Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração: Uma Reflexão Inicial
Sobre os Estudos do Campo no Brasil
Autoria: Maurício Serva, Daniel Moraes Pinheiro
Resumo
O objetivo deste trabalho é, em primeira instância, analisar a produção sobre o campo
científico da administração no Brasil, especificamente em uma determinada fonte de
produção: a Divisão Acadêmica Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ),
em sua subdivisão EPQ-C - Estudos Gerais e Reflexivos do Campo, do ENANPAD 2008. A
escolha desta fonte segue algumas razões específicas. A primeira, a necessidade de um corte
específico, que trate diretamente do tema, na academia brasileira. A segunda, considerando
que um dos pressupostos deste trabalho é o de que a abordagem do campo científico é de
natureza sociológica e, portanto, admite as concepções de comunidade científica e
institucionalização, deveria ser escolhida uma comunidade reconhecida pela produção no
campo da administração. Para o alcance do objetivo proposto, partimos da abordagem
epistemológica e sociológica de Pierre Bourdieu sobre o campo científico, utilizando-se de
alguns outros conceitos de outros autores para dar suporte à análise dos artigos sobre o campo
apresentados no ENANPAD 2008. Na segunda parte, foi realizada a análise desses artigos e
algumas observações sobre as abordagens utilizadas, observando algumas possibilidades de
novos estudos sobre o campo a partir do quadro de análise proposto e das categorias definidas
para dar suporte ao estudo.
1. INTRODUÇÃO
O estudo do campo científico é um assunto ao mesmo tempo intrigante e motivador.
Intrigante, pois defronta o pesquisador com ele mesmo, com seus pares e com seu campo de
trabalho, colocando-o na posição de questionar a si próprio ou à sua produção, em um
contexto muito mais amplo do que algumas vezes pode considerar em seus estudos.
Motivador, pois se transforma em oportunidade de autoconhecimento, bem como abre espaço
para discussões diversas sobre problemas coletivos, que por vezes são considerados apenas no
plano individual. A análise do campo é, portanto, uma possibilidade de avanço da ciência a
partir da compreensão daqueles que a produzem. Segundo Japiassu (1991, p.16)
compreendemos a epistemologia, como “o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua
organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus
produtos intelectuais”. Portanto, faz-se necessário o estudo e reflexão de seu próprio processo
de desenvolvimento.
Neste sentido, a epistemologia pode ser concebida como um metadiscurso acerca da
ciência. Tal concepção foi significativamente reforçada nas últimas décadas, a partir do
momento em que a epistemologia contemporânea avançou para além da análise dos
pressupostos lógicos da ciência e agregou os estudos da sociologia da ciência (e também a
antropologia da ciência) à discussão epistemológica. Esse reconhecimento acabou por
enriquecer o debate epistemológico atual. Japiassu (1991), por exemplo, em sua obra sobre a
epistemologia, reconhece a estreita ligação com a sociologia do conhecimento ou sociologia
da ciência. Para Japiassu (1991, p. 36) “uma sociologia do conhecimento deve ter, entre
outras funções, a de estabelecer uma ruptura entre os saberes comuns e o saber científico,
interrogando-se sobre as condições sociais que tornam inevitável esta ruptura com o
conhecimento espontâneo e ideológico”. Afirma ainda que, ao conceber a ciência ou um
conhecimento científico como possíveis, pressupõe-se que estes têm origens filosóficas ou
ideológicas. A sociologia da ciência evidencia os pressupostos que são inconscientes nas
teorias tradicionais e por isso, ao se propor apontar as condições históricas e sociais em que se
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dá a prática sociológica para então ultrapassá-la, evidencia-se uma das funções da
epistemologia.
A prática da ciência pode ser vista num processo constante de reflexão, e tal reflexão
passa, também, pelas suas bases de produção.
Conforme explica Bourdieu (1976, p. 116):
“Uma autêntica ciência da ciência só pode estabelecer-se sob condição de recusar radicalmente
a oposição abstrata (...) entre uma análise imanente ou interna – que caberia mais à
epistemologia e restituiria a lógica segundo a qual a ciência engendra seus problemas – e uma
análise externa, que relacionaria estes problemas com as condições de seu surgimento. O
campo científico (lugar de luta política pela dominação científica) é que designa a cada
pesquisador, em função da sua posição, seus problemas políticos científicos, bem como seus
métodos e estratégias que – por se definirem expressa ou objetivamente na referência ao
sistema de posições políticas e científicas que formam o campo científico – são ao mesmo
tempo estratégias políticas. Não há escolha científica (…) que não seja uma estratégia política
de investimento objetivamente orientada para a maximização do lucro científico, a obtenção do
reconhecimento dos pares-concorrentes.”
O objetivo deste trabalho é, em primeira instância, analisar a produção sobre o campo
científico da administração no Brasil, especificamente em uma determinada fonte de
produção: a Divisão Acadêmica Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ),
em sua subdivisão EPQ-C - Estudos Gerais e Reflexivos do Campo, do ENANPAD 2008. A
escolha desta fonte segue algumas razões específicas. A primeira, a necessidade de um corte
específico, que trate diretamente do tema, na academia brasileira. A segunda, considerando
que um dos pressupostos deste trabalho é o de que a abordagem do campo científico é de
natureza sociológica e, portanto, admite as concepções de comunidade científica e
institucionalização, deveria ser escolhida uma comunidade reconhecida pela produção no
campo da administração.
Aqui, toma-se a noção de paradigma dada por Thomas Kuhn de que os membros de
uma comunidade científica compartilham de um paradigma, a partir do momento em que
passam por uma iniciação profissional e educacional comum ou similar, possuem uma
literatura técnica em que compartilham e comunicam de forma ampla o resultado de suas
pesquisas entre seus pares. É preciso compreender que, como ciência, a administração tem sua
teoria formada por pesquisadores que compartilham de um paradigma. E, naturalmente, as
concepções paradigmáticas são resultantes de escolhas epistemológicas, calcadas nas próprias
bases científicas (KUHN, 1987).
Apoiando nossa proposição nas observações de ORTIZ (2003, p.11):
Para existir, as Ciências Sociais necessitam das idéias e das instituições que lhe dão um suporte
efetivo – as universidades e os institutos de pesquisa. Daí o interesse em estudar a organização
e o funcionamento destas instituições, mediante a produção de papers, a participação em
congressos, as instâncias de legitimação, a ritualização das citações, a conformação das
pesquisas e hierarquia acadêmica. Dentro dessa perspectiva, a elaboração teórica insere-se em
fronteiras administradas pelas regras do campo.
