Tópicos Especiais I – Laboratório de Engenharia Sanitária
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA AMBIENTAL
Departamento de Engenharia Sanitária
e do Meio Ambiente (DESMA) - UERJ
TÓPICOS ESPECIAIS I
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA SANITÁRIA
Apostila – Parte 1
Profª DANIELE MAIA BILA
2007
Tópicos Especiais I – Laboratório de Engenharia Sanitária
1. CARACTERIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
A maioria das águas residuárias, mas conhecidos como efluentes líquidos, é constituída de
uma mistura relativamente complexa de compostos químicos, cuja caracterização por análises
químicas convencionais (qualitativa e quantitativa) de constituinte a constituinte da composição
dessa mistura seria muito demorada, de alto custo e muitas vezes inviável.
Esse é o caso das águas residuárias urbanas (esgoto doméstico) e, principalmente, o caso
das águas residuárias industriais, uma vez que as indústrias, nos seus mais diversos setores,
químico, têxtil, alimentício, petroquímico, farmacêutico, entre outros, geram efluentes finais
resultantes de diversas correntes originadas dentro da indústria.
Os poluentes presentes em águas residuárias podem estar presentes sob diversas formas,
sendo:
a) matéria em solução: de natureza orgânica ou inorgânica, biodegradável ou não, ionizável
ou não. Podem ainda apresentar toxicidade ou causar inibição no desenvolvimento da microflora e
da fauna do corpo receptor.
b) matéria em estado coloidal ou em emulsão: refere–se a óleos e graxas ou até mesmo
associados sob a forma de filmes superficiais (hidrocarbonetos) ou espumas (agentes tensoativo
= detergentes).
c) matéria em suspensão: decantáveis ou não, de natureza orgânica ou inorgânica. Alguns
tipos de sólidos podem também ser biodegradáveis (lodo biológico, p.ex.).
Os principais poluentes presentes em águas residuárias, bem como suas fontes e efeitos
são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Principais poluentes presentes em águas residuárias, suas fontes e efeitos.
Alteração/
Poluente
Elevação da
Temperatura
Principais Fontes
Efeitos
Aumento das reações químicas e biológicas
podendo ocorrer elevação da ação tóxica de
Águas de resfriamento;
alguns elementos e compostos químicos;
despejos industriais; usinas
Redução no teor de OD, com reflexos sobre a
termoelétricas de carvão ou vida aquática aeróbia;
nuclear.
Diminuição da viscosidade da água,
ocasionando o afundamento de organismos
aquáticos.
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Assoreamento de recursos hídricos →
diminuição de vazões de escoamento e de
volumes de armazenamento → inundações;
Adsorção de poluentes e proteção de
patogênicos;
Erosão; esgotos domésticos; Aumento da turbidez da água → redução da
Sólidos
efluentes industriais; lixo; transparência da água → diminuição da
mineração.
atividade fotossintética → redução do OD →
impactos sobre a vida aquática.
Depósitos de lodo - sedimentos podem
carregar substâncias tóxicas e sua deposição no
fundo dos rios e lagos, prejudicando as espécies
e a reprodução dos peixes.
Transmissão de doenças ao homem.
Esgotos domésticos; outros
Essas doenças são responsáveis por boa
Microrganismos resíduos contaminados (lixo,
parte das ocupações de leitos hospitalares e
Patogênicos
efluentes industriais e
pela diminuição da qualidade de vida das
hospitalares etc.).
pessoas.
Redução do OD, devido à decomposição por
Matéria
bactérias aeróbias → prejuízos à vida aquática;
Orgânica
Esgotos domésticos; efluentes Maus odores, quando a decomposição for
Biodegradável
industriais; chorume; dejetos anaeróbia.
de animais; eutrofização;
Matéria
Associado a sua toxicidade e não ao
decomposição de vegetação consumo de O2
Orgânica
recalcitrantes submersa, defensivo agrícola, Fenômenos de bioacumulação
detergentes sintéticos.
