POSPOSIÇÃO DO SUJEITO NO PORTUGUÊS E NO
ESPANHOL: UM ESTUDO CONTRASTIVO
Por
Rosa Lucia Rosa Gomes
Departamento de lingüística
Faculdade de Letras
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras/UFRJ
Segundo período 2006
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2
POSPOSIÇÃO DO SUJEITO NO PORTUGUÊS E NO
ESPANHOL: UM ESTUDO CONTRASTIVO
por
Rosa Lucia Rosa Gomes
Tese de Doutorado apresentada
à Coordenação de Pós-graduação
em
Lingüística
como
parte
dos requisitos para o título de
Doutor.
Orientadora:
Professora Doutora Vera Lúcia
Paredes P. da Silva.
Faculdade de Letras/UFRJ
Segundo semestre 2006
3
Uma vez mais observei que debaixo do sol:
A recompensa não é dos ligeiros, nem a batalha é dos fortes, nem tampouco o pão é
para os sábios, nem ainda dos prudentes
a riqueza, nem dos entendidos o favor;
mas
a oportunidade ocorre a
(Eclesiastes 9, 11)
todos.
4
A Ruy, Maria, R. Gomes, Patrícia
e Jaque, dedico esta tese.
5
Defesa de tese
GOMES, Rosa Lucia R.. Posposição do sujeito no Português e no Espanhol: um estudo
contrastivo. Tese de doutorado. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ. 2006.
Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Paredes da Silva – Programa de PósGraduação em Lingüística — UFRJ
Professora Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagório – Programa de PósGraduação em Letras Neolatinas – UFRJ
Professora Doutora Ucy Soto — UNESP
Professora Doutora Maria da Conceição A. de Paiva – Programa de Pós-Graduação em
Lingüística — UFRJ
Professor Doutor Mário Eduardo Martelotta – Programa de Pós-Graduação em
Lingüística — UFRJ
Professora Doutora Christina Abreu Gomes – Programa de Pós-Graduação em
Lingüística — UFRJ (SUPLENTE)
Professora Doutora Letícia Rebollo Couto – Programa de Pós-Graduação em Letras
Neolatinas — UFRJ (SUPLENTE)
Defendida a Tese.
Conceito:
Em_____/______/2006.
6
Agradecimentos
À Vera Paredes, orientadora amiga, cuja capacidade, dedicação, inteligência e
conhecimento tornaram possível a realização deste trabalho.
À Consuelo Alfaro, Co-orientadora amiga, sempre disponível, meus agradecimentos.
À Conceição de Paiva, pelas valiosas sugestões na ocasião do meu exame de
qualificação.
À Jaqueline que fez a revisão final, meus sinceros agradecimentos.
Aos professores que proporcionaram os meios e enriqueceram a minha formação, meus
agradecimentos.
À equipe da Secretaria da Pós-graduação da Faculdade de Letras pela atenção, meus
agradecimentos.
A minha família, que me incentivou, encorajou e criou as facilidades para que eu
alcançasse meu objetivo, meu carinhoso obrigada.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro, meus agradecimentos.
7
Sinopse
Análise da ordem
no espanhol,
Semelhanças
do sujeito, no português e
com base na teoria funcionalista.
e
diferenças entre os textos narra-
tivos e artigos de opinião. Características semânticas
e discursivas na escolha da ordem SV ou VS. Atuação
do Princípio da informatividade na escolha de uma ou
outra ordem. A noção de referenciação associada
à continuidade ou descontinuidade do referente.
8
SUMÁRIO
1. Introdução
10
2. Estudos precursores
14
3. Pressupostos teórico-metodológicos
23
3.1. O funcionalismo americano
23
3.2. O variacionismo
30
3.3. A análise de gêneros
32
3.3.1. Os gêneros de discurso e os tipos de textos
32
3.3.2. Os gêneros notícias e artigos de opinião
37
3.3.3. Seqüências narrativas
39
3.3.4. Seqüências argumentativas
41
4. Análise dos dados
44
4.1. Status informacional do constituinte
44
4.2. A continuidade do SN
53
4.2.1. Retomadas de referentes próximos
57
4.2.2. Retomadas de referentes distantes
58
4.2.3. Menção única
60
4.2.4. Primeira menção
63
4.3. A extensão do sujeito
70
4.4. Tipo de determinante
75
4.5. Transitividade
82
4.5.1.Número de participantes da oração
82
4.5.2 Aspecto
87
4.5.3. Agentividade do sujeito
90
4.6. Vozes do verbo
4.7. Natureza semântica
94
100
5. Conclusões
115
6. Bibliografia
120
7. Anexos
128
9
Índice de tabelas
Tabela 1 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos
textos de notícias
Tabela 2 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos
artigos de opinião
Tabela 3 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de
notícias
Tabela 4 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de
opinião
Tabela 5 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de notícias
Tabela 6 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de opinião
Tabela 7 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinante em textos de
notícias
Tabela 8 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinante em textos de
opinião
Tabela 9 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade em textos de notícias
Tabela 10 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade nos artigos de opinião
Tabela 11 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em textos de notícias
Tabela 12 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em artigo de opinião
Tabela 13 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em textos de
notícias
Tabela 14 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em artigos de
opinião
Tabela 15 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em textos de notícias
Tabela 16 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em artigos de opinião
Tabela 17 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de
notícias
Tabela 18 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de
opinião
10
1. INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, o português e o espanhol são vistos como línguas de ordem
variável, nas quais o sujeito pode estar anteposto ou posposto ao verbo. Assim, o
português e o espanhol possuiriam uma ordem canônica, em que o sujeito deve estar em
posição pré-verbal, e uma ordem invertida, em que o sujeito está na posição pós-verbal.
Atualmente, os lingüistas questionam essa aparente liberdade de posição e mostram que
cada possibilidade poderia ser explicada a partir de motivações estruturais e discursivas
que estariam atuando na escolha de uma ou outra ordem.
Um exemplo dessa mudança de conceito está no trabalho de Naro & Votre
(1999). Os autores inicialmente associavam a alternância de ordem SV/VS como um
fenômeno variável. Contudo, ao contrário do que indicavam suas hipóteses iniciais, a
análise de dados de fala mostrou que a escolha entre a ordem SV e VS se define por
razões de natureza comunicativa. Segundo eles, a ordem SV corresponde ao SN, centro
da informação; a ordem VS representaria uma baixa no fluxo informacional, uma vez
que o S ocuparia uma posição marginal, ou seja, não é o tópico da informação.
Assim, iniciamos o presente trabalho, motivados por estudos como os de Naro e
Votre.
Tomamos como orientação, para o desenvolvimento da presente proposta, a
teoria funcionalista na sua vertente representada por Givón (1983,1990,1995), Hopper e
Thompson (1980), entre outros. Associamos à análise o instrumental teóricometodológico da Teoria da Variação laboviana, com o objetivo de comprovar
estatisticamente nossas hipóteses.
11
Pretendemos, deste modo, realizar um estudo empírico comparativo1 do
português brasileiro e do espanhol europeu em textos escritos que julgamos representar
um padrão de uso atual.
O corpus é composto de textos de dois gêneros diferentes: artigos de opinião e
notícias. Os textos foram coletados de jornais brasileiros, que têm distribuição nacional,
o Jornal do Brasil e O Globo, para o português. Para o espanhol foi coletado material
obtido de periódico espanhol de circulação internacional, o jornal El Pais.
A opção por desenvolver o trabalho com textos jornalísticos teve como fator
motivador poder representar uma contribuição para o ensino do espanhol como L2,
assim como para o ensino do português, uma vez que os gêneros artigo de opinião e
notícias oferecem exemplos de seqüências narrativas e argumentativas, dois tipos muito
explorados nas aulas de produção de texto.
O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar, através do arsenal teórico do
funcionalismo, que a ordem pós-verbal e pré-verbal não é realizada arbitrariamente, mas
que é motivada e pode ser correlacionada a um conjunto de fatores de diversas ordens
que se associam às intenções do redator e à capacidade de processamento do leitor. A
hipótese geral é a de que a escolha de uma ou outra ordem satisfaz às necessidades
cognitivas e comunicativas e deve manter, na maior parte das vezes, uma relação
icônica com a ordem em que os fatos e eventos ocorrem no mundo real.
A hipótese prevê que a escolha da ordem SV/VS é decorrente das pressões do
uso. Essas pressões levam a que a escolha de uma ordem ou outra seja decorrente de
situações e propriedades discursivas particulares.
1
O termo contrastivo aqui não se refere ao estudo comparativo nos termos da Lingüística Aplicada dos
anos 60.
12
Com base no exposto acima, apresento em forma de questionamento, as
hipóteses que se espera comprovar, quanto ao uso de SV/VS.
1) Haveria semelhança entre os textos de notícias e as narrativas de fala
analisadas em outros autores?
2) Teriam os artigos de opinião motivações distintas?
No que diz respeito a regularidades específicas de cada língua, a nossa pesquisa
dirigiu o olhar para os seguintes questionamentos:
3) Haveria diferenças de uso na construção VS do português e espanhol?
4) Haveria interferência de aspectos discursivos e semânticos nessa escolha?
Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2 apresentamos
uma revisão de trabalhos que abordam o problema da ordem do sujeito, no português e
no espanhol, numa perspectiva também funcionalista, de uso da língua.
No capítulo 3, estabelecemos as bases teórico-metodológicas que dão suporte ao
trabalho. Nesse capítulo, apresentamos as diferentes características que se atribuem ao
funcionalismo. Expomos os princípios funcionalistas aplicados e ainda a utilização do
aparato variacionista no nosso trabalho, no sentido de poder comprovar estatisticamente
nossas hipóteses. Dada a nossa escolha por analisar gêneros jornalísticos – dedicamos
uma seção à conceituação de gêneros e tipos de texto e caracterizamos os gêneros
escolhidos: artigos de opinião e notícias.
No capítulo 4, apresentamos a análise dos fatores levantados como
correlacionados à posposição do sujeito. Discutimos e relacionamos as semelhanças e
diferenças depreendidas entre as duas línguas.
13
No capítulo 5, concluímos nosso trabalho, retomando os resultados e ressaltando
os pontos em que eles correspondem às nossas expectativas, principalmente no que se
refere à ocorrência da ordem marcada do sujeito no Português e no Espanhol.
Após as conclusões, apresentamos as notas e referências bibliográficas e um
anexo com alguns dos textos que utilizamos na análise.
14
2. ESTUDOS PRECURSORES
Neste capítulo trato de trabalhos precursores que, adotando a linha funcionalista,
trabalharam a ordem SV/VS, no português e no espanhol.
Em Naro e Votre (1999), por exemplo, podemos encontrar a questão da ordem
SV/VS dirigida para os fatores que o discurso impõe. Os autores utilizaram, para
examinar a questão da ordem SV/VS, um corpus de fala de sessenta e quatro
informantes coletado na década de 80 pelos integrantes do Projeto de Estudo sobre o
Uso da Língua (PEUL) - UFRJ.
A partir de uma abordagem funcionalista, os autores argumentam que a escolha
entre SV e VS se define por razões de natureza comunicativa. Assim, enquanto a ordem
SV corresponde ao SN, centro da informação, a ordem VS representaria uma baixa no
fluxo informacional, uma vez que o S ocuparia uma posição marginal, ou seja, não é o
centro da informação e por isso apresenta em sua maioria referentes não agentes2. A
partir daí se pode chegar à noção de cadeia tópica, que reflete o grau de centralidade do
sujeito no fluxo discursivo e estaria representada no número de vezes em que um
referente é retomado. Esse referente central já conhecido, e portanto velho/evocado,
servirá de base de sustentação para referentes novos, que não são tópicos e tendem a
ocorrer em posição marginal. Contudo, segundo os autores, ocasionalmente referentes
que são conhecidos, e portanto evocados, e que não são centrais, podem ocorrer em
estruturas VS, quebrando a expectativa de SNs novos nessa posição. A centralidade e
periferalidade, portanto, seriam a razão apontada pelos autores para a raridade de
estruturas VS com referentes evocados (previamente mencionados). O falante raramente
2
É importante que se observe que nas análises de Naro & Votre os dados eram compostos de textos
narrativos, daí a relevância dos agentes.
15
repete elementos periféricos, que não são o centro de atenção, mas que em ocasiões
especiais são retomados e expressos preferencialmente pela ordem VS.
Assim, de um modo geral, as estruturas VS desempenham
seu papel de
introduzir referentes novos mas, ocasionalmente, também poderão, em casos especiais,
ocorrer SNs pospostos com referentes dados.
Também numa abordagem funcionalista, Pezatti (1994) relaciona as
duas
ordens naturais de constituintes sentenciais no português falado a fatores pragmáticodiscursivos. A autora argumenta que a ordem SV/VS constitui um dos recursos
gramaticais do português falado utilizado para indicar a relação figura-fundo no
discurso. (cf. Hopper 1979)
Nesse sentido, os usuários da língua construiriam as sentenças tendo em vista
seus objetivos comunicativos e a sua percepção das necessidades do ouvinte. Assim, o
que é mais relevante e merece destaque seria representado como a estrutura básica do
texto e teria como função fazer o discurso progredir. Essa linha-mor da comunicação
chama-se figura. Por outro lado, o que não contribui imediata e crucialmente para os
objetivos do falante, ou seja, não é responsável pela progressão discursiva, mas apenas
amplia o aspecto principal é chamado de fundo.
Pezatti propõe quatro características que podem compor orações que
representam porções figura. Na primeira característica das orações estaria a constituição
da linha principal de progressão do discurso, que apresentaria uma ordem lógica, não
necessariamente cronológica, como na narrativa. Na segunda, haveria conservação do
mesmo sujeito, que introduziria material novo no predicado; na terceira haveria
manutenção da continuidade de tópico; na quarta característica
a oração mostraria
dinamicidade. Contudo, embora a autora argumente que as características que propõe
16
não sejam com base nos textos de narrativa, alguns dos atributos propostos apresentam
aspectos típicos de textos narrativos, tais como no segundo e no quarto. A conservação
do mesmo sujeito, que propõe em dois, é uma característica típica das narrativas. Os
artigos de opinião, como veremos mais adiante, não apresentam conservação do sujeito
como os dos textos narrativos, talvez por possuírem referentes menos animados que os
das narrativas. O mesmo aspecto pode ser encontrado na proposta de dinamicidade que,
ao que parece, também é característica da narrativa, já que os textos de opinião também
não apresentam o mesmo nível de dinamicidade.
Berlinck (1997) estuda também a ordem SV/VS, no português escrito,
correlacionando-a ao status informacional do referente, e mostra, assim como Naro e
Votre (1999), que a correlação entre ordem do sujeito e categoria informacional do
referente não é tão sistemática quanto se poderia esperar. Embora sujeitos pré-verbais
normalmente sejam “dados” e sujeitos pós-verbais geralmente sejam “novos”, sujeitos
informacionalmente dados também podem ser pospostos. Assim, argumenta que a
noção de dado no discurso esconde uma gama heterogênea de graus de “antiguidade”.
Para a autora um aspecto a ser considerado é a distância da menção. As diferentes
distâncias possíveis entre a menção analisada e a menção anterior de um mesmo
referente equivalem a SNs relativamente menos ou mais dados. Berlinck afirma que
essas diferenças de grau têm correlação com a variação entre as configurações possíveis
de posposição3 (VSX, VXS e VX#S). Conclui que os elementos que compõem o
comentário obedecem a um princípio de equilíbrio da informação, em que o elemento
mencionado no contexto mais próximamente da frase analisada seria o mais previsível;
o mais distante, menos previsível e mais “pesado” do ponto de vista da informação. Seu
argumento tem como base a análise de sentenças com comentários complexos (VSX,
17
VXS e VX#S) em que os dois argumentos, já dados, estariam pospostos ao verbo. A
autora argumenta que não importa se o último elemento é um complemento ou um
sujeito, o que importará será a distância entre a primeira e a última menção. Assim, se o
complemento é dado textualmente e está relativamente mais próximo da menção
anterior, ele será um referente mais previsível que o SN que pode ser textualmente dado
mas se encontrar a uma distância relativamente grande de sua menção anterior, ou
ainda ser um sujeito que não é textualmente dado, mas inferível.
A ordem dos constituintes no espanhol é discutida em Bentivoglio e Braga
(1988). As autoras também fazem um trabalho comparativo do português com o
espanhol. Analisaram dados de fala de 11 habitantes de Caracas e do Rio de Janeiro.
Argumentam, a partir da observação da colocação do objeto na sentença, que
motivações estruturais e discursivas podem fazer que referentes que habitualmente
ocupam a posição pós-verbal, por tenderem a introduzir elementos novos,
desempenhem a função de referentes dados ou inferíveis no fluxo da informação.
Bentivoglio e Braga argumentam que SNs objeto direto, ao se apresentarem na estrutura
em posição pré-verbal, podem contribuir para a coesão discursiva e manter a
continuidade da referência. Observaram nas duas línguas construções em que o
sintagma nominal objeto (SNO) de um verbo transitivo (V) ocorre à esquerda. Mostram
que tanto no português como no espanhol, as construções com objeto direto nominal
anteposto ao verbo teriam como função chamar a atenção do ouvinte para um referente
já conhecido, mas que é informação interessante. Alegam que esses SNOs são
referentes facilmente identificáveis, quer por já terem sido referidos no discurso
antecedente, com forma idêntica ou parecida, quer por estarem estreitamente
3
A variável X corresponde a um complemento actancial ou circunstancial.
18
relacionados ao exposto anteriormente, permitindo assim as inferências necessárias à
sua identificação. As autoras propõem como fator de importância, na medição de
referencialidade, graus de conectividade com o discurso prévio. Assim, a classificação
de grau 1 de conectividade foi dada para reiteração de um item. Já os SNOs que
introduzem entidades não mencionadas previamente, embora relacionadas ao tópico do
trecho discursivo em questão, foram categorizadas como grau 2 de conectividade. As
autoras concluem que as construções OV, em ambas as línguas são similares uma vez
que apresentam graus de conectividade idênticos e ainda uma distribuição de SNOs
genéricos e não-genéricos similar.
Bentivoglio (1993) aborda a questão da posição dos constituintes na estrutura
também justificando a escolha, anteposta ou posposta ao verbo, segundo uma
preferência discursiva. A autora examina a distribuição de tipos de Ns e SNs na fala do
espanhol e do francês. Utiliza para isso a hipótese da Estrutura Argumental Preferida
desenvolvida por Du Bois (1984). Argumenta que a distribuição sintática de SNs nas
línguas Românicas não é um acaso e que é semelhante à da língua sacapultec, uma
língua ergativa maia estudada por Du Bois. Na classificação de Du Bois há uma
distinção para sujeitos de verbos intransitivos e sujeitos de verbos transitivos. Assim,
faz uma distinção de sujeitos em dois tipos: S (sujeitos de verbos de um argumento) e A
(sujeitos de verbos de mais de um argumento). Nesse trabalho comparativo, Bentivoglio
mostra que, como ocorre em sacapultec, o falante do francês e o do espanhol evitam
codificar novos participantes na função de A (sujeito agente) e X (sujeito de copula),
preferindo O (objeto) e S como posição para introduzir novos referentes. Esses novos
participantes tendem a ser generalizadores e inanimados.
19
Morales (sd.) investiga a relação entre a ordem SV/VS e as categorias formais e
informativas. O objetivo da autora é precisar em que consiste essa variação e até que
ponto pressões pragmáticas estariam condicionando a posição do sujeito no espanhol.
Segundo a autora, a análise de dados de norma culta do dialeto madrilenho, portenho e
sanjuanero possibilitou que se confirmasse o postulado de que sujeitos conhecidos, por
serem mais específicos e identificáveis, se distinguem de outras unidades da oração.
Isso justificaria que entidades mais conhecidas sejam o ponto de partida do enunciado e
que representem, na maioria das vezes, o tópico da oração.
Ao examinar fatores semânticos relacionados com a classe de verbos, a autora
testou verbos intransitivos que tinham complementos adverbiais antepostos e pospostos,
frases preposicionais antepostas e verbos intransitivos sem complemento e ainda verbos
transitivos. Os resultados indicaram que a transitividade e a intrasitividade verbal não
são fatores decisivos na anteposição/posposição do sujeito, mas que é a ordem das
unidades comunicativas o fator controlador. A distribuição percentual mostrou que um
verbo intransitivo com complemento adverbial posposto tem comportamento similar ao
dos verbos transitivos.
Segundo a autora, essa distribuição se reflete também na distribuição dos SNs
definidos e indefinidos. A presença de uma unidade à direita do verbo favorece a
anteposição do sujeito, especialmente se o SN é indefinido. Esses sujeitos indefinidos
antepostos não são focos, e também não têm a função de introduzir referentes novos
com função de tópico. Os SNs indefinidos analisados pela autora são sujeitos “mais
ligeiros” com relevância limitada no discurso e duração escassa.
Ocampo (1995) trabalha com a variação das construções declarativas que
contenham verbo e outro constituinte. O estudo tem por objetivo mostrar que existe uma
20
correlação entre a ordem dos constituintes, tipo de construção, status informacional do
referente SN e função pragmática. O autor trabalha com dados de fala da Argentina.
As construções consideradas pelo autor envolvem não só a ordem do sujeito
(SV/VS), mas dos complementos (obj. VDO, DOV; VIO, IOV) e circunstanciais
(VADV e ADVV).
No que diz respeito ao status informacional da informação, o autor argumenta
que o foco não necessariamente é uma informação nova no sentido de Prince. Segundo
o autor, a definição de foco poderia ser dada através da noção subjetiva de importância,
ou seja, a regra refletiria uma opinião subjetiva do falante que indica o que é mais
importante através da colocação do SN. Ao ser introduzido no discurso pela primeira
vez, o foco permite que se estabeleça uma relação entre ele e o resto da proposição.
Ao levar em consideração o status informacional Novo/velho de um referente
SN, revela que construções com verbos apresentativos como haber, estar e existir
possuem SNs referentes novos, esse também é o caso de construções que tenham verbo
e objeto direto. Nessas construções há uma correlação entre referentes SN e rígida
posição pós-verbal. No caso de estruturas com verbo e sujeito, a maior parte dos
referentes são dados e possuem uma rígida ordem SV. Por outro lado, construções com
intransitivos possuem parte de seus referentes SN como informações novas e pospostas
ao verbo, mas, se os referentes forem dados, a tendência é a de que estejam em posição
pré-verbal.
Com base nessa correlação, o autor argumenta que o espanhol segue um rígido
padrão tema-rema e nesse caso a correlação entre fatores cognitivos e informacionais
estaria motivando estruturações rígidas. Com base nessa noção, o autor postula que
referentes SN novos motivam rígida posição pós-verbal e que referentes dados motivam
21
rígida posição pré-verbal.
Nas construções em que se tem verbo e advérbio, o autor argumenta que há
motivações cognitivas e informacionais para a posição pré-verbal dos advérbios. Um
dos exemplos dados pelo autor é o caso de advérbios sentenciais em –mente
(dificilmente, diretamente, simplemente, lamentablemente, realmente etc. que ocorrem
preferentemente em posição inicial. Essas construções remetem a contextos anteriores,
como as conjunções, ou seja, o fluxo informacional remeteria do que é conhecido para o
que é desconhecido.
Silva-Corvalán (1982) estuda a ausência/presença do sujeito nas sentenças e a
ordem SV/VS caso o sujeito seja realizado. A autora trabalha com dados de fala de
mexicanos e de falantes do espanhol que moram nos Estados Unidos. Argumenta que a
dicotomia “velho”/“novo” não é suficiente para capturar a complexidade que compõe a
linearidade dos constituintes. Segundo Corvalán, haveria graus de novidade que só
podem ser percebidos quando se leva em consideração os outros constituintes da
sentença. A autora sugere que se observem os contextos em que haja ambigüidade
verbal e os em que não haja ambigüidade. A presença de clíticos reflexivos (ex. me
lavaba), por exemplo, serviria como um mecanismo para desambiguizar a estrutura. A
autora mostra que formas verbais não-ambíguas favorecem sujeitos pospostos. O
número de argumentos é um dos fatores apontados pela autora. Esse grupo de fatores
comprova que os verbos intransitivos são os que mais condicionam a posposição do
sujeito. Os transitivos, em razão de fatores discursivos, prefeririam a ordem SVO.
Segundo a autora, a distribuição ao redor do verbo seria uma forma de marcar
informação nova e velha e distinguir o objeto do sujeito, esse é o caso das estruturas em
que o objeto direto vem acompanhado da preposição a.
22
Outro fator apontado pela autora como condicionante da variação do sujeito é
presença de um advérbio no início da sentença, no fim ou ainda a sua ausência na
sentença. Segundo a autora, um advérbio no início da sentença pode aumentar as
chances de posposição do sujeito na estrutura. Os percentuais de posposição podem
diminuir caso o advérbio esteja posposto ou não esteja realizado na sentença.
Como pudemos observar, todos os autores salientam a contribuição do status
informacional para a mudança de ordem. Apontam também outras características do
discurso como interferentes da ordem SV ou VS. A natureza do verbo e a presença de
outros argumentos na oração são também frequentemente mencionados nos textos.
Outro fato que vale mencionar é que a maioria dos autores trabalha com gêneros
narrativos em seus estudos. Assim, caberia investigar se o comportamento observado
nas narrativas estaria presente em outros gêneros.
23
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
3.1) Funcionalismo americano
As diferentes características que se atribuem ao “funcionalismo” podem
culminar em duas perspectivas, a de um funcionalismo conservador, que tem como
objetivo apontar a inadequação do formalismo ou do estruturalismo, sem propor análise
alternativa da estrutura. E um funcionalismo moderado, que não apenas aponta essa
inadequação, mas que propõe uma nova análise da estrutura. Na abordagem moderada
se enfatizaria a importância da semântica e da pragmática para a análise da estrutura
lingüística, sem contudo esquecer que a noção de estrutura é central para o
entendimento das línguas naturais. (cf. Moura Neves, 1997)
Neste trabalho adotamos como modelo teórico o Funcionalismo Lingüístico
mais moderado desenvolvido por Givón (1983,1990, 1995), Thompson (1989) e Naro &
Votre (1989, 1999), que entendem que a língua deve ser observada no seu nascedouro,
ou seja, no discurso. Isso significa entender a língua como um recurso de organização
mental e instrumento de comunicação. A estrutura é vista como derivada tanto das
características e das limitações cognitivas como dos papéis que desempenha na
comunicação humana. Assim, argumentam que “é do uso da língua — a comunicação,
na situação social — que se origina a estrutura ou forma da língua, com as
características que lhe são peculiares, inclusive, diferentes graus de instabilidade
associados a diferentes subsistemas” (Naro & Votre 1999:170).
