The Phenomenological Mind
an introduction to philosophy of mind and cognitive scienc
Shaun Gallangher and Dan Zahavi
Capítulo 4:
TEMPO
Iraneide Castro
Pense sobre como nós vivenciamos o mundo.
Navegação temporal
“ Vivemos num mundo coerente e significativo porque somos capazes de
navegar através de um fluxo de experiência sem nos perdermos – e nossas
habilidades como nos mover pelo espaço e de nos relacionarmos no mundo
social dependem amplamente de nossa navegação temporal “
O que aconteceria se as estruturas temporais de
nossa experiência fossem interrompidas?
Cegueira de movimento ou agnosia de movimento
http://www.metacafe.com/watch/358665/motion_induced_blindness/
Um mundo sem movimento?
Objetos congelados?
Na vida diária todos sabemos que temos uma experiência
direta de mudança e persistência (continuidade)
A continuidade temporal parece absolutamente essencial para que nossa
experiência cotidiana faça sentido
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Uma fenomenologia da consciência de tempo
A micro-estrutura da consciência e da consciência de si
Consciência de tempo e teoria de sistemas dinâmicos
A consciência de um processo temporal é em si mesma
temporalmente estendida?
Historicidade
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Memória: A memória não é uma simples faculdade da mente,
ela é composta por uma variedade de processos distintos e
dissociáveis.
memória episódica; memória de trabalho; memória de procedimento;
memória semântica...
O que motiva a distinção entre diferentes tipos de memória?
fenomenológica e conceitualmente
neuropatologia e achados de imagens cerebrais
Os efeitos devastadores dos vários transtornos da memória servem para
ilustra que a temporalidade e certas estruturas temporais são essenciais
para a experiência, para percepção e para ação.
Pela análise do tempo obteremos acesso as estruturas
concretas da subjetividade - Merleau-Ponty, 1962
O que é esta estrutura temporal e como ela funciona?
1. As experiências nunca ocorrem isoladas
2. Não estamos frente a um mero agregado de átomos temporais
3. O fluxo da consciência é um conjunto de experiências unificadas no
tempo e além do tempo, sincrônica e diacronicamente.
4. Temos que dar uma explicação satisfatória para esta unidade e
continuidade temporal
5. Somos capazes de lembrar experiências anteriores e reconhecê-las
como próprias
6. Somos capazes de perceber a duração de objetos e eventos tais como
canções e frases
De que maneira a consciência se estrutura para que ela esteja
consciente de algo como a identidade no tempo?
Como as nossas experiências presentes e processos cognitivos
são modelados e influenciados conjuntamente por nossas
experiências passadas, nossos projetos futuros e expectativas?
Se fossemos conscientes somente do que está presente de forma
perceptível para nos aqui e agora, como poderíamos perceber os
objetos estendidos temporalmente? (não imaginados, lembrados
ou julgados)
Passado
Objeto temporal
Consciência
Futuro
a
b
c
d
A
B
C
D
Uma consciência contínua
Considerações:
 uma mera sucessão de fases conscientes não provê uma
consciência de sucessão
 para se perceber realmente um objeto como continuo ao
longo do tempo, as fases sucessivas de consciência devem
de alguma forma serem unidas experencialmente
Principle of Simultaneous Awareness - Dainton,2000
“eu estou ciente simultaneamente de mais do que apenas a fatia
presente de um objeto temporal”
Objeto temporal
Consciência
a
b
c
d
A
B
C
D
Principles of simultaneous awareness
Considerações:
 A percepção de um objeto temporal não é em si mesma estendida
(stretched out) no tempo, mas momentânea.
 Postulamos um ato momentâneo de percepção porque se ele fosse
estendido teríamos que nos confrontar com o problema de que consciência
duradoura não é uma consciência de duração.
 Quando estamos conscientes de algo temporalmente estendido, algo
que inclua o passado imediato, a consciência em si mesma deve
conseqüentemente estar localizada no presente, deve ser momentânea.
 A sucessão, para ser apreendida como sucessão, deve ser apreendida
como uma totalidade numa consciência (awareness) momentânea única;
uma consciência que está localizada no puro agora compreendido como
um ponto ou instante.
Principles of simultaneous awareness
diferentes versões
O problema da repetição dos conteúdos - dubbed
Objeto temporal
Consciência
Do
Re
Mi
C
D
Os conteúdos apreendidos pelos atos momentâneos de consciência
são em si mesmos simultâneos com o ato momentâneo
Uma vez que diferentes fatias temporais de um objeto estendido
temporalmente não são simultâneas, que hipótese explicaria esta
percepção considerando que a fatia atual do objeto é percebida e
a anterior não está mais presente?
REPRESENTAÇÃO
Uma genuína percepção de um processo temporal é impossível.
