0021-7557/07/83-01/64
Jornal de Pediatria
ARTIGO ORIGINAL
Copyright © 2007 by Sociedade Brasileira de Pediatria
Percutaneous subclavian central venous
catheterization in children and adolescents:
success, complications and related factors
Punção percutânea da veia subclávia em crianças e adolescentes:
sucesso, complicações e fatores associados
Claudia C. Araujo1, Marília C. Lima2, Gilliatt H. Falbo3
Resumo
Abstract
Objetivo: O objetivo do estudo foi verificar a freqüência de sucesso e
Objective: The objective of this study was to investigate the rates of
de complicações da punção percutânea da veia subclávia em crianças e
success and of complications of percutaneous subclavian central venous
adolescentes e identificar os fatores associados.
catheterization in children and adolescents and to identify factors
associated with them.
Métodos: Estudou-se uma série de 204 punções percutâneas da
®
veia subclávia, utilizando cateter de cloreto de polivinil (Intracath ) em
Methods: This was a study of a series of 204 percutaneous
crianças e adolescentes no Instituto Materno-Infantil Professor Fernando
subclavian central venous catheterizations of children and adolescents,
Figueira no período de 01/12/2003 a 30/04/2004. Foram analisadas
using polyvinyl chloride catheters (Intracath®), at the Instituto
variáveis relacionadas ao paciente, como idade, e relacionadas ao
Materno-Infantil Professor Fernando Figueira between December 1, 2003
procedimento, como sucesso, tipo de anestesia, complicações, quem
and April 30, 2004. An analysis was performed of variables related to the
realizou e número de tentativas de punção.
patient, such as age, and of variables related to the procedure such as
success/failure, type of anesthesia, complications, who performed the
Resultados: Houve sucesso em 89,2% das punções. O percentual
procedure and the number of attempts needed.
de sucesso foi significantemente maior nas punções realizadas com a
Results: Overall, 89.2% of catheterizations were successful.
criança sob narcose (94%). Cerca de 43,2% das punções evoluíram com
entanto,
Percentage success rates were significantly greater when percutaneous
complicações de maior gravidade ocorreram em apenas 3,5% dos casos.
subclavian central venous catheterization was performed with the child
Houve um maior número de complicações nas punções realizadas pelo
sedated (94%). Around 43.2% of subclavian catheterizations progressed
residente do primeiro ano (58,8%), sendo que este realizou um
with complications related to insertion of the catheter; however,
percentual de procedimentos significativamente maior em crianças
complications of greater severity were observed in just 3.5% of cases.
menores de 1 ano e com a realização de um maior número de tentativas
There were a greater number of complications related to percutaneous
no mesmo paciente.
subclavian central venous catheterizations performed by a first-year
complicações
relacionadas
à
inserção
do
cateter;
no
resident (58.8%), who performed a significantly greater percentage of
Conclusões: A realização do procedimento com o paciente sob
procedures on children younger than 1 year and who also made a greater
narcose mostrou aumentar a chance de sucesso. Há maior chance de
number of attempts per patient.
complicações relacionadas à inserção do cateter em punções de veia
subclávia realizadas por médicos menos experientes, sendo prudente
Conclusions: The chance of success was greater when patients were
selecionar as punções em situações de maior risco para cirurgiões com
sedated for catheterization. There was a greater chance of complications
maior experiência no procedimento.
related to insertion of the catheter when percutaneous subclavian central
venous catheterization was performed by less experienced physicians,
and
it
would
be
prudent
to
designate
those
central
venous
catheterizations that present greater risk to surgeons with greater
experience in the experience.
J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):64-70: Subclavian vein, child, central
venous catheterization, complications.
J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):64-70: Veia subclávia, criança,
cateterismo venoso central, complicações.
1. Mestre. Cirurgiã pediátrica, Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife, PE.
2. Doutora. Pediatra, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE. Doutor. Cirurgião pediátrico, IMIP, Recife, PE.
Artigo submetido em 03.07.06, aceito em 04.10.06.
