INSTITUTO DE EDUCAÇÃO — INFANTIL E JUVENIL
Inverno, 2013. Londrina, _____ de ___________________.
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Edição XI MMXIII
FESTA JUNINA
ALFA
GRUPO C
Quem resiste a um pinhão quentinho saindo do fogão a lenha?! Aproveite e coma
enquanto é tempo.
Mais de mil ingredientes utilizados na alimentação mundial correm o risco de desaparecer,
segundo a fundação Slow Food. Cerca de 20 deles são brasileiros, como o guaraná, a
palmeira-juçara e o pinhão.
Em reportagem para a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL, o jornalista Xavier Bartaburu
percorre o Brasil visitando as comunidades onde esses alimentos são produzidos de forma
artesanal e sustentável.
E revela o desafio de milhares de famílias de preservar não apenas a biodiversidade, mas
também sua identidade cultural. Todos os produtos fazem parte da Arca do Gosto, catálogo
mundial de alimentos em perigo de extinção elaborado pela Slow Food.
Araucária: conheça a espécie
O surgimento e as peculiaridades da araucária brasileira ou pinheiro-do-paraná
por Xavier Bartaburu
Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE
A derrubada da Araucaria angustifolia para uso da madeira atingiu seu ponto de saturação na década de
1970. Até então, calcula-se que 100 milhões de pinheiros viraram toras nas serrarias do Sul e Sudeste
do país
A araucária é do tempo dos dinossauros: surgiu há cerca de 200 milhões de anos, durante o
Jurássico, e sobreviveu a todas as mudanças no planeta desde então, inclusive a numerosas glaciações. Foi
nesses períodos de baixa temperatura, aliás, que a espécie se espalhou pelo continente. Toda vez que a
Terra esfriava, as matas avançavam para o norte.
Quando aquecia, recuavam. Nesse movimento, alguns trechos se mantiveram confinados em zonas
de maior altitude. Isso explica a existência de algumas ilhas de araucária mais ao norte, como é o caso da
Serra da Mantiqueira, no Sudeste.
A araucária brasileira, ou pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), é apenas uma das 19
espécies existentes no mundo, todas no Hemisfério Sul. Duas vivem na América do Sul: além da nossa, há
também uma espécie que cresce nos Andes centrais.
No Brasil, antes da ocupação humana, as matas de araucária chegaram a estender-se por 185 mil
quilômetros quadrados. Na Região Sul, um terço da superfície estava coberto por araucárias.
Pinhão no prato, pinheiro de pé
Pela primeira vez, preservar uma araucária está sendo mais rentável do que derrubá-la.
Ricardo Sobrinho não faz ideia de quantas araucárias existem na propriedade da família, mas
conhece cada árvore como se ele mesmo as tivesse plantado. “Essa aqui dá pinha no dia 28 de fevereiro.
Pode vir que tá madura”, ele diz, com indisputável certeza, apontando para um pinheiro magro de copa
alta, cercado por outros tantos aparentemente idênticos a ele.
O ideal, para Ricardo, seria fazer o “raleio”, ou seja, limpar uma parte da mata como forma de
manejo, de modo a aumentar a rentabilidade dos pinhões, sem comprometer a pecuária. Caso contrário,
como diz seu pai Antônio, “logo nós vamos ter que escolher entre o gado e o pinhão”. Talvez nem precise: a
Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) já tem na manga uma
proposta de desenvolvimento sustentável para a região, que consiste justamente na integração entre a
pecuária e a manutenção da mata nativa.
As pinhas que não debulharam vão para a catação, em que homens e mulheres separam os pinhões
das “falhas”, como são chamados os frutos que não fecundaram. Antes isso se fazia à mão, mas hoje as
famílias dispõem de uma peneira movida a energia elétrica – que, por ser uma máquina cara, em geral é
comprada em sociedade. Uma pinha rende em média 50% de seu peso: de cada 2 quilos, 1 é pinhão. O
resto são falhas, cujo destino é virar adubo nas lavouras ou repousar no pé das araucárias, acrescentando
mais matéria orgânica ao chão da mata.
Para quem vive da coleta de pinhão, a mata é um mapa: os caboclos sabem onde fica cada
araucária, qual a sua variedade botânica, o quanto é capaz de produzir e a época de frutificação. Se é para
arriscar uma dimensão desse mapa, Ricardo chuta “uns 8 mil pés por hectare” nas áreas de maior
densidade. Considerando que ao menos dois terços dos 75 hectares de sua propriedade no município de
Painel, na Serra Catarinense, estão forrados pela Mata de Araucária, bote aí quase meio milhão de
pinheiros. E isso está se tornando um problema para Ricardo.