Portanto, neste trabalho, partiremos da abordagem epistemológica e sociológica de
Pierre Bourdieu sobre o campo científico, utilizando-se de alguns outros conceitos de outros
autores para dar suporte à análise dos artigos. Na segunda parte, será feita a análise dos
artigos sobre o campo apresentados no ENANPAD 2008. Na segunda parte, será feita a
análise desses artigos e algumas observações sobre as abordagens utilizadas, observando
algumas possibilidades de novos estudos sobre o campo a partir do quadro de análise proposto
e das categorias definidas para dar suporte ao estudo.
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2. ASPECTOS DA EPISTEMOLOGIA E SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA DE
PIERRE BOURDIEU
2.1. Conceitos Básicos
Considerando que o objetivo deste trabalho relaciona-se ao estudo do campo
científico, deve-se observar que diversos conceitos dos estudos epistemológicos de Pierre
Bourdieu estão relacionados ao conceito específico de campo, fazendo parte de sua
construção. Faremos menção aqui aos conceitos básicos de espaço social, capital e habitus.
Conforme Bourdieu (2007a, p.133-4), “a sociologia apresenta-se como uma topologia
social. Pode-se assim representar o mundo social em forma de um espaço (a várias
dimensões) construído na base de princípios de diferenciação ou de distribuição constituídos
pelo conjunto de propriedades que atuam no universo social considerado”. Explica, ainda, que
os agentes tomam suas posições em seus espaços, e que, como as propriedades de construção
deste campo são dinâmicas – atuantes – há um conjunto de forças objetivas que se impõem
sobre todos aqueles que entram no campo e irredutíveis às intenções dos agentes individuais
ou mesmo às interações diretas entre os agentes.
Para Merton (1979, p.37) “a ciência, como qualquer outra atividade que envolve
colaboração social, está sujeita a mudanças de fortuna, (…) é evidente que a ciência não é
imune aos ataques, à restrição e à repressão”. Sendo assim, autor reconhece que “os ataques
incipientes e reais à integridade da ciência têm levado os cientistas a reconhecerem sua
dependência de certos tipos de estrutura social”.
O segundo conceito implica a adoção de uma noção ampliada de capital. Bourdieu
distingue as diferentes formas de capital que estruturam o espaço social: a) capital econômico
(fatores de produção); b) capital cultural (qualificações intelectuais); c) capital social
(conjunto das relações); d) capital simbólico (conjunto dos rituais); e, por fim, o capital global
que seria a união de todos os capitais. A intenção aqui é demonstrar em breves linhas como a
concepção de Bourdieu de capital está relacionada com os espaços das posições sociais e
espaços dos estilos de vida. Neste sentido, Bourdieu posiciona no espaço social a profissão do
professor de ensino num ponto onde é maior o capital cultural e o global, e menor o capital
econômico. Esta noção pode, em princípio, ser tomada como apenas de uma relação do
indivíduo com seu estilo de vida, ou até mesmo uma relação de consumo. Porém, é possível
inferir suas implicações no próprio jogo do campo científico, mais adiante, em que se percebe
que a noção de capital e de seus vários tipos aparece com fortes relações a alguns dos
comportamentos observados nos praticantes do campo, os cientistas. Para os estudos da
antropologia da ciência, por exemplo, pode ser interessante observar o cotidiano do cientista,
considerando o seu contexto social e, portanto, incluir na análise a categoria estilo de vida.
O terceiro conceito básico é o de habitus. A obra de Pierre Bourdieu é um continuum
onde, sua abordagem do particular (campo da ciência) possui fortes relações com o que por
ele fora construído ao longo de seus estudos. Assim, é importante compreender, também que
o habitus deve ser visto como produto da posição da trajetória social do indivíduo. Para o
autor,
Para compreender todas as implicações da noção de habitus – idéia pela qual tentei demonstrar
que se podia escapar das alternativas estéreis do objetivismo e subjetivismo, do mecanismo e
finalismo, nas quais ficam aprisionadas habitualmente as teorias da ação -, eu gostaria de
analisar as relações entre os habitus (sistemas de disposição socialmente constituídos) e os
campos sociais. Nesta lógica, a prática poderia ser definida como o resultado do aparecimento
de um habitus, sinal incorporado de uma trajetória social, capaz de opor uma inércia maior ou
menos às forças sociais, e de um campo social que funciona, nesse aspecto, como um espaço
de obrigações (violências) que quase sempre possuem a propriedade de operar com a
cumplicidade do habitus sobre o qual se exercem. Isso conduziria a uma teoria da eficácia
simbólica (BOURDIEU,1980, p.38).
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Sendo assim, explica Bonnewitz (2003, p.85), “se o habitus é o produto da filiação
social ele se estrutura também em relação com um campo. O campo científico supõe a
existência de agentes dotados de um habitus diferente daquele dos indivíduos inseridos no
campo político”. Ainda, observa que “de modo geral, todo campo exerce sobre os agentes
uma ação pedagógica multiforme, que tem como efeito fazê-los adquirir os saberes
indispensáveis a uma inserção correta nas relações sociais” (BONNEWITZ, 2003, p.85). O
habitus, para Bourdieu (2007b), é representado pela participação na coletividade, que exerce
uma influência sobre o criador, o agente, de forma a que ele passa a produzir, sem perceber,
sob a orientação da cultura que o influenciou.
2.2. O campo científico
Conforme Bourdieu (1976, p.112), “a sociologia da ciência baseia-se no postulado de
que a verdade do produto – mesmo desse produto particular que é a verdade científica – reside
numa espécie particular de condições sociais de produção, num estado determinado da
estrutura e do funcionamento do campo científico.” As condições particulares, inerentes à
estrutura e a lógica de funcionamento do campo científico estão, portanto, relacionadas ao seu
contexto, as relações de capital e à própria estrutura hierárquica por meio das quais as
relações – inclusive de interesse – são estabelecidas. Ainda, complementa o autor, que “o
universo “puro” da mais “pura” ciência é um campo social como outro qualquer, com suas
relações de força e monopólios, lutas e estratégias, interesses e lucros, no qual todas essas
invariantes assumem formas específicas” (BOURDIEU, 1976, p. 112).
