Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
Certificate in Business Administration – CBA
José Eduardo Monteiro da Silva Gomes
SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
CONSTRUTORA E INCORPORADORA EVEN S.A.
São Paulo
2012
José Eduardo Monteiro da Silva Gomes
SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
CONSTRUTORA E INCORPORADORA EVEN S.A.
TCC
apresentado
ao
curso
CBA, como requisito parcial para a obtenção
do Grau de Especialista em Gestão de
Negócios do Insper Instituto de Ensino e
Pesquisa.
Orientador Prof. Cláudio L. Carvalho Larieira
Tipologia: Estudo de Caso
São Paulo
2012
GOMES, José Eduardo Monteiro da Silva. Sustentabilidade na Construção Civil –
Construtora e Incorporadora EVEN S.A. São Paulo, 2012, xxp. TCC – Certificate in
Business Administration, CBA, Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.
DESCRIÇÃO
Este trabalho tem por objetivo relatar como as empresas podem tratar problemas
ambientais através de um plano estratégico, o qual auxilia na análise quantitativa e
qualitativa dos ganhos oriundos das ações tanto para empresa quanto para a
sociedade sem esquecer os valores éticos, sociais e culturais.
OBJETIVO DE APRENDIZAGEM
Este trabalho tem como objetivos de aprendizado:
1. Como identificar e analisar os desafios e problemas relacionados à questão
da sustentabilidade em processos produtivos de modo a criar valor para a
sociedade, que por sua vez acabam por agregar valor a marca e produtos;
2. Discutir as boas práticas de sustentabilidade que podem ser utilizadas por
construtoras em sua cadeia de geração de valor;
3. Relacionar os fundamentos e teorias propostos pela academia à realidade do
cotidiano das empresas no tocante à sustentabilidade
Assuntos de cobertura: Construção, impactos sócios ambientais, sustentabilidade.
Publicação: Abril/ 2012
Sustentabilidade na Construção Civil – Construtora EVEN
José Eduardo Monteiro da Silva Gomes
Problema: Impacto sócio ambientais na construção civil.
Estudo de caso de uma empresa do setor de construção civil que
possui estratégia definida para mitigar os problemas relacionados aos
impactos sócios ambientais gerados por suas atividades, agregando assim
maior valor à marca.
“[1] Caso desenvolvido pelo aluno José Eduardo Monteiro da Silva Gomes do programa Certificate in
Business Administration, sob orientação do Prof. Cláudio Luis Carvalho Larieira. Nenhuma parte
deste caso pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive
fotocópia, gravação ou qualquer outro sistema de armazenamento, sem autorização por escrito do
Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106, 107 da lei 9610 de 19/02/1998”.
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Introdução à situação problema
O forte crescimento da economia brasileira e o déficit habitacional acumulado
nas ultimas décadas vem refletindo no aumento na demanda por habitações o que
vem refletindo em um crescimento desordenado e que por conseqüência vem
provocando grandes impactos sócios ambientais em função da falta de estrutura e
de políticas especificas por parte das construtoras e dos governos.
A cadeia produtiva da construção civil gera importantes impactos ambientais
em todas as suas etapas e, qualquer sociedade seriamente preocupada deve
colocar o aprimoramento da construção civil como prioridade a fim de minimizar
estes impactos.
Podem-se mensurar o volume dos problemas quando se analisa o enorme
peso do macro-complexo da construção civil na economia brasileira. Conforme
dados publicados no site do Sinduscon-Sp [1] em 2011 o crédito habitacional para
pessoa física atingiu R$ 200,5 bilhões em dezembro de 2011, o que representou
4,8% do produto interno bruto (PIB). Outro documento importante que posiciona o
setor é a pesquisa anual da indústria da construção (PAIC) que é elaborada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE [2]. O último ano consolidado
foi 2009, sendo possível verificar que as empresas do setor movimentaram R$ 199,5
bilhões e geraram uma ocupação direta de dois milhões de pessoas.
Complementando, a construção civil é um dos maiores consumidores de
matérias primas naturais como areia, brita, cal, ferro, entre outros. Estima-se que o
setor absorva algo entre 20 e 50% do total de recursos naturais consumidos pela
sociedade (SJÖSTRÖM, 1996) e por conseqüência é inevitável a grande geração de
resíduos. Desta forma torna-se relevante que qualquer política de sustentabilidade
deva necessariamente abranger o setor.
