XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO:
UMA ABORDAGEM SOBRE O
TRABALHO DOCENTE
Adelice Minetto Sznitowski (UNEMAT)
[email protected]
ELAINE RODRIGUES (UNEMAT)
[email protected]
Camyla Piran Stiegler Leitner (UNEMAT)
[email protected]
Diego Jose Rufino de Souza (UNEMAT)
[email protected]
A preocupação com a Qualidade de Vida no Trabalho evoluiu em
relação a sua abordagem inicial no campo da motivação, no entanto
ainda não há ainda uma construção definitiva. Observa-se o contrário,
pois as pesquisas nessa área estão num estáágio intermediário com
tendência para a reestruturação de metodologias e técnicas. A adoção
de programas de QVT requer pesquisas para orientar modelos a serem
empregados bem como um trabalho de adequação dos mesmos a
realidades organizacionais específicas, o que contribui em muito para
o aprofundamento e a compreensão da dinâmica das situações
estudadas. No que se refere a realidades especificas, o trabalho
docente carece de atenção em relação a QVT. Atenção no sentido de
intensificar estudos sobre a condição de trabalho bem como ações que
favoreçam a sua qualidade de vida. Este artigo de revisão
bibliográfica evidenciou uma realidade que precisa ser revista, ou
seja, condições de trabalho degradadas, o que se torna preocupante,
haja vista que a qualidade da educação esta diretamente ligada a
qualidade de vida dos docentes.
Palavras-chaves: ambiente de trabalho; docente, universidade
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1. Introdução
A organização do ambiente de trabalho é um elemento importante e pode interferir na
qualidade de vida do trabalhador, considerando que ele passa grande parte de sua vida no
trabalho e isso pode trazer implicações para seu estado de saúde. Soma-se a isso, o cenário
atual onde impera a competitividade. Por isso, torna-se pertinente dar atenção aos aspectos
relacionados a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), tendo em vista os impactos negativos
na vida do trabalhador de fatores como aumento de produtividade, qualidade de produto e
serviço (FREITAS; SOUZA, 2009).
A avaliação da QVT implica na utilização de determinados instrumentos que foram criados há
algumas décadas. Freitas e Souza (2009) e Souza (2008), ao realizarem estudo sobre os
principais modelos existentes objetivando a proposição de um para avaliar a QVT de
funcionários técnicos administrativos em uma universidade pública, constataram que nenhum
incorporou todas as dimensões ou indicadores cientificamente reconhecidos. Além, disso,
observaram que, conforme a natureza da organização investigada e das atividades nela
realizadas, o modelo precisa ser adaptado para captar com maior precisão a QVT, o que torna
necessário a construção de instrumentos específicos, voltados a população a ser estudada,
reforçando o ponto de vista de Souza (2008) e Freitas e Souza (2009) que para situações
intrínsecas a certos tipos de trabalho ou atividades, dimensões próprias precisam ser
incorporadas na construção de um modelo mais adequado.
Um estudo em específico voltado as condições do ambiente físico de trabalho junto aos
professores do curso de Administração em uma instituição de ensino superior pública no
estado de Mato Grosso, evidenciou condições insalubres no ambiente de trabalho quanto aos
riscos físicos a saúde, bem como, a ausência de medidas de prevenção, os quais foram
identificados por um técnico em segurança do trabalho (MACHADO, 2010).
Tendo em vista o exposto, ou seja, o estudo do ambiente de trabalho e os riscos passíveis de
causar agravos a saúde dos docentes, somado a discussão inicial sobre QVT, é se faz
necessário atentar para a temática envolvendo os professores.
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Embora essa situação careça de pesquisa, estudos sobre as condições de trabalho dos
professores do ensino superior são reduzidos, evidenciando pouco empenho dos cientistas
nesse objeto de estudo. Dos trabalhos existentes, Cruz e Lemos (20025) citam que a maior
parte versa sobre a prática pedagógica e, mesmo o trabalho do professor tendo importância
social expressiva, pesquisas voltadas as implicações das condições de trabalho na saúde dos
docentes são poucas e precisam ser fomentadas.
