VOL. 4.°
4.° ANNO.
<=*•—.
N. 10.
ABRIL.
1849,
Pffi^*i«Kr^ra~i}^^
ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA.
SESSÃO GERAL EM 15 DÉ JUNHO DE 1848.
Presidência do sr. dr. Sigmid.
°«^c?a°
^^^v^xpedientk.— 1.° oííicio do sr. dr.
ÉIIIImÈ Meirellcs excusando-se do cargo
QCQQ3S de membro da commissão para
os requerimentos de Elias Coelho Martins
que pedia licença á câmara municipal para
curar ebrios; e hàvendo-lhe esta negado
recorreu ao governo, o qual consultou a
este respeito a Academia. É nomeado para
substituir o sr. Meirelles, como membro
da commissáo, o sr. dr. Feital, passando
a ser relator da commissão o sr. di\ Paula
como immediato na ordeni da primeira
nomeação.
2.° Carta do sr. dr. Mersemann de Cand
remettendo varias obras suas, a saber: —
^cX>I£»O3:m,O*:0:£Xi<
O CHARLATANISMO
E OS CIIARLATÃKS NO BRASIL
(A/7. Irad. da Gazctte Médicale de Paris).
(Vem don.
9, pag. 206).
0 S. Pedro da homoeopathia comparando sempre sua
nova fé com a infância do christianismo deixa vèr entrelanlo notáveis differcnças. Hanhemann foi certamente o Messias; mas ífeste caso o Messias não foi o
redemplor. 0 redemptor (segundo Mr. Mure) nasceo
c morreu no espaço dos três últimos annos: não era lá
uma pobre creança que vem á luz do dia chi uma
I
Disquisilio medico-legalis de variis lethaUtatis
gradibus volverum parlhim contineatium et contentarum thoracis.— Notice snr François Rapaert, et Corneille Van Baetdorp.— Eloge de
de Palfin.—Notice sur JeanPalfyii.—Goffroy
de Saint-Hilaire*, son car adere, ses descouvertes.— Recherches physiologiques pmr etablir que 1'ation do emir et Ia circulation du
sang ne dependent pas essenciellemcnt du systheme nerveuôc cerebro-spinal É nomeado re*
lator o sr. dr. Feital.
O sr. dr. Marinho apresenta uma peça
pathologica de um caso de áneurisma da
aorta que se rompeo na cavidade thoracica
esquerda, e na qual o tumor aneurismatico produzio a carie de varias vertebras
dorsaes: e promette apresentar depois a
historia d'este caso.
O si\ di\ Feital lè uma observação süa a
cerca de um caso de eíucacia do sulphato
de quinina em uma hevropathia pulmonar
manjadoura de bois; pelo contrário era o herdeiro da
coroa do Brasil. O Apóstolo e os sequazes da nova
crença affirmam que elle morrera phthisico por culpa
dos idolatras da antiga fé. Mas em compensação elles
encontraram certo consolo n'ésta desgraça, declarando
poeticamente que a morte do príncipe imperial livrara
o mundo da phtisica e da allopathia — que fechando
assim um abysmo de morte e de moléstias abria uma
nova era de longevidade indefinida, coroada sempre de
rosas, de saúde, e das doses infenitesimaes da homoeopalhia. —Fez mais ainda. Alem de discursos e artigos de jornaes a cerca d'este assumpto, consagroulhe uma ode em francez, ode composta de um numero de estrophes tal, quede nem-um modo se poderia
reputar homeeopathica, como tarnbem não podiam ser
comparadas, pela cadência e harmonia, á aquella de
Boilèau quando cantou a tomada de Namur. Todavia
cumpre convir que se os versos do Pontifico foram
l
228
ANNAES
¦ ¦ im>i
com aífecção uterina, recomniendando o
uso d'este remédio cm casos similhantes.
Esta leitura dá lugar a algumas observacões dos srs. drs. Rego, Sigaud e Marinho.
O sr. dr. Rego diz que de tudo o que expoz o sr. Peitai na sua observação elle collige que a doente só padecia de um atados
que asthmatico ligado a uma aiíccção
órgãos da geração. Elle não pretende decidir a questão, se a asthma é moléstia
nervosa como alguns sustentam, ou se é
essencialmente ligada a uma lesão organica; mas o que pergunta é se a asthma é
moléstia radicalmente curavel, c se emlugar de haver o sr. dr. Peitai curado a molestia com o sulpliato como pretende, não
houve no caso por elle referido senão o
desapparecimento de um accesso asthmatico que ás vezes cessa de per si por dias,
mezes, e annos, e torna depois a apparecer. Acha também duvidoso se o sr. dr.
Feital não curou senão uma affecção miasmatica intermittente que se havia manifestado no indivíduo, e linha tomado o caracter asthmatico, sem que jamais existisse
essa nevropathia especial por elle suposta,
e tão fácil de ceder á applicação do sulpbato.
O sr. dr. Feital responde dizendo que
elle entende ter apresentado á Academia
uma observação que trata simplesmente de
um facto, e que não propõe o sulpliato de
compostos com facilidade, a julgar-se pelo pouco tempo de que dispoz, é porque lambem não são lá obra
primorosa. Pelo amor de Deos, senhor S. Pedro, fazei
ao menos com que vossos versos sejam tão delicados
como o são vossos remédios, se quizerdes que elles
nos agradem; e sobre tudo dispensai nas vossas rimas
os montes Golgotas no plural.
Apezar das penosas obrigações do apostolado, S.
Pedro tem tempo para tudo; e de tal modo se acha
prevenido, que nem-um accidente imprevisto o pôde
surprehender. Por exemplo: uma menina de 10 annos,
depois de se haver tratado pela medicina antiga, entregou-se aos cuidados da nova seita; sendo o próprio
S. Pedro quem se encarregou do seu tratamento.
Acontíceo porém, que logo á primeira dose infenitesimal a joven Gabriella teve a irreverência de peiorar
cada vez mais, até que morreo finalmente accommetlida de symptomas bem manifestos de envenenamento.
quinina como-11111 meio seguro cm todos os
casos análogos, mas como um meio tratavel, c por isso não tem cabimento as dúvidas do sr. dr. Rego pelas quaes pareceria
que elle orador apresentasse esse remédio
como um meio apropriado no tratamento
das ncvropathias thoracicas.
O .sr. dr. Sigaud dando importância á
questão suscitada a cerca da asthma diz,
que seria de opinião a este.respeito, se se
propozesse no programma das questões
para o futuro anno acadêmico, uma quêstão sobre a asthma, e principalmente sobre a sua natureza.
O sr. dr. Marinho acha que o sr. dr. Feital foi muito exclusivo, ou para melhor dizer, nimiamente geral, querendo tornar
universal a applicação do sulpliato de quinina cm casos similhantes, Acha que 110 Rio
de Janeiro já é geralmente mui grande o
abuso que se faz do sulpliato de quinina
como já tem se feito do systema de Broussais. Para que o sulpliato de quinina fosse
útil em todas as moléstias periódicas, e em
todas as uevropathias, não só pulmonares
como outras, conviria que todas tivessem
a mesma natureza. Depois seria preciso
demonstrar por um grande número de observações que o sulpliato de quinina fosse
o que mais pudesse curar a asthma; o que
não seria mui fácil ao sr. dr. Feital, nem a
qualquer. Depois sendo tão fácil o desapAssim o declararam dous médicos que a visitaram
divulgou-se
pouco antes da sua morte. Por esta rasão
o facto por modo tal, que a justiça, de (piem a increiaêprorerbialno Império do Brasil, vio-se obrigada
a intervir, embora o fizesse por pura formalidade. Resultou d'ahi a impolitica de desconhecer-se o caracter
apostólico homoeopathico e hanhemannico de Mr. Mure,
como ainda
por modo que o juiz não só o interrogou
tomou conhecimento de suas presoripções. Mas elle
soube vingar-se d'isto maravilhosamente ; por quanto
1.° que lendo os
provou clara e terminantcmenle:
manifestadoprimeiros symptomas de envenenamento
se logo ao tomar das primeiras doses, estava claro que
deviam ter sido oceasionados pelos remédios hereges
dias
que se haviam administrado á doente alguns
antes. 2.° que o seu registo ali estava para tranquilisar a consciência do juiz, e para esclarecer com a
verdade todo este negocio; 7>.Q que segundo o seu re-
229
DE MEDICINA BRASILIENSE.
parecimento da asthma por si mesma como
pôde o sr. dr. Feital suppor que no caso
por elle referido a asthma cessou pela acção do sulphato de quinina ? Se a periodicidade fosse o único motivo para reclamar
a applicação do sulphato de quinina em
todas as moléstias periódicas devera ser o
mesmo e achar-se mui útil o sulphato, o
que não succedc sempre. Por tanto acha
que o sr. dr. Feital não tem dados de observação ainda suííicientes para inculcar a
applicação do sulphato na asthma, e nas
nevropathias do peito porque um só caso
que elle tem não pode constituir regra.
O sr. dr. Feital insiste em dizer que elle
apresenta o seu caso como um exemplo
que pôde e deve mesmo induzir a tentar
applicações similhantes, em outros casos
iguacs: e que embora o sulphato de quinina não seja sempre útil em todas as nevropathias, como também não é sempre
cm todas as febres intermittentes, não deixa de ser um meio therapcutico útil na
maior parte d'ellas e que as circumstancias
da enferma, nas quaes o sulphato produzio o melhoramento, eram taes, e tinham
marchado de tal maneira que elle nao podia suppor por um lado como se quer a
existência de uma febre intermittente, e
pelo outro, como se suppõe, o desapparecimento espontâneo de um accesso* Seja
como (fcr, elle está resolvido a empregar
meios iguaes em iguaes circumstancias, e
parece-lhe que isto é o que deve fazer todo c qualquer prático.
A discussão fica addiada pela hora; e a
ordem do dia igualmente.
gisto, a substancia dada a Gabriella, longe de ser um
veneno nao era mais que uma solução de nitrato de
prata (que na linguagem dos infiéis corresponde a um
azolado de prata) cuja dyuamisação era em tal* gráo,
e a dissolução cin tal outro, e que por conseguinte
tudo havia sido leito em regra, e que nem a mais
pequena objecçâo se lhe podia fazer. A vista dVste
luminoso raciocínio convenceo-se 0 juiz, e senão
mandou exhumar o corpo da victima para se lhe fazer o competente exame judiciário, foi porque reflectio que este cadáver sepultada, havia mais de 5 dias,
devia produzir muito máo cheiro; e por isso decidio
cm sua alta sabedoria, que a joven Gabriella tinha
sido optimamente sepultada com sua pequena coroa
branca, em seu pequeno caixão forrado de selim, em
que descançava tão tranquillamente, que seria imprudeneia o perlurbal-al Por todos estes motivos maduramciile pensados, o caso não passou d'islo, embora
se tivessem redigido em boa ordem- todos os actos do
processo; ao menos não lhe faltaram essas formalidades.
Daqui podeis vèr, meus caros coliegas, como os
negócios de justiça são excellentes recommendações;
e S. Pedro não é lá nem-um desmazellado que queira
perder a menor oceasião. Mais que depressa um eslupendo supplemento se distribue com o seguinte nú>
mero do Jornal do Commercio\ é a analyse das peças
do processo phrasc por phrase, e na mór parte palavra por palavra; mas ainda isto não era sufncientc
para a desforra de S. Pedro: e pois mette mãos á
obra concluindo em 21 horas um romance cm 8.°t
que se intitulava—Gabriella envenenada, ou a calumnia allopathica, — sem que lhe faltasse o retrato da
própria Gabriella; no meio de uma vista de casa de
campo cm que cila morreu, c mais uma vinheta representando a sepultura, etc. etc. Inútil é dizer-se qú]ê
SESSÃO
GERAL
EM 7 DE JULHO DE 1848.
Presidência do Sr. Dr. Sigaúti.
Expediente.—1." Aviso de s. ex.a o sr.
ministro dos negócios do império* remettendo um caixão com casca de assacú em
conseqüência da requisição feita pela Academia, e uma lata com doses da mesma
planta tudo mandado pelo presidente da
província do Fará.
O secretario geral declara não ter ainda
recebido o dito caixão; e sendo a este respeito perguntado o porteiro, responde ter
sido somente entregue do aviso*. Fica incumbido o secretario geral de fazer as deligencias necessárias para haver o dito caixão ca lata.
2.? Aviso de s. ex.1 o sr. ministro dos
negócios da fazenda com um officio do inspector da alfândega d'esta corte, relativamente a umas grandes porções de arsênico
que existem na alfândega e em despacho:
e pedindo o parecer da Academia. É remettido a uma commissão da qual são nomeados membros os srs. Rego, Sigaud, e
Bonjean.
230
ANNAES
O sr. dr. Peitai lè uma observação sua a
cerca de um caso de arrancamento de bracom
ços por um tiro de peça d'artilheria
caso cm
queimaduras do 2.° c 3.° grão,
membros
que se fez a amputação dos ditos
e houve saliência e nccrosc dos ossos, telano e delírio.
