BINGO ATÔMICO: JOGO DIDÁTICO COMO RECURSO PARA
AULAS DE QUÍMICA
Fernanda Soares Pinto de Souza – [email protected]
Pâmella Jane Ribeiro Pessanha – [email protected]
Larissa Codeço Crespo – [email protected]
Rodrigo Garrett da Costa – [email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – Curso de Licenciatura em
Ciências da Natureza
Rua Dr. Siqueira, 273 - Parque Dom Bosco
Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro
Resumo: Este trabalho expõe os resultados da utilização do jogo didático “Bingo Atômico”,
o qual aborda o conteúdo de estrutura atômica e envolve o uso da Tabela Periódica para
encontrar as características atômicas (número de prótons, de nêutrons, de elétrons e de
massa atômica) dos elementos químicos. A pesquisa foi realizada na “Semana PIBID no
CEJOPA” (Colégio Estadual José do Patrocínio - Campos dos Goytacazes/ RJ), envolvendo
35 alunos da 1ª série do Ensino Médio. Foram aplicados questionários de opinião após o
jogo. Um percentual de 85,7 de alunos considerou o jogo divertido e 85,7 relatou que o jogo
ajudou no aprendizado dos conteúdos explicados pelo professor. A análise dos questionários
mostrou que o uso do jogo “Bingo Atômico” foi capaz de auxiliar o processo de ensino e
aprendizagem dos conteúdos ensinados pelo professor, nas aulas de Química, além de tornar
a aula mais prazerosa e divertida.
Palavras-chave: Atividade lúdica, Ensino de Química, Jogo, Jogo didático, Lúdico.
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INTRODUÇÃO
É notória a existência de uma grande dificuldade dos alunos de ensino médio na
compreensão dos conteúdos abordados nas aulas de Química, este fator acarreta no
desinteresse desta disciplina. Geralmente, os professores (não só os de Química) lançam mão
de recursos de ensino tradicionais e as aulas se limitam a memorização de fórmulas (BRASIL,
2002). Desta forma, diversificar os recursos de ensino nas aulas de Química pode torná-las
mais atrativas e os alunos podem reformular suas concepções sobre esta Ciência, como é
sugerido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002).
A aplicação de jogos didáticos no ensino da Química apresenta-se como um dos recursos
auxiliares no processo de ensino e aprendizagem. A ideia é que o lúdico, associado aos
conteúdos específicos da disciplina desperte interesse no aluno, promovendo: o aprendizado
de novos conceitos; modificando a relação entre alunos e entre alunos e o professor; e
estimulando o desenvolvimento de competências e habilidades - interpretar, resumir, debater
(GRANDO, 2000; CUNHA, 2012; ANTUNES, 2012; CRESPO, 2014).
Dentro do contexto deste artigo, consideramos o vocábulo jogo oriundo do lúdico, do
latim ludus, que abrange os jogos infantis, a recreação, as competições, as representações
teatrais e os jogos de azar (HUIZINGA, 2000, p. 41). Dantas (2010) expõe que o termo lúdico
abrange atividades individuais e livres, assim como atividades coletivas e regradas. Podemos
perceber que lúdico e jogo não são sinônimos. Lúdico e jogo são conceitos próximos. O
lúdico tem maior dimensão, sendo o jogo uma das atividades consideradas lúdicas. A
atividade lúdica refere-se às manifestações que envolvem situações lúdicas, ou seja, situações
em que estão envolvidos o prazer e o divertimento no decorrer da ação.
O jogo didático, como sugere Kishimoto (1994), é uma modalidade de jogo educativo,
destinada à aquisição de conteúdos, exigindo ações orientadas pelos professores com
objetivos específicos para o desenvolvimento de habilidades intelectuais.
A utilização de um jogo didático deve ser planejada pelo professor como uma atividade
diferenciada, constituída por regras, orientada, que mantenha um equilíbrio entre a função
educativa e a função lúdica. Pois sem planejamento, a aula pode aparentar, para os alunos,
apenas como um momento de diversão. Quando, o que se espera, é que a aula seja divertida e
capaz de introduzir conceitos; revisar e/ou sintetizar conceitos importantes; integrar assuntos
e temas de forma contextualizada e/ou interdisciplinar (GRANDO, 2000; CUNHA, 2012).