Desse modo, os dados de discursos reais, sejam eles orais ou escritos, servem
como suporte para a constatação de que nada na língua é produzido livremente, ou seja,
24
cada expressão formulada é depositária de um conjunto de características que fazem
com que tal expressão dê conta de determinado conteúdo específico, e não de outros, e
de determinadas qualidades bem definidas que o falante queira conferir ao conteúdo.
Assim, a partir do pressuposto de que cada expressão aponta para determinado
conteúdo, e de que não há dois modos distintos de dizer exatamente a mesma coisa, é
possível concluir que o estudo da “codificação lingüística” deve ter como ponto de
partida a função que tal codificação desempenha.
Os diversos trabalhos funcionalistas têm contribuído para estabelecer a
importância de alguns princípios funcionais, como os princípios da informatividade e o
princípio da marcação, que se mostram relevantes para a explicação de diversos
fenômenos lingüísticos, em especial, daqueles ligados à ordem dos constituintes na
sentença.
No princípio da informatividade se tem o fundamento de que nos comunicamos
para informar nosso interlocutor sobre algo do mundo externo ou do nosso próprio
mundo. Para tornar a informação mais acessível ao ouvinte, supõe-se que o falante tenta
codificar coerentemente o seu discurso. Um discurso coerente implica, entre outros
aspectos, recorrência de alguns elementos, de modo a garantir a continuidade
referencial, temporal, locativa, e de ação-evento (cf. Givón 1990: 896-7).
Vários autores têm criado classificações relativas ao estatuto informacional das
entidades no discurso. Os lingüistas de Praga, por exemplo, foram os primeiros a
chamar a atenção para a importância da “novidade” ou “velhice” da informação,
trabalhando com o que chamavam de “Perspectiva Funcional da Sentença”, sugerido e
elaborado por Mathesius (1939 apud Danes 1987). A base da Perspectiva Funcional da
Sentença é a de que haveria uma divisão da expressão em duas porções, quais sejam: o
25
tema, informação conhecida que representa o ponto de partida da expressão (sobre o
qual se está falando) e o rema, informação nova, desconhecida (o que se afirma sobre o
tema).
Prince (1979), em uma classificação com base em critérios de natureza textual,
distingue as entidades presentes no discurso em termos de informação nova, evocada e
inferível. A informação nova seria a informação introduzida pela primeira vez no
discurso. Essas entidades são subcategorizadas em “brand-new” (totalmente novas) e
“unused” (disponíveis). Uma entidade é considerada disponível quando se supõe que já
é familiar ao ouvinte. Com o exemplo “Noam Chomsky went to Penn”, a autora mostra
que mesmo sendo mencionado pela primeira vez, Noam Chomsky é uma entidade que
está à disposição dos interlocutores. A entidade é considerada totalmente nova quando o
falante precisa criá-la a partir do texto como em “I got on a bus and the driver was
drunk” e “A guy I work with says he knows your sister”. As entidades totalmente novas
podem ser ancoradas e não-ancoradas. A entidade é considerada ancorada se o SN que a
representa está unido por meio de outro SN a alguma outra entidade. Assim, bus é
totalmente novo não-ancorado, enquanto a guy I work with é totalmente novo ancorado.
Segundo a autora, no exemplo o termo a guy pode ser ligado à entidade do falante.
A autora subdivide as entidades evocadas em evocadas textualmente e evocadas
situacionalmente. As entidades situacionalmente evocadas representam participantes do
discurso e salientam aspectos do contexto extra-textuais. Desse modo, no exemplo “A
guy I work with says he knows your sister” o pronome he é textualmente evocado,
enquanto your é situacionalmente evocado.
O terceiro, e segundo ela, o tipo mais complexo, é a entidade inferível. Uma
entidade é considerada inferível se o falante assume que o ouvinte poderá inferi-la via
26
raciocínio lógico, relacionando-a a entidades já evocadas ou inferíveis. Assim, em “I got
on a bus and the driver was drunk” o SN “the driver é inferível de bus. Essa inferência
é possível a partir do conhecimento de que todo ônibus possui um motorista. Os
inferíveis podem ser divididos em duas subclasses: os inferíveis não-incluidores e os
inferíveis incluidores. O exemplo the driver é exemplo de inferível não incluidor. Em
Hey, one of these eggs is broken! O SN one of these eggs é um exemplo de inferível
incluidor.
Na formulação de Chafe (1987), informatividade é uma propriedade associada às
representações mentais de objetos, estados e eventos. Essas representações mentais se
situam em diferentes estados de consciência, de acordo com a sua acessibilidade: ativo
(informação velha), semi-ativo (informação acessível) ou não ativo (informação nova).
O ato de comunicação constrói uma ponte entre as representações mentais do falante e
do ouvinte. O falante organiza seu discurso em consonância com expectativas acerca
das representações mentais já ativadas, não ativadas ou semi-ativadas na mente do
ouvinte. As categorias de Chafe correspondem, grosso modo, às de Prince, embora sua
perspectiva seja mais cognitiva do que textual.
Estudos mais recentes envolvendo ordem de constituintes, como os de Votre &
Naro
(1999)
e
Berlinck
(1997),
utilizam
categorias
informacionais
como:
completamente novo, parcialmente novo, disponível e evocado para medir o nível de
informatividade dos referentes nominais, mas acabam abandonando essa categorização
em proveito de outra perspectiva (centralidade e periferalidade da informação). Um
aspecto comum aos dois trabalhos estaria no fato de mostrarem que o status
informacional dos constituintes da frase deve ser visto como parte da estratégia de
organização discursiva. Os autores, em ambos os trabalhos, observam que os sujeitos
27
pospostos podem tanto referir-se a entidades novas quanto a entidades evocadas. Com
isso, evidenciam que embora haja uma possível associação entre o status informacional
do referente e a sua posição na frase, não há nisso uma determinação. A “novidade” ou
“velhice” de um referente só pode ser avaliada como parte de uma estratégia
discursiva.(cf. Berlinck 1999, p330)
Contudo, apesar das várias propostas de categorização para o status
informacional, todas de um modo geral mostram uma relação que se apresenta
basicamente com informação velha precedendo informação nova no discurso. Mesmo
Prince (1979), no texto em que propõe subclasses para referentes novos, evocados e
inferíveis, reconhece, a partir da análise de texto narrativo, que a maioria dos sujeitos
são evocados enquanto os SNs que desempenham outras funções tinham um maior
percentual de novidade. Quanto aos inferíveis, havia um número similar de ocorrências
entre os referentes sujeitos e não-sujeitos.
O outro princípio funcional que é importante para o nosso trabalho é o princípio
da marcação. Haveria no princípio da marcação, segundo Givón (1995), três critérios
para estabelecer a distinção entre uma categoria marcada e uma não-marcada:
complexidade estrutural, distribuição de freqüência e complexidade cognitiva.
Para a complexidade estrutural, o autor prevê que o elemento marcado tende a
ser mais complexo (ou mais longo), necessita de mais codificação lingüística que o
correspondente não marcado. No que diz respeito à distribuição de freqüência, as
cláusulas marcadas apresentarão baixa freqüência. Já as cláusulas não marcadas
apresentarão alta freqüência.
28
Do ponto de vista da complexidade cognitiva, a categoria marcada tenderá a ser
cognitivamente mais complexa – em termos de esforço mental, maior demanda de
atenção ou tempo de processamento – que a não marcada.
Outro princípio funcionalista também importante para o nosso estudo é o
princípio da iconicidade. Segundo esse princípio, haveria uma relação motivada,
simétrica, isomórfica de um para um entre expressão e conteúdo: a expressão tem a
forma que tem por causa do conteúdo que veicula. Baseado nesse princípio, Givón
(1983) postulou o domínio funcional da continuidade de referência. O autor argumenta
que esse domínio funcional complexo pode ser identificado a partir de graus de
acessibilidade tópica e para mostrar a correspondência entre esses graus de
acessibilidade e a sua expressão lingüística estabelece um continuum que vai da
continuidade máxima, expressa pela anáfora zero, à descontinuidade máxima,
representada pelo SN indefinido, como se vê abaixo: (cf. Givón, 1983 p.17)
Alta continuidade
a. anáfora zero
b. pronomes átonos ou concordância gramatical
c. pronome tônicos
d. Deslocamentos à direita do SN - DEF
e.
SN-DEF simples
f. Deslocamentos a esquerda do SN-DEF
g. Topicalização
h. Construções clivadas
i. SN indefinido
Alta descontinuidade
29
Nossa proposta para este trabalho diz respeito a alguns dos itens dessa escala, a
saber, pronomes tônicos, SNs simples definidos, SNs indefinidos. Mas não se restringe
à visão de referência apresentada por Givón, já que a sua concepção parece ser a
clássica, em que o referente — uma entidade do mundo previamente existente —
permanece o mesmo, mudando apenas a forma de expressão. A visão mais atual da
referência, que nos vem da lingüística textual, enfatiza a possibilidade de a construirmos
no discurso, por isso, prefere a expressão “referenciação” (Koch e Marcuschi (2002),
Cavalcante (2003) e Mondada (2003)), e daí decorre uma noção de continuidade em
sentido mais amplo. A referenciação é vista como um processo discursivo criado na
dinâmica interacional, de modo que os referentes são considerados como objetos-dediscurso, e não como objetos-de-mundo. Essa questão envolvendo a continuidade do
referente e a noção de referenciação será retomada no capítulo 4.2.
Uma propriedade particularmente importante para este trabalho é a da
transitividade. Hopper & Thompson (1980) a consideram um universal lingüístico e
sugerem uma escala de dez parâmetros que definem as diferentes intensidades com que
as ações são transferidas de um participante para o outro, fugindo da classificação
tradicional que centrava a questão no tipo de verbo. Para os autores, pode haver maior
ou menor transitividade dependendo de uma série de parâmetros. Para quantificar essa
gradação, os autores atribuem marcação positiva para cada parâmetro de transitividade
mais alta. No caso de ausência daquele traço, a pontuação será ‘zero’, e portanto,
marcaria também um grau mais baixo de transitividade.
Os dez traços propostos pelos autores são: número de participantes, cinese,
aspecto, punctualidade, volição, afirmação, modo, agentividade, afetamento do objeto,
30
individuação do objeto. Assim, seria + transitiva a oração em que um agente seja
animado, individuado, tenha intencionalidade e cause uma mudança física no estado ou
na localização de um objeto individuado. Contudo, neste estudo trabalharemos apenas
com os traços número de participantes, agentividade e aspecto. (ver cap..4.5)
3.2 O variacionismo
Utilizamos na nossa análise o instrumental teórico-metodológico da Teoria da
Variação laboviana. Porém, o aparato variacionista é empregado aqui no sentido de
confirmar numericamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada e fatores
que propomos como contextos preferenciais das estruturas SV ou VS tanto no
Português como no Espanhol. Com a utilização do aparato variacionista, nos
beneficiaremos da Teoria, pois se poderá aferir com segurança o papel de traços e
aspectos discursivos e pragmáticos na ordem.
Contudo, não trabalhamos com um variacionismo no sentido clássico, ou seja,
não se podem tomar as ordens SV e VS como as variantes de uma variável “ordem do
sujeito”, não ocorrendo necessariamente nos mesmos contextos, mas sendo dependentes
de necessidades discursivo-pragmáticas, como já mostraram estudos anteriores de Naro
& Votre (1999), Berlinck (1997) e Pezatti (1994), para o português.
Para melhor diagnosticar os contextos nos quais as ordens SV/VS podem
ocorrer, postulamos grupos de fatores que permitiram submeter os arquivos de dados
aos programas computacionais que compõem o pacote Varbrul.
31
Nosso cálculo estatístico se limitou à utilização do programa Makecell (Pintzuk
1988) cuja função é especificar a freqüência de uso das variantes que constituem a
variável dependente, com relação aos grupos de fatores que contém as variáveis
independentes.
O modelo teórico com que trabalhamos, o funcionalismo, estabelece que a
análise seja realizada a partir de dados do discurso real e, por isso, necessitávamos de
um material de análise que representasse a língua em uso. A proposta inicial era
trabalharmos com dados de fala, mas devido à dificuldade que tivemos em acessar
dados de fala atual para o espanhol, resolvemos, então, buscar esse material na escrita,
mais precisamente dentro do discurso jornalístico. Trabalhar com esse discurso nos
possibilitou desenvolver a análise a partir de dois gêneros jornalísticos diferentes, quais
sejam: os artigos de opinião e notícias. O gênero notícias foi escolhido por ser o gênero
fundamental de um jornal, o primeiro ao qual se associa a existência de um jornal e seu
papel informativo. Além disso, é um texto predominantemente narrativo, característica
que tem sido objeto de inúmeros estudos e que também tem despertado o interesse das
escolas, que utilizam esse gênero como material didático alternativo aos livros didáticos
tradicionais. Os artigos de opinião também têm sua importância na composição de um
jornal. São textos predominantemente argumentativos e que também costumam ser
valorizados como material de estudo teórico e como recurso didático na formação de
leitores e escritores críticos.
Os textos foram coletados de jornais brasileiros, o Jornal do Brasil e O Globo,
para o Português. Para o Espanhol foram coletados textos de jornal Espanhol de
circulação internacional, jornal El Pais. Os dados somam um total de 22 textos para
cada gênero, tanto para o Português como para o Espanhol.
32
Assim, após a delimitação do material que iria ser focalizado no estudo, iniciamos a
seleção dos dados. O objetivo do trabalho, naturalmente, nos levou a excluir da análise
estruturas com sujeito elíptico, indeterminado e sentenças com verbos impessoais como
haver, fazer. Foram desconsideradas também estruturas com verbos dicendi. Esses
verbos apresentam, tanto no português como no espanhol, uma estrutura cristalizada (1),
pois em todos os casos examinados em que a estrutura estava no discurso direto não
houve um exemplo sequer de SV.
(1)
a) Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile funk e levado para o
“microondas”. Ele tinha uma dívida de droga – contou um morador da Vila
Cruzeiro, pedindo anonimato.
b)
le han dado animos y yo no hago sino agradecer el apoyo que he recibido de
Ia gente de Huesca", dice Sonia.
3.3 Análise dos gêneros
3.3.1. Os gêneros de discurso e os tipos de texto
A necessidade de verificar em que momento os textos de notícias e artigos de
opinião se distinguiriam em termos de utilização de SV/VS nos levou a observar,
também, as especificidades desses textos. E essa busca por uma caracterização fez com
que dirigíssemos nosso olhar para um aspecto teórico relevante, que vem ocupando um
espaço cada vez maior nas análises lingüísticas, ou seja, o da categorização de gêneros e
tipo de textos e também da distinção que se faz entre essas duas noções.
Os estudos sobre gêneros e tipos de textos têm sido objeto de diversas
33
abordagens. Atualmente, a atividade de pesquisa aumentou nesse campo principalmente
depois da proposta dos PCN’s de fundamentar o ensino de língua materna nos gêneros
textuais. Com base nessas orientações, lingüistas, professores de português e de língua
estrangeira dedicam-se cada vez mais a analisar a diversidade de situações
comunicativas que contêm os diferentes gêneros.
Antes de prosseguirmos, é necessário que se estabeleça o que se entende por
gênero e tipo de texto. E, para isso, recorreremos às contribuições teóricas de alguns
autores que têm se dedicado a esse assunto.
O primeiro autor cuja menção se impõe ao falar de gênero é Bakhtin (2003)4. O
autor postula sua visão de gênero a partir de uma visão interacional da linguagem, já
que para ele o gênero se constrói no discurso, no enunciado. Segundo o autor “o
discurso só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados
falantes, sujeitos do discurso”. (cf. p274) Assim, o discurso sempre estará fundido na
forma de enunciado pertencente a um determinado sujeito do discurso, uma vez que
fora dessa forma não pode existir.
Com base nessa noção, o autor argumenta que os gêneros são construídos a
partir de situações comunicativas maleáveis e dinâmicas que surgem como decorrência
da inesgotabilidade da atividade humana.
O autor propõe que se organize essa heterogeneidade dos gêneros discursivos
em: gêneros discursivos primários (simples) e gêneros discursivos secundários
(complexos). Segundo o autor, os gêneros discursivos secundários, complexos se
distribuiriam em romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes
gêneros publicísticos, etc. Os gêneros secundários, que segundo o autor são
predominantemente escritos, surgiriam
a partir do convívio cultural complexo e
34
relativamente desenvolvido e organizado. Já os gêneros discursivos primários se
formariam nas condições da comunicação discursiva imediata, ou seja, seriam uma
réplica do diálogo cotidiano, como cartas, diários, protocolos, etc.
Em uma linha menos teórica, Biber (1988), trabalha com a questão de
gêneros/tipos de textos tomando por base uma ampla análise de dados reais. O autor
realiza um trabalho de análise empírica de vários gêneros, e, a partir do levantamento de
um extenso conjunto de traços lingüísticos e do agrupamento desses traços, define
dimensões através das quais os gêneros podem variar. Por exemplo envolvimento versus
informatividade, referência explicita versus situacionalidade etc.
O autor distingue gênero de tipo de texto segundo critérios externos relacionados
ao propósito do falante e ao tópico. Gêneros são categorizados com base em critérios
externos, enquanto tipos de textos representam grupos de textos que são semelhantes
nas suas características formais. (cf. p.170)
Marcuschi (2005) tem seu estudo de gênero relacionado aos usos da fala e da
escrita. O autor também defende a idéia de que a comunicação verbal só é possível por
algum gênero textual. Essa visão, segundo o autor, privilegia a natureza funcional e
interativa, e não o aspecto formal e estrutural da língua. Os gêneros textuais se
constituiriam como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo,
constituindo-o de algum modo.
Marcuschi define gênero textual como uma noção propositalmente vaga para
referir os textos materializados que podem ser encontrados na vida diária e que
apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades
funcionais, estilos e composição característica, como telefonema, sermão, reportagem
jornalística, horóscopo, notícia jornalística, carta, piada, aulas etc. O autor esclarece que
4
A referência corresponde à data da tradução para o Português consultada.
35
atividades como discurso jornalístico, discurso jurídico ou discurso religioso não
constituem um gênero em particular, mas que sevem como suporte para vários gêneros.
Em relação ao tipo de texto, o autor o define como uma expressão para designar
uma seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição, quais
sejam: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Associa os tipos
textuais à narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.
Também Paredes Silva (1997, 2005) associa os tipos textuais a seqüências
disponíveis
na
língua
com
marcas
lingüísticas
específicas,
tais
como
tempo/aspecto/modo do verbo, a pessoa do discurso predominante (1a, 2a, 3a), unidade
semântica básica, a ordenação lógica ou cronológica, etc. Argumenta que os tipos
textuais podem ser associados às estruturas narrativas, descritivas, expositivas,
expressivas, procedurais e dialógicas.
Os gêneros corresponderiam a uma atualização desses tipos em circunstâncias
concretas de comunicação. A autora observa, assim como os outros autores, que é o
caráter sócio-interacional do gênero, e a diversidade de situações comunicativas com
que é possível se defrontar no dia-a-dia que gera a multiplicidade de gêneros que
temos no discurso.
Desse modo, podemos observar que a maioria dos autores trabalha com a noção
de gênero discursivo ou gênero textual associada a situações sócio-comunicativas. Já
tipos de texto têm uma definição mais formal, são ligados a modos de organização de
informação.
“Os
tipos de textos constituem os elementos fundamentais da infra-estrutura
geral dos textos” (cf. Bronckart 1999 pg. 217). Constituem “um nível de estruturas
discursivas, entendidas também como modos de organização de informação, que
36
representariam as potencialidades da língua, as rotinas retóricas ou formas
convencionais que o falante tem à sua disposição na língua quando quer organizar o
discurso”. (Cf. Paredes Silva 1997 pg.89)
Assim, para cada uma dessas estruturas haveria uma caracterização com base na
natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, morfológicos e
semânticos, etc.). (cf. Marcuschi 2005, Paredes Silva 1997). Tradicionalmente, os tipos
ou seqüências textuais são, segundo Adam (1992 apud Bronckart (1999)), basicamente
cinco: seqüências narrativas, descritivas, argumentativas, explicativas e dialogais. Não
vamos, contudo, comentar todos os tipos aqui relacionados, detendo-nos na observação
dos tipos textuais encontrados durante a análise dos textos em estudo. É importante
comentar também que em nenhum dos textos analisados encontramos uma seqüência
textual que se realize como um gênero em estado puro, ou seja, sem a coexistência de
outras seqüências textuais no mesmo gênero. No caso dos textos de notícias, por
exemplo, observamos basicamente seqüências narrativas, mas pudemos encontrar
também outras seqüências, como a descritiva e a argumentativa. Os textos de opinião
possuem base argumentativa, mas também foi possível encontrar neles seqüências
descritivas.
Definidas as características de gênero e tipo de texto, na literatura estudada para
este trabalho, iniciamos uma tentativa de caracterizar as especificidades discursivas e
formais que podemos esperar encontrar em cada um dos gêneros textuais em estudo –
notícias e artigo de opinião.
37
3.3.2 - Os gêneros notícias e artigo de opinião
Em uma tentativa de definição dos gêneros textuais que estamos estudando –
notícias e artigos de opinião – valeria destacar como primeiro ponto o fato de
pertencerem a gêneros redacionais distintos (cf. Adam e Broucker apud Carneiro da
Cunha, 2005, pg.170). No caso de notícias, a organização geral estaria voltada para a
informação, uma vez que há o interesse de fazer o leitor saber as novidades do
momento. Já no caso dos artigos de opinião, a organização estaria centrada no
comentário, por procurar fazer valer uma convicção, um julgamento, um sentimento.
Segundo Van Dijk (1992), a organização diferente dos tópicos também faz parte
das características redacionais das notícias.
As estruturas temáticas no discurso
noticioso obedecem, segundo o autor, na maior parte dos casos, a uma ordem de
relevância. A informação seria organizada de maneira tal que indicaria ao leitor a
informação ou o tópico mais importante e este por sua importância, ocuparia o nível
superior, o primeiro lugar. Haveria, para facilitar a inferência da informação/tópico,
segundo Van Dijk, a utilização de recursos especiais, tais como manchetes para
caracterizar o tópico mais alto ou mais importante. E esse tópico é repetido e
desenvolvido
nas sentenças ou parágrafos
iniciais do texto, nos quais estariam
indicados, também, detalhes importantes a respeito de tempo, local, participantes,
causas/razões ou conseqüências dos eventos principais.
Desse modo, um dos tópicos seria expresso primeiramente na manchete do texto,
como podemos perceber no título Tráfico ainda faz vítimas como Tim (cf. anexo 1), que
se refere à ação do tráfico e à morte do jornalista Tim Lopes. O outro tópico importante,
o SN polícia, é introduzido no corpo do texto.
38
Essa disposição seria, segundo o autor, apenas um aspecto da estrutura de
relevância do texto de notícias, uma vez que o artigo noticioso pode atribuir, através de
vários mecanismos, diferentes valores de relevância aos tópicos, por exemplo, por meio
de lead ou ordem linear do texto.
No caso do artigo de opinião, que é um gênero de enunciação subjetiva, as
características informacionais são bem diferentes. Nesse gênero toda informação está
voltada para expor o ponto de vista de um jornalista ou de um colaborador do jornal
sobre um tema atual, que pode ser polêmico ou não. Ao expor o seu ponto de vista, o
jornalista ou o colaborador do jornal faz uso de dêiticos e do presente do indicativo
como tempo de base e dá sustentação aos argumentos muitas vezes comentando sobre
algo já dito. É um gênero em que o dialogismo é raramente mostrado, ou seja, a
explicitação de outros discursos não é tão evidente como nas notícias. (cf. Carneiro da
Cunha 2005, p.170).
Muitas vezes os artigos de opinião podem ter um aspecto mais informativo que
polêmico (cf. anexo 2), isso talvez se deva ao emprego de seqüências descritivas que o
autor pode utilizar para dar suporte ao seu comentário. Segundo Bronckart (1999), esse
esquema ocorreria quando um objeto do discurso não é considerado contestável ou
problemático. Nesse caso, segundo o autor, o objeto tenderá a apresentar-se como
neutro ou neutralizado e o desenvolvimento de suas propriedades efetuar-se-á em um
segmento de texto chamado de simplesmente informativo, ou ainda puramente
expositivo. Já os artigos de opinião, com características polêmicas, podem trazer o
tópico no título, como no texto “Ciência e consciência” (cf. anexo 3).
Outro ponto que vale comentar é que, devido ao fato de notícias e artigos de
opinião serem gêneros discursivos distintos, possibilitam a exploração de seqüências
39
estruturais/tipos textuais, também, distintos como a narrativa, dissertativa, descritiva e
explicativa. Isso nos leva a deter-nos um pouco sobre os tipos predominantes no corpus.
3.3.3 – Seqüências narrativas
De um modo geral, as seqüências narrativas são o modo que um falante/escritor
tem para recapitular uma experiência passada. Esse é um princípio de base das
narrativas que se sustenta tanto quando olhamos para uma narrativa inserida em uma
conversa como para uma narrativa inserida no gênero notícias, embora o propósito
comunicativo para cada uma das narrativas possa ser distinto.
Segundo Labov (1972), a estrutura narrativa (de estória) seria composta de
resumo, orientação, complicação da ação, resolução da ação, avaliação e coda.
Bronckart (1999) propôs para as narrativas de textos escritos uma seqüência
baseada na proposta de Labov e argumenta que as narrativas estão associadas a um
processo cronológico de intriga. Esse processo, segundo Bronckart, consiste em
relacionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história ou
ação completa, com cinco fases principais: a fase de situação inicial (de exposição, ou
de orientação), na qual um “estado de coisas” é apresentado, estado esse que pode ser
considerado “equilibrado”, não em si mesmo, mas na medida em que a seqüência da
história vai nele introduzir uma perturbação; a fase de complicação (de
desencadeamento, de transformação), que introduz exatamente essa perturbação e cria
uma tensão; a fase de ações, que reúne os acontecimentos desencadeados por essa
perturbação; a fase de resolução (de re-transformação), na qual se introduzem os
40
acontecimentos que levam a uma redução efetiva da tensão; a fase de situação final, que
explicita o novo estado de equilíbrio obtido por essa resolução.
Bronckart acrescenta a essas cinco fases principais a fase de avaliação, em que
se explicita a significação global atribuída à história, aparecendo geralmente no início
ou no fim da seqüência. Assim, não se poderia deixar de incluí-la também na análise
dos textos de notícias, já que não se poderia deixar de admitir que há avaliação na
utilização dos verbos dicendi dentro do texto jornalístico, recurso que pode ser
explorado para transmitir distintas intenções comunicativas. É através da escolha dos
verbos do discurso reportado que o jornalista pode mostrar ou não imparcialidade, o
que vai depender da força do verbo utilizado.