Como citar este artigo: Araujo CC, Lima MC, Falbo GH. Percutaneous subclavian central venous catheterization in children and adolescents: success,
complications and related factors. J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):64-70.
doi 10.2223/JPED.1583
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Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
Jornal de Pediatria - Vol. 83, Nº1, 2007
65
Introdução
O cateter venoso central permite acesso venoso por longo
diátricos do serviço, no centro cirúrgico, exceto para aqueles
tempo e tem várias indicações em crianças, como monitori-
nica. O procedimento era realizado sob narcose, com exceção
zação da pressão venosa central, quimioterapia, nutrição pa-
dos pacientes que estavam com jejum inadequado, quando a
renteral e antibioticoterapia prolongada1-3. Filston & Grant
gravidade clínica não permitia e quando o anestesista estava
referem que, desde as primeiras descrições na década de
indisponível. A sedação dos pacientes era realizada com ha-
1970 por Morgan & Harkins e Groff & Ahmed, o acesso percu-
lotano pelo médico anestesiologista. Nos casos em que o pro-
tâneo da veia subclávia em crianças vem sendo cada vez mais
cedimento foi feito sob anestesia local, utilizou-se lidocaína
utilizado4. Atualmente, é um procedimento de rotina em uni-
a 1%.
dades de terapia intensiva pediátrica1,5,6.
que apresentavam risco de transporte devido à gravidade clí-
Definiu-se como punção com sucesso quando se conse-
Nos EUA, são utilizados mais de 5 milhões de cateteres
guiu cateterizar a veia subclávia percutaneamente, não ha-
venosos centrais anualmente7. Não é possível dispor desse
vendo necessidade de dissecção venosa. Foram consideradas
tipo de informação para crianças no Brasil. Em muitos hospi-
complicações relacionadas à inserção do cateter: pneumotó-
tais brasileiros, devido ao menor custo, ainda são utilizados
rax, hemotórax, hidrotórax, mal posicionamento do cateter,
cateteres de cloreto de polivinil (Intracath®), que são mais
paralisia diafragmática, sangramento e hematoma no local
rígidos, possuem agulha mais calibrosa e não são inseridos
da punção e fratura do cateter.
através da técnica de Seldinger, o que pode predispor a maior
número de complicações4.
Apesar de ser considerado, na literatura, um procedimento seguro em crianças, está sujeito a complicações,
como pneumotórax, hemotórax, punção arterial, arritmias,
mal posicionamento do cateter e infecção1,3,8-10. Na literatura pesquisada, a taxa de complicações variou de 0,7 a
30%2,11-13, sendo que apenas um pequeno número põe em
risco a vida do paciente; no entanto, pode aumentar o período e o custo do internamento hospitalar14.
Métodos
A coleta de informações foi obtida pelo médico responsável logo após o procedimento de acesso venoso central e
completada após o resultado da radiografia de tórax por um
segundo cirurgião, que foi o mesmo em todos os casos estudados. Utilizou-se questionário com perguntas fechadas com
as seguintes variáveis: idade, peso, sexo, motivo da solicitação da punção, sucesso na punção, número de tentativas, número de locais tentados, quem realizou a punção, local onde
foi realizado o procedimento, tipo de anestesia utilizada,
complicações e tratamento das complicações.
Utilizou-se o programa Epi-Info versão 6,04 (CDC,
Realizou-se um estudo descritivo, tipo série de casos com
Atlanta) para entrada dos dados e análise estatística. O teste
todas as crianças e adolescentes submetidos a punção percu-
do qui-quadrado foi empregado para verificar a associação
tânea de veia subclávia no Instituto Materno-Infantil Profes-
entre as variáveis categóricas, com correção de Yates nas ta-
sor Fernando Figueira (IMIP), na cidade do Recife, Nordeste
belas binárias. Utilizou-se o teste exato de Fisher quando in-
do Brasil, no período de 01/12/2003 a 30/04/2004.
dicado, e adotou-se o nível de significância com valores de
Foram incluídas todas as crianças e adolescentes subme-
p ≤ 0,05.
tidos a colocação de cateter venoso central de cloreto de po-
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa
livinil (Intracath®) através de punção percutânea da veia
do IMIP, estando de acordo com a Declaração de Helsinki e
subclávia durante o período do estudo. Foram excluídas
suas revisões. Solicitou-se consentimento livre e esclarecido
aquelas em que o procedimento foi realizado por pediatras ou
do responsável pela criança para participação da pesquisa.
residentes de pediatria, com outro tipo de cateter ou através
de dissecção venosa.