(pesticidas,
surfactantes,
etc)
Eutrofização da água → proliferação de algas
e de vegetação aquática → sabor e odor;
coloração;
toxicidade;
massa de matéria
orgânica;
corrosão;
redução
da penetração da
Nutrientes
Esgotos domésticos,
luz
solar;
redução
do
OD;
danos à vida
(nitrogênio e fertilizantes, decomposição de
fósforo)
vegetais, efluentes industriais. aquática; prejuízos à recreação e à navegação;
entupimentos; danos às bombas e turbinas;
aspecto estético desagradável
Toxicidade a peixes (amônia)
Doença em recém-nascidos (nitrato)
Corrosão;
Efeitos sobre a flora e a fauna;
Esgotos domésticos; efluentes Prejuízos à utilização na agricultura e em
Mudanças
industriais, oxidação de MO, outros usos;
no pH
poluentes atmosféricos
Aumento da toxicidade de certos compostos
(chuvas ácidas).
(NH3, metais pesados, H2S);
Influência nos processos de tratamento da
água.
Efluentes industriais, pesticidas Danos à saúde humana;
Compostos
e fertilizantes, lixo industrial, Danos aos animais aquáticos.
Tóxicos
garimpo e mineração.
Corantes
Efluentes industriais
Cor na água;
Redução na transparência da água →
diminuição da atividade fotossintética → redução
do OD → prejuízos á vida aquática;
Prejuízos aos usos (manchas).
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Substâncias
Tensoativas
Substâncias
Radioativas
Metais (As, Cd,
Cr, Cu, Hg, Ni,
Pb, Zn, etc)
Redução da viscosidade;
Redução da tensão superficial;
Sabões, detergentes e
Danos à fauna;
efluentes industriais.
Espumas;
Sabor;
Toxicidade.
Reatores nucleares, indústrias, danos à saúde humana e aos animais;
Doenças como câncer ou afetar as células
acidentes com materiais
envolvidas
na reprodução dos indivíduos.
radioativos.
Efluentes industriais,
Agricultura e mineração.
São
tóxicos,
possuem
potenciais
cancerigênicos, mutagênicos ou teratogênicos,
causando deformidades genéticas ou a morte;
Podem bioacumular, potencializando seu
efeito nocivo ao longo da cadeia alimentar,
colocando em risco organismos situados no topo
dessa cadeia.
2. PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA E ÁGUAS RESIDUÁRIAS
O conhecimento das características da água e das águas residuárias é essencial no projeto
e operação dos sistemas de coleta, tratamento e disposição desses resíduos líquidos.
Parâmetros de qualidade são grandezas que indicam as características da água, das águas
residuárias, ou dos corpos d’água. Assim como as características, os parâmetros são de natureza
física, química e biológica (Jordão e Pessoa, 2005). O padrão de qualidade constitui um valor do
parâmetro de qualidade que não deverá ser excedido em determinado intervalo de tempo.
A determinação desses parâmetros segue as práticas indicadas nos “Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater”, embora, algumas agências estaduais de controle
ambiental possuam um pequeno número de ensaios normalizados, como por exemplo, a FEEMA
na estado do Rio de Janeiro.
Para caracterizar as águas e as águas residuárias, são determinados diversos parâmetros,
os quais representam as suas características físicas, químicas e biológicas, apresentadas na
Figura 1. Esses parâmetros são de determinação rotineira em analises de laboratórios. São
indicadores da qualidade da água e constituem impurezas quando alcançam valores superiores
aos estabelecidos para determinado uso (padrões de qualidade).
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Impurezas
Características Físicas
Características Biológicas
Características Químicas
Ser Vivo
Sólidos
Cor
Odor
temperatura
Suspensos
Coloidais
Dissolvidos
Animais
Orgânicos
Inorgânicos
gases
Vegetais
Protistas
Hidrocarbonetos Metais pesados
H2S
Gorduras
Fenóis
Proteínas, etc
Metano
O2
Nitrogênio
Fósforo
Cloretos
Alcalinidade
pH, etc
Figura 1. Impurezas presentes nas águas e águas residuárias (Fonte: Lora, 2002).