Em relação às características estruturais das narrativas, a expectativa é de que as
seqüências contenham estruturas verbais no pretérito perfeito correspondentes a eventos
sucessivos na linha do tempo; e que os eventos ocorram em terceira pessoa. Essa
distribuição, responsável por definir os pontos principais da narrativa, é conhecida como
foreground ( ou seja a figura, a linha principal dos eventos, a espinha dorsal da
narrativa) (cf. Hopper & Thompson (1980)).
Na seqüência narrativa pode ocorrer também um desvio da rota principal de
eventos, que “paralelamente ao eixo estrutural, não se caracteriza como uma ocorrência
isolada na narrativa” (cf. Silveira 1990, p.74). Essa sub-rota faz parte da seqüência
descritiva; sua função, segundo Adam (apud Bronckart (1999, pg. 235)), é a de “fazer
com que o destinatário veja em detalhes os elementos do objeto de discurso que não
parecem absolutamente necessários à progressão do tema e guiar o olhar do destinatário
de acordo com procedimentos espaciais, temporais ou hierárquicos. Devido a estarem
sempre articuladas a outras seqüências (narrativa, explicativa, argumentativa etc),
41
apresentam-se como secundárias ou relacionadas às seqüências principais”. Esses
elementos do discurso são conhecidos como background (Fundo) (cf. Hopper &
Thompson
(1980)).
Segundo
Adam
(apud
Bronckart
(1999,
pg.
235))
o
desencadeamento de uma seqüência descritiva no co-texto de uma seqüência narrativa
tem por objetivo situar ou fazer compreender melhor os elementos que estão em jogo
nessa mesma narração, e é esse também o caso das descrições articuladas aos outros
tipos de seqüência.
Desse modo, segundo Bronckart (1999), é possível distinguir, na maior parte dos
segmentos de narração, de um lado, frases que expressam a progressão cronológica dos
acontecimentos e, de outro, frases que apresentam algumas características do quadro em
que se inscreve essa progressão. Segundo Hopper (1979), um exemplo dessas
seqüências secundárias ou relacionadas à seqüência narrativa estaria nas cláusulasfundo.
Quanto às características estruturais, a descrição se apresentará com o verbo
numa forma não perfectiva, num predicado estativo em torno de entidades, geralmente
de terceira pessoa, sintaticamente centrada em estruturas nominais (cf. Paredes Silva
1997).
3.3.4 – Seqüências
argumentativas
Outro tipo de texto que faz parte dos nossos dados é o argumentativo. Segundo
as abordagens desenvolvidas por Apothéloz et al. (1984), Borel (1981a), Grize (1974,
1981) e Toulmin (1958) (apud Bronckart (1999)), a argumentação apresenta, sob um
ponto de vista das operações cognitivas de raciocínio, a existência de uma tese,
supostamente admitida, a respeito de um dado tema. Sobre o pano de fundo dessa tese
42
anterior, são propostos dados novos, que são objeto de um processo de inferência, que
orienta para uma conclusão ou nova tese. Ainda, segundo os autores, no quadro do
processo de inferência, esse movimento argumentativo pode ser apoiado por algumas
justificações ou suportes, mas pode também ser moderado ou freado por restrições.
Desse modo, o peso dos suportes e das restrições influenciaria na força da conclusão.
Bronckart (op.cit) argumenta que o protótipo da seqüência argumentativa pode
ser apresentado em uma sucessão de quatro fases. Na primeira estaria a fase das
premissas (ou dados), em que se tem a constatação de partida, na segunda, teríamos a
apresentação dos elementos argumentativos que orientam para uma provável conclusão.
Segundo o autor esses elementos podem ser apoiados por lugares comuns, regras gerais,
exemplos, etc.. Na terceira fase, estariam os contra-argumentos, que têm a função de
restringir a orientação argumentativa e que podem ser apoiados ou refutados por lugares
comuns. Na última fase estaria a conclusão (ou nova tese). A conclusão tem a força de
integrar os efeitos dos argumentos e contra-argumentos que foram expostos ao longo do
texto.
Segundo Bronckart, fazem parte, também, da argumentação seqüências
explicativas. A seqüência explicativa, segundo o autor, ocorrerá no texto argumentativo
como um recurso para esclarecer um item problemático que, embora seja incontestável,
possa causar alguma dificuldade de compreensão ao destinatário. Contudo, se um
aspecto do tema for contestável, o redator tenderá a organizar seu texto em uma
seqüência argumentativa. No caso do discurso ser ao mesmo tempo problemático e
contestável o produtor lançará mão de um segmento que combine as duas seqüências.
Contudo, essa divisão entre seqüências explicativas e argumentativas é um tanto
problemática uma vez que é difícil separar uma seqüência da outra. De fato, parece ser
43
indispensável que a argumentação seja construída por meio de explicações, exemplos,
ilustrações etc., É difícil imaginar o desenvolvimento de uma argumentação sem a
utilização desses recursos como evidência. Os próprios autores têm dificuldade em
explicar essas diferenças. Ao fazer a distinção entre dissertação e argumentação, Othon
Garcia (1992), por exemplo, defende a idéia de que, na dissertação, o propósito
principal é expor, explicar ou interpretar idéias, já na argumentação o objetivo é o de
convencer, persuadir ou influenciar o leitor. No entanto, o próprio autor reconhece que
se podem encontrar traços de argumentação, mesmo em um texto de características mais
explicativas, como a dissertação, principalmente, na maneira como o autor procura
convencer o leitor, conduzindo sua opinião através da evidência dos fatos.
Em relação aos aspectos estruturais da argumentação, Paredes Silva (1997)
observa que a sua unidade semântica será a proposição, em construções sintáticas mais
complexas (alta incidência de subordinação). Os verbos são usados em formas não
perfectivas, havendo forte contingente de construções hipotéticas.
44
4. ANÁLISE DOS DADOS
4.1. Status informacional do constituinte
Para o desenvolvimento deste trabalho levarei em conta as quatro categorias de
conteúdo informacional propostas por Votre & Naro (1999) e Berlinck (1997), quais
sejam, referentes novos, referentes disponíveis, referentes inferíveis, referentes
evocados, que neste trabalho, só podem ser evocados textualmente. Assim, testarei as
quatro categorias em textos jornalísticos (notícias e opinião) tentando, assim como os
autores o fizeram nos textos narrativos de fala, verificar as correlações entre a posição
do SN sujeito e seu status informacional.
Antes de prosseguirmos nas análises, vale a pena comentarmos as noções que
podemos esperar de cada categoria informacional.
O primeiro grupo é de referentes novos, que são introduzidos pela primeira vez no
contexto discursivo, como nos exemplos abaixo em (1) um rapaz e (2) tres hadas.
1. Segundo moradores, depois da prisão do traficante Elias Maluco, em 19
de setembro a polícia foi deixando as duas favelas e a vida voltou à
anormalidade de sempre, com a lei do silêncio imperando.
— Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile funk e levado para
o “microondas”. Ele tinha uma dívida de droga – contou um morador da
Vila Cruzeiro, pedindo anonimato.
5
(NOT.)5
Os símbolos “NOT.” e “OP.” referem-se aos gêneros notícias e artigo de opinião.
45
2. En los cuentos de nuestra infancia — que algunos nunca hemos
renunciado a releer — siempre se inclinan por lo menos tres hadas
sobre la cuna de los recién nacidos. (OP)
Em (1), temos o fragmento de um texto em que o autor vinha falando do
assassinato do repórter Tim Lopes e de todo o empenho da polícia para prender o
responsável pelo crime. Ao finalizar o texto, a autora introduz depoimentos de
moradores daquela comunidade para mostrar que, depois da prisão do criminoso, a
situação voltou a ser como antes, e põe em discurso direto o depoimento que podemos
ver em (1) sobre um rapaz que foi capturado pelos traficantes. O referente um rapaz é
introduzido nesse momento no texto e encerra a reportagem, causando certo impacto.
Em (2), temos um fragmento do espanhol retirado de um artigo de opinião. É a
partir desse parágrafo que o autor desenvolve todo o texto, e por isso, o referente novo
hadas (fadas) aparece nesse momento pela primeira vez no texto.
O segundo grupo é constituído de referentes disponíveis, que podem ser
representados por entidades familiares ao ouvinte. Esses referentes disponíveis
pertencem a um grupo de indivíduos cujo nome é de domínio público, tais como
políticos, celebridades, instituições etc. Nesse grupo estariam também referentes
identificados pelo uso de nomes próprios.
3. Un total de 40 personas han perdido la vida en las carreteras españolas
desde el inicio de las vacaciones de Semana Santa, cuya segunda fase de
salida se inició ayer con más de 90 kilómetros de retenciones en las
carreteras de Madrid. El Instituto Nacional de Meteorología (INM)
preve que los viajeros encontrarán en su destino un tiempo
sensiblemente peor al disfrutado los últimos días. Las temperaturas
registrarán una ligera mejoría el domingo. (NOT.)
46
4. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio de
Mello, ao comentar as propostas existentes para a instituição do
chamado controle externo da magistratura, pôs em evidência a
circunstância de que, ao criarmos um órgão controlador do Poder
Judiciário, seríamos levados, talvez a curto prazo, a criar um outro órgão
controlador e assim por diante, ad infinitum. (OP.)
Nos exemplos acima temos referentes que são familiares ao leitor, pois podem ser
facilmente relacionados a instituições, como em (3) ou, ainda, a um nome que faz parte
de instituições, como em (4) o presidente do Supremo Tribunal Federal.
O referente inferível é aquele que o redator supõe ser deduzível, pelo ouvinte, de
outras entidades já evocadas ou inferíveis, via raciocínio lógico, como em (5) as
questões e (6) la provocación.
5. As palavras de Bobbio resumen, de forma clara, o dilema atual da
Humanidade. Para o direito, as questões daí decorrentes estão postas.
Como definir e assegurar a observância de parâmetros éticos para as
novas descobertas? (OP.)
6. Por otro lado, aunque los americanos nos hayan mostrado desde hace un
año que siguen una política ciega y autista en Irak, pensar que la
provocación contra Múqtada al Sáder y sus seguidores ha sido un error
más que ha encendido la Intifada Chií, seria muy inocente por nuestra
parte.
(OP.)
No fragmento (5), o referente as questões pode ser associado ao dilema atual que
a humanidade vive para delimitar a aplicação dos avanços da ciência. A preocupação do
autor é a de que essas novas descobertas não ameacem à vida humana e que as novas
47
descobertas sejam utilizadas com consciência. O referente as questões pode ser
associado no texto com as idéias de ciência, liberdade, segurança, progresso técnico etc.
expressas nos parágrafos precedentes (cf. anexo 3) Já em (6), o referente la provocación
(cf. anexo 8) pode ser associado às várias medidas tomadas pelos americanos com o
objetivo de controlar o Iraque. Para o autor, o controle de publicações do movimento
chiíes, a prisão do seu porta-voz, Mustafá al Yaquí, e os disparos contra os
manifestantes que reagiram contra essa medida são atitudes que devem ser encaradas
pelos lideres iraquianos como provocações. Observe que, pelo fato de poder contar com
as inferências do leitor, os produtores dos textos usam o artigo definido, embora os
nomes não tenham sido introduzidos antes.
E finalmente, as entidades evocadas são caracterizadas por retomarem referentes
já mencionados no texto e portanto já conhecidos do leitor como em (7) esse órgão, (8)
el director e el atracador. Como podemos perceber em todos esses exemplos o item é
uma retomada de um termo já mencionado anteriormente.
7. E, realmente, assim, é. Se entendemos fundamental que tenhamos um
órgão que controle e fiscalize o Poder Judiciário, esse órgão, ao se
desviar de suas finalidades, estaria a requerer a existência de órgão que
lhe seja superior. (OP.)
8. Antes, el ladrón fue liberando a los rehenes de manera escalonada y tras
“arduas negociaciones mediante un psicólogo de la policía. Dos de los
retenidos, el director de la sucursal y un cliente, permanecieron hasta 13
horas cautivos. “El director fue quien peor lo pasó. El atracador le
48
tomó con él. Le amenazó con volarle los sesos y le llegó a golpear en la
cabeza con la culata de la pistola”, reveló ayer una de las rehenes. (NOT.)6
Como podemos ver nos exemplos acima, os nomes destacados em negrito
remetem a referentes já mencionados antes no texto. Em (7) por exemplo, temos o
referente esse órgão. Esse referente já havia sido mencionado três vezes há uns dez
parágrafos atrás, reproduzimos aqui duas de suas antepenúltimas menções. O autor
constrói toda a sua argumentação em cima desse tema, já que sua tese é provar a
necessidade de se construir um órgão que controle e fiscalize o Poder Judiciário.
Já no fragmento que retiramos do texto de notícias do espanhol, temos em um
primeiro momento a ativação do referente el ladrón que é retomado mais adiante
como el atracador. Observe-se que muda o item lexical usado na retomada, o que
não interfere na caracterização da entidade como evocada. No mesmo exemplo
temos el director que em sua primeira menção é ativado como um dos detidos pelo
assaltante, logo a seguir, esse referente é retomado com destaque introduzindo um
novo detalhe sobre o assalto. (cf. anexo 5)
A partir das observações dessas categorias informacionais, procuramos
identificar aquelas que favorecem a posposição do SN sujeito nas sentenças
analisadas. Os resultados serão sempre apresentados em tabelas que expõem lado a
6
“Antes,
o ladrão foi libertando os reféns aos poucos e após “árduas” negociações, mediante um psicólogo da
polícia. Dois dos retidos, o diretor da sucursal e um cliente, permaneceram até 13 horas cativos. “O diretor foi quem
esteve em pior situação. O assaltante cismou com ele. Ameaçou-o de estourar os miolos e chegou a golpeá-lo na
cabeça com a pistola”, revelou ontem uma das reféns.”
49
lado os percentuais encontrados para o português e espanhol, em cada gênero
estudado.
Tabela 1 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos
textos de notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
11/89 = 12%
17/94 = 18%
Referente disponível
0/29 = 0%
5/38 =13%
Referente evocado
2/142 = 1%
3/89 = 3%
Referente inferível
10/102 = 10%
16/102 = 16%
23/362 = 6%
41/323 =13%
Referente novo
Total
Antes de mais nada, vale a pena comentar os totais encontrados nas duas línguas,
no gênero notícias. Como podemos observar, o espanhol apresenta um percentual
mais alto de sujeitos pospostos, (13%), em relação ao português (6%), uma diferença
percentual não muito acentuada (de sete pontos), mas que, em alguns contextos, se
torna significativa.
A tabela dos textos de notícias mostra, também, que são os referentes novos e
inferíveis os que mais caracterizam a posposição, tanto no português como no
espanhol.
A distribuição percentual da tabela 1 mostra, ainda, que o espanhol apresenta
maiores chances de posposição caso os referentes sejam disponíveis, e, como já
comentamos, novos e inferíveis. Podemos dizer que, para o espanhol, os referentes
disponíveis e inferíveis parecem ter um comportamento semelhante ao de referentes
novos (e de certa forma são novos no texto.). Os referentes inferíveis são
informações que derivam da evocação de esquemas que são desencadeados pela
50
menção de um outro referente. Por não se manifestarem previamente no texto,
podem ser associados às informações novas. Por outro lado, aproximam-se das
informações evocadas por, de alguma forma, poderem ser relacionadas com algo já
mencionado.
Já
os
referentes
disponíveis
desencadeiam
o
conhecimento
compartilhado do leitor.
No português, por outro lado, os disponíveis se aproximam dos referentes
evocados. Essa distribuição mostra que os textos jornalísticos do português tendem a
construir a notícia em cima de referentes que fazem parte do conhecimento
compartilhado do leitor, mas são sentidos como referentes evocados e, por isso,
também raramente estão pospostos ao verbo. Os referentes evocados como podemos
observar na tabela (1), aparecem num número insignificante de sujeitos pospostos
(2/142), ou seja, 99% dos sujeitos evocados são antepostos. Além disso, considere-se
que os evocados representam 39% de todos os sujeitos.
A tabela também mostra que, no português, são apenas os inferíveis que se
aproximam dos referentes novos.
Vejamos agora o que podemos encontrar nos textos de opinião.
Tabela 2 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos
artigos de opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Referente novo
7/62 = 11%
26/164 = 16%
Referente disponível
7/57 = 12%
6/40 = 15 %
Referente evocado
5/109 = 5%
13/122 = 11%
Referente inferível
17/147 = 12%
13/115 = 11%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Total
51
A tabela (2) revela um aumento percentual no total de posposição do português
que o aproxima mais do espanhol. Mostra também que, para os artigos de opinião, há
uma distribuição mais equilibrada, no espanhol.
O aumento percentual do português talvez possa ser explicado pelo alto grau de
formalidade deste gênero. Os artigos de opinião são textos dirigidos a um público
mais escolarizado, ou especializado em diferentes setores de conhecimento
(economia, política, educação, etc.), fato que permitiria manter, de certa maneira, os
padrões mais conservadores da escrita. Os textos de notícias também estão sujeitos
aos padrões da escrita, mas talvez atinjam um público leitor mais abrangente e
diverso. E, por isso, talvez mantenha-se a objetividade na transmissão da
informação, mas as construções sejam direcionadas para uma linguagem que
transmita menor conservadorismo na escrita.
A distribuição de freqüência das tabelas (1) e (2) nos revela que, em ambos os
gêneros, a posição SV é predominantemente de referentes evocados, principalmente
no português que apresenta menor chance de posposição com esses referentes.
Diferentemente, o espanhol apresenta um percentual de posposição de evocados não
muito distante das demais categorias, nos artigos de opinião, (11%), marcando uma
distribuição mais equilibrada das categorias informacionais pospostas nesse gênero .
A tabela dos artigos de opinião também reitera que em ambas as línguas não há
uma exclusividade de sujeitos pospostos novos. Essa possibilidade de VS, tanto no
português como no espanhol, em ambos os gêneros, com referentes evocados e
inferíveis corresponde às conclusões de Votre & Naro (1999) e Berlinck (1997) no que
diz respeito à idéia de que a posposição não serve basicamente para apresentar
referentes novos no discurso. A distribuição mostra, ainda, uma complexidade na
52
referência dos sujeitos. E evidencia graus de novidade e de velhice que só podem ser
explicados pelas diferentes estratégias discursivas que os gêneros notícia e artigo de
opinião impõem.
53
4.2. A continuidade do SN
Como já comentamos na seção anterior, trabalhamos com um material diferente
do de Votre & Naro (op.cit.), que medem o status informacional dos sujeitos em VS e
SV nos textos narrativos de fala. Nossos dados são textos escritos que abrangem dois
gêneros diferentes: artigos de opinião e notícias, e, por isso, a expectativa é a de que não
possuam o mesmo tipo de continuidade ou descontinuidade do texto falado. Essa
expectativa se justifica porque são um
tipo de material que envolve maior
planejamento, permitindo maior complexidade e atenção do redator na indicação dos
SNs/referentes. O redator tem de levar em conta as unidades de sentido no todo do
texto, ou seja, a continuidade dos referentes ativados, re-ativados e dos que podem ser
inferíveis a partir de expressões do texto. Assim, podemos ter referentes ativados que
introduzem a informação principal do texto e que são retomados numa seqüência um
número significativo de vezes. Esses são reconhecidos como referentes/tópicos centrais.
Há também um tipo de ativação complexa de referente/tópico que não é realizada pelo
mesmo item léxico, mas em que a mudança não acarreta uma descaracterização total
que afete a relação de referência entre os SNs, já que alguma base semântica é
preservada. Nesses casos, os SNs podem representar uma ativação por associação ao
referente anterior, ou seja, as formas podem ser reconhecidas como quase sinônimas.
Desse modo, seria pertinente dizer que há uma dinâmica nos textos em que os referentes
seriam introduzidos, conduzidos, retomados, identificados e modificados à medida que
o discurso se desenrola. O fragmento (9) é exemplar por sua complexidade e pode dar
uma noção exata do que estamos querendo propor.
54
(9) O pânico tomou conta da cidade num efeito dominó, transformando os
cariocas em reféns do medo. Além das ameaças concretas, as pessoas se
deixaram levar por uma forte onda de boatos. Um fenômeno social que,
segundo os psiquiatras, acontece quando medo real e o imaginário se
misturam. Os cariocas resolveram agir de maneira preventiva, não deixando
os filhos irem para o colégio, faltando ao trabalho ou se fechando em casa.
(...)
O temor foi real em alguns pontos da cidade em que homens armados
ameaçaram comerciantes ou ordenaram o fechamento de escolas. Na Ilha do
Governador, traficantes ameaçaram invadir o Iate Clube Jardim Guanabara.
(...)
Para o historiador Milton Teixeira, a situação de ontem só teve paralelo
durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a cidade era
obrigada a ficar às escuras durante simulações de ataque aéreo. Segundo ele,
nem no golpe militar de 1964 o receio levou o comércio a fechar dessa
maneira.
Esse texto de notícias, retirado do jornal O Globo, informa sobre o pânico que
tomou conta da cidade por conta de uma série de boatos espalhados por traficantes.
(cf.anexo 9) No fragmento, o jornalista inicia o parágrafo com o tópico da
informação, o Pânico. Em seguida, lança mão de autoridades no assunto que
indicam as circunstâncias em que se pode aplicar o termo. E segundo essas
autoridades (os psiquiatras), haverá pânico quando medo real e o imaginário se
misturam. A menção da palavra medo introduz uma outra dimensão para os
sentimentos dos cariocas, que têm em pânico o grau máximo de emoção e em medo
uma emoção que parece ser menor. Logo a seguir, os conceitos são revistos como
temor e receio, que também estabelecem uma gradação de sentimentos
diferenciados. A substituição para o temor( foi real) remete à noção de fato
fundamentado em ocorrências que realmente aconteceram, e essa noção é sustentada
55
em todo o parágrafo. Já ao reformular o referente uma segunda vez, o redator lança
mão da atribuição semântica de sentimento mais abrandado, em que o medo parece
atingir uma intensidade ainda menor, receio.
Assim, podemos dizer que o referente vai se construindo no discurso e que é a
relação entre os itens quase sinônimos que possibilita que se reconheça a
continuidade de referência entre os SNs.
É com base nessas observações que quero defender a relevância de que se leve
em consideração na análise dos textos escritos uma continuidade em sentido mais
amplo, em que não haveria necessidade de se reconhecer igualdade no item léxico, já
que a referência pode ser estabelecida a partir das semelhanças na base semântica dos
elementos em jogo. Essa relação, segundo Koch e Marcuschi (2002) e Mondada (2003),
pode ser encontrada na noção de referenciação.
“A referenciação é vista como um processo discursivo criado na dinâmica
interacional, de modo que os referentes são considerados como objetos-de-discurso, e
não como objetos-de-mundo. Correlacionada à noção de referenciação estaria a noção
de anáfora” (cf. Cavalcante (2003 p. 109) A importância da correlação estaria no
acréscimo da noção de domínio geral de remissão que o termo anáfora engloba. Nessa
terminologia são vistos como anafóricos não só os elementos do texto que remetem a
sintagmas ou a um ou alguns constituintes de um sintagma, como os que remetem a
porções inteiras, maiores ou menores, do texto antecedente ou subsequente. Incluem-se,
também, na noção de anáfora, além dos elementos que fazem remissão a outros
expressos no texto, os que remetem a elementos do universo cognitivo dos
interlocutores, desde que ativados por alguma expressão do texto.(cf. Koch (2001 p.39)
Nos dados pudemos encontrar as seguintes estratégias de referenciação anafórica: por
56
meio de sintagmas nominais definidos correferenciais (exemplo 10), por meio de
anáfora recategorizadora (11) e (12); por meio de anáforas diretas e indiretas (exemplos:
(16) e (13)) e por meio de termos encapsuladores (exemplos: (14) e (15)), que serão
comentados a seguir.
As questões discutidas acima estabelecem, em linhas gerais, o que estamos
considerando referentes contínuos. Com base nessa noção de referenciação,
tentei
verificar como a continuidade poderia estar condicionando a posposição do sujeito. Para
isso trabalhei com um critério em que distingui os referentes que são mencionados
apenas uma vez no texto (classificação de menção única) os referentes que são
introduzidos pela primeira vez no texto (classificação de primeira menção) e referentes
retomados. Para os casos em que os referentes são retomados no texto, consideramos
dois aspectos: o primeiro, em que o referente é ativado na mesma função de sujeito; e o
outro, em que o referente foi inicialmente ativado em uma função que não é a de sujeito.
Na análise dos referentes retomados, foi necessário também que medíssemos as
diferentes distâncias entre a menção analisada e a menção anterior do referente. A
expectativa era a de que a maior ou menor proximidade entre os referentes pudesse ter
também algum tipo de correlação com a posposição do SN. Contudo, tivemos que
reagrupar essas categorias em uma só, já que, nas retomadas de referente distante da
última menção com mesma função e nas retomada de referente distante da última
menção em outra função,
não havia exemplos suficientes que justificassem a
manutenção de sub-grupos para medir diferentes distâncias.
A análise mediu a distância entre o SN sujeito analisado e sua menção anterior
em número de orações que as separam. Assim, consideramos como pequena distância
de 1 - 10 orações anteriores e grande distância mais de 11 orações anteriores. Os tipos
57
de continuidade que pudemos encontrar a partir dos critérios adotados são: menção
única; primeira menção; retomada de referente com mesma função, próximo à última
menção; retomada de referente com função diferente, próximo da última menção e
retomada de referente, distante da última menção. Passaremos a comentar cada um dos
tipos com que trabalhamos.
4.2.1. Retomadas de referentes próximos
As retomadas de referentes podem ser analisadas a partir do princípio da
polaridade (cf. Naro & Votre (1999), que distinguem os referentes como centrais e
periféricos). Segundo esse princípio, nas retomadas de referentes/tópicos centrais temos
referentes re-ativados um número significativo de vezes e estes se conservam por mais
tempo na posição de sujeito no discurso. Do outro lado, temos referentes/não-tópicos
(periféricos), que são retomados uma ou duas vezes, ou ainda pode haver uma menção
única. Esse comportamento é característico da ordem VS, em que os referentes sujeito
não são o centro da atenção no texto e por isso são apresentados como itens
descontínuos, periféricos.
Com base na noção de referenciação e no princípio de polaridade, iniciaremos os
comentários dos tipos encontrados.
Em (10), por exemplo, temos um caso de referentes centrais. O SN Paulo
Gomes desempenha função de sujeito paciente em uma estrutura passiva, mais adiante o
SN sujeito é re-ativado em uma estrutura ativa. Esse é um exemplo de retomadas que
ocorrem por meio de sintagmas nominais definidos correferenciais.
(10) Ex-comandante da corporação e ex-secretário de Defesa Civil, Paulo
58
Gomes vem sendo investigado pela corregedoria e pelo Ministério
público estadual porque teria fraudado concursos públicos (...)