Passa-se á ordem do dia e abre-se a discussão sobre as moléstias reinantes.
Osr.Jr. Feital refere ter ultimamente
com
observado três casos de pneumonia
intcnnitpleuro-hepatite c com caracter
liotente vindo os accessos de noite, ás 10
ouras. No hospital da Marinha tem visto
de
tros, os quaes dependem da mudança
catemperatura. Tem também observado
sós de diarrhéa.
O sr. dr. Rego diz que vão appareccndo
alguns casos de sarampãos dos quaes obserdas
vou alguns cm Matacavallos c na rua
bcMangueiras; porém todos com caracter
ainigno, e com leve diarrhéa. Observou
nem-um
guns casos de pneumonia, porém
com caracter intcrmiltente, e quasi todos
complicados com hepatite, o que é fe
quente no Rio de Janeiro, principalmente
nas crianças. Alem d'cstas duas enfermidades reinantes observou algumas affecçõcs
tygástricas com tendência para o estado
mui fácilphoideo, mas que desapparecem
mente com uma medicação muito simples
ii'este romance eram os hereges confundidos e amaidiçoados em nome de Ilanhemann, Jacotot. c Fourricr
trindade da nova doutrina, bem como que ali se citava o Apocalypse e os psalmos de David.
Os homoeopathas do Brasil são homens capazes de afuhonra de
gcnlar o mar, e fazer dansar as montanhas em
seus pequenos glóbulos, üe quatro annos a esta parte
grande número de adcplos e conversos se tem vindo
alistar sob as leis apostólicas do mestre; c graças á divina providencia e a S. Pedro, em breve o número
de seus homoeopathas excederá no Brasil o das necessidades morbifieas. Ha ainda g^nte, cujo zelo é tão
grande, que chegam a esquecer-se de ir receber as
ordens no grande seminário de S. Pedro, conlentando-sc tão somente com a compra de uma caixa chamada homceopalhica, não contendo mais que algumas
dúzias de pequenos frascos cheios de diluições e de
glóbulos, acompanhada do competente roteiro, que in-
Refere um tFestes casos em que a cnferinidade cedeo a uma applicação de poucas
bichas c cremor de tartaro com nitro. Logo que o ventre se desembaraçou tudo desappareceu. Observou também algumas intermittentes que se tem manifestado com
symptomas irregulares e não próprios, e
que cederam ao uso do sulphato de quinina administrado simplesmente por ter obsenado nas pessoas affectadas a còr propria das intermittentes. Porém não tem
observado febres intermittentes bem declaradas, nem complicação (Vellas com
verdadeira inflammação.
O sr. dr. Peitai folga por vèr o sr. dr.
Rego reconhecer a utilidade do sulphato
de quinina em um grande número das nossas moléstias, removendo este uma das
maiores complicações d'cilas.
O sr. dr. De-Simmi diz ter observado
ultimamente vários casos de pleurizes, e
pleuro-pneumonias algumas com hepatite,
complicadas com febre intermittente cujos
accessos eram nocturnos, c exasperavam a
dòr do lado, c os outros symptomas cm aiem
gims os quaes n'elles eram persistentes
e
quanto em outros as dores pleuriticas,
pneumonicas eram também intermittentes
havendo durante o dia perfeita apyrcxia.
Só em uma casa da rua das Violas teve de
observar e tratar três casos cVestcs contemporancamente, um em uma. menina
dica o modo da administração; e d^sfarte vão curaiido o gênero humano em nome do três vezes santo
Ilanhemann. O espirito santo jamais desampara aquelles que tem fé; mas isso não obstante, sempre se vão
enviando ás cidades importantes do império missionarios ad hoc.
Foi assim que úllimaniente um indivíduo por
nome Martins, que rabiscava nos jornaes por conta
de Mr. Mure, quando lhe sobrava o tempo, partio
a fim de
para a Bahia munido da benção pontificai
ali ir plantar a sua cruz. O Ceo que só aguardava a
sua vinda para a tornar assignalada por prodigiosos
milagres, fez com que logo á sua chegada se deseno
volvesse uma epidemia de bexigas, sem dúvida com
único fim de tornar evidente o poderio da nova doutrina. Cada correio que chegava a corte do Rio de
Janeiro, tmzia um bullelira d'ésta santa expedição. Na
Bahia, como no Rio He Janeiro, os glóbulos triunipha-
DE MEDICINA BRASILIENSE.
231
parda da idade de 10 annos e este foi o
mais leve havendo somente febre nocturna, c appareciniento da dòr pleuritica sem
nem-um dos symptomas próprios da pneumonia. Este caso cedeo ao uso simples do
sulphato de quinina, e alguns purgantes.
Outro caso foi em uma preta de 20 a 24
annos: ifella havia complicação de hepatite, e foi necessário recorrer a emissões
sangüíneas locaes no thorax e epigastrio,
epispasticos sobre o lugar da dòr, purgantes, e sulphato de quinina internamente
com pílulas resolutivas. O terceiro foi o
mais grave tomando cm poucos dias o caracter de uma pleuro-pneumonia bem declarada, a qual pareceo abrandar debaixo
do uso dos anti-phlogisticos, c das emissoes sangüíneas, mas que depois se exasperou e hia tomando o caracter typhoideo, e o typo contrário depois de haver
no principio tido o intermittente com accessos nocturnos. O sulphato de quinina
applicaclo n'este caso depois de procederse á administração do tartaro, c de emissoes de sementes de melancia com nitro,
c digitalis pareceo trazer algum melhoramento o qual se não sustentou, e foi mister
recorrer aos vesicatorios, e aos cosimentos de quina com serpentaria, e jalapa
camphoradas aos quaes a moléstia cedeo,
restabelccendo-sc a doente perfeitamente
depois de ter estado com todo o apparato
dos symptomas typhoideos do segundo es<
tadio, e alguns do 3.°
O sr. dr. Rego acerescenta ao que já disse ter observado alguns casos de coqueluche, diarrhéa e desynteria, e um de endocardo-pericardite, que lhe pareceu complicada com febre intermittente. Este caso
foi em um preta, que apresentava summa
dyspnéa, batimentos muito grandes do coração tumultuosos e pouco ciistinctos, e
uma dòr e sensação de peso e oppressão
na região cardíaca onde o som era menos
claro á percussão do que no estado natural ordinário. JN'este appücou elle a digitalis com agoa de louro-cerejeiro, e depois
uma sangria, de cuja applicação resultou
grande allivio, manifestando-se então pela
primeira vez bem claramente os calafrios,
e todos os outros caracteres de um accesso propriamente intermittente. O sulphato de quinina administrado n'essa oceasião
fez cessar os accessos, mas a doente ficou
tremula como nos casos de corèa, symptoma que cedeu ás pílulas de Meglin sem
oxyclo cie zinco. Refere também um caso
de febre com caracter typhodeo, em que
depois da applicação de vesicatorios e sulphato de quinina seguio-se uma diarrhéa
sanguinolenta muito forte, e desappareceo
a moléstia.
O sr. dr. De-Simoni refere que seu filho
com anno e meio de idade, que havia seis
ram, e os infiéis reduzidos a apuros, consomem-se no
meio de convulsões de raiva e de desespero.
Espíritos acanhados poderão entender que é somente
no campo da arte de curar que a homceopathia tem pretenção a tudo regenerar. Erro, três vezes erro! A' todos
os conhecimentos humanos a homceopathia leva o haptismo da regeneração; Às malhemathicas, a physica
a chimica, a historia natural, a geographia, etc. etc.
tudo vai ser reunido em uma encyclopedia homceopathica que tudo abrangerá d'esdc a arte cullinaria até
á astronômica. E bem que se não comprchenda logo ao
primeiro juízo o que possa ser astronomia homoeopathica, como também não deixe de causar admiração
saber-se que a cosinha se pode submetler ao systema
infenitesimal, não se deve ser incrédulo a respeito de
tão insignificantes difiiouldades. Cumpre que todos se
humilhem diante da nova fé como diante de seus milagres. Mr. Guizot havia commeltido o imperdoável
erro de escrever em sua—Nove Encyclographie - que
era impossível fazer-se a synthese de todos os conhecimentos humanos para se constituir a unidade da
sciencia. Mais que depressa S. Pedro lança mão da
Compenna e lhe responde (sempre no Jornal do
mercio), que elle havia avançado uma grandíssima asneira; que se pelos antigos systemas esta unidade se
tornava impossível, estava fora de toda a dúvida, que
o negocio se tornava summamente fácil pelo systhema
de Iíanhemann, Fourrier e Jacotot; c que essa seria a
empreza do Instituto homoeopathico do Brasil, como a
glória do século 19.Q Já se pozeram mãos á obra; já
o trabalho que deve fundir todas as sciencias em uma
só, se encetou no jornal intitulado Sciencia (não podia ter um nome mais frisante), que agora entra no
seu 4.o número. Pelo órgão do Jornal do Commercio S. Pedro noticia aos que querem c aos qne não
querem saber, que o referido 4." número contém ar-
ANNAES
!«¦«¦ w—aw tmnuMi*"
mczcs não soffria mais da coqueluche tcndo sido ultimamente aíTectado de uma catarral: ífelle a tosse tomou todos os caracteres da coqueluche, c dcsappareceu
immediatamentc cm poucos dias logo que
acabou a catarral: phenomcno ciue elle exmuseuplica pelo habito contrahido pelos
los a contrahirem-se violentamente por
inqualquer nova irritação bronchial que
flua sobre o systema nervoso do pulmão c
diaphragrna.
O sr. dr. Sigaud pergunta ao sr. dr. Feital se elle é de parecer de que às pneumonias com symptomas interuiittcntcs se
deve appiicar o sulphato de quinina desde
o principio como hyposthenisante, ou
como anti-periodico.
O sr dr. Feilal responde que no começo
a todos os reparece-lhe rasoavel recorrer
médios que podem fazer abortar a molestia, e sendo o sulphato de quinina um d'elles n'estes casos não ha duvida de que
elle possa ser útil usado desde o principio:
com tudo que n'ésta administração sempre
será preciso proceder com cautella, e não
desprezar o auxilio que dos outros hypostenisantes, ou anti-phlogisticos prttle alcançar-se, e principalmente das sangrias geraes e locaes, que em caso de grandes congestões obram também como depletivas:
e finalmente que em geral em todo o caso de aífecções intermittentes convém semfigos transcendentes, quasi que todos do punho de S.
Pedro a cerca das altas diluições, das extremas dynamisaçues, da doutrina hanhemanianna, da propaganda
honwopathica, etc. etc; é este um artigo transecndenlissimo (sempre da lavra de S. Pedro) sobre locomoção rápida, a qual resolve (segundo a opinião de
S. Pedro) problemas de statica, dynamica, questões
estas de incalculável interesse para o século, cuja attenção n'ellas se absorve. Vereis então que S. Pedro
tem descoberto o segredo de tirar da matéria, reduzida ao infinitamente pequeno, mas dynamisada a um
gráo espantoso, forças locomotivas levadas a uma potencia acima de todos os cálculos capazes de arrastar o nosso globo para fora de sua espbera.
üe tempos a tampos o nosso infatigavel S. Pedro se
faz cargo de communicar algumas novidades estranhas
ao paiz, mas que com tudo servem para aterrorisar
os idolatras, c dar forças aos fieis. Ora c o Papa Pio
asa
»wnfi*«"nfamm*»
pre no principio preparar o doente para
a administração do sulphato de quinina, a
qual sendo prematura ou intempestiva póde dar lugar a uma nevrafgía muito encommoda para o doente.
O sr. dr. Sigaud diz que prefere incorrer
no perigo de uma nevralgia, do que expor
os doentes a attaques perniciosos que os
levam á sepultura por querer-se primeiro
preparar o doente, como infelizmente tem
oceorrido muitas vezes, f
O sr. dr. Rego diz que em condições d»das, de casos de intermittentes complicadas,
elle julga qua as sangrias devem favorecer
a absorção do sulphato de quinina, e conseguintemente o elTeito cFestc: assim como
nos casos de verdadeira inflammação o
tartaro estibiado deve auxiliar a acção do
mesmo sulphato; c cjue o mesmo acontece
com o uso dos purgantes quando ha embaraço gástrico; pois sem se remover primeiro o embaraço o sulphato torna-se
inútil.
(
A questão é addiada pela hora.
SESSÃO
GERAL DE 22
DE JULHO DE 18ft8,.
Presidência do Sr. Dr. Sigaud.
