UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE NUTRIÇÃO
AMANDA BIANCHINI
EFEITOS DE DIETAS RICAS EM PROTEÍNAS NA REDUÇÃO DE PESO
CORPORAL
CRICIÚMA, JULHO DE 2009
AMANDA BIANCHINI
EFEITOS DE DIETAS RICAS EM PROTEÍNAS NA REDUÇÃO DE PESO
CORPORAL
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao Curso de Nutrição da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC, para a obtenção do grau de
Bacharel em Nutrição.
Orientadora: Profª Msc. Adriana Soares Lobo
CRICIÚMA, JULHO DE 2009
‘
AMANDA BIANCHINI
EFEITOS DE DIETAS RICAS EM PROTEÍNAS NA REDUÇÃO DE PESO
CORPORAL
Trabalho de Conclusão de Curso
aprovado pela Banca Examinadora para
obtenção do Grau de Bacharel, no Curso
de nutrição da Universidade do Extremo
Sul Catarinense, UNESC, com Linha de
Pesquisa em saúde pública.
Criciúma, 03 de julho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Adriana Soares Lobo - Mestre - (UNESC) - Orientadora
Prof. Marco Antônio da Silva - Mestre - (UNESC)
Prof.ª Maria Cristina Gonçalves de Souza - Mestre - (UNESC)
9
Dedico este trabalho, aos meus pais
Marcos e Vanda, a meu irmão Felipe e
ao meu namorado Silvio, que sempre
me apoiaram em minhas decisões.
10
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por me colocar nos caminhos que
devo seguir.
À minha orientadora Adriana Soares Lobo, que me auxiliou na
realização deste trabalho.
Ao professor Marco Antônio da Silva, pela gentileza de fornecer
artigos e livro e por ter aceitado participar da banca examinadora.
A professora Maria Cristina Gonçalves de Souza, por ter aceitado
participar da banca examinadora.
A minha família e meu namorado por terem me escutado,
compreendido e auxiliado nos momentos mais difíceis da realização deste.
Muito Obrigada!
11
“Deixe o alimento ser sua medicina e a
medicina ser seu alimento”
Hipócrates
12
RESUMO
A obesidade é uma doença crônica resultante de um balanço energético
positivo por um grande período, ocasionando assim, um acúmulo de gordura
corporal. O tratamento dessa patologia de origem multifatorial inclui dieta,
atividade física e intervenções farmacológicas. Algumas estratégias dietéticas
preconizadas para a perda de peso no tratamento da obesidade baseiam-se
nos princípios de uma dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos. No
entanto, a popularidade dessas dietas que promovem grande ingestão de
proteínas e conseqüente restrição de carboidratos é motivo de preocupação
para os profissionais de saúde, devido à falta de evidencias científicas que
apóiem as suas reivindicações e as conseqüências para a saúde a longo
prazo. Este estudo teve por objetivo descrever os efeitos de dietas ricas em
proteínas na redução de peso corporal. Para tal, foi realizado um levantamento
em livros acerca do assunto e artigos científicos. Muitas das dietas populares
hiperprotéicas promovem a ingestão de 71 a 162 gramas ou 28 a 64% de
energia diariamente. Dentre os tipos de dietas hiperprotéicas, a mais conhecida
é a Dieta de Atkins, que preconiza o consumo de alimentos ricos em gorduras,
como carnes vermelhas, queijos e derivados, embutidos e etc, com
concomitante redução dos carboidratos. Defensores das dietas hiperprotéicas
colocam que o excesso de carboidratos resulta em elevados níveis de insulina
e, conseqüente, armazenamento de gordura e outras alterações metabólicas.
Ademais, esses macronutrientes estimulariam a liberação de insulina abolindo
a quebra e a oxidação das gorduras. Todavia, o ganho de peso só aconteceria
se existisse um balanço energético positivo. Outro possível efeito das dietas
ricas em carboidrato seria a maior termogênese provocado pelo consumo de
proteínas, o que para alguns autores, representaria um aumento insignificante.
Por fim, as dietas hiperprotéicas também são defendidas pelo fato da proteína
ser um nutriente que aumentaria a saciedade, diminuindo a ingestão de
alimentos, promovendo balanço energético negativo. Em virtude da segurança
a saúde, estas dietas excluem alguns grupos alimentares da alimentação, que
mantidos por longo tempo podem acarretar carências nutricionais. Ademais, as
dietas ricas em proteínas não restringem a quantidade de gordura que as
acompanha, contribuindo dessa forma para possíveis mudanças desfavoráveis
nos níveis lipídicos e no aumento do risco de doenças coronárias. Estas dietas
permanecem controversas em relação à segurança e a eficácia quanto ao
poder de emagrecimento a longo prazo.
Palavras-chaves: Dieta. Proteína. Carboidrato. Emagrecimento. Hiperprotéica.
Hipoprotéica.
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9
2 OBESIDADE ..........................................................................................................12
2.1 DEFINIÇÃO .....................................................................................................12
2.2 CAUSAS ..........................................................................................................13
2.2.1 FATORES GENÉTICOS ...........................................................................13
2.2.2 FATORES AMBIENTAIS...........................................................................14
2.2.2.1 HÁBITOS ALIMENTARES .....................................................................15
2.2.2.2
SEDENTARISMO.....................................................................................16
2.3 CONSEQUÊNCIAS .........................................................................................16
2.4 TRATAMENTO ................................................................................................17
2.4.1 DIETA........................................................................................................18
2.4.2 ATIVIDADE FÍSICA...................................................................................20
2.4.3 INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS ...................................................20
2.4.4 MÉTODOS CIRÚRGICOS ........................................................................21
3 DIETAS HIPERPROTÉICAS .................................................................................23
4 DIETAS HIPERPROTÉICAS E PERDA DE PESO CORPORAL ..........................25
5 EFEITOS DAS DIETAS HIPERPROTÉICAS NO ORGANISMO: POSSÍVEIS
MECANISMOS DE REDUÇÃO DO PESO CORPORAL ..........................................27
5.1 DIETAS HIPERPROTÉICAS E INSULINEMIA ................................................27
5.2 DIETAS HIPERPROTÉICAS E EFEITO TÉRMICO DO ALIMENTO ...............28
5.3 DIETAS HIPERPROTÉICAS E SACIEDADE ..................................................30
6 DIETAS HIPERPROTÉICAS E SAÚDE.................................................................33
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................36
REFERÊNCIAS.........................................................................................................38
14
1 INTRODUÇÃO
O termo dieta é mal utilizado e na maioria das vezes associado à
privação de alimentos ou a castigo. A palavra dieta é de origem grega, cujo
significado é “manter-se saudável” e “qualidade de vida” (LOTTENBERG,
2006).
A palavra dieta significa plano ou programa alimentar que tem como
objetivo fornecer todas as recomendações nutricionais para um indivíduo,
durante um determinado tempo, com o intuito de proporcionar uma alimentação
balanceada e saudável (FAUSTO, 2003).
Para Santos (2007), uma dieta deve ter como objetivo fornecer toda
a necessidade de nutrientes, sendo diferente para cada indivíduo, com o
objetivo de manter as funções fisiológicas e motoras do ser humano. São os
nutrientes adquiridos através da alimentação que fornecem energia, ajudam a
combater e prevenir doenças e contribuem para o funcionamento de diversos
órgãos.
Segundo Stürmer (2002), todos os nutrientes são importantes à
saúde e por isso, geralmente não se deve aumentar o consumo de alguns e
diminuir o consumo de outros para não acarretar futuramente, doenças
ocasionais devido a excessos ou carências nutricionais.