Nossa consciência de uma seqüência temporal é sempre
representacional.
Por esta versão do Princípio da Simultaneous Awareness o mesmo
conteúdo nunca é dado duas vezes da mesma maneira, ou seja, em
cada momento ele é dado como: agora, passado imediato, passado
ulterior, etc.
A questão que se coloca: Uma descrição que negue que temos uma
experiência direta de mudança e sucessão pode ser satisfatória?
Um modelo alternativo que tenta fazer justiça a forma pela qual nós
experimentamos as coisas, baseado na fenomenologia de Husserl
Uma Fenomenologia da consciência de tempo
Se a nossa percepção fosse restrita a estar consciente daquilo que existe
agora, seria impossível perceber qualquer coisa com extensão temporal
e duração - nossa consciência de alguma forma pode abarcar mais do que
é dado agora – ela deve ser consciente daquilo que acabou de ocorrer e do
que está para ocorrer imediatamente. Então, como ela atuaria?
Imaginação ou memória – faculdades que nos permitiriam transcender o
agora
Para Husserl precisamos distinguir entre mudança e duração vivenciada
diretamente de uma mera imaginação e lembrança. A seu modo de ver,
nós temos u ma apresentação intuitiva de sucessão. Existiria uma diferença
fenomenológica manifesta entre ver um movimento, ouvir uma melodia
e lembrar ou imaginá-los.
Para Husserl, a razão pela qual nós percebemos melodias é porque a consciência
está estruturada para permitir esta apresentação temporal. Quando eu estou
experimentando alguma coisa, cada momento de consciência não desaparece no
momento seguinte mas é sustentado em uma ocorrência intencional, constituindo
uma coerência que estica além da duração temporal experimentada.
A unidade básica da presença vivida não é um fio de navalha mas um
“duration-block”, um campo temporal que compreende todos os três
modos temporais: presente, passado e futuro (James, 1950)
C
D
rC
E
F
rD
rE
rrC
rrD
rrrC
A estrutura temporal da Consciência segundo Husserl
1. Impressão primal – estritamente circunscrita a fatia do objeto
correspondente ao momento presente (now-slice of the object). É
acompanhada da retenção para possibilitar a percepção temporal
do objeto.
2. Retenção – ou aspecto retentivo. Provê a consciência da fatia do
objeto no tempo imediatamente expirado (just-elapsed sliceof the object),
fornecendo um contexto temporal direcionado ao passado à
impressão primal.
3. Protensão – ou aspecto protensivo. De uma forma mais ou menos
indefinida intenciona a ocorrência da fatia do objeto provendo,
conseqüentemente, um contexto temporal orientado para o futuro para
a impressão primal
Considerações:
É o aspecto protensivo da consciência que nos provê da antecipação de algo
por ocorrer.
A protensão provê a experiência de surpresa. A percepção de uma nota
tocada errada na nossa melodia favorita.
A retenção não é algo que percebamos em particular na consciência. Nós
ouvimos a nota que acabou de ser tocada como recém tocada porque ela
está retida. Não se trata de uma reverberação e sim da consciência de algo
recém ocorrido.
Ela não retém conteúdos fisicamente presentes e sim o senso do que acabou
de ocorrer conscientemente. Ela é uma forma de intencionalidade peculiar.
É diferente da memória episódica, pois ela torna presente o passado, nos
provê com uma apreensão intuitiva direta daquilo que acabou de ocorrer.
Qualquer momento de percepção está inserido no contexto (embedded) de
um horizonte temporal.
Uma sucessão de estados conscientes não garantem a consciência de sucessão.
“Qualquer percepção da fatia de um objeto no momento presente inclui
uma retenção da fatia imediatamente anterior e uma protensão da que
está para ocorrer” Husserl, 1966
A consciência é a geração de um campo do momento presente vivido.
Protention-primal impression-retention structure of consciousness
A micro-estrutura da consciência e da
consciência de si
RETENÇÃO E PROTENSÃO




Componentes intrínsecos de
qualquer experiência
corrente
Passivas (involuntárias)
Processos automáticos sem
deliberação
A retenção é uma intuição de
algo ausente
RECORDAÇÃO E EXPECTATIVA


Pressupõe o trabalho de
retenção e protensão
A recordação é uma
representação no momento
presente de um evento
ocorrido no passado não
apresentado como ocorrendo
no presente
 A retenção e a protensão são condições a priori de possibilidade
para a existência da síntese de identidade na experiência.
 A síntese temporal é uma pré-condição para a síntese perceptiva
que envolve a integração semântica.
 A consciência de tempo deve ser considerada como condição de
possibilidade para a percepção de qualquer objeto.
 As investigações de Husserl não buscam explicar apenas como
podemos estar conscientes de uma unidade estendida no tempo mas
também como a consciência unifica a si mesma através do tempo.
