FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO:
SENTIDOS DA DESCENTRALIZAÇÃO
Lêda Maria Gomes
Brasília – DF, Julho de 2014
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO:
SENTIDOS DA DESCENTRALIZAÇÃO
Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília,
vinculado à linha de pesquisa de Políticas Públicas e Gestão
da Educação Básica, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação
da Professora Dra. Maria Abádia da Silva.
Brasília-DF, julho de 2014
GOMES, Lêda Maria. A gestão da educação básica: sentidos da descentralização.
Dissertação Mestrado Acadêmico. Universidade de Brasília. UnB. 2014
A GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO
SENTIDOS DA DESCENTRALIZAÇÃO
Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora
da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília,
vinculado à linha de pesquisa de Políticas Públicas e Gestão
da Educação Básica, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação
da Professora Dra. Maria Abádia da Silva.
Aprovado:
Brasília /DF, Julho de 2014.
Banca Examinadora
Professora Dra. Maria Abádia da Silva
Orientadora – Universidade de Brasília (UnB-FE)
Professora Dra. Marília Fonseca
Examinadora Interna – Universidade de Brasília (UnB-FE)
Professora Dra. Eliza Bartolozzi Ferreira
Examinadora Externa – Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Professor Dr. José Vieira de Sousa
Examinador Suplente – Universidade de Brasília (UnB-FE)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos que acreditam na educação e nos
processos educativos como possibilidade de transformação e
caminhos para conquista de novos direitos e àqueles que
escolheram a participação sócio-política como travessia e
oportunidade para institucionalizar a defesa de interesses da
sociedade na esfera da educação pública.
AGRADECIMENTOS
Professora Maria Abádia da Silva pela paciência, contribuição e seriedade acadêmica
que conduziram a construção desta pesquisa, pela crítica aos adjetivos (que eram
muitos) e por acreditar que, por meio do conhecimento, do estudo, a transformação
torna-se possível, assim como acreditava Heráclito de Éfeso (535 - 475 a.C) "A única
coisa que não muda é que tudo muda."
Programa de Pós Graduação da Universidade de Brasília, pela oportunidade de ampliar
minha visão de mundo, provocando-me acadêmica e profissionalmente para melhor
atuar como servidora do Ministério da Educação, pelo espaço de construção do
conhecimento, e pela oportunidade de estudar e melhor compreender os vários
sentidos e concepções que a gestão pode assumir.
Professores José Vieira por ajudar-me a problematizar sobre as questões do Estado e
sobre suas implicações na definição das políticas públicas sociais e à Professora
Marília Fonseca, por entusiasmar-me, motivar-me com sua irreverência e alegria no
tocante ao estudo e à reflexão das políticas da educação e seus desdobramentos na
gestão educacional.
MEC, na pessoa do professor Francisco das Chagas Fernandes por ter-me concedido
licença para capacitação e assim prosseguir cursando o segundo ano deste mestrado
acadêmico.
Professor Arlindo Queiroz, por sua generosidade, por ter levado para o MEC, em 2003,
experiência e perspectiva de uma gestão compartilhada e participativa, portanto
democrática. Por ter-me incentivado a cursar este mestrado em educação, pelas
críticas e contribuições.
Colegas do MEC e demais colegas do Programa de Pós graduação em Educação da
Universidade de Brasília, pela oportunidade de aprendizado, pelas brincadeiras e
carinhos vivenciados, pelas trocas de saberes que nos levaram ao crescimento e
superação.
Professor Beno Sander (in memorian), pela sua generosidade. No mês de janeiro de
2014 enviou-me parte de suas produções acadêmicas, referentes ao planejamento
educacional.
Mãe pela vida e por ter-me trazido à vida em sociedade, por sua força, alegria,
espiritualidade e principalmente vontade de viver, hoje com seus 85 anos.
Pai (in memorian) pelo exemplo de homem trabalhador e por ter-me ensinado que o
homem dignifica-se, tanto pelo esforço quanto pelo trabalho realizado.
Alex da Silveira, por acreditar em mim, mesmo quando eu não acreditava, por
incentivar-me e apoiar-me incondicionalmente, por ser a luz norteadora deste processo
cheio de incertezas e de angustias, inerentes à travessia, pelas críticas e contribuições.
Joselma Assis, pelas contribuições e pelas pesquisas realizadas no IBGE e INEP e pelo
apoio nos meus momentos de aperto.
Lélia Gomes, pelas conversas e aluguel de ouvido nos momentos de ausência de luz,
pelas críticas e contribuições.
Higia Gomes, por ter realizado o trabalho de transcrição das falas dos conselheiros e
gestores entrevistados.
Amigos e amigas pelo apoio às minhas escolhas e principalmente pela compreensão
por não ter podido estar presente em muitos momentos de confraternização e
celebração da vida.
Conselheiros do conselho municipal de Educação de Valparaíso de Goiás e aos
gestores da Uncme e do MEC que participaram de maneira significativa para o
desenvolvimento e reflexão desta pesquisa.
Eric Alberto Lima de Oliveira pela revisão e correção de português ortográfica e
gramatical do texto.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização deste estudo.
“Eu atravesso as coisas — e no meio da travessia não vejo!
— só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada.
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um
rio a nado, e passa;
mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo,
bem diverso do que em primeiro se pensou (...)
o real não está na saída nem na chegada,
ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...”
(Rosa, 2001, p. 51).
GOMES, Lêda Maria. A gestão da educação básica no município: sentidos da
descentralização. Dissertação Mestrado Acadêmico. Universidade de Brasília. UnB.
2014
RESUMO
Este estudo elege como objeto a gestão da educação básica no município de Valparaíso de
Goiás e prioriza a relação do Conselho Municipal de Educação - CME com a Secretaria
Municipal de Educação - SME no processo de elaboração e/ou revisão do Plano Municipal de
Educação - PME, período de 2007 a 2013. Tem como objetivo geral analisar a gestão da
educação por meio do processo de elaboração e/ou revisão do PME à luz da Constituição
Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996), e do
Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/2001). As categorias de análise são: gestão,
participação e descentralização. Foram escolhidas como forma de relacionar o objeto e o
resultado da pesquisa empírica. A metodologia considerou dois processos: a análise da
legislação municipal que estruturou o sistema de ensino de Valparaíso de Goiás e a realização
de nove entrevistas semiestruturadas, 7 (sete) com conselheiros do CME de Valparaíso de
Goiás e 2 (duas) com gestores da Uncme e do Ministério da Educação. A dissertação está
estruturada em 3 (três capítulos). O primeiro capítulo discorre sobre os marcos históricos que
orientaram a elaboração de planos de educação, evidenciando os momentos que influenciaram
a descentralização para os municípios. O segundo aborda o município ao tornar-se ente
federado, analisando os processos de descentralização via municipalização e seus
desdobramentos na gestão da educação básica. O capítulo contextualiza ainda política de
formação continuada de conselheiros municipais de educação, criada em 2003, pelo Ministério
da Educação. O terceiro capítulo apresenta características gerais do sistema de educação do
município de Valparaíso de Goiás e os resultados da pesquisa de campo. Esta dissertação
chegou aos seguintes resultados a) Em Valparaíso de Goiás, com a promulgação da
Constituição Federal de 1988, não só ocorreu a possibilidade de descentralização da matrícula,
mas também a possibilidade de reorganização da gestão municipal, no entanto, a elevação da
matrícula municipal não correspondeu necessariamente à ampliação da qualificação dos
serviços educacionais e ao fortalecimento da gestão; b) A confluência de três acontecimentos:
- emancipação de Valparaíso de Goiás; - a descentralização de matrícula para o município; - o
ordenamento jurídico nacional influenciou a organização do sistema municipal de ensino e a
forma de gestão implementada; c) continuidade de formação continuada para conselheiros e
gestores, como forma de contribuir com o fortalecimento da capacidade de gestão municipal,
associado ao fortalecimento da participação popular e ao controle social; d) elaboração e
implementação do Plano Municipal de Educação de forma coletiva, por meio do Conselho
Municipal de Educação ou outras instâncias que representam as vozes e os anseios da
sociedade; e) a concepção de um SNE que assume o sentido da descentralização como
processo de participação social e que reconhece o poder local; f) redefinição do projeto
federalista brasileiro, no que concerne à repactuação do poder decisório entre os entes que
compõem a federação. Assim os Municípios, de fato, poderão assumir autonomia relativa de
ente federado e deixarão de ser apêndices de outras instâncias de poder.
Palavras-Chave: Gestão da Educação; descentralização; plano municipal de
educação; conselho municipal de educação; Pró-Conselho.
GOMES, Lêda Maria. A gestão da educação básica no município: sentidos da
descentralização. Dissertação Mestrado Acadêmico. Universidade de Brasília. UnB.
2014
ABSTRACT
This study elects as its object the management of basic education in the municipality of
Valparaíso de Goiás and prioritizes the relation of the Municipal Education Council CME with the Municipal Secretary of Education - SME in the process of elaborating and/
or revision of the Municipal Education Plan - PME , from 2007 to 2013. It has as main
objective to analyze the management of education through the development and / or
revision of PME under the law of the 1988 Federal Constitution, the Law of Guidelines
and Bases of National Education (Law 9.394/1996 process ), and the National Education
Plan (Law 10.172/2001). The categories of analysis are: management, participation and
decentralization. They were chosen as a way to relate the object and the result of
empirical research. The methodology considered two cases: the analysis of municipal
legislation which structured the education system of Valparaíso de Goiás and
conducting nine semi-structured interviews, seven (7) directors with the CME of
Valparaíso de Goiás and two (2) with the managers and Uncme Ministry of Education.
The dissertation is divided into 3 (three chapters). The first chapter discusses the
historical landmarks that have guided the development of education plans, highlighting
the moments that influenced decentralization to municipalities. The second discusses
the municipality to become federated entity, analyzing the processes of decentralization
and municipalization via its developments in the management of basic education. The
chapter also contextualizes the continuing education of municipal councilors education
policy, created in 2003 by the Ministry of Education. The results of this dissertation are
a) In Valparaíso de Goiás, with the promulgation of the Constitution of 1988, it occurred
not only the possibility of decentralizing the registration, but also the possibility of
reorganization of the municipal administration, however, the elevation of the municipal
registration did not necessarily correspond to the expansion of the qualification of
educational services and the strengthening of management; b) The confluence of three
events: - emancipation of Valparaíso de Goiás; - Decentralization of registration to the
municipality; - National law influenced the organization of municipal education system
and how to implement management; c) the continuity of continuing education for
directors and managers, as a contribution to strengthening the capacity of municipal
administration, coupled with the strengthening of popular participation and social control;
d) development and implementation of the Municipal Education Plan collectively,
through the City Board of Education or other bodies that represent the voices and
aspirations of society; e) designing a SNE who takes the meaning of decentralization
as a process of social participation and recognizing the local government; f) redefinition
of the Brazilian federalist project, regarding the renegotiation of decision-making among
the entities making up the federation. Thus, in fact, may assume autonomy on the
federal entity and will become appendages of other instances of power.
Keywords: Management Education, decentralization, municipal education plan,
municipal school board, the Council Head.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AELAC
Associação de Educadores Latino - Americanos e do Caribe
ANDE
Associação Nacional de Educação
ANDES
Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior
ANFOPE
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação
ANPAE
Associação Nacional de Política e Administração da
Educação
APEOESP
Associação dos Professores do Estado de São Paulo
BID
Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD
Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento
BM
Banco Mundial
CAED/PT
Comissão Nacional de Assuntos Educacionais do Partido dos
Trabalhadores
CAFISE
Coordenação de Articulação e Fortalecimento Institucional
dos Sistemas de Ensino
CEE-GO
Conselho Estadual de Educação
CF/88
Constituição Federal de 1988
CME
Conselho Municipal de Educação
CNE
Conselho Nacional de Educação
CNTE
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
CONAE/10
Conferência Nacional de Educação de 2010
CONDISEF
Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais
CONEB
Conferência Nacional de Educação Básica
CONED
Congresso Nacional de Educação
CONTEE
Confederação
Nacional
dos
Trabalhadores
em
Estabelecimentos de Ensino
DASE
Departamento de Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino
DRU
Desvinculação das Receitas da União
EC
Emenda Constitucional
FASUBRA
Federação
de
Sindicatos
de
Universidades Brasileiras Federais
FJP
Fundação João Pinheiro
Trabalhadores
das
FMI
Fundo Monetário Internacional
FNDEP
Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
FNE
Fórum Nacional de Educação
FUNDEB
Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação e Valorização do Magistério
FUNDEF
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério
FUNDESCOLA
Fundo de Fortalecimento da Escola
GESTAR
IBGE
Programa Gestão da Aprendizagem Escolar
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
INEP
Instituo Nacional de Pesquisas Educacionais
IPEA
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LDB
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MARE
Ministério da Administração e Reforma do Estado
MEC
Ministério da Educação
MST
Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
OCDE
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMC
Organização Mundial do Comério
PAC
Programa de Aceleração do Crescimento
PDE
Plano de Desenvolvimento da Educação
PDE-Escola
Programa de Desenvolvimento da Escola
PL
Projeto de Lei
PLC
Projeto de Lei Complementar
PME
Plano Municipal de Educação
PND/NR
Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República
PNE
Plano Nacional de Educação
PNUD
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPGE
Políticas Públicas e Gestão da Educação
PRASEM
Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação
PRÓ-CONSELHO
Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros
Municipais de Educação
SASE
Secretaria de Articulação dos Sistema de Ensino
SEB
Secretaria de Educação Básica
SEE-GO
Secretaria Estadual de Educação
SEIF
Secretaria de Educação Infantil e Fundamental
SINASEFE
Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação
Básica e Profissional
SME
Sistema Municipal de Ensino
UBES
União Brasileira de Estudantes Secundaristas
UEX
Unidade Executora
UnB
Universidade de Brasília
UNCME
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação
UNDIME
União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação
UNE
União Nacional dos Estudantes
UNESCO
Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura
USAID
Agência
Norte-Americana
Internacional
para
o
Desenvolvimento
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Número de alunos matriculados por dependência administrativa – Valparaíso de
Goiás – rede municipal/estadual/privada – 1998 a 2013...............................................................49
Tabela 2 - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb..............................................50
Tabela 3 - Número de Alunos Matriculados – Valparaíso de Goiás..............................................81
Tabela 4 - Matrícula da Educação Infantil e Ensino Fundamental..............................................110
Tabela 5 - Matrícula Pré-Escola Estadual e Municipal, por região administrativa......................111
Tabela 6 - Matrícula Ensino Fundamental - Brasil, Centro-Oeste, Goiás e Valparaíso de Goiás.....112
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sujeitos escolhidos para a Pesquisa.............................................................................17
Quadro 2 - Município de Valparaíso de Goiás: Prefeitos e Secretários de Educação...................48
Quadro 3 - Pró-Conselho - Material didático .................................................................................71
Quadro 4 - Código dos conselheiros e gestores entrevistados......................................................78
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. Proposição do objeto de investigação.......................................................................01
2. Justificativa e problematização.................................................................................04
3. Relevância social, política e acadêmica...................................................................08
4. Objetivos: geral, específicos e questões .................................................................14
5. Aspectos metodológicos e instrumentos de levantamento dos dados empíricos....15
5.1 Algumas reflexões sobre o método científico em educação...................................15
5.2 Sobre: sujeitos, instituições e critérios de escolha.................................................16
6. Estrutura da dissertação..........................................................................................18
CAPÍTULO 1
Marco histórico e legal nas políticas de elaboração de planos de educação......20
1.1.
