RESSALVA
Atendendo solicitação da autora, o texto
completo desta tese será
disponibilizado somente a partir de
15/02/2016.
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ÉRIKA CECÍLIA SOARES OLIVEIRA
GÊNERO, VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E TEATRO DO(A)
OPRIMIDO(A):
construindo
novas
intervenção social
ASSIS
2013
possibilidades
de
pesquisa
e
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ÉRIKA CECÍLIA SOARES OLIVEIRA
GÊNERO, VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E TEATRO DO(A) OPRIMIDO(A):
construindo novas possibilidades de pesquisa e intervenção social
Tese apresentada à Faculdade de Ciência e Letras
de Assis – UNESP – Universidade Estadual
Paulista para obtenção do título de doutora em
Psicologia (Área de conhecimento: Psicologia e
Sociedade)
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima Araújo
ASSIS
2013
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP.
Oliveira, Érika Cecília Soares
O48g
Gênero, violência contra a mulher e teatro do(a)
oprimido(a): construindo novas possibilidades de pesquisa e
intervenção social / Érika Cecília Soares Oliveira. Assis,
2013
276f. : il.
Tese de Doutorado – Faculdade de Ciências e Letras de
Assis - Universidade Estadual Paulista.
Orientadora: Drª Maria de Fátima Araújo
1. Relações de gênero. 2. Violência contra a mulher. 3.
Violência conjugal. 4. Teatro do(a) oprimido(a). I. Título.
CDD 301.412
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Para Késia
minha amor
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AGRADECIMENTOS
Direta ou indiretamente, muita gente contribuiu para que esse trabalho se tornasse
cada vez mais importante para mim e para algumas pessoas. Passo agora a agradecê-las por
terem tido a bondade de fazer parte dele. Assim, agradeço em primeiro lugar à minha
orientadora, Maria de Fátima Araújo, por ter topado se lançar junto comigo nesse desafio que
é descobrir uma metodologia nova para um tema tão complexo como a violência contra a
mulher e por ter amparado as decisões mais difíceis que tive que tomar ao longo dessa
travessia. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que me
permitiu realizar essa pesquisa com dignidade. Às professoras Ana Flávia Pires Lucas
D´Oliveira e Silvia Balestreri Nunes que compuseram a minha banca de qualificação e cujas
sugestões me possibilitaram transformações profundas no meu modo de pensar a minha
pesquisa e a mim mesma como pesquisadora. Àquele(as) que se dispuseram a acreditar em
mim e me acompanhar, semanalmente, durante quase dois anos. A essas pessoas só posso
agradecer profundamente pela paciência que tiveram comigo. Elas fizeram parte do grupo de
Teatro do(a) Oprimido(a) que montei e permaneceram nele até o final. São elas: Viviane
Suzano Martinhão, Láisa Freitas dos Santos, Flávia de Azevedo Silva Ribeiro, Késia dos
Anjos Rocha e Vinícius Matsunaga Braz. Agradeço também à Karina Scaramboni, Arielle
Barbosa, Stefânia Rosa Santos e Carol por terem participado, junto com o grupo, da leitura
dramática do esquete Sou mulher e não serei outra coisa e ao Ricardo Figueredo Bagge por
tê-las preparado. À Lorraine Fernandes que participou de algumas apresentações e construiu
elementos para o cenário com muito primor. No decorrer desse caminho dois encontros foram
muito importantes e me constituíram. A pesquisa que apresento aqui tem traços,
aproximações, aspirações que foram forjadas a partir deles: o primeiro encontro foi com a
professora Silvia Balestreri Nunes que, democraticamente introduziu-me no universo do
Teatro do(a) Oprimido(a) e, em pé de igualdade, permitiu-me a troca de ideias e encontros no
Brasil (e também fora dele) para que esse diálogo não acabasse, dando-me segurança para que
eu pudesse olhar de maneira crítica para esse método. O segundo encontro foi com a
professora Sandra Maria da Mata Azêredo, ele não foi apenas presencial: através da leitura de
seus artigos reconstruí meu modo de olhar para a pesquisa, o que me auxiliou na tomada de
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certos posicionamentos que atualmente contribuem na construção da minha singularidade
como pesquisadora. Como se agradece pessoas como essas? Agradeço à professora Luísa
Saavedra que me orientou em Portugal, me introduzindo no coração do Porto e da vida
portuguesa, fazendo-me entender o significado da palavra saudade. Agradeço à Amélia e
Sandro que emprestaram o figurino para as apresentações e tornaram-se companhias queridas.
