o reconhecimento de produtos e/ou
estruturas de células danificadas, desencadeando o processo de restauração tecidual.
Em contato direto com o meio ambiente encontram-se a pele e as mucosas dos tratos
intestinal, geniturinário e respiratório. O tecido epitelial tem como característica a presença de
células justapostas, formando uma barreira física contra a entrada de micro-organismos. Caso
haja a perda da integridade do epitélio (cortes, queimaduras, etc), ocorre uma predisposição do
indivíduo em adquirir infecções.
A queratina também apresenta papel protetor, já que sua presença bloqueia a
penetração de micro-organismos em camadas mais profundas da pele. Além disso, as células
epiteliais, quando devidamente estimuladas, são capazes de produzir peptídeos (defensinas e
catelicidinas) com propriedades antimicrobianas.
Quando o agente agressor é capaz de ultrapassar as barreiras naturais, instalar-se no
organismo e causar lesão, o organismo responde iniciando o processo inflamatório. Na
inflamação ocorre uma série de alterações bioquímicas, vasculares e celulares, que acarretam a
chegada dos leucócitos até o local onde se encontra o micro-organismo, para que ocorra o
processo de fagocitose. A morte do agente agressor no interior dos fagócitos dá-se pela ação
das enzimas lisossomais e/ou pela ação de radicais reativos gerados no processo de explosão
respiratória.
Os principais fagócitos incitados inicialmente no processo inflamatório são os
neutrófilos, seguidos posteriormente dos monócitos (denominados macrófagos no tecido).
Sendo assim, um aumento de neutrófilos no sangue é correntemente associado ao processo
inflamatório agudo.
Embora ambas as células sejam capazes de realizar a fagocitose, a fim de eliminar o
agente agressor, somente os macrófagos podem sobreviver a esse processo. Essas células, se
devidamente estimuladas, podem exercer o papel de células apresentadoras de antígenos,
sendo responsáveis por apresentar antígenos para linfócitos T virgens, iniciando a ativação da
resposta imunológica adaptativa.
RESPOSTA IMUNOLÓGICA ADAPTATIVA
Conforme o exemplo citado anteriormente, a resposta imunológica inata em conjunto
com a presença do antígeno podem fornecer sinais capazes de estimular a proliferação de
células responsáveis pela resposta imunológica adaptativa, principalmente os linfócitos T e B
específicos para o antígeno.
A resposta adaptativa, diferentemente da resposta imunológica inata, é considerada
uma resposta altamente específica e possui a propriedade de aumentar a sobrevida das células
do sistema imune após o estímulo antigênico, gerando a memória imunológica. Outra
característica importante da resposta imunológica adaptativa é denominada autolimitação,
que abrange a propriedade de grande atividade celular na presença do antígeno e diminuição
da atividade na ausência do mesmo. As células da imunidade adaptativa (linfócitos T e B)
geralmente são reativas a substâncias ou moléculas que não possuímos expostas em nossas
células ou tecidos.
Os linfócitos T e B são os principais componentes da imunidade adaptativa, sendo
gerados na medula óssea. A maturação fenotípica e funcional do Linfócito B é realizada na
própria medula óssea, enquanto o linfócito T sofre esse processo no timo. Após a maturação, as
células virgens serão capazes de reagir com os antígenos quando devidamente estimuladas. O
primeiro estímulo antigênico ocorre nos órgãos linfoides secundários (principalmente baço,
linfonodos, adenoides, placas de Peyer, tonsilas e agregados linfoides associados a mucosas),
locais onde se encontram os linfócitos virgens após o processo de maturação.
A captura do antígeno e o seu transporte até os órgão linfoides secundários para
posterior estímulo da resposta imunológica adaptativa ocorre através das células
apresentadoras de antígenos (APC). Dentre essas células, podemos citar: macrófagos, células
dendríticas e células de Langerhans. Essas células são pertencentes à imunidade inata e são
responsáveis por realizar a ligação entre as duas imunidades.
Os receptores de antígenos presentes na superfície das células T são específicos para
reconhecer antígenos associados a moléculas de superfície das células do hospedeiro, não
podendo ser diretamente estimulados por antígenos presentes nos agentes agressores. Dessa
forma, o processo de estímulo de linfócitos T é estritamente controlado. As moléculas de
superfície das APC com as quais os linfócitos T serão capazes de interagir são denominadas
moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Existem dois tipos de
moléculas de MHC, que se correlacionam com a via de processamento dos antígenos. Os
antígenos provenientes de patógenos extracelulares fagocitados são associados ao MHC de
classe II e posteriormente apresentados aos linfócitos TCD4+. Já os antígenos provenientes de
patógenos intracelulares serão associados ao MHC de classe I e apresentados aos linfócitos
TCD8+.
