Epidemiologia – Aulas Práticas
Módulo 3 – Risco
1. Numa aldeia sem água canalizada, surgem em poucas semanas vários casos de cólera que
despertam a atenção das autoridades. Um biólogo enviado ao local, suspeita que a origem da
doença está na água de um poço e escolhe aleatoriamente 40 pessoas, às quais pergunta se
usaram ou não o poço recentemente e se adoeceram ou não. Os resultados resumem-se na
seguinte tabela,
Factor de risco
Usou o poço
não usou o poço
Total
Estado de doença
Doente
não doente
8
10
2
20
10
30
Total
18
22
40
a) Qual é o risco de adoecer nesta aldeia ? Construa um IC a 95% para este risco.
b) Qual é o risco de usar o poço e adoecer ?
c) Qual é o RR e o OR de quem usou o poço adoecer ?
d) Construa IC’s a 95% para o RR e o OR
e) Existe associação entre beber do poço e adoecer ? A água do poço é a causa da doença ?
Abra o OpenEpi (www.openepi.com) e resolva o mesmo problema usando este programa.
Para alíneas a) e b), no Menu principal seleccione Counts > Proportion
Para alíneas c) e d) no Menu principal seleccione Counts > Two by two Table
2. De 5055 pessoas que tiveram varicela na infância, 6 tiveram uma forma benigna de “zona”
(uma doença causada pelo mesmo vírus) muitos anos mais tarde, e nenhuma teve formas
severas desta doença. Num grupo de comparação, formado por 2872 pessoas que não tiveram
varicela na infância, 24 desenvolveram uma forma severa de varicela quando eram adultas e 52
desenvolveram uma forma benigna de zona ou varicela.
a) Qual o risco de desenvolver uma forma benigna de doença em adulto (varicela ou zona) ?
b) Qual o RR de uma pessoa que não teve varicela na infância desenvolver doença benigna?
c) Qual o RR de uma pessoa que teve varicela na infância desenvolver doença benigna? Ter tido
varicela na infância confere “protecção” contra uma forma tardia benigna da doença ?
3. A tabela A seguinte indica o número de pessoas que foram a um jantar e comeram cada um
dos 2 items especificados, os quais estavam infectados com streptococos do grupo A
(causadores de grande variedade de doenças). A tabela B apresenta o número de doentes com
dores de garganta e temperatura, por cada combinação de itens ingeridos.
A
Comeram ovos
não comeram ovos
Comeram atum Não comeram atum
75
100
200
50
B
Comeram ovos
não comeram ovos
Comeram atum Não comeram atum
60
75
70
15
a) Qual o risco de ir ao jantar e ser infectado ?
b) Qual das combinações de comida foi de maior risco para contrair a infecção ?
c) Se fosse a esta refeição e só comesse um dos dois items, qual é que escolhia ?
4. Este exercício destina-se a ilustrar as circunstâncias em que o OR constitui uma boa
aproximação ao RR. Observe as duas tabelas seguintes,
desenvolve não desenvolve
doença
doença
total
Exposto
200
9800
10000
não Exposto
100
9900
10000
desenvolve
doença
50
25
não desenvolve
doença
50
75
total
100
100
a) Em que tabela é que a doença tem maior incidência ?
b) Qual o valor do RR em cada uma das tabelas ?
c) Em que tabela é que o OR mais se aproxima do RR ? consegue compreender porquê?
5. Shaper et al (1988) tomaram uma amostra aleatória de 7729 homens britânicos de meia idade
e pediram-lhes, à partida, para classificar o seu consumo actual de álcool (entre outras coisas).
Durante os 7.5 anos seguintes, foram coligidas certidões de óbito de todos os indivíduos que
participaram no estudo. A seguinte tabela resume os resultados,
Nulo
Consumo declarado de alcool (*)
Ocasional
Leve
Moderado
Alto
Número indivíduos
466
1845
2544
2042
832
mortes
41
142
143
116
62
fonte: Shaper et al 1988. Lancet ii: 1267-73
(*) ocasional: < 1 unidade/semana; Leve: 1-15 unidades/semana;
Moderado: 16-42 unidades/semana; Alto: > 42 unidades/semana
a) Calcular risco de morte e RR (usando os não consumidores como referência de base).
Calcular os IC a 95% para o RR
b) Faça um gráfico dos RR, com os respectivos ICs. O que é que o gráfico parece mostrar sobre
os efeitos do álcool no risco de morrer ?
c) Em que medida as conclusões baseadas apenas na tabela acima podem estar a induzir em
erro ?
d) Proponha um planeamento alternativo para investigar a forma como o álcool afecta a
mortalidade – que método de recolha de dados usaria e que variáveis mediria ?