O procedimento de punção venosa central foi realizado
em todos os pacientes utilizando técnica semelhante à descrita por Chaves15. O posicionamento do cateter era avaliado
através da medição com o guia, que possui o mesmo comprimento do cateter, desde a inserção na pele até a entrada no
átrio direito. Realizou-se radiografia de tórax após o procedimento, a fim de avaliar o posicionamento do cateter e a ocorrência de complicações. O cateter era considerado bem
posicionado quando estava localizado na junção entre a veia
cava superior e o átrio direito.
Os procedimentos de punção venosa central foram realizados pelos residentes de cirurgia pediátrica e cirurgiões pe-
Este estudo teve por objetivos verificar a freqüência do
sucesso e das complicações relacionadas à inserção do cateter na punção percutânea da veia subclávia em crianças e
adolescentes, bem como identificar os fatores associados.
Resultados
Dentre os 190 pacientes elegíveis, 32 não participaram do
estudo por recusa do responsável em assinar o termo de consentimento. Entre os restantes, 126 foram submetidos a um
acesso venoso central e 32 a mais de um acesso central durante o período do estudo, totalizando 204 punções percutâneas da veia subclávia. Para cada nova punção, foi
preenchido novo questionário, sendo considerado como um
novo caso.
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Jornal de Pediatria - Vol. 83, Nº1, 2007
Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
A idade dos pacientes variou de 1 dia a 18 anos, com me-
(94,0%), quando comparado às punções com anestesia local
diana de 5 meses. Verificou-se uma maior percentagem na
(82,8%) (p = 0,02). Não foi verificada relação entre o sucesso
faixa etária de 1 a 12 meses (51,5%). O peso variou de 1,9 a
e idade, peso, sexo ou quem realizou o procedimento
48,7 kg, com mediana de 5,8 kg, havendo predomínio do
(Tabela 2).
grupo com peso até 5 kg (46,1%). Houve uma freqüência discretamente maior do sexo masculino (55,9%). Os motivos
Foram avaliadas complicações relacionadas à inserção do
mais freqüentes para a solicitação do acesso venoso central
cateter em 197 punções, não sendo possível a identificação
foram antibioticoterapia prolongada (39,7%) e dificuldade de
em sete casos, em razão de óbito do paciente antes de reali-
acesso venoso periférico (36,7%).
zar a radiografia de controle, ou pela má qualidade deste
Obtivemos sucesso em 89,2% (182/204) das punções
percutâneas da veia subclávia. Na maioria dos casos, a punção percutânea foi tentada em apenas um local e obtida na
primeira tentativa de punção (Tabela 1). Narcose foi adminis-
exame, impossibilitando a avaliação do posicionamento do
cateter. Verificaram-se complicações em 43,2% das punções
(85/197). Setenta e oito punções apresentaram apenas uma
complicação, enquanto sete apresentaram mais de uma.
trada em 57,4% dos pacientes, e o principal motivo de sua
Apenas 3,5% (7/197) das punções apresentaram compli-
não utilização nos outros pacientes foi a gravidade clínica
cações com repercussão clínica e necessidade de interven-
(52,9%).
ção, sendo quatro casos de pneumotórax (2%), dois de
A maioria dos acessos venosos centrais por punção percutânea da veia subclávia foi realizada pelos médicos residentes de cirurgia pediátrica do segundo e terceiro anos e no
bloco cirúrgico (Tabela 1).
hemotórax (1%) e um de hidrotórax (0,5%).