Após o estímulo antigênico, os linfócitos TCD4+ são denominados linfócitos T helper (Th),
que podem ser do tipo Th1 ou Th2, de acordo com as condições ambientais e tipo de antígeno
envolvido no momento de sua estimulação. Os linfócitos Th são capazes de estimular diversos
mecanismos imunológicos através da liberação de mediadores químicos denominados
citocinas. As citocinas englobam um grupo heterogêneo de proteínas produzidas em resposta a
micro-organismos e outros antígenos, capazes de atuarem como mediadores e reguladores das
respostas inata e adaptativa.
De forma geral, linfócitos Th1 estão associados ao estímulo da resposta imunológica
celular, principalmente através da secreção da citocina interferon gama (IFN-γ). O linfócito
TCD8+ , quando devidamente estimulado pelos antígenos, diferencia-se em linfócito T citotóxico,
sendo importantíssimo na defesa contra agentes patogênicos intracelulares.
Os linfócitos Th2 estão associados com o estímulo da resposta imunológica humoral.
Esta resposta é efetiva contra agentes extracelulares e apresenta muitos mecanismos
imunológicos dependentes da participação de anticorpos.
Por definição, anticorpos são proteínas circulantes produzidas pelo linfócito B
estimulado pelo antígeno. Essas proteínas são específicas e capazes de se ligar aos antígenos
com alta afinidade.
O termo imunoglobulina é utilizado corriqueiramente como sinônimo de anticorpo. As
imunoglobulinas (Ig) são proteínas encontradas nas frações séricas beta-2 e gamablobulina. A
estrutura básica de uma Ig é constituída de duas cadeias pesadas (H) idênticas, cada uma com
cerca de 200 a 250 aminoácidos e duas cadeias leves(L) também idênticas, com cerca de 100 a
120 aminoácidos.
A porção amino-terminal de cada cadeia H e L formam o sítio combinatório do anticorpo
(local de interação com o antígeno), sendo denominada Fab (antigen-binding). Já a porção
carboxi-terminal das duas cadeias H formam a fração Fc (fração cristalizável) (Figura 1).
Pequenas variações nas cadeias H determinam as classes de Ig (Tabela 1).
Figura 1. Representação gráfica de um monômero de imunoglobunina.(ABBAS, 2011).
Tabela 1. Representação das classes de imunoglobulinas e suas principais características
Classe de
Características
Imunoglobulina
IgG
- imunoglobulina de resposta secundária (associada à
imunidade)
- apresenta 4 subclasses (IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4)
- é capaz de ultrapassar a placenta durante a gestação (mãe
para filho)
-encontrada no soro
IgM
-primeira imunoglobulina formada quando ocorre o estímulo
antigênico primário (associada à infecção aguda)
-encontrada no soro
-existência de IgM monomérica fixa à superfície de linfócitos B
(funcionam como receptores de antígenos)
IgA
-encontrada no sangue
-encontrada na saliva e secreções, associada ao componente
secretor
-presente em altas concentrações no colostro e leite materno
IgE
-baixa concentração sérica
-porção Fc com alta afinidade à receptores FcεR de mastócitos
e basófilos
-envolvida em resposta alérgicas
-envolvida na resposta imunológica contra helmintos
IgD
- fixa na superfície de linfócitos B (funcionam como receptores
de antígenos)
HIPERSENSIBILIDADE AOS COSMÉTICOS
Embora o intuito da resposta imunológica seja a defesa do organismo, garantindo a
manutenção da homeostase corpórea, eventualmente essa resposta pode ser voltada contra
antígenos
ambientais
ou
componentes
presentes
em
formulações
farmacêuticas,
desencadeando reações de hipersensibilidade.
As reações de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos (I, II, III e IV), de
acordo
com
os
mecanismos
imunológicos
envolvidos,
no
entanto
somente
as
hipersensiblidades do tipo I e IV estão associadas a reações contra cosméticos. Quando os
mecanismos se enquadram na hipersensibilidade do tipo I resultam em reações urticariformes,
enquanto que quando se enquadram na hipersensibilidade do tipo IV resultam em reações
eczematosas, sendo estas mais frequentemente associadas aos cosméticos.
