LEIBNIZ: METAFÍSICA E
CONHECIMENTO
Leibniz (1646-1716).
Como pessoa era o oposto de Spinoza, um homem
de ação e polímata, especialmente o matemático
que desenvolveu o cálculo infinitesimal
independentemente de Newton.
Opostamente a Spinoza, Leibniz não se contentou
com uma única substância,
mas somente com um número infinito de
substâncias – as MÔNADAS, dispostas
hierarquicamente e harmonizadas entre si pela
substância divina, a mônada Deus
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TRAÇOS GERAIS DA FILOSOFIA DE LEIBNIZ
Como nem toda a realidade natural é exaustivamente
explicada por extensão e movimento, Leibniz sugeriu
também a existência do que chamou de ENTELÉQUIAS,
mais tarde chamadas de MÔNADAS...
MÔNADA = é a realidade fundamental,
princípio fundamental, substância simples,
inextensa, que entra nos compostos.
O universo é composto de um número infinito de
mônadas.
Corpos materiais são substâncias compostas,
formadas por grupos de mônadas.
Mentes são mônadas, que vão desde as ínfimas
até Deus.
Segundo Bertrand Russell a mônada seria a
HIPOSTASIAÇÃO DO SUJEITO LÓGICO:
Para Leibniz a verdadeira REALIDADE é o
SUJEITO LÓGICO, ao qual se atribuem
vários predicados, não sendo ele próprio
predicado de nenhum sujeito.
Ex: Sócrates é... (baixinho, barbudo, tagarela...)
Mas não se pode dizer que ele socratiza!
Para ele, toda proposição verdadeira tem
fundamento na NATUREZA da coisa referida...
Portanto, quando o predicado não está
compreendido EXPRESSAMENTE no sujeito,
ele está compreendido VIRTUALMENTE no
sujeito.
Daí que quem entendesse perfeitamente a
noção do sujeito, saberia quais os
predicados que se lhe aplicam ou não!
Ex: se eu tivesse uma noção perfeita de
Alexandre, como Deus tem, eu seria capaz de
prever tudo o que ele fez!
Para Leibniz o PRINCÍPIO DA IDENTIDADE:
uma coisa é idêntica a si mesma ou
A=A
é a primeira verdade, pois aplicando-se a
noções mais determinadas dá lugar a
TODAS AS VERDADES.
Ex.: “A parte é menor que o todo”, baseia-se no
princípio da identidade, pois definimos como
‘menor’ = o que é idêntico a parte de uma coisa.
Proposições verdadeiras são portanto sempre
implicita ou explicitamente proposições
idênticas...
1) Daí deriva-se também o PRINCÍPIO DA RAZÃO
SUFICIENTE = NADA É SEM RAZÃO SUFICIENTE,
NENHUM EFEITO É SEM CAUSA.
“Senão haveria uma verdade incapaz de ser
demonstrada a priori, que não se resolveria em
verdades idênticas, contrariando a natureza da
verdade, que é sempre idêntica, implícita ou
explicitamente”.
2) E também pretende derivar o PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE DOS INDISCERNÍVEIS = duas
coisas que tem as mesmas propriedades precisam
ser uma só,pois que todos os predicados já estão
contidos na própria coisa.
Pois se houvessem predicados não contidos na coisa, a coisa seria ela mesma e
outra coisa ao mesmo tempo... Contrariando o princípio da não-contradição.
Contudo, as coisas individuais, as mônadas, estão
todas (logicamente) inter-relacionadas:
Cada substância-mônada está em relação
com todo o universo, o reflete, o exprime
em si, e está em relação com a sua causa
primeira, Deus.
Cada mudança na coisa repercute em todo
o universo, não por sua relação com o
exterior, mas pela harmonia préestabelecida que ela tem com o universo.