Apesar das acusações, Paulo Gomes é cotado para retornar ao cargo (...)
Gomes responde ainda a duas ações na Justiça, movidas por outro oficial
da corporação (...)
(NOT.)
4.2.2. Retomadas de referentes distantes
As retomadas a que nos referimos aqui são de referentes periféricos que não
representam as entidades principais do texto, indicam que há uma interrupção na
permanência do referente. Esses referentes ocorrem em contextos em que há grande
distância entre a primeira e a última menção (mais de 11 orações antes). Razão pela qual
foi atribuído a esses referentes a categoria descontinuidade, (11) e (12):
(11)
Assim, no campo da reforma, seria importante que os juizes de primeira
instância e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em
pequenos distritos, resultantes da divisão das grandes cidades. Os
tribunais de Justiça seriam também descentralizados, atuando em regiões
do estado, estrategicamente selecionadas.
(...)
São pontos a refletir e que evidenciam, senão a desnececessidade do
órgão controlador, a sua descaracterização institucional.
Para chegarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso
que sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais,
para que, com uma descentralização para valer, de juízos e tribunais,
fiquem próximos partes, magistrados e demais operadores do Direito,
tornando, assim, realmente efetiva, uma fiscalização que, ao invés de vir
de cima para baixo, será feita paralelamente aos juízos e tribunais. (OP.)
(cf. anexo 10)
59
(12)
Un total de 40 personas han perdido la vida en las carreteras españolas
desde el inicio de las vacaciones de Semana Santa, cuya segunda fase de
salida se inició ayer con más de 90 kilómetros de retenciones en las
carreteras de Madrid. El Instituto Nacional de Meteorologia (INM) prevé
que los viajeros encontrarán en su destino un tiempo sensiblemente peor
al disfrutado los últimos días. Las temperaturas registrarán una ligera
mejoría el domingo.
Desde el viernes pasado hasta Ias 20.00 horas del ayer se registraron en las
carreteras españolas 34 accidentes. Tres amigas de 31, 23 y 19 años
murieron el martes en Cáceres cuando su coche se incendió tras chocar
contra un talud. En la tarde de ayer, tres personas más fallecieron en
accidente en el municipio de Valdés, a 100 kilómetros de Oviedo, informa
Javier Cuartas. La Semana Santa de 2003 terminó con 126 muertos. (NOT.)
Assim, temos 21 orações de distância em (11) e 11 orações em (12). Em ambos
os casos temos formas nominais definidas em que é possível se estabelecer relação com
a menção anterior, ou seja, há um processo de referenciação anafórica por cosignificação. A distância que separa as menções é um fator determinante para que o
referente seja re-ativado por meio de sintagma nominal pleno, a fim de que possa ser
recuperado, fato já observado em outros trabalhos (cf. Berlinck (1997) e Paredes Silva
(1991) Nesses casos os referentes são ativados quando entram no discurso e numa
segunda e última menção. Esse é o caso de (11), que é reativado com um SN
enriquecido de Sprep. (as reformas das leis processuais). Assim, ao retomar uma idéia
genérica que já foi lançada vários parágrafos acima, dá à forma um sentido mais
específico acrescentando ao núcleo original o tipo de reforma que se deve ter.
Em (12), embora o texto relate o que se passou no feriado da Semana Santa e
portanto seja este o tema, o referente não é re-ativado mais que três vezes. A primeira
menção se dá no subtítulo, em uma posição que não é a de sujeito. Assume a posição de
60
sujeito na segunda menção no fim do primeiro parágrafo e em sua última menção está
na forma de um Sprep. “La Segunda fase de la Operación Salida de Semana Santa que
comenzó ayer y se extenderá hasta el Domingo”(...)
4.2.3. Menção única
Nos nossos dados, os casos de menção única ocorreram na forma de
referenciação por anáfora indireta e anáfora encapsuladora7.
De modo geral, segundo Cavalcante (2003) as ligações inferenciais que se
elaboram pelo emprego das anáforas indiretas são sempre cognitivamente mais
complexas do que as relações entre a anáfora direta e seu antecendente. Há como que
um percurso maior de raciocínio que só se completa com as informações supostamente
presentes em esquemas mentais culturalmente compartilhados. A ativação desses
esquemas mentais, assim como os diferentes graus de complexidade que se pode
encontrar nas associações que serão estabelecidas, podem ser percebidas nos exemplos
(13), (14) e (15). Em (13), o redator parece contar com as informações compartilhadas
pelo leitor. No fragmento, que relata um assalto, o jornalista inicia o parágrafo situando
o leitor quanto à localização do evento, o restaurante, que é uma informação importante
dentro da imagem, pois desencadeia um esquema cognitivo que possibilita a inclusão e
visualização de todo o cenário do assalto e das pessoas envolvidas nele. Assim, há uma
ligação entre o restaurante e a existência de um cozinheiro. Desse modo, o redator
espera que o leitor possa recuperar e fazer essa ligação, e por isso, menciona o SN o
cozinheiro Raimundo Nonato Damasceno sem que se faça necessária nenhuma
7
Os referentes disponíveis também são SNs de menção única.
61
preparação para a introdução desse novo elemento (inferível, do ponto de vista
informacional) já que este é facilmente dedutível pelo referente já mencionado
anteriormente, o restaurante.
(13)
O assalto começou com a chegada dos três criminosos ao restaurante.
Um deles ficou
no Santana enquanto os
outros
entravam no
estabelecimento. Lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria
Spassadim Couto a abrir o cofre, onde estavam os 12 mil. Antes, os
criminosos deram várias coronhadas em José Maria, que também foi
jogado ao chão e chutado. Além do gerente, estava o cozinheiro
Raimundo Nonato Damasceno, que foi agredido. O mesmo aconteceu
com Sérgio Figueiredo, funcionário da Ambev, que estava no restaurante
consertando uma máquina de refrigerantes.
Outro tipo de menção única que encontramos em nossos dados é o da anáfora
encapsuladora, que pode ser definida como um recurso coesivo pelo qual um sintagma
nominal funciona como uma paráfrase resumitiva de uma porção antecedente do texto.
Assim, um novo referente discursivo é criado na base de uma informação velha.(cf.
Conte (2003) p.177). Os exemplos (14) e (15) são exemplos de SNs utilizados como
recursos de encapsulamento:
(14)
Durante todo o dia a boataria dava conta de que o fechamento do
comércio fora determinado por causa da morte do traficante Fernandinho
Beira-Mar, da mãe dele e até de alguns de seus cúmplices. Houve
também quem dissesse que o bandido teria conseguido fugir do Batalhão
de Choque e estaria espalhando o terror pela cidade. Mas essas versões
não passavam de boatos. Beira-Mar continua vivo, a mãe dele morreu há
20 anos, nenhum de seus cúmplices foi morto e o bandido continua
62
preso.
(15)
O ex-secretário nacional de Esportes Lars Grael negou ontem que tenha
visitado o presídio Bangu III em 1999. Anteontem, o secretário estadual
de Esportes, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, afirmou
que esteve com Lars na unidade para implantar um projeto de
ressocialização, o Pintando a Liberdade. O projeto jamais foi implantado
no presídio. Como O GLOBO noticiou ontem, agentes penitenciários
afirmam que o secretário visitava com freqüência traficantes em Bangu
III. (...)
As denúncias de envolvimento com traficantes não impedem o secretário
estadual de Esportes, Francisco Carvalho (PSB), o Chiquinho da
Mangueira, de sonhar alto.
Nos exemplos (14) e (15) temos expressões como essas versões e as denúncias que são
motivadas pelo discurso precedente. Esses referentes são uma espécie de interpretação
avaliativa de tudo o que havia sido comentado no parágrafo anterior e, ao mesmo tempo
funcionam como ponto de partida em 15, para outro parágrafo. Em (14) versões
contribui com a idéia de concluir por generalização as várias interpretações de boataria.
O exemplo (15) comenta sobre alguns detalhes da investigação que estava sendo
realizada no presídio. As várias falas citadas são reunidas e reavaliadas como denúncias.
Desse modo, podemos dizer que versões e denúncias ativam por inferência informações
gerais que também são tópicos nos textos. Quanto à posição que o SN sujeito pode
ocupar na sentença, a expectativa é a de que ocorra na posição anteposta ao verbo,
devido a sua função de iniciar um novo parágrafo, em 15, e a de concluir argumentos,
em 14.
63
4.2.4 Primeira menção
Outra categoria de continuidade encontrada em nossos dados é o de
referenciação anafórica por nomeação (ou nominalização). Uma nomeação pode ser
construída a partir de conteúdos implícitos. Esses casos de anáfora indireta constituem
um caso especial em que o termo anterior é um verbo. Nesses casos o sintagma nominal
não constitui propriamente uma retomada, mas uma primeira menção que possibilitará
outras menções desse termo ao longo do texto. Este caso é ilustrado pelo exemplo (16):
(16)
Departamento do Sistema Penitenciário quer investigar guardas que
trabalhavam nos últimos 12 meses em Bangu III. (subtítulo de notícias)
O diretor do Desipe, major Hugo Freire, determinou ontem que seja feita
uma investigação para apurar sinais de enriquecimento ilícito de agentes
penitenciários que trabalham em Bangu III nos últimos 12 meses.
Durante a investigação, os policiais vão determinar quanto tempo se leva
para construir um túnel deste comprimento, de forma a precisar quando
começou a ser executado o plano de fuga. (...)
Ontem, o secretário Paulo Saboya disse que somente as investigações
poderão mostrar o que ocorreu, mas ele acredita que após a rebelião de
2001, quando os presos depredaram o presídio, a vigilância foi
prejudicada.
Em (16) temos a entrada de uma entidade realizada a partir do subtítulo que menciona a
ação de investigar. A correspondência semântica da ação, através da forma verbal que
originou o referente nominal uma investigação, permite que se mantenha a relação de
associação. E essa nova condição se reflete também na posição posposta do S do SN.
Na seqüência, esse referente é retomado de forma idêntica a sua última menção e passa
à posição anteposta ao verbo.
64
A partir dessas classificações, tentamos verificar a correlação entre a
continuidade e a posição do SN na sentença. As tabelas (3) e (4) mostram o tipo de
continuidade que se mostrou mais relevante à ordem marcada do sujeito:
Tabela 3 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de
Notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/Freq.
17/160 = 11%
33/185 =18%
Primeira menção do referente
4/46 = 9%
4/31 = 13%
Retomada de referente com mesma
função, próximo à última menção
Retomada de referente com função
diferente, próximo da última menção
Retomada de referente, distante da
última menção
0/85 = 0%
1/48 = 2%
1/49 = 2%
2/28 = 7%
1/22 = 5%
1/31 = 3%
Total
23/362 = 6%
41/323 = 13%
Menção única
A distribuição da tabela nas notícias apresenta tanto para o Português como para
o Espanhol percentuais mais altos
de VS para menção única. Esses percentuais
comprovam que a construção VS ainda é mais usada quando os SNs introduzem
referentes que não são centrais na informação (cf.Naro & Votre (1999)). As sentenças
que ocorrem com menção única, com o sujeito posposto ao verbo, já foram comentadas
acima através do exemplo (13), do português. Acrescentamos um exemplo do espanhol
(17):
(17)
La lluvia caerá en
el
cuadrante sureste, Murcia y sur de la
Comunidad Valenciana, así como en el Cantábrico y Canaria. El
resto del país estará parcialmente nublado. Las temperaturas se
recuperarán en el tercio norte peninsular y descienden modernamente en
65
Andalucía. No se prevé una ligera mejoría hasta el domingo. También
amainarán los vientos en la costa Mediterránea y sólo podría llover
sólo podría llover débilmente en el Cantábrico, resto de Aragón y
Melilla. (NOT.)
O espanhol tem seu segundo maior percentual no caso de primeira menção
(13%), como em (18):
(18) Em Cañada Real Gaiana viven miles de personas
Já nas retomadas, as chances de posposição baixam, nas duas línguas. O
português, por exemplo, apresenta (2%) de chances de VS com SNs sujeitos retomados
com função diferente, próximo da última menção (19).
(19) – O Rio tem um número de roubos muito grande (...)
Se essa média for mantida serão 58.476 veículos levados por ladrões (...)
Os números de roubos no Rio estão muito altos desde julho de 2002 (...)
No
primeiro
ano, foram 47.218 roubos e furtos, enquanto o ano
passado registrou 53.027 ocorrências.
No exemplo (19) o SN roubos entra no texto em uma função que não é de sujeito
para, em um segundo momento, ser retomado por sintagma nominal equivalente. Na
seqüência, o SN roubo atua como Sprep. do núcleo sujeito, números. Esse é um
referente que tem ao menos seis menções ao longo do texto. O núcleo sujeito, nesse
caso, é sempre ocupado pelo item roubado, carros, veículos e números. Esse é um
referente que, embora não tenha se mantido como núcleo sujeito ao longo do texto, é o
tema desenvolvido no texto, inclusive faz parte do título da matéria “Explode o roubo
de veículos”. Contudo, como vemos no exemplo em negrito, tem sua última menção na
função de sujeito posposto ao verbo.
66
O espanhol apresenta seu mais baixo percentual caso os referentes sejam
retomados com a mesma função, próximos da última menção, como em (20) e
retomados distante da última menção, como em (12), comentado a cima. Comentamos
abaixo o exemplo 20:
(20) El atracador que mantuvo el lunes secuestrados a punta de pistola y con
una grana de mano a ocho rehenes en una sucursal del Banco (…)
El director fue quien peor lo pasó. El atracador la tomó con él. Le amenazó
con volarle los sesos y le llegó a golpear en la cabeza con la culata de la
pistola”, reveló ayer una de las rehenes. Sus exigencias fueron mútiples:
bocadillos, cerveza, agua, y pizzas. También pidió un gramo de heroína.
Ésta última petición no fue satisfecha, según la policía.
El comisario justificó que los GEO optaran por no intervenir en la sucursal
“ante el riesgo que corrían los rehenes”. (NOT.)
O exemplo (20) tem organização semelhante à encontrada em (19). O SN
sujeito los rehenes ocorre no início do parágrafo, em outra função (cf. anexo 5). É
retomado com o termo los retenidos, com função de sujeito e tem sua última retomada
na função de sujeito, como los rehenes, como em (20). Note-se que apesar de serem
referentes/tópico, já que montam toda a imagem necessária para o desenvolvimento do
texto, rehenes e asalto tendem a estar pospostos ao verbo quando vão sair do texto. No
caso de los rehenes a posposição se dá também com verbo dicendi reproduzindo o
discurso direto de um dos reféns.
Vejamos o que podemos encontrar nos textos de opinião.
67
Tabela 4 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em artigos
de opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
29/237 =12%
42/287 = 15%
Primeira menção do referente
2/29 = 7%
3/26 = 12%
Retomada de referente com mesma
função, próximo à última menção
Retomada de referente com função
diferente, próximo da última menção
Retomada de referente distante da
última menção
3/40 = 7%
7/57 = 12%
1/49 = 2%
3/36 = 8%
1/22 = 5%
3/34 = 9%
Total
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Menção única
Na tabela 4 temos os percentuais que ocorreram nos textos de opinião. Um fato
que logo chama a atenção é a alta ocorrência de menções únicas. Se compararmos os
totais de referentes de menção única das duas línguas com o total geral correspondente,
teremos um percentual de (63%), para o português e (65%), para o espanhol.
A distribuição revela que o português apresenta maiores chances de posposição
apenas no caso de referentes de menção única. Já o espanhol apresenta taxas
semelhantes de posposição caso os referentes sejam menção única (15%), referentes de
primeira menção (12%) e referentes retomados que desempenhem mesma função e
estejam próximos da última menção (12%).
Mas, se os referentes retomados têm
função diferente ou estão distantes, há ligeira queda na posposição, no espanhol.
No caso do português, temos percentuais mais baixos com casos de retomada de
referente com função diferente, próximo da última menção e distante da última menção.
No caso de retomadas com mesma função, próximo à última menção temos percentuais
levemente mais altos.
68
Os exemplos do português e do espanhol, para os referentes distantes da última
menção estão em (21) e (22):
(21) Assim, no campo da reforma, seria importante que os juízes de primeira
Instância e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em
Pequenos distritos (...)
Para chegarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso
que sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais, para
que, com uma descentralização para valer, de juízos e tribunais, fiquem
próximos partes, magistrados e demais operadores do Direito (...) (OP.)
(22) La cumbre, a la que asistió el rey Juan Carlos, como tiene por costumbre
desde la primera (…)
Y aunque a la postre la de San José resultó más dañada por las ausencias, no
por ello se justifican las desafortunadas palabras de Rajoy al valorar
despectivamente un encuentro al que asistió el Rey. El líder de la oposición
y su partido, el PP, parecen a veces estar en permanente campana electoral.
(OP.)
O exemplo (21) já foi comentado em (11), mas, para melhor visualização, está
sendo retomado aqui. É o único caso de posposição no português de referente retomado
distante da primeira menção. No exemplo, como comentamos anteriormente, o SN
reforma tem sua primeira menção em uma função que não é a de sujeito e tem sua
última menção em função de sujeito em posição posposta ao verbo. Talvez se queira
valorizar a realização do fato (fazer as reformas).
Em (22), temos referência à reunião de chefes de governo a que o rei assistiu
introduzindo o parágrafo. O SN el rey está em função de sujeito e posposto ao verbo.
Algumas orações depois desta primeira menção temos a segunda e última menção do
referente que se mantém em posição posposta ao verbo.
69
A análise da continuidade mostrou que, para o português, a posposição do
sujeito predomina em entidades menos contínuas, ou seja, em referentes de menção
única. Essa preferência confirma o estudo de Naro & Votre (1999) para a ordem VS na
fala que associa a ordem VS à periferalidade do elemento no discurso.
O espanhol revela comportamento diferenciado do visto para o português, nos
textos de notícias e artigo de opinião. Nos textos de notícias, para o espanhol, há
possibilidade de VS em caso de entidades menos contínuas (menção única) e em caso
de primeira menção.
Nos artigos de opinião, o espanhol também apresenta maiores taxas de
posposição caso os referentes sejam menos contínuos e primeira menção. Mas esse
gênero também mostra maiores chances de posposição do sujeito em caso de retomada
de referente com mesma função, próximo à última menção. Podemos concluir que a
distribuição no espanhol é mais equilibrada, não há diferenças percentuais
significativas.
70
4.3. A extensão do sujeito
Este grupo de fatores controla a extensão do sujeito. O objetivo é observar até
que ponto o peso (SNs mais pesados ou mais longos) e a complexidade podem
contribuir para a anteposição ou posposição do SN.
Como critério para medir a
extensão do sujeito, consideramos o limite de 1- 4 sílabas, como menor extensão, 5 – 9
sílabas, média extensão e 10 ou mais, maior extensão.
Antes de seguirmos a análise gostaríamos de exemplificar o que estamos chamando
de menor e maior extensão, e a conseqüente complexidade contida nos SNs segundo sua
extensão. Observemos os exemplos (23), (24), (25) e (26) a seguir:
(23)
(...) Em novembro de 2001, 27 pessoas passaram 20 horas sob o
domínio de presos armados com submetralhadoreas, pistolas, duas
granadas, facas, foices e ameaçando explodir botijões de gás se a polícia
tentasse agir.
Ontem, o secretário Paulo Saboya disse que somente as investigações
poderão mostrar o que ocorreu, mas ele acredita que após a rebelião de
2001, quando os presos depredaram o presídio, a vigilância foi
prejudicada. Segundo ele, para a realização das obras de recuperação do
presídio, por exemplo, foi necessária a ajuda de policiais militares.
(NOT.)
(24 ) Ayer el niño estaba de excursión con el colegio cuando Sonia le
comunicó por móvil que volvía con ella. “El colégio le ha vitoreado, sus
companeros le han dado ánimo y yo no hago sino agradecer el apoyo que
he recebido de la gente de Huesca”, dice Sonia. De hecho, en la ciudad se
creó la pasada semana una plataforma de apoyo a Sonia (…) (NOT.)
71
Em (23), temos um SN complexo, pois é composto de vários elementos que ajudam
a compor a informação (núcleo + Sprep) a ajuda de policiais militares. O nome
policiais remete a um referente que já havia sido mencionado, já o núcleo do
referente ajuda é inferível pelo contexto. O adjetivo militares, que é introduzido
nesse momento é menos previsível.
No exemplo (24), una plataforma de apoyo a Sonia, também temos SN um
composto de vários elementos. Os elementos apoyo e Sonia são conhecidos do
leitor, inclusive o nome Sonia é uma informação/tópico, uma vez que é a história
dela que é contada no texto. O nome plataforma é uma informação desconhecida do
leitor, mas que pode ser inferida pelo contexto.
A partir de estruturas como essas percebemos que os sujeitos pospostos e de
maior extensão podem representar referentes inferíveis pelo contexto e que são
enriquecidos com informações já conhecidas do leitor . Desse modo, a motivação
para que haja um SN de longa extensão em posição VS, nos textos jornalísticos, em
sentenças como (23) e (24) pode ser atribuída à necessidade de relacionar um
referente que não é tópico com outros referentes no discurso.
Contudo, SNs de maior extensão também podem ser realizados em posição
anteposta ao verbo como em (25):
(25)
O coronel da reserva Paulo Gomes dos Santos Filho pode ter a
aposentadoria cassada caso a Corregedoria Geral Unificada conclua que
ele cometeu falta grave ao organizar concursos irregulares para o Corpo
de Bombeiros.
Em (25), o SN O coronel da reserva Paulo Gomes dos Santos Filho é
introduzido nesse momento no início do texto e é retomado várias vezes ao longo do
texto. Em uma das vezes em que é reativado, o redator o faz por meio de um pronome.
72
Assim, o referente é introduzido como um SN de longa extensão, mas ao longo do
texto é recuperado por SNs de menor extensão como em (26):
(26)
(...) Apesar das acusações, Paulo Gomes é cotado para retornar ao cargo
na administração da governadora eleita Rosinha Matheus, segundo fontes
da equipe de transição. Ele estaria encarregado de escolher os nomes do
futuro secretário de Governo e do comandante-geral da PM. (NOT.)
Como Paulo Gomes já havia sido várias vezes mencionado e sua importância no
desenrolar da história, que estava sendo contada, é perfeitamente identificável pelo
leitor, o redator parece não necessitar do recurso de enriquecer o SN com informações
novas e talvez por isso a referencialidade permaneça por meio de recursos como a
menção do nome e sobrenome ou apenas o sobrenome, e
ainda pode manter a
referência por meio de pronome (todos SNs de menor extensão). Desse modo, temos
em (26) um SN tópico e que tem a maioria de suas realizações em posição pré-verbal,
posição típica de referentes tópico.
O exame da freqüência entre a posposição do sujeito e a sua extensão em textos
de notícias tem os resultados exibidos na tabela (5):
Tabela 5 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de
Notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Sujeito com menor extensão
3/187 = 2%
12/133 = 11%
Sujeito com extensão média
13/120 = 11%
18/126 = 14%
Sujeito com maior extensão
7/55 = 13%
11/64 = 17%
Total
23/362 = 6%
41/323 = 13%
73
Como podemos observar na tabela 5, no português, há uma oposição entre os
sujeitos de menor extensão e os de média/maior extensão. Já no espanhol, embora haja
uma gradação na mesma direção, os percentuais são todos mais próximos. Logo, não
se pode falar em efeito da menor ou maior extensão do SN nessa língua.
Vejamos se essa situação se repete para os textos de opinião.
Tabela 6 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em artigos de
opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/Freq.
Sujeito com menor extensão
14/129 = 11%
20/190 = 11%
Sujeito com extensão média
13/167 = 8%
24/160 = 15%
Sujeito com maior extensão
9/81 = 11%
14/90 = 16%
Total
36/377 = 10%
58/440 = 13%
A tabela 6 nos mostra que, para o português, há semelhança na freqüência de
sujeitos de menor, média e maior extensão.
O Espanhol também apresenta percentuais muito semelhantes caso o sujeito
tenha maior, média e menor extensão.
Essa distribuição pode ser explicada, no português, pela baixa incidência de
pronomes na função de sujeito nos artigos de opinião. Isso talvez se deva à própria
característica argumentativa desse gênero. Diferentemente dos textos de notícias, que
permitem a presença de pronomes de 1a pessoa do singular e 3a pessoa do singular e
plural que, como vimos, dificulta, no corpus examinado, a posposição do sujeito.
74
Já no espanhol a explicação pode ser um pouco diferente. O espanhol também
faz uso de pronomes de 1a pessoa singular e plural e 3a pessoa singular e plural nos
seus textos, porém em um número muito menor que o português. Essa semelhança
percentual dos pronomes com menor extensão com os de média e maior extensão, no
espanhol pode também revelar que, diferentemente do português, essa língua marca a
continuidade do referente/tópico mais pela ausência de pronome que pela sua
realização.
75
4.4. Tipo de determinante
Tradicionalmente, os determinantes definidos indicam que a entidade aludida é
identificável, ou porque foi mencionada anteriormente ou porque pode ser identificada
a partir de dados contextuais. Já os indefinidos indicam que o referente não é
conhecido. Assim, seguindo a correlação que se propõe para a estrutura funcional da
frase, construímos a hipótese de que os SNs definidos tendem a ser pré-verbais. Os
SNs indefinidos, por outro lado, ocorreriam pospostos ao verbo.
Vejamos os determinantes definidos, (27) e (28) e indefinidos, (29) e (30) que
ocorreram nos dados, para o Português.
(27) a direção contratou 12 estagiárias. Ainda assim, os alunos são dispensados
duas horas antes, devido à falta de professores de atividade extra. (NOT.)
(28) Cumprido o dever cívico, o carioca foi à praia e ignorou, solenemente, a lei
seca.
(NOT.)
(29) um bandido morreu, três pessoas foram feridas a balas (NOT. GLO)
(30) Temendo a violência do Rio, alguns parentes da corretora tinham
decidido se mudar. (NOT.)
Para o Espanhol temos os seguintes determinantes:
(31) el chaval ha estado separado de su madre (NOT.El P.)
(32) Los extremistas han utilizado las mezquitas para incitar a la violencia
(NOT. El P)
(33) La Ley de Enjuiciamento Criminal establece la posibilidad de que,
transcurrido dos años desde que una persona está en prisión provisional,
se pueda prolongar esa situación un máximo de dos años más. (NOT. El P.)
(34) Muchos inmigrantes son practicantes en su lugar de origen, y cuando
llegan a España buscan una comunidad evangélica para seguir el culto.
76
A tabela (7) apresenta a freqüência de posposição do sujeito de acordo com as
estruturas exemplificadas:
Tabela 7 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinantes em textos de
notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/Freq.