Concepções de Planos de Educação:1934, 1937 e 1961.............................20
1.2.
Constituição Federal de 1988 e as novas atribuições dos municípios...........27
1.3.
Influência de organismos internacionais na gestão da educação básica do
país entre 1990 e 2013..................................................................................30
1.4.
Fundef - Lei nº 9.424/1996 e Fundeb - Lei nº 11.494/2007: implicações na
descentralização da educação básica para os municípios............................35
1.5.
Plano Nacional de Educação - Lei nº 10.172/2001: Propostas do Executivo e
da Sociedade Brasileira.................................................................................40
1.6.
Contextualização histórica de Valparaíso de Goiás, com ênfase no Plano
Municipal de Educação..................................................................................47
1.6.1 Aspectos da Educação Básica de Valparaíso de Goiás.......................49
1.6.2 O Plano Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás....................50
CAPÍTULO 2
A descentralização e o Pró-Conselho: uma proposta de gestão com participação
social...........................................................................................................................57
2.1. Alguns elementos da municipalização da educação antes de 1988................57
2.2. A descentralização da educação básica depois de 1988.................................59
2.3. Dificuldades e possibilidades da descentralização via municipalização da
educação básica.......................................................................................................62
2.4. Os Conselhos Municipais de Educação............................................................65
2.5. Pró-Conselho - uma proposta de gestão com participação social....................67
2.6. O Conselho Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás: criação e
atribuições...............................................................................................................72
CAPÍTULO 3
A relação entre o Conselho e a Secretaria Municipal de Educação de Valparaíso
de
Goiás:
Plano
Municipal
da
Educação
e
sentidos
da
descentralização.........................................................................................................77
3.1 – Características gerais do Sistema Municipal de Ensino de Valparaíso de
Goiás........................................................................................................................78
3.2 – Elaboração e revisão do PME: o papel dos gestores e conselheiros..............82
3.3 – A participação dos conselheiros no processo de elaboração/revisão do Plano
Municipal de Educação.............................................................................................89
3.4 – A Função do CME na perspectiva dos conselheiros e gestores.....................94
3.5 – O Pró-Conselho e a gestão da educação municipal.....................................105
3.6 – O processo de descentralização: os desdobramentos no sistema de ensino de
Valparaíso de Goiás...............................................................................................110
Considerações Finais........................................................................................... .128
Referências............................................................................................................137
Anexo I – Produções acadêmicas sobre gestão da educação .............................147
Anexo II – Roteiro de entrevistas semiestruturado ...............................................148
Anexo III –Termo de consentimento livre e esclarecido........................................149
INTRODUÇÃO
1. Proposição do objeto de investigação
Este estudo integra a Linha de Pesquisa em Políticas Públicas e Gestão da
Educação Básica - PPGE, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília –
UnB. Elege como objeto a gestão da educação básica no município de Valparaíso de
Goiás e prioriza a relação do Conselho Municipal de Educação - CME com a Secretaria
Municipal de Educação - SME no processo de elaboração e/ou revisão do Plano
Municipal de Educação - PME, período de 2007 a 2013.
Desde 1994 exerço atividade profissional no MEC e participei de discussões
teóricas em um curso de planejamento e gestão educativa, ofertado pelo Instituto de
Planejamento de Buenos Aires, em parceria com o Ministério da Educação, e também
exerço atividades junto à Conferência Nacional de Educação - CONAE e Fórum
Nacional de Educação - FNE. Essa trajetória motivou-me a desenvolver um estudo no
âmbito do município, priorizando a gestão educacional.
Em 2003, o governo federal, por meio de uma iniciativa de política pública, criou
o Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação - PróConselho, com o objetivo de prestar assistência técnica aos municípios. Ao criar o PróConselho, em 2003, o Ministério da Educação voltou-se para o desenvolvimento de
estratégias de gestão da educação municipal com vistas a ampliar e a reforçar um
processo que favorecesse a responsabilidade social compartilhada entre os entes
federados e possibilitasse ainda o fortalecimento institucional, direcionado a uma
prática democrática e participativa, no âmbito dos municípios. Com esse Programa, o
Ministério da Educação buscou estimular mudança de padrões culturais de gestão, do
ponto de vista de formulação e acompanhamento de políticas públicas. Uma das
atribuições do CME consiste na elaboração, implementação e avaliação do Plano
Municipal de Educação - PME.
O Pró-Conselho foi instituído pela Portaria Ministerial nº 3.272, datada de 06 de
novembro de 2003, com o objetivo de subsidiar técnica e financeiramente as esferas
municipais; a fim de fomentar o fortalecimento dos conselhos, apoiar a criação de novos
conselhos de forma representativa, participativa e com base nos princípios da
representatividade, legitimidade e autonomia. Medida vista como efetiva e
indispensável para fortalecer a gestão democrática e assegurar o desenvolvimento de
uma educação básica sintonizada com a sociedade.
Foi concebido como parte de uma estratégia abrangente que incluiu outros
programas de cooperação técnica e apoio à gestão municipal, a saber: Programa de
Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação – Pradime; Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conselhos Escolares e o Programa Nacional de Acompanhamento
e Avaliação do PNE e dos Planos Decenais Correspondentes.
O Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação - Pradime, criado
em 1997 e reformulado em 2012 por meio da Resolução/CD/FNDE nº 16 de 15 de junho
de 2012. Busca contemplar as necessidades percebidas na gestão dos sistemas de
ensino, bem como fornece elementos e conteúdos que contribuem para a formulação
de políticas educacionais. Destina-se à formação continuada, presencial ou a distância.
Por meio desse Programa, o Ministério da Educação e as Instituições Federais
de Ensino Superior, em regime de colaboração com os Estados, Distrito Federal e
Municípios, ofertam cursos na modalidade de extensão e especialização latu sensu
para os dirigentes municipais de educação, secretários adjuntos, e técnicos dos
quadros permanentes, lotados nas Secretarias Municipais de Educação.
Em 2004 também foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento dos
Conselhos Escolares, por meio da Portaria Ministerial de nº 2896/2004 com o objetivo
principal de ampliar a participação das comunidades escolar e local na gestão
administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas. Dentre as estratégias
para qualificar a atuação dos conselheiros estavam a formação presencial e a formação
continuada de gestores educacionais, técnicos da secretaria de educação e
conselheiros escolares.
Instituído pela Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação
em dezembro de 2005, o Programa Nacional de Acompanhamento e Avaliação do PNE
e dos Planos Decenais Correspondentes ofereceu apoio técnico e pedagógico aos
sistemas de ensino para acompanhamento e avaliação do Plano Nacional de Educação
(PNE) e dos planos estaduais e municipais. Foram realizados estudos científicos
demográficos e educacionais além de encontros nacionais e regionais de
acompanhamento e avaliação do Plano Nacional de Educação (2001-2010). Tais
medidas culminaram em um relatório com proposta para revisão do plano vigente.
Em 2007, esses programas foram reorientados no âmbito do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), criado pelo Decreto nº 6.094, que dispõe sobre
o “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação”. Caracteriza-se como uma
política de governo e surge como uma política nacional e um arranjo institucional. O
PDE-2007 agrega 40 ações que incidem sobre diversos aspectos da educação, em
seus diversos níveis e modalidades.
O PDE foi institucionalizado e, de certa forma, desconsiderou a existência da Lei
10.172/2001 que definia o Plano Nacional de Educação (2001-2010), uma vez que este
possuía característica de Plano de Estado, mas que, por motivos de vetos do então
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, ficou secundarizado.
O Pró-conselho, assim como os demais programas de fortalecimento da gestão
da educação municipal e o PDE repercutiram em mudanças na gestão da educação
municipal, objeto deste estudo.
A gestão de sistemas de ensino municipais adquiriu centralidade nas últimas
décadas visto que sempre esteve em discussão as funções do Estado e, portanto, as
políticas sociais. No decorrer dos anos de 1990, o País vivenciou momentos de ajustes
econômicos e sociais: uma espécie de subordinação consentida às imposições da
comunidade internacional no intuito de promover uma nova forma de gestão da
educação que fosse capaz de reverter o baixo índice de atendimento educacional. Com
a necessidade de maximizar suas ações e redefinir o papel do Estado para atender às
perspectivas internacionais, o País inclinou-se para adoção de uma política neoliberal
(CURY, 2002; FONSECA, 2009; KRAWCZYK, 2008; SILVA, 2002; SANDER, 2012).
Dessa forma, desencadeou-se na educação básica pública um processo de
centralização/descentralização em que o governo federal assume a direção, avaliação
e o controle do sistema educacional, enquanto aos estados e municípios foram
atribuídas as responsabilidades quanto à gestão e ao provimento da educação à
população, embora os recursos, naquele período, fossem canalizados prioritariamente
para o ensino fundamental.
Em 2001, com a aprovação do Plano Nacional de Educação - PNE, a gestão dos
sistemas tornou-se a estratégia para o alcance dos objetivos e desdobramento das
metas estabelecidas para educação, ressaltando a necessidade de adequação às
especificidades locais, a descentralização e a elaboração de planos estaduais e
municipais de educação.
Na análise de Krawczyk (2008) e Lopes e Castro (2012), esse caráter
descentralizado da educação básica originou-se, principalmente, da omissão do poder
público, do embate de diferentes projetos societários das elites locais e, em menor
medida, da organização federativa do país. Esses conflitos acompanharam também a
lógica de distribuição das competências entre as diferentes esferas e o
redimensionamento das funções e do papel do Estado.
Nessa perspectiva, disputas, correlação de forças e antigos desafios a serem
superados se instalam no País, no âmbito dos Estados e Municípios. Os gestores dos
sistemas municipais de ensino se viam pressionados pela necessidade de
reorganização de suas redes e também pela necessidade de adequação às exigências
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 e do PNE Lei nº
10.172/2001.
Tomando-se em conta esses desdobramentos, este estudo busca analisar a
gestão da educação básica no município de Valparaíso de Goiás, considerando a
relação entre o Conselho e a Secretaria Municipal de Educação no processo de
elaboração e/ou revisão do Plano Municipal de Educação à luz da Constituição Federal
de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996) e do
Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001).
2. Justificativa e problematização – As atribuições dos Municípios
Com a Constituição Federal de 1988, após tornarem-se entes da federação, os
municípios brasileiros passaram a assumir novas atribuições e responsabilidades.
Assim, juridicamente, passaram a atuar prioritariamente e assumir responsabilidades
com o ensino fundamental e a educação infantil, organizando sua gestão educacional
e tentando articular com os estados e a União, de modo a assegurar a universalização
do ensino obrigatório (CF/1988 Art. 211). Essa conjuntura institucional implicou outras
atribuições no tocante à organização dos sistemas municipais de ensino 1. Dados e
informações do Perfil dos Municípios Brasileiros do Instituo Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE apontam para questões estruturantes que ainda são enfrentadas por
municípios de pequeno porte, os que possuem até 20 mil habitantes, como baixa
autonomia, participação democrática insuficiente na gestão de suas políticas, falta de
regulamentação do regime de colaboração, insuficiência de recursos financeiros,
ausência de plano de carreira de técnicos e funcionários com baixa qualificação, dentre
outros.
Independentemente do porte do município, quando estes passaram a assumir a
condição de ente da federação, foram exigidas maiores responsabilidades, ações e
atitudes no âmbito da gestão dos governos locais, visando cumprir as competências
que lhes foram atribuídas pela legislação.
A Constituição Federal de 1988 reconheceu e assegurou o direito à educação
integral da criança desde seu nascimento. Assim, outras leis foram promulgadas, a
exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/1990), Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº 9.394/1996) e Plano Nacional
de Educação – PNE (Lei nº 10.172/2001). Todas caracterizam a educação infantil como
1
A organização dos sistemas municipais de ensino tornou-se possível a partir da CF 1988, ao ser definido que “a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de
ensino”, e, da LDB 9394/96 quando afirma no parágrafo único do Art. 11 que “Os Municípios poderão optar, ainda,
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica”.
uma das condições essenciais para o pleno desenvolvimento da criança, para a
preparação do exercício da cidadania e para a qualificação para o trabalho, definindoa como a primeira etapa da educação básica. Tais leis afirmaram expressamente a
responsabilidade do poder público municipal, dentro do princípio do regime de
colaboração e cooperação federativa, em proporcionar educação infantil a toda criança.
Embora essas iniciativas tenham sido positivas do ponto de vista do direito,
assim como no campo político e social, o direcionamento das políticas de governo
centraram-se no ensino fundamental, especialmente com a criação e instituição, em
1996 de um fundo constitucional específico, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef.
Esse fundo redefiniu recursos e matrículas ao ensino fundamental e teve prioridade nas
ações dos governos, tanto na esfera municipal quanto na estadual, à medida que
dividem responsabilidades de atendimento em regime de colaboração.
A oferta da educação infantil, como área de competência dos municípios,
conforme determinação da LDB nº 9.394/96, em seu artigo 11, inciso V, e, sem
definição de recursos específicos ou formas de colaboração, como fora o caso do
ensino fundamental, ficou relegada a segundo plano. A mesma situação recaiu sobre a
Educação de Jovens e Adultos – EJA. Grande parte municípios não dispunha de
receitas, arrecadações próprias suficientes para garantir expansão e qualidade desse
atendimento, fato que tornou assim a educação infantil e EJA problemas a serem
enfrentados pelas gestões municipais. Tema recorrente nos diversos debates
referentes à expansão do atendimento e qualidade da educação nos municípios.