Este trabalho faz parte das pesquisas realizadas durante a execução do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da subárea de Química do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – Campus Campos Centro (IF
Fluminense). O programa teve início no mês de março de 2014 (e está vigente até o
momento) e as atividades relacionadas à subárea de Química são desenvolvidas no Colégio
Estadual José do Patrocínio (CEJOPA), localizado no município de Campos dos
Goytacazes/RJ.
O objetivo foi investigar a opinião dos alunos de Ensino Médio sobre o jogo “Bingo
Atômico”, quanto aos conhecimentos envolvidos e quanto à utilização de atividades lúdicas
em sala de aula. O jogo “Bingo Atômico” foi desenvolvido e encontra-se descrito no livro
“Ludoteca de Química para o Ensino Médio” (CRESPO, LESSA, MIRANDA e
GIACOMINI, 2011).
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METODOLOGIA
Um conjunto do jogo “Bingo Atômico” pode ser utilizado por no mínimo dois e no
máximo quarenta alunos e possui: um encarte de regras que será utilizado pelo professor;
vinte e nove fichas para sorteio; quarenta cartelas de marcação com combinação de nove
números diferentes; quarenta encartes de consulta ao conteúdo; quarenta Tabelas Periódicas e
trezentos e sessenta marcadores.
O jogo foi reproduzido de acordo com as instruções do livro “Ludoteca de Química para
o Ensino Médio”, utilizando material de baixo custo (papel cartão, cola, tesoura, papel A4,
emborrachado).
Figura 1: Exemplo de uma cartela de sorteio, de uma cartela de marcação, de encarte de
consulta ao conteúdo e marcadores do jogo “Bingo Atômico”.
O jogo “Bingo Atômico” foi aplicado na ocasião do evento “Semana PIBID no
CEJOPA”, ocorrido nos dias 16, 17 e 18 de julho de 2014. Esta semana foi programada para
receber os alunos (Ensino fundamental e Médio do turno da manhã) após o período de férias.
As subáreas do PIBID de Física e Biologia também realizaram suas ações no CEJOPA e,
portanto, os bolsistas de Química, Física e Biologia participaram da organização do evento.
O primeiro dia do evento foi destinado à divulgação científica com a apresentação de
documentários e posterior mostra de experimentos de Química, Física e Biologia. No segundo
dia foram aplicados jogos didáticos das três áreas e no último dia foi realizada uma
abordagem sobre Química Ambiental, sobre o tema “Lixo”.
A utilização dos jogos didáticos ocorreu (no dia 17 de julho de 2014) da seguinte forma:
a) os alunos do Ensino Médio foram agrupados em salas de aula de acordo com sua série.
Por ser um período após as férias escolares contamos com a presença de poucos alunos (35
alunos da 1ª série, 22 alunos da 2ª série e 3ª série do Ensino Médio);
b) os alunos da 1ª série participaram do jogo “Bingo Atômico” e depois de um jogo de
Física. Já os alunos da 2ª e 3ª séries, juntos, participaram de jogos de Biologia.
A seguir, detalhou-se somente a aplicação do jogo “Bingo Atômico”.
O jogo “Bingo Atômico” tem como objetivo revisar e exercitar o conteúdo de Estrutura
atômica e envolve o uso da Tabela Periódica para encontrar as características atômicas dos
elementos químicos, como número de prótons (Z), número de elétrons (e), número de
nêutrons (N) e número de massa (A). O jogo tem duração aproximada de 50 minutos. Antes
do jogo, as regras foram explicadas (Figura 2), feitos exemplos no quadro e distribuído o
material para cada aluno.
Após o jogo, foi aplicado um questionário para saber a opinião dos alunos em relação ao
conteúdo do jogo e a utilização de jogos em sala de aula. Portanto, foram necessários dois
tempos (50 minutos) de aula.
Figura 2: Regras do jogo “Bingo Atômico”.
Fonte: (CRESPO, LESSA, MIRANDA e GIACOMINI, 2011).
