ARTE ABSTRATA O INTRÍNSECO DA INFÂNCIA
Patrícia da Silva Faria
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EMEI Professora Maria Barbosa de Souza-SME
Comunicação- Relato de Experiência
Resumo: Este relato apresenta a experiência vivenciada em um projeto com o tema Arte
Abstrata, realizado na Escola Municipal de Educação Infantil Professora Maria Luiza Barbosa
de Souza com alunos de idade entre 1 a 6 anos . O desenho é a primeira forma de registro e
comunicação na educação infantil e muitas vezes no príncipio da infância se apresenta de
forma abstrata, pensando nisso entendemos que a abstração é algo intrínseco, essencial para a
criança. Neste sentido, desenvolveu-se o projeto “ Arte Abstrata o Intrínseco da Infância”,
tendo como inspiração e estudo obras dos artistas: Wassily Kandinsky, Piet Mondrian,
Jackson Pollock, Alexander Calder, Abraham Palatnik.
O trabalho com Arte na Educação Infantil visa ampliar o repertório de imagens das
crianças, estimular a capacidade destas de realizar apreciação artística e de leitura dos
diversos tipos imagens ligadas às Artes Plásticas (desenho, pintura, escultura, instalações,
etc.).
É de suma importância o ensino da Arte na Educação Infantil: “Arte e infância... um
encontro de potências que levam à criação”. (BARBIERI, 2012, p. 17)
Ao professor, é necessário pesquisar e trazer para a sala de aula diversas técnicas e
materiais, a fim de que as crianças possam experimentá-las, interagindo a seu modo e
produzindo os seus próprios trabalhos, expressando-se. Assim o ensino de Arte oportuniza ao
aluno o ato de explorar, construir, analisar, imaginar, entre outros, desenvolvendo suas
habilidades e conhecimentos, ampliando suas possibilidades de comunicação e compreensão
acerca das Artes de forma sensível e cognitiva. Também poderão conhecer obras e histórias
de artistas, apreciando-as e emitindo suas ideias sobre estas produções, estimulando o senso
estético e crítico.
O interesse por apresentar conteúdo necessário para o entendimento dos alunos da
importância da arte como área de conhecimento é relevante. Desta forma no projeto “Arte
Abstrata o Intrínseco da Infância” foi fundamental possibilitar aos alunos conhecimento
teórico e prático das vertentes artísticas do Abstracionismo, sendo importante a compreensão
de como esta arte está inserida no seu cotidiano, desta maneira contribuindo para o
desenvolvimento da criatividade e expressão.
A metodologia na educação infantil para interação com o tema normalmente acontece de
forma lúdica, neste caso com o tema Abstracionismo, o processo de desenvolvimento do
trabalho no Grupo I, que recebe alunos a partir de um ano de idade, foi inspirado no
Abstracionismo Informal, neste movimento as relações formais entre cores, linhas e outros
elementos visuais compõem a obra de maneira não representacional.
Nesta fase da infância entre um e dois anos ocorre o desenvolvimento motor e cognitivo
dos alunos e a estimulação das crianças nestes primeiros anos de vida é fundamental.
Pensando nisso o processo de desenvolvimento do trabalho ocorreu a partir da observação e
leitura de imagens dos artistas Wassily Kandinsky e Jackson Pollock. Com a inspiração nas
obras destes artistas começamos a trabalhar com o desenvolvimento motor de cada aluno,
orientando a forma de segurar o pincel, provocando e auxiliando movimentos que
estimulassem a coordenação motora. Com todos estes estímulos realizamos um trabalho no
qual o suporte, papel cartão preto, deixa em destaque os movimentos expressivos da pintura
com tinta guache, realizada individualmente por cada aluno. As pinturas produzidas mostram
a gestualidade de forma expressiva pelas crianças, promovidos pelo contato com as Artes
Visuais. (fig.01)
Fig. 01- Fotografia (2014), aluna do Grupo I trabalhando, pintura em papel cartão. Acervo da autora.
Nas Artes Visuais a Arte Abstrata ou Abstracionismo é uma forma de arte onde objetos
entre outras coisas não são representados de forma reconhecível. No abstracionismo os
elementos visuais compõem a obra de forma não representacional.
No Grupo II, com alunos a partir de dois anos o desenvolvimento do projeto “Arte Abstrata
o Intrínseco da Infância” se iniciou com a apresentação de reproduções de obras dos artistas:
Wassily Kandinsky, Piet Mondrian, Jackson Pollock, Alexander Calder. Na evolução do
trabalho do Grupo II as figuras geométricas foram apresentadas aos alunos com o auxílio do
livro: “A História do Quadradinho”1, focando as figuras círculo, quadrado e triângulo.
Fizemos também leitura de imagens de algumas obras dos artistas citados acima. Com todos
estes contatos com as obras e as possibilidades de expressão do Abstracionismo o
desenvolvimento criativo expressivo deste Grupo se aflorou e apresentou variados resultados
plásticos. Em um primeiro momento o resultado são pinturas em tela com tinta guache onde
os alunos foram estimulados a um trabalho cooperativo em dupla, assim além da expressão e
da criatividade o aluno desenvolve também a interação com o outro.
Outra proposta com o tema para este Grupo e também para as duas salas de Grupo III, com
alunos a partir de três anos, foi o desenvolvimento da percepção dos mesmos para a
compreensão de que cada objeto, peça e material têm como características texturas próprias
que os identificam. Sendo assim exercitamos o sentido do tato para reconhecer texturas de
folhas de árvores, saco bolha, papelão e isopor. Desta forma o processo criativo foi
estimulado e desenvolvendo impressões2 que revelaram as texturas anteriormente descobertas
pelo sentido do tato. Ao fim deste processo de impressão houve o preenchimento da
composição já impressa com os grafismos expressivos dos alunos. Os alunos do Grupo III
também influenciados pelo Abstracionismo Informal realizaram pinturas com tinta guache
sobre figuras geométricas, formando posteriormente móbiles com estas pinturas.