O sr. dr. Lobo oflerece um exemplar do
seu discurso sobre a cirurgia seguido de
observações sobre a mortalidade do Rio
IX, que na sua qualidade de soberano philosopho,
adopta a homocopathia para si e para todos os seus
fâmulos; ora c o príncipe de Meternich, que tendo já
medicina, c
perdido dous tilhos envenenados pela
achando-sc quasi a perder o terceiro, o faz voltar á
vida no praso de três dias, pelo soecorro de três doses
homcropathicas dadas também por três vezes. Por tanto a homfeopathia vai reinar sem rival em todo o imE que graças
p^rio palcrnal c apostólico da Áustria.
lhe não devemos nós render por assim nos haver conservado uma raça tão preciosa á humanidade como
aquella dos Meternich ! Mais um pequeno milagre em
"'
favor da Áustria. O feld marechal
(o nome não
faz nada ao caso) commandante militar do reino lombardo-veneziano, achava-se aíTectado de um fungus
oceular, que todos os occnlistas da Allemanha sem
exceptuar o próprio Jaegòr, haviam julgado incurável.
A lionKcopathia íimita-sc apenas a loeal-o com a sua
DE MEDICINA BRASILIENSE.
233
de Janeiro, c outro de sua memória sobre
o tétano traumático. São recebidos com
agrado,
A' requisição do sr. dr. Lobo é nomeada uma commissão composta dos srs. Rego, De-Simoni e Feítal para examinar as
questões de mortalidade tratadas pelo autor
O sr. dr. Feital offerece um exemplar do
seu folheto intitulado : — Notícia sobre o
hospital de marinha da corte etc. É rccebido com agrado.
Pareceres.— O sr. dr. Rego na qualidade
de relator apresenta e lè em forma de resposta da Academia ao governo um parecer da commissão especial sobre a cônsulta do mesmo governo respeito da venda
do arsênico no mercado, seu despacho na
alfândega, a qual colhendo a occasiâo defallar em vários abusos de policia medica,
que a par do que oceorre actualmente a
respeito d'este veneno sobre cuja venda
e commercio a autoridade pública pede
agora conselhos a Academia, são altamente prejudiciaes á saúde pública, expende a
dita commissão a sua opinião. A commissão julga que a grande porção d'este genero commercial c, ou parece destinada
somente para processos de industria manufactureira já conhecida; e para outros
fins industriaes, para os quaes o arsênico
vai-se empregando no paiz, taes como pin-
tura de navios etc. Ella declara com tudo
que c preciso muita vigilância da parte das
autoridades do paiz attentos os males que
podem resultar a este, principalmente na
época em que vivemos; e que ao governo cumpre e compete tomar todas as medidas necessárias para evitar os abusos que
ha a respeito da venda d'este gênero e de
outros que para o futuro possam resultar
e indica varias cVéstas medidas. Entrado
em discussão este parecer faliam sobre elle
vários srs. membros.
O sr. dr. Feital quereria que se aproveitasse esta occasiâo para fazer sentir ao governo a falta da physicatura-mór sem haver
outro magistrado que cabal e eííicazmentc
a substitua: quereria também que se louvasse o empregado público que despertou
a vigilância c cuidado do governo a respeito de um objecto tão importante.
O sr. dr. Rego responde que estas idéas
já se acham comprehendidas no parecer,
ainda que não o sejam nominalmente.
O sr. Corrêa dos Santos acha que o parecer é bom porque responde á pergunta do
governo; mas não acha tal a respeito do
modo porque responde. Elle é de opinião
que não sendo o governo illustrado nesta
matéria, deveria-se responder mais circumstanciadamente para o habilitar a dar
providencias bem acertadas. Elle o admitte em todas as suas partes, menos em um
varinha de condão, e eil-o logo curado: Transii et
ecce non eratl Está claro, que embora se lhe liouvesse restituido a vista, com tudo olharia d'ahi avante
com muito máos olhos a todos os cirurgiões alio-
eram assignados por S. Pedro, por mais apostólica e
pontificai que fosse a sua doutrina. Que blasphemia !
A par do instituto homceopathico foco de todas as
luzes sobresahe a academia medico-homoeopathica.
composta de espíritos eserupulosos e de corações timoratos, que tendo ido em demanda de diplomas belgas e allcmães, conseguiram emfim tranquillisar a
consciência a cerca d'ésta base de pergaminho. Mas
também estes a seu turno erraram o caminho, marchando nas trevas e vacillando a cada passo. Um publíca como remédio homceopathico uma descoberta de
sua avó para a cura da pharingo-laryngile, e do sarampão: e que descoberta senhores! vós não serieis capazes de a adevinhar!... É um molho picante de pimenta e limão. Por seu lado lambem o apóstolo missionario da Bahia, cujas graves oecupações n'aquella
cidade lhe deixavam sempre livre algum tempo para
que elle se oecupasse do que se passava no Rio de Ja-
palhas.
Tudo isto é magnifico; mas toda a medalha tem seu
reverso, lambem a herva venenosa cresce nos mesmos
campos onde nasce o puro trigo. Ao lado do verdadeiro culto se eleva o scisma. Espíritos indecisos, corações frouxos, concertaram entre si uma espécie de
compromisso, ou antes separação da verdadeira fé dos
falsos deoses; pretenderam manchar os brancos vestidos da homccopalhia, com sangrias, sanguexugas, vesicatorios, xaropes de gomma. Que heresia! Outros
foram mais longe ; escrupulisaram da falta de um pergaminho; e entenderam que, a menos que se não
desse um acto legislativo, os diplomas concedidos pela
universidade, tinham mais valor do que aquelles que
234
ANNAES
susciponto da redacção pelo qual parece
tar-se idéas de suspeitas relativamente ao
emprego do arsênico para outros fins que
não sejam o seu emprego nas artes, poressas susque não ha motivo algum para
a commispeitas. Desejaria por tanto que
são o modificasse n'esse ponto de maneira
a entendel-o n'essc
que não houvesse lugar
sentido de suspeição.
O sr. dr. Feilal diz que as idéas por elle
expendidas, são expressas, em quanto que
as do parecer são oceultas c subentendidas. Quereria por tanto que mais explicitamente se fizesse sentir no parecer a falta
de uma autoridade competente.
O sr. Corrêa dos Santos concorda também
na idéa de se fazer sentir a falta da autoridade, e deseja que se íiscalise a saude
pública.
O sr. dr. Rego insiste em que tudo o que
se diz c deseja, acha-se expresso, ou comcom
prehendido no parecer apresentado
termos decentes sem ofTcnder ou comprometter alguém.
O sr. di\ Lobo julga que o parecer deve
ser approvado tal qual se acha, por elle
ser próprio para o caso especial, mas pede
ao sr. presidente que dò aviamento a um
projecto de lei de saude pública por elle
apresentado, e que ficou addiado»
É approvado o parecer com a emenda
do sr» Corrêa dos Santos relativo a modinciro, rcmette lambem a este respeito para o Jornal
do Commercio alguns artigos facetos ainda mais picantes que o próprio molho de que acima fallei. Estes
artigos terminavam por uma acre rcprehemão aquelle
scismatico que pretendia curar as febres inlermiltentes com sulphato, como os phariseos, esqueceu !o-se
assim do seguinte e edificante juramento a que se havia
compromelüdo: — Com a mão na consciência e os
olhos em Deos eu abjuro a medicina c adopto a ho-*
moeopalhia.
No entanto os scismaticos escandalisados das intrigas e falsidades, mais ou menos piedosas de S. Pedro, chegaram até a duvidar de seu titulo scientifico;
c declararam que Mr. Mure, commerciante de fazendas
de seda em Lyão havia adquirido por meios illicitos
um pergaminho em Montpeliier, onde nem elle havia
estudado, nem podia citar condiscipulo algum que com
elle houvesse estudado medicina. S. Pedro, que faz Iam-
¦rw è wkmàimmmim
ficar-se a redacção de maneira que se afãste toda a suspeita de que a porção do arsenico existente no mercado seja para fins
alheios ás artes industriaes modificação
de boa
que a commissão declara acceitar
vontade.
Tendo chegado a hora fica addiada a discussão sobre o chloroformio.
SESSÃO GERAL EM 3 OE AGOSTO DE 1848.
Vice-presidência do sr. di\ Sigaud.
EXPEDIENTE.— 1/ Aviso de S. CX/ O Sl\
ministro dos negócios do império remettendo vários papeis relativos á pretenção
de Luiz Arernet que pede um privilegio exclusivo para a venda de uma agoa de sua
composição com a propriedade de preservar os couros da polilha etc, e consultai)-*
do a Academia sobre a identidade de um
liquido apresentado por Manoel Joaquim
dos Passos com propriedades iguacs, segtmdo este allega, comparativamente com
o do dito Luiz Vernet.
O secretario geral informa que a Academia já dco uma informação ao governo sobre a agoa preservativa de Vcrnet, depois
de ouvido o parecer de uma commissão
sua, de que foi relator o sr. di\ Jobim, ao
couh
qual debaixo de segredo o sr. Vcrnet
bem negocio com os diplomas universitários de seus discipulos, replica dizendo: que elle estimava em grande
mais que ncm-um,
preço o seu; que a seus olhos valia
e que Montpeliier nao era mercado de diplomas. (Poder-se-lhe-ia dizer que em toda a porte se introduzem trapaceiros e falsificadores que enganam a vigilancia da policia e das leis: tal foi um fado que o dr.
Bouyer (de Maremur) noticiou na Gaute Médkale
em 1840, relativo a um charlatão ambulante, que não
só havia ali comprado um diploma, mais ainda um titulo de uma sociedade sabia). Mr. Mure disse então,
diploma,
que se elle houvesse querido comprar um
o teria achado na llalia e na Allemanha, universidades
ao conperfeitamente dispostas paro este negocio; que
trário julgou melhor tomar em França (mas vendendo
sempre fitas e lenços de seda) um certo número de
inscripções para obter o titulo de doutor; finalmente
mais
que a seus olhos este titulo allopathieo não era
¦.:¦¦*¦ ¦¦' .¦'.¦¦_¦¦ ;yyy
¦
235
DE MEDICINA BIIASILIENSE.
municou a composição da sua agoa e por
conseqüência julga que convém que este
negocio seja novamente remettido á mesma commissao, como a única que pode decidir da identidade ou differença dos dous
líquidos e dos processos respectivamente
empregados por seus autores, e propõe
que assim se resolva.
lista proposição é approvada.
2.° Aviso de s. ex.no sr. ministro dosnegocios do império participando que, consliado por oflicio do presidente da provincia do Pará de 2 de junho último haver
importado em 96 $000 réis a despeza ali
feita com a remessa de uma porção de casca de assacú, e de algumas preparações da
mesma planta, sollicitada pela Academia:
Ha S. M. I, por bem que a Academia entre
com a referida quantia para o thesouro
nacional.
O sr vice-presidente informa a Academia
que havendo constado que as porções de
assacú não eram suOicientes para se averiguar as propriedades d^ste, como muito
eflicazes contra a morphéa, por deliberação da Academia fez saber ao governo que
a quantidade de assacú enviada para o dito fim, havendo sido insufliciente para com
ella só se fazerem as necessárias expericncias e observações práticas, conviria que
o governo mandasse vir do Pará maior
porção da dita planta, mas que nem elle
nem a Academia encommendaram a quantidade d'ésta que veio, nem as differentes
preparações que de sua escolha remetteu,
quem pelo presidente do Pará ficou incumbido de fazer a remessa por ordem dò
governo da corte. E sendo assim julga que
nem é justo que a Academia pague o im-,
porte de quantidades não encommendadás
e nem muito menos de objectos que ella
sollicitou do governo, não para seu uso particular, mas para o fim de poder satisfazer
a uma consulta d'este e para um objecto
de utilidade e serviço público; e muito
mais por não ter eíla fundos consignados
para estas despezas, mal chegando a coásignação annual que tem para as despezas
ordinárias.
Resolve-se que se responda ao governo
n'este sentido.
Passa-se a tratar das questões para a
sessão solemne annual.
O sr. presidente propõe quatro questões
das quaes são approvadas as três seguintes.
i.a Quaes são as espécies de asthma que
se observam no Brasil? qual o methodo
mais eílicaz de as curar?
2.1 Descrever as causas, sede, marcha
e terminações da moléstia conhecida pelo
nome vulgar de hr ou estupor em Minas e
outras províncias do Brasil. Determinar o
melhor dos vários curativos postos por
prática.
quo um pretexto para poder exercer sua sciencia, que
esta milhão de vezes acima da outra sciencia; que em
geral os diplomas são pclles de burro que dão a medida de capacidade a seus possuidores. Originou-se
daqui uma série de artigos galantes entre o Instituto
ca Academia. A Academia disse ao Instituto :— vós
sois um falsário, um intrigante. 0 Instituto lhe respondeu ;—vós sois ignorante e perjura. Mas, de um
í outro lado, c sempre pelo Jornal do Commercio, o nome de Uanhemann não deixava de ser invecado,
O S, Pedro do calholicismo só se encarregou do
serviço dos mortos depois que deixou de existir: mas
qS. Pedro do Ilanhcmannismo quiz accumular n'esta
vida o cuidado dos mortos c dos vivos. Concebeo,
meditou, elaborou, e publicou um plano de cemitério
enterraque fazia uma perfeila revolução na arte dos
mentos c que seria uma obra grandiosa; onde cada
um teria seu lugar, com a única condição de para ali
levar sua pedra, e d« modo que cada pedra fosse um
túmulo. A família soberana descançaria no santuário,
rodeada de seu povo, por maneira que as illustrações
oecupariam as capellas, e o vulgacho os restantes lugares inferiores do edifício. Ainda mais, todos estes
mortos seriam embalsamados por um processo de Mr.