De forma geral, os cosméticos englobam formulações complexas, com diversos
componentes, que não costumam causar reações de irritação. Porém, geralmente são produtos
de uso contínuo, que eventualmente podem desencadear reações de hipersensibilidade em
indivíduos geneticamente pré-dispostos.
Para que ocorra o desenvolvimento das reações de hipersensibilidade, a substância
capaz de desencadeá-la deve induzir a resposta imunológica adaptativa, levando a ativação de
forma adequada dos linfócitos TCD4+ a linfócitos T helper. Essas células são capazes de ativar
diferentes mecanismos imunológicos através da liberação de citocinas. Dependendo do padrão
de citocinas liberado, ocorrerá o desencadeamento da resposta imunológica humoral, na qual
ocorre a produção de anticorpos pelo linfócito B ativado, ou da resposta imunológica celular,
na qual ocorre a ativação de diversos tipos celulares, como os macrófagos e linfócitos T
citotóxicos.
As dermatites de contato irritativas representam 80% dos casos de dermatites de
contato, enquanto que as dermatites alérgicas totalizam 20%. Os principais aspectos
imunológicos associados a estas serão discutidos a seguir.
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I
Por inicialmente utilizarem mediadores químicos já sintetisados, as reações de
hipersensibilidade do tipo I manifestam-se rapidamente, sendo denominadas reações de
hipersensibilidade imediata.
As substâncias capazes de desencadear esse tipo de reação são denominadas alérgenos.
O organismo do indivíduo reconhece o alérgeno, que é fagocitado e apresentado para um
linfócito TCD4+. Esse linfócito sofre diferenciação para o padrão Th2, tornando-se específico
para o alérgeno.
O alérgeno também é capaz de estimular o linfócito B, ativando-o. Ocorre então uma
série de interações entre os linfócitos B e T, de forma que o linfócito B ativado, denominado
plasmócito, produz o anticorpo IgE, que se liga a receptores presentes na superfície dos
mastócitos. Ambas as células apresentam granulações ricas em histamina.
A partir desse momento, o indivíduo apresentará crise alérgica quando em contato com
o alérgeno. Após nova exposição ao alérgeno, este se liga aos anticorpos IgE, ativando os
mastócitos (figura 2). O processo de ativação resulta em três efeitos biológicos a serem
considerados: a exocitose de histamina (responsável pelos efeitos imediatos), a síntese e
secreção de mediadores lipídicos (prostaglandina D2, leucotrienos e PAF) e a síntese e secreção
de citocinas (IL-5 entre outras).
Figura 2. Processo de desencadeamento da hipersensibilidade do tipo I. Após a ligação do
alérgeno a duas IgE ligadas na superfície dos mastócitos,diversos sinais de ativação são
disparados, culminando na liberação de mediadores pré-formados (histamina), mediadores
lipídicos (leucotrienos, prostaglandinas e PAF) e citocinas. (ROBBINS, 2010).
A histamina, quando liberada, liga-se aos receptores presentes nos tecidos, podendo
resultar em diferentes sintomas clínicos dependendo do local de sua liberação. Por exemplo,
sobre os vasos sanguíneos este mediador é capaz de provocar a vasodilatação, resultando em
edema e eritema, presentes em processos alérgicos causados por cosméticos. Já na
musculatura lisa dos brônquios e intestino, esse mediador provoca constrição, contribuindo
para o broncoespasmo e aumento do peristaltismo, respectivamente. Nesse caso, há
necessidade do envolvimento de alérgenos inalados ou ingeridos, não se aplicando ao objeto
de discussão desse capítulo.
Os mediadores lipídicos sintetizados e liberados cerca de 2 horas após o contato com o
alérgeno envolvem principalmente derivados do ácido araquidônico. As prostaglandinas D2
estimulam a vasodilatação e a broncoconstrição, e os leucotrienos C4, por sua vez, têm efeito
broncoconstritor, sendo mediadores importantes em quadros asmáticos.
Essas células também são capazes de produzir o fator ativador de plaquetas (PAF), que
tem efeito vasodilatador e broncoconstritor.
Segue-se, então, a liberação de diferentes citocinas que contribuem para o processo
inflamatório anteriormente iniciado, tais como fator de necrose tumoral (TNF), interleucinas 1 e
5 (IL-1 e IL-5), entre outras.
As citocinas (principalmente IL-5) e fatores quimiotáticos (substâncias quimioatraentes
para as células) liberados ao longo do desencadeamento da reação alérgica ativam e atraem os
eosinófilos para o local onde se encontra o alérgeno, induzindo-os a liberar o conteúdo de seus
grânulos, o que pode causar lesão do tecido.