Definido
18/315 = 6%
27/287 = 9%
Indefinido
5/47 = 11%
14/36 = 39%
23/362 =6%
41/323 = 13%
Total
A tabela revela que há um número acentuado de estruturas definidas, com 315,
para o português e 287, para o espanhol o que corresponde a 87% e 89% dos SNs,
respectivamente. Confirma também que essas estruturas não favorecem a posposição,
especialmente no espanhol.
Contudo, não poderíamos deixar de observar que há, nas duas línguas, um
pequeno percentual de SNs definidos que fogem a nossa expectativa e são introduzidos
no texto de modo posposto e definido. Assim, quisemos buscar as razões discursivas
que estariam condicionando que SNs definidos que representam entidades conhecidas
estivessem pospostas ao verbo, como em (35) e (36).
(35) Existe a suspeita de que um agente tenha recebido R$ 400 mil pelas cópias
das chaves da galeria onde estavam os detentos mortos, como adiantou o
Jornal do Brasil na edição de ontem. (NOT.)
(36) Sonia no podía reprimir ayer su emoción al abrazar a su hijo. “Creo que ha
terminado la pesadilla”. (NOT.)
Em (35) os detentos podem ser associados a outros referentes que já foram
mencionados no texto, como morte de traficante, presídio, polícia, agentes
77
penitenciários. Todos esses elementos constroem o esquema que possibilita que o
redator considere o referente os detentos mortos uma informação identificável. Essa
possibilidade de inferência permite que o autor introduza o referente no texto como
um SN sujeito definido.
O exemplo (36), retirado do texto de notícias do espanhol, também é um SN em
que o redator considera estar introduzindo uma informação identificável la pesadilla.
A transcrição representa a primeira e única menção deste SN. No texto a autora aborda
a situação de uma mãe que luta pela guarda do filho que corria risco de ser levado pelo
pai para os Estados Unidos. A sentença determinando que a guarda definitiva ficaria
com Sonia, a mãe da criança, representa o fim do pesadelo. Para reproduzir essa
emoção a autora transcreve a fala da mãe e põe o SN sujeito definido posposto ao
verbo.
Segundo Chafe (1976), esse seria um recurso de preservação do referente, ou
seja, os referentes sujeito introduzidos têm estreita correlação com os SNs
mencionados anteriormente, em (35) e (36). Isso possibilita que os SNs os detentos
mortos e la pesadilla ao serem introduzidos no textos sejam sentidos como referentes
identificáveis e, por isso, sejam definidos.
Outra situação em que o referente definido está posposto ao verbo pode ser
observada nos exemplos (37), para o Português e (38), para o Espanhol. Nesses casos
os referentes já foram mencionados antes, mas quando são reativados algumas orações
após a primeira menção estão pospostos ao verbo. Nessas estruturas a possibilidade de
identificação se mantém, mesmo considerando a distância entre a primeira e a última
menção, porque o SN pode ser resgatado a qualquer momento já que se trata de texto
escrito.
78
(37) “Um assaltante fugiu a pé com cerca de R$ 12 mil. O criminoso que foi
atingido na cabeça. (...)
O assalto começou com a chegada dos três criminosos ao restaurante.
Um deles ficou no Santana enquanto os outros entravam no estacionamento.
Lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria Spassadim Couto a abrir o
cofre, onde estavam os R$ 12 mil. (NOT.)
(38) El comisario justifico que los GEO optaran por no intervenir en la sucursal
“ante el riesgo que corrían los rehenes”. (NOT.)
Vejamos a tabela (8) a seguir para os artigos de opinião:
Tabela 8 – Freqüência
da ordem VS segundo o tipo de determinantes em textos de
Opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Definido
29/340 = 9%
47/398 =12%
Indefinido
7/37 = 19%
11/42 = 26%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Total
A tabela mostra que, também, nos artigos de opinião, ocorrem mais
frequentemente SNs pospostos com determinantes indefinidos que com SNs definidos,
tanto no Português como no Espanhol.
Como já observamos nos textos de notícias, há uma disposição para que os
referentes definidos estejam pospostos ao verbo. Vejamos algumas estruturas definidas
encontradas nesse gênero para o português e espanhol:
79
(39) Para o Rio de Janeiro, o fim das agências seria uma tragédia. Primeiro,
porque cinco delas estão sediadas aqui. Aqui, também, estão localizadas as
sedes das principais empresas de infra-estrutura do país. (OP.)
(40) Ha Hecho bien el PSOE en rectificar, aunque de manera algo sinuosa, su
intención de no someter a votación parlamentaria el regreso inmediato de
las tropas españolas desplazadas de Irak. (OP)
Os referentes as sedes das principais empresas e El PSOE são exemplos de SNs
definidos que podem estar acessíveis (39) ou disponíveis (40) na consciência do leitor,
o redator contando com esse conhecimento introduz os SNs sujeitos na forma de
estrutura definida. (cf. anexo 6 e 7)
O SN em (39) remete a um referente de menção única, contudo o escritor conta
com a capacidade do leitor de identificar essa informação a partir de todo o contexto
anterior. O texto aborda a importância das agências reguladoras que, segundo o autor,
garantiriam a estabilidade dos contratos de concessão e, com isso, permitiriam o
investimento dos estados em infra-estrutura. No discurso anterior temos expressões
como agências reguladoras, infra-estruturas e Rio de Janeiro que estão diretamente
ligados ao SN em questão as sedes das principais empresas de infra-estrutura do país.
Em (40), a estrutura Ha hecho bien el PSOE abre o texto e o SN el PSOE é um
referente de menção única. Contudo, é um referente que o autor conta que seja
conhecido do leitor, já que se refere a um partido político e, portanto, deve fazer parte
do conhecimento compartilhado dos leitores do jornal. O autor conta com essa
disponibilidade que permite que o leitor identifique o SN que está sendo introduzido
nesse momento para apresentá-lo como referente definido.
No desenvolvimento da análise, percebemos que, mesmo algumas estruturas
indefinidas, que favorecem a posposição, apresentavam especificidades discursivas.
80
Pudemos perceber que, entidades que podem ter um elemento correferencial, como em
(41) ou inferidos a partir do contexto, como em (42), podiam conter também essa
noção de informação presente na consciência do leitor.
(41)
Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa
constituição, pois, segundo o artigo 200 da Carta Magna brasileira, os
poderes da União são independentes e harmônicos entre si.
Como, portanto, criar- se um órgão que, sem ter as prerrogativas do
Judiciário a ele se sobreponha? (OP.)
(42) los americanos pueden imponer sin limites la fuerza para restablecer
el “orden” y aniquilar a sus enemigos, como hace Israel, e incluso, si
con la fuerza y la impunidad no les es posible llevar a cabo la “operación”
prevista para el 30 de junio, pueda decir que el caos que han creado los
extremistas y fanáticos lo hacen imposible. (OP.)
Em (41) temos um referente que já havia sido apresentado algumas orações
antes como SN definido esse órgão. Ao reintroduzir esse referente (três vezes), o
autor o faz de modo indefinido, como podemos ver na transcrição. Não podemos dizer,
portanto, que, nessas construções, temos referentes indefinidos desconhecidos. As
construções em questão podem ser associadas a referentes correferenciais de valor
genérico, porque representam SNs de valor aleatório de uma classe denotada pelo
nome (cf. Leonetti 1999 p.873)
No exemplo (42) temos uma referencialidade construída a partir de informações
contidas no próprio texto, como podemos ver, isso permite que o SN los extremistas y
fanáticos possa ser apresentado como um referente definido.
81
A análise dos textos mostrou que as duas línguas seguem a mesma tendência na
distribuição dos determinantes, ou seja, a posposição tende a ocorrer mais
frequentemente com indefinidos e a anteposição com SNs definidos.
Foi possível perceber também que, nos gêneros noticias e artigos de opinião, a
identificabilidade é mantida não só para que se possa manter a continuidade do
referente, mas também do tema/tópico do texto.
Os textos de notícias e opinião apresentam diferenças percentuais significativas
no português. Nos textos de notícias temos uma diferença percentual pequena de (6%),
para referentes definidos e (11%), para referentes indefinidos. Já no caso dos artigos de
opinião essa diferença percentual se acentua para (19%), para indefinidos e (9%), para
definidos.
O espanhol também apresenta diferenças percentuais em cada gênero. No caso
do gênero notícias, por exemplo, o espanhol explora mais a posposição de indefinidos
(39%) e mais acanhadamente a de SNs definidos (9%). Nos artigos de opinião, a
diferença percentual é menor, com (26%), para referentes indefinidos e (12%), se
definidos.
82
4.5. Transitividade
Na visão tradicional, a transitividade é vista a partir do verbo. Nessa concepção
os verbos são analisados segundo sejam intransitivos, transitivos, bitransitivos. (cf.
Rocha Lima 1991). Na visão funcionalista, poderíamos analisar a transitividade nos
termos de Hopper & Thompson (1980), que a classificam como uma propriedade que
se manifesta por meio de dez traços sintático-semânticos relacionados aos participantes
do evento e às características associadas ao verbo, quais sejam: número de participantes,
cinese, aspecto, puntualidade, volição, afirmação, modo, agentividade, afetamento do
objeto e individuação do objeto.
Neste trabalho, submetemos nossos dados a três dos parâmetros de transitividade
propostos por Hopper & Thompson. Trabalhamos com os traços número de
participantes, agentividade e aspecto.
4.5.1. Número de participantes da oração
No
que
diz
respeito
ao
traço
número
de
participantes,
Hopper e Thompson (op.cit.) orientam que uma situação está plenamente realizada,
quando há pelo menos dois participantes envolvidos na ação. Assim, se a estrutura não
apresentar estes dois participantes será pontuada como menos transitiva. Nossa hipótese
é a de que estruturas mais transitivas condicionem sujeitos pré-verbais e estruturas
menos transitivas influenciariam a posposição do sujeito.
Nos nossos dados encontramos estruturas menos transitivas, com um só
participante, como em (43) e (44).
83
(43) lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria Spadim Couto a abrir o
cofre, onde estavam os R$ 12 mil . (NOT.)
(44) No se prevé una ligera mejoría hasta el domingo. También amainarán los
Vientos en la costa mediterránea y sólo podría llover débilmente en el
Cantábrico (...)
(NOT.)
Estruturas mais transitivas, com dois participantes, como em (45), (46) e, ainda,
com três participantes, como em (47) e (48):
(45) O policial baleou os dois assaltantes. (NOT.)
(46) el expresidente Jose Maria Aznar apoyó el golpe (NOT.)
(47) el socialista Álvaro Cuesta pedirá al ministro una reunión urgente
(NOT.)
(48) os seres responsáveis não enviaram ao palácio as listas (OP.)
Vejamos as freqüências dessas estruturas, em textos de notícias e de opinião, no
Português e no Espanhol, nas tabelas (9) e (10), respectivamente:
Tabela 9 – Freqüência
da ordem VS segundo a transitividade em Notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
18/141 = 13%
21/117 = 18%
Dois participantes
5/206 = 2%
20/187 = 11%
Três participantes
0/15 = 0%
0/19 = 0%
23/362 = 6%
41/323 = 13%
Um participante
Total
A tabela acima revela que, tanto no português como no espanhol, há maiores
chances de posposição, caso a oração tenha apenas um participante. Nesse caso de
posposição com um participante a estrutura pode ter verbos de ligação, como em (49) e
84
(50), verbos intransitivos, como em (51) e (52) e verbos com estrutura passiva que não
tenha o agente da ação realizado na sentença, como em (53) e (54).
(49) Por enquanto, o único é o Piaui8
(NOT.)
(50) Ya son dos las muestras de ADN que sitúan a Tony A. K. en los escenarios
del crimen (…) (NOT.)
(51) A comissão da Alerj verificou que no Graham Bell faltam 13 professores
em dez disciplinas (NOT.)
(52) (...) al colisionar con los balastros ocasionó el descarrilamiento del convoy,
en el que perecieron dos mujeres (...) (NOT.)
(53) 200 policiais civis de várias delegacias e especializadas fizeram uma busca
nas celas de Bangu III a procura de celulares e armas. Foram encontrados
cerca de 30 disquetes no presídio (...) (NOT.)
(54) en Minas, donde se encontró una colilla con restos de ADN de King
(NOT.)
Nos exemplos (49) e (50) o Piaui e las muestras de ADN são sujeitos de
estruturas de verbos de ligação. Constatamos, durante a análise, que existiam poucos
casos de posposição com verbos de ligação, e que há um maior número de casos de
verbos intransitivos, como em (51) e (52). Essa raridade de posposição com verbos de
ligação é similar ao que Ashby & Bentivoglio (1993) encontraram em seus trabalhos
para os dados de fala do espanhol.
No caso das estruturas com dois participantes, o percentual se deve às
construções, como em (55), (56).
(55) se essa medida for mantida serão 58.476 veículos levados por ladrões (NOT.)
(56)De esta forma se expresa el titular del Juzgado de lo Penal número 12 (…).
(NOT)
8
No exemplo, temos em Piauí um nome e em o único um adjetivo. Por essa razão consideramos o nome
Piauí o sujeito da sentença.
85
No exemplo (55) temos uma estrutura passiva em que os participantes
selecionados pela estrutura verbal são o SN sujeito veículos e um SN agente ladrões.
Em (56) temos um dos muitos exemplos do espanhol de estrutura com
pronome
reflexivo se. Classificamos esse pronome como um sinal morfológico de complemento,
já que sua presença na estrutura caracteriza maior transitividade. (cf. Hopper &
Thompson pg.266)
Com relação aos verbos que selecionam três participantes, as duas línguas
coincidem em apresentar poucos dados dessas estruturas e nenhuma posposição. Essa
distribuição mostra que as estruturas em que o verbo selecione três participantes, de
certa forma, bloqueiam a possibilidade de posposição do sujeito, uma vez que
sobrecarregaria a estrutura colocando três elementos à direita do verbo.
Vejamos a distribuição que pudemos encontrar nos artigos de opinião.
Tabela 10 – Freqüência
da ordem VS segundo a transitividade em Artigos de opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Um participante
23/155 = 15%
19/111 = 17%
Dois participantes
13/210 = 6%
39/299 = 13%
Três participantes
0/12 = 0%
0/30 = 0%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Total
A distribuição nos artigos de opinião, para o português, é correspondente a que
vimos nos textos de notícias. O português tem maiores chances de posposição no caso
de estruturas com verbos que selecionam um participante, como em (57), (58) e (59).
86
(57) não cabe uma aceitação literal da Bíblia (OP.)
(58) É evidente que, paralelamente, deveriam ser revistos
os códigos
processuais (...) (OP.)
(59) criou-se uma ruptura na aliança ocidental que pode ou não ser duradoura
Em (57) temos o verbo caber que seleciona um participante, uma aceitação
literal da Bíblia. Em (58) temos uma estrutura passiva com apenas o SN sujeito
realizado na sentença, razão pela qual classificamos a estrutura como tendo apenas um
participante. Em (59) temos estrutura com passiva pronominal que não tem como em
(53) um agente realizado e, por isso, esse tipo de estrutura também foi classificado
como tendo apenas um participante.
No caso de posposição com dois participantes as estruturas são como em (60) e
(61).
(60) Para os brasileiros, era tempo de começar de novo vai valer a pena,
conforme nos ensinava a canção (OP.)
(61) no processo estilhaçou-se a Otan (OP.)
Em (60) o verbo ensinar tem como argumentos o SN sujeito a canção e um
complemento indireto pronominal de pouco peso, o pronome clítico nos. No exemplo
(61) temos o SN sujeito Otan e um complemento reflexivo se, também clítico.
O espanhol apresenta uma semelhança com a distribuição percentual que vimos
nos textos de notícias, para estruturas de um participante.
(62)Al menos, se han dado ya algunos pasos (OP.)
(63) Son muy tonificantes los cuentos (OP.)
87
Nos exemplos, temos estruturas com passiva e com verbo de ligação. Na
primeira, temos uma estrutura de passiva pronominal com verbo composto. Nessa
estrutura temos, devido à não realização do agente da ação, apenas um participante. No
segundo, há um verbo de ligação que seleciona apenas um participante sujeito los
cuentos.
Nas estruturas com dois participantes, em que há menor número de posposição,
temos os seguintes exemplos:
(64) siempre se inclinan por lo menos tres hadas sobre la cuna (OP.)
(65) cuando la dirección de un sindicato exhibe la disposición negociadora que
le reclama la sociedad (OP.)
(66) La cumbre, a la que asistió el rey Juan Carlos
Em (64) temos uma estrutura com se reflexivo que, como já dissemos
classificamos como um segundo participante e um SN sujeito tres hadas. Em (65)
temos o SN sujeito la sociedad e um complemento indireto pronominal que retoma o
SN já mencionado na estrutura la disposición. Em (66) temos o SN sujeito el rey Juan
Carlos e uma preposição referenciadora seguida da estrutura pronominal la que
anafórica que retoma o SN la cumbre.
4.5.2. Aspecto
Ao relacionarem o traço aspecto à transitividade, Hopper & Thompson (op.cit.)
o associaram à presença dos traços télico e atélico. Essa propriedade se relaciona ao
modo de encarar o processo, na sua completude ou não. O verbo télico, desse modo,
representaria alta transitividade, uma vez que nessa estrutura, a ação é vista como
88
completa, finalizada. O verbo atélico representaria baixa transitividade, já que a
atividade desenvolvida na sentença é percebida como incompleta.
Neste estudo utilizarei a dicotomização de Hopper & Thompson, pontuando [+
perfectivo] para ações acabadas e [- perfectivo] para situações incompletas.
Nossa hipótese é a de que os verbos télicos ou [+perfectivos], por representarem
verbos de alta transitividade, estariam mais associados a seqüências narrativas, com um
mesmo sujeito e condicionariam a anteposição do sujeito, como em (67). Os verbos
atélicos ou [- perfectivos] apresentariam maiores chances de posposição do sujeito,
como em (68).
(67) O policial baleou os dois assaltantes. (NOT.)
(68) “La decisión sobre el regreso de las tropas la tomará el Congreso con una
Propuesta del Gobierno”. (OP.)
Vejamos o que a análise das tabelas (11) e (12) revela para essas estruturas:
Tabela 11 – Freqüência
da ordem VS segundo o aspecto em textos de Notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
+ perfectivo
13/188 = 7%
15/115 = 13%
- perfectivo
10/174 = 6%
26/208 = 13%
23/362 = 6%
41/323 = 13%
Total
Como podemos observar na tabela (11), a expectativa de que sujeitos pospostos
ocorram mais frequentemente com verbos [–perfectivos] que sinalizam baixa
transitividade da estrutura não se cumpre, para ambas as línguas, nos textos de notícias.
89
O espanhol apresenta percentuais iguais mostrando que a maior ou menor
perfectividade do sujeito não é relevante para que haja posposição do sujeito. A menor
ou maior pefectividade também não é relevante para que haja posposição no português,
nos textos de notícias.
Vejamos se essa distribuição se mantém nos artigos de opinião.
Tabela 12 – Freqüência
da ordem VS segundo o aspecto em artigos de opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
+ perfectivo
8/96 = 8%
19/124 = 15%
- perfectivo
28/281 = 10%
39/316 = 12%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Total
A tabela 12 confirma que tanto para o português como para o espanhol a maior
ou menor perfectividade não é relevante para que haja posposição
No espanhol, a maioria dos verbos mais perfectivos ocorre com o auxiliar
haber,em tempo compostos que sinalizam uma ação acabada (69).
(69) los americanos pueden imponer sin limites la fuerza para restablecer el
“orden” y aniquilar a sus enemigos, como hace Israel, e incluso, si con la
fuerza y la impunidad no les es posible llevar a cabo la “operación” prevista
para el 30 de junio, pueden decir que el caos que han creado los extremistas
y fanáticos lo hacen imposible.
No gênero artigo de opinião, o português apresenta posposição com verbos [perfectivo] que sinalizam eventos não acabados, tal como em (70).
90
(70) Em sua “carta à Família” (n0 17), o Papa João Paulo II recorda ser ela (a
família) uma Instituição fundamental para a vida de cada sociedade”.
O casamento é seu Alicerce. (...)
Essa visão cristã evidentemente inclui os valores religiosos que são
elementos vitais na preservação do casamento e na educação dos filhos.
Quando se debilita
o relacionamento de marido e mulher e falha
a educação dos filhos e a adequada orientação da prole, em face dos
problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois está em perigo
o bem-estar espiritual e temporal de um lar.
4.5.3. Agentividade do sujeito
Este fator diz respeito ao grau de envolvimento do agente no processo expresso
pelo verbo. As construções cujo agente tenha maior controle constituem uma estrutura
mais transitiva que aquelas em que o agente não seja controlador.
Nossa hipótese é a de que as estruturas que tenham sujeitos com baixa
agentividade, e, portanto, representem as estruturas menos transitivas como (71)
apresentariam maiores chances de posposição que as estruturas em que os sujeitos
tenham alta agentividade como (72).
(71) Los altos del Rodeo está situado a 32 Kilómetros de donde se produjo el
homicidio (…) (NOT.)
(72) Salvador Jové, el eurodiputado y candidato alternativo a Meyer presentado
por los críticos, hizo un discurso descarnado de crítica contra la dirección.
(NOT.)
91
Vejamos o que as tabelas (13) e (14) revelam para essas estruturas.
Tabela 13 – Freqüência
da ordem VS segundo agentividade do sujeito em textos de
notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
+ agentivo
1/115 = 1%
9/91 = 10%
- agentivo
22/247 = 9%
32/232 = 14%
23/362 = 6%
41/323 = 13%
Total
A tabela (13) mostra que tanto o português como o espanhol têm maiores
chances de posposição caso o sujeito seja [– agentivo]. Revela também, como podemos
observar, que essa diferença percentual é um pouco mais acentuada no português.
Outro dado relevante é o percentual de (10%) para espanhol com SNs pospostos
com sujeitos mais agentivos.
Exemplos de SNs pospostos [+ agentivos] no espanhol estão em (73) e (74).
(73) Lo que querían los críticos era lo que finalmente lograron: poder votar “no”
en su papeleta. (NOT.)
(74) La privilegiada relación que mantienen los socialismos francés y español
se reflejará en el acto político conjunto (…) (NOT.)
No trecho transcrito em (73), temos um SN sujeito [+humano] com alguma
capacidade de ação sobre o evento que está sendo comentado. Em (74), o SN sujeito los
socialismos francés y español representa um grupo de pessoas que pertencem a um
partido que mantêm uma relação específica e desejada. São, portanto, SNs
agentes/humanos com total capacidade de interferir no evento comentado no texto.
Vejamos a tabela (14) a seguir:
92
Tabela 14 – Freqüência
da ordem VS segundo agentividade do sujeito em artigos de
opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
+ agentivo
0/71 = 0%
19/111 = 17%
- agentivo
36/305 = 12%
39/329 = 12%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Total
A distribuição da tabela (14) coincide com as mesmas tendências observadas na
tabela de notícias, para o português, só que mais acentuada. Vemos que há maiores
chances de posposição em estruturas que apresentam sujeitos menos agentivos.
Já o espanhol apresenta uma distribuição mais equilibrada, nos artigos de
opinião, apresentando possibilidade de posposição em estruturas mais e menos
agentivas, como as de (75) e (76) respectivamente.
(75) De ahí que las negociaciones del Gobierno y los sindicatos para reformar el
mercado español, a las que probablemente dará la señal de inicio Zapatero.
(76) Son muy tonificantes los cuentos bien leídos (…) (OP.)
Em (75), Zapatero é um referente humano/agente que participa ativamente do
início e do desenrolar da ação expressa pelo verbo dar.
Já em (76) temos construção com verbo de ligação, construção que requer
referente sujeito menos agentivo.
Do exposto, podemos concluir que, no gênero notícias, o português e o espanhol
coincidem na tendência em pospor sujeitos em estruturas menos transitivas. Como
vimos, as duas línguas apresentam maior percentual de sujeitos pospostos em estruturas
93
que tenham verbos que selecionem um participante, esse sujeito é também menos
agentivo. As estruturas que selecionam um participante são as de verbos de ligação e
intransitivos e passivas analíticas que não têm seu complemento agente realizado na
estrutura. Talvez devido a esse número de estruturas passivas a maior ou menor
perfectividade não pareça ser importante nesse gênero, para ambas as línguas. O fato é
que pudemos constatar que apenas dois dos traços, participante e agentividade, se
mostraram relevantes, nesse gênero.
O artigo de opinião não apresentou percentuais diferenciados para cada uma das
línguas. No português, por exemplo, vimos que embora haja um leve aumento
percentual na posposição de estruturas com verbos que selecionem dois participantes,
esses SNs sujeitos são [-perfectivas] e –agentivos. A baixa transitividade, desse modo,
favoreceu mais a posposição no português.
O espanhol apresenta um leve aumento percentual na posposição com estruturas
menos transitivas. Como pudemos observar, há um percentual maior de posposição com
verbos que selecionem um participante e sejam menos agentivos.
94
4.6. Vozes do verbo
Segundo Bechara (1992) vozes verbais seriam as formas em que se apresenta
um verbo para indicar o sujeito como agente ou paciente da ação verbal (cf.p85). No
português e no espanhol há três possibilidades de vozes verbais: ativa, passiva e medial.
Para este trabalho utilizei o termo “não se aplica” para construções predicativas.
Nesta seção, discuto como as vozes estariam propiciando a ordem VS nos nossos
dados. As noções que podemos esperar de cada estrutura são apresentadas a seguir:
O grupo da voz ativa é classificado como o da forma usual simples do verbo pela
qual normalmente se indica que o sujeito é o agente da ação expressa pelo verbo, como
nos exemplos abaixo em (77) Lula e (78) el juez.
(77) .Lula definiu o mapa dos próximos passos preguiçosos para compor o
governo. (OP.)
(78) El juez de Huezca dejo a Sonia libre (NOT.)
A voz passiva é reconhecida como a forma especial em que se apresenta o verbo
para indicar que o sujeito é o paciente da ação verbal. Neste grupo estão reunidas,
apenas, as estruturas com passivas analíticas.
(79) Paulo Gomes vem sendo investigado pela corregedoria. (NOT.)
(80) Orfeo sera despedazado por las bacantes (OP.)
A voz medial consiste no emprego da forma verbal conjugada ao pronome átono
da mesma pessoa do sujeito. A voz medial assume diversas significações, entre as mais
95
importantes estão: a reflexiva, recíproca e dinâmica. Contudo, nos nossos dados
encontramos apenas os reflexivos, como em (81) e (82). Acrescentamos a essas
estruturas construções com passivas pronominais, como em (83) e (84).
(81) Depois da Revolução de 1930, o Estado, capitalizado, transformou-se
em empresário. (OP.)
(82) Resultará difícil evitar que ese referendun se convierta en un
plebiscito sobre Europa (...) (OP.)