Mure, que, segundo a vontade dos consumidores, tornaria, no curto espaço de 5 minutos e por toda a éternidade um cadáver macio como uma luva, ou então
petreficado.
Por esta oceasião Mr. Mure nos declarou que havia
estudado, corrigido e aperfeiçoado consideravelmente
o methodo de embalsamenlo por injecção; e íbi-nos
-sempre dizendo
que se lhe não conferissem o prêmio
da descoberta, concedessem-lhe ao menos o mérito d«
lhe descobrir o autor tirando-o da miséria c do esquecimento em que elle e s,eu processo víviriam se-
3
ANNAES
236
*
3.a Tratar do contagio da ophtalmia purulenta vinda d'Affrica, dos meios de im*
pedir e debellar esta moléstia.
Resolve-se que se torne a propor a quêstão do anno passado relativa ao código
pharmaceutico.
O sr. thesoureiro pede a Academia que
haja de decidir relativamente á approvacão das suas contas discutindo os pareceres de commissão acldiados, a este respeito, e que se nomeie uma commissão nova
último
para examinar as suas contas do
anno financeiro.
Este requerimento é approvado, e são
lidos e approvados os três pareceres addiados, o 1.° relativamente ás contas do
ánno financeiro de 1843 a 18M. O 2.° relativamente ás contas dos annos financeiros de 1844 a 1845 e de 1845 a 1846. O
3.° relativamente ás contas do anno íinanceiro de 1846 a 1847, todos approvando
as respectivas contas e propondo que se
dè quitação ao thesoureiro.
São nomeados membros da commissão
para as contas do anno financeiro de 1847
a 1848, os srs. Corrêa dos Santos, Rego e
Nunes Garcia.
DISCUSSÃO SOBRE MOLÉSTIAS REINANTES.
O sr. dr. Rego diz que mais ou menos
reinam as mesmas moléstias que assignalou
na última oceasião em que se faltou das
pultados por toda a vida. Haveis já ouvido fallar d'este
facto, meus caros eollegas da França e da Itália? Qual
de vós vio esta colossal celebridade chamada Mure,
toda afadigada por fazer sobresahir o mérito esquecido, e o talento incapaz de se tornar saliente? Qual de
vós vio o processo de Tranchina (porque é (Telle que
se trata) trazido á publicidade pela poderosa protecção de Mr. Mure, então commcrciante de sedas era
Lyão? São estas e outras iguaes fanfarronadas que
adquirem vulto e íloresccm no hospitaleiro e fecundo
solo do Brasil.
Em Porto Alegre também existem dous servos do
culto homceopathico, sem fallar nas aves de arribação.
São dous convertidos que hão reproduzido ali todos
os milagres do pontífice do Rio de Janeiro. D'estes
limilar-me-hei a dizer que em quanto um cura as
manchas da cornea, as firulas do ânus, e as luxações
do humerus pelas doses infenilesimaes internamente,
moléstias reinantes. Que as variolas são
agora mais freqüentes sobre tudo nos africanos, e epie apparecem ainda alguns casos
de sarampãos; e que elle tratou actualmente de 12 enfermos d'esta moléstia, em
alguns dos quaes houve complicação de
pneumonia. Em um cVestes foi ella bastante grave c teve com tudo uma terminação
muito feliz. Este indivíduo fora accommcttido em julho de uma erisipelaclephanliaca, depois da qual, por oceasião dos sarampãosfoiaccomniettidode uma bronchite capillar, c d'ahi a dias por uma proctorrliagia muito forte chegando a perder mais
de quatro libras de sangue. Cessada a hemorrhagia foi elle accommettido de uma
dòr de um lado com ancias, batimentos
fortes do coração, e com todos os signaes
de uma pneumonia com aíTecção do pericardio. Fez elle uma sangria, e administrou
agoa de louro cereja internamente, com o
que depois de um pequeno alivio exasperaram-se no dia seguinte todos os symptomas, pelo que fez mais duas sangrias que
apresentaram a crosta pleuritica em augmento. A noite foi calma depois da segunda sangria, mas no dia seguinte reproduziram-se os symptomas com aspecto mais
grave. Então recorreu ao sulphato de quinina que administrou internamente na dose
de dous escropulos em quatro papeis, e
externamente em fricções e clysteres. Apo outro vai dando um glóbulo dynamisado de acácia
aos afogados para os fazer voltar á vida. Lembrai-vos
bem que é a acácia, para a não esquecerdes quando
vos achardes em frente de algum afogado ; dizei tambem a Mr. Charrière que substitua as suas caixas de
socorro por um millionessimo de grão d'este especifico
Pareceria á primeira vista que para se tratar a um
afogado pelo systema dos similhantes consistiria simo indivíduo
plesmente em lançar-se de novo a água
afogado, mas não, abi está a acácia, que segundo a
doutrina da nova seita deve ser unia substancia afogadora.
0 Brasil, paiz fértil de plantas medicinaes, ha fornecido ao pontífice, material com que se enriqueça o
arsenal therapeutico do Messias. Ignoro se a acácia ê
uma destas acquisições novas; mas o que eu sei e
tubercuque elle se orgulha de haver curado a lepra
. losa, applicando aos seus doentes um pequeno vidro
DE MEDICINA BRASILIENSE.
pareceram alguns signaes de intoxicação
própria do sulphato de quinina, mas a
pneumonia não ccdeo, nem a protorrhagia. Fez quarta sangria e administrou o
tartaro estibiado que produzio vômitos, e
obrigou a suspendel-o. Receando repetir a
sangria, pelo estado do doente, recorreo
ao acetato de ammonia como hypostenisante do systema sangüíneo. O enfermo em
dous dias tomou 12 escropulos d'este medicamento, e com admiração sua diminuiram os symptomas de sua intensidade e
reappareceo a respiração crepitante, aonde só existia a respiração tubaria. Depois
como a*melhora não progredisse mais lançou mão do kermes mineral que completou a cura. Elle julga interessante a eflicacia do acetato de ammonia em casos similhantes, podendo-se com ella domar e reduzir pneumonias rebeldes ao ponto em
que possam com vantagem ser atacados
com o kermes, o qual sem a acção previamente exercida pelo acetato de animonia talvez não fosse tão bem succedido, e
talvez não fosse tolerado. Declara também
ter observado vários casos de coqueluche,
e alguns de angina tonsillar; e que lhe
consta haverem apparecido alguns casos
de escarlatina; mas que elle não vio caso
algum destes.
O sr. dr. Feital diz que na sessão antecedente fora contestado quando dissera reide veneno de cobra cascavel, convenientemente cusinhado e preparado na officina do pontífice. Este digno
S. Pedro tem levado sua dedicação e abnegação á
ponto de se envenenar, não sei quantas vezes, com
este temível mas benéfico veneno; e como é provável
que elle lhe occasionasse uma pequena miniatura de
lepra, está visto que só assim chegara elle a obter ésla
descoberta. 0 apóstolo modelo, não tem talvez bastantes dias no anno, que digo eu! bastantes horas no dia
que lhe cheguem para os innumeraveis infinitamente
pequenos envenenamentos que deseja praticar em si
mesmo. Na verdade é uma triste occupação esta: suicidar-se de contínuo para resuscitar sem cessar; ma3
que quereis vós ? o apostolado e o pontificado só se
adquirem por este preço.
Não concluiria, meus caros collegas, se vos quizesse
contar, uma por uma, todas as galanterias de que se
torna digno este assumpto. Apenas vos tenho relatado
237
narem hepato-pneumonias intermittentes
em que o sulphato de quinina era o remedio mais convinhavel: que até então elle
tinha cinco casos destes, mas que agora
tem de ajuntar a elles mais dous outros,
e aproveitar ainda mais a clinica do sr.
dr. Almeida Rego o qual em o mez de julho teve de observar 21 casos de pneumonia dos quaes seis ou sete com hepatite, e
muitos com accessos intermittentes: que o
sr. dr. Pereira Rego, como se deprehende
do que acabou de dizer, teve casos de hepato-pneumonias ou simpleces pneumonias
com febre intermittente. Está pois, elle
orador, fortíssimo na sua opinião de que
tem reinado, e em número extraordinário,
hepato-pneumonias, ou pneumonias intermittentes. Quanto á febres d'esta espécie
nota que sap ellas endêmicas no paiz, e
muito mais freqüentes de maio a setembro
Diz ter também visto algumas diarrhéas e
desenterias, e d'éstas últimas cita um caso
em que o enfermo falleceo em dous dias,
tendo tido cerca de 80 evacuações diárias.
Declarou que as anginas que presenciou
tem sido sem erupção; e que as variolas,
varioloides e varicellas apresentando-se no
mesmo caso lhe tem feito crer que estas
moléstias são devidas ao mesmo virus, e
que ellas podem dar lugar uma a outra.
Refere que no largo do Rocio uma criança
o que vi e soube por acaso: se estivesse perfeitamente
ao corrente de todas as publicações dos fieis, de 4
annos a esta parte, eu poderia, sem dúvida, formar
uma collecção de novidades ainda mais divertidas do
que as que acabo de mencionar ; mas cumpre abrir
mão da penna no momento.
Deixo a homceopathia, mas não os charlatães; e
contar-vos-hei uma anedocta que interessa a glória
franceza, e que só'por isso vos deve interessar. Deveis
ter presente na memória aquellas famosas proclamações do general Bonaparte, mais tarde imperador Napoleão, com que elle costumava electrizar os corações
e os conduzia á victoria. Pois achareis bastante similhança entre as proclamaçoes imperiaes e a que se segue, ainda que em todo o seu conteúdo se não encontre o menor traço de águia.
« Estimaveis brasileiros! generaes Rio-Grandensesí
o celebre doutor.... aquelle mesmo que em tal anno
residio no Rio Grande; emlal outro em Porto Alegre;
238
ANNAES
catavaricellas
(vulgarmente
recebeu
que
variollosa, passando
poràs) de uma preta
a convalescer em outra casa transmittio
ali a variolla a outra pessoa: que o mesmo
tem elle presenciado no hospital de Marinha, onde os vaccinados são acommcllidos
de varicella quando ha variolla no cstabelccimento, parecendo ser esta a productora da outra. Por ora é isto o que diz sobre as moléstias reinantes. Porém aprovcitando a palavra que tem, com munica á Academia que desde muito tempo
elle tem emprehendido uma reforma therapeutica relativa ao modo de empregar
e
as substancias medicamentosas vegetacs,
lia
elle communicou este seu pensamento
mais de dous annos ao sr. Corrêa dos Santos, cuja moralidade é proverbial, e que
ou#ão que lhe
pôde attestar se foi elle
impediu de publical-a, ou escrever a este
respeito, mas que hoje não pôde reter-sc
e nao guardará por outros dous annos o
a dizer. Esta
que pode outro vir também
reforma consiste em se empregarem os
em
princípios activos dos medicamentos
soluções apropriadas, administrando-se liiicturas ethereas ou alcoólicas das mesmas
substancias em soluções de óleos essenciaes, ou lascas de assucar embebidas n'éstas üneturas e soluções, em lugar de administrar os remédios em cosimentos, tizanas e infusões. Assim fazendo poderíamos
em tal outro em S. Francisco, etc. etc. se acha de
novo na vossa bella província com a firme resolução
de viver e morrer entre vós. Generaes Rio-Grandenses,
lembrai-vos que este mesmo doutor cortou tantos braços em Caçapava, tantas pernas em S. Gabriel, que
extirpou tantas maxillas em Alegrete, tantos testiculos em Rio Pardo, e tantas glândulas mamarias em
Bagé, etc. etc. Pois bem! se perguntardes quantos
mortos se deram neste collossal número de operaõões,
os que estiverem informados, vos responderão —nemum. Lembrai-vos ainda que este mesmo medico lia
restituido o calibre natural a tantas centenas de uréIras que mal funecionavam; e sobre tudo um só não
ha rec&hido d'este mal. Eis-me agora de novo; vinde,
aproximai-vos, que em menos de sete dias eu farei
urinar grosso como um cabo áquelles que urinarem
delgado como um cabello -curarei vossas fistulas de
tfnnus, sem empregar instrumento cortante; applicarei
a homoeopathia áquelles que a quizerem, assim como
não acceilarei dinheiro quando os doentes morrerem;
emfim tratarei especialmente todas as moléstias.»