Este estudo de caso será baseado em uma empresa do setor da construção
civil brasileira com capital aberto que possui estratégias para mitigar os impactos
sócios ambientais relacionados às suas atividades com abrangência em seus
colaboradores, fornecedores, comunidades, governo, acionistas, clientes e demais
stakeholders.
“[1] http://www.sindusconsp.com.br”
“[2] http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/paic/2009”
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As metas e resultados de desenvolvimento sustentável desta grande empresa
são apresentados através de ações publicadas em seus relatórios de
sustentabilidade, segundo as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI).
Benefícios do Trabalho
Este trabalho tem como objetivo relatar as maneiras que o setor da
construção civil vem tratando os problemas relacionados à sustentabilidade bem
como apresentar as medidas e melhores práticas que estão sendo desenvolvidas e
aplicadas com êxito.
Definindo Conceitos
Existem várias definições para o termo desenvolvimento sustentável. Dentre
as muitas discuções que se tem a respeito deste assunto, o conceito mais utilizado é
o proposto pela WCED – World Comission on Environment and Development, o qual
definiu em 1987 que desenvolvimento sustentável é o conjunto de ações que
promove a satisfação das gerações presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de reunir e satisfazer suas próprias necessidades
Para compreender este conceito deve-se admitir o estabelecimento de limites,
limitar os impactos das tecnologias utilizadas, o estilo de organização social nos
recursos ambientais e ainda a capacidade da biosfera em absorver os efeitos das
atividades humanas.
Vamos analisar a sustentabilidade a partir das três principais dimensões que
a compõe: Ambiental, Social e Econômica, porém com um enfoque maior nas duas
primeiras.
Ambiental:
Vários autores como Manzini e Vezzoli, Sachs e Munasinghe definem a
dimensão ambiental, mas como resumo, todos indicam como principal fator a
utilização racional dos recursos naturais.
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“O conceito de sustentabilidade ambiental refere-se às condições sistêmicas
segundo as quais, em nível regional e planetário, as atividades humanas não devem
interferir nos ciclos naturais em que se baseiam tudo o que a resiliência do planeta
permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será
transmitido às gerações futuras” (MANZINI & VEZZOLI, 2005).
Para Sachs (1993), esta dimensão tem por objetivo a priorizar a utilização dos
recursos naturais que são renováveis e limitar o uso dos não renováveis além de
causar o mínimo de dano possível aos ecossistemas.
Munasingle (2007) considera que se deve monitorar até onde os recursos
naturais podem ser explorados e cita como exemplo e poluição e a perda da
biodiversidade, pois aumentam a vulnerabilidade não só dos sistemas ambientais
como também os sociais e econômicos.
Social:
A sustentabilidade social é um dos mais importantes setores para a mudança
nos panoramas da sociedade. O modo de vida pós-capitalista levou não apenas o
homem, mas também o próprio espaço urbano a degradações. A desigualdade
social, o uso excessivo dos recursos naturais por uma parte da população enquanto
a outra cresce desmedidamente são fatores que são extremamente combatidos no
âmbito da sustentabilidade social. Pode-se afirmar que a sociedade obedece a
relações intrínsecas com os outros setores de base da sociedade (acesso a
educação, desenvolvimento das técnicas industriais, econômicas e financeiras, além
dos fatores de ordem político e ambiental) então um primeiro passo que deve ser
tomado para a resolução dos agravantes sociais é justamente a responsabilidade
social e a agregação a sustentabilidade desses setores.
Sachs (1993) resume o objetivo da dimensão social como sendo a obtenção
da equidade na distribuição de renda para todos os habitantes.
A sustentabilidade social visa o bem-estar da sociedade de hoje e a de
amanhã em iguais medidas. Para que ela de fato se concretize é necessária grande
campanha de divulgação, instalada tanto pelas macroestruturas (setores políticos e
básicos) quanto por empresas que visem os projetos e a aplicação da mesma. A
mobilização social para esse fim também é um fator determinante para a melhora da
qualidade de vida.