Portanto, é possível estabelecer como premissa para este trabalho, que as observações
feitas em estudos sobre o campo científico, possuem em sua essência forte natureza
sociológica e, desta forma, pressupõe a compreensão das relações inerentes aos fatos
observáveis pela sociologia da ciência. De acordo com BOURDIEU (1976, p.143):
Ao afirmar que a sociologia da ciência funciona segundo as leis de funcionamento de todo
campo científico, de modo algum a sociologia da ciência se condena ao relativismo. Com
efeito, uma sociologia científica da ciência (e a sociologia científica que ela contribui para
tornar possível) só pode constituir-se com a condição de perceber claramente que às posições
nesse campo são associadas representações da ciência, estratégias ideológicas disfarçadas de
tomadas de posição epistemológicas por meio das quais os ocupantes de uma posição
determinada visam a justificar sua posição e as estratégias que eles colocam em ação para
mantê-la ou melhorá-la e, ao mesmo tempo, para desacreditas os detentores da posição oposta e
suas estratégias.
É possível, portanto, trazer a definição de campo científico de BOURDIEU (1976,
p.112), como um “sistema de relações objetivas entre posições adquiridas em lutas anteriores
– é o lugar e o espaço de uma luta concorrencial.” Assim, não se distancia o conceito da
analogia ao mercado, onde os espaços são determinados pelo jogo da concorrência, e assim,
imbricados os diversos tipos de capital que farão parte da luta entre as forças. Segundo o
autor, “o que está em luta são os monopólios da autoridade científica (capacidade técnica e
poder social) e da competência científica (capacidade de falar e agir legitimamente, isto é, de
maneira autorizada e com autoridade) que são socialmente outorgadas a um agente
determinado” (BOURDIEU, 1976, p.112). O autor complementa imagem da luta afirmando
que “a definição do que está em jogo faz parte da luta científica: é dominante quem consegue
impor uma definição da ciência pela qual a realização mais perfeita consiste em ter, ser e fazer
aquilo que eles têm, são e fazem” (BOURDIEU, 1976, p. 118). Em última instância, não
admitir a existência de luta, de interesses, pode ser o caminho para afastar-se da sociologia da
ciência.
No campo científico, está em disputa uma espécie em particular de capital social, a
autoridade científica. Para BOURDIEU (1976), este capital assegura um poder sobre todos os
mecanismos do campo e pode se transformar em outros tipos de capital. Uma das
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características particulares desse capital, segundo o autor, é de que “quanto maior for a
autonomia do campo, a ter como possíveis clientes só os próprios concorrentes.” Desta forma,
continua, “ num campo científico fortemente autônomo, um produtor particular só pode
esperar o reconhecimento do valor de seus produtos (reputação, prestígio, autoridade,
competência) dos outros produtores que, sendo também seus concorrentes, são os menos
inclinados a reconhecê-lo sem discussão ou exame” (BOURDIEU, 1976, p.117).
O interesse está, portanto, intrinsecamente ligado ao processo de aquisição de
autoridade científica, expressa pelo reconhecimento, prestígio, e até mesmo, pela celebridade.
Desta forma, nos conflitos nos conflitos científicos, não é possível associar apenas uma
dimensão política, ou mesmo, puramente intelectual.
Percebe-se, portanto, que a distribuição do capital científico é parte determinante do
processo de determinação do próprio campo, de sua estrutura e de suas relações, o que irá
afetar o papel de seus participantes e sua postura em relação a si, ou mesmo, aos seus paresconcorrentes. Acerca disto, esclarece Bourdieu (1976, p.123):
A cada momento, a estrutura do campo científico se define pelo estado das relações de força
entre os protagonistas em luta (agentes ou instituições); isto é, pela estrutura da distribuição do
capital específico, resultado das lutas anteriores objetivado nas instituições e disposições e que
comanda as estratégias e chances objetivas dos protagonistas. (…) A estrutura da distribuição
do capital científico está na base das transformações do campo e se manifesta por intermédio
das estratégias de conservação (ou de subversão) da estrutura que ela mesma produz. Por um
lado, a posição que cada agente singular ocupa em dado momento na estrutura do campo
científico é a resultante (…) do conjunto de estratégias anteriores desse agente e de seus
concorrentes (as quais dependem da estrutura do campo, pois resultam das propriedades
estruturais da posição a partir da qual são engendradas). Por outro lado, as transformações da
estrutura do campo são o produto de estratégias de conservação ou de subversão cujo princípio
de orientação e eficácia situa-se nas propriedades da posição ocupada por aqueles que as
produzem no interior da estrutura do campo.
3. O CAMPO DA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO
Postos os conceitos de campo científico, de forma geral, abordaremos aspectos
particulares do campo da produção dos conhecimentos científicos da administração.
Iniciaremos pela definição de campo elaborada por Audet (1986, p.1), ao examinar o campo
da administração, podemos, inclusive, notar que o referido autor inspira-se em Bourdieu:
Um campo é ao mesmo tempo um lugar e um sistema. Ele é o lugar das relações entre atores humanos
que pretendem produzir conhecimentos definido ou que são reconhecidos como tal, e que estão em
concorrência para obter o controle da definição das condições de produção e validação desses
conhecimentos. Ele é também o sistema de posições que ocupam os atores-produtores, e de suas
relações. O critério decisivo (…) é a pretensão ou o reconhecimento da produção do tipo de
conhecimento definido que constitui o escopo do campo.
Audet e Déry (1996), ao analisar a produção científica em administração, reforçam a
idéia da necessidade de adoção de uma postura epistemológica para compreender o período
(1900-1940) em que essa produção em administração foi caracterizada por esses autores como
uma “apropriação do discurso cientificista”, em seguida o período (1940-1970) denominado
“cientifização das práticas” e depois o período (1970 em diante) do “pluralismo
epistemológico”. Segundos os autores, “há quinze anos assistimos dois fenômenos novos no
campo: o surgimento de uma epistemologia derivada nas ciências da administração e,
simultaneamente, a emergência de uma epistemologia derivando para os campos específicos
das ciências da administração” (AUDET; DÉRY, 1996, p.4). Estas observações reforçam a
necessidade levantada por este trabalho, de um tratamento adequado aos estudos do campo da
administração.