Abra o OpenEpi. Para uma análise semelhante à da alínea a), com cálculo apenas dos OR,
No Menu principal seleccione Counts > Dose-Response/Trend. Peça 5 em “Exposure Level Categories”. Na
coluna “Cases”, introduza as mortes (41, 142, 143 …). Na coluna “Controls”, introduza os que não
morreram (425, 1703, 2401, …). O OpenEpi dá as OR. Compare-as com os RR já calculados.
6. Num estudo hipotético levado a cabo em países do leste europeu, tomou-se uma amostra
aleatória de 1905 homens, entre os 50 e os 60 anos de idade, e estes foram classificados de
acordo com o seu estado relativamente aos hábitos de tabaco. Os homens foram seguidos
durante 10 anos, tendo-se registado se nesse período desenvolveram episódios de doença
respiratória grave de natureza infecciosa (pneumonia, tuberculose pulmonar):
Fumador ?
sim
não
Doença respiratória ?
Sim
Não
166
1176
50
513
216
1689
total
1342
563
1905
a) Estime o risco total de desenvolver doença, o risco em fumadores, em não fumadores e o RR
dos fumadores.
b) Estime o risco atribuível () sem usar a equação de Levin e interprete o valor obtido.
c) Construa um IC a 95% para .
d) Use agora a equação de Levin para calcular o risco atribuível.
e) Se se estimar que a população de homens de 50-60 anos de onde provem a amostra é
composta por cerca de 5 milhões de indivíduos, qual será o impacto previsível (em termos de
incidência) sobre a doença respiratória grave, em homens com estas idades, de uma campanha
anti-tabaco que reduzisse em 10% o número de fumadores nessa população?
Abra o OpenEpi e resolva o mesmo problema.
No Menu principal seleccione Counts > Two by two Table para estas alíneas. Na Tabela de resultados
respeitante à análise de risco e RR, verifique os resultados. O Risco Atribuível é designado Etiologic
Fraction in pop (EFp) pelo OpenEpi.
7. Um estudo clássico de Doll and Peto (1976) sobre os médicos britânicos masculinos,
determinou que as taxas de mortalidade por cancro do pulmão e por doença coronária eram,
respectivamente, 150 por 100 mil e 1082 por 100 mil. Os autores estimaram a proporção de
fumadores e de não fumadores entre os mortos, para as duas causas de morte. A tabela abaixo
resume os resultados,
Taxa de mortalidade (por 100 mil)
cancro pulmão doença coronária
fumadores
140
669
não fumadores
10
413
150
1082
de Doll and Peto. 1976. Br Med J 2:1525-1536
Tome a taxa de mortalidade como uma medida de risco e responda,
a) Qual é o RR dos fumadores, relativamente aos não fumadores, para o cancro do pulmão ? e
para a doença coronária ?
b) Qual é o risco atribuível para cada uma das doenças ?
c) Compare o RR e o risco atribuível devido ao tabaco entre as duas doenças e suponha que um
dia, por pura magia, conseguia que os médicos deixassem de fumar. Espera com isso evitar
mais mortes por cancro do pulmão ou por doença coronária ? porquê ?
8. Num estudo em Estocolmo (Giesecke 2002) procurou-se investigar se a prevalência do herpes
simplex do tipo 2 (HSV2) estava a aumentar com o tempo. A transmissão do HSV2 está
associada à actividade sexual, sendo muito rara antes da adolescência. O vírus tem transmissão
vertical, podendo causar doença grave nos recém-nascidos. No estudo, tomaram-se duas
amostras aleatórias de mulheres grávidas, a fim de serem testadas serologicamente. Uma
amostra, tomada em 1969, tinha 940 mulheres e outra, tomada em 1989, tinha 1000. A tabela
apresenta os resultados dos testes, organizados por grupos etários em cada um dos anos.
<26
ANOS sero + total
1969 97
584
1989 81
255
Idades (anos)
26-30
31-35
total
sero + total sero +
44
252
16
78
106
352
101
259
>35
sero + total
6
26
42
134
TOTAL
940
1000
Nas alíneas a) e b), ignore a variável idade.
a) Qual o risco de uma mulher grávida estar infectada em 1969 e em 1989 ? qual o risco global
de uma grávida (de 1969 ou 1989) estar infectada ?
b) Tomando 1969 como o ano base, calcule o RR e o OR em 1989
c) A idade parece-lhe poder ser uma variável de confundimento ? porquê ?
d) A partir daqui, tenha a variável idade em consideração. Calcule o RR (com 1969 como base)
de infecção com o HVS2 em cada grupo etário.
e) Faça a média aritmética do RR de cada idade. A média aritmética é um estimador adequado
do RR global das grávidas ?
f) Qual o risco de um recém-nascido em 1989 ser infectado, comparativamente a um de 1969,
tendo como factor de risco a mãe estar ou não infectada ?
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