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Tendo como base os conceitos de sustentabilidade apresentados, o próximo
passo é buscar uma definição de estratégia.
Econômica:
Uma das definições é a capacidade de produção, distribuição e utilização
equitativa das riquezas produzidas pelo homem.
Segundo Munasingle (2007) a dimensão econômica busca o bem estar
humano através da produção e consumo de bens e serviços.
No entanto, podemos contestar e acrescentar que hoje em dia a satisfação
dos indivíduos não é gerada somente pelo valor monetário dos produtos. A maioria
dos consumidores já possui uma consciência ambiental e sabem que não existirão
recursos a serem transformados em bens e serviços sem a manutenção e
conservação dos sistemas ambientais.
De acordo com a Global Reporting Inititive (2009) esta dimensão refere-se
aos impactos da organização sobre as condições econômicas de seus steakholdes e
sobre os sistemas econômicos em nível local, nacional e global. Os indicadores
econômicos ilustram o fluxo de capital entre diferentes steakholders e os principais
impactos econômicos da organização sobre a sociedade como um todo.
Uma consciência sustentável, por parte das organizações, pode significar
uma vantagem competitiva, se a mesma for encarada, em primeira mão, como uma
componente de uma só estratégia da organização, e não como “algo” que concorre
à parte, com “a estratégia” da organização, como fazendo parte da política de
imagem ou de comunicação.
Estratégia para sustentabilidade
Cada vez mais a sociedade vê empresas regionais ou globais como as únicas
instituições poderosas o bastante para responder na mesma escala os desafios que
o nosso planeta enfrenta (ADAM WERBACH). Não existem governos multinacionais,
mas há muitas empresas transnacionais que vêem como a limitação de recursos
afeta os mercados, consumidores, comunidades e habitat naturais.
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Toda a empresa deve reagir se é que esperam manter seus mercados e a
possibilidade do crescimento da sociedade. Os lideres empresariais cada vez mais
devem ficar atentos as conseqüências sociais, culturais e ambientais de longo prazo
de seus atos. Todo o setor deve estruturar suas atividades de modo a inseri-las num
contexto em que todos os fatores; social, ambiental e cultural fosse levado em conta.
Todas as empresas devem incluir em sua estratégia as questões de
sustentabilidade. O pensamento imediatista é endêmico, e muitas empresas estão
deixando de pensar no longo prazo. As empresas devem buscar inovação com
originalidade e planejar a execução de uma estratégia que leve em conta todos os
aspectos de sustentabilidade, mas que seja prática o bastante para ser implantada e
utilizada de imediato.
Elaborar e colocar em prática uma estratégia de sustentabilidade é
indispensável para a sobrevivência em um mundo que as mudanças são cada vez
mais rápidas. Uma estratégia bem elaborada para sustentabilidade é bem diferente
de ser uma empresa “verde”. Devem-se levar em conta cada dimensão do ambiente
em que a empresa atua e não somente o ambiente natural.
Sustentabilidade não pode ser utilizada somente como ações de promoção
pública. Empresas inteligentes usam a estratégia ambiental para alavancar suas
oportunidades
de
negócio
e
inovação.
Uma
estratégia
abrangente
para
sustentabilidade não se limita a aumentar receitas ou cortas custos, trata-se de
sobreviver e prosperar seguindo tendências emergentes da sociedade, na tecnologia
e nos recursos naturais.
Se bem empregada a sustentabilidade conduz a uma estratégia final de
economia de recursos, alcance de novos consumidores, e o dom de ganhar, manter
e aprimorar colaboradores, clientes e comunidade.
Não se pode confundir estratégia verde com estratégia de sustentabilidade. A
primeira visa a atingir objetivos de maneira rápida, porém no longo prazo não é
sustentável. Uma estratégia sustentável difere da estratégia verde em abrangência a
e propósito.
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Boas práticas e normas de desempenho
Hoje no setor da construção civil brasileira já é possível identificar as boas
práticas na gestão da sustentabilidade conforme pesquisa do autor. Entre várias
podemos destacar:
Ambiental
Separação, destinação adequada e/ou reuso dos resíduos;
Inventário de carbono e metas de redução;
Aproveitamento de condições naturais locais para concepção de projetos;
Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários;
Uso de matérias-primas que contribuam com a eco-eficiência do processo;
Redução do consumo energético;
Redução do consumo de água;
Utilização de materiais reciclados;
Econômica
Uso de técnicas racionais, métodos construtivos mais “limpos” e produtivos;
Social
Preocupação na qualificação de profissionais, melhores condições de
trabalho e segurança;
Mitigação dos impactos na comunidade e nos envolvidos indiretamente com
as intervenções das construções;
Educação ambiental: conscientização dos envolvidos no processo.