Os parâmetros de qualidade abordados neste item podem ser de utilização geral, tanto para
caracterização de águas de abastecimento, águas residuárias, mananciais e corpos receptores.
Os principais parâmetros de qualidade da água e caracterização de efluentes são discutidos
a seguir, separados sob os aspectos físicos, químicos e biológicos.
3. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA
Padrões são teores máximos de impurezas permitidos na água estabelecidos em função dos
seus usos. São fixados por entidades públicas, de acordo com uma legislação, com o objetivo de
garantir que a água a ser utilizada para um determinado fim não contenha impurezas que venham
a prejudicá-lo.
Em termos práticos, há três tipos de padrões de interesse direto dentro da Engenharia
Ambiental referentes à qualidade da água:
•
Padrões de lançamento no corpo receptor;
•
Padrões de qualidade do corpo receptor;
•
Padrões de qualidade para determinado uso imediato (Ex: padrões de potabilidade,
balneabilidade, irrigação).
Os padrões de lançamento no corpo receptor têm como objetivo a preservação da qualidade
do corpo d’água. Esses padrões de lançamento existem apenas por uma questão prática, já que é
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difícil se manter o controle efetivo das fontes poluidoras com base apenas na qualidade do corpo
receptor. Além de satisfazer os padrões de lançamento, devem-se proporcionar condições tais no
corpo receptor, de tal forma que a qualidade do mesmo se enquadre dentro dos padrões para
corpos receptores.
No Brasil, os principais textos legais, de natureza federal, indicativos de padrões, e, portanto
de parâmetros de qualidade são:
•
Resolução CONAMA 357/2005: define padrões a se manter nos corpos d’água, e
padrões de lançamento de efluentes;
•
Resolução CONAMA 274/2000: define padrões de balneabilidade em corpos d’água;
e;
•
Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde: define o Padrão de Potabilidade para
águas de consumo.
Cabe aos órgãos ambientais dos estados, territórios e Distrito Federal efetuar, não só o
enquadramento dos corpos de água no âmbito das classes preconizadas pela Resolução do
Conselho Nacional de Meio Ambiente o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) no 357
de 2005, como exercer atividade orientadora, fiscalizadora e punitiva junto às fontes de poluição
que possam alterar os valores dos padrões de qualidade das águas da classe estabelecida para o
corpo d’água receptor.
No Estado do Rio de Janeiro, a FEEMA é a instituição responsável pelo enquadramento dos
corpos d’água segundo o que determina a Resolução do CONAMA. Porém, a FEEMA também
apresenta algumas normas técnicas e diretrizes relativas aos padrões de lançamento de efluente
líquido. Algumas de interesse são citadas abaixo:
•
NT-202. R-10 - Critérios e padrões para lançamento de efluentes líquidos;
•
DZ-205. R-5 - Diretriz de controle de carga orgânica em efluentes líquidos de origem
industrial;
•
DZ-215. R-3 - Diretriz de controle de carga orgânica biodegradável em efluentes
líquidos de origem não industrial;
Esses padrões de qualidade, que são definidos por agências oficiais de âmbito estadual e
federal, visam definir a:
•
Quantidade de agentes poluentes que pode ser lançada num corpo receptor
(qualidade das águas residuárias) e;
•
Quantidade de agentes poluentes que pode estar contida num dado corpo receptor
(qualidade do corpo receptor).
4. AMOSTRAGEM E ESTOCAGEM
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Uma etapa importante na determinação dos parâmetros de qualidade nas águas residuárias
é a maneira como uma amostra é coletada e armazenada para posteriormente ser realizada a
análise. A amostragem é um processo pelo qual uma amostra é obtida e pode ser feita das
seguintes maneiras:
•
Amostragem pontual (simples): envolve a retirada de uma amostra do ambiente e
realizar a análise na mesma hora ou mais tarde no laboratório;
•
Amostragem contínua: monitoramento contínuo do parâmetro de interesse. Ex.
medidores de pH on line.
•
Amostragem composta: mistura de diversas amostras pontuais, geralmente coletada
no mesmo lugar, mas em diferentes tempos. São utilizadas para avaliar a
concentração média em um médio no qual a concentração pode variar com o tempo.