De forma geral, as reações alérgicas envolvendo a pele manisfestam-se como pápula e
eritema, induzido pelo contato com o alérgeno, resultando em lesão urticariforme. Os
solventes, biocidas e conservantes são os componentes que desencadeiam com mais
frequência essas reações. Deve-se levar em consideração, também, a exposição ocupacional a
esses diferentes produtos, por exemplo, tanto o persulfato de amônia quanto a
parafinilenodiamina são descritos como alérgenos principalmente em cabeleireiros, devido à
presença dos mesmos em diferentes produtos utilizados em salões de beleza, somado à
exposição crônica desses profissionais aos referidos produtos. A tabela 2 traz um resumo de
importantes substâncias capazes de desencadear a hipersensibilidade do tipo I e/ou a do tipo
IV.
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV
É
também
denominada
hipersensibilidade
tardia.
Dentro
desse
tipo
de
hipersensibilidade econtram-se as reações de dermatite de contato. Esse tipo de reação
costuma ser desencadeada após a exposição tópica aos alérgenos.
As dermatites de contato podem ser do tipo irritativa ou alérgica.
A dermatite de contato irritativa resulta de efeito tóxico local, originado por algum
componente químico da formulação com ação irritante, tratando-se de uma reação cutânea
inflamatória localizada. Os indivíduos acometidos podem apresentar eritema, descamação,
vesiculação e edema. Em exposições crônicas, podem ocorrer também hiperqueratose e
fissuras.
Já a dermatite de contato alérgica, por sua vez, envolve o estímulo do sistema
imunológico e o desencadeamento de resposta imunológica celular proeminente, o que leva a
ser classificada como reação de hipersensibilidade do tipo IV (tardia). Os mecanismos
envolvidos serão discutidos a seguir.
A maioria das substâncias capazes de desencadear este tipo de hipersensibilidade é
classificada como haptenos, que têm como característica baixo peso molecular e pequena
capacidade de estimular a resposta imunológica quando sozinhos. Quando essas substâncias
entram em contato com a pele, pode haver conjugação entre as mesmas e as proteínas do
organismo, aumentando consideravelmente sua capacidade em estimular o sistema
imunológico.
O hapteno conjugado pode agora ser fagocitado pelas células dendríticas, sendo
apresentado para os linfócitos TCD4+ virgens nos órgãos linfoides secundários. Após interações
adequadas entre a célula APC e o linfócito T, ocorre diferenciação do linfócito para o padrão
Th1, tornando essa célula específica para o hapteno conjugado.
Após a sensibilização, o contato com a substância desencadeadora da hipersensibilidade
do tipo IV faz com que o linfócito Th1 secrete citocinas (principalmente interferon gama - IFNγ).
As citocinas liberadas no local produzem um gradiente de sinalização, levando as células
mononucleares a migrarem em direção à epiderme. O número de células infiltrantes na pele
atinge um pico em aproximadamente 48-72h e esse processo resulta clinicamente em eczema.
De forma geral, ocorre uma erupção eczematosa bem definida no local de contato com
a substância desencadeadora, valendo ressaltar que em caso de dermatite de contato alérgica
contra sabonetes e xampus pode haver distribuição difusa e desigual.
As substâncias capazes de causar dermatite de contato alérgica compõem um grupo
bastante heterogêneo, dentre as quais frequentemente são encontradas reações contra: o
sulfato de níquel, sulfato de neomicina, bálsamo do peru (Myroxlon pereirae), mix de
fragrâncias, timerosal, quartérnio 15, formaldeído, bacitracina e cloreto de cobalto. A tabela 2
correlaciona os principais cosméticos e alguns componentes presentes em suas formulações
contra os quais já foram relatadas reações de hipersensibilidade.
Tabela 2. Correlação entre os componentes possivelmente sensibilizantes e os cosméticos nos
quais podem ser encontrados com maior frequência.