(83) em face dos problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois
está em perigo o bem-estar espiritual e temporal de um lar. (OP.)
(84) donde el sábado se celebraron las exequias por los dos pescadores (NOT.)
E finalmente decidimos deixar isolado o grupo dos verbos relacionais, uma vez
que são sentenças predicativas, como nos exemplos abaixo (85) e (86):
(85) ele está em estado grave no Miguel Couto. (NOT.)
(86) En las sociedades democráticas, la opinión pública es una magia
sumamente poderosa (…) (OP.)
A partir das observações dessas construções, procuramos identificar aquelas que
favorecem a posposição do SN sujeito nos gêneros analisados.
96
Tabela 15 – Freqüência
da ordem VS segundo voz do verbo em textos de notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Voz passiva
14/62 = 23%
0/17 = 0%
Voz ativa
4/228 = 2%
23/187 = 12%
Voz medial
1/13 = 8%
13/61 = 21%
Não se aplica
4/59 = 7%
5/58 = 9%
23/362 = 6%
41/323 = 13%
Total
A tabela (15) revela que há muito mais chances de posposição, no português,
quando a estrutura é passiva analítica, como em (87).
(87) O diretor do Desipe, major Hugo Freire, determinou que seja feita uma
Investigação. (NOT.)
Note-se que a freqüência baixa sensivelmente em todos os outros casos, mas
principalmente na ativa.
O espanhol apresenta maior percentual de posposição com estruturas mediais,
como em (88) e (89).
(88) (...) en Mijas, donde se encontró una colilla con restos de ADN de King.
(NOT.)
(89) (…) de esta forma se expresa el titular del Juzgado de lo Penal (NOT.)
Em (88), temos uma estrutura passiva que tem como sujeito una colilla. No
exemplo (89) temos estrutura reflexiva que tem como sujeito el titular del Juzgado de lo
Penal.
A tabela revela que há um número pequeno de estruturas com passiva analítica,
nessa língua, e nenhuma posposição. Mostra também que o percentual baixa se as
97
estruturas forem ativas e que são menores ainda em caso de estruturas “não se aplica”,
como em (90).
(90) . Estos interlocutores reconocen que si se va "hasta el final" será abierta y
total la guerra con el PP.. (NOT.)
Vejamos a tabela de artigos de opinião a seguir.
Tabela 16 – Freqüência
da ordem VS segundo voz do verbo em artigos de opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
Voz passiva
6/44 = 14%
0/9 = 0%
Voz ativa
10/206 = 5%
39/291 = 13%
Voz medial
11/32 = 34%
14/58 = 24%
9/95 = 9%
5/82 = 6%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Não se aplica
Total
A distribuição nos artigos de opinião mostra maiores chances de posposição,
para o português, caso a estrutura tenha verbo medial, como em (91) e (92). Aliás, é a
variável em que se dá maior polarização de resultados. O segundo maior percentual é o
da voz passiva analítica que tende a se opor a todos os demais casos, como em (93).
(91) criou-se uma ruptura na aliança ocidental que pode ou não ser duradoura
(OP.)
(92) no processo estilhaçou-se a Otan (OP.)
(93) (...) evidentemente que, paralelamente, devem ser revistos os códigos
processuais (...) (OP.)
98
Por outro lado, quando a construção possui verbos com sujeitos ativos ou verbos
de ligação, o percentual de posposição baixa.
A tabela (16) confirma, para o espanhol, o percentual observado nos textos de
notícias, ou seja, maiores chances de posposição em caso de estrutura medial (24%). O
segundo maior percentual ocorre nessa língua com estruturas com voz ativa, como em
(94)
(94) De ahí que las negociaciones del Gobierno y los sindicatos para reformar el
mercado español, a las que probablemente dará la señal de inicio Zapatero.
(OP.)
A tabela revela ainda que, caso a estrutura seja de verbos “não se aplica”, as
chances de posposição diminuem. Podemos observar que também nos artigos de opinião
(assim como nas notícias) existem poucas estruturas com passiva analítica e nenhuma
posposição.
Alguns comentários podem ser feitos a partir do exposto. Um fato que chama a
atenção, no português, é onde ocorre o maior percentual de posposição em cada gênero.
Nos textos de notícias, por exemplo, há maior percentual de posposição nas estruturas
com passivas analíticas, mas se o texto for mais formal, como no caso dos artigos de
opinião, o maior percentual passa ser o de estruturas com verbos mediais (representados
por passiva pronominal e reflexivos). Essas freqüências são interessantes e comprovam
estudos que apontam para o desaparecimento do pronome se. (cf. Galves (1987) e
Nunes (1990) apud Galves (2002)). Esses autores revelam que, na maioria dos casos,
esses clíticos estariam restritos a usos lexicalizados (verbos com uso pronominal) e a
menores ocorrências com reflexivos. Nos nossos dados tivemos ocorrência do clítico se
na forma reflexiva, tanto nos textos de notícias como nos artigos de opinião. Podemos
concluir pelos percentuais das tabelas (15) e (16) que o pronome (se) ocorre mais
99
frequentemente, no português brasileiro, em contextos formais e que há restrições ao
clítico em contextos menos formais.
O espanhol concentra seu maior percentual nas construções de verbo medial,
tanto nos textos de notícias como nos artigos de opinião. Também não apresenta caso de
posposição se a estrutura for passiva analítica. É importante observar que a passiva
analítica não é o tipo de estrutura preferida nessa língua. No espanhol predomina o uso
de passiva pronominal. (cf. Gili Gaya 1994, p.127).
A passiva nos textos jornalísticos, tanto no português como no espanhol, tem
como função em primeiro lugar valorizar a ação ou o processo verbal em detrimento do
agente; em segundo lugar as passivas possibilitam impessoalizar o discurso, omitindo
seus agentes, criando desse modo uma suposta imparcialidade.
100
4.8. Natureza semântica
Este grupo de fatores controla a natureza semântica do verbo. O objetivo é
verificar até que ponto o tipo semântico de verbo contribui para a ocorrência da
anteposição ou posposição do sujeito. Para isso, adotamos alguns conceitos presentes na
tipologia de predicadores formulada por Moura Neves (2000) e Mira Mateus (1989). As
autoras argumentam que é importante que se leve em conta, na classificação semântica,
a predicação imposta pelo verbo. Segundo as autoras, seria necessário trabalhar a
relação que se estabelece entre o verbo, os seus argumentos e os demais elementos do
enunciado.
O verbo teria, assim, propriedades sintáticas e semânticas importantes que
permitem tanto uma classificação como uma descrição. Com base nas relações que o
predicado pode estabelecer entre os termos e nas semelhanças semânticas presentes em
cada verbo, estabelecemos inicialmente dez classes de predicados, quais sejam: ação,
processo, modais, estado, volição, percepção/cognição, atitude sentimental, aspecto,
elocução, apresentação.
Contudo, os primeiros resultados mostraram que não seria possível trabalhar
com todas as classificações propostas inicialmente.
Os objetivos impostos para o
desenvolvimento do trabalho impediam que mantivéssemos, por exemplo, estruturas
com verbos apresentativos e de elocução, pois ambas apresentavam ordens fixas, para o
português e espanhol. Os verbos apresentativos, nos nossos dados, tinham sujeitos
categoricamente pospostos ao verbo, como em (95) e (96):
(95) No cenário internacional, destacam-se os EUA (OP)
101
(96) Sabendo que não existiam filas e sem pressa para votar (NOT.)
No caso dos verbos de elocução ou dicendi temos duas disposições, anteposta e
posposta. Assim, se a estrutura estiver no discurso direto, os sujeitos serão
categoricamente pospostos. Já no discurso indireto, os sujeitos se apresentarão
categoricamente antepostos e com objeto oracional, como nos exemplos (97) e (98):
(97) Ele conhece bem essa área. De onde estava, até via a nossa movimentação
na casa da vítima. Mas sua prisão é uma questão de horas prometeu
o delegado. (NOT.)
(98) O ex secretário nacional de Esportes Lars Grael negou ontem que tenha
visitado o presido Bangu III em 1999. (NOT.)
Outro problema constatado durante a nossa seleção é o de algumas estruturas
cujos predicados (verbos) apresentavam baixa freqüência, mas por outro lado, tinham
características
semânticas
bastante
semelhantes.
Resolvemos
aproveitar
essa
semelhança para dar mais uniformidade à análise e os reagrupamos. Esse foi o caso dos
verbos de atitude sentimental, percepção/cognição e volitivos, todos de caráter mais
subjetivo. Esse mesmo critério, de reunir verbos subjetivos numa mesma categoria, foi
utilizado em outros trabalhos como os de Bentivoglio (1987)9 e Biber (1988)10. Aquela
na análise da presença ou ausência dos sujeitos pronominais no espanhol de Caracas,
este no estudo comparativo entre gêneros de fala e escrita no inglês.
Passaremos agora a descrever e comentar as características semânticas de cada
uma das categorias de verbos que mantivemos na análise.
9
A autora reuniu em um só subgrupo os verbos de atividade cognitiva e verbos de modalidade.
102
I) Verbos de ação: São acompanhados por um participante agente ou causativo,
podendo haver, ou não, outro participante (afetado com mudança física ou não).
(99) os presos depredaram o presídio (NOT.)
(100) O prefeito criou um banco de microcrédito. (OP.)
Os sujeitos (os presos, prefeito) são causadores de mudanças de estado e estas são
realizadas intencionalmente. Essas entidades controladoras têm o poder de determinar
(intencionalmente) a ocorrência ou não-ocorrência de um estado de coisas. Realizam,
desse modo, um dado fazer (de natureza física ou psíquica) que altera o estado de
coisas descritas. Como podemos ver em (99), descreve-se a passagem do presídio de um
estado, inteiro, para outro, depredado; em (100) há a passagem de um estado em que o
banco não existe, para outro estado em que o banco existe.
II)
Verbos de processo: Esses verbos envolvem uma relação entre um nome e uma
mudança de estado, em que o nome é paciente do verbo (afetado).
(101) Um bandido morreu, três pessoas foram feridas a bala (NOT.)
(102) Ficou clara a necessidade de os municípios criarem um ambiente favorável
para os pequenos negócios nascerem e se desenvolverem dentro da
formalidade (OP.)
Diferentemente dos exemplos (99) e (100), os verbos de processo (101) e (102)
não possuem entidades com poder de controlar a ocorrência dos eventos. Há uma
dinâmica nesses verbos que exprimem uma concepção de fazer específico, realizado ou
sofrido por uma entidade X. Não há, na verdade, um deslocamento na localização
10
Esses verbos correspondem à categoria que Biber (88) denomina “ verbos privados”.
103
física das entidades. A mudança se dá por causa interna. Assim, os sujeitos “bandido” e
“negócios” sofrem o processo de morrer, em (101) e de nascer, em (102).
III) Verbos de Estado: Esses verbos são acompanhados por um sintagma nominal
(sujeito) que é suporte do estado. O que os caracteriza é seu traço [– dinâmico].
(103) Mas como a pena é suspensão do cargo e no caso não cabe, porque o
oficial está na reserva. (NOT.)
(104) O Fome Zero começou a desandar quando meia dúzia de maganos de
Brasília chegaram a Guaribas, no Piauí, a bordo de um helicóptero da
polícia. As pessoas são pobres, não são burras. Sabem que um helicóptero
cheio de maganos atende aos interesses de quem come e não de quem tem
fome. (OP.)
(105) Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com
um sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os
jurisdicionados, sempre próximos dos juízos, advogados e membros do
Ministério Público.
Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa
constitucionalidade, pois, segundo o artigo 20o da Carta Magna brasileira,
os poderes da União são independentes e harmônicos entre si.(OP.)
(106) ficou clara a necessidade de os municípios criarem um ambiente
favorável para os pequenos negócios nascerem e se desenvolverem. (OP.)
As entidades envolvidas em (103), (104), (105) e (106) (o oficial, as pessoas, a
criação de um órgão e a necessidade), de um modo geral, não têm controle dos estados
descritos. Os sujeitos também não sofrem qualquer alteração ou transição durante o
intervalo de tempo em que tais estados de coisas têm lugar. Isso demonstra que as
estruturas apresentam baixa dinamicidade, propriedade que parece ser característica
desses verbos.
104
IV) Verbos de atitude sentimental, cognição/percepção e volição (subjetivos):
Esses verbos são usados para expressar emoção, conhecimento e percepção.
(107) O Secretário estadual de Justiça, Paulo Saboya, reconheceu a existência
de falhas na vigilância (NOT.)
(108) O Papa João Paulo II recorda ser ela uma instituição fundamental para
a vida de cada sociedade (op.)
(109) o oficial não quis comentar ontem as acusações e disse que falaria em
outra oportunidade. (NOT.)
V) Os verbos modais na concepção tradicional são definidos como os verbos que se
combinam com o infinitivo do verbo principal para determinar com mais rigor o
modo como se realiza ou se deixa de realizar a ação verbal. (cf. Bechara 1999,
pg.224) Podem
ser
definidos, também,
como
sendo
uma
apreciação
qualitativa enxertada sobre o enunciado mínimo e que traduz ou uma tomada
de posição do sujeito falante (reforço da ação enunciada, ou do seu caráter aparente,
necessário ou provável), ou a manifestação da vontade, dos sentimentos ou do
julgamento do sujeito gramatical. (cf. Kneipp 1980 apud Lobato 1971, p. 99)
Para Biber (1988), os modais são marcas de persuasão. Representam a própria
avaliação do falante sobre se o evento é provável, prudente ou desejável.
Segundo Moura Neves (2000), os
modais podem indicar modalidade
epistêmica (ligada ao conhecimento) e deôntica ( ligada ao dever). Marcam de um
modo geral, as tentativas do falante para persuadir o destinatário de que certos
eventos são desejáveis, prudentes ou prováveis.
(110) Dois agentes devem prestar depoimento (NOT.)
(111) a criança pode apresentar dificuldades na associação de símbolos
105
auditivos e visuais (...) (OP.)
(112) Deveriam ser revistos os códigos processuais (OP.)
(113) Lula podia chamar a Febran de volta (OP.)
Os sujeitos dos exemplos (110), (111) e (113) são humanos, mas não são
controladores das coisas descritas. O sujeito do exemplo (112) é distinto dos demais,
pois não é humano; semelhantemente aos outros exemplos, não controla a ação descrita.
Há em todos os exemplos uma noção de condição necessária e suficiente, que determina
se o estado de coisas descrito ocorrerá ou não.
A partir da observação dessas diversas características, procuramos identificar as
que favorecem a posposição do sujeito. As tabelas (17) e (18) abaixo, apresentam a
freqüência de posposição para cada um dos tipos semânticos considerados.
Tabela 17 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de
Notícias
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
De estado
7/73 = 10%
5/62 = 8%
De processo
3/104 = 3%
14/130 = 11%
De ação
13/148 = 9%
18/106 = 17%
Modais
0/25 = 0%
2/16 = 13%
Subjetivos
0/12 = 0%
2/9 = 22%
23/362 = 6%
41/232 = 13%
TOTAL
Como podemos observar nos resultados expostos na tabela (17), no português, o
gênero notícias apresenta um maior percentual de sujeitos pospostos, caso o verbo seja
106
de estado (10%) e de ação (9%). O maior percentual de posposição com verbos de
estado, nos textos de notícias, se deve às estruturas predicativas, (114) e passivas (115):
(114) foram pequenas as apreensões e o custo muito alto: um sargento morreu,
além de quatro traficantes, para que apenas três armas fossem tiradas de
circulação. (NOT.)
(115) O diretor do Desipe declarou que há mais de 20 dias estavam sendo
realizadas buscas diárias dentro de Bangu III. (NOT.)
No exemplo (114) o SN sujeito as apreensões não tem a função de agente ou
paciente na estrutura. O verbo de estado mensura, em primeiro lugar, o valor das
apreensões realizadas, contrastando-as com a perda de algumas vidas. Em (115) a
construção passiva11 mostra um estado resultante de uma realização anterior . O SN
buscas diárias tem a função de caracterizar essa situação.
No caso dos verbos de ação, o percentual se justificaria pelo grande número de
estruturas com passiva analítica, como (116):
(116) Se essa medida for mantida serão 58,476 veículos levados por ladrões.
(NOT. )
Na construção em (116) o argumento com força de agente aparece num SPrep.
por ladrões (agente da passiva). A estrutura tem como sujeito veículos, nesse caso, a
estrutura passiva tem como função valorizar a ação verbal em detrimento do sujeito.
O nível percentual que vem em seguida é de predicados de processo, como em
(117) e (118):
11
Assumimos a diferença semântica entre passivas com estar (incluídas nos verbos de estado) e com ser e
outros (ação/processo).
107
(117) acredito que os bandidos tenham contado com a conivência de um ou
mais agentes penitenciários para que entrassem fuzis em Bangu III (NOT.)
(118) a comissão da Alerj verificou que no Graham Bell faltam 13 professores
em dez disciplinas . (NOT.)
Nos exemplos (117) e (118), temos tipos de processo. O primeiro mostra um
processo que leva os nomes a mudarem de uma condição para outra, ou seja, os fuzis
que entraram no presídio contrastando com uma condição anterior. O segundo exemplo
mostra um processo habitual, ou seja, o da constatação de que no Graham Bell
costumam faltar professores.
Finalmente os casos de modais e subjetivos, pouco numerosos nas notícias, não
apresentam posposição no português.
Passaremos agora a discutir a distribuição da tabela (17) para o espanhol.
A distribuição dos tipos semânticos no gênero notícias do espanhol é bem
diferente da do português. O espanhol apresenta um maior percentual de sujeitos
pospostos caso os verbos sejam de ação, como em (119) e (120). No exemplo (119) o
SN sujeito é um referente animado/humano e agente da ação desenvolvida. No caso, a
posposição ocorre como uma maneira de contrastar o referente já conhecido sabotaje
com o referente desconhecido Ministro de Fomento introduzido no texto nesse
momento. Já no exemplo (120) temos uma estrutura passiva sintética em que o agente
da ação não está realizado na estrutura. Essa estrutura com passiva pronominal
108
condiciona a posposição verbal e possibilita o alto percentual de posposição que
podemos observar na tabela (17).
(119) Así rechaza la posibilidad del sabotaje (…) como hizo el entonces
Ministro de Fomento, Francisco Alvarez-Cascos (…) (NOT.)
(120) (…) de hecho, en la ciudad se creio la pasada semana una
Plataforma de apoyo a Sonia. (NOT.)
As estruturas com verbos de processo apresentam percentuais de 11%.
(121) En la Cañada Real Galiana viven miles de personas en la más
absoluta marginación, entre ellas, muchos inmigrantes. (NOT.)
(122) la ciudad fantasma de Madrid, la tierra de nadie. Allí viven
aquellos que no aparecen en las estadísticas. (NOT.)
Nos exemplos (121) e (122), vemos a descrição de um processo que ainda não
terminou e em que os sujeitos não são controladores. Para desenvolver esse processo, o
redator procura situar o leitor sobre a localização da história que vai narrar12. Esse é o
primeiro parágrafo, e em geral, nos textos jornalísticos, as informações iniciais são
constituídas pelos elementos fundamentais do relato a ser desenvolvido no corpo do
texto. Por isso no texto intitulado “Sobrevivir en tierra de nadie” (cf. anexo 4) a
informação mais importante é a que inicia o texto. Assim, o redator começa a notícia
pelo que Labov (1972) chama de “orientação” – uma contextualização espacial,
colocando em posição pré-verbal, um locativo que situa o leitor sobre a localização dos
fatos que serão narrados a seguir, para em um segundo momento informar ao leitor o
12
Segundo Labov (1972), na estrutura narrativa (de estória) é necessário que se oriente de algum modo
sobre o lugar, as pessoas, suas atividades e situação.
109
número de pessoas que vive nesse lugar13 e, em um outro momento, especificar de
forma anafórica com o SN aquellos a situação em que se encontram.
A tabela (17) também mostra que o menor percentual de posposição, no
espanhol, ocorre em verbos de estado, como em (123) e (124):
(123)
Para el responsable de coordinación parlamentaria del PP en las
Cortes de Castilla y León, José Antonio de Santiago, “antes
del problema del transfuguismo está la corrupción política
que seria el intento de compra de un consejal (…) (NOT.)
(124) sólo en Brasil son más de 15 millones de personas (NOT.)
Os dados do espanhol diferem do português principalmente na freqüência dos
verbos modais, (125) e subjetivos, (126). Mesmo com apenas dois exemplos de
posposição com modais e subjetivos não podemos deixar de observar que o espanhol
apresenta um comportamento diferente do português, que não apresentou exemplos de
sujeitos pospostos, no gênero notícias. Considerando-se o número reduzido de
ocorrências, contudo, não se pode ser muito conclusivo.
(125) y encima de la mesa podría haber estado un cargo de asesoramiento
externo con una retribución de entre 30 y 40 millones de pesetas al año (..)
(126) Lo que querían los críticos era lo que finalmente lograron: poder votar
“no” en su papeleta. (..) (NOT.)
13
Para Ocampo (1995) esta possibilidade de se colocar em posição pré-verbal a informação mais
importante seria um recurso de foco de contraste.
110
A distribuição discutida acima parece ser diferente das freqüências encontradas
nos artigos de opinião. Vejamos a tabela (18) a seguir:
Tabela 18 – Freqüência de ordem VS segundo o controle semântico nos textos de
Opinião
PORTUGUÊS
ESPANHOL
Aplicação/Freq.
Aplicação/freq.
De estado
9/101 = 9%
5/85 = 6%
De processo
10/118 = 8%
30/222 = 14%
De ação
12/111 = 11%
17/73 = 23%
Modal
5/39 = 13%
3/37 = 8%
0/8 = 0%
3/23 = 13%
36/377 = 10%
58/440 = 13%
Subjetivos
TOTAL
A tabela (18) mostra que, no português, os artigos de opinião apresentam uma
distribuição equilibrada com percentuais semelhantes de sujeitos pospostos, caso os
verbos sejam de estado, processo, modais e de ação.
Nossa expectativa era a de que houvesse maior inserção de verbos modais, já
que os dados são de textos de opinião14. A função dos verbos modais, nos textos de
opinião, seria a de contribuir na representação da posição tomada pelos autores nos
artigos que produziram. Por isso, a surpresa ao ver que os modais não apresentam
percentuais muito diferentes dos outros verbos, no que diz respeito à posposição do
sujeito.
A ordem VS nas orações de verbos modais ocorre de maneira específica: os
argumentos são reorganizados e distribuídos de maneira não prototípica, ou seja, o
objeto, que já é um item conhecido no texto, passa a assumir posição pré-verbal e o
111
sujeito, que é introduzido pela primeira vez no discurso, assume a posição pós-verbal.
Vejamos (127) e (128).
(127) Em tempos mais recentes, porém, a globalização passou a exigir novas e
diversificadas formas de atuação para atenuar os eventuais efeitos perversos
que esse movimento possa causar aos pequenos negócios. Ao fenômeno da
globalização pode-se contrapor o desenvolvimento local. (OP.)
(128) O general-presidente Geisel, referendo-se aos duros setores das Forças
Armadas que se opunham ao seu projeto de abertura política, usou a
expressão “bolsões sinceros, mas radicais”. Algo equivalente deverá
enfrentar agora o PT (OP.)
Ë interessante perceber que os sujeitos “desenvolvimento e PT” não são sujeitos
agentes e também não são controladores ou causadores da ação desenvolvida.
No caso dos verbos de ação, temos as seguintes estruturas:
(129) criou-se uma ruptura na aliança ocidental (OP.)
(130) Em 1999 foi criada a universidade franco-alemã, em Saarbrücken. (OP.)
Os verbos de estado (9%) e processo (8%) também possibilitam a posposição.
Os verbos de estado são frequentemente utilizados em estruturas que têm como função
esclarecer o leitor quanto ao ponto de vista em que se coloca o autor, como em (131) e
(132):
(131) Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com
um sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os
14
No gênero notícias os redatores, muitas vezes, se distanciam do que afirmam, lançam mão das vozes
dos participantes do discurso por meio do discurso direto. Mais especificamente no uso dos verbos
dicendi.
112
jurisdicionados, sempre próximos dos juízos, advogados e membros do
Ministério Público.
Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de
duvidosa constitucionalidade. (OP.)
(132) Quando se debilita o relacionamento de marido e mulher e falha a
educação dos filhos e a adequada orientação da prole, em face dos
problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois está em perigo
o bem-estar espiritual e temporal de um lar. (OP.)
Nos verbos de processo temos os seguintes exemplos:
(133) A diplomacia americana abandonou o princípio do consenso internacional
que orientou todo o exercício da liderança dos Estados Unidos sobre
seus aliados e sobre o sistema internacional. No processo estilhaçou-se a
Otan. (OP.)
(134) Quando se debilita o relacionamento de marido e mulher e falha a
educação dos filhos (...) (OP.)
A tabela (18) também mostra que no espanhol, os artigos de opinião apresentam
o mais alto percentual de sujeitos pospostos, caso os verbos sejam de ação (23%).
Vejamos as estruturas de verbos de ação para o espanhol nos textos de opinião:
(135) la decision sobre el regresso de las tropas la tomará el Congresso (OP.)
(136) (…) cuando la dirección de un sindicato exhibe la disposición negociadora
que le reclama la sociedad, sea acusado de pactista por (…) (OP.)
(137) En los cuentos de nuestra infancia – que algunos nunca hemos renunciado
a releer siempre se inclinan por lo menos tres hadas sobre la cuna de
los recién nacidos. (OP.)
Um dos fatores para este maior percentual, no espanhol, se deve ao uso de
clíticos pré-verbais, como em (135), (136) e (137), e também à presença de advérbio
113
como em (137). Nos exemplos (135) e (136), os itens conhecidos são retomados em
posição pré-verbal com o clítico la (la decision) e le (la dirección que é um
complemento indireto), isso possibilita que as informações introduzidas nesse momento
“el congreso” e “la sociedad” estejam em posição posposta ao verbo. Em (137), temos
uma estrutura
semelhante às discutidas em (121) e (122), em que o sujeito está
posposto e o advérbio anteposto ao verbo, distribuindo o peso da informação
O segundo maior percentual ocorre nas estruturas com verbo de processo, (138)
e (139), e subjetivos (140)
.
(138) ha hecho bien el PSOE en rectificar su intención
(139) Pero ayer mismo, en un gesto de protección y de mofa, Múqtada viajó a
refugiarse en la ciudad santa de Nayaf, donde reside el máximo líder
espiritual de los chiíes, el gran ayatolá Sistani, cuya tranquilidad también
está desafiando el joven líder radical.
(OP.)
(140) Las dos comunidades están básicamente de acuerdo en que la isla vuelva a
ser un solo Estado, como lo desean también los Gobiernos tutelares de
Atenas y Ankara (…) (OP.)