Considerando a falta de estudos envolvendo essa categoria profissional, tendo em vista às
exigências requeridas na sua atuação, objetivando sua valorização e também a precaução
quanto aos efeitos adversos à saúde (FREITAS; CRUZ, 2008; CRUZ; LEMOS, 2005), faz-se
pertinente estudos aprofundados relativos a QVT docente e, inclusive, que sejam
aperfeiçoados os instrumentos de pesquisa. (PAIVA et al, 2001).
Além da deficiência de estudos focando a QVT docente, há carências de tais práticas nas
Instituições de Ensino Superior (IES), as quais não apresentam preocupação com a
implantação desses programas, ignorando que investimentos na QVT dos docentes serão
traduzidos em ensino de melhor qualidade, permitindo que as instituições cumpram sua
verdadeira missão (SERRA, 2006).
2. Revisão da Literatura
Resultado das transformações ocorridas na sociedade, há algumas décadas percebem-se
mudanças no paradigma da Administração. Para Veloso, Schirrmeister e Limongi-França
(2011), as tendências verificadas apontam para maior valorização do indivíduo na
organização, trabalho em grupo, maior poder decisório, acesso maior a informações e
autonomia dos trabalhadores. Nesse cenário emergiram os conceitos de gestão em QVT.
Sant’Anna; Kilimnik e Moraes (2011) citam que o tema QVT é uma preocupação desde os
primórdios da civilização quando o homem já desenvolvia artefatos, ferramentas e métodos
pra tornar o trabalho menos desgastante e mais prazeroso. No entanto, é com a Revolução
Industrial que as condições de trabalho e sua influência sobre a produção e o moral dos
trabalhadores começam a ser estudados cientificamente.
Um dos primeiros estudos foi realizado por Elton Mayo (criador da Escola das Relações
Humanas) que muito contribuiu para o estudo do comportamento humano por identificar
fatores psicológicos e sociais presentes na dinâmica organizacional. Pelo fato dessa Escola ter
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sua ênfase nos aspectos psicossociais e motivacionais do trabalhador é que a QVT encontrou
maior identidade.
Foi na Inglaterra na década de 1950 que surgiu a expressão QVT através dos estudos de Eric
Trist. Somente na década de 1970 é que surge nos Estados Unidos a preocupação com os
efeitos do trabalho sobre a saúde e bem estar dos trabalhadores, iniciando então, os primeiros
movimentos estruturados utilizando QVT dentro das empresas (CAÑETE, 2004).
O surgimento dessa preocupação no Brasil segundo Cañete (2004) acontece na década de
1990. No entanto, no Brasil a QVT é um desafio cultural. O que se observa na maior parte das
empresas brasileiras são tentativas de aproximarem-se um pouco mais do que a autora chama
de “novas tendências”. A falta de informação e consciência não permite assumir compromisso
com os valores e atitudes voltados a essa filosofia. Um grande número de empresas denomina
Programas de QVT a adoção de algumas práticas legais, alguns tipos de benefícios voltados
aos trabalhadores. Outras até empregam práticas voltadas a QVT, mas não possuem políticas
formalizadas e suas ações não atingem, em muitos casos, todos os grupos. Para Pedroso e
Pilatti (2010), embora a QVT passasse a fazer parte do discurso patronal nas últimas décadas,
essa visão ainda não está materializada no dia a dia dos trabalhadores.
No que se refere a conceituação, segundo Pedroso e Pilatti (2010) a QVT apresenta
subjetividade e por esse motivo leva a existência de modelos teóricos distintos para sua
avaliação. Nessa perspectiva também Limongi-França (2009) vê como ampla e por vezes até
confusa. O entendimento abrange desde cuidados médicos definidos pelas normas de saúde e
segurança até atividades voluntárias dos empregados, entre outros. Freitas e Souza (2009)
também entendem tais questões como abrangentes e também desafiadoras. Observaram que
nas últimas décadas a QVT tem sido abordada sob vários aspectos, com influência forte de
fatores organizacionais e sociais vigentes na época em os que estudos foram realizados.
Ainda sobre os conceitos da QVT, embora apresente diferentes autores e definições,
Sant’Anna; Kilimnik e Moraes (2011) afirmam que todos trazem em si um ponto em comum:
o entendimento da QVT como um movimento de reação ao rigor dos métodos tayloristas e
por isso objetiva humanizar o trabalho, aumentar o bem-estar dos trabalhadores e maior
participação nas decisões e problemas do trabalho.