Assim faltava, á sua volta, não da ilha d'Elba, mas
de França, onde os tribunaes o tinham maltratado por'
nos convencer da utilidade dos remédios
de quaes de seus componentes dependiam
suas virtudes; c empregando-os isoladamente convencer-nos-hiamos da conveniencia de os juntar dous a dous, tres a
três, ou mais, ou de os darmos únicamente a sós. Estas üneturas soluções de
óleos on princípios activos se poderiam
ajuntar á agoa simples, ou edulcorada ou a
cascas de assucar de que se evaporasse
o álcool ou ether, e d'ésta sorte poderse-hia fazer uma grande concentração de
princípios medicamentosos impregnando-as
muitas vezes c evaporando-se depois, continuando assim a operação. Para õs mineraes poderíamos dissolver em ácidos e outros vehiculos próprios, dissoluções concentradas, lançando a quantidade necessaria em agoa simples, banhos, ou agoa adocada com xaropes ácidos ou gommosos.
Eis o que elle tem pensado ha mais de
anno, e não o tem apresentado por causa
do sr. Corroa dos Santos o ter reprimido,
e haver-lhe lembrado a homoeopathia. Mas
hoje, muito tempo se ha passado, e julga
não dever esperar mais. Talvez achem
actualmcntc a idéa extravagante, talvez vá
ser combatida; mas o futuro dirá talvez
bem, e quem sabe se ainda a sciencia o
applaudirá?—Inda agora elle ouve alguém
dizer que isto é hommopathia !... Homceopathiaü Homoeopathia é simiüa simitibus.
causa de certas difiiculdades estranhas á arte de curar
este grande Ferrabraz homoeopathico-allopatha, que
vollnndo de ferro em punho ao theatro de suas primeiras emprezas está prestes a cortar tudo quanto se lhe
coniiar. Mas d'ésta vez a oceasião não se lhe deparou
tão feliz: quem poderá acreditar que depois de um piode uma
gramnia tão pomposo e tão magnífico, depois
entrada cm scena tão aterradora, G mezes depois se
visse o nosso Ferrabraz obrigado a fabricar e vender em
antigarrafas e meias garrafas, um xarope depurativo
svphilitico, antí-rheumatico, e anli-cscorbutico ?
Deos em sua alta sabedoria apraz-lhe humilhar os soberbos
Dispersit superbis mente cordis sui
Um dia virá, quer seja quando o commercio comece
de render pouco ou nada—quer seja quando o referido
depurativo tenha depurado tudo o que houver de imde
puro na provincia do Rio Grande do Sul a ponto
não existir sombra alguma de syphilis, de rheumatismo ou escorbuto, quer seja finalmente quando, levado
si a
por vistas philantropicas a dólar a humanidade da
239
DE MEDICINA BRASILIENSE.
£***!
Sem similia não ha homoeopathia. Doses
de princípios activos, soluções concentradas não são tenuissimas; são grandes quantidacles, e não exiguidades; são grandes
agentes e não nihilidades. Esta é a verdade.
O sr. dr. Rego diz que nas sessões anteriores dissera haver visto muitas moléstias
com typo intermittente, mas não pneumonias intermittentes; e que agora não reconhece como uma intermittente o caso que
citou e referio; porque, apezar de que apparecesse ao principio uma espécie de
accessos, vio-se depois a insufliciencia do
sulphato de quinina para os domar, e que
a moléstia cedeo a outros remédios, taes
como o acetato de ammonia, e o kermes.
Quanto ao methodo de administrar os remédios, indicado como novo, e de sua invenção, pelo sr. dr. Feital; ao passo que
o não julga tal, repelle a sua admissão
absoluta e geral na therapeutica por quanto não é sempre o mais próprio, nem o
mais perfeito, e conveniente. O uso das
soluções fortes e das tíncturas alcoólicas
pôde ser mui prejudicial quando se trate
de remédios que o álcool ou ether não
nem
possa dissolver grande quantidade,
iodos os princípios mais activos: no primeiro caso para dar-se a quantidade sufíiciente do principio medicamentoso é necessario administrar grande quantidade de
álcool ou de ether que pôde ser prejudiciai, e até fatal ao doente ; e no segundo
receita depurativa para ter o prazer de gozar em sua
vida do espectaculo de depuração contínua e progressiva d'ésla provincia brasileira, dia virá, digo, em que
o nosso grande depurador será levado a publicar sua
formula em qualquer jornal d'esse lugar, a fim de que
todos a conheçam, c que ninguém a ignore; declarando
ainda em cima que desde o momento em que seu sesó apagará
gredo se tornar conhecido do público, não
suas fornalhas e inulilisará suas cassar.olas, como Iambem quebrará seus alambiques, visto que d'então
á vaníe não mais fabricará uma só gotta, que seja, do
seu ex-depurativo, anti-syphiliüco, anti-rheumatico,
e anti-escorbutico.
A esta hora o heróe da proclamação vegeta obscuramente no meio de mesquinhos cuidados de uma
clientella vulgar, meditando e fazendo sempre erupções
no domínio de seus visinhos, manejando indifferentemente, e com igual habilidade tanto as diluições homoeopathicas, como o Leroy e o famoso xarope dos
bosques; assim como de tempos a tempos toma a phtisicos no último periodo do último gráo, por gastro-
em lugar de administrar-se o remédio que
se quer, administra-se somente uma pequeua quantidade d'elle, e ás vezes uma só
parte d'elle, ou de seus princípios e a menos própria para combater o mal; e quanto ás dissoluções em ácidos lembradas pelo
sr. dr- Feital julga excusaclo dizer que estas
podem alterar, e de ordinário alteram, a
natureza do remédio mineral dando origem a compostos chimicos que tem umas
propriedades medicamentosas muito differentes das que possuía o remédio dissolvido; vindo-se então a administrar um remedio mui differente d'aquelle que se quereria.
O sr. dr. Feital diz que não entende que
se faça applicação do seu methodo absolutamente em todos os casos; mas no grande número d1 elles em que é applicavel e
pôde ser conveniente: e que elle principalmente quereria que se obtivessem por elle
os princípios activos especiaes de cada remédio para serem ensaiados, e conhecerse pela sua administração a acção especial
de cada um a fim de serem empregados
convenientemente.
O sr. dr. Sigaud diz que no mez passado
observou um caso de peri-pneumonia com
caracter intermittente, em um moço, que
acabou por um abscesso critico do lado direito que foi aberto pelo sr. dr. Costa; e
n'este caso, que teve o melhor êxito, é rasoavel suppor que os accessos intermittentes eram devidos ao processo supurativo.
enterites; e apoplexias fulminantes por hérnias estranguiadas.
Podeis agora vèr, meus caros collegas, que, de charlataes e charlatanismo, nada tem o Brasil que invejar
aos paizes mais avançados que elle em civilisação; podereis talvez capacitar-vos que, no que vos hei eontado nesta carta, existe alguma cousa de mais e de
menos do que aquillo que possuis n'este gênero na
vossa França e sua capital, tão ricas de Macaires, mas
ainda mais fecunda de Gogós.
Perdoai-me o estylo tão pouco sério d'esta carta,
fui inspirado pelo assumpto, e abandodei-me á inspiraem linguagem
ção. E, por ventura poderia fallar-vos
—
de todos estes
séria de todos estes charlatanismos
esforços tão desatendidos, de todos estes visos de imadubados e fingidos?
pudencia ousada, tão bizarramente
X. P.
ANNAES
240
d>
Porém que em alguns casos de pneumonias
alias bem caracterisadas, es vezes apparccem accessos intermittentes os quaes nao
cedem senão ao uso dos remédios quinados; e estes são aquelles em que a aíTecção pneumonica está subordinada á febre
intermittente genuína, da qual ella não é
senão um plicnomeno mais ou menos singalar e anômalo; e d'estes casos alguns
lhe tem oceorrido em varias épocas, e elles
não só se observam freqüentemente íveste
paiz, mas em todos aquelles onde reinam
febres intermittentes. Quanto ao uso de remédio em tineturas parece-lhe que seria
um arremedo da caixa homceopathica, Reflecte que ha certos remédios que preparados em tineturas não possuem as mêsmas qualidades medicinaes taes como a digitalis, e outros que, como o colchico, em
tineturas mostram-se mais activos. Em aiguns casos deve-se certamente dar preferencia a estas formulas mas não em todos,
nem a respeito de todos os remédios. Além
d'isto a diffieuldade de se achar no commercio e nas boticas esses princípios aetivos, c essas tineturas sem que ellas sejam
adulteradas, é um grande inconveniente
que obsta á generalisação d'este methodo
de applicação therapeutica, o qual já na
medicina tem sido e é convenientemente
aproveitado nos casos em que a racionalidade d'elíc mais ou menos o aconselha.
O sr. dr. Freire diz que o methodo aconselhado pelo sr. dr. Feital cheira sem dúvida a uma homocopatliia reformada. Certamente todas as vezes que se poder dar
em pequenas quantidades remédios muito
activos, é isso útil: mas não devemos rejeitar as vantagens que resultam das combinações dos remédios, dos quaes sabe um
terceiro medicamento que tem uma acção
diflerente e ás vezes especial.
Tendo chegado a hora levanta-se a sessão do que se lavrou a presente acta.
SESSÃO
GERAL EM 21 DE AGOSTO DE 18A8.
Preúdencia do Sr. Dr. Jobim,
Não ha expediente.
Pareceres.— O sr. Corrêa dos Santos lè o
parecer da commissão de contas encarregada de examinar as do thesoureiro relaUvas ao anno financeiro de 18.^7 a 18/tS
approvando as ditas contas: não havendo
observações é posto a votos c approvado.
A commissão encarregada de dar o seu
dos
parecer sobre o liquido preservativo
couros etc, apresentado pelo sr. Manoel
Joaquim dos Passos, comparativamente
com o de Luiz Yernet ouír'ora por ella
examinado, apresenta e lè o dito parecer
no qual informa (pie o liquido apresentado
pelo dito Passos difere do de Yernet pela
falta que a commissão achou aelíe de um
principio adstringente que continha o liquido de Yernet, e que não só conserva os
couros da polilha como de mais a mais os
conserva melhor. Este parecer é approvado,
O sr. dr. Feital lè uma observação sua
o cerca de dous casos de prática obstetrica, nos quaes tendo havido hemorrhagia,
o centeio espigado foi de grande proveito.
O sr. dr. Costa relata um caso de talha
bilateral em um menino de seis annos praticada para a extracção de um calculo que
pesava /t oitavas, e apresenta o dito calculo á Academia. A cura foi completa em
18 dias.
SESSÃO GERAL DE 7 DE DEZEMBRO DE 1848.
Presidência do Sr. Dr. Jobim,
Expediente.— 1.° Aviso de s. ex/ o sr.
ministro dos negócios do império, cm data
de 22 de novembro p. p., participando haver-se agora declarado ao ministério da fazenda que a quantia de 96 $ réis, em que
importou o extracto e leite de assacú que
por ordem do governo veio da provincia
do Pará deve ser levada á rubrica das
eventuaes de ministério do império, íicando por tanto exonerada a Academia do pagamento d;aquella quantia que fora ordenado pelo aviso de 18 de julho último.
Fica a Academia inteirada.
2.° Aviso de s. cx.a o sr. ministro dos
negócios do império em data de 14 de se-
DE MEDICINA RBAS1LIENSE.
tembro p. p., accusando o recebimento do
oííicio de 22 do mez antecedente com as
contas documentadas da receita e despeza
da Academia no exercício de 1847 a 1848;
e declarando que se expede aviso ao thesouro público para que se entregue ao thesoureiro da Academia em duas prestações,
uma já e outra no principio do segundo semestre do corrente anno financeiro a quantia de 2:0002S réis para occorrcr ás despespezas da mesma Academia. Fica a Academia inteirada.
3.° Aviso de s. ex.a o sr. ministro dos
negócios do império cm data de 26 de outubro d'este anno remcttendo um rcque"Wildt,
rimcnto de Francisco José
subdito
allemão, que propõe vender e declarar,
mediante um prêmio rasoavel, um segredo
seu relativo a uma planta indígena por elle
descoberta como remédio eílicaz contra a
mordedura das cobras, aranhas, e outros
animaes venenosos; a fim de que a Academia ouvindo ao supplicante e procedendo
aos exames c experiências que julgar necessarias haja de informar com o que se
lhe oífereccr sobre esta prctenção. É remettido ao sr. dr. Paula Cândido para
apresentar um parecer na forma do aviso.
4.° Oííicio do provedor da Santa Casa da
Misericórdia d'ésta corte pedindo que a
Academia haja de designar os nomes que
devem ser preferidos a respeito da collocação dos bustos dos dous médicos, e dons
cirurgiões mais distinetos por seus serviços
feitos á sciencia e á humanidade, devendo
pelo menos um dos médicos, e um dos eirurgiões ter nascido no Brasil, collocação
que a administração da Santa Casa pretende fazer na sala das conferência médicas c
cirúrgicas do novo hospital da Santa Casa.