Em relação aos excessos nutricionais, cabe destacar que a
obesidade vem se tornando um problema de saúde pública, alcançando
proporções de epidemia mundial. As causas da obesidade são múltiplas
(SAMPAIO;
SABRY,
2007),
e
seu
tratamento
envolve
mudanças
comportamentais, incluindo a prática de dietas.
Ano após ano, “dietas da moda” que tem por objetivo a perda de
peso surgem em revistas, livrarias e internet “circulando” na sociedade e
deixando o público na expectativa de emagrecimento a cada nova fórmula
milagrosa que surge.
A adesão para estas dietas é grande, inicialmente, mas a
continuidade não é mantida a longo prazo, por não retratarem o cotidiano do
público alvo (LOTTENBERG, 2006).
15
Quando não há mudanças no estilo de vida do indivíduo que adota
uma dieta, seja ela qual for, aumentam as possibilidades de que o peso perdido
seja recuperado, fato que reforça a desistência no cumprimento do plano
alimentar proposto pela dieta (HILL, 2001 apud VIUNISKI, 2007).
Segundo Whitney e Rolfes (2008), as recomendações referentes às
dietas devem ser resultados de vários anos de pesquisa sólida e que tenham
sido revisadas por cientistas antes de serem oferecidas ao público interessado.
Independente do nome da dieta, grande parte das “dietas da moda”
preconiza os princípios de uma dieta rica em proteínas e pobre em
carboidratos. As dietas ricas em proteínas “aparecem” regularmente com vários
disfarces como sendo a melhor maneira de perder peso (WHITNEY; ROLFES,
2008). Os nomes destas dietas são muitos, como a Nova Dieta Revolucionária
do Dr. Atkins, a dieta da Zona, a dieta de South Beach, a dieta Low-Carbo
(pobre em carboidratos), dentre outros.
Em relação à aceitação de dietas populares, ricas em proteínas,
ainda existe a necessidade de avaliar as intervenções dietéticas em relação à
sua segurança e os efeitos metabólicos adversos (LARA-CASTRO; GARVEY,
2004).
Muitas organizações profissionais, como a American Dietetic
Association e a Heart Association, alertam contra o uso de dietas pobres em
carboidratos (BRAVATA et al, 2003).
Este estudo teve por objetivo descrever os efeitos de dietas ricas em
proteínas na redução de peso corporal.
O estudo se caracteriza como do tipo bibliográfico. Para tal, foi
realizado um levantamento em livros acerca do assunto e artigos científicos em
bases de dados Scielo, ABESO, PubMed, Jama, utilizando como palavraschave os termos: low-carbohydrate, high protein, dieta e dieta do Atkins.
O trabalho está estruturado da determinada forma:
- Primeiro Capítulo: Introdução;
- Segundo Capítulo: Obesidade, descrevendo a sua definição, as
causas, as consequências e tratamento;
- Terceiro Capítulo: Dietas hiperprotéicas;
- Quarto Capítulo: Dietas hiperprotéicas e peso corporal;
16
- Quinto Capítulo: Efeitos das dietas hiperprotéicas no organismo:
possíveis mecanismos de redução de peso corporal, descrevendo mecanismo
como a insulinemia, efeito térmico do alimento e saciedade;
- Sexto Capítulo: Dietas hiperprotéicas e saúde;
- Sétimo Capítulo: Conclusão.
Este estudo justifica-se uma vez que as dietas radicais estão cada
vez mais disponíveis para o público, variando na forma e no nome respectivo,
porém mantém sempre o mesmo tema, ou seja, emagrecer sem sacrifício e
eleger alguns alimentos como vilões (LOTTENBERG, 2006).
A popularidade dos livros de dietas que promovem grande ingestão
de proteínas e conseqüente restrição de carboidratos é motivo de preocupação
para os profissionais de saúde, devido à falta de evidencias científicas que
apóiem as suas reivindicações e as conseqüencias para a saúde a longo prazo
(KENNEDY et al, 2001; FREEDMAN, 2000 apud JEOR et al, 2001).
Parece não existir qualquer justificativa admissível para a exclusão
de carboidratos da alimentação, especialmente as frutas e hortaliças. Pois os
carboidratos são fontes primárias de energia, são ricos em fibras, promovem
saciedade e possuem outras funções essenciais ao nosso organismo. Os
alimentos fonte de carboidratos proporcionam vitaminas e minerais, sendo
estes,
nutrientes
essenciais
que
participam
de
importantes
reações
metabólicas (LOTTENBERG, 2006).
17
2 OBESIDADE
2.1 DEFINIÇÃO
A obesidade é uma doença crônica resultante de um balanço
energético positivo (consumo energético maior que o gasto energético) por um
grande período, ocasionando assim, um acúmulo de gordura no tecido adiposo
(SAMPAIO; SABRY, 2007).
A obesidade é representada pelo aumento do peso corporal e pelo
aumento excessivo de massa adiposa localizada em muitos tecidos corporais
(DÂMASO, 1995; GAVIN; GOLAY; RISSANEN, 1998; TADDEI, 1993;
ZANCHETTI, 1999 apud DÂMASO, 20001). Parra Farret (2005), esse excesso
de massa adiposa em relação ao peso corporal total pode acarretar problemas
para a saúde posteriormente.
Guedes e Guedes (2003) conceituam a obesidade como sendo o
acúmulo excessivo de gordura no tecido adiposo, podendo ser regionalizado ou
presente em todo o corpo, desencadeado por fatores ligados aos aspectos
endócrino-metabólicos e/ou ambientais.
Para Mahan e Escott-Stump (2005), a obesidade é caracterizada
como o estado de adiposidade em que a gordura corporal está acima do ideal,
correspondendo a um índice de massa corporal de 30 a 39,9.
Farret (2005) diz que para o diagnóstico da doença é utilizado
freqüentemente o Índice de Massa Corporal (IMC). Porém, o IMC avalia
somente a massa corporal total, não diferenciando a massa gorda da massa
livre de gordura (DANIELS; KHOURY; MORRISON, 1997 apud FARRET,
2005).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é
caracterizada como sendo uma epidemia devido ao rápido crescimento global
da sua prevalência (LOTTENBERG, 2006).
18
2.2 CAUSAS
As causas para o ganho de peso a longo prazo que originam a
obesidade são múltiplas (SAMPAIO; SABRY, 2007). Existem os fatores
genéticos e os ambientais (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
A hereditariedade e o meio ambiente induzem tanto a entrada como
o gasto de energia (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
2.2.1 FATORES GENÉTICOS
Para Sampaio e Sabry (2007), os fatores genéticos influenciam
diretamente o aparecimento da obesidade, pois em torno de 25 a 40% da
obesidade e 50 a 60% da distribuição de gordura corporal podem ser
resultados da herança genética. Segundo Coutinho (2007), os novos hábitos
alimentares e o sedentarismo, atuantes sobre os genes suscetíveis são os
fatores principais que determinam o crescimento da obesidade.
A genética influencia o aparecimento da obesidade através da
susceptibilidade aos genes. Tais genes parecem aumentar o risco de
desenvolver tal característica, porém, não são suficientemente essenciais para
explicar o distúrbio (BOUCHARD et al, 1990 apud FARRET, 2005).