Muitos embates entre forças políticas, sindicatos e os governadores ocorreram
após instituição do Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização do Magistério - Fundeb, que passou a destinar recursos para
toda a educação básica a partir de 2008. Tais embates, juntamente com a aprovação
e promulgação da Emenda Constitucional nº 59 de 11/11/2009, possibilitaram a
ampliação dos recursos destinados à educação. A EC 59/2009, que procedeu a
Desvinculação das Receitas da União – DRU2, também estabeleceu a educação básica
obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada inclusive
2
A Desvinculação das Receitas da União - DRU incidente sobre os recursos destinados à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino, de que trata o art. 212 da Constituição Federal. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do
ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a
prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares
para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do
art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. (EC nº 59 de 11 de novembro de 2009).
sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
Essa legislação favoreceu a discussão em torno da garantia e expansão da
oferta e qualidade da educação infantil e forçou, de certa forma, o reconhecimento da
necessidade de participação do Governo Federal na articulação e definição de políticas
de financiamento para atendimento e expansão da educação infantil, sendo essa ação
fortalecida com a inclusão da meta de construção de creches no Programa de
Aceleração do Crescimento - PAC-2, Decreto nº 7.888, de 15 de janeiro de 20133.
Outro problema enfrentado pelos municípios está relacionado à gestão e
planejamento educacional. O PNE de 2001 agrupou 44 metas de gestão para a
educação nacional, dentre elas destacaram-se: aperfeiçoar o regime de colaboração
entre os sistemas de ensino visando a uma ação coordenada entre entes federativos,
compartilhando responsabilidades, a partir das funções constitucionais próprias e
supletivas e das metas do PNE; estimular a colaboração entre as redes e sistemas de
ensino municipais, por meio de apoio técnico a consórcios intermunicipais e colegiados
regionais consultivos, quando necessários; estimular a criação de conselhos municipais
de educação e apoiar tecnicamente os municípios que optarem por constituir sistemas
municipais de ensino e ainda definir, em cada sistema de ensino, normas de gestão
democrática do ensino público, com a participação da comunidade.
Assim questões em torno da perspectiva federativa ainda não estão resolvidas,
torna-se, portanto, fundamental estudar e definir de modo mais específico as
corresponsabilidades dos entes federados, ou seja, definir quais aspectos dependem
de cooperação e colaboração. Tomemos por exemplo, a educação infantil, que está
situada em uma área de atuação prioritária aos municípios; porém, sem a cooperação
dos estados e da União, fica onerosa para aquele ente federado sua oferta obrigatória
e manutenção. Com a Lei nº 11.494/2007, que instituiu o Fundeb, e também com a Lei
nº 11.738/2008, que estabeleceu o Piso Salarial Nacional para os profissionais do
magistério da educação básica, exige-se cooperação federativa, ainda que persistam
visões diferentes entre governadores, políticos e sindicatos sobre os recursos
3
O Decreto nº 7.888, de 15 de janeiro de 2013 estabelece a exigência de aquisição de produtos manufaturados
nacionais e serviços nacionais nas ações de mobilidade urbana integrantes do Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC. O § 1o estabelece que para fins do disposto no caput, são considerados os seguintes serviços:
Inciso II - serviços nacionais (serviços de engenharia e serviços de arquitetura, planejamento urbano e paisagismo).
Esses serviços são classificados de acordo com a Nomenclatura Brasileira de Serviços, Intangíveis e Outras
Operações que Produzam Variações no Patrimônio, instituída pelo Decreto no 7.708, de 2 de abril de 2012,
concebidos e prestados no território nacional ou prestados conforme critérios estabelecidos em Ato do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. (Decreto nº 7.888 de 15 de janeiro de 2013).
destinados a esses profissionais.
No entanto, dificuldades locais e práticas clientelistas podem interferir na
definição de políticas municipais. Além disso, adiciona-se também a capacidade de
gestão dos municípios, como a pouca qualificação técnica das equipes que compõem
as secretarias de educação, o que acaba dificultando a execução com qualidade das
ações e programas que viabilizam o projeto educacional.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada4 - IPEA, 2007, revelou que
o município quando amplia sua arrecadação própria mostra maior capacidade de
gestão. Tal estudo aponta ainda que fatores tecnológicos, políticos e institucionais
afetam a eficiência do gasto público municipal e seus efeitos sobre a melhoria da
qualidade de vida dos munícipes.
A pesquisa do IPEA ainda revela que os municípios com menor participação nas
transferências orçamentárias (estaduais e federais) mostram maior capacidade na
gestão administrativa. A menor dependência dos recursos federais e estaduais
incentiva o gasto mais eficiente, tendo em vista que o gestor trabalha diretamente com
recursos dos seus contribuintes. Mesmo assim, municípios de pequeno porte
dependem dos recursos federais e estaduais para ampliação e manutenção de suas
redes.
Assim, a problematização aqui exposta revela a necessidade de um Plano
Nacional de Educação e de planos estaduais e municipais correspondentes que
considerem a educação como direito social, que busquem soluções para a problemática
federativa, e que, portanto, reordene, com força de lei, as diretrizes nacionais da
educação e desse modo se discuta a importância de se construir o regime de
colaboração entre os entes federados.
3. Relevância Social e Política
Não é por acaso que a intervenção do Estado, por meio de instrumentos de
gestão, tem sido objeto de estudo de diferentes teóricos brasileiros: Horta, (1982);
Kuenzer (2001); Calazans (1990); Oliveira (1999). Isto se dá a exemplo das diferentes
formas de planejamento de políticas públicas, inclusive do planejamento da política
pública em educação. Nessa reflexão teórica, trata-se da relevância política da gestão
e de suas implicações no tecido social e educacional da sociedade brasileira.
Se o Estado é entendido como um modo de organização e de gestão de
4
MOREIRA, Ajax e MOTTA, Ronaldo Seroa. Eficiência na Gestão Municipal no Brasil. Rio de janeiro: IPEA,
2007. (Texto para discussão nº 1301).
interesses existentes na sociedade, sob a lógica capitalista, a intervenção estatal
geralmente torna-se um campo de luta política da dominação dos interesses de
determinadas classes sociais sobre os de outras. Decorre daí o caráter político e social
das formas de intervenção do Estado. Não há neutralidade no planejamento e,
especialmente, nos planos da educação, uma vez que o planejamento é um ato político,
portanto resultante de escolhas.
Na sua produção científica sobre a educação, Charlot (1980, p. 11) compreende
que a educação “transmite os modelos sociais; difunde ideias políticas e valores e é
política por afirmar um projeto de sociedade”. Os planos da educação estão imersos na
construção política condicionada e condicionando uma determinada conjuntura
socioeconômica dinâmica. Eles contêm as tensões, conflitos, disputas, correlação de
forças próprias de uma sociedade em movimento, especialmente em se tratando de
uma sociedade capitalista.
Para Calazans, desde o
final da década de 1970 e início da década de 1980, o sistema federal de educação
tenta, por meio de planos e projetos, introduzir formas para liberalizar a gestão
do processo educativo e mudanças nos procedimentos do planejamento
educacional. Junto a estas inovações introduzidas, diga-se em parte, para tender
às críticas da sociedade civil, novo modismo é incorporado, sem dúvida como
mais uma fórmula que rotula os pacotes importados inerentes aos empréstimos
internacionais: o planejamento participativo (CALAZANS, 1990, p. 22).
Por outro lado, com o processo de redemocratização e abertura política (1985),
o Estado intensificou a busca para sua legitimação perante à sociedade civil –
reinstituindo-se o Estado Democrático de Direito. Os governos passaram a incorporar
em seus discursos práticas e reivindicações dos movimentos organizados pelo
reestabelecimento e fortalecimento dos direitos sociais, civis e políticos e, também, pela
afirmação da cidadania plena e participativa.
O governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) promoveu reforma do
Estado brasileiro no tocante à sua racionalização e modernização. Tal reforma incidiu,
sobretudo, na privatização de empresas públicas e trouxe como desdobramento a
desregulamentação da administração pública federal. Com a instauração do modelo
gerencialista das políticas sociais, essas reformas foram na contramão dos direitos e
garantias consagrados pela Constituição Federal de 1988 (OLIVEIRA, 2009).
Na década de 1990, os movimentos sociais propuseram mudanças em relação
a diferentes aspectos da educação básica, inclusive no que diz respeito à atuação do
Estado que, apesar disso, continua a ser um Estado capitalista, e passa a constituir-se
em um Estado regulador. O Estado, até então tido como provedor, cede lugar a um
Estado com as prerrogativas de regular e gerenciar para maximizar as suas ações5.
Todo esse universo de intervenções sócio-políticas pode, de alguma forma, incidir e
repercutir na gestão da educação dos municípios.
Nessa direção, as reformas realizadas no Brasil entre 1995 e 2002 determinaram
novas formas de financiamento e gestão da educação básica, configurando-se em uma
nova regulação, apoiada na descentralização e maior flexibilidade e autonomia local.
Essas mudanças foram determinantes para alterar as relações entre os entes
federados, em matéria educacional, em especial entre a União e os municípios
(OLIVEIRA, 2009).
Com a posse do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, (2003 – 2006
e 2007– 2010), uma promessa parecia que iria influenciar o aparelho de Estado, e
novas concepções de gestão, planejamento da educação e participação social
entrariam em disputa na construção das políticas públicas educacionais.
Políticas sociais assumidas pelo governo federal como de sua competência têm
exigido em muitos casos o estabelecimento de acordos e parcerias com os demais
níveis de administração estatal, sendo que muitas dessas são implementadas em uma
relação direta com os cidadãos assistidos. Na educação, o governo federal vem
implementando programas, por meio de parcerias com os municípios e com as escolas
diretamente, sem a mediação dos estados, consolidando assim um novo modelo de
gestão de políticas públicas e sociais. Tal modelo, entretanto, tem promovido o
envolvimento de outras instituições na implementação de programas sociais no nível
local, são elas: Organização Não-Governamental (ONG), Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (OSCIP), sindicatos. Esse modelo de gestão de políticas
públicas e sociais teve início na reforma do Estado promovida pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso – (FHC) (OLIVEIRA, 2009).
Na área social, a proposta de governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva
para o período (2008-2011), a educação recebeu destaque. A meta de qualidade da
educação aparece como prioridade e passou a compor o título do Plano Plurianual:
Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade (BRASIL, 2008).
Benevides (1994) ressalta que a participação social pode levar ao exercício da
cidadania ativa, ao fortalecimento político das classes sociais e populares. Nessa
direção, a participação social pode ampliar a qualidade na gestão da educação. Decorre
5
BRASIL. Presidência da República. Câmara da Reforma do Estado. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado. Brasília, 1995.
daí a relevância sócio-política deste trabalho acadêmico, que também aborda a
natureza política da intervenção do Estado e possíveis caminhos que podem ser
desvendados e que podem contribuir com a luta política dos municípios. Assim como a
defesa da educação básica pela institucionalização da participação sócio-política como
oportunidade para institucionalizar a defesa de interesses da sociedade na esfera
educacional.
É nessa perspectiva que o planejamento da educação vincula-se a um direito
social, previsto na Constituição Federal, no seu art. 5º. Por isso, há uma tendência ao
planejamento participativo como forma de assegurar o direito à educação com
qualidade politicamente social. No mesmo sentido, a questão dos planos, enquanto
política ou mecanismo de política de uso do Estado, passou a dinamizar iniciativas de
participação social e popular.
Situamos o fortalecimento dos conselhos de educação enquanto espaço de
mediação entre aparelho de Estado (governo) e sociedade civil, com visibilidade em
programas oficiais a exemplo do Pró-Conselho e do Programa de Fortalecimento dos
Conselhos Escolares. Fato que nos levou a examinar, na atual conjuntura, o que
representa esse órgão – Conselho Municipal de Educação - no sistema de ensino e sua
relação com a secretaria municipal de educação no âmbito do processo da gestão da
educação do município.
Considerando o cenário do Estado brasileiro e das lutas políticas manifestadas
a partir dos movimentos populares desde 1985, esta pesquisa justifica-se política e
socialmente ao propor um estudo que analise e reflita sobre a gestão da educação no
município.
Relevância acadêmica
Diversos esforços acadêmicos analisam a participação social no campo da
formulação de políticas públicas municipais e na condução da gestão educacional.
Assim, realizei levantamento em bibliotecas digitais de diversas universidades, no
banco de dados da Capes, Scielo, abrangendo o período de 1993 a 2012, e a partir
desses meios foram selecionadas dez dissertações e uma tese6.
Nesse levantamento, encontrei estudos sobre os conflitos na implementação da
política educacional brasileira: as relações entre a União e os municípios a partir do
Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE (2007). Grinkraut (2012) analisou as
6
Abicalil (2005), Albuquerque (2011), Chazanas (2011), Ganzeli (1993), Grinkraut (2012), Lima (2006), Medeiros
(2003), Mendonça (2003), Moreira (2011), Salermo (2004), Silva (2011).
relações intergovernamentais, particularmente entre a União e os municípios na gestão
local da política educacional, identificando os conflitos, interesses e demandas sociais
que permeiam o processo de implementação do PDE.
A autora constatou, por um lado, que as dinâmicas introduzidas pelo PDE, no
âmbito do planejamento e da participação social, pouco interferiram na gestão local da
educação; enquanto, por outro, a gestão local continua sendo intensamente
influenciada pelos mecanismos de avaliação externa, mesmo considerando as
alterações realizadas em seu formato e uso dos resultados pelo governo federal.
O planejamento de políticas públicas em educação e a gestão educacional, sob
o formato de intervenção modelada pelo PDE - 2007, mesmo com alguns avanços, de
maneira
geral,
encobre
e
não
dissolve
conflitos
presentes
nas
relações
intergovernamentais, oriundas do formato do federalismo brasileiro. O discurso oficial
justifica a gestão como se fosse decorrente apenas de questões gerenciais e técnicas,
desconsiderando os embates políticos, jurídicos e a gestão democrática como
elementos significativos para conceber e construir esse processo, a gestão
educacional.
