UMA VISÃO DO MOVIMENTO HIP HOP DE GUARAPUAVA-PR
Deyvis Willian da Silva (BIC UNICENTRO), (Orientador Nécio Turra Neto. Dep. de
Geografia/UNICENTRO), e-mail: [email protected]
Palavras-chave: juventude, Guarapuava-PR, Movimento Hip Hop.
Resumo: o presente trabalho pretende demonstrar como o movimento hiphop chegou até a cidade de Guarapuava-PR, para isso falará um pouco
sobre o hitórico da juventude e também do surgimento do rap, tentando
assim passar o olhar sobre a atual cene do movimento na cidade.
Introdução:
Fazer um estudo sobre um determinado grupo juvenil, nos faz olhar para
algo novo, que está construindo sua história, tendo em vista que a juventude, só
passou a se disseminar para todas as classes sociais, de uma maneira mais
ampla, após a segunda guerra mundial, principalmente com a massificação das
instituições escolares, que passam a substituir a aprendizagem informal. Desta
forma, o jovem radicalmente separado da sociedade, não tem uma função
definida, o que acaba se refletindo em uma série de conflitos. Talvez por isso a
juventude, segundo Abramo (1994), é vista como um problema da sociedade
moderna.
A escola, ao substituir a aprendizagem informal, teria como objetivo
principal a transmissão de valores e conhecimentos. Muitas vezes, o período pelo
qual o jovem passa dentro dos espaço escolares, não correspondendo à altura
seus anseios, pois a escola mantêm seu foco direcionado para o futuro, não
respondendo as atuais necessidades dos jovens. O presente é deixado de lado e,
os jovens passam a agruparem-se, afim de responder juntos suas inquietações.
Hoje definir um conceito para juventude, de uma maneira concreta e
estável, é algo complicado. Diógenes (1998) argumenta que a juventude sempre é
vista como uma fase de transição da infância para a vida adulta. Atualmente,
temos de falar em juventude no plural sendo um reflexo das inúmeras condições
sociais. É na juventude segundo Abramo (1994), que o indivíduo é introduzido na
vida social e se confronta com os valores em vigência, demonstrando, assim, suas
dificuldades de “entrar” no mundo adulto e sua insatisfação com a ordem. Sendo
isso um reflexo perante as contradições, entre aquilo o que é ensinado e o que
ocorre na prática.
É a partir dos anos 1970 e principalmente 80, que os jovens ligados às
camadas mais populares passam a emergir com destaque, mudando o modo
como a juventude apareça publicamente, identificando-se por meio de sinais,
símbolos e por determinados bens de consumo. Nesse momento se tem a
formação de vários grupos juvenis, também chamadas de “tribos urbanas”
(ABRAMO, 1994).
Metodologia:
Para esses novos grupos, o lazer se torna extremamente importante, sendo
em torno dele realizada a maioria de suas práticas de sociabilidade. Essas novas
gerações têm o lazer intimamente ligado ao consumo, em que ter acesso a ele é o
meio que possibilita viver a sua condição juvenil. Por isso que o trabalho torna-se
tão necessário, mesmo que com baixa remuneração, ligado a bicos, ou seja, sem
nenhuma garantia e perspectiva de mobilidade. Diógenes (1998) expõe que para
os jovens moradores das periferias, o trabalho é apenas uma forma encontrada
para suprir a necessidade de consumos imediatos, as quais lhes garantem ser
jovem.
Do local para o global:
Spósito (1996) argumenta que é dentro das cidades que os diversos
movimentos populares urbanos aparecem com mais destaque. Sendo a partir dos
anos 1980 que surgem novos cenários e novas formas de ocupação e uso dos
espaços, sendo isso o reflexo do surgimento de novos atores sociais. Os espaços
urbanos passam a ser ocupados por inúmeros grupos juvenis, que se formam a
partir de galeras, gangues, bandos; identificando-se pela música, roupas, religião,
etc.
Dentro destes novos conceitos, se encaixa o movimento hip-hop, sobre o
qual pretendo fazer algumas breves análises.
Para tentar entender este universo, foi adotada a metodologia da
observação participante, como a nossa principal metodologia. Ela consiste em
uma inserção do pesquisador de uma maneira freqüente dentro do grupo
estudado, não no sentido de tornar-se um membro do grupo, mas sim, ter um
convívio mais próximo, para amenizar as diferenças que por ventura possam
existir, como: etárias, culturais, sociais, etc.
Mesmo oriunda e tendo seu destaque mais efetivo dentro da Antropologia,
ela tem sido incorporada por alguns geógrafos/as preocupados com o estudo de
alguns grupos específicos. [...] “Trata-se de uma metodologia que requer um
envolvimento do pesquisador/a com o grupo que vai ser estudado. Uma vivência
demorada uma participação na vida das pessoas, que transforma tanto o grupo
quanto o/a pesquisador/a” (TURRA NETO, 2004 p.83).
O movimento hip-hop é um movimento sobretudo cultural, mas também
político, que se constitui enquanto tal a partir da importação da Jamaica para
Nova York de uma manifestação mundial espontânea, de jovens negros que
expressavam seu cotidiano de miséria e violência. Na Jamaica, tem ligação com o
reagge que, já nos anos 1960 abordavam temas sociais ligados aos negros.