Os modais nos artigos de opinião, no espanhol, ao contrário do português,
apresentam menores chances de posposição, com um percentual de (8%), como em
(141) e (142)
(141) para entenderlo, puede bastar el simple enunciado. (OP.)
(142) para generar la confianza la que deben ser abordados los inevitables
problemas. (OP.)
As observações presentes ao longo da análise vêm ao encontro do que diz a
literatura, ou seja, o português pospõe em estruturas específicas. No caso dos textos de
114
notícias, o português pospõe preferencialmente com determinado tipos de verbos –
estado, ação e processo. Mas tende a evitar posposição no caso de verbos modais e
subjetivos, que são mesmo menos numerosos no gênero notícias. A inversão do sujeito
com verbos de ação e estado, nos textos de notícias ocorre devido às estruturas passivas,
sintética e analítica. Essas estruturas, que são comuns em textos formais, dão aos textos
jornalísticos possibilidade de impessoalizar o discurso, omitindo seus agentes e criando
uma suposta imparcialidade, porque como inserem o discurso dos participantes, dão voz
a outras opiniões.
Vimos também que os artigos de opinião, por serem textos que permitem mais
inserções de elementos argumentativos, possibilitam maior ocorrência da ordem VS,
caso as orações sejam de verbos modais, no português.
A análise também mostrou que o espanhol apresenta uma variedade maior na
distribuição de sujeito posposto e que essa distribuição é graduada conforme a
semântica do verbo. Como vimos nos percentuais do espanhol, há chances de
posposição, caso as orações ocorram com verbos de processo, ação, subjetivos, estado e
modal distribuição que mostra que, no espanhol, não há o mesmo enrijecimento da
ordem SV que encontramos no português.
115
5. CONCLUSÕES
Este estudo teve como preocupação principal a análise de um fenômeno na
língua em uso – a ordem sujeito-verbo – e demonstrou, entre outros aspectos, a
adequação da teoria funcionalista na explicação dos contextos favoráveis às estruturas
SV ou VS no português e no espanhol.
Do ponto de vista teórico-metodológico, o instrumental da Teoria da Variação
laboviana mostrou-se condizente com a nossa proposta, ou seja, confirmou
estatisticamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada e os fatores que
propusemos como contextos preferencias das estruturas SV ou VS nas duas línguas.
A análise dos dados mostrou que a noção de referenciação correlacionada à
continuidade ou descontinuidade do referente é pertinente, uma vez que revela
tendências resultantes das estratégias discursivas nas duas línguas. Vimos, por exemplo,
que no português, a posposição do sujeito predomina em SN´s que se referem a
entidades menos contínuas. Essa preferência confirma o estudo de Naro & Votre (1999)
para a ordem VS em narrativas orais do português. Outro resultado importante
observado é que, tanto o português como o espanhol, apresentam distribuição
diferenciada segundo o gênero seja notícias ou artigo de opinião.
A conclusão geral é a de que a ordem VS representa uma baixa no fluxo
informacional e que a ordem SV corresponde ao referente que é centro da informação.
Essa correlação, aliás, parece ser o fator que conduz todos os demais fatores.
Na discussão do status informacional do constituinte, vimos que não há
exclusividade de sujeitos pospostos novos, embora haja o predomínio dessa categoria,
no português e no espanhol, em ambos os gêneros textuais. Observamos que há
possibilidade de VS, tanto no português como no espanhol, em ambos os gêneros, para
116
referentes evocados e inferíveis. A ordem VS com referentes evocados ou inferíveis não
é casual. Como vimos, em todos os casos, é o grau de acessibilidade dos referentes no
texto que permite que uma estrutura inferível ou evocada esteja anteposta ou posposta
ao verbo.
A análise da correlação entre referentes novos e sintagmas indefinidos e
referentes conhecidos e sintagmas definidos mostrou que também ela não é categórica.
De fato, pudemos observar que há sujeitos apresentados como indefinidos que
representam referentes conhecidos ou identificáveis no texto. Isso revela que os autores
de um modo geral preferem utilizar referentes conhecidos dos leitores para que se possa
manter a continuidade não só do referente, mas do tema/tópico do texto.
Na discussão de quanto o peso e a complexidade do SN poderiam contribuir para
a anteposição ou posposição do SN, vimos que, no português, os sujeitos mais longos
tendem a ser pospostos: pôde-se confirmar uma correlação entre ordem e sintagmas
nominais de menor/maior extensão, particularmente no gênero notícias. Essa
distribuição se modifica em artigos de opinião, uma vez que, nesse gênero, a extensão
do sujeito não interfere nos percentuais de posposição.
Já o espanhol, embora apresente a mesma gradação, possui todos os percentuais
referentes à extensão do SN bastante próximos, nos textos de notícias assim como no
gênero artigo de opinião.
Essa distribuição revelou que aspectos referentes ao caráter argumentativo,
predominante nesse gênero, impõem maiores restrições à presença de pronomes (que
representam os sujeitos de menor extensão). Pode indicar também que há diferença na
maneira como o espanhol e o português marcam a continuidade do referente/tópico, ou
seja, enquanto o português marca a continuidade pela presença de pronomes, o espanhol
117
marca a continuidade mais pela ausência de pronome (anáfora zero) do que pela
presença.
O estudo da transitividade de acordo com alguns parâmetros de Hopper &
Thompson (1980) mostrou que o gênero notícias tem como característica apresentar
verbos mais transitivos, para o português e o espanhol Como resultado da alta
transitividade dos verbos, nesses textos, temos menor incidência de posposição, em
português com sujeitos + agentivos e com verbos com mais de um participante. O
espanhol, por outro lado, apresenta maior percentual de verbos pospostos com sujeitos
+ agentivos que o português; há também, devido aos clíticos, um maior percentual de
posposição em estruturas com verbos com dois participantes.
Nos artigos de opinião o espanhol apresentou um leve aumento percentual de
posposição com verbos [+perfectivos] e sujeitos mais agentivos.
Na análise das vozes do verbo, pudemos constatar que, no português, há maiores
chances de posposição com estruturas passivas. O tipo de passiva utilizada na
construção dos textos de português pode mudar segundo o gênero seja notícias ou artigo
de opinião. Desse modo, tendemos a ter passiva analítica nos textos de notícias e
passivas pronominais em artigos de opinião. Fazem parte desse gênero também os
verbos reflexivos, que juntamente com as passivas pronominais, possibilitam maior
percentual de posposição de sujeito.
O espanhol tem característica diferente, pois apresenta baixa incidência de
verbos com passiva analítica e nenhuma posposição nesses casos. O espanhol parece
preferir estruturas com passiva pronominal e verbos reflexivos. É também com essas
estruturas que encontramos maior percentual de posposição.
118
No estudo da natureza semântica do verbo, pudemos constatar que a freqüência
mais alta ou mais baixa na escolha semântica do verbo pode estar condicionada ao
gênero. Assim, se os textos são de notícias, há preferência para a posposição em
contextos em que os verbos sejam de estado ou ação no português. Por outro lado,
tende-se a evitar a ordem VS com estruturas que tenham verbos modais e subjetivos.
O gênero artigo de opinião correspondeu às nossas expectativas, no sentido de
mostrar, no português, maior incidência de modais, e mais posposição nesse gênero,
comparando-se com as notícias. Mas os tipos semânticos de verbos examinados, no
conjunto, apresentaram percentuais próximos de posposição. Já no espanhol houve mais
alta incidência de posposição com verbos de ação. Por outro lado, os outros tipos
semânticos como os verbos de estado, processo, subjetivos e modal apresentaram
distribuição semelhantes.
A análise revelou também diferenças importantes e especificidades nas
estratégias discursivas nos gêneros notícias e artigo de opinião, para o português e
espanhol.
Como pudemos constatar, as estratégias usadas nos artigos de opinião
revelam maior formalidade (uso de passiva pronominal, por exemplo), o que pode
resultar de um certo conservadorismo na escrita,
permitindo um leve aumento
percentual de VS nos artigos do português. Isso mostra que a ordem VS no português
pode estar relacionada a características mais formais do texto.
Desse modo, podemos constatar que, de modo geral, o espanhol apresenta uma
distribuição mais equilibrada de sujeitos pospostos, nos contextos examinados. O
espanhol também apresenta uma variedade maior na distribuição de sujeito posposto,
vimos ainda que essa distribuição é graduada conforme a semântica do verbo.
119
Já o Português pospõe em estruturas específicas. Essa maior rigidez no emprego
da estrutura VS já foi observada por Berlinck (1989), que mostrou através de um
trabalho comparativo entre os séculos XVIII, XIX e XX, uma lenta mudança no sistema
do Português, ou seja, uma diminuição na ocorrência de VS. E como podemos observar,
pelos nossos resultados, a rigidez na ordem SV ao que parece está mais acentuada, uma
vez que nos nossos dados encontramos uma estimativa percentual de posposição ainda
mais baixa que a encontrada pela autora em seu trabalho. É verdade que essa diferença
percentual talvez possa ser atribuída à retirada, no nosso caso, dos dados categóricos, os
verbos apresentativos e dicendi, dados que a autora pode ter mantido no seu trabalho,
aumentando desse modo o número de SNs pospostos.15
Esta tese atingiu, portanto, o objetivo geral de estudar a ordem do sujeito no
português e no espanhol, nos gêneros notícias e artigo de opinião. Comprovamos a
nossa hipótese de que há motivações discursivas para a escolha de uma ou outra ordem
e que há especificidades nessa escolha para cada uma das línguas
O estudo contribui, ainda, para um melhor conhecimento das características dos
gêneros artigo de opinião e textos de noticiais, possibilitando futura aplicação das
nossas observações para o ensino do espanhol como L2 e para o ensino do português.
15
Corpus
%
N
Século XVIII (1750)
42%
203/486
Século XIX (1850)
31%
144/469
Século XX
21%
263/1262
8%
59/739
Século XXI (2006)
Tabela adaptada de Berlinck ( 1998 ) acrescida dos resultados de Gomes 2006.
120
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128
ANEXO 1
Tráfico ainda faz vítima como Tim
Um ano após morte de jornalista, bandidos já reativaram centro de execução em
favelas.
Elenilce Bottari
Há um ano, o repórter Tim Lopez entrou na favela Vila Cruzeiro, na Penha, para
denunciar o uso de bailes funk pelo tráfico para aliciar menores e vender drogas. Foi
seqüestrado, levado para uma localidade conhecida como Grota, no Morro do Alemão,
em Ramos, torturado e morto. Depois, seu corpo foi queimado pelo traficante Elias
Pereira da Silva, o Elias Maluco, e por sua quadrilha. A atrocidade revelou com que
requinte de crueldade o poder paralelo comanda as áreas sob seu controle. Na Vila
Cruzeiro, policiais descobriram um lugar chamado de microondas: uma gruta usada para
queimar os condenados pelo tráfico. A polícia chegou a anunciar que explodiria o
“microondas” da Vila Cruzeiro. Não o fez e, há cerca de seis meses, o centro de
execuções voltou a funcionar: um suposto estuprador foi queimado ali. O tráfico
também voltou a torturar e executar vítimas no mesmo lugar onde Tim Lopez foi morto.
Segundo moradores, depois da prisão do traficante Elias Maluco, em 19 de
setembro, a polícia foi deixando as duas favelas e a vida voltou à anormalidade de
sempre, com a lei do silêncio imperando.
—Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile e levado para o “microondas”. Ele
tinha uma divida de droga – contou um morador da Vila Cruzeiro, pedindo anonimato.
129
ANEXO 2
Mais do que contas difíceis
Cerca de 6% das crianças apresentam o chamado Transtorno Específico da
Habilidade em Aritmética (Teha). Esta perturbação é, em geral, diagnosticada quando o
desempenho de uma criança em matemática se encontra bem abaixo dos padrões
escolares esperados para a idade.
As principais características do Teha são dificuldade para aprender a contar, em
dominar os sistemas cardinais e ordinais, em executar operações aritméticas e em
visualizar quantidades de objetos como grupos. Além disso, a criança pode apresentar
dificuldades na associação de símbolos auditivos e visuais, na lembrança de seqüências
de passos aritméticos e na escolha dos princípios para a solução de um problema.
Embora o aspecto fundamental seja um prejuízo sério no desenvolvimento das
tarefas aritméticas, a criança também pode apresentar dificuldades de leitura e
ortografia. Porém, não são tão acentuadas como em matemática.
Os pais precisam saber que o Teha se trata de um considerável problema no
desenvolvimento que ocorre em crianças de inteligência normal (ou acima da média) e
que tiveram instrução adequada. Existe uma predisposição genética para as capacidades
matemáticas e para as incapacidades. Daí, algumas crianças apresentarem deficiência
em manipular relações numéricas.
Essas crianças precisam dos instrumentos fundamentais para o conhecimento de
matemática. Entretanto, fatores emocionais e socioeconômicos, entre outros, interagem
para produzir a deficiência. As crianças podem ter baixa auto-estima e precisam ser
examinadas logo por um neuropsiquiatra infantil.
130
ANEXO 3
Ciência e consciência
A ciência não conhece limites nem respeita fronteiras avança sempre na busca de
desafios, de novos caminhos. Não obstante, os acontecimentos relacionados ao risco da
disseminação de organismos geneticamente modificados evidenciam a urgência da
adoção de normas para regular o tratamento jurídico que cumpre dar à matéria.
Foi por essa ração que, ainda quando parlamentar, tive a oportunidade de
submeter ao Congresso Nacional projeto de lei que, após receber subsídios tanto da
Câmara dos Deputados como do Senado Federal, se converteu na lei n0 8.974/95 (Lei de
Biossegurança). Consubstanciadora do primeiro esforço brasileiro no sentido de
disciplinar a questão. Devemos lembrar, como salientou o ministro Paulo Leite que,
obviamente, em face do progresso da ciência, sobretudo no campo da engenharia
genética, esse instrumento legal precisa de novas achegas e, certamente, de adequada
atualização. Isaac Asimov alertava sempre para a gravidade do desafio com que se
confrontava a sociedade, ao destacar que o aspecto mais triste de nossa vida é que a
ciência ganha em, conhecimentos mais rapidamente do que a sociedade em sabedoria.
Já o pensador italiano Norberto Bobbio foi o mais incisivo ao proclamar: “Depois da
afirmação dos direitos de liberdade, dos direitos políticos e dos direitos sociais, hoje
avançamos em nova geração de direitos que se afirmam diante das ameaças à vida, à
liberdade e à segurança, que provém do crescimento cada vez mais rápido, irreversível e
incontrolável, do progresso técnico. Refiro-me em particular ao direito à integridade do
próprio patrimônio genético, que vai muito além do tradicional direito à integridade
física”.
As palavras de Bobbio resumem de forma clara, o dilema atual da Humanidade.
Para o direito, as questões daí decorrentes estão postas. Como definir e assegurar a
observância de parâmetros éticos para as novas descobertas? É lícito clonar o se
humano, patenteá-lo.
A propósito, o Papa João Paulo II, ao abrir na Áustria há cerca de dez anos, um
encontro sobre ciência e fé, observou que a toda técnica deve corresponder uma ética, e
a toda ciência deve corresponder uma consciência. Com isso, quis dizer o Pontífice que
todo o avanço no campo das ciências deve ser sempre cercado de cuidados, para que
131
possamos construir a desejada harmonia entre desenvolvimento técnico científico e
bem-estar da sociedade.
Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas adotou, em 1997, a
Declaração Universal sobre Genoma Humano e os Direitos Humanos, marco
importantíssimo para a codificação de um direito internacional sobre o assunto.
Retomando a linha da declaração da ONU, a Unesco e a Comissão de Direitos
Humanos, dois dos seus órgãos, trabalham em conjunto para definir o limite ético
aceitável. E recentemente, o Brasil, reportando-se à legislação interna que logramos
aprovar, votou na UNESCO, com a maioria dos países-membros, pela proibição da
clonagem.
Contudo, os problemas da complexa negociação que avizinha residem mais nos
temas associados à proibição da clonagem, tais como o comércio de embriões, a adoção
de sanções penais contra os infratores e o regime de propriedade intelectual a ser
aplicado. Esses pontos, entre outros,irão conduzir o debate. A questão suscitada é, mais
uma vez, a de como conciliar o avanço da ciência, sobretudo da engenharia genética –
uma das fronteiras mais importantes da grande revolução científico-tecnológica que
agita o mundo- com princípios morais. Enfim, com princípios que certamente terão de
se refletir em regras do direito positivo.
132
ANEXO 4
SOBREVIVIR EN TIERRA DE NADIE
En la Cañada Real Galiana viven miles de personas en la más absoluta
marginación; entre ellas, muchos inmigrantes.
Es la ciudad fantasma de Madrid, la tierra de nadie. Allí viven aquellos que no aparecen
en las estadísticas y por los que ninguna administración parece sentirse responsable. La
Cañada Real Galiana, una vía pecuaria protegida donde la ley prohíbe edificar, es, desde
hace 40 años, el hogar de aproximadamente 40.000 personas. Hoy muchas de ellas son
inmigrantes que no tienen otro lugar para encontrar su techo. Vienen de Marruecos,
Rumania, Bulgaria e, incluso, del cercano Portugal.
Toda la cañada, unos 15 kilómetros desde Valdemingómez hasta Coslada, pasando por el
distrito de Villa de Vallecas, es una interminable fila de casas bajas construidas por sus
propios dueños. Las hay de todas clases: desde chalés, con sistema de alarma antirrobo y
antena parabólica incluidos, hasta pequeñas chabolas hechas con todo tipo de materiales.
Pero hay quien vive en peores condiciones.
Manuela tiene 28 años y es portuguesa de etnia gitana. Hace un ano que se mudo a la
Cañada Real, a un pequeño poblado donde malviven otras cuatro familias cerca de
Valdemingómez.
Primero vivió de okupa en "un estudio en Villaverde" y luego en una chabola en el poblado
de las Barranquillas. Ahora su hogar es una caravana y sus únicos ingresos son los 300
euros mensuales que le dan en concepto de renta mínima de inserción (Remi). Tiene dos
hijos, una niña de dos años y un chico de nueve, con los que convive en un espacio de
poco más de ocho metros de largo y dos de ancho, donde duermen, comen, se lavan y,
cuando llueve o hace frío, pasan el día. "No podemos irnos a otro sitio es el único lugar
donde nos dejan instalar nuestra casa", afirma Manuela. Pero "es mejor que nada, al
menos tenemos un techo encima", insiste optimista.
" La vida en la Cañada Real es difícil ". No solo porque el hedor de la cercana
incineradora de Valdemingómez y el polvo lo envuelven todo. Las comodidades
consideradas indispensables sólo existen de forma precaria: "Tenemos que pinchar la
luz y el agua, y para lavarnos, calentamos el agua en Una olla todas las mañanas y nos
133
lavamos por trozos". "Cuando nos quitan la luz pasamos mucho frío", se lamenta. "Es
mucho peor el invierno, porque cuando hiela por las noches es imposible dormir".
Pero no es solo el frío y el barro. En esta zona tan remota y olvidada en tos limites de
Madrid el transporte público brilla por su ausencia, al igual que las tiendas, los médicos
o los colegios. "Solo hay un autobús, que para lejos de aquí y pasa pocas veces al día",
cuenta Manuela, que tiene que calcular "muy bien" lo que necesita cuando va a la
compra. "Si se te olvida la sal, simplemente no puedes comprarla en ningún sitio",
cuenta.
También hay momentos dramáticos. Más de una vez, Manuela ha tenido que llevar a su
hija a urgencias en plena noche, "y es muy difícil, porque el último autobús pasa a las
12 de la noche". "He llorado de impotencia porque no he podido hacer nada mientras mi
hija no paraba de llorar", asegura esta madre.
La Cañada Real es también un lugar peligroso. Manuela está "muy preocupada7' por su
hijo mayor. "Nació y se crió en un sitio normal, cuando vivíamos en Villaverde, y no
conocía los peligros que ve ahora", dice. Aunque el niño va a la escuela —"todos los
días lo recoge un autobús y va al colegio en Villa de Vallecas"—, su madre se ha dado
cuenta de que "aquí se está volviendo cada vez más gamberro". "Hace lo que quiere, se
va con otros niños al campo y no sé a qué juega", cuenta. A Manuela le preocupa que
juegue a pocos metros de la carretera, donde todos los días filas interminables de
camiones de recogida de basura van y vienen a toda velocidad a Valdemingómez, lo que
ya ha provocado más de un atropello.
Pero ésta no es la única amenaza para su hijo. "La droga de las Barranquillas está
llegando a la Cañada", afirma Manuela, quien relata que cuando vivió allí veía a niños
de 12 años enganchados.
"Con los yonquis aquí ya no se podrá vivir", augura la mujer. Cuando esto pase, "en
poco tiempo", Manuela no sabe donde instalará su caravana. Ella sólo espera conseguir
un techo. "Qué más quisiera que tener un piso en alquiler, pero eso cuesta un dinero
que yo no tengo", suspira.
134
ANEXO 5
La policía atribuye 17 asaltos al atracador del banco en
Alicante
El ladrón acumula 11 reclamaciones judiciales en Madrid, Valencia y la
provincia alicantina
REBECA LLORENTE, Alicante
El atracador que mantuvo el lunes secuestrados a punta de pistola y con una granada de
mano a ocho rehenes en una sucursal del Banco Popular de Alicante acumula un amplio
historial delictivo: 17 asaltos a bancos y domicílios, en Madrid y Alicante, cuatro
detenciones en Ia capital madrileña y Valencia por atraco y 11 reclamaciones judiciales.
El subdelegado del Gobierno en Alicante, Alberto Martínez, describió ayer al
secuestrador, J. I. G. M., de 28 años —huido de Ia justicia desde hace un año
aprovechando un permiso penitenciario—, como un delincuente "altamente peligroso" y
subrayó su "gran preparación y frialdad". El comisario provincial de Alicante, José
Luis Villalobos, aseguró que el detenido contó con Ia colaboración de "más gente", si
bien no precisó el número de implicados. "Quizá en Ias próximas horas o dias Ia investigación se complete", dijo.
Durante Ia madrugada del lunes, poco después de que un vehículo policial bloqueara
Ia huida en motocicleta del atracador, Ia policia halló en Ias inmediaciones de Ia
sucursal el turismo del delincuente y en su interior un subfusil con cargadores completos en su interior y con cartuchos en Ia recámara, ademáss de una peluca. En el
momento de Ia detención el atracador hizo ademán de utilizar el arma que portaba, una
pistola CZ de 9 milímetros parabellum.
Antes, el ladrón fue liberando a los rehenes de manera escalonada y tras "arduas"
negociaciones mediante un psicólogo de Ia policia. Dos de los retenidos, el director de Ia
sucursal y un cliente, permanecieron hasta 13 horas cautivos. "El director fue quien
peor Io pasó. El atracador Ia tomo con él. Le amenazó con volarle los sesos y le llegó a
golpear en Ia cabeza con Ia culata de Ia pistola", reveló ayer una de Ias rehenes. Sus
exigencias fueron múltiples: bocadillos, cerveza, agua, y pizzas. También pidió un gramo
de heroína. Esta última petición no fue satisfecha, según Ia policía. .
El comisario justificó que los GEO optaran por no intervenir en Ia sucursal "ante
el riesgo que corrían los rehenes". "El atracador estaba muy capacitado y su obsesión
135
era que no iba a volver a prisión bajo ningún concepto". Por ello, agregó el jefe policial,
"hubiera hecho Io que hubiera sido necesario para no pisar Ia cárcel". Según el
comisario, en su escapada, el indivíduo portaba Ia pistola montada y tuvo empuñada Ia
granada con el pulgar en Ia anilla". El hombre permanece ingresado en el Hospital de
Alicante en estado grave. Presenta politraumatismos con diastasis púbica leve, fractura
maleolo interno en el tobillo derecho, así como hematoma pélvico sin repercusión
funcional por hemorragia venosa y policontusiones.
Los vecinos que fueron desalojados, algunos en pijama, ante el aviso de bomba
criticaron Ia actuación de los responsables públicos por su “desatención y falta de
información”. El delegado del Gobierno en la Comunidad Valenciana, Juan Cotino,
propuso ayer a Interior que condecore a los agentes que participaron en la operción.
136
ANEXO 6
Moinhos de vento
MÁRCIO FORTES
O conjunto de projetos em curso no governo federal, modificando radicalmente
as funções, atribuições e autoridade das agências, reguladoras, na prática, significa a sua
extinção. Por falta de informação ou por uma visão equivocada do papel das agências, é
cada vez mais freqüente que um ou outro membro do governo apareça atirando no que
viu e acerte no que não viu. Se essa cruzada quixotesca conseguir acabar com as
agências, perdem todos: o cidadão, o governo e, principalmente, o Rio de Janeiro.
As agências reguladoras foram criadas, em primeiro lugar para garantir que os
serviços de infra-estrutura entregues à administração privada sejam executados com a
qualidade e nas condições estabelecidas nos contratos de gestão firmados com a
sociedade. Como entidades independentes, protegem o cidadão tanto de eventuais
desvios dos executores dos serviços contratados quanto do voluntarismo de governantes
e de influências políticas que lhe possam ser danosas.
Acabar com as agências,
portanto, é deixar ao cidadão o ônus da defesa.
Em segundo lugar, as agências foram idealizadas para harmonizar os interesses
do Estado, do cidadão e dos investidores nas concessões de serviços públicos.O
aumento crescente das demandas sociais e a complexidade da sociedade moderna
reduziram drasticamente a capacidade de investimento dos estados. O Fórum Nacional,
promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, no BNDES, semana passada,
deixou isso evidente. Como ocorreu em todo o mundo, ao Estado brasileiro não restou
alternativa senão aliar-se à iniciativa privada para poder continuar a cumprir suas
funções clássicas — prover educação, saúde, segurança, etc. — sem paralisar os
investimentos em infra-estrutura.
Essa parceria entretanto, colocava um dilema para os Estados: os investimentos
em infra-estrutura são, pela sua natureza, vultuosos e de retorno lento: exigem
capacitação de recursos que são pagos ao longo de quinze ou vinte anos. Nenhum
investidor se arriscaria a botar dinheiro em projeto dessa monta sem a garantia de que
137
as regras que regem a atividade seriam estáveis. As agências reguladoras foram a
solução encontrada para garantir que o arcabouço legal sobre o qual repousam os
contratos de concessão fossem estáveis no tempo.
É evidente que modelo criado para harmonizar interesses tão conflitantes e de existência
tão recente precisa ser aperfeiçoado. Ninguém duvida de que há falhas que precisam ser
corrigidas. A legislação nem sempre é clara, por vezes é omissa ou imprecisa, as
agências freqüentemente exorbitam de suas funções. Mas nada disso justifica a extinção
do melhor instrumento criado pela sociedade moderna, em todo o mundo, para regular
essas atividades.
