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X Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
Reaproveitamento de água para fins não potáveis em habitações
de interesse social
Paulo Rogério Lemos1, Renata Magalhães Fagundes 1, Minéia Johann Scherer1 (orientador)
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Curso de Arquitetura e Urbanismo – Centro Universitário Franciscano – UNIFRA - RS
Introdução
O cenário atual do planeta revela uma crise ambiental preocupante que resulta dos
efeitos globais, tais como as mudanças climáticas, a diminuição dos recursos naturais, a
poluição das águas, dos solos e do ar. Sabe-se que a participação da indústria da construção
civil agrava este panorama, uma vez que em todo seu processo consome recursos naturais e
energéticos e gera poluição e resíduos que são lançados na natureza.
Atualmente, cada vez mais são observadas iniciativas no sentido da adoção de práticas
e processos construtivos que promovam a maior sustentabilidade no setor da construção civil,
preocupados com o impacto ambiental e com a repercussão do ambiente edificado no futuro
do planeta.
Nesse contexto seguramente o mais importante recurso a ser preservado, levando em
conta a dependência para a continuidade da vida no planeta, é a água. Conceitos, técnicas e
práticas que resultem no ato de conservar água devem ser empregados a toda edificação,
preservando os suprimentos existentes e minimizando os volumes de efluentes gerados.
Este artigo tem o objetivo principal de estudar técnicas e sistemas de reutilização da
água para fins não potáveis, por meio de revisão bibliográfica voltada àqueles mais adequados
para implantação em habitações de interesse social. Estes sistemas serão, posteriormente,
aplicados em um projeto de edificação modelo, que levará em conta princípios bioclimáticos e
de sustentabilidade, para a cidade de Santa Maria, RS. O estudo é parte integrante de um
projeto de pesquisa que está vinculado ao Grupo Percepção Ambiental, do Centro
Universitário Franciscano – UNIFRA.
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O reaproveitamento das águas pluviais e das águas residuárias
Atualmente, na maioria das edificações a água potável é utilizada para a realização de
quase todas as atividades sem uma análise prévia da qualidade da água necessária. O conceito
do uso racional para a conservação da água consiste na associação da gestão, não somente da
demanda, mas também da oferta de água, de forma que usos menos nobres possam ser
supridos, sempre que possível, por água de qualidade inferior (OLIVEIRA et al, 2007).
Como observa Oliveira et al, 2007, “os sistemas de aproveitamento de água de chuva
em edificações consistem na captação, armazenamento e posterior utilização da água
precipitada sobre superfícies impermeáveis de uma edificação, tais como: telhados, lajes e
pisos. Assim, como os sistemas prediais de reuso de água, a sua aplicação é restrita a
atividades que não necessitem da utilização de água potável.” ( p. 20)
Um sistema de aproveitamento da água da chuva tecnicamente simples, viável para ser
aplicado em habitações de interesse social, consiste em conduzir o volume captado pela
cobertura até um reservatório superior por meio de calhas dotadas de “filtro” (tela metálica)
para reter partículas sólidas. É necessária a presença de um sistema para descartar
automaticamente o volume de água coletado nos primeiros minutos de chuva, que geralmente
possui grande concentração de carga poluidora.
A partir do reservatório, a água é diretamente distribuída para o uso na descarga do
banheiro e na rega do jardim, lavagem de pisos e veículos, num ponto externo da edificação.
Pela combinação da posição estratégica da cobertura, calha coletora, reservatório e pontos de
uso, não há a necessidade de bombeamento da água, o que tornaria o sistema dispendioso na
implantação e no consumo de energia elétrica.
Vale ressaltar a importância de sinalizar adequadamente os pontos de distribuição da
água coletada para evitar a utilização inadequada do sistema e a contaminação do sistema
público de distribuição de água.
Para viabilizar o reaproveitamento da águas residuárias para fins não potáveis é
necessário que haja um tratamento prévio, que possibilite ainda a utilização do material sólido
como adubo.
As águas residuárias residenciais podem ser classificadas como águas claras, cinzas e
negras. As águas claras são aquelas de origem pluvial. . Já as águas cinzas são as provenientes
de tanques, pias, lavatórios e chuveiros, contendo contaminantes químicos, sólidos em
suspensão, óleos e graxas. Por último, as águas negras são aquelas que apresentam elevada
contaminação de origem orgânica (fezes e urina). (ERCOLE, 2003).
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Faz-se necessário buscar opções para o tratamento dos efluentes que priorizem a
facilidade de construção e manutenção, a qualidade ambiental, a qualidade de vida do ser
humano e o uso racional dos recursos naturais, fundamentados nos princípios e conceitos da
sustentabilidade (MARTINETTI et al, 2007).
Um exemplo destas técnicas é o tratamento feito por “zona de raízes” também
chamados leitos cultivados ou wetlands, um dos mais indicados para a implantação em
habitações de interesse social em função da facilidade de execução e da viabilidade
econômica.
Neste sistema, os efluentes, após passarem por um pré-tratamento, são conduzidos a
um tanque, onde camadas alternadas de pedras, solo e areia funcionam como filtro, e as
espécies cultivadas ajudam no tratamento do esgoto.
A vantagem mais significativa desse sistema é que ele processa quase que
completamente a carga poluidora presente nas águas residuárias, transformando-a em
materiais inofensivos e até mesmo úteis para o desenvolvimento das plantas. (OLIVEIRA et
al, 2007).
Conclusão
Frente à realidade dos problemas ambientais de degradação e consumo dos bens
naturais, onde a contribuição do setor da construção civil é significativa, a preservação dos
recursos hídricos demanda realmente conscientização e mobilização, já que existem sistemas
alternativos e recursos tecnológicos de fácil execução e baixo custo que possibilitam o
reaproveitamento das águas pluviais e dos efluentes.
Portanto, pesquisas e experimentos que contemplem esta temática devem ser
explorados a fim de subsidiar a adequada aplicação em situações reais de projeto.
Referências
ERCOLE, L. A. S. Sistema Modular de Gestão de Águas Residuárias Domiciliares: uma opção mais
sustentável para gestão de resíduos líquidos. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 2003.
MARTINETTI, Thaís. et al. Análise de Alternativas mais Sustentáveis para Tratamento Local de Efluentes
Sanitários Residenciais. In: IV Encontro Nacional E II Encontro Latino - Americano Sobre Edificações e
Comunidades Sustentáveis, 2007. Disponível em:<http://www.infohab.org> Acesso em 29 mai. 2008.
OLIVEIRA, L. H. de, et al. Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável Levantamento do estado da arte: Água. São Paulo: USP, 2007. Disponível em:
<http://www.habitacaosustentavel.pcc.usp.br> Acesso em 8 set. 2008.
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