Também ao grupo de ritmos Mergulhatu que emprestou seus figurinos. Aos funcionários do
Setor de Manutenção da UNESP-Assis Carlos Alberto de Araújo e Roberval Peres da Silva
que, bondosamente, construíram alguns dos elementos que compuseram o cenário da peçafórum. À Marina Paes que se responsabilizou pelas minhas coisas quando estive fora e
tornou-se uma amiga querida, à Lívia Gonsalves que sempre foi solícita, auxiliando-me com
toda e qualquer dúvida que eu possuía. À Cecília Boal que tem aberto o espaço do blog do
Instituto Boal para que eu coloque as minhas opiniões a respeito do método criado por seu
companheiro. À Karina Gomes Bertolino que se lembrou de mim ao me apresentar a obra da
Lídia Jorge, O dia dos prodígios. Ao meu amigo Celso Saraiva Júnior agradeço por toda a
disponibilidade afetiva que teve e tem comigo, ainda que dizer obrigada seja pouco para
definir a minha gratidão. À Rita de Cássia Vieira Borges, Marco Flávio de Almeida e Débora
Cordeiro agradeço pela amizade. Para finalizar, aos grupos que se dispuseram a abrir as portas
de seus trabalhos e locais de estudos para que eu levasse a peça-fórum e contribuíram para
que eu desenvolvesse um olhar mais aguçado sobre o tema, eu só tenho a agradecer.
Finalmente, agradeço a todos(as) aqueles(as) que durante a minha trajetória olharam para esse
trabalho com carinho e acreditaram que ele poderia ser mais um dispositivo interessante para
o enfrentamento da violência contra a mulher.
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OLIVEIRA, Érika Cecília Soares. GÊNERO, VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E
TEATRO DO(A) OPRIMIDO(A): construindo novas possibilidades de pesquisa e
intervenção social. 2013. 276 f. Tese (Doutorado em Psicologia). – Faculdade de Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2013.
RESUMO
A violência contra a mulher, que ocorre no âmbito doméstico, conjugal ou familiar é a mais
frequente forma de violência de gênero. Este fenômeno é hoje mundialmente reconhecido
pelos organismos de Saúde (OMS, OPAS) e de Direitos Humanos como um problema social
grave, com sérias consequências para a saúde e qualidade de vida das mulheres e também dos
homens. Com a promulgação da lei 11.340/06, também conhecida como Lei Maria da Penha,
colocou-se como necessidade a discussão desse tema junto à população para que a mesma não
só pudesse conhecer a lei como também pudesse repensar suas concepções sobre
feminilidades, masculinidades e, é claro, sobre violência. Um dos objetivos desse trabalho foi
justamente fomentar discussões a respeito da violência contra mulher dentro de uma relação
amorosa ou conjugal heterossexual bem como conhecer os discursos sobre gênero, violência,
poder, casamento, amor, feminilidades e masculinidades junto a grupos populacionais de
algumas cidades do interior paulista. Como referencial deste estudo foram utilizadas teorias
feministas que permitiram que o gênero fosse compreendido como o aparato de poder por
meio do qual a produção e a normatização do feminino e masculino tomam lugar a partir de
formas variadas, construindo verdades e regulações sobre corpos de mulheres e de homens. A
trajetória metodológica dessa pesquisa também pretendeu inaugurar um novo dispositivo de
investigação e intervenção social dentro da Psicologia, a saber, o Teatro do(a) Oprimido(a) de
Augusto Boal, na modalidade de Teatro Fórum (TF). No TF a plateia é chamada para subir no
palco e substituir o(a) protagonista/oprimido(a), tentando resolver seu problema como se
estivesse em seu lugar. Para realizar as cenas (esquete), formei um grupo com estudantes
universitários(as) interessados no fazer teatral que se reuniu, semanalmente, no período de
março de 2010 a dezembro de 2011. Junto com eles(as), construí um esquete de TF intitulado
“Segura meu coração” que continha pequenas cenas de violência entre Branca e José Pássaro,
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personagens retirados do romance O dia dos prodígios da escritora portuguesa Lídia Jorge. O
esquete foi apresentado para os seguintes grupos: catadores(as) de material reciclável de uma
associação e de uma cooperativa, alunos(as) de um programa de alfabetização, alunos(as) de
um curso profissionalizante e, por fim, profissionais da saúde. As apresentações aconteceram
no próprio local de trabalho ou de estudo desses grupos que foram acionados para entrar no
palco e procurar uma estratégia para que Branca conseguisse se livrar da situação de
violência. Essas intervenções aconteceram com pessoas da plateia entrando em cena e
transformando-se naquilo que Boal denominou “espect-atores/atrizes”, isto é, elas eram a um
só tempo atores/atrizes e espectadoras. Também foram consideradas as intervenções daquelas
que permaneceram sentadas em suas cadeiras, mas que incentivaram Branca a agir ou, ainda,
que participaram apenas no final das apresentações, quando abri para conversarmos numa
roda. Todas elas foram registradas por meio de filmagem e anotações em diário de campo.