E remettido a uma commissão composta
dos srs. clrs. Costa, Valladão e Maia, com
a recommendação de informar ao sr. presidente com antecedência ao dia da sessão
quando o parecer estiver prompto a fim
de ser dado para ordem do dia.
5.° Carta em francez do secretario presidente da Academia Real das Sciencias de
Berlim accusando a recepção da remessa
\
241
que se fez aquella illustre Academia, dos
estatutos, reformas e jornaes d'ésta Imperial Academia, e agradecendo-a em nome
d'aquella corporação.
6.° Carta em allemão, do mesmo secretario da dita Academia Real, remettendo
para a bibliotheca d'ésta Imperial Academia os estatutos d^aquella, e vários numeros de seu jornal. É tudo recebido com
muito agrado.
7.° Carta do sr. dr. Pedro Luiz Napoleão
Chernoviz dando a sua demissão do lugar
de membro titular da Academia. Fica a
Academia inteirada.
Passa-se a tratar das questões propostas
na ordem do dia; e abre-se a discussão sobre as agoas mineraes do Brasil.
O sr. presidente diz ter proposto esta
questão á Academia em rasão de uma notícia publicada pelo Jornal do Commercio
sobre umas agoas mineraes da província
do Rio Grande no lugar de Santa Maria da
Boccado Monte, denominadas vulgarmente
—Agoas Santas—artigo que o diio
jornal
copiava do diário do Rio Grande aonde
originariamente se achava inserido no n.°
23, que elle tem á vista e que apresenta á
Academia. Elle julga útil que a Academia
se oecupe com estas agoas e outras quaesquer do Brasil aonde ha muitas, mas que
infelizmente ainda são inteiramente desçonhecidas, ou que o são mui pouco em rasão
de que as analyses feitas a respeito d'ellas
tem sido incompletas, ou pela maior parte
feitas por pessoas pouco habilitadas a isso,
e sobre cujas conclusões ainda podem subsistir dúvidas. Elle deseja isso não só pelas
vantagens therapeuticas que d'essas e outrás quaesquer agoas mineraes do nosso
paiz possam resultar á sciencia e a humanidade, senão também pelas que d'ellas
podem resultar ao incremento, e civilisação do paiz como meio efíiicaz que ellas
são de se derramar e espalhar a população
em lugares incultos, promovendo nos lugares de suas fontes o estabelecimento de
povoações, que depois se convertem em
aldèas, villas e até cidades; como elle teve
oceasião de observar a respeito das agoas
21x2
ANNAES
aonde últldas caldas de Santa Catharina
achar uma poinamente ficou admirado de
mesmo lugar
voação mui considerável no
antes achara quasi descrannos
alguns
que
a fama dessas
10, pela concurrencia que
serem cilas
agoas promoveu, apezar de
de princípios mincraes
saturadas
pouco
e medicamentosos, e quasi simplesmente
thermaes.
consio sr. dr. Valladão dando a devida
agoas
de
quaesquer
á
importância
deracão
ás do nosso
mineraes, c principalmente
mais úteis, concorser
nos
podem
paiz que
com ellas:
da muito cm que nos oecupemos
ou nada podepouco
reflecte
que
porém
disna
respeito
presente
este
a
dizer
mos
das
cussão a respeito (V ellas e sohrctudo
Grande;
ultimamente descobertas no Rio
outros conhecimenporque não possuímos
os que
tos c factos relativos a cilas senão
nos vem relatados pelos jornaes públicos.
o coO que convém pois ó promovermos
iihecimento perfeito d'essas agoas [pelo
exame seientifico (Vcllas. E para isto bom
será que a Academia lembre c recommende ao governo que haja de mandar vir
uma porção d'ellas para serem examinadas
e chimicamente analysadas.
O sr. Corrêa dos Santos reconhece a imdos exames c
e
ohjecto,
cVeste
portancia
anaiyses indicadas; mas por isso mesmo
deseja que se empreguem meios bem adecustosos,
quados, ainda que um pouco mais
pois as anaiyses das agoas mineraes, principalmentc as das gazosas, sendo feitas fora
do lugar da sua fonte natural não podem
ser perfeitas e concludentes como as que
se fazem no lugar onde ellas nascem. Portanto é de parecer que se lembre e indique
ao governo a nomeação de pessoas competentemente habilitadas pára hirem fazer
essas anaiyses na localidade onde existem
taes agoas. Esta medida além de grangearnos um perfeito conhecimento d'estas, são
um meio, e uma boa oceasião de empregar
utilmente os nossos jovens médicos mais
iristruidos.
O sr. dr. Mim lembra e propõe que tambem se recommende ao governo que man-
de não só examinar c analysar essas agoas,
mas a realidade de tantos contos milagrosos que por ahi correm a respeito dasinesmas; e não só isso mas que mande também
indagar que relação podem ter as qüaiidades mineraes c medicinaes das agoas na
Sul para a
província do llio Grande do
vai-se
producção do bocio, moléstia que
o
gencralisando muito n'essa província,
ameaça invadil-a, assim como amprphéa
na província de Minas, aonde vai-se tornam
do quasi geral. Parece-lhe que estes dous
objectos merecem toda a attenção e cuidado do governo.
Resolve-se que se faça uma representação ao governo íveste sentido.
Passa-se a tratar da questão relativa a
conveniência e necessidade de (ratar dos
meios de prevenir a entrada da choleramorbus.
O sr. dr. Valladão observa que quanto
ás medidas hygienicas alguma cousa já
ha feito esta instituição em 1831 e 1832
será convequando era sociedade, c que
niente fazer reviver esses trabalhos, emem
quanto nós poderemos oecupar-nos
discutir sobre os vários e melhores mcthodos de tratamento d'ella.
O sr. Corroa dos Santos é de opinião que
se façam reviver e se repitam as representações já feitas em outro tempo ao governo
relativamente aos meios de prevenir tão
isso se faça de
mas
flagcllo,
que
grande
maneira a não assustar a população; e que
se represente não só acerca tVisto, senão
também de todas as infracçoes de lei de
bygiene pública e policia medica tomando
da entrada da
a
motivo
probabilidade
por
cholera-morbus, caso em que taes circumstancias anü-hygicnicas podem ser muito
fatacs. ,
Resolve-se que se proceda n'este sentido,
Tendo chegado a hora levanta-se a
sessão.
Í)É MEDICINA BRASÍLÍENÍSfe
v;.
¦
243
'. *'"¦;
«¦[.¦¦.MU .,.'!)¦.«
LITTERATURA
MEDICA.
DISCURSO QUE RECITOU, $M PRESENÇA DE Si
M; I. NO DIA 20 DE DEZEMBRO DE 1848 NO
CONFERIMENTO DO GRÁO DE DOUTOR, O DIRECTOR DA. FACULDADE DE MEDICINA, O SR.
CONSELHEIRO JOSÉ MARTINS DA CRUZ JOBIM.
Ordcnando-me os estatutos d'esta escola
(jue vos dirija a palavra depois do conferiinento do gráó de doutor que acabaes de
receber, é de suppor que tiveram elles enl
vista a necessidade de lembrar-vos n'este
acto solemne não somente as obrigações
que com aquelle titulo acabaes dc contrahir, como também a marcha que deveis
seguir na prática e exercício da medicina,
a que dc hoje em diante o mesmo titulo
vos dá direito. Mas no meio do vosso actual
regosijo oceorre-me um pensamento, que
muito me entristece, e intibia-me o animo,
sobre o cumprimento d'este dever: lembra-nie que depois de tantas fadigas dã
vossa parte, depois de estudos tão prolongados já fora d'ésta escola preparando-vos.
para entrardes n'ella, já depois de terdes
conseguido sentar-vos nos seus bancos, de*
pois de tantos incommodos pessoáes, de
tantos dispendios vossos e do Estado, que
vos franqueia um estabelecimento como
este, agora que vós vos julgaes em circumstancias de poder gozar do frueto de
vossos trabalhos, vós ides ver que se desvanece quasi todo o vosso Eldorado, que
são mallogradas quasi todas as vossas espcranç.as, porque á vista do abandono cm
que se acha entre nós o exercido da medicina, vós reconhecereis que tanto direito
tendes de exercei-a, com os vossos precedentes, como innumeraveis aventureiros,
que sem titulos, sem recommendação alguma acadêmica acham valiosa protecção em
certas autoridades judiciaes, não só para
vos agredirem impunemente com desmarcada ousadia, como para exercerem com
franqueza a medicina, fundando-se em rasoes apparentemente plausíveis, que aquelles magistrados intenderam que no interesse das letivas c das sciencias não podiam
deixar de admittir; e como desprezariam
còm justiça* a alienação de similhantes habilidosos de que tendo elies descdberto uma
medicina especialissima* privilegiada* e süpeiior á intelligencia dos médicos que estudam em escolas íegulares* não podem
ser comprehehdidos tias disposições de
uma lei, que profribindo o exercício da
medicina a qúenl não estiver competentemente autorisaclo, só podia ter em vistas a
medicina ordinária, até então acceita, e
n'unca réfeíMr-sè a uma feliz iiivenção que
ainda senão conhecia no Brasil na época
da promulgação cUaquella lei ? Estes nossos
magistrados, delegados, súbdelegadds* e
juizes numicipaes* sendo tão liberaes como
vós já vedes* e como é mister que o sejam,
ousariam entender e cumprir a lei senão
confofme a interpretação destes famosos
progressistas ? nem ei*a possível que ã intendessem do mesmo modo, porque eram
entendidas disparições análogas nesses tempos calamitosos, cliamados do despottómo,
em qiie os próprios médicos eram os juizes
Competentes eín matérias relativas á saúde
pública* e ao exercício da medicina sem
que inspirassem, nem aos governos desses
mesmos tempos o ínehor íeceio ou ciúme,
nem ao povo suspeitas de parcialidade e
injustiça nos seus julgamentos*
à vista d5este estado em que se acha o
exercício da medicina tio Brasil, é necessario muito animo e resignação para lembrar-vos obrigações a que somente vós
licareis ligados, quando aquelles que vos
deviam proteger vos deixam desamparados
ou entregues aos ataques violentos de homens, que sem fé nem consciência abusam
escandalosamente da pública credulidade,
Accresce ainda, que já em outras solemnidades como esta tenho dito quanto é bastante sobre os vossos deveres, sobre a marcha scientifica e moral que deveis seguir
no exercício da vossa profissão, advertiudo-vos sempre n'este acto, que são tão nobres e elevados esses deveres, que qualquer que seja o procedimento das autoridades para comvosco e para com a vossa
mesma profissão, quaesquer que sejam os
5
ÜK'
ANNAES
desejos que por ventura existam dc a desconsiderar, á medida que vós vos ciugirdcs
com mais vigor e probidade ao cumprimento desses mesmos deveres, mais admiravel será a vossa virtude, mais louvável o
vosso procedimento aos olhos dos homens
de bem. Pondo pois dc parte este objccto,
limitar-me-hei hoje a tratar da neccssidade que muitas vezes tem o medico não só
de ser tolerante a respeito das preocupações e superstições dos homens, como tambem de tirar partido cVéstas mesmas impressões para o tratamento dos doentes,
ao menos quanto c compatível com a vossa
honra e dignidade. Daqui nos vem a necessidade de bem conhecermos os mesmos
homens nas suas disposições moraes, taes
quaes os formou Deos, e taes e quaes a
educação os apresenta; nem ha profissão
em que estes conhecimentos sejam mais
necessários, porque também não ha nemuma em que as theorias e os preconceitos
sejam mais perigosos c malfazejos. É pois
no intento de conhecer bem o que somos
em relação ao exercido da medicina, que
passo a fazer-vos algumas observações, tanto mais necessárias, que os moços com
o seu enthusiasmo natural as desconhecem
muitas vezes, cahindo por isso em erros
funestos á sua boa reputação.
