ANAIS
XV CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR
XXIV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO POPULAR
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL SINDICAL – 2º NÚCLEO DO CPERS SINDICATO
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA
“CONSTRUINDO CAMINHOS POSSÍVEIS PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE”.
Santa Maria/RS, 27 a 30 de maio de 2015.
ISSN-1984-9397
(RE)PENSANDO A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE
PROFESSORES
Joze Medianeira dos Santos de Andrade Toniolo1
Resumo: Este trabalho busca trazer algumas reflexões sobre a formação de
professores, basicamente a partir dos pressupostos teóricos de Paulo Freire e
Marcelo Garcia. Nesse breve escrito, busco problematizar os processos formativos
que vão constituindo o ser professor, a partir do seu desenvolvimento profissional
(Garcia, 1999), perpassando desde a formação inicial até a formação continuada.
Palavras-chave:
profissional.
Formação
inicial;
Formação
continuada;
Desenvolvimento
Iniciando a conversa: (re)pensando a formação de professores
A formação de professores, atualmente, tem sido uma área de constante
pesquisa, investigação, estudo, ou seja, a formação converteu-se numa área
complexa de crescente preocupação e interesse, tanto para investigadores como
para formadores. Tem-se percebido, cada vez mais, a necessidade de se dedicar
maior atenção ao aspecto formativo do professor, tendo em vista os desafios do
sistema educativo e as necessidades de ensino que a sociedade atual exige.
Compreender o conceito de formação pode ser um importante passo para
compreendermos o que vem sendo pesquisado e compreendido acerca do que
envolve essa temática, relacionada à formação de professores.
Formação inicial e continuada de professores: constituindo-se professor!
“A única maneira de ensinar é aprendendo”, e essa
afirmação valeria tanto para o aluno como para o
professor. Não concebo que um professor possa ensinar
sem que ele também esteja aprendendo; para que ele
possa ensinar, é preciso que ele tenha de aprender
(Antonio Faundez, 2002, p. 46)
Pensar em formação é pensar em um processo que se dá em movimento,
permanente, contínuo, não se esgota com a formação inicial, mas a transcende. Daí,
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Doutoranda em Educação (PPGE/UFSM), professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Farroupilha. E-mail: [email protected]
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podemos dizer que, mais importante que a formação inicial, é a capacidade que o
professor precisa ter de continuar aprendendo, dando continuidade a esse processo
de formação que nunca se esgota.
Ao buscar compreender como se constrói esse processo formativo, inicio a
reflexão a partir do significado da palavra: “form-AÇÃO”. Toda a form-AÇÃO traz em
si a idéia de formar-se, constituir-se num processo que se dá em movimento, em
constante ação, interação. Essa ação pressupõe, necessariamente, a presença de
outros cenários, outros sujeitos, outros espaços.
Assim, o processo formativo de cada professor(a) vai se construindo de
múltiplas maneiras, através dos conhecimentos teóricos, práticos, políticos,
epistemológicos, pedagógicos, curriculares, didáticos e outros, mas também da
emoção, da afetividade, do diálogo, da reflexão, tão necessários a atividade
docente. Esses conhecimentos vão sendo construídos, tecidos em “redes”, ao longo
da trajetória de cada educador, se constituindo em elementos importantes na
formação de professores.
Carlos García (1999) descreve três fases do processo de formação: a
formação inicial; a formação de principiantes, ou seja, formação durante o período
de iniciação à docência e, especialmente, a fase do desenvolvimento profissional
dos professores – a formação continuada. Essas fases merecem um olhar mais
atento, uma vez que elas delineiam a trajetória pessoal e profissional que vai
constituindo o “ser professor”, no decorrer do seu processo de formação. Neste
sentido, o autor traz alguns conceitos sobre “formação”, tentando sistematizar e
organizar diferentes teorias, princípios e orientações conceituais, a partir dos
estudos de diferentes autores, entendendo a “formação de professores como um
contínuo; o princípio de integração de práticas escolares, curriculares e de ensino; a
necessidade de ligar a formação inicial com o desenvolvimento profissional;
integração teórico-prática; isomorfismo; individualização; etc” (1999, p. 12).
Essa construção conceitual encaminha à análise de cinco orientações
conceituais que o autor organiza: orientação acadêmica (inicial; domínio dos
conceitos e estrutura disciplinar), tecnológica (domínio técnico de competências;
destrezas necessárias para o ensino), personalista (pessoa com todos os seus
limites e possibilidades; caráter pessoal do ensino), prática (ensino visto com
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atividade complexa; combinação de experiências diretas e interações) e socialreconstrucionista (relação com a orientação prática; compromisso ético e social de
procura de práticas educativas e sociais mais justas e democráticas), que ajudam a
compreender o processo formativo de professores. Para isso, além da formação
inicial, torna-se cada vez mais necessário atentar-se para a fase da formação de
professores principiantes, sendo esta uma etapa importante do “ensinar e aprender”.
É nesse período de iniciação que a escola desempenha um papel importante,
servindo de apoio aos professores principiantes que são profissionais que estão se
aperfeiçoando como docentes, com consciência de que sua formação é incompleta.
A formação docente não se restringe apenas ao âmbito acadêmico, mas
permeia as trajetórias dos professores(as), suas experiências e vivências que vão
tecendo os seus conhecimentos e construindo saberes relevantes para sua atuação
profissional. O desenvolvimento profissional dos professores vai, assim, se
desenvolvendo num processo evolutivo e contínuo, superando a tradicional
justaposição entre formação inicial e aperfeiçoamento dos professores.
