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05/08/2015 - 05:00
Recessão começou no 2º tri de 2014 e deve
durar pelo menos até fim de 2015, diz FGV
Por Rafael Rosas
O ciclo recessivo em que o Brasil entrou no segundo trimestre do ano passado deverá durar pelo menos
até o fim do ano. A avaliação é de Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e integrante do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace).
Relatório do Codace, divulgado ontem, afirma que a economia brasileira entrou em um ciclo de recessão
no segundo trimestre de 2014. "Até o próximo ano, não parece nem um pouco provável que haja
condições de reverter esse ciclo. Para os próximos seis meses já estão dadas as condições", disse
Picchetti.
O Codace foi criado em 2008 pela FGV com o objetivo de
determinar uma cronologia de referência para os ciclos
econômicos brasileiros, estabelecida pela alternância entre
datas de picos e vales no nível da atividade econômica.
Embora tenha sido criado e receba apoio operacional da
FGV, através do Ibre, as decisões do comitê são
independentes.
Segundo Picchetti, a atual recessão tem um aspecto
diferente de outras recessões vistas no país nos últimos 20 anos. Agora, diz ele, não se tem um fato claro
que ajude a determinar a desaceleração da economia brasileira, como aconteceu com as crises locais que
vieram na esteira de eventos como a crise mexicana e a crise russa, na década de 90, a crise do
racionamento de energia, em 2001, e a crise internacional de 2008.
Dessa vez, argumenta Picchetti, a ausência de fatores exógenos tornou difícil cravar o início da recessão,
que só foi determinada agora pelo Codace. Para essa definição, dois fatores estavam pendentes: a nova
metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Produto Interno Bruto
(PIB), que poderia alterar os dados do terceiro e quarto trimestres do ano passado, e o comportamento
do mercado de trabalho, que demorou a desaquecer, devido à manutenção de políticas de estímulo ao
emprego e ao bom comportamento do setor de serviços.
Agora, diz Picchetti, o país parece estar diante de um quadro recessivo de duração mais longa, mais
próximo das três recessões registradas pelo Codace na década de 80, que duraram em média 8,7
trimestres, enquanto as cinco recessões registradas a partir de 1995 foram de 2,8 trimestres. "Os sinais
ainda são muito mais de aprofundamento [da crise] do que de retomada [do crescimento]", disse
Picchetti sobre a atual recessão, que já dura cinco trimestres.
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Segundo o pesquisador, não há atualmente mecanismos disponíveis para enfrentar a recessão, ao
contrário de 2008, quando foram usados estímulos econômicos que ajudaram o país a voltar a uma rota
de crescimento.
"Na linguagem de política econômica, acabaram os graus de liberdade de política econômica", disse
Picchetti. "Não tem mais o lado externo ajudando, não tem mais o lado fiscal, porque o ajuste é
necessário, e não tem mais o lado monetário, porque a inflação segue acima do centro da meta há quatro
anos. "
Picchetti também ressaltou que nesse cenário, o ajuste fiscal atualmente em curso segue necessário
como uma condição mínima para aproveitar a retomada de eventual cenário externo favorável. "O ajuste
é uma necessidade. "
A conclusão de que a economia brasileira entrou em recessão a partir do segundo trimestre de 2014 foi
apontada pelo Codace durante reunião realizada no dia 30 de julho. O comitê é formado por Affonso
Celso Pastore, coordenador do grupo e ex-presidente do Banco Central; Edmar Bacha (Iepe-Casa das
Garças); João Victor Issler (EPGE-FGV); Marcelle Chauvet (Universidade da Califórnia); Marco Bonomo
(Insper-SP); Paulo Picchetti (EESP-FGV); e Regis Bonelli (Ibre-FGV).
De acordo com relatório divulgado ontem, o Codace indicou que houve um pico no ciclo de negócios
brasileiro no primeiro trimestre do ano passado, que significou o fim de uma expansão econômica de 20
trimestres e a entrada em uma recessão.
No período que vai do início da recessão no segundo trimestre do ano passado até o primeiro trimestre
de 2015, observou-se uma taxa média de contração de 1,1% em termos anualizados, algo similar ao
observado nas recessões de 1998-1999 e de 2001, e significativamente menor que a observada na curta e
intensa recessão de 2008-9 (-11,2% ao ano)
"Levando-se em conta este mesmo período hipotético, a extensão da atual recessão seria de pelo menos
quatro trimestres, portanto mais longa que a duração média das cinco recessões anteriores", afirma o
relatório do comitê.
De acordo com o Codace, a duração da expansão de 2009-2014 foi semelhante à anterior, ocorrida entre
o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro trimestre de 2008 (21 trimestres). O crescimento médio
trimestral de 4,2%, em termos anualizados, foi um pouco inferior ao observado nos dois períodos
anteriores de expansão, ocorridos entre o primeiro e o último trimestres de 2002 (5,3%) e entre 2003 e
2008 (5,1%).
Historicamente, de acordo com o relatório, a duração dos ciclos de negócios brasileiros mostra tendência
de diminuição a partir de meados dos anos 90.
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