Medo e Ousadia: o cotidiano do professor1
Cibele Machado Maier2
Zuleika L. S. Costa3
Freire e Shor através de um diálogo debatem sobre como é o cotidiano do professor,
entre outros assuntos relacionados à educação. Eles acreditam que a escola não
motiva seus alunos, pois a maioria dos professores não permite que os discentes
busquem o conhecimento, com base no que eles têm interesse em aprender,
querem apenas que os mesmos memorizem o que lhes são ensinados. Desta forma,
os alunos não se sentem motivados, então a escola começa a “inventar” promoções,
tais como: prêmios pela melhor nota, melhor aluno, recompensas, etc. Isto apenas
faz com que estes realmente memorizem para que consigam tais promoções,
acabam se sentindo inseguros em dizer o que realmente pensam sobre determinado
assunto. Repetem o que os professores dizem e assim conseguem as recompensas.
A educação deve ser uma troca de conhecimentos entre professores e alunos, onde
um aprende com o outro, através de centros de interesse, experiências,
curiosidades, a partir disso ambos aprendem muito, pois não será algo decorado,
memorizado apenas para passar de ano ou para ganhar promoções e sim porque
houve um aprendizado significativo, este com certeza não será esquecido, por partir
de algo que querem aprender e não de atividades soltas, sem nexo com a realidade
da população interna da escola. A realidade deve ser sempre utilizada para trabalhar
os conteúdos propostos no plano de estudo da escola, não precisa o professor
apenas pegar um livro didático e dar as atividades deste, ele pode e deve ligar estes
conteúdos com a realidade, o interesse dos alunos. O professor deve “investigar”
sobre a vida de seus alunos para então praticar um ensino libertador, não fechado.
A educação é muito mais controlável quando o professor segue o currículo
padrão e os estudantes atuam como se só as palavras do professor
1
Resenha da obra: FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor.
5ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
2
Formada em Licenciatura Plena em Pedagogia e especializando-se em Gestão: Supervisão Educacional, ambos
na Faculdade Cenecista de Osório.
3
Psicóloga MS em Educação UFRGS, professora CNEC/FACOS. Orientadora da resenha
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contassem. Se os professores ou os alunos exercessem o poder de
produzir conhecimento em classe, estariam então reafirmando seu poder de
refazer a sociedade (FREIRE, 1986, p. 21).
É muito mais fácil para o professor quando este segue um currículo padrão, pois
assim não “passa trabalho” buscando coisas novas, consideram tão mais fácil pegar
o que está pronto do que ir buscar mais além. O currículo passivo mostra que quem
possui a autoridade dominante é o professor, cortando qualquer ideia criativa dos
alunos, tornando-os consequência de uma educação bancária, onde o professor
apenas deposita o conhecimento, não os ensina a pensar, a refletir.
O educador faz “depósitos” de conteúdos que devem ser arquivados pelos
educandos. Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em
que os educandos são os depositários e o educador o depositante. O
educador educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores
educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos.(FREIRE,
1983, p. 66).
Porém, há estudantes que por estarem tão acostumados com o modelo de
educação bancária, que quando um professor utiliza de um modelo mais libertário,
estes rejeitam, alguns chegam a pedir que o professor passe mais conteúdos no
quadro, que de uma aula, não fique inventando “coisas”, consideram que o ensino
não-tradicional não é ensino, que com isso não irão aprender nada, preferem o
modelo tradicional a o novo. É tão mais fácil aceitar o que lhes é imposto, não
discutir, não debater, apenas copiar, resolver, decorar, sem impor suas concepções,
só repetindo o que os docentes dizem.
Por todos estes motivos é que muitos professores não sabem como se transformar
em libertadores? Como fazer com que os alunos se interessem por um modelo de
educação diferente da tradicional, da qual estão acostumados? Muitos não têm nem
ideia de como ensinar desta forma, podem até tentar, mas logo desistem por
considerar mais fácil o modelo tradicional.
Freire também já utilizou muito de meios tradicionais, no inicio misturava os métodos
tradicionais com os não-tradicionais, porém com o passar do tempo foi se
transformando em um professor libertador, utilizando os trabalhos dos alunos para
ensiná-los. Com este exemplo o docente pode pedir para seus alunos escreverem
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sobre seu final de semana, suas férias e utilizar este escrito na própria aula, dá-se
para trabalhar a língua portuguesa: coesão, coerência, a gramática, redação.
O professor tem o poder de transformar um aluno, tanto positivamente quanto
negativamente, tudo depende da forma de que este trabalha em sala de aula, dos
métodos e modelos de ensino que utiliza.
Muitas vezes, a própria escola reprimi e desestimula o professor que está na busca
de algo diferente para seus alunos, dizem que estão perdendo tempo, que desta
forma só vai dar bagunça, que para os alunos tanto faz a maneira que se dá a aula,
que o importante é apenas passar todos os conteúdos programáticos e que os
alunos passem de ano. Existem muitos pais que pensam desta mesma forma. Por
isso é necessário perseverança e bastante paciência, assim tudo dará certo. A
educação não deve se dar de cima para baixo e sim de maneira igual, onde
professor e aluno trocam conhecimentos, aprendem reciprocamente.
Alguns educadores têm medo de ousar ao praticar este método libertador, por
saberem que farão com que seus alunos se conscientizem, reflitam sobre variados
assuntos. A escola é só o ponto de partida para que estas mudanças ocorram,
depois os mesmos poderão fazer a diferença fora da sala de aula, não serão apenas
mais um, mas alguém capaz de ser critico e de defender com segurança seus
pontos de vista.
O educador tradicional e o educador democrático têm ambos de ser
competentes na habilidade de educar os estudantes quanto às qualificações
que os empregos exigem. Mas o tradicional faz isso com uma ideologia que
se preocupa com a preservação da ordem estabelecida. O educador
libertador procurará ser eficiente na formação dos educandos cientifica e
tecnicamente, mas tentará desvendar a ideologia envolvida nas próprias
expectativas dos estudantes (FREIRE, 1986 p. 86).
Concluindo, além do apoio da escola, do supervisor educacional, podemos dizer que
o professor é o único que pode iniciar essa transformação na sala de aula, é a partir
da troca de conhecimentos com seus alunos que fará com que estes se tornem
seres capazes para defender suas próprias ideias na sociedade, tornando-os seres
completos num todo, não mais fragmentados como eram na educação tradicional,
claro que alguns conceitos somente serão aprendidos através do método tradicional,
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porém o professor que terá que fazer essa ligação juntamente com os alunos,
utilizando os dois meios tanto tradicional quanto não-tradicional, conforme a
necessidade. Afinal, a educação não precisa necessariamente partir de uma
educação libertadora, mas pode chegar à mesma a partir de métodos libertadores,
assim como praticou Freire em sua longa trajetória de educador. Não dá para abrir
mão do ensino tradicional, apenas não deixar com que este seja a única maneira de
aprendizagem.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1983.
____________ Medo e ousadia: cotidiano do professor. 5ª edição. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1986.
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