Ex. amostras pontuais são coletadas a cada 2 horas em um período de 24 horas e
colocado em um recipiente. A concentração da mistura reflete uma média de 24
horas.
Uma vez coletada e transportada para o laboratório a estocagem é fator importante para
manter a integridade da amostra. Os processos que podem ameaçar a integridade da amostra
são: reações químicas, reações biológicas, interação da amostra com o material do frasco.
Uma completa preservação de amostras de águas residuárias é praticamente impossível
porque a estabilização completa para todos os componentes nunca pode ser alcançada. Com
isso, amostragens e técnicas de preservação adequadas devem ser empregadas para retardar as
mudanças químicas e biológicas que ocorrerão após a coleta das amostras para posteriormente
serem analisadas. As metodologias de amostragem, armazenamento e preservação das amostras
para algumas análises são apresentadas não Tabela 2.
Tabela 2. Condições de amostragem e preservação das amostras para as análises (APHA, 1998).
MATERIA
L DO
FRASCOA
VOLUME
MÍNIMO DE
AMOSTRA
(ML)
TIPO DE
AMOSTR
AB
Alcalinidade
V, P
200
S
Cloreto
V, P
50
Condutividade
V, P
DBO
DQO
ANÁLISE
PRESERVAÇÃOC
TEMPO DE
ESTOCAGEM
MÁXIMO
RECOMENDADO
Refrigerar
1 dia
S, C
Não requerido
4 semanas
500
S, C
Refrigerar
4 semanas
V, P
1000
S, C
Refrigerar
1-2 dias
V, P
100
S, C
Analisar
imediatamente; ou
refrigerar e adicionar
7 dias
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H2SO4, pH<2
Fósforo total
V, P
100
S, C
Adicionar H2SO4,
pH<2 e refrigerar
4 semanas
Nitrato
V, P
100
S, C
Analisar o mais
rápido possível;
refrigerar
2 dias
Nitrito
V, P
100
S, C
Analisar o mais
rápido possível,
refrigerar
2 dias
Nitrogênio
Amoniacal
V, P
500
S, C
Analisar o mais
rápido possível; ou
refrigerar e adicionar
H2SO4, pH<2
7 dias
Nitrogênio
Kjeldahl
V, P
500
S, C
Refrigerar, adicionar
H2SO4, pH<2
4 semanas
V, frasco
de DBO
300
-
Analisar
imediatamente
Analisar
imediatamente
V
1000
C
Refrigerar, adicionar
H2SO4, pH<2
4 semanas
pH
V, P
50
S
Analisar
imediatamente
Analisar
imediatamente
Sólidos
V, P
200
S, C
Refrigerar
1 semana
Turbidez
V, P
100
S, C
Analisar no mesmo
dia; estocar no
escuro até 24 h,
refrigerar
1 dia
OD
Óleos e
Graxas
a
V = Vidro, P = Plástico (polietileno)
b
S = Simples, C = Composta
c
Refrigeração = estocagem a 4oC ± 2 oC
A seguir serão abordados os diversos parâmetros físicos, químicos e biológicos de
qualidade de água. Cabe ressaltar que os parâmetros abordados neste item podem ser de
utilização geral, tanto para caracterizar águas de abastecimento, águas residuárias, mananciais e
corpos receptores.
5. PARÂMETROS FÍSICOS DE QUALIDADE DE ÁGUAS E ÁGUAS RESIDUÁRIAS
As impurezas do ponto de vista físico estão associadas, em sua maior parte, aos sólidos
presentes nas águas residuárias. Estes sólidos podem ser em suspensão, coloidais ou
dissolvidos, dependendo do seu tamanho.
5.1. Sólidos
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Todos os contaminantes da água, com exceção dos gases dissolvidos contribuem para a
carga de sólidos. Os sólidos podem ser classificados da seguinte maneira:
 Em função das dimensões das partículas:
o
Sólidos em suspensão;
o
Sólidos coloidais e;
o
Sólidos dissolvidos.
