A Medicalização do Luto sob uma ótica Sartreana
Sarah Vieira Carneiro
Georges Daniel Janja Bloc Boris
Daniel Marcio Pereira Melo
(Universidade de Fortaleza)
Resumo: Diante da morte de um ente querido, os índios tupinambás, no Brasil, seccionavam o
cadáver de seu ente querido, antes de comê-lo: às mulheres, cabiam os órgãos genitais; aos
adolescentes, o cérebro e a língua; aos convidados, a ponta dos dedos e a gordura do fígado
(Rodrigues, 1983). Em 1981, Simone de Beauvoir, em seu livro de memórias sobre os últimos
anos de vida e morte de seu companheiro Jean-Paul Sartre, Cerimônia do Adeus, expressa seu
luto, suportado com o uso de diazepan e de bebida alcoólica. Beauvoir (1982) descreve como
sua mente estava vazia, durante o enterro, e sua incapacidade de comparecer à cerimônia de
cremação. Descreve, ainda, um episódio “delirante”, que antecedeu a uma internação hospitalar.
Um abismo histórico e cultural parece separar estas duas experiências. Não à toa, citamos a
morte de Jean-Paul Sartre, para quem o homem (para-si) está condenado à liberdade. A
concepção de liberdade é um fio condutor na obra de Sartre (1943/2011) e se articula com o de
situação: “o Para-si é livre, mas em condição, e é essa relação entre condição e liberdade que
queremos precisar com o termo situação” (p. 673). É notável o fato de que, no tempo histórico
em que vivemos, no qual a morte é um tabu, o saber médico lance, sobre o luto, sua luz.
Assistimos a uma medicalização do luto e é a partir da filosofia sartreana que nos propomos a
compreender este processo. Não podemos recair na ingenuidade de tentar compreender esta
mudança como um fenômeno meramente mental, mas lançar as bases para uma análise da
situação: “nós nunca pensamos que não se devessem analisar condições humanas ou intenções
individuais. O que denominamos situação é, precisamente, o conjunto de condições materiais e
psicanalíticas, inclusive, que, em determinada época, dão uma definição precisa de um
conjunto” (Sartre, 1946/2012, p. 82).
Palavras-Chave: medicalização; luto; liberdade; situação; Sartre.
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Georges Daniel Janja Bloc Boris