Cosmético
Componentes Possivelmente Sensibilizantes
Perfumes, Cremes, Loções
Bálsamo do Peru, toluol, parabenos, ácido benzoico,
e Água de Colônia
bicloreto de mercúrio
Cremes e Loções
Lanolina, resorcina, bitionol, Igarsan DP 300, corantes,
fragrâncias
Desodorantes e
Triclosan, formaldeído, parabenos, biotinol,
Antiperspirantes
tribomossalicilanilida, tetraclorossalicilanilida,
oxiquinoleína, hexametilenotetramina, sais de zinco, sais
de zircônio, fragrâncias
Fotoprotetores e
Ácido paraaminobenzóico (PABA), octidildimentil PABA
Bronzeadores
(padimato O), benzocaína, hidroquinona, Igarsan DP300,
Lanolina, sulisobenzona, xibenzona, amil dimetil PABA
(padimato A), cinamatos, dibenzoilmetano, giceril PABA,
salicitalos, isopropil-dibenzil metano, fragrâncias
Bases para Maquiagem
Igarsan DP 300, lanolina, ácido benzoico, ácido oleico,
bálsamo de benjoim, cera de carnaúba, eritrosina, resinas
naturais, corante vermelho brilhante, anilina, goma
arábica, goma tragacanto, cloreto de cobalto, fragrâncias
Máscaras
Cera de abelha, cera de carnaúba, colofônio, lanolina, óleo
de coco, óleo de palma, goma tragacanto, fragrâncias
Cremes depilatórios
Benzocaína, cera de abelha, colofônio, sulfitos, tiolicolato
de cálcio
Batons
Cera de carnaúba, óleo de mamona, óleo de ricino, eosina,
ácido ricinoleico, ácido benzoico, ltol, rubino, bca
(pigmento vermelho), cera microcristalina, oxibenzona,
propril galato, produtos alifáticos c, butilidroxitolueno,
octilgalato, lanolina, cera de abelha, óleo de castor,
cutilidroxianisol, butilidroquinona terciária, corantes,
conservantes
Sombras
Níquel e cobalto (mesmo abaixo de 5 partes por milhão
para indivíduos pré-dispostos)
Tinturas para Cabelo
Parafinilenodiamina, azul de metileno, corantes azoicos,
corantes sintéticos de coaltar, nigrosina, folhas de henna,
camomila, cloreto de cobalto
Creme de Barbear
Óleo de menta, coco ou linhaça; salicilato de sódio
Esmalte de unhas
Nitrocelulose, cânfora, eosina, eritrosina, fluoresceína,
dibutilftalato, resina (tolueno-sulfonamida-formaldeído)
Próteses Ungueais
Isobutil, etil e tetraidrofurfril metacrilato (quando líquido)
Xampus
Cocamidopropil betaina, cânfora, óleo de coco,
diclorofeno, bitionol, cânfora, resinas acrílicas, óleo de
castor, parabenos mix, kathon cg, fragrâncias
Tônicos e
Resorcina, diclorofeno, captan, alcatrão de pinho,
Condicionadores capilares
cloroxilenol, corantes, formaldeído, lanolina, bitionol,
cânfora, resinas acrílicas, óleo de castor, parabenos mix,
Kathon CG, fragrâncias
COMO PROCEDER EM CASO DE REAÇÕES ALÉRGICAS
O indivíduo que apresentar reações de hipersensibilidade aos cosméticos, seja do tipo I
ou IV, deve passar pelo atendimento médico para uma avaliação clínica adequada e pesquisar
quais substâncias podem estar envolvidas no desencadeamento das reações, além de receber
tratamento farmacológico se necessário.
A partir da correta identificação dos componentes dos cosméticos desencadeantes das
alergias, o paciente deve ser adequadamente orientado em relação ao nome químico da
substância, sinônimos e produtos onde ocorre sua presença e principais formas de evitar a
exposição.
Outra orientação importante é alertar o paciente para leitura de rótulos de novos
produtos, a fim de verificar a possível presença das substâncias contra as quais o paciente é
alérgico.
Referências Bibliográficas
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2. ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; PILLAI, S. Anticorpos e antígenos. In:___Imunologia Celular e
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10. RIBEIRO, C. Introdução. In:___Cosmetologia Aplicada a Dermoestética. São Paulo:
Pharmabooks, 2010, cap.1, pg 1 a 2.
A questão da Toxicidade nos cosméticos e o aumento no consumo de
cosméticos infantis
Valéria Maria de Souza
“Toda substância é veneno, não há nenhum que não seja; muitas vezes apenas a dose diferencia
o veneno do remédio”
Paracelsus (1493-1541)
A segurança de um produto cosmético depende do ingrediente, do produto acabado e,
notadamente, da via de exposição, representada pelo complexo sistema anatômico, a pele, que
preconiza e exige sólidos fundamentos e conhecimentos de dermatotoxicologia, possíveis
interações com os sistemas nervoso central, autônomo e endocrinológico.1
As Ciências Toxicológicas passam por incríveis avanços científicos e tecnológicos e seus
objetivos são claros, pois preocupa-se, entre outras coisas, a avaliar o risco e minimizar os
efeitos adversos ocasionados pelos cosméticos.