Mahan e Escott-Sump (2005) afirmam que vários fatores hormonais
e neurais, envolvidos na regulação do peso corporal normal são determinados
geneticamente, como à distribuição regional de gordura corporal, o número e o
tamanho das células de gordura e a taxa metabólica basal (TMB). Estes fatores
abrangem sinais de curto e longo prazo que delimitam os atos de alimentação
e de saciedade.
Existem indicações de que o componente genético age sobre o gasto
energético, consequentemente sobre a taxa metabólica basal (BARON, 1995;
GRUNDY, 1998 apud FRANCISCHI et al 2000).
19
Em estudos com gêmeos é suportada a hipótese de que há
susceptibilidade aos genes, pois pares de gêmeos foram expostos a um
balanço energético positivo ou negativo (BOUCHARD et al, 1990 apud
FARRET, 2005). Farret (2005) diz ainda que os estudos sugerem que as
diferenças na susceptibilidade genética, na população, delimitam indivíduos
que são mais propensos a se tornarem obesos diante de determinadas
circunstâncias ambientais.
Segundo Williams (2002), indivíduos predispostos, geneticamente, à
obesidade não têm que ser obesos necessariamente, da mesma maneira que
indivíduos com uma pequena tendência à obesidade podem vir a se tornar
indivíduos obesos. Apesar da predisposição à obesidade, pode-se chegar ao
peso corporal desejado através de dieta e de exercícios físicos apropriados,
pois o estilo de vida influencia diretamente no controle do peso corporal.
Para Angelis (2003), os indivíduos recebem o componente genético
ao mesmo tempo em que recebem os hábitos tradicionais da família,
abrangendo os de conduta de atividade física e alimentar.
Segundo Farret (2005), o efeito da genética existe, porém este será
modificado pelos fatores ambientais.
2.2.2 FATORES AMBIENTAIS
Existem fortes evidências que propõem que os padrões de dietas e
de atividades físicas sejam as causas primárias dos problemas relacionados ao
peso corporal nas sociedades industriais e que há uma discrepância entre
nossa constituição genética e nosso estilo de vida (FOREYT; POSTON, 1997
apud MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
20
2.2.2.1 HÁBITOS ALIMENTARES
Segundo Williams (2002), um dos fatores mais importantes que
predispõe a obesidade é a ingestão excessiva de calorias, sobretudo de
gordura.
As teorias que insinuam um desequilíbrio do ganho de energia estão
geralmente associadas aos fatores que influenciam o apetite, a fome e a
saciedade (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
Considera-se que atualmente em relação a valores quantitativos, a
demanda energética corresponde em média de 800 kcal diárias a menos do
que há duas décadas; porém o consumo energético vem crescendo
rapidamente. Acredita-se que os hábitos alimentares de hoje venham
contribuindo por volta de 750 kcal por dia a mais que os adotados pela
sociedade nos anos 70 (JAMES, 1995 apud Guedes; Guedes, 2003).
O consumo calórico mais elevado não é a única modificação
detectada em relação aos hábitos alimentares de indivíduos adultos;
confirmando também alterações na proporção dos nutrientes que consistem as
dietas atuais (BROWNELL, 1992 apud Guedes; Guedes, 2003).
Referente à freqüência alimentar, o baixo número de refeições
provoca a hipertrofia do estômago e do intestino delgado, podendo contribuir
para o ganho de peso (COHN, 1959 apud OLIVEIRA; SICHIERI, 2004).
Segundo Jebb (1997), indivíduos que ingerem maior número de refeições
pequenas durante o dia, apresentam peso corporal menor que indivíduos que
ingerem grandes refeições com menor freqüência (FRANCISCHI et al 2000).
Relacionado à variedade na alimentação, quanto maior a variedade
maior será a ingestão individual. Pois existe a apreciação sobre os alimentos,
fazendo com que o indivíduo consuma-os até a sensação de saciedade
(SAMPAIO; SABRY, 2007).
O elevado teor de gordura saturada na alimentação do homem
moderno vem crescendo através da substituição das preparações realizadas
em casa pelas industrializadas, sendo estas de maior densidade energética
(Guedes; Guedes, 2003).
21
2.2.2.2 SEDENTARISMO
Para Sampaio e Sabry (2007), outra causa freqüente que favorece o
aparecimento da obesidade é a baixa atividade física, pois esta é fundamental
na regulação de peso corporal. As facilidades que existem decorrentes da
tecnificação do trabalho, lar, transporte, comunicação e lazer; contribuem para
o sedentarismo diário de cada indivíduo favorecendo dessa forma ao ganho de
peso (BLAIR, 2002 apud SAMPAIO; SABRY, 2007).
Decorrente a urbanização, existe um grande tráfego de automóveis
aliado à falta de segurança dos bairros de subúrbio, tornando as populações de
mais baixa renda vulneráveis ao sedentarismo e à obesidade (EWING;
CERVERO, 2001 apud COUTINHO, 2007).
Tanto a atividade física como o exercício físico, constitui um fator
importante na prevenção do excesso de peso (WILLIAMS, 2002).
O aumento do exercício físico pode proporcionar um déficit de
energia até sem a combinação com uma dieta, e pode se esperar que o
exercício diminua o peso por volta de dois a três quilogramas, dependendo da
intensidade, duração e tipo de atividade (BLAIR, 1993 apud MAHAN; ESCOTTSTUMP, 2005).
Para Farret (2005), todos esses fatores junto aos hábitos alimentares
familiares e ao ambiente social e profissional (estresse, isolamento, depressão
etc.) contribuem para o desenvolvimento da obesidade em indivíduos
predispostos.
2.3 CONSEQUÊNCIAS
A
obesidade
e
suas
comorbidades,
como
as
doenças
cardiovasculares e a síndrome metabólica, tem sido um dos maiores desafios
biomédicos nas últimas décadas (SARIS; DIÓGENES, 2005 apud VIUNISKI,
2007).
22
Guedes e Guedes (2003) argumentam que o controle do peso
corporal é de grande importância para o homem nos dias de hoje. Pois existe
maior preocupação com a saúde, devido a um conjunto de doenças associadas
ao excesso de peso, que leva à mortalidade e a preocupação com a aparência,
objetivando prestígio social ou econômico.
A obesidade central (gordura localizada predominantemente na
região
abdominal)
junto
à
intolerância
a
glicose,
hipertensão,
hipertrigliceridemia e baixo HDL-colesterol vêm sendo nomeados de “Síndrome
Metabólica” ou “Síndrome X” (GINSBERG, 2003; THOMPSON, 2002 apud
SAMPAIO; SABRY, 2007). A obesidade é um dos fatores principais de risco
para doenças cardiovasculares (NATIONALHEART, 2003 apud SAMPAIO;
SABRY, 2007).
Segundo Guedes e Guedes (2003), indivíduos obesos geralmente
apresentam níveis elevados de pressão arterial, grandes concentrações de
lipoproteínas de baixa densidade (LDL-colesterol) e de muito baixa densidade
(VLDL-colesterol) e baixas concentrações de lipoproteínas de alta densidade
(HDL-colesterol) e aumento dos triglicerídeos plasmáticos.
A obesidade pode causar problemas respiratórios, como dificuldade
respiratória, apnéia durante o sono e propensão ao ronco (FERRANNINI et al,
1996 apud DÂMASO, 2001). A obesidade ainda pode acarretar em alterações
metabólicas, que associadas a outras doenças crônico-degenerativas, podem
levar o indivíduo à morte (BJÖRNTORP, 1993; MOLLER, 1994 apud DÂMASO,
2001).