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Freitas e Souza (2009, p. 136), relacionam QVT “com a mobilização, comprometimento
pessoal a participação com o bem-estar do funcionário na execução da tarefa na empresa [...].
Entendem que num ambiente organizacional onde são geridos dinâmica e contingencialmente
os fatores físicos, sociológicos, psicológicos e tecnológicos envolvidos na organização do
trabalho, o ambiente se torna saudável e favorável ao aumento da produtividade, e também
reflete de forma positiva no comportamento do trabalhador.
Medeiros e Oliveira (2011) perceberam nas pesquisas que realizaram sobre o tema, que o
significado da QVT vem progredindo, sendo incluídas mudanças resultando em novas visões
e perspectivas. Destacam também que a maior parte dos enfoques convergem para um ponto
em comum: a busca da conciliação entre os interesses individuais e organizacionais.
Face ao exposto, muitos pesquisadores tem se empenhado na elaboração de modelos para
identificar os fatores que influenciam a QVT. Estudos realizados por Pedroso e Pilatti (2010);
Freitas e Souza (2009) analisaram os principais modelos existentes na literatura: Walton
(1973), Hackman e Oldham (1974), Westley (1979), Werther e Davis (1981) e Nadler e
Lawler (1983). Com base na pesquisa realizada, Freitas e Souza (2009) destacam que é com
Walton (1973) que a denominação de QVT é fundamentada. Esse modelo apresenta um
conjunto de critérios sob o ponto de vista organizacional, dando inicio a estudos sobre o tema.
Também para esses pesquisadores (FREITAS; SOUZA, 2009); (DIAS, 2001); (SERRA,
2007) o modelo de Walton (1973) é o mais abrangente por apresentar dimensões quem dão
ênfase ao trabalho como um todo, indo além do ambiente laboral.
Nesse sentido, Sant’Anna e Moraes (1999 apud MEDEIROS; OLIVEIRA, 2011), afirmam
que mesmo as abordagens da QVT se apoiando sobre pilares comuns, elas diferem, provando
que são dinâmicas e variam conforme valores culturais de cada época, de acordo com
contexto social, político e econômico e também com base nas experiências prévias de cada
pesquisador.
Observa-se de acordo com Sant’Anna e Kilimnik (2011), embora os estudos sobre QVT
tenham evoluído, pesquisas sobre essa temática tendem para uma reestruturação em termos de
métodos e técnicas. Isso no momento leva os pesquisadores a explorarem as condições
globais do local onde se desenvolve o trabalho, destacando em especial o cargo, interações
entre colegas, setores incluindo também as políticas organizacionais. A ênfase deixa de ser o
sedentarismo e o stress e passa a ser no equilíbrio entre trabalho e lazer que resulte em
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melhora da QVT. Nesse estágio da QVT, a busca extrapola os limites internos das
organizações e envolve questões voltadas ao bem-estar do indivíduo de modo mais
abrangente por abordar o trabalho de forma mais global.
Essa abordagem de caráter mais amplo se faz necessária, pois mesmo a QVT e vida global
serem distintas, se influenciam mutuamente. Assim, a insatisfação no trabalho pode causar
desajustes na vida familiar e social fora do ambiente laboral, enquanto insatisfações nesses
contextos (social e familiar) podem influenciar o trabalho (CAÑETE, 2004).
No Brasil, embora o interesse pelo tema QVT seja recente, vários trabalhos são
desenvolvidos, e um dos objetivos é elaborar um modelo voltado a realidade brasileira.
(MOURÃO; KILIMNIK; FERNANDES 2005 apud MEDEIROS; OLIVEIRA 2011).
Com base na literatura consultada, percebe que o tema QVT é relevante e se manifesta em
especial nas empresas de grande porte. Embora no setor privado esse tema ainda careça de
maior espaço e destaque; no setor público essa necessidade é ainda maior, pois poucos
estudos são realizados sobre QVT de funcionários públicos (OLIVEIRA et al, 2007).
Evidencia-se então, a carência de pesquisas em empresas de menor porte e no setor público.