O campo dos conhecimentos da administração é discutido por AUDET (1986) num
sentido de estreita relação dos atores-produtores com as transformações sociais. O autor vai
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demonstrar isso mostrando que é a partir da evolução da sociedade industrial que o
desenvolvimento do campo dos conhecimentos científicos da administração se dá. AUDET
(1986) divide em dois grupos os pesquisadores neste campo: o dos praticantes e o dos nãopraticantes. Esta observação também deve ser considerada, portanto, para os estudos de
campo ao qual este trabalho se refere. O campo da administração é essencialmente marcado
pela diversidade dos atores.
O resgate do contexto histórico é também empreendido por Serva (1992) para explicar
como se dá, no Brasil, o processo de importação de metodologias administrativas, importante
movimento fundador do campo científico da administração no país. Já na primeira fase, para o
autor, “o veículo da mensagem ideológica, ou seja, a forma que abrigava o conteúdo
ideológico, desde o início, já era, em si mesma, um desenvolvimento teórico-prático
produzido fora do Brasil, isto é, uma metodologia administrativa importada” (SERVA, 1992,
p.132). Na segunda fase, “com a industrialização representando a força propulsora do
desenvolvimentismo, as metodologias são importadas para aplicação imediata” (SERVA,
1992, p.132). Este processo se institucionaliza a partir da década de 1950, com a criação das
escolas superiores de administração, que têm sua inspiração essencialmente nas escolas norteamericanas.
Harberer (1979) discute os aspectos em que a ciência e a política tornam-se próximos,
e até mesmo as relações de um com o outro. O ponto de partida é a percepção do cientista
sobre a ciência, no contexto da politização. No entanto, é importante observar que “a ciência
como uma atividade humana multilateral não é só um corpo de conhecimentos ou teoria, é
também uma metodologia, uma prática, uma rede de hábitos, e contém as formas como esse
conhecimento é adquirido, verificado e transmitido”. (HARBERER, 1979, p. 110). Estas
observações não nos distanciam do conceito de habitus ou, ainda, do próprio modo como
Bourdieu demonstra as relações no campo científico.
No que tange à profissão de pesquisador, a atuação no campo da administração não
difere muito da atuação em outros campos científicos. A seguir, reportaremos algumas
observações produzidas pela sociologia da ciência contemporânea.
Dortier (2005) mostra como se organizam aqueles que trabalham com o conhecimento.
Para ele, “o trabalhador do saber é um profissional ‘reflexivo’ cuja atividade não é ajustada
por sistemas pré-estabelecidos. Ele deve permanentemente resolver os problemas, inventar ou
reinventar soluções e interrogar-se sobre suas atividades” (DORTIER, 2005, p. 31).
Leclerc (2005, p.34) afirma que “para pertencer ao mundo dos intelectuais, não é
suficiente produzir uma obra artística, científica, literária, é preciso também saber impor-se
em diferentes conexões de legitimação e de consagração: a pesquisa, o ensino e a edição”.
Essas conexões seriam legitimadas, então, desde a formação do pesquisador, até mesmo o
relacionamento com a comunidade científica, seus pares, e que o prestígio universitário
evidencia-se em quatro dimensões: o prestígio da instituição, o reconhecimento de uma obra,
editar e publicar, e dirigir um laboratório.
Já Louvel (2005), inspirando-se em Bruno Latour, destaca cinco dimensões do mundo
dos pesquisadores que podem auxiliar a ilustrar seu trabalho e sua legitimação: (1) Mobilizar
o mundo; (2) Criar colegas; (3) Aliar-se a autores que se interessem pelas duas operações
precedentes (a escola, o Estado, a indústria.); (4) Evidenciar a atividade científica pelas
relações públicas, pela confiança, pela ideologia; (5) O quinto horizonte designa o conteúdo
da atividade cientifica. Ele só existe graças aos quatro primeiros: a força das idéias e dos
conceitos científicos leva à transformação de vários horizontes.
Dortier (2000) comenta em seu texto sobre a vida do pesquisador, mais
especificamente os caminhos que o pesquisador percorre, seus percalços, como se depara com
a pesquisa e se posiciona sobre ela, ilustrando com algumas experiências. Dortier (2000, p.512) afirma que “a vida de pesquisador não se resume ao trabalho de laboratório ou de “campo”,
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(...) é participar de colóquios, é também publicar e às vezes ensinar. Passar muito tempo assim
na organização material da pesquisa. (…) As relações com os colegas são outro aspecto do
trabalho e são sempre ambíguas”. Mas, sua rotina de vida pode ser tortuosa. Berry (1995,
p.19) demonstra que “o pesquisador é um homem apressado: sua carga de trabalho ultrapassa
freqüentemente o tempo que ele pode efetivamente consagrar. A semana do pesquisador ideal
excede sete dias. Assim, ele é forçado a fazer as escolhas... às vezes é doloroso.” As esferas
da vida do pesquisador, para ele, assemelham-se àquelas do cotidiano de um diretor de
empresa.
Limoges, Keating e Gingras (2000, p.32) reconhecem que “a ciência nada mais é que
um negócio de ideais e de métodos, ela depende muito, também, do status daqueles que a
fazem”. Mas, as relações vão mais além, incluindo programas de pesquisa de interesse
econômico.
Charle (1998) ressalta o aspecto do interesse, das relações de poder, que dificultam a
difusão dos conhecimentos. Afirma que “à medida então que se institucionalizam os lugares
de formação, de transmissão e de difusão de idéias, a concorrência entre grupos de
intelectuais transformou-se numa luta pelo poder e pela legitimidade”. Sobre a difusão, é
interessante observar o texto de Evangelista (2006), que de forma poética mostra que, para o
pesquisador, a questão está nas formas de se perceber no dilema “publicar ou morrer”.
4. ANÁLISE: ESTUDOS GERAIS E REFLEXIVOS DO CAMPO (EPQ-C)
Como já exposto na introdução deste trabalho, a área escolhida para estudo dos artigos
publicados possui um forte alinhamento com a proposta deste trabalho. Sua própria descrição
remete ao objetivo deste trabalho, conforme ANPAD (2008):
Sempre que os pesquisadores desejarem olhar além de suas práticas correntes e das questões de
sua especialidade para problematizar o grande campo (Administração e Contabilidade) como
um todo vis-à-vis campos conexos, quer das ciências humanas e sociais, quer das ciências
lógicas, físicas e biológicas, terão nesta Área um horizonte convidativo para seu pensamento.