Além das boas práticas, a construção civil brasileira e regulamentada por
normas técnicas que estabelecem controle e critérios de desempenho das
edificações, porém as mesmas não apresentam um modelo eficaz de reutilização e
reciclagem dos materiais.
Somente para o controle de resíduos existem leis especificas. O Conselho
Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) aprovou através da resolução nº 307 de 05
de julho de 2002, critérios e procedimentos para a gestão de resíduos da construção
civil.
Além das boas práticas, torna-se importante também para a sustentabilidade
a questão temporal. Quanto mais tempo um edifício demorar em ser demolido, mais
tempo se levará para a retirada de novas matérias-primas na natureza para a
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substituição desse edifício, e também se levará mais tempo para que os resíduos
decorrentes da demolição sejam transportados, dispostos ou utilizados de alguma
forma. Assim, a análise do ciclo de vida de um edifício, compreendendo as etapas
de planejamento, implantação, uso, manutenção e demolição são fundamentais para
a avaliação do seu impacto ambiental no longo prazo. E, para que essa análise
possa ser feita, é fundamental o estabelecimento de uma metodologia para a
previsão da vida útil na fase de projeto.
Podemos afirmar que desempenho e sustentabilidade são conceitos
complementares e inseparáveis, sendo a vida útil o elo mais comum entre eles. Não
faz sentido falarmos em construção sustentável se não houver como pré-requisito o
atendimento de um nível de desempenho mínimo voltado às necessidades básicas
do ser humano, como conforto acústico, térmico, segurança estrutural, segurança
contra incêndio etc. Da mesma forma, devemos evitar a especificação de sistemas
construtivos que atendam aos requisitos de desempenho básicos, mas que
consumam muita energia, muita água e utilizem uma grande quantidade de matériaprima.
História da Organização
A Even S/A (figura 1) é uma companhia de incorporação e construção de
empreendimentos residenciais e comerciais, com atuação nas principais capitais
brasileiras; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre que
representam 61% do PIB interno (segundo censo do IBGE 2007). Seus produtos
atendem diversas faixas de renda.
A empresa teve origem na fusão, em 2002, da ABC Investimentos com a
Terepins & Kalili, fundadas em 1974 e 1980, respectivamente. Em 2007, foi aberto o
capital através de ações negociadas no novo mercado, nível máximo de governança
corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa).
Aliados a uma visão de desenvolvimento sustentável, o crescimento contínuo
desta empresa apresentado nos últimos anos é resultado de uma gestão ancorada
em capacidade própria de construção, e em uma consistente estratégia de
comercialização, com foco no resultado operacional e financeiro, no conceito
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arquitetônico diferenciado de seus empreendimentos e na confiança conquistada
perante os seus clientes.
Foi a primeira construtora residencial de capital aberto no Brasil a publicar o
relatório de sustentabilidade segundo as diretrizes da Global Reporting Initiative
(GRI) e a primeira e única empresa do setor a integrar a carteira do Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa (ver destaque), fato ocorrido
em 2009.
Estratégia de sustentabilidade da Even
Dentro deste cenário do setor, a Even, uma empresa que em quatro anos
apresentou um crescimento de 53,7 % em suas receitas (figura 2), por conseqüência
se deparou com a necessidade de um plano de gestão ambiental.
Para minimizar tais problemas, a empresa vem investindo em práticas
sustentáveis o que lhe permitirá criar uma base sólida para crescimento de suas
operações no longo prazo. Essas práticas estão refletindo em impactos positivos no
seu desenvolvimento de produtos, imagem e força da marca além de
proporcionarem eficiência produtiva e redução de custos.
Aspectos sociais também estão sendo aplicados tais como respeito à
cidadania, contratação e qualificação de profissionais, instalações adequadas à
necessidade dos trabalhadores nos canteiros, relacionamento com vizinhança e
ações de voluntariado.