Problema bom, claro. Poucas décadas atrás, seria impensável que alguém pudesse fazer do pinhão
um meio de vida. Araucária era árvore de se cortar, não de se colher. E, por conta disso, era árvore que
quase não ficava de pé – quanto mais produzir pinhão. Mesmo a mata na propriedade de Ricardo não tem
mais do que três décadas de idade. É floresta que rebrotou depois que a extração de araucárias para
aproveitamento da madeira atingiu seu ponto de saturação na década de 1970, quando começou a ser
substituída pelo plantio de pínus.
Até então, não custa lembrar, cerca de 100 milhões de pinheiros nativos viraram toras nas serrarias
do Sul e do Sudeste. Dos 185 mil quilômetros quadrados de floresta de araucária ( Araucaria angustifolia)
que antes cobriam nossas serras meridionais, restaram apenas 2%. É o ecossistema mais devastado do país.
O corte de araucária foi legalmente proibido no Brasil em 2001, mas a floresta já vinha se
regenerando fazia duas décadas, sobretudo com a ajuda de animais como a gralha-azul e a cutia. Um e
outro têm o hábito de enterrar os pinhões no chão para depois comê-los – quando não os encontram, é
mais uma semente que brota.
Deveria ser assim em todas as áreas onde antes houve matas de araucária, mas a realidade é que,
em diversas partes do país, os campos devastados terminaram tornando-se lavoura ou pastagem para o
gado. Uma das exceções é Painel, antigo distrito de Lages emancipado em 1994, onde a topografia
acidentada emperrou agricultura e pecuária intensivas e favoreceu a recuperação da vegetação original.
“Tá povoado demais”, reclama Ricardo. E isso, segundo ele, traz dois problemas. Um é que as
araucárias cresceram muito próximas entre si, uma atrapalhando o crescimento dos galhos da outra – e,
consequentemente, o desenvolvimento das pinhas. Há também a questão do gado, que, ao pastar,
asazzzpira os galhos secos do pinheiro (as “grimpas”) espalhados pelo chão. Isso pode afetar as vias
respiratórias do animal e até provocar infecção, o que prejudica o rendimento da pecuária – ainda a
principal atividade econômica de muitos produtores.
A verdade é que a semente da araucária, como produto rentável, ainda é uma novidade para a
maior parte dos produtores rurais da serra catarinense. Embora seja parte da dieta local desde quando a
região era habitada apenas por índios Kaingang e Xokleng, o pinhão ganhou valor comercial há pouco
menos de duas décadas. Em municípios como Lages, São Joaquim e Urupema, ele ainda é uma atividade
complementar, em grande parte executada por meeiros contratados na periferia das cidades.
É o contrário do que acontece em Painel, onde se criou “uma situação única”, na definição do
agrônomo João Antenor Pereira, responsável pelo escritório local da Epagri. “Aqui quem tira o pinhão é o
próprio dono das terras. E a renda, às vezes, é até superior à da pecuária familiar”. Hoje Painel extrai 2.750
toneladas de pinhão por ano, o que equivale a um quinto do total de produção na serra catarinense. Já
virou fonte de renda para dezenas de famílias da zona rural, distribuídas em bairros aqui chamados de
“comunidades”.
A mais produtiva é aquela onde vivem Ricardo e sua família, que leva o nome de Mortandade (o
qual se deve, dizem, a uma antiga matança de índios na zona). Toda a atividade aqui é extrativista e segue o
modelo da agricultura familiar diversificada. Raros são os produtores que dedicam a maior parte do seu
tempo ao pinhão. Na maioria das vezes, também criam gado, plantam hortaliças e cultivam frutas como
morango e physalis.
Jaison de Liz Rosa e sua mulher Adriana, também moradores da Mortandade, estão entre os
poucos a fazer do pinhão seu principal meio de vida. E garantem: “A safra que tu faz dá pra viver o ano
todo”, diz Jaison. A safra em questão costuma durar do início de abril a meados de julho, mas as variedades
de maior valor comercial estão concentradas num período de apenas dois meses. Nessa época, o trabalho
na mata é diário e intenso, de modo a garantir o máximo de produção no menor tempo possível. “Só folga
quando chove, né?”, ressalva Jaison.
Quando não chove, Jaison e um ajudante saem cedo de casa dispostos a escalar, na unha, em torno
de vinte pinheiros cada um. Nas botas, levam atadas esporas de ferro, que cravam no tronco como apoio
na subida até a copa. Lá em cima, a dez ou mais metros de altura, pousam os pés nos galhos e, com uma
vara de bambu, empurram as pinhas, que caem dando um golpe seco no chão.