AS MÔNADAS E O MUNDO
Justificação metafísica do conceito de MÔNADA:
1) Não poderia existir um composto se não fosse
um amontoado ou agregado de substâncias
simples, dotadas de verdadeira unidade. Não se
pode pensar o múltiplo sem pensar no uno que
o fundamenta. Só essa unidade fundamenta a
multiplicidade-extensão.
2) Essa unidade é a da Substância-mônada, pensa
ele, é um átomo completo, simples, indivisível.
3) Deus, ao fazer o mundo, deixou para trás uma
ATIVIDADE. Uma coisa só existe como
atividade. Por isso é preciso que a sua
substância, as MÔNADAS, sejam ATIVIDADE,
FORÇA VIVA, ENTELÉQUIA.
Como explicar o mundo corpóreo?
R: o corpo é um conjunto de substânciasmônadas, com a alma com mônada dominante. É
como um lago cheio de peixes, embora com
ordem e subordinação.
A massa, a extensão , é apenas a maneira como
as mônadas inextensas se manifestam para nós.
Qualidade e extensão são phaenomena bene
fundata, são modos de manifestação de
substâncias não extensas nem coloridas nem
sonoras.
O extenso é como o arco-íris, que é um modo de
manifestação para os sentidos de minúsculas
gotículas de água...
ESPAÇO E TEMPO:
Sobre a natureza do espaço e tempo, Leibniz se
opõe a Newton, que tem uma noção ABSOLUTA
dessas coisas.
Para Leibniz o espaço é uma RELAÇÃO: A ORDEM
DAS COEXISTÊNCIAS, o mesmo se dando com o
tempo, que é A ORDEM DAS SUCESSÕES.
Objeção: sem admitir um espaço absoluto não se
poderia determinar o movimento (é o navio que
se aproxima do porto ou o porto do navio?)
Leibniz responde que o movimento é dado
quando um dos coexistentes muda a sua relação
com os outros sem que os outros mudem as suas
relações entre si.
A mônada é simples, por isso não pode ser nem
gerada nem destruida.
A qualidade própria da mônada é a PERCEPÇÃO.
Mas por percepção Leibniz entendia O PRINCÍPIO
DA UNIDADE NO MÚLTIPLO: “os fenômenos
divisíveis podem ser representados num só ente
indivisível, e isso basta para conceber uma
percepção sem adicionar a ela pensamento ou
reflexão”.
Assim, a percepção da mônada pode ser
inconsciente, como o barulho do rio perto do qual
moramos...
(Assim é como as monadas que constituem os
corpos físicos.)
Hierarquia das mônadas:
1) Começa com as dotadas de percepção
(inconsciente), que constituem os objetos
materiais.
2) Depois há as mônadas dotadas de
sensibilidade, como as almas dos animais.
3) Depois há as mônadas dotadas de inteligência,
as almas humanas. (Nós sabemos tudo de forma
vaga, sob aspectos específicos.)
4) Finalmente, há a mônada Deus, que criou
todas as outras e as HARMONIZA ENTRE SI.
(Deus sabe tudo com clareza absoluta e sob todos
os aspectos.)
Por sua inextensão as mônadas não podem entrar
em contato entre si nem sofrer transposições de
partes internas.
“Mônadas não tem janelas pelas quais possa
entrar ou sair coisa alguma”.
As mônadas não interagem entre si: Nada
acontece à mônada-substância que não seja
consequência de sua natureza, tudo vem a partir
de dentro. Assim, já estava em Cesar que Cesar
atravessaria o Rubicão...
Mas então por que o mundo não é um caos? R:
porque vigora entre as mônadas uma HARMONIA
PRE-ESTABELECIDA por Deus. Deus as
harmonizou previamente entre si...
Com a idéia da harmonia pré-estabelecida Leibniz
dá a sua própria explicação da relação mentecorpo:
1) A teoria da influência recíproca (o
interacionismo cartesiano, que ele falsamente
atribui aos escolásticos)
2) A teoria das causas ocasionais (o
ocasionalismo de Malebranche)
3) A teoria da harmonia pré-estabelecida (de
Leibniz): Deus no início dos tempos acertou o
relógio do mundo, de modo que o que acontecer
na mente em qualquer tempo posterior já estará
previamente sincronizado com o que acontecer
no corpo...