 Em função da sedimentabilidade:
o
Sólidos sedimentáveis;
o
Sólidos flutuantes ou flotáveis;
o
Sólidos não sedimentáveis.
 Em função da secagem, a alta temperatura (550 a 600 °C):
o
Sólidos fixos;
o
Sólidos voláteis
 Em função da secagem, em temperatura média (103 a 105 °C):
o
Sólidos totais;
o
Sólidos em suspensão totais; e
o
Sólidos dissolvidos totais.
 Em função das características químicas
o
Sólidos orgânicos
o
Sólidos inorgânicos
i) Classificação por tamanho
A divisão dos sólidos por tamanho é, sobretudo, uma divisão prática. Por convenção, diz-se
que as partículas de menores dimensões, capazes de passar por um papel de filtro de tamanho
especificado correspondem aos sólidos dissolvidos, enquanto que as de maiores dimensões,
retidas pelo filtro são consideradas sólidos em suspensão. Em adição, os termos sólidos filtráveis
e sólidos não filtráveis também são utilizados (ou resíduos filtráveis e resíduos não filtráveis, como
utilizado pela FEEMA).
Numa faixa intermediária situam-se os sólidos coloidais, de grande importância no
tratamento da água, mas de difícil identificação pelos métodos simplificados de filtração em papel.
Nos resultados das análises de água, a maior parte dos sólidos coloidais entra como sólidos
dissolvidos, e o restante como sólidos em suspensão.
A Figura 2 mostra a distribuição das partículas segundo o tamanho. De maneira geral, são
considerados como sólidos dissolvidos aqueles com diâmetro inferior a 10-³ µm, como sólidos
coloidais àqueles com diâmetro entre 10-³ e 1 µm, e como sólidos em suspensão aqueles com
diâmetro superior a 1 µm.
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Figura 2. Classificação e distribuição dos sólidos em função do tamanho (Fonte: von
Sperling, 1996).
ii) Classificação pelas características químicas
Ao se submeter os sólidos a uma temperatura elevada (550 ºC) a fração orgânica é
volatilizada, permanecendo após combustão apenas a fração inorgânica. Os sólidos voláteis
representam, portanto uma estimativa da matéria orgânica nos sólidos, ao passo que os sólidos
não voláteis (fixos) representam a matéria inorgânica ou mineral.
A Figura 3 esquematiza os diversos tipos de sólidos e suas nomenclaturas.
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Cone de
Imhoff
Sólidos
Sedimentáveis
Amostra
Evaporação
ST
Filtro
(fibra de vidro)
Retido
Filtrado
Evaporação
Estufa 104±1°C
Evaporação
Estufa 104±1°C
SST
SDT
Mufla
550±50°C
Mufla
550±50°C
Resíduo
SSV
Resíduo
SSF
SDV
SDF
SFT
SVT
ST
ST = Sólidos Totais
SST = Sólidos Suspensos Totais ou Resíduo não Filtrável Total (RNFT)
SDT = Sólidos Dissolvidos Totais ou Resíduo Filtrável Total (RFT)
SSV = Sólidos Suspensos Voláteis ou Resíduo não Filtrável Voláteis (RNFV)
SSF = Sólidos Suspensos Fixos ou Resíduo não Filtrável Fixo (RNFF)
SDV = Sólidos Dissolvidos Voláteis ou Resíduo Filtrável Volátil (RFV)
SDF = Sólidos Dissolvidos Fixos ou Resíduo Filtrável Fixo (RFF)
SVT = Sólidos Voláteis Totais
SFT = Sólidos Fixos Totais
Figura 3. Diversos tipos de sólidos e nomenclaturas.
A seguir serão abortados os diferentes tipos de sólidos presentes em águas e águas
residuárias.
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a) Sólidos Totais (ST)
 Também conhecido como resíduos totais;
 É definido como todo o material sólido que permanece como resíduo após a evaporação
completa do líquido na amostra a 103-105 °C, pode s er classificado em:
o
Sólidos suspensos totais ou resíduos não filtráveis;
o
Sólidos dissolvidos totais ou resíduos filtráveis;
 Se este resíduo é calcinado a 600 °C, as substânci as orgânicas se volatilizam e as
minerais permanecem em forma de cinza, compondo assim respectivamente a matéria
sólida volátil (sólidos voláteis) e a matéria fixa (sólidos fixos);
 Origem: efluentes industriais e domésticos, erosão e infiltrações/influxo.