O estudo desenvolvido por Silva (2011) analisa o sistema municipal de ensino
de Belo Horizonte, o Plano de Ações Articuladas, e a relação das escolas desse sistema
com o Plano de Desenvolvimento da Escola - 1998. Um estudo voltado para a gestão
da educação básica frente ao discurso que legitima a relação entre os municípios e as
políticas implementadas pelo MEC, justificadas na melhoria da qualidade da educação.
Embora com a preocupação dirigida à elucidação de questões relacionadas à
gestão da educação no âmbito de programas governamentais, a dissertação de Silva
(2011) teve por objetivo geral analisar a emergência de novos mecanismos de
regulação que configuram relações intergovernamentais na gestão dos sistemas
educacionais. Teve como objetivos específicos analisar nas escolas pesquisadas a
articulação entre o repasse de recursos financeiros e o cumprimento de metas de
rendimento escolar, assim como examinar os possíveis procedimentos de regulação
autônoma das escolas na elaboração e implementação de projetos que articulam
financiamento e rendimento escolar.
No que concerne à cultura da participação social no cenário brasileiro, o trabalho
acadêmico de Chazanas (2011) abordou o tema da participação na escola,
considerando a participação social como um dos elementos estruturantes da gestão
democrática. O estudo privilegiou as formas pelas quais as famílias contribuem com o
processo educacional em escolas de Campinas-SP.
A autora analisou percepções e expectativas em relação à participação,
concluindo que o exercício da participação deve ser aprendido tanto pelas famílias,
quanto pelas equipes gestoras, sendo necessária, portanto, uma estratégia que
fortaleça essas famílias para buscar as mudanças e reestruturações que tornem a
escola um espaço de construção democrática.
Já o estudo desenvolvido por Magalhães (2011) analisa o processo de
construção da autonomia pelo conselho municipal de educação de Anápolis-GO e traz
uma reflexão sobre as lutas que a sociedade civil desenvolve para ocupar espaços de
participação na construção de políticas públicas educacionais para o município. A
investigação indicou que o CME de Anápolis vem se constituindo em um espaço
público, coletivo da sociedade civil, e se posiciona, ouve, mobiliza, debate, envolve os
integrantes dos diversos segmentos sociais para que apresentem suas necessidades
aos seus representantes, conselheiros eleitos e/ou indicados, a fim de transformar
essas necessidades em conquista política e social.
O estudo constatou um movimento da sociedade para garantir sua participação
e atuação. Ressalta-se a luta do CME para que sua participação, como direito
conquistado, não se restrinja a simples assessoramento, mas resulte em políticas
efetivas, reconhecidas e atendidas como necessidade social, assumindo o seu caráter
de legalidade. O estudo evidenciou que o CME foi protagonista e conquistou a
ampliação do direito à educação, por meio do atendimento da educação infantil e ensino
fundamental, atuando sob tensões, conflitos e divergências, mas o Conselho não ficou
à margem das decisões.
As considerações de autores acerca das dissertações abordadas também
subsidiaram este estudo, pois Gohn (1992) analisa que
Mesmo com a ampliação do debate democrático nos textos legais, a autonomia
total não existe porque todo movimento social é parte de uma totalidade, que
encerra em si própria germes da estrutura maior na qual se insere. Isto não
significa determinação mecânica, mas que o movimento social reproduz em si
próprio elementos da totalidade da qual faz parte, elementos velhos e novos.
Segundo Putnam (2000), as práticas sociais que constroem a cidadania
possibilitam
a
construção
de
um espaço
privilegiado
para
desenvolver
a
responsabilidade pessoal, a obrigação mútua e a cooperação voluntária.
Na mesma perspectiva Cunill Grau (1998) analisa que a ampliação da esfera
pública pressiona a sociedade no sentido de obter maior influência sobre o Estado, bem
como a limitação deste, considerando que a autonomia social pressupõe não só
transcender as assimetrias na representação social, mas também modificar as relações
em favor da auto-organização social. É nesse contexto que a participação social, como
espaço e mecanismo de construção da cidadania, pode assumir dois aspectos
diferenciados: um que põe a sociedade em contato com o Estado e o outro que propicia
seu próprio fortalecimento e desenvolvimento.
Embora a literatura das dissertações e teses consultadas nos remeta a estudos
sobre os processos participativos e de gestão da educação brasileira, esta pesquisa se
diferencia pelo estudo e investigação social no âmbito da gestão da educação no
município, com foco na relação do Conselho de Educação e da Secretaria de Educação
do município de Valparaíso de Goiás no processo de elaboração/revisão do Plano
Municipal de Educação, em ambiente de descentralização de políticas educacionais.
Objetivo Geral

Analisar a gestão da educação por meio do processo de elaboração e/ou revisão do
Plano Municipal de Educação no município de Valparaíso de Goiás, considerando a
relação do Conselho Municipal de Educação com a Secretaria de Municipal de
Educação à luz da Constituição Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9.394/1996), e do Plano Nacional de Educação (Lei
10.172/2001).
Objetivos Específicos

Identificar e analisar como a Constituição Federal de 1988, a Lei 10.172/2001 e a Lei
9.394/96 influenciaram a gestão da educação municipal, em específico a
elaboração/revisão do PME.

Identificar e analisar os elementos que evidenciam o processo de descentralização,
a partir de 1988 no âmbito da relação União e Município de Valparaíso de Goiás.

Analisar na gestão da educação municipal:
a) a relação do Conselho Municipal de Educação com a Secretaria Municipal de
Educação no processo de elaboração e/ou revisão do PME;
b) a participação de gestores e conselheiros no processo de elaboração e ou revisão
do Plano Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás;
c) a relação MEC e Município de Valparaíso de Goiás e o seu desdobramento no
processo de descentralização.
4.3 - Questões de investigação
1. Como a Constituição Federal de 1988, a Lei nº 10.172/2001 e a Lei 9.394/96
influenciaram a gestão da educação municipal?
2. Como e de que forma ocorreu o processo de descentralização via
municipalização da educação em Valparaíso de Goiás?
3. Como o Conselho Municipal de Educação atua/atuou na elaboração e/ou na
revisão do plano municipal de educação de Valparaíso de Goiás?
4. Na percepção dos gestores e conselheiros houve alteração na relação entre
o Município e o MEC, a partir do Pró-Conselho, em 2003.
5. Aspectos metodológicos e instrumentos de pesquisa
A presente dissertação vislumbra contribuir com as discussões sobre a gestão
das políticas públicas de educação, bem como analisar a relação entre os entes
federados no processo de desenvolvimento da gestão, além de buscar compreender
elementos da CF de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei
9.394/96, da Lei 10.172/2001 que interferiram na política educacional, em âmbito
municipal.
5.1- Algumas reflexões sobre o método científico em educação
O esforço deste estudo consiste na tentativa de desenvolvê-lo por meio de
aproximações à perspectiva dialética, buscando compreender os aspectos históricos
no contexto das contradições das políticas públicas e do papel do Estado capitalista
brasileiro.
Na análise de Kosik,
O mundo real, oculto pela pseudoconcreticidade, apesar de nela se manifestar,
não é o mundo das condições reais em oposição às condições irreais, tampouco
o mundo da transcendência em oposição à ilusão subjetiva; é o mundo da práxis
humana. É a compreensão da realidade humano-social como unidade de
produção e produto, de sujeito e objeto, de gênese e estrutura (KOSIK, 1976, p.
18).
A concretude privilegiada pelas abordagens dialéticas constrói-se na síntese dos
pressupostos anteriores, numa relação dialética e histórica entre o sujeito e o objeto,
envolvidos no processo de produção do conhecimento. O concreto se constrói por
intermédio de um processo que se origina na percepção empírico-objetiva, passa pelo
abstrato de características subjetivas, até construir uma síntese no próprio processo de
conhecimento (GAMBOA, 2012).
Na sociedade capitalista, o movimento histórico se dá em consequência do
desenvolvimento das contradições que existem em seu seio (CURY, 2000). Assim o
concreto contém a contradição e esta põe a realidade em movimento. Desconhecer a
contradição é retirar do real a fonte propulsora do movimento. É falseamento da
realidade na medida em que torna a sociedade como homogênea, sem interesses em
confronto, com a contradição supostamente superada.
Tomando-se em conta a análise da legislação municipal sobre plano, conselho
e sistema, e a realização de entrevistas com os gestores e os conselheiros desta
investigação, este estudo buscou revelar os conflitos, convergências e contradições aí
presentes, na tentativa de demonstrar a concepção de gestão e o movimento da
sociedade civil impressos nesse processo, pois para Kosik,
ao contrário do mundo da pseudoconcreticidade, o mundo da realidade é o
mundo da realização da verdade, é o mundo em que a verdade não é dada e
predestinada, não está pronta e acabada, impressa de forma imutável na
consciência humana: é o mundo em que a verdade devém. Por esta razão a
história humana pode ser o processo da verdade e a história da verdade (KOSIK,
1976, p. 19).
Assim, busca-se compreender o processo de produção de conhecimentos sobre
a educação, uma prática social constituída por sujeitos históricos.
5.2- Sobre o objeto de estudo: sujeitos, instituições e critérios de escolha
Para subsidiar o estudo e a análise, elegemos o município de Valparaíso de
Goiás, observados os seguintes critérios:
1) possuir Conselho Municipal de Educação criado em Lei;
2) possuir Plano Municipal de Educação elaborado e aprovado – Lei nº
504/2004;
3) possuir Sistema Municipal de Ensino constituído em Lei;
4) ter participado do Programa Nacional de Formação de Conselheiros
Municipais de Educação – Pró Conselho.
Quadro I - Sujeitos escolhidos para a Pesquisa
Instituição/Órgão/
Entidade
Nacional/
MEC/SEB/Pró-Conselho
Estadual
Uncme Estadual
Período
(2007 a 2010)
Período
(2011 a 2013)
(1) gestor
Sujeitos
(1) gestor
(1) gestor
(1) gestor
Instituição/Órgão/
Entidade
Período
(2007 a 2010)
Período
(2011 a 2013)
Conselho Municipal de
Educação
(4) conselheiros
(3) conselheiros
Municipal
Sujeitos
(1) pai
(2) de escolas particulares
(2) Sindsep/Val*
(1) diretor de escola
(1) Sintego**
5 (cinco)
4 (quatro)
Total
Fonte: Quadro elaborado pela autora – 2013
*Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Valparaíso de Goiás – Sindsep/VAL
**Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás – Sintego
9 (nove)
Para subsidiar a análise, consideramos os seguintes documentos: Leis e
documentos oficiais na esfera do governo federal e municipal:









Constituição Federal de 1988
Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/1996
Plano Nacional de Educação – Lei nº 10.172/2001
Fundef – Lei nº 9.424/1996
Fundeb – Lei nº 11.494/2007
Projeto de Lei 8.035/10 – PNE
Lei 317/2001 – Lei de criação do CME de Valparaíso de Goiás
Lei 353/2001 – Lei de criação do Sistema Municipal de Ensino
Lei 504/2004 – Plano Municipal de Educação do Município de Valparaíso de
Goiás
 Regimento interno do CME de Valparaíso de Goiás
Concomitante à análise dos documentos foram realizadas nove entrevistas
semiestruturadas com conselheiros e gestores. Consideramos os seguintes critérios:
a) ter atuado ou atuar nas instituições/órgãos selecionados;
b) ter atuado na criação e implementação do Pró-Conselho;
c) ser ou ter sido coordenador da Uncme estadual;
d) ser ou ter sido conselheiro municipal de educação;
A análise do campo empírico problematiza o contexto histórico da elaboração do
Plano Municipal de Educação do município selecionado à luz da Constituição Federal
de 1988, da Lei nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e da
Lei nº 10.172/2001.
O estudo, a análise da legislação e dos documentos oficiais buscam revelar as
contradições entre a concepção dos princípios, metas, estratégias, e os acontecimentos
observados em contexto empírico.
A interpretação dos dados e das informações busca revelar as convergências e
contradições nos discursos dos gestores e conselheiros em torno do fortalecimento dos
processos participativos, vividos em ambiente sob o efeito de políticas de
descentralização, como uma das estratégias para a implementação da gestão da
educação municipal.
6. Estrutura da Dissertação
A dissertação está estrutura em três capítulos. No primeiro capítulo – Marco
histórico e legal nas políticas de elaboração de planos de educação são analisados os
marcos históricos que orientaram a elaboração de planos de educação a partir da
década de 1930, evidenciando os momentos que influenciaram a descentralização para
os municípios. Para tanto, considera o contexto de promulgação da Constituição
Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 9.394 de
1996 e do Plano Nacional de Educação – Lei nº 10.172/2001. Assim, recuperamos
alguns antecedentes históricos para em seguida refletir sobre a seguinte questão: como
a Constituição Federal de 1988, a Lei 10.172/2001 e a Lei 9.394/96 influenciaram o
processo de gestão da educação dos municípios, em específico a elaboração e/ou
revisão do Plano Municipal de Educação?
No segundo capítulo - A descentralização e o Pró-Conselho: uma proposta de
gestão com participação social busca ampliar a compreensão e construir um referencial
teórico sobre o processo de descentralização no país, analisando os processos de
descentralização via municipalização e seus dilemas na gestão da educação a partir da
Constituição Federal de 1988. Aborda ainda iniciativa de uma política de formação
continuada de conselheiros municipais de educação no âmbito da gestão do Ministério
da Educação, oficializada em 2003, que tinha por objetivos fortalecer e ampliar o
processo de gestão no município.
Nessa perspectiva, problematiza-se o processo de descentralização delineado
pelo governo federal, com foco no Município. Foram eleitas as seguintes questões: de
que forma ocorreu a descentralização via municipalização, após a Constituição Federal
de 1988 e quais os sentidos resultantes desse processo? Como o Programa Nacional
de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação – Pró-Conselho contribuiu
para qualificar a atuação dos conselheiros?
No terceiro capítulo - A relação entre o Conselho e a Secretaria Municipal de
Educação de Valparaíso de Goiás: Plano Municipal da Educação, participação social e
sentidos da descentralização, buscamos analisar a) a relação da Secretaria Municipal
de Educação com o CME no processo de elaboração e/ou revisão do Plano Municipal
de Educação; b) como ocorreu a participação de gestores e conselheiros no processo
de elaboração e ou revisão do Plano Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás;
c) a relação MEC e Município de Valparaíso de Goiás, como desdobramento do
processo de descentralização. Para tal, foram eleitas as seguintes questões: Como o
Conselho Municipal de Educação atua/atuou na elaboração e/ou na revisão do plano
municipal de educação de Valparaíso de Goiás? Na percepção dos gestores e
conselheiros houve alteração na relação entre o Município e o MEC, após o PróConselho, 2003?