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do jogo 35 alunos da 1ª série do Ensino Médio do CEJOPA,
correspondendo aos alunos das quatro turmas desta série que compareceram no dia da
utilização. O jogo foi aplicado pelos autores deste artigo.
Foi perceptível o interesse dos alunos pelo jogo proposto (Figuras 3 e 4), visto que, os
alunos jogaram duas vezes. Da primeira rodada participaram 35 alunos. Já na segunda
permaneceram 26 alunos. Os outros nove alunos não quiseram jogar novamente e isto foi
respeitado, pois a obrigação retira o caráter lúdico do jogo didático (HUIZINGA, 2000).
Figura 3: Momento do sorteio de uma das cartelas do jogo “Bingo Atômico”.
Figura 4: Alunos localizando elemento na Tabela Periódica para encontrar o que foi
pedido no sorteio.
Dos alunos que participaram do “Bingo Atômico”, 82,9% disseram que não haviam
utilizado atividades lúdicas no CEJOPA ou nos colégios que estudaram anteriormente,
independente da disciplina. Para 82,3% dos estudantes o uso de atividades diferentes nas
aulas de Química aumentaria seu interesse em estudar mais esta disciplina. Podemos conferir o
interesse dos alunos por atividades lúdicas ao fato das aulas ainda estarem centradas na
memorização das fórmulas, cálculos e nomenclaturas, desvinculando a aplicabilidade dos
conteúdos com o cotidiano, com a realidade dos alunos, tornado a aprendizagem maçante, tediosa.
Nesse contexto a disciplina Química é muitas vezes questionada pelos estudantes, eles querem
saber o motivo pelo qual a Química lhes é ensinada, pois na escola ela é “apresentada de forma
totalmente descontextualizada” (LIMA et al., 2011, p. 5).
Os participantes foram questionados sobre a impressão que tiveram sobre o jogo “Bingo
Atômico” e obteve-se que 85,7% consideraram-no divertido, 8,6% cansativo, nenhum aluno
marcou a opção sem sentido e 5,7% assinalaram outro motivo, porém não exemplificaram.
A maioria dos alunos (97,1%) achou o jogo fácil de ser utilizado em função de suas
regras e conteúdo abordado, enquanto 2,9% alegaram ter tido dificuldade no nível do
conteúdo.
No questionário aplicado foi solicitado aos alunos que justificassem, por escrito: “O que
poderia ser melhorado no jogo Bingo Atômico?”. Foi obtido um percentual de 14,3 que não
responderam. Dos alunos que responderam, as respostas foram categorizadas, por
semelhança. Um percentual de 71,4 dos alunos disse que o jogo não necessita de nenhuma
alteração, 11,4% disse que faltou organização na aplicação do jogo, 2,9% disse que o jogo
poderia ser mais difícil.
O jogo aborda o início dos estudos sobre estrutura atômica. Foi observado, no começo da
atividade, que muitos alunos não sabiam encontrar o número de prótons, de nêutrons, de
massa atômica e de elétrons. Diante disso, vários exemplos foram feitos no quadro para as
primeiras cartelas sorteadas. Pela observação realizada pelos autores e pela análise da Figura
5, o jogo estava adequado ao público presente. A Figura 5 apresenta a opinião dos alunos
quanto à exigência de conhecimento prévio. Para 60,0% dos alunos, o jogo exigiu exatamente
o que sabiam, para 25,7% exigiu além do que sabiam, outros 8,6% não conseguiram jogar
porque não sabiam algumas respostas e 5,7% responderam que daria para jogar sem conhecer
o assunto. Um aluno (2,9%) apresentou-se bastante entusiasmado e comentou durante a
atividade que o sorteio poderia envolver espécies iônicas.
Figura 5: Opinião dos alunos quanto à exigência de conhecimento prévio.
Por fim, foi perguntado o que os alunos acharam da utilização do jogo. Para 85,7% o jogo
ajudou no aprendizado dos conteúdos explicados pelo professor e para 14,3% foi apenas um
momento de diversão. Quanto ao conteúdo (figura 6), 22,8% dos alunos relataram que ao
jogar aprenderam coisas novas, 74,3% disseram que o jogo foi bom para relembrar o
conteúdo e 2,9% justificaram que o jogo não fez diferença em sua aprendizagem, pois já sabia
tudo.