Aqui, igualmente, são esperados estudos sobre a própria comunidade ANPAD, sua vida
interinstitucional, seu passado, presente e futuro, uma dimensão reflexiva importante para o seu
desenvolvimento.
Assim, parte-se do pressuposto que os estudos, além de tratar das questões do campo,
poderão trazer em seu cerne questões relativas ao processo de institucionalização, as relações
específicas de uma comunidade (ANPAD), ou mesmo, reflexões sobre a importância dos
estudos do campo no desenvolvimento da ciência. Todos os trabalhos analisados são do
ENANPAD do ano de 2007, ano em que a área foi criada e recebeu seus primeiros trabalhos.
Ao total, serão analisados doze artigos da área de estudos.
Como critério para análise, será considerado a abordagem sociológica do campo
científico. Assim, na dimensão sociológica encontram-se os estudos que consideram os
conceitos de espaço social e de campo científico como imbricados em relações sociais,
considerando inclusive os aspectos institucionais e políticos, as regras e conflitos existentes.
Abarcam também estudos sobre o aspecto da interdisciplinaridade, especificamente no que
tange às relações entre cientistas de diversas áreas do conhecimento. Abrange estudos que
contemplem a produção científica para a acumulação de capital social, o valor simbólico dos
produtos científicos e o processo de produção e distribuição de conhecimento, bem como as
relações de interesse ocorridas no campo.
Considerando estas observações, foi elaborado um quadro de análise para melhor
ilustrar as relações que aqui se pretende observar.
Dimensão
Quadro 1 – Representação dos estudos por Áreas
Áreas
Representações
Relações Sociais no Campo
- Estudos de organizações/instituições
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Sociológica
Interdisciplinaridade
Interesse e Poder
científicas
- Estudos de formação das redes de
cooperação científica no campo da
administração
- Estudos de aproximação dos diversos
campos do conhecimento com o
campo da administração
- Estudos das relações entre os atores
de diversos campos científicos com os
pesquisadores da administração
- Estudos sobre as relações de poder,
hierarquização no campo e nas
relações institucionais
- Estudos sobre as relações de interesse
e seu impacto nas políticas de
financiamento de ensino e pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores
Apesar do escopo deste trabalho se direcionar para os estudos da dimensão
sociológica, com forte base na obra de Pierre Bourdieu, deve-se destacar que há outra
dimensão a ser considerada: a dimensão prática. A esta dimensão estão relacionados os
estudos que revelem o trabalho do pesquisador em ciências da administração, seu cotidiano e
suas particularidades, bem como, estudos particulares sobre as suas condições de trabalho e de
sua inserção no mercado de trabalho. Ainda, podem ser considerados os aspectos de
contribuição à ciência da administração pelo estudo das categorias dos praticantes e nãopraticantes. Sugere-se que esta abordagem seja tratada em futuros trabalhos, vislumbrando os
enfoques da sociologia e da antropologia da ciência.
Desta forma, as dimensões referem-se às proposições teóricas desenvolvidas no
trabalho, e tem por objetivo auxiliar no processo de análise dos artigos, identificando o seu
nível de aproximação com a abordagem sociológica de Pierre Bourdieu, ou mesmo, que
considere aspectos relevantes para o desenvolvimento do conhecimento científico a partir do
estudo do campo, especificamente, o campo da ciência da administração.
As seções seguintes consistem nas análises dos artigos, de acordo com a visão
sociológica pretendida neste estudo.
4.1. Artigo: O Túnel no Fim da Luz: A Educação Superior em Administração no
Brasil e a Questão da Emancipação
No primeiro texto analisado, Saraiva (2007) propõe com objetivos para o seu trabalho:
a) apresentar e discutir o quadro atual da educação superior em Administração, tratando
especialmente das incoerências da legislação e dos currículos, bem como de seus
desdobramentos diretos e indiretos; b) analisar os principais impasses da perspectiva
tecnicista da educação superior em Administração; e c) confrontar o quadro atual e os
impasses com relação ao mercado de trabalho a partir da perspectiva da educação crítica.
Saraiva (2007) usa palavras como fetiche e glamour relacionando-as à profissão, para
auxiliar a justificar seu trabalho. Ainda, utiliza aspectos como a competitividade para fechar
seus argumentos. No entanto seu trabalho parece tomar a intenção de criticar o processo de
comercialização do ensino superior, mais do que discutir suas bases, como mesmo havia
proposto.
A abordagem proposta pelo autor não procura delimitar um campo ou espaço social e
de influência na produção e reprodução do conhecimento, numa concepção sociológica.
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Apenas o trata na dimensão da educação, rapidamente no sentido da relação entre professor e
aluno, ou produtor e cliente.
Os valores considerados neste estudo estão relacionados à lógica da mercantilização
do ensino superior, no sentido de questionar a relevância em que se dá a formação técnica em
contraposição à educação crítica. Assim, pode-se subentender uma produção, mas vista
parcialmente sob a ótica do ensino, que poderia ser extensiva às discussões sobre a
reprodução deste conhecimento. A proposta deste estudo poderia ser eminentemente
relacionada à dimensão prática, ao tratar da formação do profissional de administração sob as
bases de uma educação que privilegie a autonomia, e se pretender relacionar à sua inserção no
mercado de trabalho. No entanto, parece o autor se prender às relações de mercantilização do
que, necessariamente, às particularidades que levariam a um estudo mais profundo das
temáticas relacionadas à dimensão prática.
4.2. Artigo: Por um Saber Administrativo que Compartilhe a História da Cultura
Brasileira
O artigo analisado é posto no sentido de uma proposta multidisciplinar de abordagem
para o saber administrativo. Alves (2007), utilizando essencialmente da literatura, e de textos
de relevância histórica e científica, procura reconstituir as bases sobre as quais são construídas
diversas discussões sobre questões capitais à administração, procurando traçar em sua
narrativa críticas aos modelos até então utilizados.
No entanto, é preciso observar que não se trata especificamente de uma questão
relativa à sociologia do campo. Quiçá, traz uma discussão que poderia retomar-se em sentido
epistemológico, como proposta de uma abordagem multidisciplinar para a construção do
ensino em administração. Assim, o estudo aproxima-se da área da interdisciplinaridade, a
partir do momento que pode clamar por uma abordagem mais histórica dos fatos da
administração.