Capítulo 1 – Marco histórico e legal nas políticas de elaboração de Planos de
Educação
Este capítulo discorre sobre os marcos históricos que orientaram a elaboração
de planos de educação a partir da década de 1930, evidenciando os momentos que
influenciaram a descentralização para os municípios. Para tanto considera o contexto
quando foi promulgada a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – nº 9.394 de 1996 e o Plano Nacional de Educação, decênio 20012010 - Lei nº 10.172/2001.
Desse modo, propõe analisar as relações decorrentes da legislação educacional
entre governo federal e o município de Valparaíso de Goiás. Relações que repercutiram
e subsidiaram a elaboração dos planos de educação e a forma de gestão entre os entes
federados, considerando, em específico, o Programa Nacional de Capacitação de
Conselheiros municipais de educação – Pró-Conselho, implementado a partir de 2003.
Nessa perspectiva, a fim de circunstanciar os planos de educação e sua relação
com a gestão da educação, recuperamos alguns antecedentes históricos para em
seguida refletir sobre a seguinte questão: como a Constituição Federal de 1988, a Lei
10.172/2001 e a Lei 9.394/1996 influenciaram a gestão da educação municipal?
1.1.
Concepções de Planos de Educação: 1934, 1937 e 1961
No Brasil, a presença do planejamento enquanto instrumento de intervenção do
Estado teve início em 1930, e aparece concomitante com as ideias liberais e a
organização republicana de Estado. Esse período foi constituído por fatos que
centralizaram no Estado a organização e o desenvolvimento do capital, o que equivale
a dizer que o Estado brasileiro assumiu a função de planejar e negociar as ações
externas, atuando diretamente na produção, tanto com subsídios à infraestrutura para
sustentar o desenvolvimento capitalista, quanto para acelerar a acumulação inicial do
capital (RODRIGUES, 2000; FERREIRA, 2013).
Em que pese o exercício do planejamento como instrumento de intervenção do
Estado, mesmo com o dever de garantir um direito, o direito à educação, “a
institucionalização da cultura de planejamento requer desnudar suas contradições,
limites e paradoxos na sociedade brasileira” (QUEIROZ, 2013, p.73). Isso porque, ao
lado do planejamento, enquanto instrumento de intervenção do Estado republicano
para efetivar o direto à educação, contraditoriamente, coexistem as políticas
econômicas voltadas para o desenvolvimento da sociedade capitalista, urbana e
industrial no País.
De fato, o Manifesto dos Pioneiros evidenciou a necessidade da organização do
Sistema Nacional de Educação, e também a fixação de um Plano Nacional de
Educação foi prescrito, associado a uma política de fundos para a educação escolar
pública. Os Pioneiros afirmaram na introdução do Documento que nenhum problema
nacional se sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Contudo, afirmaram
que todos os esforços educacionais desde a proclamação da República foram
construções isoladas, fragmentadas e desarticuladas, sem visão global, sem unidade
de plano e sem espírito de continuidade e, por isso, “não lograram ainda criar um
sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das
necessidades do país”7.
O Manifesto foi precedido da realização, em Niterói, da V Conferência Nacional
de Educação, organizada pela Associação Brasileira de Educação (ABE), que tinha
entre seus objetivos, conforme atesta Fernando de Azevedo, “apreciar sugestões de
uma política escolar e de um plano de educação para o anteprojeto da Constituição de
1934”8. O resultado dessa Conferência foi a elaboração do capítulo da educação e um
esboço de um plano com abrangência nacional9.
As iniciativas desse movimento histórico enfatizaram a organização sistêmica da
educação nacional como uma alternativa à superação de reformas fragmentadas e
desarticuladas, à afirmação do direito de cada indivíduo à educação integral e ao dever
do Estado de oferecer escola para todos. A associação entre sistema e plano 10, de
forma que este último esteja situado no contexto da organização da educação brasileira
marca a trajetória do planejamento educacional no Brasil. (SAVIANI, 1999; MARTINS
2009).
Assim, para Anísio Teixeira,
um plano, mais do que pedagógico ou mesmo administrativo, é um plano
político, pelo qual se faz possível uma ação conjunta, sob a
responsabilidade mais imediata dos governos da União, dos estados e dos
municípios, no esforço comum pela emancipação do país. O Plano
Nacional fixa as metas a atingir, deste modo assegurando a unidade de
7
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e dos Educadores (1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco:
Editora Massangana, 2010, p. 33. (Coleção Educadores).
8
Azevedo, Fernando de: A cultura brasileira, EdUnB, 1963 (p. 669).
9
Do programa da V Conferência Nacional de Educação, realizada em Niterói em 1932/1933, fez parte a seguinte
tese: "Quais as atribuições respectivas dos governos federal, estaduais e municipais, relativamente à educação?"
Coube o seu estudo a uma comissão especial composta de dez educadores indicados pela ABE (Comissão dos Dez)
e dos representantes oficiais de todos os Estados do Brasil, do Distrito Federal e do Território do Acre (Comissão
dos Trinta e Dois). Essa Comissão elaborou um anteprojeto para a Constituição Brasileira de 1934, na parte referente
à Educação. Pela Comissão dos Dez, e na qualidade de Presidente, Anísio Teixeira assinou a Justificação do
Anteprojeto. Na publicação intitulada "O Problema Educacional e a nova Constituição", organizada pela ABE e
publicada em 1934, reúnem-se preciosos documentos visando a facilitar aos estudiosos de educação a verdadeira
interpretação dos textos que dizem respeito ao assunto. OLIVEIRA E SILVA, Arlete Pinto. A presença do educador
na ABE. Educação. Rio de Janeiro, v.32, n.101, abr./jul. 2000. p.12-17.
10
Saviani aponta para a definição de sistema de ensino e plano de educação e a relação que existe entre ambos. “Há,
efetivamente, uma íntima relação entre esses dois conceitos. Com efeito, o sistema resulta da atividade sistematizada;
e a ação sistematizada é aquela que busca intencionalmente realizar determinadas finalidades. É, pois, uma ação
planejada. Sistema de ensino significa, assim, uma ordenação articulada dos vários elementos necessários à
consecução dos objetivos educacionais preconizados para a população à qual se destina. Supõe, portanto, o
planejamento. Ora, se sistema é a unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um
conjunto coerente e operante, as exigências de intencionalidade e coerência implicam que o sistema se organize e
opere segundo um plano. Consequentemente, há uma estreita relação entre sistema de educação e plano de
educação”. (SAVIANI, D. Sistemas de Ensino e planos de educação: o âmbito dos municípios em Educação &
Sociedade, ano XX, nº 69, dezembro/1999).
ação, mas descentraliza a execução, confiando-a aos estados e, por meio
destes, aos municípios (TEIXEIRA, 1971, p. 116).
Concomitante à instalação do Conselho Nacional de Educação em 1931,
percebeu-se o encontro de duas evidências. De um lado, havia uma percepção de que
a educação brasileira não alcançaria o nível da educação de dois países vizinhos Argentina e Uruguai - que, ao final do século XIX, já haviam ofertado praticamente a
toda a população, em idade escolar, os quatro primeiros anos de educação básica. De
outro, a constatação da falta de empenho das autoridades brasileiras para ampliar a
escolaridade da população os levou a tomar a educação como questão nacional
(CURY, 2011).
Idealizou-se então um planejamento que levasse o Brasil a superar o atraso e a
diminuir a distância de oferta com relação aos países vizinhos; entretanto, acreditavase que este planejamento só faria sentido se houvesse financiamento para tal e que
este fosse objeto de uma organização racional.
Essa ideia de planejamento ganhou força e a elaboração de um Plano Nacional
de Educação foi aprovada pela Constituição Federal de 1934. Segundo a Constituição,
caberia ao Conselho Nacional de Educação elaborá-lo. Prevaleceram conflitos entre as
forças políticas e religiosas, e o resultado foi a elaboração de um pré-projeto liderado
pelo CNE e, posteriormente, enviado ao Parlamento pelo então ministro de educação
Gustavo Capanema, no final de 1936 (HORTA, 1982).
O Projeto de 1936 estava sendo discutido na Câmara dos Deputados e
posteriormente seria enviado ao Senado, mas seu trâmite foi interrompido com a
instalação do golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, e a instalação do Estado
Novo. O primeiro Plano Nacional de Educação foi abortado (HORTA, 1982). Com a
Constituição outorgada em 1937, a proposta do Ministro de Educação Gustavo
Capanema11 estava traduzida em um Código da Educação Nacional, no qual estavam
expressos os princípios fundamentais e os valores aos quais a educação deveria servir
com uma abrangência nacional12. Entretanto, no final dessa década, o PNE sequer foi
analisado, o que fez permanecer a dimensão inorgânica da educação, já apontada
pelos Pioneiros.
11
Brasil. Ministério da Educação e Saúde. Panorama da Educação Nacional (Discursos de Getúlio Vargas e Gustavo
Capanema). Rio de Janeiro, José Olímpio. 1941, p.21.
12
Para subsidiar a elaboração do código, o Presidente Vargas, em 1941, convocou, por meio do decreto 6788, a
primeira Conferência Nacional de Educação com o intuito de discutir a organização, difusão e elevação da qualidade
do ensino primário e normal e do ensino profissional; bem como a organização em todo o País da juventude
brasileira; no entanto, com a declaração de guerra à Itália e Alemanha em 1942, a conferência não chegou a ser
viabilizada e o código não foi implementado. Brasil, Ministério da Educação e Saúde. Serviço de Documentação,
Folheto nº 5 (Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 865/77).
Os quinze anos de governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945),
marcados por conflitos políticos, impulsionam uma política nacional desenvolvimentista
baseada nos princípios do planejamento econômico com forte interferência estatal nos
setores produtivos industriais e financeiros. Já no período de redemocratização do país,
de 23 a 28 de junho de 1945, os educadores organizados na Associação Brasileira de
Educadores (ABE) persistiam em seu projeto nacional de educação e, assim,
realizaram o IX Congresso Brasileiro de Educação, que tinha por objetivo o estudo e o
planejamento da educação nacional em todos os graus, segundo diretrizes e com
perspectivas democráticas (ROMANELLI, 2007).
Participaram desse Congresso várias entidades culturais e cerca de duzentos
educadores brasileiros. Nesse congresso, foram discutidas as diretrizes que deveriam
nortear uma educação democrática fundada na cooperação, na liberdade, no respeito
à igualdade e à fraternidade humana13.
Por sua vez, a Constituição Federal de 1946 estabeleceu que “compete à União
legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional” (letra d, inciso XV, art. 5º). No
capítulo da educação, manteve-se a previsão para organização dos sistemas de ensino
e vinculou a renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do
ensino em 10% da União e 20% dos Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 169).
Estabeleceu ainda o princípio da cooperação por parte da União, com auxílio pecuniário
para o desenvolvimento dos sistemas de ensino estaduais e do Distrito Federal.
Assim, coube à União o controle do sistema federal de ensino e dos sistemas de
ensino dos territórios e, suplementarmente, das regiões que necessitassem, cabendo
aos Estados e ao Distrito Federal a organização de seus sistemas de ensino. A União
também ficou responsável pela elaboração da Lei de Diretrizes e Bases - LDB, que viria
a se tornar a Lei nº 4.024/61 depois de uma tramitação de quase duas décadas. A
LDB/1961 volta a atribuir ao Conselho Federal de Educação14 a competência de
elaborar o Plano Nacional de Educação:
13
Conclusões do IX Congresso Educacional Brasileiro. Revista de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro: Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, v. 5, n. 14, p. 259-260, ago. 1945.
14
O Conselho Nacional de Ensino (Decreto nº 16.782-A, de 13/01/1925), o Conselho Nacional de Educação
(Decreto nº 19.850, de 11/04/1931), o Conselho Federal de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação (Lei nº
4.024, de 20/12/1961), os Conselhos Municipais de Educação (Lei nº 5692, de 11/08/1971) e, novamente, Conselho
Nacional de Educação (MP nº 661, de 18/10/94, convertida na Lei nº 9.131/95). O atual Conselho Nacional de
Educação-CNE, órgão colegiado integrante do Ministério da Educação, foi instituído pela Lei 9.131, de 25/11/95,
com a finalidade de colaborar na formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições normativas,
deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação.
Compete à União:
Fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e
ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo
o território do País; Art. 151 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal
organizar e manter sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as
diretrizes estabelecidas pela União.
Art. 152 - Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Educação,
organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser
aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar
necessárias para a melhor solução dos problemas educativos bem como a
distribuição adequada dos fundos especiais.
Parágrafo único - Os Estados e o Distrito Federal, na forma das leis respectivas e
para o exercício da sua competência na matéria, estabelecerão Conselhos de
Educação com funções similares às do Conselho Nacional de Educação e
departamentos autônomos de administração do ensino (CF/1934 Art. 150).
A Lei nº 4.024/1961 trouxe como um dos pontos centrais a dicotomia
centralização versus descentralização; no entanto, o tema deixa de ser eixo central,
quando foi apresentado o Substitutivo Lacerda15, pois este introduziu a questão dos
subsídios para as escolas particulares, o que levou o Legislativo a centrar-se no debate
sobre o eixo público versus privado.
O planejamento no País traça novos rumos no período do Presidente Juscelino
Kubitscheck (1956-1961), com base no Plano Nacional de Desenvolvimento, conhecido
como Plano de Metas – programa de industrialização e modernização, na forma de um
"ambicioso conjunto de objetivos setoriais". Este "daria continuidade ao processo de
substituição de importações que se vinha desenrolando nos dois decênios anteriores”16.