Conhecimentos de toxicologia, genética, bioinformática vêm facilitando a avaliação da
toxicidade de novas moléculas, novos compostos e novos ativos destinados ao uso cosmético e
novas tecnologias de informática. Há, nos Estados Unidos, um centro de estudos que presta
serviços identificando a segurança de substâncias químicas, incluindo as substâncias
desenvolvidas para fins de desenvolvimento de novos produtos cosméticos: trata-se do
National Center for Toxicogenomics. Alguns estudos têm sido publicados mostrando a
importância e avaliações da resposta metabólica ao estímulo patofisiológico ou modificações
genéticas.2
Certamente a globalização interferiu nesta postura de pensamento uma vez que temos a
possibilidade de usar banco de dados presentes em países desenvolvidos, unindo, assim, o
conhecimento acadêmico, os órgãos regulatórios e o setor regulado.3
Segundo a RDC 79/2000, portanto uma resolução de 13 anos, “Cosméticos, Produtos de Higiene
e Perfumes são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo
nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas lábios, órgãos genitais
externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, como o objetivo exclusivo ou
principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou
protegê-los ou mantê-los em bom estado.”4
O fato de ser um produto que não precisa necessariamente de uma indicação, do pesado
marketing que esses produtos apresentam e que induzem ao aumento do consumo, muitas
vezes desnecessário e, partindo do pressuposto que os cosméticos podem ser usados por um
longo período, é necessário que se garanta a segurança desses produtos.
Com o crescimento da indústria cosmética e as pesquisas que desenvolvem ativos
dermatológicos e bases diferenciadas, observa-se que, ainda assim, não são raros os casos de
intoxicação por cosméticos. O grande problema é que o usuário, nunca ou quase nunca
relaciona seu processo alérgico ou sua intoxicação ao uso do produto cosmético. Isso porque o
consumidor acredita no cosmético e nos benefícios associados, quase não acreditando que
possa causar algum dano à saúde, tamanha a crença que o consumidor coloca neste tipo de
produto.
A avaliação de segurança dos cosméticos é um processo que se destina a calcular e estimar os
riscos a um sistema alvo, levando em conta as características do agente a ser testado, sendo ele
o ingrediente ou o produto acabado.6
Segundo Viglioglia & Rubin7 as reações adversas a cosméticos podem ser :
Reação
Causa
Reações irritativas imediatas
Hidróxido de sódio
Reações irritativas acumulativas
Tensoativos lauril sulfato
catiônicos, polisorbato-80
Reações alérgicas ou
dermatite de contato
de
sódio,
sensibilizantes: Princípios ativos, veículos e conservantes.
Substâncias como betanaftol e pirogalol
usadas em Tinturas capilares
Reações alérgicas ou sensibilizantes:
Granuloma alérgico
Zircônio
componente
antiperspirantes
de
alguns
Dermatites
por
fotossensibilização, Componentes de perfumes: óleo de
fototoxia ou fotoalergia
marigold
Reações sistêmicas por inalação
Fragrâncias em geral
Absorção percutânea
Persulfato de amônio
Reações por oclusão: foliculite
Altas concentrações
oleosos
Ação carcinogênica
Conservantes
de
compostos
Os componentes das formulações cosméticas mais pesquisados como alergenos são os
conservantes.
Entende-se por conservante, também conhecido como preservantes, substâncias com ação
bacteriostática e/ou fungistática adicionadas a produtos de higiene pessoal, perfumes,
cosméticos e alimentos como o objetivo de inibir o crescimento e a proliferação de
microrganismos, tanto para proteger os consumidores quanto para proteger a integridade do
produto.12
Mudanças de coloração, odor, consistência de um produto pode ser indício de contaminação
microbiológica. Um conservante ideal deve ter amplo espectro de atuação, ser usado em baixas
concentrações e deve ser solúvel em meio aquoso, ter estabilidade em temperatura ambiente e
pH neutro e não alterar o produto.12
Um estudo realizado com 119 pacientes para determinar quais eram os componentes
presentes em cosméticos que seriam responsáveis por dermatite de contato. Os autores do
estudo, Groot et al8, aplicaram nos voluntários, durante 2 dias, substâncias relatadas como
alérgenos e a conclusão é a que se segue:
Sistema conservante: metilsotiazolinona Provocou reação em 33 paciente (27,7%)
e metilclorosotiazolinona
Usado como conservante de emulsões
Resina
toluenosulfonamida/formaldeído
de Provocou reação em 15 pacientes (12,6%)
Usado em laquês e esmalte de unha
Emulsificante oleamidopropilmetilamina
Provocou reação em 13 pacientes (10,9%)
Usado em loções infantis para o corpo
O estudo concluiu que os conservantes podem provocar reações, tais como dermatite de
contato em um grupo de voluntários usuários de emulsões.