 A distinção de sólidos suspensos para sólidos filtráveis é determinada pela passagem de
um volume de líquido através de um filtro (filtro de fibra de vidro ou filtros de membranas
de policarbonato).
a.1)Sólidos Suspensos Totais (SST)
 É o resíduo que permanece num filtro após filtragem da amostra e pode ser subdividido
em:
o
Sólidos sedimentáveis: sedimentam após um período t de repouso da
amostra e podem ser removidos pela sedimentação.
•
Determinação: sólidos que sedimentam no fundo de um recipiente
cônico de 1 L chamando de Cone Imhoff em 60 minutos (veja Figura
4). A unidade de medição é mL/L.
o
Sólidos não sedimentáveis: somente podem ser removidos por processos de
coagulação, floculação e decantação.
 Importância:
Os sólidos em suspensão contidos no despejo tendem a se depositar no
fundo e nas margens do corpo receptor causando, em conseqüência da sua
decomposição anaeróbia, redução do teor de OD e aparecimento de odor
característico (presença de compostos sulfurados). Os sólidos depositados no
fundo do corpo receptor podem cobrir os locais de desova e criação dos peixes e
dessa forma inibem a propagação da fauna aquática superior enquanto que os
sólidos depositados nas margens comprometem a sua imagem para fins
recreacionais.
 Unidade: ppm (mg/L)
 Essa categoria de sólidos pode ainda ser classificada com base de sua volatilidade a 550
± 50°C. A fração orgânica será oxidada e irá se des prender na fase gasosa, e a fração
inorgânica permanece nas cinzas, assim os sólidos suspensos pode ainda ser:
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o
Sólidos Suspensos voláteis (SSV): conteúdo orgânico dos sólidos suspensos
o
Sólidos suspensos fixos (SSF): conteúdo inorgânico dos sólidos suspenso. A
decomposição dos sais inorgânicos se restringe ao carbonato e magnésio, o
qual se decompõe em óxido de magnésio e dióxido de carbono a 350°C.
Figura 4. Cone de Imhoff usado para determinar os sólidos sedimentáveis.
a.2) Sólidos Dissolvidos Totais (SDT)
 A fração de sólidos dissolvidos totais pode ser dividida em:
o
Sólidos Dissolvidos: material que passa através do filtro. Consiste de
moléculas orgânicas e inorgânicas e íons que estão presentes em solução.
•
Origem:
–
Orgânica: tais sólidos podem, quando passíveis de oxidação,
reduzir a concentração de OD no corpo receptor e podem
ainda emprestar ao corpo receptor odor e sabor não
recomendáveis.
–
Inorgânica: sais inorgânicos estão, invariavelmente, presentes
nos efluentes e dessa forma podem acarretar os seguintes
problemas: corrosão na tubulação e equipamentos; e formação
de depósito de óxidos insolúveis.
o
Sólidos Coloidais: consiste de material particulado com um faixa de tamanho
de aproximadamente de 0,001 a 1 µm. Não pode ser removido pela
sedimentação.
•
Geralmente,
oxidação
biológica
ou
coagulação,
seguido
pela
sedimentação, é requerida para remover essas partículas da
suspensão.
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5.2. Cor:
 Conceito: Responsável pela coloração na água.
 Forma do constituinte responsável: Sólidos dissolvidos (matéria em solução na água).
 Origem Natural: Decomposição da matéria orgânica (principalmente vegetais – ácidos
húmicos e fúlvicos) e presença de ferro e manganês.
 Origem Antropogênica: Devido ao descarte de efluentes industriais (ex. tinturaria,
tecelagem, curtume, produção de papel e corantes e composto corados) e efluentes
domésticos.