Na análise de Cardoso (1978), as contradições incrustadas no Estado brasileiro
demonstram a relação entre concepção de política educacional e desenvolvimento
nacional, concepção predominante à época. A autora enfatiza que a perspectiva geral
assumida pelo então Presidente Juscelino Kubitscheck realçava o papel do Estado,
que, simultaneamente, deveria promover a industrialização e ao mesmo tempo acelerar
15
Como a educação foi sempre um assunto polêmico, ao longo do processo histórico do País, não poderiam deixar
de existir debates e conflitos entre forças opostas, governo, igreja, exército, educadores, com a intenção de definir o
rumo do processo educativo do Brasil. Foi durante um desses debates que Carlos Lacerda, deputado federal,
apresentou seu terceiro Substitutivo à Câmera dos Deputados com o intuito de contribuir para a construção da
primeira LDB, num período em que o País passava por um processo de redemocratização. O terceiro Substitutivo
de Lacerda foi produzido em 1958, sendo apresentado para aprovação, somente em 15 de Janeiro de 1959. Em seu
Substitutivo, Lacerda buscou introduzir o princípio da “liberdade de ensino”, dando a entender que a área
educacional deveria possuir uma livre iniciativa. Ele afirmava ainda que a educação é um direito da família, cabendo
aos pais ou responsáveis escolher entre o ensino oficial ou privado; no entanto, o Estado deveria garantir recursos
para que essa escolha fosse possível.
16
LESSA C.Quinze Anos
27.
de Política Econômica. São Paulo: Brasiliense, 4a Edição, 1983. Pág.
o desenvolvimento cultural e científico do País. Seu projeto para a educação, era
ampliar o sistema educacional e colocá-lo a serviço do desenvolvimento.
Depois de impasses e resistência de alguns, a educação foi contemplada na
meta 30 do Plano de Metas, vinculada ao desenvolvimento, assim traduzida:
“intensificar a formação de pessoal técnica e orientar a educação para o
desenvolvimento”. A educação deveria produzir competências técnicas para o
emprego, de forma a agregar valor aos recursos humanos no mercado. Esse período
que integrou a educação ao desenvolvimento econômico e social conseguiu envolver
governos e setor privado em ações e interesses. Neste período também ocorreu
mobilização de educadores que voltaram a debater suas ideias em fóruns nacionais e
conferências internacionais (HORTA, 1982; SAVIANI, 2008).
Com a eleição de Jânio da Silva Quadros, em 1961, ao planejamento econômico
agregou-se o planejamento educacional, evidenciando a mesma política: educação
para o crescimento econômico e para a formação de trabalhadores, sob à luz da Lei nº
4.024/1961 – LDB. Esta estabeleceu que os recursos destinados à manutenção e ao
desenvolvimento do ensino fossem distribuídos em Fundos para cada setor, atribuindo
ao Conselho Federal de Educação (CFE) a competência de elaborar o plano de
aplicação de cada fundo, conforme o artigo 92 da Lei.
Depois de ter-lhe sido conferida a atribuição pela Lei 4.024/61, o CFE foi
instalado em 1962 e Anísio Teixeira apresentou parecer com o título: “Bases para a
elaboração de Planos de Educação destinados à Aplicação dos Fundos de Ensino”
(HORTA, 1982, p. 80).
Nesse contexto, Anísio Teixeira afirma que “em face da Constituição e da Lei de
Diretrizes e Bases, os planos se tornaram uma obrigação inarredável”. Segundo ele:
“Não podemos deixar de fazer planos. Não há nisso qualquer mistério. Basta agir
coerentemente, sistematicamente, levando em conta os objetivos, os meios e as
consequências desses meios”17. No mesmo ano, o Plano Nacional de Educação foi
encaminhado pelo Conselho Federal de Educação ao então Ministro de Estado da
Educação, Darcy Ribeiro. O relator designado foi Anísio Teixeira, que elaborou três
planos: um para a educação primária, outro para a secundária e um terceiro para a
educação superior. Os planos foram aprovados, começaram a ser implementados,
quando veio o golpe militar de 31 de março de 1964. (HORTA, 1982).
Com a instauração do regime militar em março de 1964, instituíram-se os Planos
17
Anísio Teixeira, “Bases para a Elaboração de Planos de Educação destinados à Aplicação de Fundos de Ensino”,
Documenta, nº 3, maio, 1962, p. 18.
Nacionais de Desenvolvimento (PNDs), bem como os planos setoriais por áreas. Nesse
período, a gestão da educação passa a ser orientada por decreto. Foi dada ênfase aos
aspectos organizacionais (meios) e não aos aspectos substantivos nem aos fins da
educação. Houve ainda a participação de empresas privadas e governamentais de
consultoria – nacionais e estrangeiras: No início, Agência Norte-Americana para o
Desenvolvimento Internacional (USAID); posteriormente, a partir dos anos 1970, o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (BM) no processo de
modernização administrativa.
A Administração da educação (1º e 2º graus) ajustou-se à estrutura do modelo
de crescimento implementado no país e à formação técnica de trabalhadores para o
mercado. Os planos de educação incorporaram os projetos estratégicos dos governos
militares, com enfoque da administração por objetivos, eficiência, eficácia e resultados
– APO (FONSECA, 2009).
O foco do planejamento consistia em determinar as metas de um plano de
educação, com base na demanda do mercado de trabalho. O I Plano Setorial de
Educação (1971) tinha um caráter economicista. Seus objetivos principais eram elevar
o Brasil, no espaço de uma geração, à categoria de nação desenvolvida; duplicar, até
o final da década, a renda per capita e preparar gerentes eficientes e eficazes. No II
Plano Setorial de Educação (1975-1979), foi mantida a essência ideológica do primeiro
plano, que era a de formar o homem que fosse útil ao país. O III Plano Setorial de
Educação (1980-1985) buscou espelhar o ambiente democrático que marcou o final do
governo militar, na perspectiva de um planejamento participativo que envolveu
entidades acadêmicas e representantes do setor educacional (FONSECA &
FERREIRA, 2013).
1.2.
Constituição Federal de 1988 e as novas atribuições dos municípios
A Constituição Federal de 1988 trouxe um novo conceito de participação social na
construção das políticas públicas. Tal conceito adquire um caráter orgânico e passa a
representar a pluralidade e a diversidade das vozes mediadas e representadas pelas
entidades que integram a sociedade civil organizada. É a voz do sujeito, representado no
coletivo e no exercício da cidadania ativa. Nessa configuração, a participação ganha
ênfase, tanto no que tange à formulação de políticas públicas, quanto nas relações do
Estado com a sociedade.
No capítulo da educação, a Constituição contou com a participação do Fórum
Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP), constituído em 1986, e que agregava
inicialmente 15 entidades18. O FNDEP foi lançado oficialmente em Brasília em 09/04/1987
com o Manifesto em Defesa da Escola Pública e Gratuita. Com a denominação de Fórum
da Educação na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito, todas as entidades
estavam comprometidas com o processo de redemocratização do País.
O processo de redemocratização ampliou o pronunciamento de vozes, com o
fortalecimento dos movimentos sociais, outrora inviabilizadas. Eram sujeitos políticos que
lutavam, num País sem tradição democrática, e passaram a reivindicar espaços de
participação social (GOHN, 2011; MAGALHÃES, 2011). O planejamento com a perspectiva
de consolidar o Estado Democrático de Direito passou a demandar uma estrutura
descentralizada, participativa e popular.
Nessa perspectiva, Dowbor (1994) nos lembra de que à concepção de
democratização são incluídas a descentralização, o planejamento do município,
articulado aos demais entes federados e a organização de diversos sistemas de
participação nas decisões das políticas públicas. A sociedade brasileira herdou, do
período autoritário, crescimento econômico subalterno ao capitalismo internacional com
exclusão social e desigualdades regionais e municipais.
Desse modo, o autor acentua a necessária estratégia de fortalecimento do poder
local e da participação popular. Assim um instrumento que se torna basilar para essa
possibilidade de participação é o planejamento descentralizado, uma vez que as
propostas são ordenadas e submetidas à comunidade “significam a possibilidade de os
indivíduos se pronunciarem antes de as decisões serem tomadas, em vez de se
limitarem a protestar diante dos fatos já consumados” (DOWBOR 1994, p. 78).
A participação popular ergue uma nova perspectiva de política pública
em confronto com a tradição do caciquismo local e com o centralismo
burocrático imposto pelos grandes grupos econômicos e políticos
nacionais (DOWBOR, 1994, p. 81).
Nessa mesma direção, Vieira (2007) analisa que os movimentos sociais
demonstraram seus anseios pelo retorno do Estado de Direito após o fim do regime
militar, quando em 1984 ocorre intenso movimento democrático por eleições diretas.
Entretanto, o Congresso Nacional, referenda ainda, a escolha indireta dos nomes de
18
Composto pelo Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (AN- DES-SN), Federação de Sindicatos de
Trabalhadores das Universidades Brasileiras (FASUBRA Sindical), Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação (CNTE), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE);
Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST); Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica
e Profissional (SINASEFE), União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), União nacional
dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Associação Nacional pela Formação
dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Associação Nacional de Educação (ANDE), Associação Nacional de
Política e Administração da Educação (ANPAE), Associação de Educadores Latino- Americanos e do Caribe
(AELAC); Comissão Nacional de Assuntos Educacionais do Partido dos Trabalhadores (CAED/PT), Confederação
Nacional dos Servidores Públicos Federais (CONDISEF) e alguns representantes de Fóruns Estaduais em Defesa da
Escola Pública.
Tancredo Neves para presidente e de José Sarney para vice. O presidente eleito
faleceu antes da posse e em seu lugar assume o vice, que após eleição de deputados
federais, convocou a Assembleia Nacional Constituinte, encarregada de dar ao País
uma nova Carta Magna (VIEIRA, 2007).
Havia sido instalado o debate sobre educação, expresso em alguns programas
do Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I PND/NR – 1986-1989)19
que traduziam os anseios de mudança do período. O direcionamento da política nessa
área, todavia, continuava com resquícios do período autoritário. Assim, a atenção dos
educadores convergiu para a Assembleia Nacional Constituinte, que, mesmo antes de
ser inaugurada, recebeu contribuições dos atores ligados à esfera educacional (VIEIRA,
2007).
Em meio a tensões, divergências e disputas, foi instalada a Assembleia Nacional
Constituinte, e, em seguida, promulgada a Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, instituindo, assim, um Estado de Direito, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça.
A Constituição passa então a abordar a educação em seus vários níveis e
modalidades. No art. 208, a educação converte-se em um direito subjetivo e inalienável,
com financiamento do Estado. O conteúdo da Carta propõe a incorporação de sujeitos
historicamente excluídos do direito à educação, expressa no princípio da "igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola" (art. 206, I). Além dessas
conquistas, outros direitos também passaram a ser assegurados: a educação como
direito público subjetivo (art. 208, § 1º), o princípio da gestão democrática do ensino
público (art. 206, VI).
O espírito de cidadão-ativo trazidos pela Constituição de 1988, foi expresso,
inclusive, nos artigos que tratam da concepção dos princípios e dos deveres do Estado
no campo da educação. A noção de educação como direito, que começou a se
materializar na Constituição de 1934 (art. 149) e foi reafirmada em 1946, é reeditada
de forma ampla por meio da afirmação de que "a educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
19
O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I PND/NR – 1986-1989) enfatizou a
retomada do desenvolvimento com base no tripé: crescimento econômico, reformas (administrativa, orçamentária e
financeira – pela descentralização e combate à inflação: tributária, agrária e do sistema financeiro de habitação e
combate à pobreza, à desigualdade e ao desemprego. O IPND/NR não previa planos setoriais, uma vez que as
políticas setoriais eram contempladas nele. Para implementar os objetivos relacionados à educação, o I PND/NR
definiu oito programas, dentre eles, o Programa educação para todos (universalização do ingresso e permanência na
escola das crianças de 7 a 14 anos) e o Programa Descentralização e Participação. (I Plano Nacional de
Desenvolvimento da Nova República – 1986-1989. Brasília: Presidência da República, 1986).
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho" (art. 205).
No que concerne à articulação entre as três esferas do Poder Público foi
expressa na afirmação de que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino" (art. 211). Nessa
perspectiva, cabe à União organizar e financiar "o sistema federal de ensino e o dos
Territórios" e prestar "assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal
e aos municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento
prioritário à escolaridade obrigatória" (art. 211, § 1º).
A vinculação de recursos para a educação recebeu tratamento prioritário, sendo
estabelecido que a União aplicaria "anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados,
o Distrito Federal e os municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino" (art. 212). Posteriormente com o Fundef e Fundeb, os
percentuais foram redefinidos.
Diante dessa realidade e de mudanças político-administrativas, propusemos
analisar, a partir da Constituição Federal de 1988, como as políticas implementadas
pela União e pelos estados indicam decisões que interferem na formulação das políticas
públicas e, por conseguinte, na gestão da educação municipal (CABRAL NETO, 2007).
É o esforço que elegemos neste estudo.
1.3.
Influência de Organismos Internacionais na gestão da educação básica do
país entre 1990 e 2013
As políticas e diretrizes nacionais desenvolvidas nas três últimas décadas podem
ser analisadas e compreendidas de modo conveniente, se considerarmos as
transformações econômicas, geopolíticas e culturais em andamento no mundo
capitalista. Assim, as reformas educativas implementadas foram e são resultantes do
processo de reestruturação do capitalismo no mundo, contextualizadas nos princípios
do neoliberalismo (SILVA, 2002; CABRAL NETO, 2007).
Com grande repercussão, certas medidas de agências internacionais, a saber,
a Organização Mundial do Comércio - OMC, o Fundo Monetário Internacional - FMI e
o Banco Mundial protagonizam o processo de reorganização do capital e, por
conseguinte, influenciaram as nações periféricas a adotar o seu manual de
desenvolvimento e modernização. Assim, essas medidas foram sendo assumidas pelos
governos federal e estaduais do país (LOPES & CASTRO, 2012).
Como nos demais países, as reformas educativas delineadas no Brasil, a partir
dos movimentos sociais e sindicais, e das ações dos governos nacionais, em parceria
com as agências multilaterais de desenvolvimento, apresentam alguns elementos
centrais que influenciaram, tanto a forma de organização do Estado brasileiro, quanto
a condução e formulação de políticas públicas no âmbito educacional, dentre os quais:
os processos de descentralização, a criação de sistemas nacionais de avaliação de
desempenho e as novas formas de gestão dos sistemas de ensino (CABRAL NETO,
2007) 20.
Assim, as reformas efetivadas na educação pública provieram de diagnósticos
que apontaram índices de insuficiência, como de relatórios, de acordos e de cláusulas
contratuais de órgãos multilaterais de financiamento, voltados para a cooperação
técnica21. Estes confirmam a defesa da descentralização administrativa como forma de
gestão pública do Estado. Como consequência, viabilizou-se a abertura para novas
formas de gestão na esfera pública, por exemplo, o desenvolvimento de autonomia
relativa com perspectiva gerencial nas escolas públicas. Essa ação visava buscar
incrementar os índices de produtividade dos sistemas públicos, determinados sob
inspiração neoliberal.