Outra carência, essa relacionada a categoria profissional, diz respeito aos professores do
ensino superior. Araujo (2005) cita que é escassa a literatura sobre condições de trabalho e
saúde de docentes, principalmente no nível universitário, quando comparada a alguns
segmentos de trabalho. Os estudos privilegiavam as relações entre saúde e trabalho, em
contextos fabris, onde tal relação é mais direta e os riscos à saúde são mais evidentes. Cruz e
Lemos (2005) também percebem essa carência e afirmam que a atividade do professor, tendo
como base estudos sobre relação entre processo de trabalho e saúde, não apresentam a mesma
ênfase na investigação científica quando comparados a outras categorias profissionais do setor
industrial e de serviços. Soma-se isso, a importância social expressiva e ai a necessidade de
realizar pesquisas voltadas as implicações das condições de trabalho na saúde dos docentes, as
quais precisam ser fomentadas, haja vista que a qualidade do ensino depende diretamente dos
professores. Dias (2001) também tem esse entendimento ao afirmar que a preocupação com a
QVT dos docentes refletirá na sua atuação.
Pesquisas que tragam à tona cenários locais quanto às condições de trabalho e saúde
vivenciadas pelos professores nas universidades brasileiras possibilitarão maior visibilidade
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desses aspectos, o que contribuirá para a composição de um quadro geral sobre a temática.
Conhecer a dinâmica de produção do desgaste gerado na situação de trabalho poderá
viabilizar as medidas de prevenção necessárias. Diante desse contexto, é pertinente aqui a
afirmação de Laurell e Noriega (1989) pressupondo que a saúde-doença, é também um
processo social, pois de forma direta e indireta está relacionada às condições de vida e de
trabalho das pessoas. Os trabalhadores podem adoecer de forma genérica, o que depende do
espaço e do momento histórico em que vivem, como também podem adoecer de modo
específico, o que é resultante da forma como é organizado e realizado o trabalho que fazem
para garantir sua sobrevivência. Assim, o processo de trabalho emerge como uma categoria
central fundamental para o estudo do processo saúde-doença.
O aumento do adoecimento docente é fruto da pouca atenção dada a saúde desses
trabalhadores. Dentre os problemas que foram identificados citam-se: condições de trabalho
associadas a saúde, sofrimento psíquico, estresse, violência sofrida pelos professores nas salas
de aula, longas jornadas de trabalho, falta de reconhecimento e valorização. Freitas e Cruz
(2008) sugerem que, além de estudar a relação entre atividade laboral e as doenças, que
também se realize estudos voltados a melhorias nas relações de trabalho.
Outra pesquisa envolvendo também a atividade docente apontou que o sofrimento profissional
tem aumentado em períodos recentes. As condições precárias de trabalho resultam em
desgaste físico e mental. Silva et al (2006) constataram também a escassez de legislação sobre
a saúde e ambiente de trabalho do professor universitário.
Com esse foco, Lima e Lima Filho (2009) realizaram estudo com professores da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul e identificaram que os docentes apresentam exaustão
emocional, devido à presença de sintomas como nervosismo, estresse, cansaço mental,
esquecimento dentre outros. Observaram que as universidades públicas brasileiras interferem
na saúde dos professores, no entanto, há pouca atenção do Estado e também de dirigentes de
instituições para esse quadro crescente de mal estar, envolvendo aspectos físicos, psíquicos e
interpessoais, o que já fora citado por Silva et al (2006).
Ainda os mesmos autores (LIMA; LIMA FILHO, 2009) argumentam que existe sobrecarga e
falta de condições de trabalho, resultando em sérias conseqüências para a saúde do professor.
Constataram que os principais sintomas entre os docentes foram cansaço mental (53,9%),
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estresse (52,4%), ansiedade (42,9%), esquecimento (42,9%), frustração (37,8%), nervosismo
(31,1%), angústia (29,3%), insônia (29,1%) e depressão (16,8%).
Em estudo realizado com base na revisão de artigos, teses e dissertações foi constatado que,
embora não haja registros oficiais sobre o trabalho docente, há aumento do número de casos
de adoecimento. Verificou também a precarização cada vez maior das condições de trabalho
dos professores da rede pública e privada (LEMOS, 2005).
