Publicado em 20 de junho de 2011
Serão necessárias decisões políticas difíceis para restaurar o
sistema financeiro
José Viñals
É uma feliz coincidência que eu apresente nossa mais recente avaliação da estabilidade
financeira global em São Paulo, o centro financeiro de uma das principais economias
emergentes. Da mesma forma que muitos de seus pares na América Latina, o Brasil está se
recuperando com vigor da crise, mas novos desafios para a estabilidade financeira estão
surgindo nessa e em outras regiões em rápido crescimento.
Gostaria de começar com três mensagens importantes:

Primeiro, os riscos financeiros aumentaram desde abril.

Segundo, em resultado disso, as autoridades econômicas de economias avançadas e
emergentes precisam ampliar seus esforços para preservar a estabilidade financeira e
salvaguardar a recuperação.

E, terceiro, entramos em uma nova fase desta crise – uma fase política – em que será
preciso tomar decisões políticas difíceis, porque a janela para a adoção de medidas
substanciais de política econômica está se fechando. O tempo urge.
Gostaria de analisar em detalhes o aumento dos riscos para a estabilidade financeira, que
tem tirado o sono das autoridades econômicas e dos investidores.
Primeiro, uma série de surpresas negativas nos dados econômicos recentes está levando os
investidores a reavaliar a sustentabilidade da recuperação econômica. Embora a recuperação
global continue a ser o cenário mais provável, os riscos para essa projeção aumentaram.
Qualquer enfraquecimento nas perspectivas econômicas ameaçará paralisar – e
possivelmente reverter – as melhorias na situação patrimonial de bancos e famílias.
Segundo, existe preocupação crescente a respeito da vontade política para apoiar os
esforços de ajuste na Europa. A ausência de uma solução abrangente para esse problema
elevou a pressão do mercado financeiro sobre alguns governos europeus e reacendeu a
inquietação com um possível contágio dentro e fora da Europa.
Nos Estados Unidos, existe uma preocupação crescente no mercado financeiro devido ao
impasse político a respeito do teto para o endividamento e a trajetória fiscal no prazo mais
longo. E, no Japão, as metas de médio prazo para o ajuste fiscal tornaram-se ainda mais
problemáticas em função dos efeitos do terremoto e tsunami recentes.
Versão original: http://blog-imfdirect.imf.org/2011/06/20/tough-political-decisions-needed-to-fix-the-financial-system/
Endereço do blog iMFdirect: http://blog-imfdirect.imf.org/
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Terceiro, estamos preocupados com os efeitos de um período prolongado de juros baixos.
Nas economias avançadas, as políticas monetárias acomodatícias continuam a ser necessárias,
em parte devido ao progresso limitado na solução dos problemas estruturais. Contudo, um
período prolongado de juros baixos pode levar os investidores a subestimar os riscos em sua
busca por rendimentos, o que pode conduzir ao acúmulo de desequilíbrios financeiros.
Observamos duas tendências:

O declínio no custo do endividamento está levando algumas empresas e investidores a
redescobrir seu apetite por alavancagem financeira. Existem no mercado indícios dessa
realavancagem em títulos privados de alto rendimento e empréstimos alavancados.

A busca por rendimentos da parte dos investidores também estimulou fortes fluxos de
entrada de capitais em alguns mercados emergentes importantes embora,
recentemente, tais fluxos tenham diminuído um pouco. Por exemplo, a forte demanda
estrangeira gerou uma onda recente de emissões internacionais de obrigações, sobretudo
na América Latina, e um recuo no rendimento dos títulos privados.
Prioridades de política econômica
Em função desses riscos, as autoridades econômicas terão de ampliar seus esforços para
enfrentar, de uma vez por todas, dificuldades financeiras antigas.
Na Europa, é necessário cortar definitivamente o nó górdio das exposições financeiras entre
bancos e governos, um círculo vicioso que intensificou os temores quanto a um possível
contágio.
Para reduzir o risco de contágio, é preciso que as autoridades econômicas adotem uma
abordagem em duas frentes: i) insistam na formulação de planos abrangentes para restaurar
o sistema financeiro e ii) reduzam o risco soberano por meio de uma consolidação fiscal
factível no médio prazo.
1. Sistema financeiro. Até o momento, houve poucos avanços no fortalecimento da
captação e na posição de capital do sistema bancário em alguns países da União
Europeia. Os próximos testes de estresse da Autoridade Bancária Europeia serão uma
oportunidade decisiva para aumentar a transparência e solucionar o problema dos
bancos subcapitalizados.
2. Governos. É preciso vontade política para suprir as necessidades de ajuste fiscal no
médio prazo em diversos países avançados, inclusive Estados Unidos e Japão, que
ainda não tomaram qualquer medida decisiva nessa área.
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Em resumo, no que se refere a sistemas financeiros e governos, as economias avançadas
necessitam de uma desalavancagem ordenada, o que significa que terão de reduzir seu
volume de empréstimos.
Por sua vez, as economias emergentes precisam se concentrar em uma realavancagem
ordenada.

Elas devem fazê-lo evitando o superaquecimento e o acúmulo de desequilíbrios
financeiros – diante da forte expansão do crédito, inflação em alta e explosão na entrada
de capitais.

A alavancagem das empresas também está aumentando, e firmas mais fracas hoje têm
acesso aos mercados de capitais internacionais. Isso pode tornar os balanços patrimoniais
mais vulneráveis a choques externos.

Com a forte pressão da demanda interna — sobretudo nos países emergentes da Ásia e
da América Latina — são necessárias medidas macroeconômicas para evitar o
superaquecimento, o acúmulo de riscos financeiros e o abalo da credibilidade da política
econômica.

As ferramentas macroprudenciais, como depósitos compulsórios mais elevados e, em
alguns casos, o uso limitado de controles de capital, podem desempenhar um papel de
apoio na gestão dos fluxos de capitais e de seus efeitos. Entretanto, elas não podem
substituir políticas macroeconômicas adequadas.
As autoridades econômicas continuam a enfrentar a possibilidade de choques futuros
potencialmente grandes no sistema financeiro, num momento em que sua resiliência ainda
não está assegurada.
E existe menos margem de manobra para enfrentar esses choques por meio de políticas
fiscais e monetárias tradicionais. Além disso, em sistemas políticos cada vez mais polarizados,
as autoridades econômicas podem enfrentar dificuldades progressivamente maiores para
tomar medidas significativas para enfrentar os riscos financeiros e soberanos.
Estamos agora em uma nova fase da crise – a fase política – e terão de ser tomadas decisões
políticas difíceis. O tempo urge.
Versão original: http://blog-imfdirect.imf.org/2011/06/20/tough-political-decisions-needed-to-fix-the-financial-system/
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