 Importância:
È de interesse em relação as aspecto estético. Assume importância
particular quando se objetiva o reuso do esgoto tratado, ou quando o efluente
tratado é lançado em corpos d’água onde os aspectos estéticos ou de recreação
são mais importantes.
Se for origem natural, não representa risco direto à saúde, mas para os
consumidores, o aspecto pode ser desagradável. Além disso, nos processos de
tratamento de água, como a cloração, podem gerar o problema de formação de
produtos cancerígenos, os chamados trihalometanos, devido a presença da matéria
orgânica dissolvida responsável pela cor.
Se de origem industrial, pode ou não apresentar toxicidade.
As substâncias responsáveis pela cor, em um corpo receptor, absorvem a
radiação solar de curto comprimento de onda (luz visível) impedindo a sua
penetração na água e em conseqüência disso, reduz a fotossíntese das espécies
vegetais clorofiladas existentes nos corpos receptores (particularmente as algas). A
principal fonte de oxigênio no corpo receptor é justamente a ação fotossintética,
através da quais os vegetais consomem o CO2 dissolvido na água e liberam o O2.
 Utilização mais freqüente do parâmetro: Caracterização de águas de abastecimento
brutas e tratadas.
 Unidade: uH (Unidade Hazen – padrão de platina-coblato) ou UC (unidade de cor)
 Interpretação dos Resultados:
Deve-se distinguir entre cor aparente e cor verdadeira. No valor de cor
aparente pode estar incluída uma parcela devido a turbidez. Que pode ser
removida por centrifugação obtendo-se assim, a cor verdadeira.
Em termos de tratamento e abastecimento público de água:
4Valores de cor da água bruta inferiores a 5 uH usualmente dispensam
coagulação química; valores superiores a 25 uH usualmente requerem a
coagulação química seguida por filtração;
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4Águas com cor elevada implicam em um mais delicado cuidado
operacional no tratamento da água;
4Ver Padrão de Potabilidade.
Em termos de corpos d’ água:
4Ver Padrão de Corpos d’água.
5.3. Turbidez
 Conceito: Representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água,
conferindo uma aparência turva à mesma.
 Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão. (matéria em suspensão)
 Origem Natural: Partículas de rocha, argila e silte. Além de algas e outros
microrganismos.
 Origem Antropogênica: devido a descarte de efluentes industriais e domésticos,
microrganismos e erosão.
 Importância:
È de interesse em relação as aspecto estético. Assume importância
particular quando se objetiva o reuso do esgoto tratado, ou quando o efluente
tratado é lançado em corpos d’água onde os aspectos estéticos ou de recreação
são mais importantes.
Se for origem natural, não traz inconvenientes sanitários diretos. Porém, é
esteticamente desagradável na água potável, além, de que os sólidos em
suspensão podem servir de abrigo para microrganismos patogênicos.
Se de origem antropogênica, pode estar associada a compostos tóxicos e
organismos patogênicos.
Em corpos d’água, pode reduzir a penetração da luz, prejudicando a
fotossíntese.
 Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas e no controle
da operação das estações de tratamento de água.
Avaliação do efluente tratado secundário e terciário, principalmente quando
for submetido à desinfecção por UV.
 Unidade: uT (unidade de turbidez – unidade de Jackson ou nefelométrica)
 Interpretação dos Resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água:
4Numa água com turbidez igual a 10 uT, ligeira nebulosidade pode ser
notada; com turbidez igual a 500 uT, a água é praticamente opaca;
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4Valores de turbidez da água bruta inferiores a 20 uT podem ser
dirigidas diretamente para a filtração lenta, dispensando a coagulação química;
valores superiores a 50 uT requerem uma etapa antes da filtração, que pode ser a
coagulação química ou um pré-filtro grosseiro;
4Ver Padrão de Potabilidade.
Em termos de corpos d’ água:
4Ver Padrão de Corpos d’água.
Em geral, não há uma relação entre a turbidez e a concentração de sólidos
suspensos em um efluente.
5.4. Temperatura
 Conceito: Medição da intensidade de calor.
 Origem Natural: Transferência de calor por radiação, condução e convecção (atmosfera
e solo).