García (1999, p. 137) adota o conceito de desenvolvimento profissional de
professores por entender que se reflete a concepção de professor como profissional
do ensino e, por isso mesmo, a formação de professores precisa ser estudada e
compreendida a partir da relação epistemológica com as áreas teóricas e de
investigação didática: a escola, o currículo e a inovação, o ensino e os professores.
O desenvolvimento profissional dos professores permite unir práticas educativas,
pedagógicas, escolares e de ensino, inserido num contexto de desenvolvimento
organizacional e curricular. Esse processo tem sido entendido como um “conjunto de
processos e estratégias que facilitam a reflexão dos professores sobre a sua própria
prática, que contribui para que os professores gerem conhecimento prático,
estratégico e sejam capazes de aprender com a sua experiência” (IDEM, p. 144).
O desenvolvimento profissional pode se dar, segundo García, de maneira
autônoma; baseado na reflexão, no apoio profissional mútuo e na supervisão;
através do desenvolvimento e inovação curricular e a formação no centro; através de
cursos de formação; da investigação; de uma proposta integradora. No entanto,
esse processo de formação de professores também precisa ser entendido como um
trabalho coletivo com outros professores dentro de uma mesma equipe, tendo
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sempre em vista as teorias do currículo e do ensino. Assim, a formação de
professores vai se apresentando como uma “potente matriz curricular” (GARCÍA,
1999, p. 24 apud MEDINA E DOMINGUEZ, 1989, p. 105), com: consolidação
científica, validade epistemológica permanente, utilização de modelos e métodos de
investigação próprios que vão sendo entrelaçadas, fazendo uma ponte na
elaboração de teorias práticas sobre o ensino (GARCÍA, 1999, p. 24 apud GIMENO,
1990).
As concepções sobre os professores variam de acordo com as diferentes
abordagens,
paradigmas,
orientações
(orientação
acadêmica,
tecnológica,
personalista, prática e social reconstrucionista) que vão construindo diferentes
imagens do professor, o que vai influenciar respectivamente, na concepção de
conteúdos, métodos e estratégias na formação de professores. Por isso, a
importância atribuída à formação continuada parte, a priori, da concepção que o
professor tem a respeito do seu próprio processo formativo. Como o próprio nome já
diz, “continuada” pressupõe um caráter contínuo, que engloba a formação inicial,
permanente, os conhecimentos teórico-práticos adquiridos e vivenciados no decorrer
do seu desenvolvimento profissional.
Pensar a formação de professores nessa perspectiva é compreender o nosso
processo de inacabamento (FREIRE, 1987), é compreender que não nascemos
humanos e nem educadores. Precisamos ir aprendendo a ser. A formação inicial é
apenas o primeiro passo na formação do educador que vai se constituindo
permanentemente. Além dessa etapa, muitos outros saberes vão sendo construídos
a partir da formação continuada, da ação e da reflexão permanente da e sobre a
própria prática. Nesse movimento,
[...] é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de
educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos
deuses nem se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais
escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que
supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em
comunhão com o professor formador. [...] Por isso é que, na formação
permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica
sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que
se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário
à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda
com a prática (FREIRE, 1998, p. 43-44).
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Penso que quando falamos em formação de professores, a preocupação
central deveria ser esse pensar criticamente a prática para melhorá-la, recriá-la,
reinventá-la de acordo a cada realidade, a cada nova situação. Reconhecer-se como
um professor que está sendo sempre desafiado a buscar, a aprender coisas novas,
consciente do seu inacabamento, revela sua concepção quanto ao processo de
ensinar e aprender, não como algo dado, mas que vai se construindo na e pela
história, com consciência e sensibilidade (GADOTTI, 2005) das suas tarefas e
atribuições. E, além disso, do seu compromisso político com os educandos
(FREIRE, 1987).
Por ora, algumas considerações sobre a formação de professores
O processo de vir a ser (Freire, 1987), de ir se constituindo-se este ou aquele
professor não é um fato predeterminado pela história, nem geneticamente préestabelecido, mas o resultado de um percurso e de escolhas feitas, de uma trajetória
de possibilidades do viver humano em toda a sua complexidade individual, social,
histórica, política. Para que esses caminhos sejam construídos juntos há que se
pensar a formação do profissional da educação numa (inter)relação dialógica,
coletiva, afetiva. Como diria Freire, é isso que impulsiona a busca pelo ser mais e
por fazer com que, através da corporificação das palavras pelo exemplo dos
educadores, os educandos também se insiram nesta constante busca, onde tenham
o direito de dizerem a sua palavra (FIORI, 1987), sendo sujeitos do seu pensar e
agir.
Freire desafiava e continua a desafiar os professores a criar e recriar sua(s)
própria(s) pedagogia(s), transformando suas práticas pedagógicas não apenas em
palavras faladas, mas principalmente em palavras sentidas, vividas. Embora se
tenha muitas orientações ou perspectivas, nenhuma dá conta de explicar e
compreender na totalidade a complexidade da formação de professores, daí a
necessidade de se fazer uma reflexão mais aprofundada, procurando entrelaçar os
aspectos teóricos e práticos que envolvem esse processo de formação que nunca se
conclui, que é um permanente estar sendo (FREIRE, 1987).
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Referências
FIORI, Ernani Maria. Prefácio. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Coleção O mundo,
hoje, vol. 21. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Coleção O mundo, hoje, vol. 21.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
_____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1998.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. Série
Práticas Educativas. Curitiba: Positivo, 2005.
GARCÍA, Carlos Marcelo. Formação de Professores: Para uma mudança
educativa. Coleção Ciências da Educação século XXI, vol. 2. Portugal: Porto Editora
LDA, 1999.
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