2.4 TRATAMENTO
O tratamento da obesidade tem como objetivo melhorar a qualidade
de vida, o estado físico e a sobrevida de pacientes obesos (ROCKVILLE, 1999
apud FARRET, 2005). O tratamento é realizado de várias maneiras, incluindo
dieta, atividade física, intervenções farmacológicas e métodos cirúrgicos
(BRAY; TARTAGLIA, 2000 apud FARRET, 2005).
23
Para Suplicy (2006), um tratamento é considerado bom quando
existe um programa alimentar adequado e que junto a este, o paciente consiga
bons resultados em relação ao seu peso corporal. O tratamento contribui
favoravelmente para a redução dos níveis de glicemia, de insulinemia, de
hipertrigliceridemia, de pressão arterial e consequentemente, contribui para o
aumento do HDL colesterol, melhora da função cardíaca e respiratória e ajuda
a melhorar a auto-estima do paciente obeso.
Segundo Guedes e Guedes (2003), reduzindo o peso corporal de
indivíduos com sobrepeso ou obesidade, passa-se a prevenir ou diminuir os
riscos de distúrbios crônicos degenerativos e os seus respectivos sintomas.
2.4.1 DIETA
Suplicy (2006) estabelece que a dieta que o paciente obeso precisa
ser submetido deve propor uma redução da ingestão calórica e satisfazer a
fome.
Segundo Melby e Hickey (2006), o balanço energético é a ligação
entre o total de calorias consumida por meio dos alimentos, mais o total de
calorias gastas no decurso de um período. Quando se realiza uma dieta é
preciso estabelecer um balanço energético negativo, isto é, um consumo
energético menor que o gasto energético, ou seja, o déficit, ocorrendo à perda
dos estoques corporais de energia e redução de peso.
Suplicy (2006) relata ainda que para se obter um melhor prognóstico
a longo prazo é necessário que se faça uma dieta contendo um pequeno déficit
energético, ocorrendo uma redução de 500 a 1000 Kcal por dia,
correspondendo de meio a um quilograma por semana de perda de peso. Esse
déficit energético proporciona uma melhor manutenção do peso perdido a
longo prazo, quando comparadas a dietas mais restritas.
Cuppari (2005) acrescenta, caso o plano moderado não tenha
proporcionado resultados esperados em relação à perda de peso, passa-se
para o plano de baixo valor energético. Este é caracterizado por uma
24
diminuição de 800 e 1200 kcal por dia ou entre 10 e 19 kcal/kg de peso
desejável.
A restrição calórica envolve transformações metabólicas como,
diminuição do gasto energético de repouso, menores níveis de hormônios da
saciedade e o acréscimo dos hormônios relacionados à fome, estes, atuando a
longo prazo (MELBY; HICKEY, 2006).
O plano de restrição de muito baixo valor energético estipula menos
de 800 kcal diárias ou menos de 10 kcal/kg de peso desejável por dia.
Dietas que delimitam rigorosamente o consumo energético são
cientificamente perigosas para a saúde e em consequencia, levam a perda de
grandes quantidades de água, eletrólitos, minerais e tecidos desprovidos de
gordura (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 1993 apud
FRANCISCHI et al, 2000).
Segundo Suplicy (2006), existe mais de 1200 livros expondo dietas
populares prometendo resultados rápidos e eficazes.
Farret (2005) afirma que nos últimos 50 anos, estiveram no auge as
dietas pobres em carboidratos e gorduras e ricas em proteínas e fibras.
Dietas ricas em proteínas e pobres em carboidratos têm sido
recomendadas em muitos livros populares de dieta (ATKINS, 1992; SEARS;
LAWREN, 1995 apud FARRET, 2005).
Em relação às dietas ricas em gorduras e pobres em carboidratos, as
mais populares são “A dieta do Dr. Atkins” e “A dieta de South Beach”. Similar
à dieta cetogênica existe a dieta conhecida como “O ponto Z – a dieta”, rica em
proteína e pobre em carboidratos (SUPLICY, 2006).
Essas dietas serão mais bem discutidas posteriormente por serem
consideradas dietas hiperprotéicas e utilizadas por muitos indivíduos com a
finalidade de redução de peso corporal.
2.4.2 ATIVIDADE FÍSICA
25
A atividade física contribui significativamente para a redução de peso
corporal (BOUCHARD, 1994; U.S., 1996 apud NAHAS, 1999). A prática regular
de atividade física em conjunto a uma boa alimentação, resulta na forma mais
saudável e eficaz para a perda de peso ou a sua manutenção (HARRIS, 1999;
PHYSICAL, 1999 apud NAHAS, 1999).
Para Stürmer (2002), o exercício físico protege contra doenças
(reduz o risco de doenças cardíacas, combate a ansiedade e a depressão,
fortalece os ossos, etc); ajuda a controlar o apetite (liberação de endorfina no
sangue pelo corpo, auxiliando na sensação de saciedade); preserva a taxa
metabólica (acelera o metabolismo, contribuindo para aumentar o gasto
calórico); preserva e aumenta a musculatura (aumenta a perda de gordura,
preservando e aumentando a massa muscular) e melhora alguns fatores
psicológicos (alivia o estresse, a ansiedade).
O exercício físico regular proporciona melhora na capacidade
cardiovascular e respiratória, diminuição na pressão arterial em indivíduos
hipertensos, melhora da sensibilidade à insulina e da tolerância à glicose
(DENGEL et al, 1998 apud FRANCISCHI et al, 2000).
2.4.3 INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS
Existem muitos agentes farmacológicos objetivando a redução de
peso corporal, dentre os principais, temos os inibidores de apetite que agem no
sistema nervoso central, como as anfetaminas e seus derivados; as drogas que
aumentam o gasto energético, sendo os hormônios tireoideanos e do
crescimento; as drogas que agem na absorção de gorduras, como as
biguanidas, as fibras e os inibidores enzimáticos; as que ativam lipólise, sendo
a gonadotrofina coriônica; existem também os laxantes, os tranqüilizantes e os
diuréticos (BRAY, 1993; GOLDSTEIN, 1994 apud GUEDES; GUEDES, 2003).
Para o uso de fármacos só há indicação, quando o tratamento com
dieta e exercício físico não apresentam bons resultados, apresentando índice
26
de massa corporal maior que 27 kg/m2 e havendo a presença de complicações
(BRAY; TARTAGLIA, 2000 apud FARRET, 2005).
Para
Farret
(2005),
o
tratamento
com
fármacos
deve
ser
acompanhado por mudanças no estilo de vida, englobando as áreas de dieta,
comportamento e exercício físico, objetivando a melhora da saúde em longo
prazo dos pacientes que se submetem a este.
Guedes
e
Guedes
(2003)
comentam
que
existem
muitas
complicações pouco conhecidas referentes aos fármacos, contudo não é
recomendado o uso dessas drogas por longos períodos.
2.4.4 MÉTODOS CIRÚRGICOS
As intervenções cirúrgicas são realizadas em casos de sobrepeso e
obesidade. A execução da redução do estomago é feita em caso de obesidade
mórbida e quando não existe outro método eficaz capaz de satisfazer o
indivíduo obeso (KRAL, 1989 apud GUEDES; GUEDES, 2003).
Farret (2005) expõe que a cirurgia bariátrica vem sendo satisfatória
em relação à manutenção e perda de peso, contribuindo para a diminuição da
comorbidade
relacionada
ao
peso
corporal.