4.3. Artigo: Perspectivas acadêmicas em São Luís: a aproximação entre o estudo
do turismo e a ciência da administração.
Segundo Miranda (2007, p.1), a proposta do artigo é “analisar a relação entre as áreas
do conhecimento, turismo e administração, sob a ótica de contribuições em diferentes
instâncias, estabelecendo analogias e reflexões, tendo como campo empírico, o caso do
município de São Luís, no estado do Maranhão”. Assim, o trabalho trata da aproximação de
duas disciplinas. Para isso, o autor utiliza-se do que irá chamar de epistemologia da análise do
fenômeno turístico, justificando as bases para esta aproximação. Da mesma forma que o
artigo anterior, trata de uma questão epistemológica geral, de uma aproximação disciplinar.
Miranda (2007) considera apenas os grupos de diversas instituições de ensino como
amostra para o seu estudo, não demonstrando de forma aparente nenhuma implicação prática
de sua escolha, em relação à produção do campo científico ou ao posicionamento de seus
participantes em relação à interação entre as disciplinas da administração e do turismo.
Não consiste, portanto, numa caracterização aprofundada da dimensão sociológica nas
relações interdisciplinares entre os produtores de conhecimento, no sentido de sua abertura
para tal aproximação e as implicações deste esforço interdisciplinar. Porém, estudos desta
natureza são relevantes para sinalizar as possíveis faixas de aproximação entre os campos.
4.4. Artigo: Desenvolvimento da Regionalidade: Novo Campo da Administração.
Neste artigo, Gil, Oliva e Silva (2007, p.1) afirmam ter “como propósito estimular a
reflexão acerca do Desenvolvimento da Regionalidade como função emergente da
Administração”. Os autores lançam mão de conceitos de diversas áreas do conhecimento para
demonstrar a disciplina como necessária nos cursos de administração.
9
A abordagem trazida pelos autores considera a diversidade das disciplinas e sua
inserção nos contextos institucionais da ciência da administração, apenas quando finalizam
seu estudo, justificando a necessidade de entrada dos participantes de diversas instituições nos
debates sobre regionalismo e desenvolvimento, sendo, portanto, um estudo típico da área da
interdisciplinaridade.
4.5. Artigo: Estudos Curriculares e Estudos Organizacionais: Campos Simétricos
e Agendas em Intersecção.
No estudo proposto por Fischer, Waiandt e Silva (2007, p.1), os autores trazem a
seguinte afirmativa: “como as organizações podem variar infinitamente no tempo e no espaço,
os currículos variam de instituição a instituição, de um curso a outro. Portanto, em ambas
trajetórias, os estudos acumularam conhecimentos sobre as organizações e os currículos como
construções sociais”. Assim, o estudo é percebido num conceito sociológico, e, portanto, os
currículos são observados – conforme demonstram os autores – sob a ótica de Bourdieu, no
que se refere à sua inserção no conceito de campo.
Conforme afirmam os autores, “O pressuposto principal deste trabalho é a
convergência dos Estudos Organizacionais e Estudos Curriculares como campo de
conhecimentos e práticas. Estas convergências podem ser identificadas na natureza e
estruturas destes campos, considerando o objeto de estudo (...) e o dilema colocado pelas
práticas, relacionadas, principalmente, com as mudanças que ocorrem nas organizações em
geral e nos currículos em particular. (FISCHER; WAIANDT; SILVA, 2007, p.14). Observase, portanto, que o estudo se enquadra na área das relações sociais do campo, mas também
poderia ser visto sob a ótica do interesse e poder, considerando as forças presentes na relação
entre organizações e currículos.
4.6. Artigo: Avaliação/Ensino/Pós-graduação no Contexto Brasileiro: uma
Investigação sobre a Produção Científica constante na Scientific Electronic
Library Online, no período entre 1974 e 2007
Igarashi et al (2007) lançam mão da análise bibliométrica para alcançar seu objetivo
de analisar a produção científica brasileira sobre avaliação/ensino/pós-graduação. Um estudo
como este tem sua importância em evidenciar temas e instituições que trabalham com o
mesmo assunto, em campos científicos diferentes.
Assim, destaca os artigos e sua natureza, de acordo com sua linha e objetivos. É
possível, então, mencionar que um trabalho desta natureza pode servir como subsídio para
investigação em cada uma das três áreas aqui propostas, a depender dos critérios posteriores
de análise estabelecidos.
No caso do estudo, os autores ao identificarem semelhanças entre as áreas, abrem
espaço para análises como: possibilidades de cooperação entre instituições; verificação da
capacidade de abordagens interdisciplinares que possam englobar os artigos definidos em
categorias semelhantes; análise das relações intrínsecas de interesse e poder, quando
observadas as características particulares e os direcionamentos dos estudos em cada campo do
conhecimento.
4.7. Artigo: Nos Limites da Autonomia: Reflexões sobre o Modelo Brasileiro de
‘Blind Review’
Os autores trazem à discussão os modelos de avaliação de artigos no Brasil e,
especialmente, a adoção de aspectos “internacionais” e sua influência nas instituições
científicas no Brasil. Assim, Kirschbaum E Mascarenhas (2007) abrem a discussão que pode
ser vista por duas frentes, na proposta deste trabalho.
10
Inicialmente, a discussão pode ser eminentemente fruto das relações sociais,
considerando-se os aspectos institucionais e históricos dos modelos de importação de teorias.
Os autores partem da narrativa de Fachin (2006) feitas no texto em que comenta o processo de
institucionalização da ANPAD.
O artigo trata de um tema de relevância e interesse para área de relações sociais no
campo. Assim, avaliar o processo de institucionalização do modelo de avaliação de artigos,
adotados no Brasil e no exterior, pode auxiliar os produtores a refletir sobre seu próprio papel
na produção científica, inclusive o processo de distribuição, pois na medida em que se adotam
padrões internacionais parece ficar mais claro o interesse numa distribuição mais global
daquilo que é produzido localmente. No entanto, deve-se ter o cuidado de, em estudos desta
natureza, identificar corretamente o viés do poder e interesse, presente nas relações políticas
destas instituições.