Teoria do conhecimento:
contra Locke
Para Leibniz o cogito é a primeira verdade evidente de
fato e o princípio da não-contradição é a primeira verdade
da razão.
Tipos de conhecimento:
OBSCURO: quando não é suficiente para
reconhecer a coisa representada.
CLARO: quando tem fundamento suficiente para
reconhecer a coisa representada.
CLARO E CONFUSO: quando não se consegue
enumerar separadamente as caracteristicas
suficientes
CLARO E DISTINTO: quando se consegue fazer
isso, distinguindo o que há de ESSENCIAL no
objeto.
Todo conhecimento simbólico pressupõe o
conhecimento intuitivo e se funda nesse:
Por exemplo, se tenho a noção de um quiliógono
(polígono de 1000 lados), isso se funda nas
noções intuitivas de unidade e linha.
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Leibniz discorda da tese de Locke de que todo
conhecimento deriva da experiência.
É o conhecimento das verdades necessárias,
proveniente da reflexão, que distingue os homens
dos animais.
Idéias como a de unidade, substância e duração
nos são inatas, mas são VIRTUALMENTE INATAS,
como a estátua oculta no bloco de mármore.
“Creio que todos os conhecimentos da
alma vêm do seu íntimo, e não dos
sentidos, embora os últimos nos dêem
ocasião de tomar consciência deles.”
As idéias são objetos internos, a alma age
diretamente sobre elas, os objetos externos
agem indiretamente sobre elas, só Deus é
objeto externo direto...
E a alma é um MICROCOSMO, com idéias distintas
de deus e confusas do universo...
Substância:
Não captamos as qualidades isoladas (cor, calor,
brilho...) apoiadas em uma base desconhecida,
mas originariamente UM CONCRETUM QUE SE
NOS APRESENTA SOB VÁRIOS ASPECTOS.
OU seja: a mesma realidade que se apresenta sob
vários aspectos, um mesmo sujeito de vários
predicados.
O critério para saber se temos uma idéia
não é IMAGINÁ-LA, mas ver o que podemos
EXTRAIR DELA.
Ex: não posso imaginar um polígono de mil lados, mas
posso extrair verdades matemáticas disso, logo, tenho
uma idéia dele!
A substância é a ESSÊNCIA ESPECÍFICA de uma
coisa, estando ligada as noções universais, que
são significados de termos gerais. As noções
UNIVERSAIS não são a soma das idéias
particulares, mas exprimem um MODO
ORIGINARIAMENTE UNIVERSAL de se apreender
as coisas. Até os nomes próprios como ‘Brutus’ tem
origem geral, referindo-se ao caráter de um indivíduo.
A ABSTRAÇÃO NÃO É A SEPARAÇÃO DE UM
CARÁTER INDIVIDUAL DE OUTROS, MAS UM
MODO ORIGINÁRIO DE APREENDER O
INDIVÍDUO.
A criança não começa tendo idéias particulares,
mas gerais, tanto que a mãe pode ser substituida
por algo parecido...
PRINCÍPIOS UNIVERSAIS
Ele também se opõe a Locke no que tange às
VERDADES NECESSÁRIAS, principalmente os
axiomas:
Ele distingue:
VERDADES DA RAZÃO = Cujo oposto é
contraditório (na base delas estão as
proposições idênticas).
VERDADES DE FATO = Cujo oposto é
falso, mas não contraditório.
Locke achava as verdades da razão “proposições
irrelevantes”, pois repetem a mesma coisa sem
nada ensinar...
Na verdade, diz Leibniz, elas estão no cerne das
DEMONSTRAÇÕES LÓGICAS, como o PRINCÍPIO
DA CONTRADIÇÃO, do qual dependem as
reduções ao absurdo.