Lindolfo Filho (2004), argumenta que quando técnicas de improvisação
musical, a partir do reagge, chegam até os Estados Unidos, a partir do DJ Kool
Herc, marca definitivamente o surgimento do rap; que se espalha por praticamente
todos os bairros negros de Nova York. O microfone era passado para o público,
que improvisava discursos, aperfeiçoando e, tornando o rap uma forma criativa de
expressão.
A consagração da cultura hip-hop surge com a chamada fusão dos quatro
elementos: o rap: (que é a música, com uma batida muito marcante e com letras
tratando do cotidiano); DJ: (é o responsável pela execução musical nas festas e
fazer efeitos em cima delas); break: (é a dança. Realizam-se coreografias de
acordo com a batida das músicas); grafite: (maneira de expressar o movimento
com desenhos característicos, do dia-a-dia dos jovens moradores da periferia
pobre).
No Brasil, o rap e o movimento hip hop entram por São Paulo, na década
de 1980, não sendo bem aceitos, criticados e discriminados. Mas, com a mídia e a
indústria cultural, essa cultura até então marginalizada, ultrapassa as fronteiras
paulistanas e se dissemina por praticamente todo o pais. Fazendo, assim, que o
movimento hip hop se expanda, arrastando consigo novas perspectivas para uma
parcela de jovens que viviam em espaços urbanos segregados.
A semente do rap aqui na cidade de Guarapuava-PR, foi a vinda de uma
família, que anteriormente já havia morado no Rio de Janeiro, justamente no auge
do movimento black. Instalaram-se no bairro Jardim Pinheirinho, onde se formou
uma célula para o que posteriormente seria o primeiro grupo de rap da cidade.
Como o acesso e a difusão de informações eram bastante precárias e
insuficientes para o que buscavam, tinham de se contentar com as poucas
informações trazidas pela grande mídia de massa, na sua maioria voltadas para a
dança. Isso influencia os jovens, que acabam originando o já hitórico “Rapenzz”,
que foi um grupo de dança, que teve uma considerável visibilidade e número de
participantes. Mas, esse grupo não durou muito, pois, com tantas pessoa, ficava
complicado se ter um controle sobre todos. Fugindo de um caráter integrativo
assumindo a configuração de uma gangue.
Após um longo período de busca por informações, o que realmente marca o
nascimento do rap na cidade de Guarapuava-PR é o surgimento, do que até então
se sabe o primeiro grupo da cidade, que foi o UKAPELA, que surge influenciado
por Racionais MCs. O UKAPELA lança em meados dos anos 1990 seu primeiro
álbum “Reação a Bala”
A partir deste período o rap, e o movimento hip hop (que surgiu mais tarde),
se expandiu bastante. E hoje conta com grupos de rap por praticamente em todos
os bairros da cidade, além de alguns grafiteiros e também algumas pessoas
ligadas à dança, sendo o grupo Magia das Ruas o mais conhecido.
Atualmente, o movimento, após passar por um breve período de declínio,
está tendo um considerável crescimento, sendo bem visível o surgimento de
novos atores na cena e a apropriação, ainda que tímida, de novos espaços da
cidade. Inicialmente só tinha um grupo ligado ao movimente que servia de
referência para alguns jovens, que era a OUAR (organização Uniação Atitude e
Reação), mas com essa ascensão passaram a fazer parte desta configuração, o
Movimento Hip Hop em Ação e também, mais recentemente, a UPEF (União das
Periferias e Favelas).
A abrangência do movimento não desperta apenas o surgimento de novos
líderes, mas também o interesse de pessoas ligadas ao meio político, que buscam
interagir com esses “lideres”, para deterem o apoio dos demais jovens. Isso pôde
ser muito bem observado durante o último período eleitoral.
Para finalizar, vale destacar o quanto o movimento hip-hop é importante
para os jovens que se ligam a ele. Pois é um espaço que os permite se fazerem
vistos, lutar por seus direitos, mostrar e buscar seus sonhos, falar de suas
angústias. É uma forma da periferia, sempre discriminada e não vista com “bons
olhos”, mostrar que ela está aí e não quer mais viver em um universo segregado e
repleto de privações.
Referências bibliográficas:
ABRAMO, Elena W. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São
Paulo: Scritta, 1994.
DAYRELL, juares. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da
juventude. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005.
DIÓGENES, Glória. Cartografias da cultura e da violência: gangues, gáleas e
o movimento hip hop. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria da
Cultura e do Desporto, 1998.
LINDOLFO FILHO, João. Hip Hopper: tribos urbanos, metrópoles e controle
social. In: PAIS, J. M.; BLASS, L. M. da S. (org.). Tribos Urbanas: produção
artística e identidades. São Paulo: Annablume, 2004. p. 127 - 150.
SPÓSITO, M. E. Beltrão. Reflexões sobre a natureza da segregação espacial
nas cidades conteporâneas. Revista da Associação dos Geógrafos
Brasileiros, 1996.
TURRA NETO, Nécio. Enterrado vivo: identidade punk e território em
Londrina/PR. São Paulo: EdUNESP, 2004.
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