• Guando lançamos os olhos sobre a superlicie do globo, ali vemos o rebanho immenso cia nossa espécie distribuído em religiões tão diversas, e dominado por superstições ou preocupações tão grosseiras
algumas, que custaria a acreditar que fossem compatíveis com o uso perfeito da
intelligencia humana, a não ser um facto
que aquillo, que uma rasão esclarecida nos
mostra, nem sempre está de accordo com
os nossos sentimentos e inclinações quer
instinetivas, quer creadas pelos hábitos e
costumes, ou que a mesma natureza desenvolve debaixo das modificações infinitas
dos climas, e dos governos. E uma vez arreigados estes sentimentos no coração humano, nutrido com elles desde a infância
será possível arrostal-os e destruil-os com
a facilidade, que talvez se presuma ? A in-
íluencia cPesses sentimentos, cPcssas preocupações e superstições, por assim dizer,
infusas, até o fundo da alma, desde a infancia c durante tantas gerações exercem
tal influencia sobre nós, que os mesmos espiritos fortes, os gênios os mais vigorosos
nem sempre podem evadir-se a ella, embora não acreditem mesmo nas idéas religiosas de que elles descendem, como acontece cm França a respeito do número treze
á mesma mesa, a respeito de comeear-se
em sexta feira qualquer empreza importante. Dc certo que (Pestes, ou doutros
preconceitos não poude evadir-se mesmo
um Pascal, um Newton, um Bocrhaave,
um Hobbes cmfim, que sendo quasi incredulo a respeito da existência de Deos tinha
muito medo das almas do outro mundo
durante a noite. Ora será prudente e rasoavel negar o império (Festas crenças e
preocupações sobre o nosso espirito, bem
como sobre o corpo e a saúde ? Ninguém
pode allirmar que a confiança ou a desconfiança, a esperança ou o temor, ainda
que superticiosos c imaginários, não sejam
dignos da consideração do medico quando
ao leito dos enfermos, c sendo dever nosso
aproveitar tudo aquillo que pôde curar,
ou pelo menos pcrmillil-o, que inconveniente ha que deixemos o doente recorrer
ao consolo das suas prevenções, que se
sirva por exemplo de relíquias, de nominas,
e de amuletos, e que, com tanto que não
sejamos nós que os aconselhemos, saibamos tirar cFellcs mesmo partido, quando
são essas as disposições do doente? deixemol-os que ti esses momentos de alílição e
desespero acreditem nos sentimentos da
antigüidade exprimidos n'aquelles versos
famosos:
Si non /teclam supersos, Aclerante morebo
— se
que são como se dicessemos hoje :
Deos não me vale, valha-me o demo.
Pois se com effeito está fora de dúvida,
que existem almas tímidas e crédulas sobre
as quaes a confiança mesmo a mais supersticiosa exerce maior império do que a rasão, e os medicamentos ordinários, quem
245
DE MEDICINA BRASILIENSE.
pôde negar que o emprego de certos meios
que até enfastia referir-se, como raspas de
osso de defunto, cinzas de sapo, hmumeraveis bezoardos orientaes, de que tanto caso
se fazia antigamente, cabeça de reptis reduzida a pó, cousas sem dúvida recliculas
e insignificantes para todo o espirito esclareciclo, produza uma confiança extraordinaria, e por isso mesmo maravilhosos eíTcitos pela regra do
Possunt quia posse videnlur'1
Para quem duvidar da força da imaginacão n'estes casos basta lembrar o facto do
indivíduo condemnado á morte, na Aliemanha, em queni vendados os olhos empregaram-se todos os meios para o fazer
acreditar que morreria inanido de sangue
por uma sangria ; quando se estava n'essc
empenho fingido, elle teve uma syncope,
de que quasi morreo. E não attestam práticos fidedignos que administrando a aiguns doentes pílulas de miolo de pão simplesmcnte, e fazendo-os acreditar que
eram purgantes drásticos, viram essa substancia determinar collícas c dejecções?
Não attestam que aranhas, sapos, c outros
animaes asquerosos comidos ou trazidos
como nominas, ou postos na cama com os
doentes tem curado febres quartães? e
até este mesmo effeito ser produzido por
expressões mysteriosas c mágicas como a
famosa palavra abracadabra, ainda cm
uso no Oriente, e particularmente na Persia, cVondc vemos virem anneis e pedras
preciosas dotadas de virtudes curativas
admiráveis, com caracteres cabalisticos, e
com signos astrologicos, porque os seus
bakins ou médicos são ao mesmo tempo
grandes astrologos ? E nós que nos rimos
d'elles, já não nos lembramos de que ainda hoje fazemos uso de remédios recommendados por induções astrologicas: assim
nas
quem ignora que o uso do mercúrio
moléstias syphiliticas foi introduzido pelo
celebre medico aslrologo Carpi, que querendo mitigar os furores de Venus n'este
mundo, recorreo ao patrocínio de um dos
favoritos d'ésla divindade, o deos Mercu-
rio, que reside no Ceo, e como o metal
do mesmo nome é o seu genuíno representante cá na terra, d'elle lançou mão o me^
clico astrologo com grande admiração dos
enfermos?
I
Mas dir-se-ha, essas práticas e crenças
que attestam a ignorância e atraso dos
povos, são impossíveis entre nós; decissimur espécie redi,- responderemos, que acreditando nós hoje em homoeopathias, cigaiv
retas de camphora, e outras puerilidades d'esta ordem, podemo-nos dizer muito
mais adiantados do que os nossos antepassados? Desenganemo-nos: são partilha d&
pobre humanidade, estas decepções que
só com ella acabarão; revestmdo-nos de
toda a paciência porque não olharemos
com tolerância e compaixão para estas
credulidacles, para estas misérias tão naturaes em pessoas acabrunhadas por longas moléstias, já esgotadas por contínuos
soíTrimentos, mormente quando as suas circumstancias e posição social lhes não permittiram instruir-se ? Cheios de terror e de
afllição elles imploram os soecorros da
arte, pedem-nos a vida; se os animamos,
se lhes ciamos ao menos a esperança como
um nectar salutar, alliviam-se os seus soffrimentos,. e o seu systema nervoso tomando melhor tom e energia, mais facilmente
vencerá a moléstia. N'estes casos porque
rasão não nos serviremos mesmo de certas
astucias, como nas monomanias, na hypoeondria acompanhadas de certas idéas politicas erradas e prejudiciaes? porque rasão não nos será permittido, por exemplo,
fazer imprimir gazetas com notícias e idéas
destruetivas d'essas impressões desfavoraveis, podendo, quando uma philosophiari-:
gorosa nos aceuse dizer como Epaminondas aos Thcbanos:— çondemnai-me, mais
ao menos gravai sobre o meu túmulo estas
palavras— foi elle o único capaz de vencer
Sparta I
[Concluirá no próximo número).
ESCOLA DE MEDICINA.
MINISTÉRIO DO
IMPÉRIO.
Rio de Janeiro, ministério dos negócios
246
Êfc*
ANNAES
do império 24 de maio de 1849,—Sua Maconsideragestade o Imperador tendo em
ção o que vossa senhoria expeude no seu
oíficio de 12 do corrente, Ha por bem approvar, e manda que se execute na Escola
de Medicina d'ésta corte, o regulamento
provisório, constante da inclusa cópia, assignada pelo official maior d'ésta secretaria distado, que a respectiva faculdade na
forma dos artigos 26 e 34 da lei orgânica
da mesma Escola, julga útil c necessário
adoptar, a fim de evitar não só qs abusos
que se tem introduzido «as theses que lhe
são apresentadas, como também os incon^
venientes e conílictos que a prática tem
mostrado, no systema de votação em os
actos de exame, e na variedade das notas
relativas. O que communico a vossa senhoria para seu conhecimento e da mesma faculdade. Dcos parcle a v. s.n— Visconde
de Monfalegre.— Sr. dr. José Martins da
Cruz Jobim.—Conforme.— Dr. Luiz Carlos
da Fonseca.
Regulamento provisório approvado pela Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, que se manda
por cm execução por aviso d'ésta data.
Artigo l.°-^As theses versarão sobre
tres questões tiradas á sorte, uma relativa
ás sciencias accessorias, outra ás cirurgicas, e outra ás médicas.
Art. 2,°—Nofiin de cada anno lcctivo
os lentes, ou substitutos em exercício enviarão ao director dez questões sobre suas
cadeiras, as quaes depois de previamente
submettidas á approvação da Faculdade,
serão rubricadas pelo mesmo director, e
entregues ao secretario, que as numerará
seguidamente, e copiará cm livro próprio
para cada secção.
Art. 3.°— A sorte tira^-se-ha na presença de um dos lentes ou substitutos cm
exercício no começo do último anno lectivo, podendo o candidato apresentar a sua
these, quando lhe aprouver, depois de feito o exame das clinicas,
Art. 4,°—O secretario lavrará um tenno.
cm livro próprio, do qual conste a época
do sorteio, e quaes as questões sorteadas,
devendo ser esse termo assignado pelo len~
te ou substituto, c pelo candidato.
Art. 5,°— Os candidatos poderão tratar
das questões em dissertação ou cm proposições; mas serão obrigados a apresentar
na these seis aphorismos de Ilippocratcs á
sua escolha. Fica-lhes livre tratar igualmente ad Hbitum de qualquer outra questão
medica, ou cirúrgica, que lhes aprouver.
Artigo additivo.— As notas de exame serão:—Reprovado — Approvado simpliciter
—Approvado nemine discrepante —e approvado optime cum laude. A votação dos
examinadores a tal respeito se fará por escrutinio secreto, por meio de espheras
brancas c pretas.
§ 1.° O que obtiver tres espheras br.aucas ficará approvado nemine discrepante, e
o que obtiver somente duas ficará simpliciler.
$ 2.° A maioria de espheras pretas reprova.
§ 3.° Se algum dos lentes examinadores
propozer que se dò distineção ao alumno
que tiver sido approvado nemine discrepante, correrá sobre o mesmo novo escrulinio, c se obtiver unanimidade de espheras
brancas, dar-sc-lhe-ha a nota — approvado optime cum laude.
§ 4.° Nas theses se observará este mesmo systema de approvação, íicando os candidatos approvados nemine discrepante, ou
simpliciter, segundo obtiverem a unanimidade de espheras brancas no primeiro
caso, c a maioria no segundo; seguindo-se
a respeito da nota de optime cum lande o
que fica disposto no § antecedente.
— será substi§ 5.° A nota—reprovado
tuida nas theses pela de—esperado—sendo
cm tal caso obrigados os candidatos a fazer nova these sobre as mesmas questões
extrahidas para a primeira,
Secretaria d'estado dos negócios do imperioem 14 de maio de 1849.— José de
Paiva Magalhães Calvet.—Conforme,—Dr.
Luiz Carlos da Fonseca.
DE MEDICINA MUSILIEiNSE.
247
F=
REVISTA GERAL.
0 CHARLATANISMO NA PROVÍNCIA DE S.PAULO.
Por mais de uma vez temos bradado
contra a ousadia com que o charlatanismo
se ostenta na província de S. Paulo. Ali as
autoridades encarregadas por lei de o cohibir já não se contentam com uma tolerancia criminosa, como acontece acpú na
corte, c em quasi todo o império : — vão
mais longe ainda, protegem-no a tal ponto
que chegam a perseguir e a processar os
médicos legaes, só porque d'isso se queixam, e prottestam pela imprensa. Sirva de
exemplo a perseguição acintosa que um
celebre juiz de direito de accordo com a
câmara municipal de Campinas tem movido contra o nosso assignante e mui distincto medico cFesse lugar o sr. dr. Ricardo
Gumhlelm Daunt!! Certamente que se não
pode dar maior immoraliclade; e a nãopossuirmos cm nossas mãos documentos fidedignos que o comprovam, nem por sonhos
nos capacitaríamos de tal.
E como é que o governo supremo da
província tolera e consente tão grande escandalo ?— Como é que se nao tem mandado responsabüisar essa câmara tão ignorante e tão pouco respeitadora da lei ? —
Como é cmfim, cjuc se não tem reprehendido áspera e severamente o comportamento
(Vcsse juiz de direito mais v.... do que
ignorante ?—Acaso um ciqs órgãos da imprensa da província não tem por tantas e
tão repetidas vezes denunciado esse escandalo ?! Percle-sc-nos a imaginação no meio
de tantas hypotheses altamente desfavoraveis ao sr. presidente de S. Paulo,
Nem-um remédio vemos possível a tão
grande desleixo, e abandono de pudor.—
Quando os delegados do governo do Imperador tão incidentes se mostram no cumprimento de deveres tão insignificantes,
perdido está o paiz, porque perdida está a
sua moralidade. No entanto para que se
nao diga que o único órgão da medicina
official do paiz não faz chegar ao conhecipiento do exn%° sr. ministro do império
tão grandes quão fataes abusos, transcreveremos abaixo uma correspondência que
se achainserta no n.° 47 do Saquarema,
promettendo voltar ao assumpto no numero seguinte.
CORRESPONDÊNCIA. #§
Sr. Redactor.—Qjueira dar licença que
por meio de sua folha se pergunte aos
illms. srs. presidente e vereadores da camara municipal d'ésta cidade quaes os motivos que os influíram na nomeação do
commissario vaccinador cFeste município,
feita em sessão extraordinária do dia k do
corrente? Se o indivíduo nomeado foi escolhido como sendo facultativo legalmente
habilitado ? e n'este caso, quaes as provas
de tal habilitação legal? Ou se foi escolhido como pessoa alheia á arte de curar ? e
em tal caso, quaes os motivos que o faziam
preferivcl ao illm. sr. José Pinto de Camargo, que foi proposto para esse emprego pela transada câmara ? e mais, se este
emprego pode ser exercido, na falta de facultativos habilitados, também por pessoas
íntelligentes e alheias ás fileiras dos facultativos legítimos sendo estas estrangeiras,
como por nacionaes?
