Relação Enfermeiro - Idoso, Crenças e Valores
Cuidar é muito mais que um ato; cuidar é uma atitude. Requer
conhecimento, responsabilidade mas também afetividade entre quem
cuida e quem usufrui dos nossos cuidados.
O mundo tem assistido ao envelhecimento da população idosa com
preocupação, daí que, o ano de 2012, tenha sido eleito o Ano Europeu do
Envelhecimento Ativo e da Solidariedade Social entre Gerações. Uma europa
envelhecida representa vários desafios nomeadamente para os sistemas de
saúde e para o nível de vida após a reforma, certos de que, todos os cidadãos
têm o direito de envelhecer com saúde e autonomia, continuando a participar
plenamente na sociedade enquanto cidadãos ativos.
O envelhecimento, um processo natural…
Envelhecer é um processo natural e deve ser considerado uma experiência
positiva, pois é rico em momentos únicos e diferentes.
Envelhecer é ter a oportunidade de viajar através das lembranças, boas ou
más,
e
reviver
momentos
significativos que se passaram no
percurso da vida.
Envelhecer é deixar como herança
para as gerações mais novas o
conhecimento
e
razão
qual
pela
a
experiência,
deve
ser
valorizado;
Envelhecer é manter-se guardiã da
família,
da
compartilhando
comunidade,
experiências
e
aconselhando os mais jovens.
Além de muitas outras coisas, os idosos mantém a responsabilidade de
continuar a sua história de vida, que se cruza normalmente com a de outras
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pessoas, independentemente da idade que estas apresentem e da profissão
que desempenham.
A busca por um envelhecimento saudável, além de ser um desafio, necessita
ser encarado como uma oportunidade, daí a importância dos cuidados de
enfermagem, na prevenção e promoção da saúde, na maximização da
autonomia, observando e respeitando as capacidades e potencialidades dos
idosos, reforçando os aspetos positivos, tendo em atenção os fatores de risco a
que estão sujeito.
As mudanças relativas ao envelhecimento requerem não só, cuidados de
estimulação e de manutenção das capacidades que as pessoas ainda
possuem, mas também, a Compreensão por parte dos técnicos de saúde de
que são seres únicos, envolvidos num contexto próprio, com dificuldades e
necessidades específicas.
O Enfermeiro no cuidado ao idoso
Cuidar um idoso nem sempre é tarefa fácil nem arbitrária, pois exige a
coordenação de diversos fatores pessoais, profissionais e institucionais,
proporcionando condições para satisfazer as suas necessidades básicas. Para
tal é necessário partilhar atitudes como sejam a empatia, a aceitação, o
compromisso, a consciência e competência. Estes atributos caracterizam o
cuidado de enfermagem pois permitem colocar em ação um conjunto de
saberes e recursos oriundos de diferentes áreas. Implica assim, um saber
responsável e assertivo.
No meu percurso profissional, tenho vivenciado sentimentos de alegria e
satisfação, onde os idosos partilharam comigo o nascimento dos netos, a
cura na doença, mas também outros de pesar e angustia (a morte do
companheiro(a), a falta de dinheiro para a aquisição de medicamentos ou até
alimentos básicos), onde as lágrimas deram lugar ao sorriso, onde o gesto deu
lugar às palavras, onde apesar de tudo existe sempre uma luz que brilha e um
desejo em continuar a Ser e Fazer melhor.
Os Enfermeiros são pessoas de sentimentos e emoções, por vezes
sabemos que não é fácil lidar com o sofrimento dos outros e quantas vezes no
nosso dia-a-dia, precisamos encarar e lidar com a pobreza, a tristeza e até a
morte de quem cuidamos.
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Mas é através da realização de atos humanos que cada um de nós é capaz de
ir descobrindo em si e nos outros os valores e a felicidade e ao longo dos anos
vivenciei algumas experiências onde os mais velhos ensinaram-me que a
sabedoria é não ter medo de errar, que a experiência vale mais que mil
enciclopédias, que as rugas carregam anos de vida e sofrimento e que um
sorriso, mesmo que breve, representa para quem cuida o maior
agradecimento que alguma vez podemos ter.
A pessoa idosa deve ser ajudada a encontrar ela própria a sua independência,
participando na discussão, implementação e organização de novos projetos,
mas muitas vezes, são as famílias a primeira linha de suporte na prestação de
cuidados, e cabe-nos a nós Enfermeiros, identificar as suas reais dificuldades e
necessidades, treinando, educando e essencialmente valorizando o empenho e
sobrecarga a que muitas vezes estão sujeitos.
O envolvimento, a empatia e a cumplicidade existente entre idoso, familia e
enfermeiro são o motor principal no sucesso dos cuidados de enfermagem e
ganhos em saúde.
Esta intervenção do enfermeiro, exige disponibilidade, interesse, espírito crítico
e prudência, muitas vezes até desvalorizado por alguns…,
Cada idoso é um mundo de saberes, de vivências e cultura, acumulados
em vidas plenas, um legado para as gerações futuras…
Escutar é mais do que falar, e no desenvolvimento da minha profissão como
Enfermeira na área da geriatria, tenho muitas vezes que ser apenas ouvinte…
pois os utentes têm necessidade de falar de si próprios, dos seus problemas e
necessidades…. Tento sempre criar um ambiente de empatia, de apoio, de
ajuda; Estou apenas presente, escuto e respeito. Muitas vezes a nossa
presença é suficiente; os idosos sentem e sabem que estamos lá…
Tenho constatado que a comunicação humana não precisa necessariamente
do uso de palavras; muitas vezes só requer o exercício do silêncio, pois estar
com o outro, preocupar-se com e pelo outro, procurar que não lhe falte
nada … constitui a essência da ética do cuidar.
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Gostaria ainda de realçar o quanto as consultas de Enfermagem aos idosos
são gratificantes, pois contribuem para um enriquecimento pessoal e
profissional
incalculável…é
também
no
meu
entender
uma
grande
responsabilidade e um compromisso poder estar presente e muitas vezes fazer
parte integrante (directa ou indirectamente) das histórias de vida de outras
pessoas que depositam em nós um objectivo para” continuarem a lutar”.
O empenho e dedicação colocados ao serviço dos outros (na nossa profissão,
ou noutros organismos por exemplo de solidariedade social) contribuem para o
crescimento e maturidade a nível pessoal e profissional. Saber que cumprimos
o nosso potencial como pessoas, profissionais e cidadãos é caminhar para o
desenvolvimento pleno dos nossos ideais.
Por tudo o que tenho aprendido com os idosos que fazem parte da minha vida
e a todos os que se cruzaram no meu caminho, o meu obrigado.
Ana Dulce Sousa, Enfermeira Especialista.
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