Dos quatro casos de pneumotórax, três foram submetidos a drenagem pleural fechada. Destes, dois, que estavam
graves no momento das punções, evoluíram com óbito. Ape-
Analisando os fatores associados ao sucesso na punção
nas um caso de pneumotórax não foi drenado, pois somente
percutânea da veia subclávia, verificou-se um sucesso signi-
foi identificado após o óbito do paciente ao revisar as radio-
ficantemente maior nas punções realizadas com narcose
grafias de tórax. Os dois pacientes com hemotórax foram
Tabela 1 -
Características das punções percutâneas da veia subclávia realizadas em crianças e adolescentes no IMIP (2004)
Variáveis
n (n = 204)
%
1
161
78,9
2
33
16,2
3
6
2,9
4
4
2,0
100
49,0
2e3
51
25,0
≥4
53
26,0
R1
34
16,7
R2
69
33,8
R3
66
32,3
Cirurgião do serviço
35
17,2
141
69,1
N° de locais tentados
N° de tentativas de punção
1
Quem fez a punção
Local de realização da punção
Bloco cirúrgico
Enfermaria
31
15,2
UTI
26
12,7
6
3,0
Emergência e berçário
IMIP = Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira; R1 = residente do primeiro ano; R2 = residente do segundo ano; R3 = residente
do terceiro ano; UTI = unidade de tratamento intensivo.
Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
Jornal de Pediatria - Vol. 83, Nº1, 2007
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submetidos a drenagem pleural, e o caso de hidrotórax foi
que, entre estes, houve uma freqüência significantemente
conduzido com toracocentese.
maior de punções em crianças com idade até 1 ano (p = 0,04)
e foi realizado um número maior de tentativas de punção no
Mal posicionamento do cateter foi a complicação mais fre-
mesmo paciente (p = 0,04) (Tabela 4).
qüente, ocorrendo em 28% dos casos (55/197). Outras complicações foram: sangramento local, 14 casos (7,1%);
Discussão
punção arterial, oito casos (4%); hematoma local, cinco ca-
A taxa de sucesso da punção percutânea da veia subclávia
sos; fratura do cateter, dois casos; e paralisia diafragmática
encontrada em nosso estudo foi semelhante às apresentadas
ipsilateral à punção, um caso. Apenas um paciente com mal
em
posicionamento do cateter necessitou sua retirada, enquanto
crianças
na
literatura,
que
variam
de
71
a
100%3,4,9,10,12,13,16.
em 12 o cateter foi reposicionado. Todos os casos de sangramento no local de punção, hematoma e punção arterial foram
A realização da punção com o paciente sob narcose mos-
tratados conservadoramente.
trou maiores índices de sucesso em relação à realização do
Analisando os fatores associados às complicações,
procedimento com o paciente consciente. Acreditamos que
observou-se um percentual mais elevado quando o procedi-
manter o paciente imóvel facilita a identificação dos pontos
mento foi realizado pelo residente do primeiro ano (58,8%),
anatômicos e impede que a agulha se desloque da veia du-
comparado com os outros residentes ou cirurgiões do serviço
rante a introdução do cateter, aumentando o índice de su-
(39,9%), com um nível de significância limítrofe (p = 0,06).
cesso da punção.
Não se observaram associações estatisticamente significati-
No presente estudo, verificou-se que a freqüência de pun-
vas entre os outros fatores estudados e as complicações
ções que evoluíram com complicações relacionadas à inser-
(Tabela 3).
ção do cateter (43,2%) foi bem acima do relatado na
Analisando isoladamente as punções realizadas pelo re-
literatura, que se situa entre 3,1 e 23% nas punções de veia
sidente de cirurgia pediátrica do primeiro ano, observamos
subclávia em crianças1,9,10,12,13,17-19. Observamos que o
Tabela 2 -
Fatores associados ao sucesso na punção percutânea da veia subclávia realizada em crianças e adolescentes no
IMIP (2004)
Sucesso na punção
Sim (n = 182)
Variáveis
Não (n = 22)
n
%
n
%
p
<1
31
86,1
5
13,9
0,32
1-12
97
92,4
8
7,6
≥ 13
54
85,7
9
14,3
Masculino
103
90,4
11
9,6
Feminino
79
87,8
11
12,2
≤5
83
88,3
11
11,7
5,1-10
65
92,9
5
7,1
≥ 10,1
34
85,0
6
15,0
Idade (meses)
Sexo
0,71
Peso (kg)
0,41
Tipo de anestesia
Narcose
Local
110
94,0
7
6,0
72
82,8
15
17,2
28
82,4
6
17,6
154
90,6
16
9,4
0,02
Quem fez a punção
R1
Outros
IMIP = Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira; R1 = residente do primeiro ano.