Soni et al9 realizaram estudos para verificar o efeito tóxico dos parabenos, um dos conservantes
mais usados em cosméticos, e observaram baixa toxicidade oral aguda em animais de
laboratório, nenhuma evidência de atividade carcinogênica e resultado negativo para o teste de
Ames, o que comprova não ter potencial carcinogênico.
O grande problema da questão da toxicidade nos cosméticos talvez seja o grande número de
cosméticos usados no cotidiano, produtos que estão em contato direto com o corpo humano,
pode-se afirmar que é possível ficar exposto num só dia a uma série de substâncias químicas de
natureza e comportamento específicos.5
A utilização de conservantes em formulações cosmética é regulamentada em vários países. Na
União Europeia existe uma lista de substâncias aprovadas com suas concentrações máximas
permitidas.
Nos Estados Unidos, o CTFA (Cosmetic Toilet and Fragrance Association) por meio da edição do
Cosmetic Ingredient Review, publica dados sobre segurança dos ingredientes usados em
cosméticos e, finalmente, nos países pertencentes ao Mercosul, existe uma legislação que foi
harmonizada e implantada em cada um dos países membros.
A resolução Mercosur/GMC/RES. Nº 26/04 complementa a RES. 24/95 e trata da padronização
para fabricantes e importadores estabelecerem requisitos técnicos no intuito de comprovar a
segurança e eficácia de uso destes produtos, facilitando a livre circulação dentro do grupo.
Outro fator importante, são as ações de controle sanitário que garantam a segurança em
condições normais de uso. O documento apresenta a relação de documentos necessários, tais
como: a fórmula qualitativa; a função dos componentes da fórmula; bibliografias e referências
dos componentes e as especificações técnicas, físico-químicas e organolépticas da matériaprima e do produto acabado; o processo de fabricação; especificações do material de
embalagem; estabilidade; codificação de lotes; projeto de rótulos e etiquetas; comprovação de
eficácia e segurança; finalidade do produto e os documentos referentes ao estabelecimento.
Questiona-se, no entanto, a eficácia desses sistemas preservantes. Questiona-se se o
conservante declarado no rótulo é o que foi efetivamente usado, e alguns estudos sugerem que
os conservantes são necessários, a menos que o projeto do produto e da embalagem eliminem
a necessidade do uso, porque estas são seguras, microbiologicamente falando.
Cosmético Infantil
O uso precoce de cosméticos pode ser prejudicial pelo fato da pele infantil ser mais sensível,
assim como os cabelos. Mas cosméticos são sonhos de consumo. Busca-se o bem-estar às
crianças, por extensão aos pais e, certamente, aos jovens, mesmo sabendo que não existe
cosmético ”risco zero”.
A pele do recém-nascido é semelhante à pele do adulto, porém estudos revelam que a camada
córnea é menos espessa, possui um menor poder tampão o que pode contribuir para aumentar
a susceptibilidade às irritações e a perda de água transepidermal (TEWL); por outro lado, pode
ocorrer aumento da absorção percutânea levando à toxicidade sistêmica.
A pele infantil caracteriza-se pela sensibilidade, por ser fina, imatura e frágil. Estes termos
pretendem evocar os riscos inerentes à aplicação tópica de medicamentos e cosméticos e a sua
capacidade de defesa face ás agressões externas. Sendo assim, é necessário ter em atenção os
aspectos particulares da pele da criança para prevenir e evitar os riscos ligados ao tratamento
tópico neste grupo etário.10
Devido às características próprias da pele infantil, o produto cosmético desenvolvido para este
fim requer cuidado extra em sua formulação. São considerados Grau 2 e precisam de
comprovação de todo os processos produtivos.
Deve-se admitir que produtos formulados para a linha infantil tenha o mesmo cuidado que os
produtos desenvolvidos para pele sensível. Pele sensível é considerada como o tecido cutâneo
que apresente diversos tipos de reações, tais como irritações e alergias por contato, urticária e
comedogênese.9
Uma das condições para o desenvolvimento deste tipo de cosmético é a exclusão dos
ingredientes que possam ter um potencial de agressão.