Às vezes elas “debulham”, como se diz por aqui; ou seja, os pinhões se soltam tão logo atingem o
solo. Recolhê-los, nesse caso, é mais difícil. “Fica pra bicharada”, diz Jaison. Sorte das cutias e das gralhas,
que se limitam a campear os frutos desse trabalho árduo e exigente, quando não arriscado: todo produtor
conhece alguém que já caiu de uma araucária, muitas vezes sofrendo lesões das mais graves.
Do que sobra de pinhão, uma parte fica por lá, para consumo próprio. Há séculos os caboclos da
região serrana fazem da semente da araucária sua principal fonte de amido. É costume, por exemplo, sair
de casa para o trabalho na coleta levando uma paçoca de pinhão, no qual o fruto é cozido, moído e
misturado com carnes. “Ela é sustenta pro dia inteiro”, diz dona Teca, mãe de Ricardo. “Se comer no café,
nem precisa de almoço”. Quando não tem paçoca, assam o pinhão à moda indígena, “sapecado” nos galhos
secos do pinheiro. Em casa, as famílias preferem assá-lo na chapa do fogão à lenha ou preparar o
entrevero, prato no qual as sementes são consumidas com bacon, linguiça e pimentão.
O grosso da produção, tanto no caso de Jaison quanto de Ricardo, é vendido para a Ecoserra,
cooperativa sediada em Lages que se encarrega de comercializar os pinhões. Alguns, inclusive, vão parar na
merenda escolar de Florianópolis. Cada quilo é comprado do produtor a R$ 1,70, o que já é bem mais do
que os 30 centavos que se pagava há cerca de 15 anos. “O pinhão hoje tem valor agroecológico”, explica
João Pereira, da Epagri.
Isso se deve, em parte, a um trabalho de divulgação da Ecoserra, que culminou com a inclusão do
pinhão catarinense na Arca do Gosto, uma lista elaborada pela Slow Food, fundação italiana que prega a
ecogastronomia, com o objetivo de salvaguardar alimentos ameaçados de extinção ao redor do mundo.
Isso foi em 2008, no mesmo ano em que a região produtora de pinhão se tornou uma Fortaleza da Slow
Food, a única do Sul do Brasil, o que lhe permite receber apoio financeiro de instituições europeias. E,
também, aumentar a visibilidade do produto. “Desde então, muitos exportadores e importadores passaram
a nos procurar”, diz Eliane dos Reis, diretora financeira da Ecoserra e principal mediadora entre os
produtores locais e o mercado externo. Só que Eliane, assim como Ricardo, também tem um problema.
Dois, na verdade.
Um é a baixa durabilidade do pinhão in natura, de pouco mais de um mês, o que limita a
comercialização e o amplo uso na gastronomia. “Os chefs gostam de produtos que podem usar o ano
todo”, diz Eliane. Parte desse entrave foi resolvida numa comunidade em Urubici, onde a Ecoserra ajudou a
implantar, com o auxílio da Slow Food, uma unidade de processamento de pinhão congelado. É um
trabalho simples e eficaz, que consiste apenas em descascar o fruto, moê-lo, empacotá-lo e mandá-lo para
o freezer. “Na safra, nós processamos 60 quilos por dia”, diz Sirlene Niehues, porta-voz do Grupo Ecológico
Renascer. Agora, a expectativa da Ecoserra é desenvolver uma farinha de pinhão que não azede. Seria o
pulo do gato.
O outro problema de Eliane é o da mão-de-obra. Jaison poderia colher bem mais que os 11 mil
quilos do ano passado se tivesse alguém com quem dividir o trabalho na mata além de seu ajudante. Como
diz sua mulher Adriana, “a gente pega todo dia e não dá conta. É muito pinhão”. É, no mínimo, curioso:
para quem, algumas décadas atrás, sequer tinha araucárias de pé, o desafio agora é pelejar com o excesso
delas. Nesse sentido, um mercado consolidado ajudaria um bocado. Mas, por enquanto, convém lembrar
que só o fato de extrair renda do pinhão já é uma mudança e tanto para a pequena Painel. Jaison, se
valendo de uma lógica de simplicidade acachapante, resume bem o espírito dos novos tempos: “Se o
pinhão tá dando valor, pra que tu vai derrubar um pinheiro de pinha?”.
Proposta:
1) Leia o texto uma vez, sem parar, para que você tenha uma visão geral do assunto.
Não sublinhe o texto nessa primeira leitura, pois tudo parecerá importante.
2) Leia-o novamente, agora por parágrafos e sublinhe as palavras que, sem elas seria
impossível compreender o parágrafo.
3) Enumere os parágrafos do texto.
4) Faça o resumo, escrevendo o que você entendeu de cada um dos parágrafos do
texto “Araucária: conheça a espécie”.
5) Não se esqueça de enumerar os parágrafos em sua folha.
6) Seja imparcial. Escreva, apenas, as ideias dos autores.
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