 Existe um continuum retentivo que estende para trás através da
experiência prévia.
 Ao mesmo tempo que eu estou consciente de uma melodia eu estou
co-consciente (co-aware) da minha experiência de andamento da melodia
através da estrutura retentiva da experiência.
Aspectos da continuidade retentiva:
1. “Intencionalidade longitudinal” ( Längsinntentionalität) de retenção
estabelecida para a unificação intencional da consciência em si mesma.
2. “Intencionalidade transversa” (Querintentionalität) de retenção - Uma
vez que a consciência da fase anterior de um objeto contém sua impressão
primal do objeto experimentado, a continuidade da experiência daquele
objeto fica estabelecida.
O sentimento de antecipação implicitamente determina que as experiências
que terei serão vivenciadas por mim, ou seja a protensão envolve um senso
antecipatório do que eu estou para fazer ou experimentar.
É a consciência de si pré-reflexiva, implícita e não observável
que permite com que a experiência seja sentida como parte do
meu fluxo de consciência. O senso de propriedade ou da
qualidade de minha (mineness) para a experiência envolve
uma meta-cognição de segunda ordem, não reflexiva.
A análise das descrições de Husserl para a estrutura da
consciência de tempo interna (protention-primal impressionretention) deve ser compreendida como uma análise da microestrutura da consciência de si pré-reflexiva. Ela é denominada
consciência de tempo interna por pertencer a estrutura mais
interna do ato em si mesmo. E não há geração do regresso
infinito (infinite regress).
Consciência de Tempo e Teoria de Sistemas
Dinâmicos
O Processo protensivo-retentivo como um sistema dinâmico da
constituição de si (self-organizing dynamical system) .
Van Gelder, 1999; Varela, 1999
• Cada experiência cognitiva a partir do comportamento perceptivo-motor
para o raciocínio humano surge através da participação simultânea de várias
funcionalidades distintas de regiões topograficamente distribuídas do cérebro
e sua corporificação sensório-motora.
• A integração destas diferentes contribuições neuronais compreende um
processo que é melhor entendido como uma integração de três diferentes
escalas de duração (Pöppel 1988, Varela 1999, Varela et al. 1981).
Consciência de Tempo e Teoria de Sistemas Dinâmicos
1. Escala elementar (a escala 1/10, variando entre 10 e
100 milissegundos.
2. Escala integração (a escala 1, variando a partir 0.5 a 3
segundos .
3. Escala narrativa envolvendo memória (a escala 10)
• A quantidade mínima de tempo necessária para dois estímulos serem
considerados como não simultâneos é uma evidência para a primeira
escala – a escala elementar.
• Esta estrutura de tempo corresponde neurofisiologicamente ao ritmo
celular intrínseco de descargas neuronais com a estrutura de 10 a 100
milissegundos. Estes processos são integrados na segunda escala –
a escala de integração.
• A escala de integração corresponde a experiência do momento presente
vivido, uma operação cognitiva normal que do ponto de vista da neurofisiologia envolve uma integração de células distribuídas em subconjuntos de neurônios com conexões fortes e recíprocas. Varela 1995;
Varela et al 2001.
• A organização de si decorrente dos processos de integração neuronal
que se manifestam num nível global como ação cognitiva ou
comportamento não é uma abstração computacional e sim um
comportamento corporificado sujeito a condições iniciais (fazer e ter
feito) e parâmetros não específicos. Gallangher e Varela 2003,...
A emergência de qualquer ato cognitivo requer a coordenação
rápida de muitas capacidades diferentes (atenção, percepção,
memória, motivação, e assim por diante) e um sistema neural
amplamente distribuído que as auxiliam. O substrato neurofisiológico para esta coordenação em larga escala , supõem-se
ser um subconjunto de neurônios distribuídos com fortes
conexões recíprocas.
Thompson, 2007
Os dados e os modelos dinâmicos do processo de sincronização
integrada demonstram o surgimento de novos subconjuntos de
neurônios que irão definir a trajetória do sistema. Cada nova
emergência a partir da anterior, de uma maneira determinada por
suas condições iniciais e limites, corresponde, a nível fenomenológico,
a estrutura temporal retenção.
As condições iniciais e os limites são definidos pelo contexto da ação
corporificado vivencial, comportamento ou ato cognitivo.
Os sistemas biológicos tem como característica básica de funcionamento
a instabilidade. Esta instabilidade corresponde ao andamento peculiar
do fluxo formal da experiência. Neste aspecto que a estrutura temporal
fenomenológica protensão tem um papel importante no movimento do
fluxo. No nível neurológico o tipo de mecanismo que subjaz a protensão
é pensado em termos de um processo amplamente distribuído e dinâmico.