Alguns critérios utilizados pensam na alta qualidade das matérias-primas em termos de pureza,
estabilidade e através da exata comprovação do que os certificados de análise afirmam.
A indústria cosmética trabalha com cerca de 13.000 substâncias químicas, mais de 30.000
diferentes denominações comerciais usadas na produção de preparações cosméticas, em
quantidades superiores a 1 tonelada/ano e, estas substâncias deverão ser submetidas a testes
para avaliação de toxicidade, fato que aumenta a preocupação dos órgãos regulatórios.
Classificação dos Produtos cosméticos infantis
- Cosméticos de limpeza: sabões, xampus, sabonetes líquidos, lenços umedecidos.
- Cosméticos de proteção: cremes dia, noite, protetores solares, óleos de banho.
- Cosméticos de beleza: perfume, batom e esmalte
- Cosméticos de correção: desodorantes
Ingredientes de formulações cosméticas para uso infantil
Ingredientes muito oleosos, tais como ésteres de álcool isopropílico, miristrato de isopropila e
as lanolinas podem ser comedogênicos também em produtos infantis.
Quelantes e sequestrantes devem ser adicionados, quando assim se justifica, evitando a
precipitação de metais pesados completando o sistema preservante.
Os tensoativos não-iônicos podem ser uma boa escolha e a sua menor capacidade de limpeza é
compatível com o baixo grau de sujidade da pele e cabelos infantis. Os tensoativos não-iônicos
sugeridos são lauril éter sulfosuccinato de sódio, lauril éter carboxilato de sódio e o sarcosinato
de sódio. O anfótero sugerido é a cocamidopropil betaína e os tensoativos não-iônicos, o óxido
de cocoamido propilamina.
O pH deve estar próximo da neutralidade, entre 6,0 e 7,0. Em casos de xampus, a preocupação
é o contato acidental com a mucosa ocular que pode causar ardor e desconforto às crianças.
Atenção especial deve ser dada aos corantes, às substâncias naturais, como os extratos vegetais
que, apesar de naturais, são potenciais alérgenos, potencializadores de permeação cutânea;
atenção ao etanol, isoprapanol, antissépticos e atenção especial às concentrações de
conservantes.
Uma boa solução seria fabricar os produtos em extremas condições de assepsia, de modo a
reduzir a concentração do conservante necessário à proteção da fórmula, diminuir os volumes,
educar o consumidor quanto à conservação do produto e ter embalagens que realmente
possam contribuir com a conservação do produto.
Se a irritação da pele é dependente da dose e, esta sim, pode ser controlada, os estudos
sugerem a redução da concentração ou restringir a frequência de aplicação do produto. A
sensibilidade da pele não fica restrita somente à área aplicada e o uso de perfumes deve ser
evitado, não só pelos riscos de intolerância, mas porque as fragrâncias podem mascarar
reações de deterioração do produto, o que pode complicar ainda mais a questão.
Conclusão
Diversos ingredientes de uso cosmético podem apresentar em determinados tipos de pessoas
um maior ou menor grau de irritação na pele.
Sabendo que o mercado de cosméticos infantis e dos produtos para a pele da criança tem
evoluído dia-a-dia, o apelo ao consumo chega a ser exagerado principalmente nos meios de
comunicação televisivos e da imprensa escrita, induzindo ao consumo como forma de bem
estar que os pais tentam passar aos seus filhos.
Muitos autores publicam relações de ingredientes que podem causar sensibilidade. Entre eles
estão os conservantes, as fragrâncias e os corantes, principalmente em linhas de maquiagens.
As empresas devem conhecer seus produtos e avaliar os pontos fortes e fracos e suas
deficiências. Atenção especial deve ser dada aos centros de Pesquisa e Desenvolvimento de
novos produtos, assim como na aprovação de novas fórmulas. É fator primordial a escolha das
matérias-primas e a concentração de uso delas, assim como o pH de estabilidade, uma vez que
pHs extremos devem ser evitado.
Conhecer seu público alvo, assim como as matérias-primas potencialmente causadoras de
reações adversas é fundamental para diminuir os riscos que os produtos cosméticos podem
causar. No entanto, espera-se que todas essas considerações sejam estudas e consideradas
antes do lançamento do produto no mercado.
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Cosméticos.
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Alergia a cosméticos - Ativos Dermatológicos