Com esse plano estratégico a empresa vem buscando o aperfeiçoamento de
seus processos e produtos desde a criação até sua entrega.
Para implantação da estratégia de sustentabilidade, desde 2007 a Even vem
introduzindo conceitos e práticas de responsabilidade socioambiental nas rotinas da
empresa.
Em 2009 a empresa se dedicou a inserir a gestão da sustentabilidade em sua
estrutura interna e a incorporar as mudanças no modelo de negócios. Durante dois
anos houve a preocupação para implantação de conceitos e práticas de
responsabilidade socioambiental. Nesse período foram levantadas e analisadas as
atividades da empresa, pelo mapeamento das oportunidades e vulnerabilidades em
11
relação aos públicos de interesse e pelo processo de sensibilização e engajamento
de lideranças.
Após o diagnostico foram estabelecidas as prioridades e uma metodologia e
os planos de ação foram divididos entre grupos multidisciplinares organizados em
2008.
O Comitê de Responsabilidade Socioambiental, implantado em 2008, teve
entre suas responsabilidades conduzir de forma estruturada a transição para o novo
modelo. A esse comitê foram subordinados o Grupo Executivo e os Grupos de
Trabalho,
uma
estrutura
mantida
em
alinhamento
pela
Gerência
de
Responsabilidade Socioambiental. Todos os cargos foram exercidos com dedicação
parcial.
A área de obras da Even obteve avanços em inovação de técnicas
construtivas, nas relações com terceiros, em gestão de resíduos e em relações com
fornecedores e parceiros.
Como principais ações de inovação podemos citar a utilização de materiais
recicláveis durante a construção, parcerias de frete reverso, implantação em seus
projetos de sistemas direcionados para a redução do consumo de água e energia
entre outros.
Princípios da construção sustentável da Even
O projeto, a construção e a operação dos empreendimentos vêm passando
por um aprimoramento dos processos construtivos e das políticas que regem as
relações com os públicos de interesse, de forma a torná-los cada vez mais eficientes
e adequados aos três pilares da sustentabilidade – ambiental o social e o financeiro.
A Even inclui na avaliação de seu negócio a análise de aspectos ambientais,
sociais e financeiros em todas as etapas de um empreendimento. Realizam
investimentos para adequar suas operações aos padrões reconhecidos como
excelentes. Possuem as certificações internacionais NBR ISO 9001:2008 e PBQP-H,
que atestam o cumprimento de normas de excelência e os procedimentos
estabelecidos previamente. Adaptaram para suas obras uma parte dos indicadores
de sustentabilidade ambiental recomendados pelo Leadership in Energy and
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Environmental Design (Leed), como a limpeza e a organização dos canteiros e
entorno da obra, os cuidados para evitar contaminação do solo, a declaração de
destinação dos resíduos e o monitoramento mensal de consumo de água e energia.
Abaixo seguem algumas boas práticas já implantadas pela Even em suas
obras.
Ambiental:
- Separação, destinação adequada e/ou reuso dos resíduos
O controle da geração de resíduos é um dos maiores desafios da construção
civil. Pela natureza destas atividades, os materiais utilizados são heterogêneos e em
grande quantidade, o que torna extremamente complexo encontrar soluções para
evitar o desperdício e melhorar a destinação dos resíduos, que devem atender aos
requisitos básicos da responsabilidade ambiental – reduzir, reutilizar e reciclar.
Falta à cultura do setor imobiliário no país dedicar mais esforço ao
planejamento, de modo a evitar a extrema sobra de materiais nas obras. Em média,
segundo dados do estudo Alternativo para Redução de Desperdício nos Canteiros
de Obras, do Departamento de Engenharia de Construção da Escola Politécnica da
USP (2001), o setor desperdiça 56% de cimento, 44% de areia, 30% de gesso, 27%
dos condutores e 15% dos tubos de PVC e eletrodutos.
Nos empreendimentos Even, com a implantação do Sistema de Gestão
Ambiental, cujo processo de auditoria ambiental monitora, mede e define o destino
da maior parte dos resíduos gerados pelas obras, essa realidade é bem diferente.