Esse trabalho não apenas discorre sobre os discursos produzidos pela plateia, como também
avalia o método criado por Boal para o debate da violência contra a mulher, mostrando a
importância de dar visibilidade a esse problema através de metodologias alternativas.
Palavras-chave: Gênero. Violência contra a mulher. Violência conjugal. Teatro do(a)
Oprimido(a). Teatro Fórum.
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OLIVEIRA, Érika Cecília Soares. GENDER, VIOLENCE AGAINST WOMEN AND
THE THEATRE OF THE OPPRESSED: constructing new possibilities of research and
social intervention. 2013. 276 p. Thesis (Doctorate in Psychology) – Faculty of Sciences and
Languages, São Paulo State University, Assis, 2013.
ABSTRACT
Violence against women, which occurs in the domestic, conjugal or familiar ambit, is the
most frequent form of gender violence. This phenomenon is nowadays worldwidely
recognized by organizations of health (WHO, PAHO) and human rights as a grave social
problem, with serious consequences for health and quality of life for women and also for men.
With the promulgation of Law 11340/2006, also known as Maria da Penha Law, it was put as
a need the discussion of this theme together with the population so that they could not only
know the law but also rethink their conceptions about femininities, masculinities and, of
course, about violence. One of the objectives of this work was exactly to foment discussions
on violence against women in a heterosexual loving or conjugal relationship as well as to
know the discourses on gender, violence, power, marriage, love, femininities and
masculinities of population groups in some towns in the interior of the State of São Paulo,
Brazil. As a reference for this study it was used feminist theories which made possible to
understand gender as an apparatus of power by means of which the production and the
standardization of masculine and feminine take place from several forms, constructing truths
and regulations of men’s and women’s bodies. The methodological trajectory of this research
also intended to inaugurate a new device for investigation and social intervention in
Psychology, namely, Augusto Boal’s Theatre of the Oppressed, in its modality Forum
Theatre. In the Forum Theatre the audience is invited to go up on the stage and substitute the
protagonist/oppressed, trying to solve his/her problem as if they were in his/her place. In order
to perform the scenes (sketch) I gathered a group of university students interested in doing
theatre who met weekly from March of 2010 to December of 2011. Together with them I
made a Forum Theatre sketch entitled “Segura meu coração” (“Hold my heart”), which
contained short violence scenes between Branca and José Pássaro, characters taken from the
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novel O dia dos prodígios (The day of the prodigies), by the Portuguese writer Lídia Jorge.
The sketch was performed for the following groups: recyclable material collectors of an
association and of a cooperative society, students of an alphabetizing program, students of a
professionalizing course and, finally, health professionals. The performances took place in the
proper study or work places of these groups, which were instigated to go to the stage and look
for a strategy that would make Bianca get rid of the violence situation. Those interventions
happened with people from the audience entering the scene and turning into what Boal called
“spect-actors/spect-actresses”, that is to say, they were at the same time actors/actresses and
spectators. It was also considered the interventions from those who remained sitting on their
chairs, but who stimulated Bianca to act and also those who took part only in the end of the
performances, when I opened a space for talking in a circle. Moreover, this work tried to
reflect on another modality created by Boal – The Rainbow of Desire – a method of theatre
and therapy. It tried to establish similarities and differences in relation to Psychodrama and,
mainly, to reflect on the use of this practice, the ethical implications and the cautions it
requires.
Keywords: Gender. Violence against women. Conjugal violence. Theatre of the Oppressed.
Forum Theatre.
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