As
cirurgias
abrangem
procedimentos que reduzem mecanicamente a capacidade de volume do
estômago proximal ou a redução da capacidade gástrica junto a um grau
estabelecido de uma má absorção parcial seletiva (BALSIGER et al, 2000 apud
FARRET, 2005).
Segundo Cuppari (2005), para que o tratamento seja eficaz é preciso
que exista uma mudança na ingestão alimentar, objetivando uma dieta
nutricionalmente
adequada
junto
a
um
acompanhamento
nutricional,
objetivando assim, o sucesso do tratamento em longo prazo.
Guedes e Guedes (2003) relatam outra intervenção cirúrgica, a
execução de cirurgias plásticas, estas são efetivadas com a finalidade de
recompor planos musculares subcutâneos e cutâneos devido a perdas
significativas de peso corporal.
27
3 DIETAS HIPERPROTÉICAS
Dietas hiperprotéicas vêm sendo propostas como “nova” estratégia
para redução de peso corporal, apesar de populares desde a década de 60.
Essas dietas parecem ser baseadas em alguns falsos conceitos acerca dos
carboidratos, resistência à insulina, queima de gordura e cetose como
mecanismo de ação para perda de peso (JEOR et al, 2001). A popularidade
destas dietas se da a partir da palatabilidade da proteína (STILLMAN; BAKER,
1967; ATKINS, 1999; SEARS, 1995; EADES; EADES, 1996 apud JEOR et al,
2001).
Muitas das dietas populares hiperprotéicas promovem a ingestão de
71 a 162 gramas ou 28 a 64% de energia diariamente, limitando severamente
os carboidratos, correspondendo de sete a 56 gramas ou 3 a 16% de energia
diariamente (STILLMAN; BAKER, 1967; ATKINS, 1999; SEARS, 1995; EADES;
EADES, 1996; STEWARD et al, 1998 apud JEOR et al, 2001).
Dentre os tipos de dietas hiperprotéicas, as mais conhecidas são “A
Dieta do Dr. Atkins”, “A dieta de South Beach” e “A dieta da Zona” (SUPLICY,
2006).
A dieta de Atkins é a mais famosa das dietas ricas em proteína e
gordura e pobres em carboidrato, apresentando geralmente 25-30% de
proteínas, 55-65% de gorduras e menos de 20% de carboidratos (BEYRUTI;
MONEGAGLIA; RODRIGUES, 2002).
Atkins publicou seu primeiro livro em 1972 e após vinte anos, o autor
atualizou alguns conceitos e publicou o livro “A nova dieta revolucionária do Dr.
Atkins”. O médico cardiologista Robert Atkins afirma ter observado os efeitos
da sua dieta em pacientes cardiopatas, que obtiveram como resultado, a perda
de peso. (BEYRUTI; MONEGAGLIA; RODRIGUES, 2002).
Esta dieta preconiza somente o consumo de alimentos ricos em
gorduras, como carnes vermelhas, queijos e derivados, embutidos e etc, com
concomitante redução dos carboidratos (DANSINGER et al, 2005 apud
LOTTENBERG, 2006).
28
A dieta de South Beach e a dieta da Zona apresentam uma
composição moderada em carboidratos (40%), acrescida em proteínas (30%) e
mais restrita em gorduras (30%) (VIUNISKI, 2007).
Por sua vez, a dieta da Zona estimula o consumo de 40% de
carboidratos, 30% de proteínas e 30% de gorduras, sendo que os vegetais
podem ser consumidos à-vontade e as frutas com moderação (SUPLICY,
2006). Esta dieta fornece aproximadamente 800-1200 calorias por dia
(ESCOTT-STUMP, 2007).
29
4 DIETAS HIPERPROTÉICAS E PERDA DE PESO CORPORAL
Ainda que exista um consenso de que a restrição calórica promove
perda de peso, o efeito da variação da composição dos macronutrientes nestas
dietas tem sido “alvo” de debates (JEOR et al, 2001).
Durante anos, defensores de dietas da moda acreditam que a uma
grande quantidade de proteína na dieta facilita a perda de peso (HALTON et al,
2004).
Segundo Wing e Hiill (2001 apud MELBY; HICKEY, 2006) há muitos
indivíduos que obtém êxito em manter a perda de peso por muitos anos,
incluindo a restrição dietética, dieta pobre em gorduras e um envolvimento
considerável em prática regular de exercícios.
Estudos mostram que dietas ricas em proteínas podem facilitar a
perda de peso, quando comparado a dietas pobres em proteínas no período de
até seis meses, porém, a longo prazo, os dados são limitados (HALTON et al,
2004).
Damsinger et al (2005 apud MELBY; HICKEY, 2006) concretizou um
estudo para avaliar a eficácia de diferentes dietas populares (“Atkins”, “Ornish”,
“vigilantes do Peso” e a “dieta 40:30:30”), sendo que não houve diferenças
significativas na perda de peso entre os grupos após 12 meses. Melby e Hickey
(2006) observaram que o melhor fator de previsão de perda de peso não foi o
tipo de dieta, e sim a adesão à terapia nutricional, independente da dieta
utilizada.
Estudos têm mostrado que independente da composição da dieta, a
perda de peso está diretamente relacionada à redução da ingestão calórica,
sendo
que
a
composição
dos
macronutrientes
não
influencia
no
emagrecimento (GOLAY et al, 1996; YANG; VAN ITALLIE, 1976 apud LARACASTRO; GARVEY, 2004).
No estudo concretizado por Foster et al (2003 apud HALTON et al,
2004), com 63 homens e mulheres obesos que seguiram determinadas dietas
no período de um ano, trinta e três indivíduos receberam informações sobre a
dieta de “Atkins” e 30 receberam informações sobre uma dieta convencional
pobre em gorduras (15% de proteína). O grupo que realizou a dieta de “Atkins”
30
perdeu, significativamente, mais peso no período de três a seis meses, porém
ao longo de um ano, a perda foi igual nas duas dietas. Indícios sugerem que
dietas ricas em proteínas podem ter efeitos benéficos em relação à perda de
peso a curto prazo, porém a maioria dos estudos mostrou-se inconclusivos
(HALTON et al, 2004).
Da mesma forma, outros quatro estudos foram citados por Last et al
(2006), verificando que dietas pobres em carboidratos no período de até seis
meses resultou maior perda de peso que dietas pobres em gorduras. Porém a
quantidade de peso perdido no decorrer de um ano não teve diferença
significativa entre os dois grupos submetidos às dietas (FOSTER et al, 2003;
STERN et al, 2004 apud LAST et al, 2006).
Entretanto, um estudo de revisão realizado por Bravata et al (2003
apud LAST et al, 2006), foi observado que dietas de baixo carboidrato, a curto
prazo, não foram mais eficazes na redução de peso do que dietas ricas em
carboidratos, sendo que a perda de peso foi relacionada com o tempo de
permanência na dieta e com a restrição calórica.
Last et al (2006) afirma que perda de peso está diretamente
relacionada ao valor calórico e a capacidade de manter a restrição calórica,
sendo que as proporções dos nutrientes não interferem na redução de peso.
Dietas ricas em proteínas e gorduras induzem cetose e conseqüente
perda de peso, entretanto essa inicial perda de peso pode ser atribuída em
parte ao efeito diurético do baixo consumo de carboidratos, seguido de perda
de sódio e água e depleção de glicogênio (SPECIAL COMMITTEE ON
NUTRITION, 1973 apud JEOR et al, 2001).