Todas as empresas de transporte de entulhos contratadas pela Even precisam se
adequar ao sistema. Entre as exigências, as empresas devem apresentar as
licenças municipais e de despejo nos aterros públicos. Em 2009, o sistema de
gestão de resíduos permitiu que 100% dos resíduos fossem corretamente
descartados, sendo que 55% foram destinados à reciclagem ou ao reuso na
indústria.
Através da análise dos relatórios de gestão de resíduos, constatou-se que o
maior desperdício no processo construtivo se dá na execução das alvenarias e dos
revestimentos de argamassas. Em face do exposto, buscando o conceito do reuso,
foi implantada uma mini usina na própria obra – durante a limpeza diária dos
canteiros, os trabalhadores da obra separam o entulho sólido que será removido
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pelas empresas especializadas. Em seguida, encaminham os resíduos que
sobraram (pó, areia e pedrisco) para um equipamento apropriado para tritura e
lavagem dos componentes, que, misturados, transformam-se em argamassa. No
final do processo, é ensaiada, ensacada e lacrada para uso no próprio
empreendimento. O reuso dos resíduos elimina o custo com caçamba, diminui o
gasto com argamassa e melhora as condições do ar no local.
Gesso é outro material de alto impacto sobre o meio ambiente, de difícil
reciclagem e remoção mais cara. A Even tem como objetivo estudar uma
metodologia para diminuição dos resíduos através do uso de retardadores de pega
no momento da aplicação do material bem como a destinação dos resíduos gerados
para utilização em processo produtivo de outra indústria.
Outra medida importante foi às parcerias com fornecedores de materiais para
compartilhar a responsabilidade pela destinação final de produtos e processos pósconsumo. Por exemplo, providenciar o recolhimento das embalagens de papelão e
plástico e o envio para reciclagem, além de trocar as embalagens individuais por
conjuntas. O acordo teve avanços em 2009 para os segmentos de louça sanitária,
tintas e fechaduras.
A parceria da Even para gestão de resíduos tem o objetivo de solucionar uma
dificuldade crucial nesse quesito – separar por tipo e medir todo o entulho sólido
produzido pelas obras. O sistema adotado em seus empreendimentos possibilita
identificar em detalhes a composição dos resíduos, estabelece metas precisas para
a redução do desperdício e da destinação correta a cada um. Com esses dados,
torna-se possível envolver os responsáveis pelos canteiros para que, além de
transformar em rotina a separação do entulho, exerçam o consumo responsável dos
materiais.
- Inventário de carbono
A Even já publica através do deu site o inventários de carbono de suas
atividades, porém ainda não apresentou suas metas de redução.
- Aproveitamento de condições naturais locais
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Dentre de alguns aspectos que a Even prioriza em seus projetos quanto ao
aproveitamento das condições naturais podemos citar a instalação de sistemas de
aquecimento solar e a utilização de telhados verdes.
- Matérias-primas que contribuam com a eco-eficiência do processo
Outro material de grande importância é a madeira. Devido à conveniência e
ao custo fazem com que ela seja largamente utilizada no setor de construção civil.
Retirada da Amazônia, de forma muitas vezes ilegal, acaba servindo de matériaprima para fôrmas de concreto, andaimes e outras estruturas utilizadas nos
canteiros. Desde 2007, a Even adota medidas para diminuir o consumo desse
material em suas obras, substituído por materiais reutilizáveis e madeira de
reflorestamento certificada no processo produtivo.
Atualmente, a difusão das boas práticas entre os fornecedores da Even
contribui para equiparar o preço dos produtos de madeira certificada que utilizam ao
preço dos produtos não certificados.
Em 2009, avançaram na prática de utilizar madeira de reflorestamento e/ou
certificada no processo produtivo e foram à primeira construtora a solicitar a
homologação de todas as obras, após fazer o cadastramento no Ministério do Meio
Ambiente, para operar com o Documento de Origem Florestal (DOF).
Esse certificado obrigatório, concedido em 2009 para dez empreendimentos
da Even, garante a rastreabilidade da madeira que utilizam e a confiabilidade das
madeireiras com que trabalham. A regularização do DOF se soma à iniciativa de
exigir dos fornecedores de portas o certificado emitido pelo organismo internacional
Forest Stewardship Council (FSC), ou Conselho de Manejo Florestal. O selo de
alcance internacional é uma garantia de que toda madeira usada na fabricação de
portas seja proveniente de áreas florestais de manejo sustentável.
