Iogurte grego do Brasil, só mesmo no Brasil
Com características próprias, linha 'grega' nacional tem maior potencial de faturamento do mercado e deve pular de 2,3% para
10% das vendas em 2014
Gustavo Santos Ferreira
Desde o segundo semestre de 2012, quando o primeiro iogurte grego foi lançado no
Brasil, pela Vigor, estabeleceu-se novo filão para o setor. Hoje, todas as principais
marcas do País - também Nestlé, Batavo, Danone e Itambé - vendem as suas versões.
No entanto, não há muita clareza sobre o que transforma um simples iogurte brasileiro
em um produto original dos Bálcãs.
A única característica quase consensual do iogurte grego vendido em terras brasileiras
é a textura. Ela é cremosa, em nível intermediário entre o iogurte líquido, de garrafa, e
o mais rígido, de pote. Fora isso, as inovações são várias. Existe, por exemplo, o iogurte
grego sabor goiabada, da Itambé. E, de inovação em inovação, mesmo a cremosidade
já começa a se perder. A Batavo acaba de lançar o seu iogurte grego líquido.
Em outros países e em termos nutricionais, novas contrariedades. Na Europa, o iogurte
tido como grego tem alto teor de gordura, baixa dose de proteína e fraca participação
no mercado. Nos Estados Unidos, é o inverso: menos gordura, mais proteína e domínio
de 23% das vendas.
As diferenças se dão pela falta de definição do conceito "iogurte grego". O iogurte
grego, mas grego mesmo, feito e consumido em larga escala na Grécia,
costumeiramente é caseiro. E como qualquer comida caseira, cada casa tem a sua
receita, a depender do gosto pessoal.
O brasileiro come pouco iogurte de modo geral, seja lá qual for a nacionalidade do
alimento. Em média, só um potinho de iogurte é consumido a cada seis dias por aqui. É
o equivalente a 7 quilos por ano. A meta do setor é alcançar 8,8 quilos anuais por
pessoa até 2016.
Vende pouco, rende muito. A maioria dos iogurtes vendidos como gregos no Brasil,
tanto em participação de mercado quanto em valores nutricionais, está mais para o
europeu: farto em gordura, pobre em proteína e de curta fatia nas vendas totais de
iogurtes: dominou, em média, 2,3% do mercado em 2013, de acordo com a consultoria
Nielsen.
Mas, embora a parcela de vendas ainda seja pequena, o grego é campeão em
potencial de faturamento. No ano passado, entre todos os filões do mercado, o iogurte
grego foi o único cuja participação no faturamento total superou o dobro da
participação nas vendas. O iogurte natural, por sua vez, tem participações em vendas e
faturamento bem semelhantes. O mesmo serve para o iogurte com poupa de fruta.
Por falar em "dobro", na rede Pão de Açúcar de supermercados, analisando um
mesmo fabricante, o dinheiro gasto para comprar um iogurte grego permitiria levar
para casa dois iogurtes naturais: o grego custa R$ 1,99 e é vendido em porções de 170
gramas; o tradicional, de R$ 0,99, vem em potinhos de 120 gramas.
'Gourmetização'. De acordo com Ricardo Vasques, vice-presidente de Marketing da
Danone, os gregos fazem parte de um mesmo movimento de toda a indústria
alimentícia. "Parte do fortalecimento dos gregos no Brasil se explica por uma
tendência de 'gourmetização'", diz.
Apenas em dezembro, os iogurtes gregos chegaram a ocupar 3,2% das vendas totais
do mercado nacional. "Já em 2014, as empresas trabalham com a previsão de 10% de
participação dos gregos", diz Vasques. Esse número, afirma, não necessariamente será
mantido nos próximos anos, pode ser pontual. "O importante é que, com o
crescimento dos gregos, que é um produto de maior qualidade, o consumidor cobrará
por novos produtos, de qualidade ainda maior", diz o executivo.
Para se ter ideia do quão baixo é o número do consumo de iogurtes no Brasil,
consome-se o dobro na Argentina. Em Portugal, 20 quilos de iogurte por pessoa são
consumidos em um ano. Na França e na Holanda, passa dos 30 quilos por consumidor,
o que representa um pote de iogurte por pessoa todos os dias.
'Modismo'. "Chamar o iogurte vendido no Brasil de grego é modismo, pura estratégia
de marketing", diz Carlos Oliveira, professor de Tecnologia de Leite e Derivados da
Universidade de São Paulo.
Na explicação técnica de Oliveira, seja grego, brasileiro, polonês ou coreano, iogurte é
iogurte. E ponto. A grosso modo, nada mais é que um leite rico em ácido lático. Por
isso o gostinho azedo, em maior ou menor escala.
Fora do Brasil, por sinal, o iogurte chamado de grego é mais azedo. Aqui, ele é doce.
"O consumidor brasileiro tende a preferir coisas mais adocicadas e a indústria segue
essa linha para agradar seu paladar", diz Oliveira.
Para ganhar a textura mais cremosa, diz Oliveira, é acrescido à receita do iogurte
algum tipo de goma. E, embora as empresas não revelem suas fórmulas, o
especialista aponta para algum ingrediente de origem vegetal. "Grego ou não, o
importante é consumir iogurte, qualquer um deles traz o mesmo tipo de beneficio
nutricional", afirma.
Fonte: Estadão
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