Figura 6: Opinião dos alunos quanto ao conteúdo do jogo “Bingo Atômico”.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos, pode-se afirmar que o jogo "Bingo Atômico" ocorreu
sem imprevistos. Os alunos conseguiram jogar sem dificuldade estando o nível de
conhecimento exigido no jogo de acordo com o nível de ensino. Um percentual de 85,7 de
alunos considerou o jogo divertido e 85,7 relatou que o jogo ajudou no aprendizado dos
conteúdos explicados pelo professor. Em relação ao conteúdo e a exigência de conhecimento
prévio, respectivamente, 74,3% responderam que foi bom para relembrar o que já sabiam e
60,0% responderam que exigiu exatamente o que sabiam.
Conclui-se, que o uso de atividades diferentes nas aulas de Química aumenta o interesse
dos alunos em estudar mais esta disciplina. Os estudantes mostraram-se entusiasmados e
motivados durante a atividade, pois proporcionou um ambiente dinâmico e interativo entre os
alunos, que sem perceber estavam estudando Química enquanto se divertiam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 18. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2012.
BRASIL. PCN + Ensino médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros
curriculares nacionais. Ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias. Ministério da
Educação. Brasília: 2002.
CRESPO, L. C. Implantação de Ludotecas de Química para o ensino médio em colégios
estaduais de Campos dos Goytacazes e região. Campos dos Goytacazes, 409 p., 2014. Tese
(Doutorado) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
CRESPO, L. C.; LESSA, M. D.; MIRANDA, P. C. M.; GIACOMINI, R. Ludoteca de
Química para o Ensino Médio. 1. ed. v. 1. Campos dos Goytacazes: Essentia, 2011. 240p.
CUNHA, M. B. Jogos no Ensino de Química: considerações teóricas para sua utilização em
sala de aula. Química Nova na Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, maio 2012.
DANTAS, H. Brincar e trabalhar. In: KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. 3.
Reimp. da. 1. ed. de 1998. São Paulo: Thomson, 2010, p. 111-122.
GRANDO, R. C. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. Campinas,
234 p., 2000. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas. Disponível em
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000223718> Acesso em: 03
jun. 2014.
HUIZINGA, J. Homo Ludens. Tradução de J. P. Monteiro. 4. ed. São Paulo. Perspectiva,
2000.
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. Revista Perspectiva. Florianópolis, v. 12,
n. 22, p.105-128, 1994.
LIMA, E. C.; MARIANO, D. G.; PAVAN, F. M.; LIMA, A. A.; ARÇARI, D. P. Uso de
jogos lúdicos como auxílio para o ensino de Química. Educação em Foco, março, 2011.
Disponível
em:
<http://unifia.edu.br/revista_eletronica/revistas/educacao_foco/artigos/ano2011/ed_foco_Jogo
s%20ludicos%20ensino%20quimica.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2014.
BINGO ATÔMICO: A DIDATIC GAME AS A RESOURCE FOR
TEACHING CHEMISTRY
Abstract: This paper shows the results of the use of the didactic game called "Bingo
Atômico", which deals with the content of atomic structure and involves the use of the
Periodic Table to find atomic characteristics (number of protons, neutrons, electrons and
atomic mass) of the chemical elements. We have conducted a survey about the use of the
game with 35 high school students during the "Semana PIBID no CEJOPA" (Colégio
Estadual José do Patrocínio - Campos dos Goytacazes/RJ) by applying an opinion
questionnaire. As a result, 85.7% of the students considered that the game was enjoyable, and
85.7% reported that the game helped them to learn the content explained by the teacher. The
analysis of the questionnaires showed that the game "Bingo Atômico" was able to contribute
in the teaching and learning processes of the contents taught by the teacher in the Chemistry
classroom, besides turning it pleasurable and funny.
Key-words: Ludic activities, Chemistry Teaching, Game, Didatic game, Ludic.
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bingo atômico: jogo didático como recurso para aulas de química