- Métodos de controle no consumo de água e energia elétrica
A Even mantém programas de uso racional de água e energia durante todo o
processo construtivo do empreendimento, monitorando o consumo e procurando
conscientizar seus nossos colaboradores e parceiros sobre a questão. De toda a
água utilizada nas obras pela Even, em um total de 153.788 m³ (2009), 100% é
destinada para a rede pública de esgotos.
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Em seus projetos também é visível a busca de eficiência energética. Timers e
sensores de presença proporcionam a iluminação setorizada das áreas comuns dos
empreendimentos, acionada e desligada automaticamente e os elevadores possuem
motores de alto desempenho tudo com foco na redução do consumo de energia.
Para reduzir o consumo de água em seus empreendimentos pós entrega, a
construtora instala em todo o empreendimento bacia sanitária com caixa acoplada
com duplo acionamento. A renegociação de preço com o fabricante tornou possível
a adoção do sistema em larga escala, o que possibilita uma economia de água de
cerca de 40% em relação ao modelo convencional.
Econômica:
- Técnicas racionais, métodos construtivos mais “limpos” e produtivos
Buscando também reduzir a geração de resíduos foram implantados alguns
processos construtivos mais racionais.
1º - Assentamento dos revestimentos de cerâmicas e azulejos diretamente sobre a
parede, sem o uso de argamassa para regularização das superfícies.
2º - O sistema hidráulico desenvolvido é instalado em um vão-livre, de fácil acesso, e
não embutido na parede. Além de diminuir a produção de entulho, antes na obra e
depois na manutenção, o modelo de “shafts visitáveis” facilita futuras reformas nas
unidades.
3º - Utilização de alvenaria estrutural em grande parte de seus projetos. Além da
redução de resíduos o método construtivo utiliza menor quantidade de aço e cimento
e conseqüentemente o produto final acaba gerando menos emissão de carbono.
Social:
1 - Preocupação na qualificação de profissionais, melhores condições de
trabalho e segurança;
Um dos pontos críticos para o setor imobiliário encontra-se no canteiro de
obras. Por seu caráter transitório, característica indissociável do modelo de negócio
do setor, apresenta as situações de maior fragilidade na atuação das empresas em
relação ao ambiente de trabalho e à qualificação da mão de obra, entre outros
aspectos. Para a Even, construir de forma sustentável significa também garantir aos
trabalhadores contratados em regime de terceirização as condições de trabalho que
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respeitem a integridade de cada um e reforcem sua dignidade, autoestima e
desenvolvimento pessoal.
Todos os canteiros seguem um padrão de organização, limpeza e cuidado
ambiental na manutenção do espaço da obra, nos equipamentos de convivência e
higiene e nos benefícios disponibilizados para os trabalhadores. Nos espaços de
vivência, as mesas em fórmica são reutilizáveis em novas obras e os banheiros
contam com chuveiros aquecidos a gás, que reduzem o consumo de energia
elétrica. Os trabalhadores recebem toalhas limpas todos os dias ao chegar ao
trabalho e dispõem de sabonete líquido nos banheiros, assim como protetor solar.
Têm acesso a consultas médicas, exames e fornecimento de medicamentos, e,
regularmente, o médico da Even visita as obras e coordena campanhas de
vacinação.
Os colaboradores e os terceiros nas obras mantêm uma rotina semanal de
treinamento. Os temas abordados seguem os conceitos dos 5S aplicados no dia a
dia da construção e versam sobre seleção de resíduos, limpeza da rua, segurança
do trabalho, coleta seletiva etc. Para quem começa a trabalhar, há o treinamento de
integração, atualizado anualmente. Em vigor desde 2006, o curso aborda a gestão
de segurança no trabalho, os valores da empresa sob a diretriz da sustentabilidade,
o respeito aos direitos humanos e o tratamento digno a todos os públicos de
interesse da empresa.