* Teste exato de Fisher.
0,22*
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Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
responsável por esta elevada incidência foi o elevado número
Essa diferença pode ser explicada, em parte, pelo uso em
de mal posicionamento do cateter (28%). Autores relatam
alguns estudos de radioscopia durante a inserção do cateter,
esse tipo de complicação em torno de 5 a 8% em séries de
o que diminui a incidência desta complicação, não sendo uti-
punção percutânea da veia subclávia em crianças1,9,13,18.
lizado em nosso estudo por não dispormos desse tipo de es-
Tabela 3 - Fatores associados às complicações durante a inserção do cateter nas punções percutâneas da veia subclávia
realizadas em crianças e adolescentes no IMIP (2004)
Complicações durante a inserção do cateter
Sim (n = 85)
Variáveis
Não (n = 112)
n
%
n
%
p
<1
17
48,6
18
51,4
0,76
1-12
43
42,6
58
57,4
≥ 13
25
41,0
36
59,0
Masculino
48
43,2
63
56,8
Feminino
37
43,0
49
57,0
≤5
45
48,9
47
51,1
5,1-10
22
33,8
43
66,2
≥ 10,1
18
45,0
22
55,0
Narcose
53
46,5
61
53,5
Local
32
38,6
51
61,4
R1
20
58,8
14
41,2
Outros
65
39,9
98
60,1
1
64
41,6
90
58,4
2
17
51,5
16
48,5
4
40,0
6
60,0
36
37,5
60
62,5
Idade (meses)
Sexo
0,90
Peso (kg)
0,17
Tipo de anestesia
Quem fez a punção
0,06
N° locais tentados
≥3
0,57
N° tentativas de punção
1
2-3
24
49,0
25
51,0
≥4
25
48,1
27
51,9
Direito
47
42,0
65
58,0
Esquerdo
25
39,7
38
60,3
0,29
Lado da punção
IMIP = Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira; R1 = residente do primeiro ano.
0,89
Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
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tudo em nosso hospital. Outro fato que chama a atenção é
esse parâmetro como avaliação de experiência deva ser re-
que quase metade dos cateteres mal posicionados se locali-
visto, apesar de não ser adotado como regra.
zava no átrio ou ventrículo direitos, demonstrando falha do
cirurgião durante a medição do cateter com o guia.
Apesar de a ocorrência de complicações ter sido elevada,
o número de complicações mais sérias, como pneumotórax,
hemotórax e hidrotórax, foi semelhante aos relatos da literatura pesquisada, variando de 0,4 a 3,4%1,9,10,18,19.
Pneumotórax é uma complicação que pode pôr em risco a
vida do paciente, e sua incidência varia na literatura de 0,2 a
2,4%1,9,10,18,19. Em nosso estudo, essa complicação ocorreu
em 2% dos casos, incidência semelhante à observada por
Azevedo et al., em 85 punções de veia subclávia em crianças
menores de 1 ano de idade realizadas com cateter seme1
lhante ao utilizado por nós (Intracath) , e também por Bonventre et al., em 282 punções percutâneas da veia subclávia
em crianças de idades variadas13.
A identificação de fatores associados a uma maior freqüência de complicações é importante para que as mesmas
possam ser reduzidas e o paciente beneficiado. Nós observa-
O residente do primeiro ano tinha menor experiência no
procedimento em relação aos outros residentes e cirurgiões
do serviço, e acreditamos que esse fato esteja diretamente
relacionado com o maior número de complicações observado
nesse grupo.