Essas reformas defenderam também as diferentes formas de descentralização
da educação que foram assumidas na América Latina, como por exemplo, a
regionalização, no caso dos países latinos22, bem como o processo de municipalização,
acentuado no Brasil nas décadas de 1990 e 2000 (SOUZA e FARIA, 2004).
Nessa matriz de cunho neoliberal, predominava a visão produtivista que prioriza
o aspecto utilitarista da educação com ênfase na capacidade humana, o que reduz o
homem a um simples objeto no processo produtivo na economia de mercado. Os
fundamentos da matriz que associa educação e mercado de trabalho vinham dos anos
20
O processo de descentralização e as novas formas de gestão dos sistemas de ensino serão mais detalhados no
âmbito da reestruturação da educação brasileira após a Constituição de 1988 no segundo capítulo. Os demais
elementos não são objeto deste estudo.
21
Como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Internacional para a Reconstrução e o
Desenvolvimento (BIRD), o Programa das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), entre outros. (FONSECA,
2013).
22
“O Chile dá início ao processo de descentralização na década de 1980, em plena ditadura militar; em 1992, a
Argentina descentraliza seu Ensino Médio; em 1994, a Bolívia promove ampla descentralização de sua gestão
educacional; a Colômbia, a partir de 1993, aprofunda a descentralização de sua educação, já iniciada em 1986 pela
via de sua municipalização; e, em 1991, o México intensifica suas ações em torno da estadualização da educação,
principiada entre o final dos anos 70 e início dos anos 80”. Rodrigues, Margarita Victoria. A política de
descentralização na educação na América Latina. Revista da FAEEBA, Salvador, v. 9, n. 13, p. 109-119, jan/jun.
2000.
de 1970. Essa matriz foi criticada na década de 1980 e reencontra, no período de 1990,
um terreno muito fértil para a reafirmação dos seus princípios devido à crise da
economia ocidental e à subsequente proclamação da educação como instrumento de
crescimento econômico (CIAVATTA, 1996; FRIGOTTO, 1998; FRANÇA, 2005).
Como desdobramento, o discurso recorrente do neoliberalismo foi sendo
difundido no contexto da definição e condução das políticas públicas no Brasil,
envolvendo os estados e municípios. Observa-se que o governo brasileiro, a partir da
gestão do presidente Fernando Collor de Mello (1990 – 1992), passou a definir políticas
públicas que vão efetivando diretrizes neoliberais, dando início às transformações na
estrutura do Estado, para que o país se inserisse nessa nova ordem econômica global.
No governo do presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992), iniciou-se um
período de adequações do País “aos ditames da ‘nova ordem mundial”, e o mercado
passou a regular as relações humanas, bem como todos os direitos dos cidadãos, a
saúde, a educação, a previdência e a cultura. As políticas educacionais, nesse governo,
foram marcadas por discurso de modernização e uma prática de privatização
(VELLOSO, 1992).
Enquanto os movimentos sociais e a sociedade brasileira debatiam e lutavam
pelo processo de redemocratização e, por conseguinte, por um novo paradigma de
gestão educacional, o governo Collor mantinha uma assessoria constituída por políticos
conservadores, inclusive no Ministério da Educação. Esse período ficou caracterizado
como um período de muito discurso e fragmentação das ações em matéria de política
educacional (ARELARO, 2000; FRANÇA, 2005).
No que tange à gestão da educação, objeto deste estudo, o Programa Setorial
de Ação do Governo Collor (1991- 1995) objetivava inserir o Brasil na onda tecnológica
que atravessava o mundo, desenvolvendo propostas para situar o País nesse contexto
moderno. Essas propostas convergiam para uma educação que se tornasse uma fonte
potencializadora de um possível desenvolvimento econômico. Entretanto, o contexto
político-econômico no qual o Presidente Collor atuava, logo revelam seus objetivos:
servir aos interesses do capitalismo.
Ao disseminar a ideia que o maior investimento na educação torna o indivíduo
mais competente para concorrer no mercado de trabalho e que sua escolarização pode
garantir uma posição melhor ou uma mobilidade social, buscou-se depositar no
indivíduo a responsabilidade por sua condição social, auxiliando o capital em seus
anseios de formar mão de obra útil e necessária, mas também com os valores e atitudes
que fomentam e mantém a estrutura de reprodução existente.
Nessa direção, as concepções sobre equidade, eficiência, eficácia, qualidade e
competitividade, sob a ótica liberal, são trazidas e incorporadas à política de educação
básica, por meio de programas, projetos, formas de financiamento, formas de gestão.
O poder público exigia das escolas resultados, índices e outras formas de gestão.
Forjava a autonomia mediante novos rumos do seu projeto e prática pedagógica
específica (FRANÇA, 2005).
Ao assumir a presidência, em 1995, Fernando Henrique Cardoso (1995-1998)
incorpora à sua plataforma de governo diretrizes da política de financiamento que
incorpora os interesses dos organismos internacionais e do setor empresarial. Essas
diretrizes balizaram a forma de financiamento e de avaliação que desencadearam
mecanismos de controle de qualidade na definição de recursos, observando critérios
universalistas. Essa decisão levou o MEC a estabelecer mecanismos de repasse de
recursos e de prestação de contas das escolas23 (FRANÇA, 2005).
Por meio da sua proposta, expressa no documento Mãos à obra Brasil: proposta
de governo24, Fernando Henrique Cardoso expressava que a descentralização das
decisões implicava uma revisão do papel das atribuições das esferas de governo,
colocando em prática as formulações do campo educacional e novas formas de
relações entre o Estado e a sociedade. De acordo com o Documento, o poder executivo
apenas coordenaria e definiria as prioridades educacionais. Dessa forma, deveriam ser
reduzidas as responsabilidades do MEC, que de provedor, passou a atuar como
regulador e avaliador.
Ainda de acordo com o Documento “Mãos à obra Brasil”, a elaboração do
Planejamento Político-estratégico (1995-1998) priorizou ações destinadas ao ensino
fundamental. No que concerne à escola, o Documento prognosticou a autonomia
relativa, assim como sua responsabilidade perante o aluno, a comunidade e a
sociedade. Desse modo, tenderia modificar a articulação de políticas e de ações com
estados e municípios, de modo a obter resultados mais eficazes e utilização de recursos
políticos e financeiros para garantir a equidade e a eficiência dos sistemas.
As reformas realizadas no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso
contribuíram para alterar a concepção de gestão das políticas de educação básica no
23
Um dos primeiros programas implementados pelo governo Fernando Henrique Cardoso, de repasse de recursos
às escolas, foi o Programa Dinheiro Direto na Escola – (PDDE). Para receber tais recursos, deveria ser criada uma
unidade executora, entidade de direito privado no âmbito da unidade escolar. O recurso era definido de acordo com
o número de alunos. O programa foi reestruturado e teve continuidade nas gestões subsequentes. Para maiores
informações a respeito, consultar o site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia
vinculada ao MEC. Link: http://www.fnde.gov.br/programas/dinheiro-direto-escola/dinheiro-direto-escolaapresentacao.
24
CARDOSO, Fernando Henrique. Mãos à Obra, Brasil: proposta de governo. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de
Pesquisas Sociais, 2008.
País. De políticas inicialmente orientadas ao atendimento universal, passou-se a
abranger públicos-alvo específicos (OLIVEIRA, 2009). Na análise de Martins,
nos anos 1990, no contexto das relações internacionais constituído após
o Consenso de Washington, formou-se a ideia hegemônica de que o
Estado - sobretudo nos países periféricos - deveria focar sua atuação nas
relações exteriores e na regulação financeira, com base em critérios
negociados diretamente com os organismos internacionais. A reforma
nas suas estruturas e aparato de funcionamento consolidou-se nos anos
1990, por meio de um processo de desregulamentação na economia, da
privatização das empresas produtivas estatais, da abertura de mercados,
da reforma dos sistemas de previdência social, saúde e educação,
descentralizando-se seus serviços, sob a justificativa de otimizar seus
recursos (MARTINS, 2001, p. 29):
Já na perspectiva de Bresser Pereira
a proposta do modelo de modernização do Estado foi viabilizada tendo
como perspectiva as mudanças nas formas de organização e de gestão do
Estado que deveriam efetivar-se pela adoção de uma administração
pública gerencial em que a saúde, a educação, a cultura e a pesquisa
científica, por se situarem no setor de serviços não exclusivos, deveriam
ser providas pelo Estado, mas poderiam também ser fornecidas pelo setor
privado e pelo setor público não-estatal, não governamental (PEREIRA,
1998, p. 33).
Nessa direção, a reorganização do Estado, tendo como referência a concepção
gerencial de gestão oriunda do setor privado, foi difundida como uma das principais
estratégias que poderia corrigir os rumos do sistema capitalista e da gestão pública do
Estado brasileiro.
Como resultado da perspectiva trazida pela Constituição Federal de 1988, bem
como a interferência e influência de agências internacionais, o Estado brasileiro
intensificou práticas intervencionistas, induzindo os entes federados a adotarem em
seus sistemas educacionais o modelo de gestão gerencialista, que incentivava a
adoção de critérios: produtividade, competitividade e qualidade, sob à ótica neoliberal
nos sistemas de ensino e gestão das escolas. Isso implicava maiores responsabilidades
gerenciais, conferindo-lhes suposta autonomia na gestão dos seus sistemas de
educação. Essa prática almejava ampliar o modelo gerencialista na busca por maior
eficácia e produtividade na gestão da educação, com implicação nos municípios
(MARTINS, 2009; CALAZANS, 2009)25.
25
O período de dois mandatos consecutivos do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) contribuiu para
que a obrigação constitucional de elaborar planos plurianuais de governo tivesse continuidade. Assim, na primeira
fase, o governo dedicou-se a adequar o País ao processo de globalização econômica. As ações foram voltadas,
sobretudo, para o equilíbrio fiscal e para a implantação de reformas econômicas, jurídicas e administrativas. O Plano
Avança Brasil, reiterou as mudanças de cunho neoliberal começadas no governo de Collor de Melo. Em 1995 foi
concebido o Plano Diretor da Reforma do Estado e, dentro dele, o Programa Nacional de Desestatização (BRASIL.
Mare, 1995). O Plano estimulava a concessão de serviços públicos à iniciativa privada e a transferência de atividades
1.4.
Fundef – Lei nº 9.424/1996 e Fundeb – Lei nº 11.494/2007 – implicações na
descentralização da educação básica para os municípios
Dentre as reformas que foram implementadas a partir dos direitos e garantias
conquistados na Constituição Federal de 1988, problematiza-se a seguir a situação de
priorização do ensino fundamental na política de financiamento de fundos que criou o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério – Lei nº 9.424/1996 (Fundef), em detrimento de uma política que abrangesse
toda a educação básica.
Depois da aprovação da Constituição Federal de 1988, a educação básica
tornou-se obrigatória e, ao mesmo tempo, vinculou 18% da União dos recursos
oriundos de impostos para investimento na educação. Houve um forte crescimento da
oferta escolar em todos os níveis de ensino (infantil, fundamental e médio). No entanto,
como era de se esperar, o governo federal mostrou seu interesse para que o
financiamento (maior aporte de recursos) fosse direcionado para a universalização do
ensino fundamental, em concordância com a política de descentralização incentivada
pelos organismos multilaterais de cooperação técnica; ainda que o maior número de
matrículas fosse oferecido pelos municípios (ARAÚJO, 2011).
Desde a promulgação da Constituição de 1988, 25% das receitas dos impostos e
transferências dos estados, Distrito Federal e municípios estão vinculados à Educação.
Depois da Emenda Constitucional nº 14/96, 60% desses recursos da educação passaram
a ser subvinculados ao ensino fundamental (60% dos 25% = 15% dos impostos e
transferências), sendo que parte dessa subvinculação de 15% passava para o Fundef. A
partilha dos recursos tinha como base o número de alunos matriculados no ensino
fundamental, atendidos em cada rede de ensino (AMARAL, 2012).
Na prática, essa política viria a promover uma “minirreforma tributária, mas
apesar de sua profundidade no que diz respeito às relações intergovernamentais, sua
elaboração não foi precedida de nenhum debate federativo” (ARAÚJO, 2011, p. 5). A
esse respeito, Castro; Barreto e Corbucci analisam que:
a instituição do Fundef reitera o dispositivo constitucional, que estabelece a
obrigatoriedade do ensino fundamental e a prioridade da sua oferta, pelo poder
público, na medida em que permite: a) aperfeiçoar o processo de gerenciamento
orçamentário e financeiro no setor; b) ampliar os recursos alocados; c)
implementar uma política redistributiva de correção de desigualdades regionais
e sociais; d) dar visibilidade à gestão dos recursos; e e) capacitar e valorizar o
de responsabilidade do Estado para a sociedade civil. A reforma impôs inúmeros desafios para a gestão do setor
público. De acordo com o Plano Diretor, transferia-se a racionalidade da administração privada para o setor público
(FONSECA, 2013).
magistério (CASTRO; BARRETO; CORBUCCI, 2000, p. 5).
A focalização dos recursos no ensino fundamental, excluindo as demais etapas
e modalidades da educação, foi considerada como uma das principais deficiências
resultante da implementação do Fundef, fato que interferiu na gestão da educação do
município. Entretanto, este não era um problema para a União, uma vez que sua
responsabilidade com esse nível de ensino assumia uma posição secundária. Em
decorrência dessa dinâmica, a capacidade dos demais entes foi afetada no que tange
ao provimento do direito à educação em todas as etapas e modalidades da educação
básica.
Outro problema que permeou a inter-relação entre os entes federados foi o
descumprimento da União das regras estabelecidas pela Lei para sua participação no
fundo. Durante a vigência do Fundef, o valor decretado para o custo-aluno nacional
esteve em desacordo com o determinado pela legislação, em decorrência disso,
enormes prejuízos foram causados aos estados e aos municípios (ARAÚJO, 2011;
AMARAL, 2012).
A análise desse descumprimento por parte da União levou Araújo (2011, p. 6) a
afirmar que “a maior deficiência do Fundef foi não ter agregado recursos novos para o
setor educacional, constituindo-se apenas em uma ferramenta de alocação diferente
dos recursos existentes”.