A protensão está relacionada a tonalidade afetiva subjetiva refletida da
situação corporificada e contextualizada.
Exemplificando:
No início de uma ação cognitiva intencional , como: se eu decidir procurar
por um objeto particular no meio ambiente, eu provoco uma transformação
carregada pela disposição afetiva que antecipa a mudança na percepção.
Na antecipação de uma determinada experiência, eu introduzo parâmetros
exógenos que alteram a geometria do espaço-fase.
A estrutura temporal da experiência , especificamente a em direção à retaguarda
e para adiante, olhando “o momento presente”, depende da maneira com que o
cérebro analisa dinamicamente sua própria atividade. Thompson, 2007
A consciência de um processo temporal é em
si mesma temporalmente estendida?
O tempo objetivo do relógio faz justiça ao tempo que nós
realmente experimentamos?
Pense na maneira pela qual os mesmos 30 minutos podem ser vivenciados na
dependência de você estar ansioso, aborrecido ou fascinado.
O paradoxo do tempo onde o “agora” muda e permanece
o mesmo
• O tempo é sempre o “agora” e em relação a este agora existe sempre
um passado e um futuro. Esta estrutura do tempo não muda. Ainda
que um agora siga um outro agora e que qualquer agora em particular
mova-se em direção ao passado...
• McTaggart - Série A (passado – presente – futuro) – uma experiência
psicológica de sucessão que envolve um constante tornar-se.
Série B (antes – agora – depois) – uma sucessão que
mantém uma relação permanente entre os eventos.
Para muitos autores a idéia de tempo é contemplada na série B, pois a
Série A não é objetivamente real e sim um fenômeno subjetivo ou
Psicológico.
“... o fluxo dos modos de consciência não é um processo; a
consciência do agora não é em si mesma agora. A retenção
que existe” junto” com a consciência do agora não é ‘agora”,
não é simultânea com o agora e não faria sentido dizer que
ela é.” Husserl, 1966
A experiência temporal não é um objeto ocorrendo no tempo, nem é
Meramente uma consciência do tempo, ela é em si mesma uma forma
de temporalidade . Faz sentido atribuir predicados temporais ao tempo
em si mesmo?
As relações entre protensão, impressão primal e retenção não são relações entre
itens alocados dentro do fluxo temporal; antes, essas relações constituem o fluxo
em questão. Resumindo, nos devemos distinguir os objetos que são constituídos
como objetos temporais pela forma que eles estão estruturados pela protensão,
retenção e impressão primal a partir da relação entre as estruturas constituintes
da consciência.
A partir da perspectiva da 1ª pessoa faz sentido dizer que eu
tenho uma experiência de alegria ou uma percepção de uma
flor, que estas experiência têm uma duração , que agora
cessaram e tornaram-se passadas. Faz sentido dizer que eu
posso me lembrar da experiência anterior – a estrutura da
protensão –primal impressão-retenção, ainda que o campo
da experiência que admite presença e ausência não possa em
si mesmo tornar-se passado e ausente para mim.
• Para os autores a noção de retenção é uma abstração descritiva
fenomenologicamente legítima preferível a uma solução teórica.
• Baseado na experiência e na descrição da audição de uma
melodia Husserl propôs a idéia de retenção como uma tentativa
para caracterizar aspectos desta experiência
• Para os fenomenologista a questão relevante é se esta abstração
(retenção) captura ou distorce a experiência.
Historicidade
A estrutura da consciência retentiva-primal impressiva-protentiva
(retentional-primal impressional-protentional) explica experiências
cotidianas como, p. ex., encontros breves e experiências passageiras,
porém em nossas vidas existe mais do que este tipo de experiência e
para a existência humana temporal mais do que a interação entre
protensões e retenções.
MEMÓRIA: Ela não é como fotos de família guardadas no álbum da mente
Schacter, 1996
Os fenomenologistas devem reconhecer a influência da memória implícita – aquelas
situações onde as pessoas são influenciadas por experiências passadas sem qualquer
consciência explícita que este seja o caso
A existência humana é caracterizada pela historicidade no sentido que o
horizonte temporal forma e modela o presente. A historicidade não
significa apenas que nós estamos localizados num certo ponto da história,
porém que carregamos nossa história conosco. Nossas experiências passadas
têm um efeito na maneira que compreendemos o mundo e as pessoas que
encontramos.
O tempo humano nem é o tempo subjetivo da consciência nem o tempo
objetivo do cosmos. Ele atravessa o espaço entre o tempo fenomenológico
e o cosmológico. O tempo humano é o tempo de nossa história. Ele é um
tempo narrado, um tempo estruturado e articulado pela mediação simbólica
das narrativa (Ricouer,1988)
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retenção - (LTC) de NUTES