4.8. Artigo: Pluralismo Metodológico e Transdisciplinaridade na Complexidade:
Uma Reflexão para a Administração
Cardoso e Serralvo (2007, p.1) trazem como objetivo de seu ensaio a reflexão “sobre
os limites das abordagens teóricas e metodológicas do campo da administração e
principalmente, questionar o apego à disciplinaridade institucionalizada e a busca sempre
constante de procedimentos metodológicos unívocos, com fortes apelos quantitativos,
deterministas e mecanicistas, que se inspiram na antiga e sempre atual abordagem positivistafuncionalista”.
Este tipo de abordagem seria uma discussão tipicamente epistemológica, a qual os
autores reforçam com a proposta de uma abordagem interdisciplinar, utilizando-se para isso
da teoria da complexidade como linha de suporte para suas colocações. De acordo com as
áreas propostas, este artigo corresponde aos estudos de aproximação dos diversos campos do
conhecimento com o campo da administração. Utilizamo-nos deste estudo para fazer uma
observação. De acordo com Cardoso e Serralvo (2007, p.12):
Nesses novos discursos é necessário ainda salientar a necessidade de superar, ou mesmo
relativizar o domínio do pensamento organizado e estruturado de acordo com os princípios
lógicos-formais. Isso porque o formalismo não tem resposta para as questões fundamentais
colocadas pela sociedade nos tempos atuais e pouco tem a dizer sobre as características
evidentes dos seres vivos, como o seu cheiro, seu tato,as suas paixões e os seus amores e
desamores. Dimensões humanas que não são passíveis de medição e não estão sujeitas a
fundamentos exatos e precisos.
Deste modo, nos parece claro que além de uma proposta de aproximação
interdisciplinar, seja por qual abordagem for tomada, possam considerar como presente em
seus estudos o papel do pesquisador, daqueles que produzem o conhecimento e trabalham no
campo, neste processo de aproximação interdisciplinar. Um dos argumentos para isto é a
observação deste trecho extraído do artigo de Cardoso e Serralvo (2007). Quem sofre a
influência do campo, e, portanto, dos paradigmas dominantes, do habitus, é o pesquisador, o
agente, que reproduz sistematicamente, muitas vezes sem ao menos perceber. Seria
importante, então, entender esta relação do pesquisador com o campo, a partir da própria
compreensão do habitus, observando a forma como os processos que levam à solidificação
deste habitus estão presentes nas estruturas institucionais das organizações acadêmicas.
4.9. Artigo: Cooperação no Campo da Pesquisa em Administração: Evidências
Estruturais nas Redes Institucionais de Quatro Áreas Temáticas
Em seu artigo, Rossoni e Guarido Filho (2007) engendram por uma proposta
tipicamente sociológica, utilizando-se da análise das instituições para a compreensão da
estrutura sócio-organizacional do campo, como comentam.
11
Utilizando-se de um arcabouço bastante próximo ao da chamada teoria institucional
para a avaliação das redes institucionais, Rossoni e Guarido Filho (2007) estabelecem
algumas hipóteses, quais sejam:
H1: A rede de colaboração interinstitucional das áreas de Administração objeto desse
estudo apresenta estruturas do tipo small worlds.
H2: A rede de colaboração interinstitucional das áreas de Administração objeto deste
trabalho apresenta uma configuração do tipo centro-periferia.
H3: Os relacionamentos entre instituições nas redes de colaboração interinstitucional
das áreas de Administração analisadas nesse estudo são do tipo escolha preferencial.
H4: Há relação significativa entre as medidas de centralidade das instituições e
produção científica.
Este tipo de estudo permitiu levantar uma série de informações sobre o processo de
relação interinstitucional, que possibilita um posicionamento da estrutura de produção
nacional nas áreas avaliadas. Conforme Rossoni e Guarido Filho (2007, p.15):
Esses resultados em seu conjunto permitiram identificar padrões de relações compartilhados
entre áreas, evidenciando que o exercício acadêmico do corpo científico nas diferentes áreas
apresenta similaridade em termos de cooperação em nível estrutural de instituições, no entanto,
explicações a respeito dos processos que definiram essas características áreas não podem ser
generalizadas, sendo decorrentes de peculiaridades históricas de cada uma das áreas no
decorrer da prática social de produção de conhecimento.
Estudos desta natureza têm o seu lugar na compreensão das relações sociais no campo
da administração, e podem ser complementados por uma abordagem que permita verificar os
laços não apenas sob a ótica da produção, mas seguir adiante observando e qualificando os
agentes dessa produção, no sentido de sua participação e do processo de construção desses
laços.
4.10. Artigo: A Aplicação de Abordagens Feministas para o Estudo de
Administração
Cerchiaro e Ayrosa (2007, p.3) explicitam o objetivo de seu trabalho como sendo o de
“rever as várias abordagens feministas existentes e explicar porque a abordagem multicultural é a mais adequada para o estudo da realidade feminina brasileira”.
Apesar de o estudo fazer um apanhado das diversas correntes e suas respectivas
abordagens, dentro do objetivo explicitado, não é possível, em primeira instância, caracterizar
o estudo como essencialmente do campo, considerando que está mais para um
posicionamento dos autores sobre determinada visão, do que necessariamente com vistas a
contribuições para o estudo do campo da ciência da administração, apesar de dedicarem
algumas linhas a explicitar as contribuições práticas e teóricas do estudo. Entende-se que é
possível estabelecer um estudo do campo, numa abordagem como a proposta neste trabalho, a
partir da visão de classes e determinantes sociais, como gênero, raça, etnia. Porém, é preciso
estabelecer um objetivo definido disto com a produção, e aprofundar os sentidos que podem
ser dados, se antropológicos ou sociológicos, por exemplos, com suas adequadas categorias
de análise.
4.11. Artigo: Por uma convivência (não tão) harmônica entre paradigmas nos
estudos organizacionais.
Santana e Gomes (2007) propõem em seu estudo uma visão que, em princípio, pode
ser interessante aos estudos referentes à epistemologia da administração, tratando das
questões como o uso dos paradigmas, os autores iniciam seu texto utilizando abordagens
como a de GUERREIRO RAMOS (1983) e até mesmo de Pierre Bourdieu para apresentar
suas concepções de delimitação do campo.
12
No entanto, os autores seguem em seu artigo com uma busca teórica para retratar
institucionalmente o campo (apesar de o fazerem de maneira não declarada, inicialmente), e
acabam por desembocar na dicotomia: hegemonia e contra-hegemonia. Desta forma, não
lançam contribuições mais profundas para o estudo do campo, além das tradicionais
observações sobre o funcionalismo como hegemônico, e portanto, relacionado às forças de
domínio, inclusive, do capital e do interesse científico, sem apresentar nada que possa ser
considerado como relevante ou inovador no que vêm a chamar de contra-hegemonia.