O maior impacto para perda de peso á a restrição das calorias totais
da dieta. Entretanto, para a manutenção de peso, a composição da dieta é de
extrema importância (LOTTENBERG, 2006).
31
5 EFEITOS DAS DIETAS HIPERPROTÉICAS NO ORGANISMO: POSSÍVEIS
MECANISMOS DE REDUÇÃO DO PESO CORPORAL
5.1 DIETAS HIPERPROTÉICAS E INSULINEMIA
A insulina é um hormônio anabólico que participa do metabolismo de
nutrientes do corpo e da regulação do peso corporal. Uma das suas funções é
facilitar o transporte de glicose para dentro das células, o armazenamento de
ácidos graxos, como a gordura, e sintetizar o colesterol (BRÜNING et al, 2000
apud WHITNEY; ROLFES, 2008).
Quando as células do corpo não reagem as grandes quantidades de
insulina bombeadas pelo pâncreas, o indivíduo desenvolve resistência a ela.
Essa resistência à insulina não é consequência das proporções de
carboidratos, de proteínas ou gorduras, e sim o resultado de um excesso de
peso corporal. A resposta à insulina melhora quando o indivíduo perde peso
(WHITNEY; ROLFES, 2008).
A resistência à insulina é o resultado da obesidade ou do excesso de
gordura e da inatividade física, sendo que este quadro pode ser revertido a
partir de uma restrição calórica, de atividade física e conseqüente perda de
peso reduzindo a resistência à insulina (DRENICK; BRICKMAN; GOLD, 1972;
FACCHINI; COULSTON; REAVEN, 1996; TREMBLAY, 1995; YOST et al, 1998
apud JEOR et al, 2001).
Defensores das dietas hiperprotéicas abordam que o excesso de
carboidratos resulta em elevados níveis de insulina e, conseqüente,
armazenamento de gordura e outras alterações metabólicas. Ademais, esses
macronutrientes estimulariam a liberação de insulina abolindo a quebra e a
oxidação das gorduras (JEOR et al, 2001).
Boden et al (2005) realizaram um estudo com dez pacientes obesos
com Diabetes tipo II no período de 22 dias, sendo que os pacientes foram
submetidos a uma dieta habitual durante sete dias, seguido de uma dieta pobre
em carboidratos (21 gramas de carboidratos por dia) durante 14 dias. Os
pacientes apresentaram, após a realização da dieta pobre em carboidratos,
32
redução espontânea da ingestão energética, melhora da sensibilidade
insulínica e melhor controle glicêmico e redução de peso corporal. Este estudo
foi limitado devido à curta duração, ao pequeno número de participantes e a
ausência de um maior controle sobre os participantes, sendo que os efeitos a
longo prazo permanecem incertos em relação à saúde destes.
Por outro lado, um estudo comparou quatro dietas populares (dieta
do “Atkins”, dieta da “Zona”, dieta “Aprender” e dieta do “Ornish”), com
diferentes composições de macronutrientes, com o objetivo de verificar os
efeitos sobre a perda de peso e variações metabólicas em mulheres em estado
de sobrepeso e obesidade no período de doze meses; referente às
concentrações de insulina e glicose não foi verificado mudanças significativas
(GARDNER et al, 2007).
Lara-Castro e Garvey (2004) concluem que as alterações na
composição da dieta podem facilitar a perda de peso e aumentar a
sensibilidade insulínica. Entretanto, os autores completam afirmando que
independente da composição da dieta, a perda de peso acontecerá com
redução calórica.
5.2 DIETAS HIPERPROTÉICAS E EFEITO TÉRMICO DO ALIMENTO
O efeito térmico dos alimentos representa o aumento do gasto
energético
relacionado
à
digestão,
absorção
e
a
assimilação
de
macronutrientes; representando aproximadamente 5-10% de gasto energético
diário (MELBY; HICKEY, 2006). Quando existe uma menor ingestão energética
via dieta, menos energia será necessária para digerir e assimilar os nutrientes,
resultando em um menor efeito térmico dos alimentos (LEIBEL et al, 1995 apud
MELBY; HICKEY, 2006).
Para Westerterp, Wilson e Rolland (1999 apud HALTON et al, 2004)
o efeito térmico pode estar relacionado à composição dos alimentos ingeridos.
Em geral, o efeito térmico da proteína é de 20 a 35% de energia consumida e
em relação ao carboidrato o efeito térmico cai entre 5 a 15%.
33
Existe uma teoria de que os indivíduos obesos possuem uma grande
influência sobre o efeito térmico dos alimentos. Seis estudos foram
mencionados neste artigo, comparando indivíduos magros e obesos, sendo
que em três destes estudos (PITTET et al, 1976; SHETTY et al, 1981; WANG;
STROUSE, 1924 apud HALTON et al, 2004) verificou-se diferenças no efeito
térmico dos alimentos, relatando maior efeito térmico em virtude da proteína, e
os outros três estudos não relataram diferenças significativas (SEGAL; GUTIN,
1983; SHARIEF; MACDONALD, 1982; WELLE; CAMPBELL, 1983 apud
HALTON et al, 2004). Seria necessária uma investigação mais aprofundada
referente a esta teoria (HALTON et al, 2004).
Segundo Melby e Hickey (2006) uma dieta hiperprotéica pode
resultar em um aumento do efeito térmico dos alimentos, porém esse efeito é
menor com as gorduras quando comparados aos três macronutrientes, sendo
que o alto teor de gorduras pode atenuar o efeito de uma dieta hiperprotéica no
efeito térmico dos alimentos. Quanto maior o consumo de proteína dietética,
maior pode ser o turnover protéico e de aminoácidos, resultando num grande
consumo de energia.
Dietas hiperprotéicas aumentam o gasto energético em decorrência
da termogênese que é provocada pela síntese de aminoácidos, a ureogênese e
a gliconeogênese (VIUNISKI, 2007). A síntese de proteína, o elevado custo de
ATP para síntese de peptídeos e para a produção da uréia e neoglicogênese,
são citados como razões para o maior efeito térmico da proteína (MIKKELSEN;
TOUBRO; ASTRUP, 2000; ROBINSON et al, 1990 apud HALTON et al, 2004).
Segundo Crovetti et al (1998 apud BELOBRAJDIC; MCINTOSH;
OWENS, 2004), o gasto energético após uma refeição hiperprotéica aumenta
em até 160% em comparação a uma refeição hiperglicídica ou hiperlipídica.
Apesar do efeito térmico dos alimentos representarem uma pequena proporção
do gasto energético diário, as alterações observadas pelos autores referentes a
uma dieta hiperprotéica acima de três refeições diárias, poderiam corresponder
a um considerável aumento no gasto energético (8,4% ou 0,48 MJ).
Halton et al (2004) apresenta quinze estudos referentes à
termogênese dos alimentos. Seis destes estudos verificaram através de
porcentagem, o efeito térmico dos alimentos consumidos. O efeito térmico das
dietas com maior teor de proteína e da dieta com menor teor de proteína variou
34
de 0,8% a 22% de energia, sendo que a dieta com maior teor de proteína
exerceu maior efeito térmico. Porém, Luscombe et al (2003 apud HALTON et
al, 2004) relataram que ao término de 16 semanas não houve diferença
significativa na perda de peso corporal.
Halton et al (2004) acrescenta que apesar de haver evidência de que
a proteína exerce maior efeito térmico em relação ao carboidrato e à gordura, a
quantidade de energia atribuída a este efeito térmico é provavelmente
pequena, sendo insuficiente para proporcionar perda de peso visível em curto
prazo, mas por períodos de meses ou anos, essa perda de peso pode tornar-se
significativa.