 Origem Antropogênica: Descarte de águas de torres de resfriamento e efluentes
industriais.
 Importância:
Influi em algumas propriedades da água (densidade, viscosidade, oxigênio
dissolvido), com reflexos sobre a vida aquática.
Elevações da temperatura aumentam a taxa de reações químicas e
biológicas (na faixa usual de T). Maior temperatura do corpo receptor implica em
maior consumo de oxigênio dissolvido no corpo receptor em vista da maior
atividade química e bioquímica;
Elevações da temperatura diminuem a taxa de transferência de gases (O2
dissolvido);
Elevações da temperatura aumentam a taxa de transferência de gases (o
que pode gerar mau cheiro, no caso da liberação de gases com odores
desagradáveis).
Essa elevação de temperatura reduz a eficiência dos equipamentos de troca
térmica que usam as águas do corpo d’água no processo e nas trocas térmicas;
Variação da temperatura do despejo coletado pela rede de esgoto urbano
(doméstico e pluvial) tem efeito pronunciadamente deletério na operação das ETE;
Ocorrência de estratificação da água com a conseqüente redução do OD na
camada superficial do corpo receptor fazendo com que a fauna aquática migre para
regiões onde os níveis de OD sejam mais compatíveis com as suas exigências
metabólicas. Essa redução de OD na água à temperatura mais elevada, faz com
que o corpo receptor tenha reduzido a sua capacidade de autodepuração.
Tópicos Especiais I – Laboratório de Engenharia Sanitária
Temperaturas ótimas para atividade biológica são na faixa de 25 a 35°C.
Digestão aeróbica e nitrificação param quando a temperatura aumenta para 50°C.
Quando a temperatura baixa para 15°C, bactérias produtoras de metano tornam-se
inativas, e 5°C, as bactérias nitrificantes autrotóficas praticamente cessam de
funcionar. A 2 °C, até mesmo as bactérias quimoheterotróficas que atuam na
material carbonáceo tornam-se essencialmente inativas.
 Utilização mais freqüente do parâmetro: Caracterização de corpos d’água e de águas
residuárias brutas.
 Unidade: °C.
 Interpretação dos Resultados:
Em termos de corpos d’água:
4A temperatura deve ser analisada em conjunto com outros
parâmetros, tais como OD.
Em termos de tratamento de águas residuárias:
4A temperatura deve proporcionar condições para as reações
bioquímicas de remoção de poluentes.
4Ver Padrão de Lançamento de Efluentes.
5.5. Sabor e Odor
 Conceito: O sabor é a interação entre o gosto (salgado, doce, azedo e amargo) e o odor
(sensação olfativa).
 Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e gases
dissolvidos (H2S), os quais podem ser produzidos pelos microrganismos anaeróbicos que
reduzem sulfato a sulfito.
 Origem Natural: Matéria orgânica em decomposição, microrganismos (algas) e gases
dissolvidos (H2S).
 Origem Antropogênica: substâncias presentes em despejos industriais e domésticos e
gases dissolvidos (H2S).
 Importância:
Não representa riscos à saúde, mas consumidores podem questionar a sua
confiabilidade, e buscar águas de maior risco;
Representa a maior causa de reclamações dos consumidores.
Com o passar dos anos, O controle dos odores tem ganhado maior
importância no projeto, operação de coleta, tratamento e disposição dos efluentes.
A importância de odores em baixas concentrações em termos humanos
pode causar perda de apetite, debaixo consumo de água, respiração prejudicada,
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náuseas e vômito e perturbação mental. Em extremas situações, odores ofensivos
podem conduzir a deteriorização da pessoa e amor próprio da comunidade,
interferência com as relações humanas, baixo status sócio-econômico, e intimide o
crescimento. Podendo resultar no decline no valor da propriedade.
 Utilização mais freqüente do parâmetro: Caracterização de águas de abastecimento
brutas e tratadas.
 Unidade: Concentração limite mínima detectável.
 Interpretação dos Resultados:
4São importância à identificação e a vinculação com a origem do sabor e
do odor.
4Ver Padrão de Potabilidade.
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