Alguns autores relatam maior incidência de complicações
em punções centrais realizadas por médicos menos experientes. Sznadjder et al. observaram maior número de complicações nas punções de veia subclávia realizadas por médicos
inexperientes. Inexperiência em punção venosa central também é apontada por Venkataraman et al. como fator associado a maior freqüência de complicações12. Estudo no qual
foram puncionadas 1.257 veias centrais em crianças não observou diferença em relação à experiência de quem realizou o
procedimento, atribuindo esse fato à realização de mais de
99% das punções com o paciente sob anestesia geral ou sedação profunda10.
mos uma maior freqüência de complicações relacionadas à
Apesar de isoladamente não termos observado diferença
inserção do cateter nas punções realizadas pelo residente de
no número de complicações em relação ao uso de sedação ou
cirurgia pediátrica do primeiro ano. Considerando os traba-
não, outro autor observou em seu estudo que médicos inex-
lhos de Venkataraman et al. e de Sznajder et al., todos os ci-
perientes tiveram metade da taxa de complicação nas pun-
rurgiões e residentes de cirurgia do nosso serviço poderiam
ções
ser considerados experientes no procedimento, já que, no
interessante que os médicos iniciando o treinamento em pun-
início da pesquisa, todos já haviam realizado mais de 50 pun-
ção da veia subclávia em crianças realizassem o procedi-
12,20
ções percutâneas da veia subclávia em crianças
. Talvez
realizadas
em
pacientes
inconscientes20.
mento com o paciente sob narcose.
Tabela 4 - Associações entre o profissional que realizou a punção venosa e características dos pacientes e dos procedimentos realizados no IMIP (2004)
Residente do primeiro ano (n = 34)
Variáveis
n
Outros (n = 170)
%
n
%
p
0,04
Idade (meses)
≤ 12
29
85,3
112
65,9
> 12
5
14,7
58
34,1
≤5
18
52,9
76
44,7
5,1-10
12
35,3
58
34,1
≥ 10,1
4
11,8
36
21,2
Peso (kg)
0,42
Tipo de anestesia
Narcose
16
47,1
101
59,4
Local
18
52,9
69
40,6
≤3
20
58,8
131
77,1
≥4
14
41,2
39
22,9
0,25
N° tentativas de punção
IMIP = Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira.
0,04
Seria
70
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Punção da veia subclávia em crianças e adolescentes – Araujo CC et al.
O residente do primeiro ano realizou as punções venosas
centrais com maior freqüência em lactentes e com maior número de tentativas de punção no mesmo paciente. Outros estudos relacionam múltiplas tentativas (mais de duas) a um
maior número de complicações. Venkataraman et al. relataram, em seu estudo de 100 punções da veia subclávia realizadas por pediatras e residentes de pediatria, que o número
de tentativas de punção foi o fator de maior influência nas
complicações. Cerca de 86% das complicações da série ocorreram quando se tentou puncionar mais de duas vezes12. Estudo mais recente, analisando 1.257 punções venosas
centrais em crianças, também apontou múltiplas tentativas
de punção no mesmo paciente como fator associado a maior
10
número de complicações .
Mais recentemente, as pesquisas sobre acesso venoso
central buscam aumentar os índices de sucesso e diminuir as
complicações. Esse objetivo pode ser alcançado através da
utilização de técnicas de punção guiadas por ultra-sonografia
ou Doppler e de novos cateteres, como o de inserção periférica (PICC).
Conclui-se que a realização da punção da veia subclávia
com o paciente sob narcose aumenta a chance de sucesso.
Soma-se a isso o fato de alguns autores relatarem menos
complicações nos procedimentos realizados por médicos menos experientes com o paciente sob narcose, além de os pediatras serem esclarecidos sobre esses fatos e orientados
sobre o jejum para o procedimento, visando que a grande
maioria das punções venosas centrais seja realizada sob
narcose.
Com o objetivo de diminuir as complicações, seria importante a presença de um aparelho de radioscopia, aquisição de
cateteres centrais de inserção periférica que apresentam menor risco de complicações graves, como pneumotórax, e reservar as situações de maior risco, como pacientes
conscientes e lactentes, para médicos mais experientes, assim
como
garantir
supervisão
para
médicos
menos
experientes.
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Correspondência:
Claudia Corrêa de Araujo
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Tel.: (81) 3265.7282
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