Não quero suppòr por um momento que
a dita nomeação fosse oriunda ainda de um
desejo de fazer acinte, e de menoscabar os
illms, srs. cimrgião-mór Cândido Gonsalves Gomide e dr. Ricardo Gumbleton Daunt
que no anno passado vaccináram, segundo
so affirma, ao menos duas mil pessoas, e
assim fizeranvse acredores de um comportamento niais attencioso da parte dos representantes da municipalidade. E por julgar a illm, ] câmara incapaz de ser actuada
por tal motivo, não formularei pergunta
alguma n'este sentido; não posso deixar
porém de exprimir o meu pezar como cioso da honra do município, que a câmara
tivesse dado um passo que com alguma
apparencia de rasao, se possa interpretar
como um acto de patrocínio á um iiidividuo que se acha em flagrante violação da
lei, e á quem se dá assim uma espécie cie
reconhecimento indireclo dos seus títulos,
6
AMAS
248
que só poderá redundar em compromettimento da mesma câmara. O sobscripto do
offlcio da referida nomeação dava ao novo
empregado o titulo de —doutor—será que a
nossa câmara queira se fazer rival das academias de Olinda, Bahia, Rio, e S. Paulo,
arrogando a si o direito de crear bacharéis
e doutores?
Yisto serem os illms. srs. vereadores
todos d'aquelle partido, que mais enérgicamente tem reclamado o direito da livre
discussão, e da responsabilidade das autoriclades, não só perante a justiça como
também perante o tribunal da opinião ptiblica, estou certo que não estranharão esta
applicação dos seus próprios princípios que
acaba defazer-lhes
Um seu assignante.
Campinas 19 de março de 1849.
(Continuará).
REMÉDIO PARA O TÉTANO.
No Diário de Pernambuco lemos um ârtigo do sr. Filippe Menna Callado da Fonscca, noticiando a descoberta de importantes
propriedades medicinaes em uma das planIas muito conhecida em nosso paiz o —
fedegoso — applicado por elle com muita
vantagem nos casos de tétano, espasmo e
convulsões. «Para os recém-nascidos, diz
o sr. Callado da Fonseca, applica-sc uma
colher de chá do sueco da planta, de meia
em meia hora, até estabelecer-se a evacuação por a via superior c inferior; depois d'isto ministra-sc-lhes a mesma colher
de chá de hora cm hora, suspendendo a
applicação logo que se reconheçam molhoras notáveis. —Em proporção augmentamse as doses nos mais velhos, e a miúdo de
vinte em vinte minutos, ou de quarto cm
quarto d'hora. Prepara-se o sueco do fedegoso, pizando a planta inteira com raizes, lavadas da terra, em um gral ou pilão;
se a planta não contém sueco sufficiente,
addiciona-se-lhe alguma agoa; a massa
mette-seemum panno grosso e espremese até produzir todo o liquido que contenha. O rçsultado favorável nas crianças
tem sido constante nas applicações que
tenho tido occasião de fa/er até hoje. No
tétano produzido por feridas o tenho applicado também duas vezes, e em ambas
resolvco completamente a moléstia com
celeridade espantosa.»
{Correio da Tarde).
NOTICIAS DIVERSAS,
MINISTÉRIO DA MARINHA.
DECRETO N. G01 DE 25 DE ABRIL DE 1840.'
Appvova o plano para a onjanisação do corpo dr.
saúde d* armada nacional c imperial.
Hei por bem approvar o plano para orgânisâçãò do corpo de saúde da armada
nacional e imperial, que com este baixa,
assignado por Manoel Felisardo de Sousa e
Mello, do meu conselho, ministro e secrelario de estado dos negócios da marinha,
que assim o tenha entendido c faça exceutar com os despachos necessários. Palácio
do Rio de Janeiro, em vinte e três cie abril
de mil oitoecntos c quarenta c nove, vigesimo oitavo da independência e do imperio.—Com a rubrica de Sua Magestade o
Imperador.—Manoel Felisardo de Sousa e
Mello.—Conforme, Francisco Xavier Bomtempo.
Plano para a organisução do corpo de saúde du armada nacional e imperial, a (pie se refere o d&creio d'esta da Ia.
Art. l.° O corpo de saúde da armada
será composto dos indivíduos abaixo designados, os quaes gozarão das graduações
militares que vão declaradas, a saber:
§ 1.° Um cirurgião-niór da armada. Ca~
pitão de mar e guerra.
§2.° Um cirurgião-mór de esquadra.
Capitão de fragata.
§ 3.° Três cirurgiões-móres de divisão
naval. Capitães tenentes.
§ l\.° Doze primeiros cirurgiões, dos
'
Igual decreto se publicou lambem para o exercito-,
DE MEDICINA BRASILIENSE.
quaes seis poderão ser graduados primeiros tenentes, c os outros terão a graduação de segundos tenentes.
§5.° Vinte e quatro segundos cirurgiões
dos quaes doze poderão ser graduados segundõs tenentes, c os outros terão a graduação de guardas marinhas.
§ 6.° Seis pharmaecuticos, dos quaes
dous serão de primeira classe, e quatro de
segunda. Guardas marinha.
Art. 2.c O cirurgião mor da armada será
o chefe do corpo de saúde, e sua nomeação dependerá somente da capacidade para
o bom desempenho do serviço: o governo
marcará as respectivas attribuições, e designará quem nos impedimentos os deve
substituir.
Art. 3.° Os facultativos terão direito ao
accesso dos postos superiores quando se
fizerem dignos, por sua maior antigüidade
militar, a par de bom comportamento, conhecimentos professionaes, c perfeito desempenho das comniissõcs de que forem
encarregados.
Art. /i.° Os facultativos serão subordinados ao cirurgião-mór da armada, c ás
autoridades sugeriores do corpo de saúde;
servirão de commissão nos navios de guerra, e nos corpos de imperiaes marinheiros
e fuzileiros navaes/c, cm quanto se acharem empregados, ficarão sujeitos á discipuna, c subordinados ás respectivas autoridades, na fôrma estabelecida pelas leis,
usos e ordens em vigor.
Art. 5.° Os facultativos desempregados
perceberão o soldo simples de suas pateir
tes ou graduações.
Palácio do Rio de Janeiro, em vinte c
taes de abril de mil oitocentos e quarenta
e nove. — Manoel Felizardo de Sousa c
Mello.—Conforme, Franeisco Xavier Bomtempo. {Diário do Rio).
— Eleições.—li Academia Imperial de
Medicina\acaba de proceder ás eleições annuaes que devem reger no corrente anno
de" 1849. Sahiram reeleitos:—Presidente, o
sr. dr. Jobim.—T/iesoureiro, osr. dr. Gru-
249
gel do Amaral.—Redactor do Jornal, o dr.
Lobo.
A Academia reelegendo para seu presidente ao sr. dr. Jobim, deu mostras de que
ainda confia em s. s.a, e nos immensos recursos de que pôde dispor, para salval-a
d'esse estado de torpor e abatimento em
que tem permanecido pela má vontade de
um, e pelo desleixo de outros. Colloquese s. s.a á frente cVaquelles que desejam
trabalhar, e desenganar-se-ha que de nada
valem esses entraves e pequeninos embaraços, que tão grande desanimo lhe tem causado...
Ácdamacão de membro honorário.—
Na mesma sessão requereo o dr. Lobo
que se procedesse á votação da proposta
addiada, do anno p. p., que conferia o tituiõ de membro honorário ao mui distincto lente de pathologia externa da escola
medica da Bahia, o sr. dr. Manoel Ladisláo
Aranha Dantas: e vencendo-se que assim
fosse—foi o mesmo sr. acclamado membro
honorário.
¦—Lò-se no Correio da Tarde:
PROFISSÃO xMEDICA EM PARIS.
«O número total dos doutores em medicina actualmente residentes em Paris sobe
a 1:389; d'estes nove são representantes
do povo na assembléa nacional, convém a
saber : Bixio, Bucher, Dezeimeris, Gerdy,
Lclut Mussiat, Recurt, Trelat e Trousseau,
e 389 são membros da legião de honra,
isto é:—7 commendadores—-50 oíficiaes—
e 341 cavalleiros.
Um novo athleta no jornalismo.—Os estndantes da escola medica da Bahia, levados do zelo e amor das lettras, que tanto
caracterisa os filhos daquella província,
acabam de fundar um jornal scientifico, intitulado—o Alheneo — cuja publicação deverá ser feita mensalmente.
Temos á mão o primeiro número; e a
julgarmos pelo que ahi se promette, no arligo de introducção, temos fé que de grande proveito virá elle a ser para a litteratura medica, com quanto a ella não seja exclusivamente dedicado.
250
ANNAES
Permitia Deos que na espinhosa carreinão tenham
que o Athenco vai percorrer,
de esmorecer esses jovens talentosos que
tão devotadamente lhe deram impulso.
Mas para que isto se consiga, visto que
mais de uni. preside á sua redacção, cumnão só
pre que todos tenham entre si
iguaes direitos senão também igual merecimento c capacidade —porque nada tolhe
mais o bom andamento de taes emprezas
do que achar-se collocada á sua frente,
revestida de poder c dignidade, alguma medwcriiade orgulhosa e arrogante. Que os redactores do Atheneo tenham bem cm vista
este nosso conselho, que a mais acerba c
cruel experiência nos ensinou, c d'csde já
lhe asseguramos vida longa e duradoura.
Taes são os votos da redacção dos An*
nàês.
Os artigos do sr. dr. Rego sobre enfermidadés de crcançis.— A inexperada enfermidade que em principio efeste anno accometteo o nosso distineto collaborador, o
sr. dr. Rego, deu causa a que interrompessemos a série de seus importantes artigos
sobre enfermidades de creanças no Rio de
Janeiro. Felizmente para nós o nosso collega acha-se restabelecido, e de novo entregue ás suas oecupaçoes; achando-sc já
em nossas mãos o seu 6.° artigo sobre o
mesmo assumpto, e que é relativo á—gastro-enterite.— Publicai- o-hemos no proximo número.
A Academia Imperial de Medicina occupa-se na actualidade de uma importantissima questão. Trata-se de dar remedio ao desgraçado estado em que nos achamos, relativo á insufficiencia das leis em
vigor, para se pòr um diquue ao charlatanismo de que se acha inçado todo o impeperio. Não se devendo por ora aventar
juizo certo ou provável, de qual deva ser
o desfecho d'esta discussão, diremos sempre que muito se deve esperar das luzes e
patriotismo d'ésta corporação, secundada
da vontade poderosa do seu digno presidente — o sr. dr. Jobim.
—O sr. dr. Meirelles
pede-nos que trans-
tâtfrtiJMMrw '••»
crevamos irésta folha, o certificado que se
segue, passado pelo oíucial-maior da camara dos deputados. (?)
« Certifico, por me ser pedido, que do
registro das actas e oflicios cVésta camara,
consta que tendo sido por ella approvados
os estatutos das Escolas de Medicina do
Rio de Janeiro c Bahia, passaram para o
senado a 15 de junho de 1865, e que vollaudo com emendas cm 29 de maio de
1847, foram umas regeitadas e outras prejudicadasem 9 de junho do mesmo anno.
Secretaria da camara dos deputados em 27
de abril de íÜkV. — Theodoro José Biancardi,
CORRESPONDÊNCIA PARTICULAR
Do sr. dr. Daunt (Campinas).—desculpe-nos S.
S.a a demora que houve na remessa dos números 7 e
8, bom como de não lhe havermos ai tendido ha mais
tempo. Muitas são as obrigações que pesam sobre nós.
Do sr. ãirector do Âtheneo (Bahia): estamos de
posse do 1.o e 2.o número do mesmo jornal; e cstào
dadas os ordens para que o nosso correspondente n'cssa
cidade entregue a S. S;a não só uma colleeçâò dos
Annaes publicados de julho ato agora; mas ainda um
exemplar de todos aquelles que de futuro se forem publicando.
0 sr. Salvador Machado de Oliveira (villa dá
Casa Branca): será publicado cm unidos números seguinteso seu artigo Mais um facto a favor da ac*
ção insensibilisante do elher. — Agradecemos-lhc o
favor e serão cumpridas suas ordens.
Recebemos lambem um interessante artigo sobre
a febre typhoide1 que nos foi enviado da Bahia pelo
mui distineto professor o sr. dr. Joxé Joaquim Rodrigués. Dar-nos-hemos pressa em publical-o.
Estamos de posse da carta do nosso correspondante da campanha, o sr. Ignacio Comes Midões.
Muito lhe agradecemos suas obsequiosas expressões,
como lhe pedimos desculpa da demora que tem havido
na remessa dos números anteriores.
0 sr. commendador Cláudio Luh da Costa :
responder-lhc-hemos por carta particular.
DECLARAÇÃO.
Pedimos desculpa aos nossos assignantes
do atrazo em que se acha esta publicação,
devido a diversos obstáculos com que tem
lutado a typographia.
0 Dn. Roberto Joiigb Haddock Lobo.
Rednclor em chefe,
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