Como já mencionado, o efeito térmico do alimento é maior para
proteínas que para carboidratos e gorduras, porém segundo os autores esse
aumento é insignificante, correspondendo a um quilo por ano aproximadamente
(WHITNEY; ROLFES, 2008).
5.3 DIETAS HIPERPROTÉICAS E SACIEDADE
Referente aos nutrientes fornecedores de energia, a proteína é a que
mais sacia. Em decorrência, refeições hiperprotéicas podem suprir a fome e
atrasar o horário da refeição seguinte. Em estudos apresentados por Skov et al
(1999 apud WHITNEY; ROLFES, 2008), relatou-se que indivíduos tendem a
comer menos após uma refeição hiperprotéica comparado a uma refeição
hipoprotéica.
Segundo Westerterp-Planenga (1999 apud VIUNISKI, 2007), os
mecanismos envolvendo neurotransmissores como a Serotonina e GABA (gaminobutirato), e substâncias como a Grelina e o Neuropeptídio Y
provavelmente estão envolvidos na capacidade que as proteínas possuem de
promover saciedade.
Em um estudo com 80 indivíduos conduzido por Vanderwater e
Vickers (1996 apud HALTON et al, 2004), quarenta indivíduos receberam uma
refeição hipoprotéica constituída por um sanduíche de bacon, alface e tomate,
contendo 11% de proteína ou um iogurte de morango contendo 20% de
35
proteína; outros quarenta indivíduos receberam uma refeição hiperproteíca
constituída por um sanduíche de presunto, contendo 33% de proteína ou um
iogurte contendo 43% de proteína. As refeições hiperprotéicas diminuíram a
fome em comparação às refeições hipoprotéicas.
Layman (2003 apud VIUNISKI, 2007) realizou um estudo com 24
mulheres submetidas a uma dieta com 68 gramas diárias de proteínas (dieta
hipoprotéica) ou a uma dieta com 125 gramas de proteína (dieta hiperprotéica)
no período de 10 semanas. O grupo que recebeu a dieta hiperprotéica perdeu
muito mais massa gorda que massa magra e apresentou maior saciedade.
No estudo concretizado por Belobrajdic, Mclntosh e Owens (2004)
observou-se que uma dieta hiperprotéica fornecida aos ratos reduziu o
armazenamento de gordura visceral e subcutânea na carcaça dos ratos por até
26% em comparação a uma dieta hipoprotéica; esta redução de gordura
corporal pode ser parcialmente explicada pela diminuição equivalente a 19% do
consumo energético. Este fato assemelha-se a estudos anteriores realizados
com ratos, exibindo a proteína como sendo o macronutriente que mais sacia
em relação ao carboidrato e a gordura (JEAN et al, 2001; BENSAID et al, 2003
apud BELOBRAJDIC; MCINTOSH; OWENS, 2004).
Há algumas evidências de que dietas ricas em proteína aumentam a
perda de peso em comparação a dietas pobres em proteína em um período
médio de seis meses. Em cinco investigações, a perda de peso foi observada
nos pacientes submetidos à dieta rica em proteína (BREHM et al, 2003;
FOSTER et al, 2003; SAMAHA et al, 2003; SKOV et al, 1999; YANCY et al,
2004 apud HALTON et al, 2004). Entretanto acredita-se que a perda de peso
pode ser consequência do aumento da saciedade e uma diminuição posterior
da ingestão calórica (HALTON et al, 2004).
Johnson, Tjonn e Swan (2004) realizaram um estudo com 20
indivíduos adultos saudáveis que foram divididos em dois grupos. No período
de seis semanas um grupo recebeu uma dieta pobre em gordura e com 15%
de proteína das calorias totais diárias; o outro grupo recebeu uma dieta com
30% de proteína das calorias totais diárias. Ao término do estudo, foi verificado
que as duas propostas foram eficazes na perda de peso e de massa gorda,
porém o grupo que realizou a dieta com maior quantidade de proteína, relatou
maior saciedade.
36
Uma variedade de investigações citadas por Halton et al (2004) foi
analisada quanto ao efeito de dietas ricas em proteína referente à saciedade.
Dos 14 estudos que compararam uma alta carga de proteína na dieta, no
mínimo, a um outro macronutriente, 11 destes estudos confirmaram que a
proteína aumentou significativamente o grau de saciedade e três estudos não
encontraram tal efeito.
Segundo Barkeling, Rossner e Bjorvell, (1990 apud HALTON et al,
2004) não foi encontrado diferença em relação ao grau de saciedade no estudo
realizado com vinte mulheres que receberam uma refeição isocalórica
contendo 43% de proteína ou 10% de proteína. Entretanto, foi observado que a
refeição rica em proteína foi relatada como mais palatável e isso poderia ter
distorcido os resultados. Existem evidências de que alimentos mais saborosos
são relacionados com um retorno mais rápido da fome e da vontade de comer
(STUBBS et al, 1996 apud HALTON et al, 2004).
Dietas pobres em carboidrato e, consequentemente, ricas em
proteína, geralmente são dietas pouco calóricas; relatando que a proteína
apresenta maior saciedade em relação ao carboidrato e a gordura (FISCHER;
COLOMBANI; WENK, 2004 apud LAST et al, 2006). Segundo os autores, o
sucesso de dietas de baixo carboidrato é devido a menor ingestão de calorias
que o gasto (LAST et al, 2006).
Da mesma forma, a aparente perda de peso pode ser devido à
grande restrição de carboidratos que esgotam os estoques de glicogênio
levando a excreção da água vinculada, o alto teor de proteínas, sendo este
altamente sacietógeno e a redução espontânea da ingestão alimentar ou
devido à restrição de alguns alimentos (ASTRUP; MEINERT; HARPER, 2004).
Ainda sobre o assunto, Halton et al (2004) colocam que a saciedade
promovida pelas dietas hiperprotéicas poderiam levar o indivíduo a permanecer
com uma dieta hipocalórica a longo prazo.
37
6 DIETAS HIPERPROTÉICAS E SAÚDE
Halton et al (2006) acrescenta que dietas ricas em proteínas e
gorduras e pobres em carboidratos permanecem controversas em relação a
sua segurança a longo prazo. A maioria dessas dietas incentiva um grande
consumo de produtos de origem animal e, conseqüentemente, estes são
acompanhados de quantidades elevadas de gordura saturada e colesterol,
podendo causar mudanças desfavoráveis nos níveis lipídicos e no aumento do
risco
de
doenças
coronárias.
Muitas
organizações
profissionais
têm
argumentado contra a realização de dietas pobres em carboidratos (STEIN,
2000; ST et al, 2001; AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002; AMERICAN
HEART ASSOCIATION, 2006 apud HALTON et al, 2006).
Sobre o assunto, Whitney e Rolfes (2008) relatam que muitas “dietas
da moda” preconizam a promoção da ingestão de proteínas e a restrição de
carboidratos, sem ponderar a quantidade de gordura que acompanha muitos
alimentos ricos em proteínas. Conforme comentado anteriormente, as dietas
hiperprotéicas podem ter uma grande quantidade de gordura saturada e
colesterol, sendo estes fatores alimentares que aumentam o colesterol LDL e
os riscos de doenças cardíacas.