Locke achava que proposições particulares como
“essa maçã é essa maçã” eram mais evidentes do
que o princípio da identidade. Para Leibniz, ao
contrário, só os princípios universais explicam as
afirmações particulares.
O exemplo se torna verdadeiro porque o axioma
está como que INCORPORADO nele.
Ex: que o corpo inteiro seja maior que o tronco é
necessariamente verdadeiro pelo princípio de que
“o todo é maior do que a parte”
Para explicar que 2 + 2 = 4 não basta intuição, é
necessário DEMONSTRAÇÃO, senão caímos na situação do
geômetra que não acreditava que as seções oblíquas do
cone e elipse fossem iguais porque não conseguia captar
isso intuitivamente.
Para Leibniz a lógica é uma MATEMÁTICA
UNIVERSAL, e a matemática é uma lógica
aplicada. Achava que a silogística aristotélica era
apenas o começo e vislumbrou a possibilidade da
lógica simbólica contemporânea!
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Os princípios primeiros de TODO O CONHECIMENTO
HUMANO são para Leibniz o princípio da não-contradição
e o princípio da razão suficiente
PRINCÍPIO DA CONTRADIÇÃO =
TUDO O QUE IMPLICA CONTRADIÇÃO É FALSO,
VERDADEIRO É TUDO O QUE CONTRADIZ O
FALSO.
PRINCÍPIO DA RAZÃO SUFICIENTE =
NENHUM FATO PODE EXISTIR, NENHUM
ENUNCIADO PODE SER VERDADEIRO, SEM QUE
HAJA UMA RAZÃO SUFICIENTE PARA SER ASSIM
E NÃO DE OUTRA FORMA, EMBORA ESSAS
RAZÕES SEJAM GERALMENTE DESCONHECIDAS
DE NÓS.
Mas, o princípio da contradição é apenas uma
expressão negativa do princípio da identidade.
PRINCÍPIO DA IDENTIDADE = CADA COISA
É ELA MESMA.
O princípio da razão suficiente também é
uma explicitação do princípio da identidade
na noção de substância individual, pois
dizer que todo enunciado verdadeiro tem
uma razão suficiente é dizer que todo
predicado provém da natureza do sujeito e
nela encontra (por isso) a sua explicação...
VERDADES DE FATO COMO VERDADES DA RAZÃO:
As verdades da razão são necessárias, o oposto
delas sendo impossível e contraditório (ex: na
geometria euclideana a linha reta é a distância
menor entre dois pontos), enquanto as verdades
de fato podem ser falsas (ex: a luz está acesa).
Problema:
Se toda substância individual contém em si todos
os seus predicados, se em Adão está implícito
tudo o que ele fará, então parece que as verdades
de fato são necessárias e portanto não se
distinguem das verdades da razão!
Parece que tudo se torna necessário como em
Spinoza...
Resposta de Leibniz:
“Só Deus tem a noção do indivíduo em sua
individualidade.”
A noção do indivíduo é infinitamente mais
abrangente e difícil de compreender do que a de
uma esfera, sendo ele inexaurível pelo intelecto
humano. É como o número irracional... Para
descobrir a inerência do predicado no sujeito
seria preciso remontar ao infinito na análise do
sujeito.
“A certeza, a perfeita razão das verdades
de fato, é conhecida apenas por Deus, que
abarca num só olhar o infinito”.
Mas há uma diferença:
A existência das verdades de fato depende de um livre
decreto divino: Que Cesar tenha atravessado o Rubicão
está implícito na noção de Cesar, mas depende de Deus
ter feito Cesar existir.
__________
Demonstração da existência de Deus:
CONTINGENTE = AQUILO QUE É MAS PODERIA
TAMBÉM NÃO SER. O contingente não tem a
razão suficiente de seu ser em si mesmo, mas
fora de si, nem o que o causa, sendo também
contingente... Portanto, deve haver um ser que
cause os seres contingentes que tenha a sua
razão suficiente dentro de si, ele é uma
substância necessária, única, infinita, é Deus!
fim
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