Acabar com as agências reguladoras é a melhor forma de inviabilizar novos
investimentos em infra-estrutura no Brasil. Porque elas foram as fiadoras das empresas
que para aqui vieram na época das privatizações. Extingui-las agora equivale a dizer
para os investidores que este país não respeita acordos nem contratos. E não respeitar
acordos é a melhor forma de elevar o risco e o custo de novos investimentos que, em
última instância, acabarão sendo pagos pelo contribuinte.
Para o Rio de Janeiro, o fim das agências seria uma tragédia. Primeiro, porque
cinco delas estão sediadas aqui. Aqui, também, estão localizadas as sedes das principais
empresas de infra-estrutura do país, como Eletrobrás, Petrobras, Furnas, Embratel, as
usinas nucleares e as principais empresas de telecomunicações. São, todas, empresas
que exigirão vultosos investimentos, nos próximos anos, para acompanhar o
crescimento da demanda nos setores em que estão situadas.
Com o fim do monopólio, o Rio de Janeiro, principalmente a Bacia de Campos,
tornou-se a maior fronteira no mundo para novos investimentos na industria do petróleo.
Temos espaço, aqui, para projetos que somam alguns bilhões de dólares, nos próximos
anos. Na área de energia, esperamos que seja tocado o projeto de Angra III e todo o
programa de termeletricidade. No setor de telecomunicações, as metas de
universalização comportam, ainda, investimentos de peso.
Apenas para ficar num exemplo, não podemos esquecer que o crescimento do
Produto Interno Bruto do Rio de Janeiro tem-se devido, historicamente, à indústria
extrativa mineral (leia-se petróleo). E que a garantia de novos investimentos nessa área
depende, acima de tudo, de regras estáveis. Nenhum investidor desembolsará mais um
centavo para aplicar no Brasil se não tiver a garantia que essas regras serão mantidas.
138
Tirar da Agência-Nacional de Petróleo a responsabilidade de licitar novas áreas a serem
exploradas, por exemplo, seria um tiro no pé.
O Rio de Janeiro precisa se mobilizar para impedir que uma visão equivocada sobre o
papel das agências reguladoras acabe por inviabilizar investimentos que serão fundamentais para o crescimento da nossa indústria, para a geração de novos empregos, para
o desenvolvimento da nossa economia. Acabar com as agências reguladoras equivale a
atacar moinhos de vento.
______________________________________________________________________
MÁRCIO FORTES é presidente do Conselho Empresarial de Desenvolvimento e Turismo da Associação
Comercial do Rio de Janeiro.
139
ANEXO 7
VOTARÁ LA CAMARA
HA HECHO bien el PSOE en rectificar,
aunque de manera algo sinuosa, su
intención de no someter a votación parlamentaria el regreso inmediato de las tropas
españolas desplazadas a Irak. Se trataba de un compromiso repetido en varias
ocasiones por el presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero. Al día
siguiente de Ias recientes elecciones generales, el líder socialista declaró que se
proponía buscar "un amplio aval" del Parlamento al regreso de las tropas. "Quiero
que sea una decisión no sólo de un Gobierno" subrayó. De acuerdo con ese criterio,
Manuel Marín, presidente del Congreso, declaraba el 10 de abril: “La decisión sobre
el regreso de Ias tropas Ia tomará el Congreso con una propuesta del Gobierno". El
jueves pasado, durante el debate de investidura y en el turno de réplica al portavoz de
Izquierda Unida. Zapatero se comprometió a comparecer en el Pleno de Ia Cámara
"para explicar Ias decisiones que el Gobierno tome y buscar el respaldo" de los diputados y de Ia mayoria de los grupos parlamentarios.
La intención expresada el lunes de celebrar una sesión informativa, sin
votación, casaba mal con este compromiso. Ello no significa que el Gobierno —que
"dirige la política interior y exterior, Ia Administración civil y militar y Ia defensa del
Estado"— carezca de competencias para ordenar el regreso de Ias tropas. Tampoco
cabe establecer un paralelismo entre Ia negativa de Aznar a someter al Parlamento Ia
decisión de enviar soldados a un conflicto bélico exterior y Ia de Zapatero de hacer
regresar a esos soldados. No es una cuestión de legalidad. De Io que se trata es de
acreditar con los hechos el compromiso de convertir al Parlamento en el eje de Ia vida
política y de ser fiel a Ia palabra dada: no sólo Ia de hacer regresar a Ias tropas, sino
también Ia de llevar Ia cuestión al Congreso y recibir su respaldo.
La rectificación consiste en mantener el formato de comparecencia informativa
del Gobierno a petición propia —sin votación—, pero abriendo Ia posibilidad de votar
tras esa comparecencia una proposición no de ley que avale Ia decisión del Gobierno.
Ello requerirá el acuerdo de todos los grupos, también del PP, para modificar de aquí al
martes próximo el orden del día acordado; una salida, por tanto, ligeramente tortuosa
que tal vez busca desviar contra el Grupo Popular Ia responsabilidad de que no haya
140
votación si no se alcanza un acuerdo en Ia Junta de Portavoces. Una astucia susceptible
de crítica, pero en absoluto comparable a Ia oportunista y abiertamente desleal iniciativa
del ex presidente Aznar de telefonear a George W. Bush para expresarle su desacuerdo
con Ia decisión de su sucesor de retirar Ias tropas de Irak. ¿Es ésta Ia lealtad que tantas
veces reclamó a sus opositores?
141
ANEXO 8
EL FIN DE LA LÓGICA POLÍTICA Y
EL TRIUNFO DEL CAOS
Gema Martín Muñoz
El análisis de Io que está ocurriendo en Oriente Medio nos vaticina los más siníestros
augurios si Ia llamada comunidad internacional no es capaz de reaccionar y poner un
límite a Ia actuación de EEUU en Irak y de Israel en Palestina. Tanto el asesinato del
chayj Yassin como Ia persecución desencadenada contra Múqtada al Sáder Io que nos
muestran es una opción descarnada en contra de Ia lógica política y a favor del caos generalizado en esta región del mundo. La aplicación de Ia teoria del caos permite el ejercicio
de Ia impunidad total. Todo se justifica para responder al caos. Por ello se eliminan
interlocutores, como es el caso del chayj Yassin, o se inflaman los espíritus, como es el
caso de los seguidores de Múqtada al Sáder. En ambos casos, se trata de un mismo pensamiento colonialista que sólo persigue, con el único instrumento de Ia fuerza, someter a
Ias poblaciones autóctonas y que excluye toda lógica política de negociación con el
identificado como enemigo.
Ariel Sharon, con el impune asesinato del chayj Yassin —seguido del de Abdelaziz
Rantisi—, ha jugado claramente Ia carta del caos ante su repliegue unilateral de Gaza,
al igual que Io ha hecho en Cisjordania frente a Al Fateh, garantizándose Ia ausencia de
un interlocutor. El chayj Yassin, en contra de Io que habitualmente entiende Ia prensa
internacional, había sido un actor sustantivo en Ia consecución de Ias diferentes tréguas
logradas con Hamás en los dos últimos años, así como estaba siendo una pieza clave en
Ia estructuración de un Gobierno palestino viable en alianza com Ia Autoridad
Nacional Palestina de cara al posible repliegue unilateral israelí en Gaza. Unido a
esto, representaba en el seno de Hamás una voz que, frente a Ias más radicales, se había
manifestado en diversas ocasiones a favor de solucionar el conflicto si Israel se retiraba
de los territorios ocupados en 1967.
Es decir, a diferencia de otras voces en su propio movimiento, ponía toda su
autoridad moral y espiritual a favor de una solución más realista que Ia de reclamar Ia
recuperación de toda Ia Palestina histórica, Era un interlocutor creíble y necesario. Su
asesinato no ha logrado más que radicalizar a Ias bases y favorecer Ias actitudes
reactivas más intransigentes. Es más, ha favorecido el acercamiento entre Ias Brigadas
de Al Aqsa (procedentes de Al Fateh) con Hamás, no sólo porque anunciaron que
responderían con esta organización a dicho asesinato, sino porque incluso muchos cuadros de dichas Brigadas se han pasado a Hamás en Gaza. Es decir, Sharon ha buscado
que Gaza se convierta en una anarquía de grupos palestinos enfrentados, sin posibilidad
de control por parte de Ia Autoridad Nacional Palestina, sumergida progresivamente en
una enfrentamiento civil "libanizado". A Ia vez que los atentados suicidas que se
seguirán permitan seguir ejerciendo a Israel su total impunidad, justificada por "la
guerra" contra el terrorismo que él mismo no deja de alimentar.
En Irak, Ia situación desencadenada por EE UU en Faluya y en las ciudades
chiíes del sur responden a Ia misma lógica. En Faluya, Ia asunción de Ia revancha y el
castigo colectivo por el asesinato de cuatro paramilitares norteamericanos ha seguido el
más fiel guión del Ejército israelí en su acción contra el campo de refugiados palestinos
de Yenín. El sitio de Ia población, los bombardeos con Apaches y Ia matanza de
multitud de civiles, incluidos niños, seguido de una huida desesperada de miles de
142
familias que son ya hoy civiles obligados a abandonar sus hogares por una acción
militar, son métodos propios de Ia barbarie y no de Ia civilización que se arrogan
representar. Los cuatro americanos asesinados en Faluya no eran simplemenle "civiles", eran paramilitares de Ia Blackwater Security Consulting, compañía de mercenarios
contratada por Ia CIA para llevar a cabo operaciones de "contrainsurgencia", y que en
Irak cuenta con unos 400 comandos armados. En Io que concierne a Ia resistencia
iraquí, esos paramilitares no son civiles, sino objetivos militares de Ia ocupación. Y Ia
ocupación en el denominado triángulo suní ha brutalizado a Ia población civil de esa
región desde el primer momento, de ahí que Ia barbarie genere barbarie y algunos en
Faluya celebrasen el espectáculo del horror en torno a los cuatro cuerpos americanos
descuartizados y colgados. Pero Ia brutal revancha del Ejército de los EE U U contra los
civiles de Faluya es completamente inaceptable desde Ia ley internacional y el respeto
de los derechos humanos, y no puede engendrar más que un odio cargado de violencia.
Que no traten de decirnos que sólo han luchado contra los "insurgentes" porque, aunque
esas imágenes no hayan circulado como si Io hicieron intensivamente Ia de los cuatro
americanos asesinados, Al Yazira nos ha dado a conocer demoledoras fotos de esos
inocentes niños de Faluya asesinados en los bombardeos americanos. ¿No habían
llegado a Irak para liberar a los iraquíes de Ia violación de los derechos humanos que
ejercía Saciam Husein? Toda Ia vox pópuli iraquí clama hoy que no hay diferencia entre
los americanos, Sadam Husein y Ariel Sharon.
Por otro lado, aunque los americanos nos hayan mostrado desde hace un año que
siguen una política ciega y autista en Irak, pensar que Ia provocación contra Múqtada al
Sáder y sus seguidores ha sido un error más que ha encendido Ia Intifada chií, seria muy
inocente por nuestra parte. Sería más inteligente pensar que ha sido una provocación
buscada a favor del caos y Ia fuerza y en contra de Ia lógica política. La decisión de
cerrar Ia publicación de este movimiento, que se hizo sin informar al ministro iraquí de
Comunicación; de detener a su portavoz, Mustafá al Yaqubi, y de disparar contra los
manifestantes que reaccionaron en contra de tal medida produciendo los veinte primeros
muertos han respondido a un objetivo buscado: que Ia Intifada comenzase. Pero, eso si,
presentándola como Ia actitud violenta de los "radicales", "fanáticos", "extremistas"
chiíes. De hecho, Múqtada al Sáder, siguiendo el guión ya de sobra conocido, ha pasado
de ser "radical" a "fuera de Ia ley", "criminal" y proximamente "terrorista". En consecuencia, puede ser objeto de un asesinato extrajudicial en cualquier momento.
A veces se tiene Ia impresión de estar viviendo el mundo al revés. ¿Qué sensación se
tiene, si no, cuando una fuerza que ilegítimamente está ocupando un país se permite
hablar de "actos ilegales" y de iraquíes "fuera de Ia ley"? ¿De que ley? Aunque Múqtada
al Sáder representase a uno de los liderazgos chiíes más expresamente contrarios a Ia
ocupación, no por ello había abandonado su línea de resistencia armada. Al acabar con
la lógica política, Bremer há invertido expresamente en su radicalización. ¿ Por qué?
Los americanos han visto como progresivamente Ia oposición a Ia
preconstitución (fabricada por ellos y el Gobierno provisional iraquí que ellos mismos
han nombrado) y a su plan para el 30 de junio ha ido enfrentándose a una oposición
política cada vez más firme y organizada. Muchos líderes chiíes Ia han ido expresando
de manera cada vez más nítida y públicamente, pidiendo Ia unión de suníes y chiíes para
que los americanos salgan del país. Y ello porque esos iraquíes saben que el plan para el
30 de junio consiste en que el supuesto "fin de Ia ocupación" significa Ia construcción
de 14 bases militares norteamericanas que alojarán 110.000 soldados, estructura
sustancial para el control de su "Gran Oriente Medio". Y saben que Ia supuesta
143
"devolución de Ia soberania" no integrará al Ejército iraquí, que quedaría al Ejército
iraquí que quedaría bajo mando militar norteamericano; y también saben que los fondos
para Ia reconstrucción tampoco pasarían a soberanía iraquí, sino que serían
administrados por Ia nueva Embajada de EE U U en Bagdad, Ia más grande del mundo,
albergando a 3.000 funcionarios. Muchos iraquíes, y no sólo los chiíes, no iban a tolerar
dicho fraude, y los americanos Io saben. Por ello, apostando por el caos, los americanos
pueden imponer sin limites Ia fuerza para restablecer el "orden" y aniquilar a sus
enemigos, como hace Israel, e incluso, si con Ia fuerza y Ia impunidad no les es posible
llevar a cabo Ia "operación" prevista para el 30 de junio, pueden decir que el caos que
han creado los extremistas y fanáticos lo hacen imposible.
Esto es siempre mejor de cara a Ia campaña electoral de Bush que un fracaso
incontrolable llegado el momento. El caos y Ia inseguridad imposibilitan Ia dinámica de
Ia negociación política, Ia estructuración de un discurso político alternativo, Ia
emergencia de interlocutores y un liderazgo político estable iraquíes, cuyo objetivo seria
siempre acabar verdaderamente con Ia ocupación. Sin embargo, el caos permite Ia
impunidad, la depredación económica de Irak a través de su privatización y el desarrollo
de unas ganancias ingentes de Ia industria militar y armamentística americana. En
conclusión, una política ciega y suicida que alimenta Ia radicalización, Ia violencia y el
terrorismo para su siniestro beneficio, y que no creeríamos posible si no Ia estuviésemos
observando y tolerando ya desde hace tiempo en los territórios palestinos.
Gema Martin Munoz es profesora de Sociologia del
Mundo Árabe e Islámico de Ia Universidad Autónoma
de Madrid.
144
ANEXO 9
MEDO PROVOCA EFEITO DOMINÓ NA CIDADE
Boatos sobre Beira-Mar e ameaças concretas de traficantes fazem as pessoas misturarem
real e imaginário
O pânico tomou conta da cidade num efeito dominó, transformando os cariocas
em reféns do medo. Além das ameaças concretas, as pessoas se deixaram levar por uma
forte onda de boatos. Um fenômeno social que, segundo os psiquiatras, acontece quando
medo real e o imaginário se misturam. Os cariocas resolveram agir de maneira
preventiva, não deixando os filhos irem para o colégio, faltando ao trabalho ou se
fechando em casa.
O clima de insegurança espalhou-se e as pessoas buscaram desesperadamente
informações sobre o aumento do uso da telefonia móvel, a Telemar divulgou que
chegou a dobrar o número de ligações feitas através de telefones fixos. Em relação a
segunda-feira da semana passada, o aumento no Rio foi de 98%. Em Niterói, de 102% e
em São Gonçalo de 147%.
O temor foi real em alguns pontos da cidade em que homens armados
ameaçaram comerciantes ou ordenaram o fechamento de escolas. Na Ilha do
Governador, traficantes ameaçaram invadir o Iate Clube Jardim Guanabara. Por
orientação da polícia, a diretoria suspendeu ontem todas as atividades do clube.
Durante todo o dia a boataria dava conta de que o fechamento do comércio fora
determinado por causa da morte do traficante Fernandinho Beira-Mar, da mãe dele e até
de algum de seus cúmplices. Houve também quem dissesse que o bandido teria
conseguido fugir do Batalhão de Choque e estaria espalhando o terror pela cidade. Mas
essas versões não passavam de boatos. Beira-Mar continua vivo, a mãe morreu há 20
anos, nenhum de seus cúmplices foi morto e o bandido continua preso.
Até um policial militar, que trabalha na Zona Sul, disse que a ordem de
fechamento do comércio veio de Fernandinho Beira-Mar, porque a PM não está
cumprindo as exigências dele no Batalhão de Choque, como a permissão para a visita de
parentes. Diante disso, ele teria determinado que todos os morros abastecidos por ele
aderissem ao movimento.
145
Outro boato que circulou pela cidade era que ontem o traficante estaria
aniversariando. Outra mentira. Beira-Mar fez aniversário em julho.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, da Fundação Getúlio Vargas e
professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse que houve uma histeria
coletiva. Já a psiquiatra Alice Bittencourt acredita que momentos como o que o carioca
enfrentou ontem fazem desencadear medos interiores.
A população precisa ver que a realidade é que somos maioria em relação aos
bandidos. Não podemos ficar a mercê de uma minoria – disse.
Para o historiador Milton Teixeira, a situação de ontem só teve paralelo durante
a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), quando a cidade era obrigada a ficar às
escuras durante simulações de ataque aéreo. Segundo ele, nem no golpe militar de 1964
o receio levou o comércio a fechar dessa maneira:
Estava dando uma aula e todos os alunos resolveram embora. A cidade nunca
vive um dia como esse.
146
ANEXO 10
Controle Externo do Judiciário
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio de Mello, ao
comentar as propostas existentes para a instituição do chamado controle externo da
magistratura, pôs em evidência a circunstância de que, ao criarmos um órgão
controlador do Poder Judiciário, seríamos levados, talvez a curto prazo, a criar um outro
órgão controlador e assim por diante, ad infinitum.
E, realmente, assim é. Se entendemos fundamental que tenhamos um órgão que
controle e fiscalize o Poder Judiciário, esse órgão, ao se desviar de suas finalidades,
estaria a requerer a existência de órgão que lhe seja superior.
Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentais tem
sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade, como – no caso da
magistratura – se todas as mazelas decorrentes da atividade jurisdicional fossem o
resultado da má atuação dos nossos juizes.
Se as causas entregues à decisão da Justiça se eternizam com as características,
muitas vezes, de verdadeira denegação de justiça, importando, na área criminal, na
impunidade de delinqüentes de todas as espécies, semelhante situação não pode ser
imputada, pura e simplesmente, à atuação dos juizes. Ela é resultante de omissões que
impediram, até hoje, a modernização do sistema judiciário, amarrado, ainda, ao espírito
das remotas Ordenações do Reino, do Brasil Colônia.
Diante do aumento do número de demandas, na área criminal e em outras áreas,
como civil, comercial, administrativa etc., manteve-se a mesma organização judiciária
que qualificou o século passado, herdeiro de um sistema incapaz de responder às
premências de uma sociedade em constante ascensão.
Ao invés de ir-se ao cerne da questão – que é uma real descentralização da
atividade judiciária – passou à criação de uma incipiente Justiça de pequenas Causas,
numa discriminação capitalista do que sejam causas grandes ou pequenas, tendo em
vista seu valor expresso em moeda corrente.
147
Os resultados obtidos não foram expressos, de tal arte que a situação de crise
perdurou, com reflexos negativos em todas as áreas de sua atuação. Nessa mesma linha
de pensamento, os tribunais de alçada que se constituíram numa esperança para o
desafogo da Justiça de segunda instância, começam a desaparecer, absorvidos pelos
tribunais de Justiça.
Assim, no campo da reforma seria importante que os juizes de primeira instância
e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em pequenos distritos,
resultantes da divisão das grandes cidades. Os tribunais de Justiça seriam também
descentralizados, atuando em regiões do estado, estrategicamente selecionadas.
O órgão harmonizador da jurisprudência, em nível estadual, permanecera nas
capitais. O Superior Tribunal de Justiça passaria a atuar como o responsável, em nível
federal, pela nivelação da jurisprudência.
Ao Supremo Tribunal Federal incumbir-se-iam tão somente, as questões
constitucionais.
É evidente que, paralelamente, deveriam ser revistos os códigos processuais,
para que as demandas pudessem ser agilizadas na colheita da prova, perante os juízos
inferiores, e, depois, nas decisões dos colégios superiores.
Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com um
sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os jurisdicionados,
sempre próximos dos juízos, advogados e membros do Ministério Público.
Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa
constitucionalidade, pois, segundo o artigo 200 da Carta Magna brasileira, os poderes da
União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes e harmônicos entre si.
Como, portanto, criar-se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário, a
ele se sobreponha? De que natureza será esse órgão? OU será mais um poder da União?
São pontos a refletir e que evidenciam, senão a desnecessidade do órgão
controlador, a sua descaracterização institucional.
Para chagarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso que
sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais, para que, com uma
descentralização para valer, de juízos e tribunais, fiquem próximos partes, magistrados e
demais operadores do Direto, tomando, assim, realmente efetiva, uma fiscalização que,
ao invés de vir de cima para baixo, será feita paralelamente aos juízos e tribunais.
148
Mais do que um órgão controlador, necessitamos, isto sim, de um sistema de
controle, abrangente e não burocratizado. E aí de apelar-se à participação popular, pedra
de toque do moderno Estado Democrático de Direto.
149
RESUMO
GOMES, Rosa Lucia Rosa. Posposição do sujeito no Português e
no Espanhol: um estudo contrastivo. Tese de Doutorado.
Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras, 2006.
Tradicionalmente, o português e o espanhol são vistos como
línguas de ordem variável, nas quais o sujeito pode estar anteposto ou
posposto ao verbo. Atualmente, os lingüistas questionam essa aparente
liberdade de posição e mostram que cada possibilidade poderia ser
explicada a partir de motivações estruturais e discursivas que estariam
atuando na escolha de uma ou outra ordem. Este estudo tem como
preocupação principal demonstrar, através do arsenal teórico do
funcionalismo, que a ordem pós-verbal e pré-verbal não é realizada
arbitrariamente, mas que é motivada e pode ser correlacionada a um
conjunto de fatores de diversas ordens que se associam às intenções
do redator e com a capacidade de processamento do leitor. A escolha
de uma ou outra ordem satisfaz as necessidades cognitivas e
comunicativas.
O estudo tem como base teórica o funcionalismo americano.
Através do instrumental da Teoria laboviana, busca-se confirmar
estatisticamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada
e os fatores que propomos como preferenciais das estruturas SV ou
VS nas duas línguas. O corpus se constitui de dois gêneros diferentes:
artigos de opinião e notícias. Os textos foram coletados de jornais de
distribuição nacional, o Jornal do Brasil e O Globo, para o Português.
Para o Espanhol foram coletados textos de circulação internacional, do
jornal El País.
A análise apresentada neste estudo pode contribuir para uma
melhor compreensão do gênero artigo de opinião e textos de notícias e
possibilita futura aplicação das nossas observações para o ensino do
espanhol como L2 e para o ensino do português.
150
RÉSUMÉ
GOMES, Rosa Lucia Rosa. Position du sujet em portugais et em espagnol:
une étude contrastive. Thèse de Doctorat.
Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras, 2006.
Traditionnellement, le portugais et l’espagnol sont considérés
comme des langues d’ordre variable, où le sujet peut être placé avant
ou après le verbe. Aujourd’hui, les linguistes mettent em question
cette apparente liberté de position et affirment que chaque possibilité
peut être expliquée à partir de motivations structurelles et discursives
qui auraient influence sur le choix de l’ordre. À travers l’arsenal
théorique du fonctionnalisme, cette étude a surtout l’intention de
démontrer que l’ordre postverbal ou préverbal n’est pas utilisé de
façon arbitraire, mais est motivé et peut être associé à un ensemble de
facteurs d’ordres divers qui ont un rapport aux intentions de l’auteur et
à la capacité de compréhension du lecteur. Le choix des ordres
satisferait alors leurs besoins cognitifs et communicatifs.
La base théorique de ce travail est le fonctionnalisme américain.
Avec l’instrumental de la théorie labovienne, on a essayé de confirmer
statistiquement les correlations entre l’ordre marqué et non-marqué et
les facteurs que nous proposons comme préférenciels des structures
sujet-verbe ou verbe-sujet dans les deux langues. Le corpus utilisé est
constitué de deux genres différents: articles d’opinion et reportages.
Ces textes ont été tirés de journaux de distribution nationale, Jornal do
Brasil et O Globo, pour la langue portugaise; pour la langue
espagnole, on a choisi des textes de circulation internationale, du
journal El País.
L’analyse que nous présentons dans cette étude peut contribuer à
une meilleure compréhension du genre article d’opinion et textes de
reportages, ce qui pourra possibiliter l’application de nos observations
à l’enseignement de l’espagnol comme L2 et à l’enseignement du
portugais.
151
ABSTRACT
GOMES, Rosa Lucia Rosa. Posposição do sujeito no Português e
no Espanhol: um estudo contrastivo. Tese de Doutorado.
Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras, 2006.
Traditionally, Portuguese and Spanish have been seen as variable
languages, in which the subject can be placed before or after the verb.
Nowadays linguists contest this apparent free position and show that
each one could be explained by structural and discourse motivations
which would act to choose one or the other order. This study, through
a functionalist perspective, wants to demonstrate mainly that the pre
and post-verbal orders do not occur at random, but are motivated.
These orders can be related to a number of different factors which are
associated to the writer intentions and to the competence of carrying
out information by the reader. Choosing one or the other order
satisfies the cognitive and communicative needs.
This study is theoretically based on the American functionalism.
Through labovian Theory, we want to confirm statistically the
correlation between the marked and non-marked orders and the factors
we present as the main ones in the structures SV or VS in both
languages. The corpus is composed by two different genders: opinion
articles and the news. The Portuguese texts were taken from nationally
distributed newspapers , o Jornal do Brasil and O Globo. The Spanish
ones were taken from international texts from the newspaper El País.
The analysis presented in this study may contribute to a better
comprehension of opinion articles and the news and enable future
applies to the teaching of Spanish as FL and to the teaching of
Portuguese..
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UM ESTUDO CONTRASTIVO Por Rosa Lucia Rosa Gomes