Larosa et al (1980 apud JEOR et al, 2001) conduziram um estudo
com 24 indivíduos obesos que se submeteram a realizar a dieta do Atkins
durante três meses. Houve uma diminuição da ingestão calórica diária e
consequentemente perda de peso, porém houve um aumento do nível de
colesterol LDL. Ademais, a perda de peso ocorreu principalmente nas primeiras
semanas, sugerindo que grande parte dessa perda de peso é perda de
glicogênio, proteínas e fluidos corporais induzidos pela cetose.
Entretanto, foram realizados estudos que tiveram como objetivo
avaliar a eficácia da dieta de Atkins, sendo que esta foi comparada a uma dieta
rica em carboidratos. O público submetido aos estudos realizou a dieta com a
orientação de um manual com as características a serem seguidas, sendo que
os participantes foram atendidos apenas três vezes no período de um ano. Ao
término do estudo, no período de um ano, as concentrações de LDL-colesterol
38
foram iguais nos dois grupos que se submeteram as dietas, em decorrência da
igual perda de peso (FOSTER et al, 2003; DANSINGER et al, 2005 apud
LOTTENBERG, 2006).
Segundo Bravata (2003 apud WHITNEY; ROLFES, 2008), os
estudos em geral relatam que existe pouca ou nenhuma mudança na pressão
sanguínea ou na concentração de lipídios no sangue e, consequentemente,
nos fatores de risco para doenças cardíacas em indivíduos que realizam dietas
hiperprotéicas e hipoglicídicas. Para alguns pesquisadores, a perda de peso
que ocorre com realização destas dietas compensa os efeitos adversos de uma
dieta com alto consumo de gordura saturada e poucas frutas e hortaliças
(FOSTER, 2003 apud WHITNEY; ROLFES, 2008).
As dietas pobres em carboidratos também têm sido criticadas por
serem inadequadas nutricionalmente, pois apresentam deficiência de vitamina
A, B6, C e E; tiamina; ácido fólico; cálcio; magnésio; ferro; potássio e fibra. Uma
das características destas dietas é a pequena ingestão de fibras, podendo levar
á longo prazo constipação, doença diverticular e a riscos de câncer.
Teoricamente há preocupação em relação à osteoporose devida uma maior
calciúria e menor ingestão de potássio, magnésio e vitamina C (FREEDMAN;
KING; KENNEDY, 2001 apud LAST et al, 2006). Problemas como diarréia,
constipação, tonturas, cefaléia, náuseas, pedras nos rins, halitose e insônia
foram verificadas em pessoa que se submeteram às dietas de baixo
carboidrato (FREEDMAN; KING; KENNEDY, 2001; REDDY et al, 2002 apud
LAST et al, 2006).
Da mesma forma, Costill e Hargreaves (apud JEOR et al, 2001)
argumentam que estas restrições, a longo prazo, podem levar a deficiência de
vitaminas essências, sais minerais e fibras, sendo que estas deficiências
podem ter efeitos adversos para a saúde se houver persistência.
Acrescentando que entre as escolhas alimentares restringidas ou
eliminadas pelas dietas ricas em proteína, se encontram os alimentos
saudáveis com baixo teor de gorduras como produtos lácteos, cereais, grãos,
legumes e frutas, sendo estes, alimentos que contem níveis mais elevados em
hidratos de carbono e nutrientes essenciais para uma dieta saudável
(STILLMAN; BAKER, 1967; ATKINS, 1999; SEARS, 1995; EADES; EADES,
1996; STEWARD, 1998 apud JEOR et al, 2001).
39
O comitê DRI (Dietary Reference Intakes) (2002 apud WHITNEY;
ROLFES, 2008) não estabeleceu um limite superior para proteínas, entretanto
declara que as dietas ricas em proteína são envolvidas em doenças crônicas,
como osteoporose, pedras renais e doença renal, obesidade, doença cardíaca
e alguns tipos de câncer. Além disso, a eliminação ou a restrição severa de
feijões, cereais integrais, legumes e frutas pode aumentar o risco de câncer
(JEOR et al, 2001).
Cabe destacar que a ingestão diária recomendada (RDA) de proteína
de alto valor biológico para adultos, como base no peso corporal, é de 0,8g/kg
aproximadamente
(NATIONAL
RESEARCH
COUNCIL;
FOOD
AND
NUTRITION BOARD, 1989 apud JEOR et al, 2001). Ademais, a proteína
ingerida acima do exigido é mal utilizada pelo organismo promovendo excreção
de resíduos em excesso, como uréia e amônia, através do fígado e dos rins
(RAFOTH; ONSTAD, 1975; FRASER; ARIEFF, 1985; COTTINI; GALLINA;
DOMINGUEZ, 1973; WALSER et al, 1999 apud JEOR et al, 2001).
40
7 CONCLUSÃO
As dietas hiperprotéicas, desde a década de 60, têm sido utilizadas
com o objetivo de alcançar o peso corporal desejado através da perda de peso,
sendo que a sua popularidade permanece até os dias de hoje. As composições
destas dietas preconizam um grande consumo de proteínas e uma severa
restrição de carboidratos.
Os efeitos de dietas ricas em proteínas na redução de peso corporal
englobam mecanismos como a insulinemia, efeito térmico do alimento e a
saciedade.
Em relação à insulinemia, os defensores de dietas ricas em proteínas
relatam que o carboidrato é o “vilão da história”, abordando que seu excesso
resulta no aumento dos níveis de insulina e no armazenamento de gordura
corporal e outras alterações metabólicas.
Referente ao efeito térmico do alimento, existe evidência de que a
proteína exerce maior efeito térmico em relação aos outros macronutrientes.
Entretanto, a quantidade de energia correspondente a este efeito térmico é
provavelmente pequena e insignificante, equivalendo a um quilo por ano
aproximadamente.
Relacionado ao poder de saciedade, a proteína é o macronutriente
que mais sacia. A maioria dos estudos descritos confirmou que a proteína
aumentou, significativamente, o grau de saciedade e a redução de ingestão
alimentar nas próximas refeições do dia, o que poderia contribuir para uma
ingestão calórica reduzida.
Ademais, a perda de peso parece estar relacionada com a redução
da ingestão calórica e com o tempo de permanência na dieta, e não com a
composição dos macronutrientes.
Em relação à segurança, os estudos são inconclusivos, muitas vezes
realizados em curtos períodos de tempo (média de seis meses). No entanto, as
dietas ricas em proteína delimitam ou até eliminam alimentos que são
importantes nutricionalmente para a saúde e manutenção do organismo,
41
promovendo se houver persistência, deficiências nutricionais e aumento de
marcadores de doenças cardíacas.
Assim sendo, estudos a longo prazo são necessários para delimitar a
segurança e a eficácia das dietas hiperprotéicas quanto à saúde em geral, para
depois se ter provas conclusivas referentes à sua recomendação.
Uma dieta deve ter por objetivo suprir todas as necessidades
nutricionais, sendo estas individuais, sem comprometer a integridade do
indivíduo. Objetivando a manutenção ou a recuperação da saúde.
Quando o objetivo da dieta é promover perda de peso corporal, é
necessário diminuir o aporte calórico diário e proporcionar hábitos alimentares
saudáveis sem que haja exclusão de algum grupo alimentar. Por isso, é
recomendado que, quando se realize uma dieta, independente do motivo, haja
o acompanhamento de um profissional nutricionista.
42
REFERÊNCIAS
ANGELIS, Rebeca Carlota de. Riscos e prevenção da obesidade:
fundamentos fisiológicos e nutricionais para tratamento. São Paulo: Atheneu,
2003. 102 p.
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