Tal estudo poderia ser mais rico, por exemplo, utilizando-se de posicionamentos sobre
o paradigma crítico. Como afirma Santos (1988, p.70), “na ciência moderna a ruptura
epistemológica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o
conhecimento científico; na ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do
conhecimento científico para o conhecimento do senso comum”. Assim, propostas sobre
estudos semelhantes precisam considerar o “salto”, e arriscar estudos mais contundentes, se a
pretensão é discutir o paradigma dominante, não incorrendo no risco de justificar a contrahegemonia utilizando para isto a própria sistemática hegemônica, reafirmando sua força,
sentido e direção.
4.12. Artigo: A Formação em Administração como Requisito para o Exercício da
Função Gerencial no Brasil
O artigo de Vergara (2007) propõe uma reflexão sobre o exercício da função gerencial,
no que tange à obrigatoriedade da formação em administração e da filiação ao conselho de
classe. É interessante, pois, o trabalho direciona, em última instância, para um foco
tipicamente de relações institucionais, a partir do momento em que as determinações para o
profissional são orientadas por regras e normas da entidade de classe. Neste contexto, está
inserida a formação profissional.
Uma abordagem complementar do artigo pode ser de relevante contribuição para os
estudos do campo, e refere-se ao estudo destes profissionais no campo e sua relação com a
formação universitária, como a autora já inicia em seu trabalho. Pode se desenhar, então,
estudos que se direcionem para a dimensão prática, efetivamente, da contribuição que estes
profissionais possam trazer para o processo de fortalecimento das instituições, sejam as
instituições acadêmicas, ou as organizações que dão suporte e regulamentam o exercício da
profissão, promotoras do desenvolvimento da administração, como ciência e como campo
prático de aplicação do conhecimento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando as idéias expressas na introdução do presente texto, a nossa proposta de
trabalho consiste na análise da produção sobre o campo científico da administração no Brasil,
fazendo uso para isto de determinada fonte de produção: a Divisão Acadêmica Ensino e
Pesquisa em Administração e Contabilidade (EPQ), em sua subdivisão EPQ-C - Estudos
Gerais e Reflexivos do Campo, da ENANPAD – Encontro da Associação Nacional de Pós
Graduação e Pesquisa em Administração. Tal escolha se justificaria, pois é a área que, em
princípio, seria a única com a especificidade e delimitação do tema “campo”, para a produção
científica em administração no Brasil. Neste sentido, era preciso desenhar uma abordagem
coerente de análise, que nos permitisse indagar sobre questões inerentes ao campo científico,
de modo a estabelecer uma linha de pensamento uniforme acerca da produção. Assim, foi
desenvolvida uma proposta de investigação baseada nas propostas de Pierre Bourdieu,
considerando a dimensão sociológica como direcionador para os estudos do campo. A opção
deste trabalho, portanto, é a da abordagem crítica, considerando as descrições de Chanlat e
Séguin (1983).
13
Assim, elaboramos um quadro de análise que permitisse a observação de algumas
áreas, dentro da dimensão sociológica, durante o processo de análise dos artigos: relações
sociais no campo, interdisciplinaridade e interesse e poder. Todas as áreas têm sua origem nos
conceitos trabalhados nos referenciais deste trabalho, e para cada uma delas foram propostos
alguns tipos de estudos.
Foi possível perceber que os estudos, em sua maioria, não consideram o campo
científico sob a perspectiva sociológica. O artigo de Rossoni e Guarido Filho (2007) foi o que
demonstrou uma aproximação mais forte com a proposta de análise aqui pretendida, no
sentido de considerar a observação de um fenômeno do campo a partir das relações sociais, ao
abordar o tema de redes institucionais.
Alguns artigos, como os de Miranda (2007), Alves (2007) e Gil, Oliva e Silva (2007),
direcionam-se para a abordagem interdisciplinar. No entanto, é possível perceber que os
estudos esboçam uma discussão sobre a importância da abordagem interdisciplinar, do
diálogo entre as disciplinas, mas não o fazem sobre uma perspectiva mais profunda, de
considerar os participantes destes diálogos como atores importantes neste processo. Observo o
artigo de Cardoso e Serralvo (2007), que de um modo mais contundente, trazem a
interdisciplinaridade numa análise crítica a partir da abordagem da complexidade, em um
sentido libertário ao paradigma dominante. Este trabalho nos inspira a procurar, por exemplo,
relações entre os atores-produtores e a compreensão do habitus no espaço social em que
participam.
De uma forma geral, percebeu-se nos artigos avaliados que há ligações mais diretas
com a área de relações sociais no campo ou da interdisciplinaridade. Apesar disto, observa-se
que há relativa vocação em alguns estudos para a área de interesse e poder, como a proposta
de Kirschbaum e Mascarenhas (2007), ou até mesmo, o artigo de Fischer, Waiandt e Silva
(2007). Ainda, o trabalho de Vergara (2007) nos remete à dimensão prática, que pode ser mais
bem explorada em novos estudos com temáticas semelhantes. É uma área fértil, que pode
abrir espaço para novas discussões e para uma visão mais realista do trabalho do pesquisador,
ou mesmo, do profissional de administração, para daí entender suas formas de contribuição
para o conhecimento científico.
A partir das análises dos artigos, conclui-se que o tema “estudos do campo” está
aberto para as mais diversas discussões. A área analisada representa uma abertura, um início
para as discussões sobre o tema no Brasil. Porém, é preciso ousadia para a realização destes
estudos, pois se trata de observar a própria área de atuação e de seus pares-concorrentes.
Estudos desta natureza envolvem, sobretudo, valores políticos e pessoais. Envolve uma
proposta de humanização da figura do próprio pesquisador, agente do campo, consciente das
instituições que o cercam.
Finalizando, incentivamos a adoção de uma postura epistemológica que não apenas se
constitua como uma contra-força ao paradigma funcionalista dominante e tenha, nele, a sua
própria razão de existência, mas, sim, uma postura verdadeiramente autônoma para a
construção da ciência que, sobretudo, permita a compreensão de sua história e daqueles que
trabalham para sua construção.
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