Seguindo esse entendimento, Freitas e Cruz (2008) afirmam que a atividade do professor deve
ser objeto de reflexões tendo em vista à necessidade de valorizá-los e também evitar efeitos
negativos a saúde desses profissionais. Acreditam que dentre as diversas categorias
profissionais, os docentes são os mais expostos e exigidos profissionalmente. Cobra-se deles
boa qualificação, qualidade de ensino, atualização constante, sem muitas vezes serem
oferecidas condições para tal.
Ao investigarem a qualidade de vida e a situação de trabalho dos docentes, Paiva et al (2001)
também constataram que são poucos estudados no Brasil e sugerem aprofundamento de
estudos bem como o aperfeiçoamento de modelos e instrumentos de pesquisa. Embora alguns
autores mencionem que um dos temas mais pesquisados se relacione aos docentes, sua ênfase
recai sobre práticas pedagógicas, assim a QVT dos professores é um tema novo.
Algumas pesquisas realizadas com os docentes trazem à tona a realidade. No estudo
comparativo que realizou entre duas Instituições de Ensino Superior (IES) uma pública em
outra privada no RS, Dias (2001) identificou que uma forma geral, os professores da
universidade pública estavam menos satisfeitos coma QVT do que os docentes da
universidade privada. Também Serra (2006) também fez a mesma constatação.
Em Florianópolis-SC estudo sobre características do estilo de vida e da qualidade de vida de
professores do ensino superior em uma universidade pública, constatou que os docentes não
se desligam de suas ocupações mesmo quando estão em casa, no lazer e inclusive nas férias.
Isso se deve a exigência constante por produtividade na forma de artigos, livros e pesquisas.
Soma-se a isso, o trabalho de orientação ao discente e ainda o exagero por produtividade em
termos de produção científica (SILVA, 2006).
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No trabalho realizado com um grupo de professores do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia (IFMT), Oliveira et al (2007) constataram também que os docentes, de uma
forma geral, apresentavam baixo nível de satisfação quanto a QVT.
Ainda pesquisa realizada por Serra (2006) para investigar os fatores de QVT com professores
universitários em Moçambique revelou que os docentes, em termos globais, apresentam grau
médio de satisfação com sua QVT, o ponto mais critico está na compensação justa e
adequada. Também ou autor constatou que os docentes associam menos o conceito de QVT a
fatores biológicos, psicológicos e sociais e mais a fatores de dimensão organizacional, dando
maior ênfase na remuneração e benefícios, valorização do indivíduo, recursos e condições de
trabalho.
O estado de saúde dos trabalhadores é dependente das relações entre as exigências e a
condição em que o trabalho é realizado, denominadas como cargas de trabalho originadas do
contexto e da forma como o trabalho está organizado. Assim, a análise da carga de trabalho,
com base nas dimensões físicas e psicológicas possibilita aumentar a percepção das condições
de trabalho e dos riscos, os quais têm impacto na QVT (LEMOS, 2005).
3 Considerações finais
A abordagem apresentada aqui sobre a qualidade de vida no trabalho docente objetivou trazer
a tona a discussão sobre a realidade que atua essa categoria profissional. Observa-se um
paradoxo, pois de um lado cada vez há cobrança pela qualidade de ensino, por outro lado, a
preocupação com qualidade de vida dos professores está longe de ter atenção necessária. Há
grande carga de trabalho e isso dificulta conciliar o trabalho e vida social, fator este que
interfere na qualidade de vida.
Desse modo, pretendeu-se fomentar discussão sobre o tema, e assim despertar interesse sobre
estudos voltados a QVT docente. Para tanto, é preciso levar em conta a diversidade de fatores
envolvidos bem como a criação de modelos que possibilitarão avaliar a QVT dos docentes do
ensino superior, considerando variáveis objetivas e subjetivas relevantes na mensuração.
Desse modo, é preciso identificar os pontos críticos no ambiente de trabalho que possam
interferir, ou seja, apresentar variáveis que contemplem esse contexto de trabalho. Para que
isso ocorra, é condição indispensável conhecer a realidade de trabalho dos professores, ou
seja, e identificar os pontos críticos que devem ser priorizados na busca da QVT, não somente
no sentido de avaliar, mas sim para poder agir sobre ela e transformá-la.
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