Profetizar - Dom José Alberto Moura, Arcebispo de Montes Claros (MG) Fala-se e sente-se muito em relação aos “ossos do ofício” no desempenho das obrigações de quem assume um cargo, um trabalho ou uma missão. A de profetizar inclui, e muito, ousadia, coragem e confiança naquele que dá essa missão. Profetizar é proferir ou falar e comunicar o que Deus manda. Aliás, é missão de toda pessoa que vive sua fé no Filho de Deus. Pelo batismo toda pessoa cristã se torna discípula e missionária de Jesus. Ele mandou: “Ide e ensinai a todos o que vos mando” (Marcos 16,15). Acontece que a fala de Deus e suas exigências confrontam com quem possui a mentalidade e a prática de vida mundanas e materialistas. Mesmo quem tem certa base e prática religiosa pode não ser coerente com sua religiosidade e ser quem mostre fé na oração e na liturgia, mas não une fé com vida. Neste caso, fora dessas manifestações religiosas a pessoa não testemunha sua fé. Mostra-se injusta, desonesta e corrupta. Usa de cargos de modo incoerente com a ética. Profetizar no meio político exige fibra moral e tenacidade, bem como estrita coerência para não se deixar corromper. Sua preparação se dá não só no campo intelectual e acadêmico ou na prática de liderança em seu meio. Requer espiritualidade para ser testemunha da verdade, da coerência no querer servir o povo que o elegeu, ter ideal, desprendimento e retidão moral. O profeta Amós foi advertido pelo sacerdote Amasias: “Sai e procura refúgio em Judá, onde possas ganhar teu pão e exercer a profecia, mas em Betel não deverás insistir em profetizar, porque aí fica o santuário do rei e a corte do reino” (Amós 7, 12-13). Apesar disso, Amós obedeceu ao mandato que Deus lhe deu. Não vacilou e foi profetizar, para dizer aos mandatários que superassem as atitudes contrárias ao bem do povo, para a implantação da verdade e da justiça. É assim que deveria ser a atitude das pessoas que exercem o verdadeiro profetismo e têm moral para defender a causa da verdade e do bem do povo. Os políticos eleitos para todos os cargos deferiam ter a hombridade de realmente fazer leis e administrar a coisa pública conforme o que é justo moral e socialmente, não aceitando fazer leis e não administrando contrariamente aos valores humanos e éticos. Cobrar propinas para fazer essa ou aquela lei, dar propina para aprovarem o que o administrador quer fazer, até em detrimento do bem público, deveriam ser combatidos por todos os que têm dignidade moral. Quem assume a missão de profetizar, ou seja, dar o exemplo de vida coerente com os valores humanos, éticos e cristãos, bem como defendê-los e apresentá-los aos outros, no seu contexto de família, trabalho, cargo e missão, sabe ter disponibilidade para servir e até se sacrificar em bem da causa abraçada. Jesus orientou seus discípulos para irem e comunicarem a todos os valores de quem quer viver uma vida de sentido e depois receber de Deus o prêmio de seu esforço. Aliás, o prêmio já vem aqui na terra, com a alegria de ter cooperado com o bem do semelhante. Ele advertiu que nem todos estão dispostos a aceitar o enunciado profético dos discípulos, em detrimento dos próprios interesses, que rejeitam a verdade e o bem do que é comunicado: “Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles” (Marcos 6, 11). De fato, o Filho de Deus é exigente, mas apresenta o caminho único que dá o resultado da realização humana plena. O tesouro por Ele prometido vale muito mais do que o dinheiro e a glória efêmera de quem é louvado. A dignidade de quem tem grandeza de caráter e realiza a missão de cooperar com a vida digna do semelhante é muito maior e duradoura. O ganho material e de louvor efêmero humano é muito fugaz. O galardão de quem deixa marca de justiça e de amor na vida presente, tem repercussão eterna. Isso também é profetizar! Fonte: CNBB