Desde 2006, desenvolvem o Projeto Escola, destinado a colaboradores e
prestadores de serviço nos canteiros de obra e implantado em parceria com o SESI
e com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon). Abrangendo o
conteúdo da 1a à 4a séries do Ensino Fundamental, o curso tem duração de quatro
meses e acontece nos próprios canteiros, como forma de facilitar o acesso dos
trabalhadores. Mais de 200 pessoas se formaram e receberam o certificado de
conclusão do Ministério da Educação. Cerca de 130 estavam em formação no final
de 2009. Além das aulas regulares, o curso inclui atividades culturais, como idas ao
cinema e passeios a locais históricos. Em 2009, o programa, existente em nossas
unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi estendido para Minas Gerais.
Desde 2005, as práticas de sustentabilidade e as questões de segurança nos
canteiros de obra são responsabilidades diretas dos gestores técnicos e sua equipe.
O cumprimento das normas é monitorado pela auditoria geral e faz parte do
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programa de remuneração variável de toda a equipe da obra. As metas incluem a
apresentação de iniciativas inovadoras, tanto para aperfeiçoar o processo
construtivo quanto para identificar boas práticas que possam ser multiplicadas em
outras obras. A auditoria também fiscaliza se as empreiteiras contratadas pela Even
cumprem as normas e as políticas estabelecidas pela empresa. Um item específico
do programa de remuneração variável ao qual está atrelada a meta de bônus dos
engenheiros é a permanência dos colaboradores das empresas contratadas na
escola até a conclusão do curso básico.
Análise de resultados
A implantação de um sistema de gestão sustentável com a participação da
alta direção está sendo benéfica a empresa. Seus colaboradores estão cada vez
mais envolvidos, os clientes já têm conhecimentos dos diferenciais dos produtos
além do reconhecimento de terceiros através de prêmios e divulgações na mídia.
Ainda não é mensurável o nível dos ganhos financeiros que são decorrentes
desse formato de gestão, mas é fato que a empresa está se consolidando na
vanguarda do setor quanto à questão é inovação e sustentabilidade.
Conclusão
As
grandes
construtoras
representam
um
importante
fator
de
desenvolvimento econômico da sociedade, pela capacidade de gerar empregos
diretos e indiretos e de movimentar uma ampla cadeia produtiva. Por outro lado, a
construção civil, com seus produtos, figura entre as atividades mais agressivas ao
bem-estar social e ao equilíbrio ambiental, em razão dos impactos causados à vida
urbana e do excessivo consumo de matérias-primas, água e energia.
Dentro das ações estabelecidas pela Even é possível analisar de forma global
que a grande maioria de suas ações está tendo êxito e refletindo na consolidação da
empresa como uma das mais sustentáveis do setor, porém ainda não é possível
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mensurar os ganhos financeiros dessa estratégia com base em dados divulgados no
mercado.
Este estudo de caso mostra que a Even, tem consciência das consequências
negativas que suas operações podem causar e tem buscado adequar sua atuação
aos princípios da construção sustentável. O projeto, a construção e a operação dos
seus empreendimentos vêm passando por um aprimoramento dos processos
construtivos e das políticas que regem suas relações com os públicos de interesse,
de forma a torná-los cada vez mais eficientes e adequados aos três pilares da
sustentabilidade – ambiental, social e o financeiro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ADAM WERBACH, Estratégia para sustentabilidade, Elsevier editora, 2010
JOSÉ ELI da VEIGA, Sustentabilidade. A legitimação de um novo valor, Editora
SENAC São Paulo 2010.
JOSÉ LIMA DE ALBURQUERQUE, Gestão ambiental e responsabilidade social,
Editora Atlas São Paulo 2009
MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos
sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
MUNASINGLE, Mohan. Making Development More Sustainable (1st Edition).
2007.
SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI - desenvolvimento
e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel/Fundap, 1993.
SJÖSTRÖM, Ch.
Durability and sustainable use of building materials. In:
Sustainable use of materials. J.W. Llewellyn & H. Davies editors. [Londonl
BRE/RILEM, 1992]
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ANEXOS
Figura 1 – Planilha com informações corporativas
Fonte: Internet – site oficial da Cia
Figura 2 – Gráfico com demonstrações financeiras dos últimos exercicios
Fonte: Internet – site oficial da Cia
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Insper Instituto de Ensino e Pesquisa José Eduardo Monteiro da