Constatamos em todo o percurso com as crianças a relevância da experiência nessa faixa
etária, pois a criança aprende vivenciando experimentando de forma lúdica ou não. Segundo
Dewey (1958) a experiência é o modo no qual se adquire conhecimento, só vivenciando que
se aprende.
1
2
BERNAL, Alexandra Prasinos, A História do Quadradinho, 1Ed. editora Aliança, 1999.
Essas impressões foram realizadas pintando as texturas pesquisadas e precionando-as contra uma folha de
papel , podendo ser consideradas monotipias, pois é uma técnica simples de impressão.
O processo criativo nos 1º períodos e 2º períodos em um primeiro momento teve como
objeto de estudo o abstracionismo geométrico, para isso as figuras geométricas foram
apresentadas aos alunos com o auxílio do mesmo livro utilizado nos outros Grupos, Bernal
(1999). Como também metodologicamente trabalhamos com a observação e a leitura de
imagens, os referenciais artísticos foram os mesmos já citados. Destacamos nesses períodos o
reconhecimento das figuras geométricas em materiais presentes no nosso cotidiano,
realizamos desenhos explorando as figuras com composições variadas. Após os estudos
realizados construímos coletivamente um trabalho (fig. 02), tendo como suporte o papelão
onde os alunos realizaram pinturas ressaltando as formas geométricas. Por fim foram
construídas, utilizando-se do material produzido pelas crianças, figuras geométricas
tridimensionais de grandes proporções, com o qual as crianças interagiram de forma lúdica.
(fig. 03)
Fig. 02- Fotografia (2014), alunos do 1º período trabalhando, pintura em papelão. E fig. 03-Fotografia (2014),
montagem tridimensional do trabalho concluído. Acervo da autora.
Neste cenário temos um trabalho que se completa por meio da participação do outro, onde
o expectador tem a possibilidade de interagir e participar do processo, pois é um trabalho que
está em constante mutação a partir das opções de construção por cada criança(s).
Ainda nos 1º e 2º períodos agora com enfoque no Abstracionismo Informal observamos e
fizemos leitura de imagens de algumas reproduções de obras dos artistas Wassily Kandinsky,
Jackson Pollock. O desenvolvimento do processo criativo dos alunos teve como inspiração os
artistas estudados. O trabalho aqui apresentado são pinturas individuais nas duas faces de
módulos de MDF3 (fig. 04), a partir da pintura individual se constrói um trabalho coletivo que
depende da interação do espectador para realização de composições, modificando e
interferindo no resultado visual do trabalho. A relação com materiais diferentes como MDF,
foi enriquecedor para o projeto, pois foi possível explorar suas características e possibilidades
(fig. 05)
3
MDF- Medium- Density Fiberboard (em inglês) Placa de Fibra de madeira de Média Densidade.
Fig. 04- Fotografia (2014), alunos do 1º período trabalhando, pintura em MDF. E fig. 05-Fotografia (2014),
alunos do 2º período construindo composições com o trabalho concluído. Acervo da autora.
Com o desenvolvimento deste projeto foi possível perceber o aprimoramento da
coordenação viso-motora, adquirindo habilidades motoras globais e expressivas; o gosto e o
respeito pelo processo de produção e criação artística foram aprimorados, houve o
conhecimento do vocabulário e dos elementos da linguagem visual; propiciando aos alunos a
produção, apreciação e o contexto histórico do seu trabalho artístico.
Este relato de experiência apresenta fatos aprendidos, conceitos construídos, mudanças de
comportamentos e atitudes criativas que foram desenvolvidas através do projeto “Arte
Abstrata o Intrínseco da Infância”.
Com o objetivo de possibilitar ao aluno ver o seu trabalho em outro contexto, participamos
da Mostra Visualidades (2014)4, eles se surpreenderam e demonstraram contentamento,
respeitaram o trabalho do outro, muitas vezes apontando o dedinho e comentando. Durante a
Mostra Visualidades recebemos a visita dos professores de artes que fazem parte da formação
continuada no CEMEPE5.
Participamos com o projeto do Circuito Visualidades6 por ter sido em outra instituição7 que
não a escola, nem todos os alunos puderam visitar essa exposição, nesse sentido reforço a
importância da Mostra Visualidades e das mostras no espaço escolar, dando visibilidade ao
ensino de arte na escola, a produção artística dos alunos e a delícia de ser professora de Arte.
4
Mostra Visualidades- Exposição dos trabalhos de Artes dos alunos da Rede Municipal de Educação de
Uberlândia.
5
Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz.
6
Circuito Visualidades- O circuito acontece anualmente com os trabalhos participantes da Mostra
Visualidades, fora do âmbito escolar.
7
Sesc- Serviço Social do Comércio de Uberlândia.
Referências:
ARGAN, GiulioCarlo. Arte Moderna. 8. Ed. São Paulo: editora Schwarcz Ltda. 2002
CHEVALIER, J; GUEERBRANT, A. Dicionário dos Símbolos, 2 Ed. Rio de Janeiro: Editora
José Olympio, 2004.
VALE, Mario. Quatro Amigos em forma, editora RHJ,2008.
BERNAL, Alexandra Prasinos, A História do Quadradinho, 1Ed. editora Aliança, 1999.
DEWEY, John. Experiência e educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.
Tradução de Anísio Teixeira
BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012.
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