Além dos problemas que os municípios e Estados assumiram com a implantação
do Fundef, este também não conseguiu diminuir as desigualdades regionais, inclusive
no que diz respeito à disputa por alunos do ensino fundamental, que serviu de política
indutiva e que culminou em distintos processos de municipalização em todo o país.
Foram constituídos, assim, fundos especiais de natureza contábil e de âmbito estadual
(um fundo por estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos). Como a
repartição dos recursos resultantes de impostos e como o crescimento econômico não
é igual, esses fundos acabaram por reproduzir as desigualdades regionais já existentes
(ARAÚJO, 2011).
Com a criação de tal Fundo, o amplo direito à educação, previsto na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), foi reformulado e
substituído, passando a destacar o ensino fundamental como prioridade, por meio de
financiamento compulsório, instituído pelo Fundo. Essa legislação influenciou a
educação no município, que passou a ter de responder às novas demandas.
Essas
circunstâncias impulsionaram
mudanças de foco
das políticas
educacionais, considerando seu caráter universal, já garantido na CF/1988. Retomouse, então, a questão estrutural: universalização versus priorização específica. As
reformas implantadas na educação brasileira nas décadas de 1990 e 2000 resultaram
na reestruturação da educação básica em diversos aspectos, relativos ao
financiamento, à gestão e principalmente à organização da escola. A esse respeito
Dourado manifesta-se:
nos anos 1990, especialmente na gestão de Fernando Henrique Cardoso,
as políticas públicas são reorientadas por meio, entre outros processos,
da reforma de Estado, que engendra alterações substantivas nos padrões
de intervenção estatal, redirecionando mecanismos e formas de gestão e,
consequentemente, as políticas públicas e, particularmente, as políticas
educacionais, em sintonia com os organismos multilaterais. Tais ações na
arena educacional expressam-se no processo que resultou na aprovação a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996),
negligenciando parte das bandeiras encaminhadas pela sociedade civil,
especialmente o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública
(DOURADO, 2002, p. 241).
O incentivo do governo federal, principalmente por meio da Lei do Fundef, para
focalizar o ensino fundamental como prioridade, ocorreu de forma paralela com a
política de indução à municipalização desse nível de ensino. Assim, pode ser observado
como outra recomendação da política de financiamento do Banco Mundial 26. Essa
questão nos remete à descentralização da educação brasileira e aos problemas daí
decorrentes.
Na gestão educacional, com a modificação da legislação federal, incidindo na
redefinição da política de financiamento da educação básica, depois de 1996, passa a
caracterizar-se como uma política de fundos (Fundef e Fundeb). Consolidou-se,
portanto, como política do sistema federativo com atribuições por esfera nacional,
estadual e municipal. A distribuição de competências foi definida de acordo com a oferta
dos níveis e modalidades de ensino das redes de ensino público e privado e com a
divisão dos recursos vinculados.
Na perspectiva dessa política de fundos, amplia-se a descentralização. No caso
de recursos, outro dispositivo legal, a Emenda Constitucional nº 53 de 19 de dezembro
de 2006 deu nova redação aos artigos. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição
Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Essa emenda
instituiu o Fundo de manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e De
Valorização dos Profissionais da Educação - Fundeb, em substituição ao Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - Fundef, que vigorou de 1998 a 2006. Sua regulamentação ocorreu por meio
da Lei nº 11.494 de 20/06/2007 e possui vigência de 14 anos, até o ano 2020.
26
SILVA, 2002 e FONSECA, 2009, em seus estudos já analisaram essa questão.
Com a Emenda Constitucional nº 53/2006, a subvinculação das receitas dos
impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios passaram para 20%,
e sua utilização foi ampliada para toda a educação básica por meio do Fundeb. Esta era
uma reivindicação das entidades e movimentos sociais que existia desde a implantação do
Fundef, quando aquele excluiu a educação infantil, o ensino médio e a educação de jovens
e adultos. A Emenda ainda estabelece no art. 206, VIII da CF/88 a terminologia de
trabalhadores em educação e, ainda, a adequação de seus planos de carreira27.
A redistribuição dos recursos do Fundo ocorre com base no número de alunos da
educação básica, informado no censo escolar do ano anterior, sendo computados os
estudantes matriculados nos respectivos âmbitos de atuação prioritária (art. 211 da
Constituição Federal). Ou seja, os municípios e estados recebem os recursos do Fundeb
com base no número de alunos da educação infantil, ensino fundamental, indígenas,
quilombolas, EJA e ensino médio (AMARAL, 2012).
São os seguintes os recursos do Fundeb, misturando os impostos estaduais com
os municipais: 20% do Fundo de Participação dos Estados (FPE), 20% do Fundo
de Participação dos Municípios (FPM), 20% do IPI-Exportação, 20% do ICMS,
20% do IPVA, 20% do ITCD e 20% do ITR. Não fazem parte do Fundeb, 5%
dos impostos mencionados anteriormente, 25% do IR dos servidores públicos
municipais, 25% do IOF-Ouro, 25% do IPTU, 25% do ISS e 25% do ITBI. Com
esses recursos, os Estados o DF e os Municípios financiam as suas outras
prioridades educacionais e, no caso dos Estados, sua educação superior
(AMARAL, 2012, p. 136).
“Cada Estado, e o DF constituirá o seu Fundeb, que reunirá recursos estaduais,
municipais e a complementação federal, quando for o caso”. A destinação desses recursos
será para a manutenção, para o desenvolvimento da educação básica pública e para a
valorização dos trabalhadores em educação, incluída sua remuneração (Lei 11.494, 2007,
art. 21).
Diferenciando-se do Fundef, o Fundeb ampliou o quantitativo de estudantes,
abrangendo toda a educação básica, conforme estava estabelecido nas metas do Plano
Nacional de Educação (2001 a 2010). Na perspectiva de França (2005), Oliveira (2007),
Saviani (2008) esta foi a diferença fundamental e o maior avanço do Fundeb, em
relação ao Fundef. Martins (2009) apresenta outras diferenças na conclusão de sua
tese.
Nas décadas de 1990 e 2000, o Estado brasileiro reforçou o processo de
descentralização financeira; entretanto, a redistribuição de recursos, depois do Fundeb,
27
A Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008 regulamenta o Piso Salarial Profissional Nacional – (PSPN) para os
profissionais do magistério público da educação básica a que se refere a alínea “e” do inciso III do caput do art.
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A Lei dispõe sobre as categorias de trabalhadores
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus
planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
pode ser considerada insatisfatória, tendo em vista que guarda relação com a essência
política do Fundef e o governo federal tem resistência na complementação do valor
custo-aluno aos entes federados.
Essa tendência no âmbito da administração federal de transferência de
responsabilidades de um ente federado para outro resultou na manutenção de ações
pontuais e focalizadas, traduzidas na forma de assistência técnica e financeira, em
detrimento de ampla política de planejamento orgânico, financiamento e gestão da
educação básica. Como consequência, constata-se o predomínio do processo de
regulação e fiscalização que permeia o cotidiano dos sistemas de ensino e das escolas
públicas, aos critérios de desempenho e alcance de indicadores para fazer jus aos
recursos financeiros.
As mudanças de natureza política e de ordem jurídico institucional realizadas no
âmbito da educação básica na década de 1990 e 2000 redefiniram sua estrutura para
as décadas subsequentes. Em consequência, além da implantação do Fundef - um dos
mecanismos de descentralização financeira que influenciou o processo de
municipalização no país -, ocorreram alterações na legislação educacional brasileira
que também resultaram em nova reconfiguração, tendo como expressão maior a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96 e o Plano Nacional de
Educação, Lei nº 10.172/2001.
1.5- Plano Nacional de Educação – Lei 10.172/2001: Propostas do Executivo e da
Sociedade Brasileira
No âmbito nacional ocorreram embates e divergências entre governo federal e
os segmentos da sociedade civil que formalizaram propostas para uma nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e PNE.
As lutas e o processo de redemocratização, defendidos pelos setores
organizados da educação, sindicatos de trabalhadores da educação, entidades
acadêmico-científicas, entidades estudantis, movimentos populares, dentre outros
passaram a integrar e a caracterizar as lutas contra-hegemônicas desenvolvidas pelo
Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública – FNDEP, desde 1986.
De um lado, o Fórum construiu, de forma articulada, uma reação aos princípios
do capitalismo excludente em sua versão neoliberal. Por outro, desencadeou um
movimento nacional à reforma do Estado brasileiro, consolidado nas reformas à
Constituição Federal de 1988, como a Reforma Administrativa, da Previdência,
Educacional, que definiram a política de focalização e a adesão aos acordos
estabelecidos com organismos internacionais, em especial, com o Banco Mundial
(BOLLMANN, 2010).
Assim, ao FNDEP competia analisar e compreender como essa situação ia se
instalando no país. Coube-lhe organizar-se, construir uma frente de intervenção na
política de inclusão social e, nela, a de educação, a partir da organização da sociedade.
O Fórum Nacional assume a função articuladora de resistência à ordem excludente e
capitalista, cujas consequências afetam a maioria da população brasileira com baixarenda.
O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, que havia participado e contribuído
no processo de discussão da CF/1988, voltou a articular-se visando à elaboração da LDB,
organizando Fóruns Estaduais com discussões em inúmeros seminários e congressos. Ele
propôs um projeto de lei que foi encaminhado pelo deputado Jorge Hage, conhecido como
Proposta da Sociedade Civil.
Entretanto, enquanto na Câmara dos Deputados debatia-se acerca da dicotomia
entre financiamento público e privado da educação, no Senado surgia outro projeto de
LDB, conduzido pelo senador Darcy Ribeiro e elaborado nos bastidores por técnicos
ligados ao governo e à margem de qualquer discussão (SAVIANI,1998).
Após um período de embates políticos, com novas propostas e novos relatores, a
Proposta da Sociedade Civil pereceu, prevalecendo a proposta de origem do Poder
Executivo, que foi aprovada e constitui-se na LDB atual (Lei nº 9.394/96) 28. A LDB busca
disciplinar as competências dos sistemas de ensino, em regime de colaboração, – com
liberdade de organização nos termos desta lei (§2º do art. 8º) – e atribui à União a
competência de elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios (inciso I do art. 9º).
O projeto de Lei 9.394/96 previa a organização de um Sistema Nacional de Educação
(Art. 8º), tendo “como órgão normativo e de coordenação o Conselho Nacional de
Educação. Como órgão executivo, o Ministério responsável pela área” (art. 10) e “como
instância de consulta e de articulação com a sociedade, o Fórum Nacional de Educação”.
Ao Conselho era atribuída a competência para “definir as diretrizes e prioridades para
o Plano Nacional de Educação e sua expressão anual na Lei de Diretrizes Orçamentárias,
acompanhando e avaliando a sua implantação” (Art. 23) e, ao Fórum, coordenado pelo
Conselho Nacional de Educação, foi-lhe conferida a realização de reuniões quinquenais,
28
ALBUQUERQUE, 2011 e SOUSA NETO, 2013 realizaram estudos sobre as duas propostas de Plano Nacional
de Educação para o decênio 2001-2010.
“precedendo a elaboração dos Planos Nacionais de Educação, de modo a manifestar-se a
respeito de suas diretrizes e prioridades” (art.25)29 (BORDIGNON et al. 2011).
Assim, como a Constituição de 1988 em seu art. 214 preceitua: “A Lei
estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à
articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis”, a LDB de 1996
reafirma a mesma ideia e determina que “A União incumbir-se-á de elaborar o Plano
Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios” (art. 9º); e ainda no âmbito das Disposições Transitórias (art. 87, §1º): “A
União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encaminhará ao Congresso
Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos
seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos”.
A elaboração do Plano Nacional de Educação, além de ser uma exigência
presente nos dispositivos legais, é uma bandeira de luta e antiga exigência de vários
segmentos educacionais do país. Após dois anos de aprovação da LDB/1996, duas
propostas de plano foram encaminhadas ao Congresso Nacional, em fevereiro de 1998.
A primeira proposta, apresentada à Câmara dos Deputados em 10 de fevereiro
de 1998, ficou conhecida como a proposta da Sociedade Brasileira (PL nº 4.155/98).
Esse projeto surgiu a partir da pressão social produzida pelo Fórum Nacional em
Defesa da Escola Pública - (FNDEP). O texto elaborado contou com a colaboração de
educadores, profissionais da educação, estudantes, entidades sindicais, pais de alunos
e outros que participaram dos I e II Congressos Nacionais de Educação (CONEDS).
Tal proposta visava definir a intervenção plurianual do Poder Público, bem como da
sociedade. A segunda (Projeto de Lei 4.173/98), caracterizada como a proposta do
Poder Executivo foi apresentada à Câmara no dia seguinte ao da proposta da
sociedade civil (VALENTE; ROMANO, 2002; DIDONET, 2006).
A Proposta da Sociedade foi debatida, construída e aprovada pelo FNDEP, por
meio de congressos e conferências organizadas para esse fim. A Proposta do
Executivo foi elaborada pelo Ministério da Educação, o qual contou com inexpressiva
participação. À época, foi justificado pelo Executivo Federal que o processo não foi
ampliado, tendo em vista o curto período de tempo estabelecido pela LDB para
encaminhamento do PNE ao Congresso. Nessa direção foram convidados apenas
29
Análise do substitutivo ao projeto de lei de diretrizes e bases da educação nacional. In: Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional: texto aprovado na Comissão de Educação Cultura e Desporto com comentários de
Dermeval Saviani et al. São Paulo: Cortez - ANDE, p. 103-116, 1990.
alguns atores que representaram os demais interlocutores da arena educacional, o que
demonstra trajetória linear do Governo Federal para esta proposição30 (BORDIGNON
et al. 2011).
Nessa perspectiva, o Ministério da Educação elaborou um documento preliminar
com a indicação de problemas, diretrizes e sugestões de metas, bem como preparou
um conjunto de informações estatísticas, utilizando documentos que resultaram de
entendimento nacional, o Plano Decenal de Educação para Todos. As Secretarias do
MEC e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP) coordenaram a elaboração do PNE, organizando reuniões gerais.
Essas reuniões que indicavam um suposto debate, anunciado pelo MEC, ficaram
restritas a encontros com os interlocutores anteriormente citados, estes representavam
órgãos de governo da União, dos estados e dos municípios. Na apresentação e na
indicação da estratégia de elaboração do PNE, ficou evidente a preocupação do MEC
em justificar a pouca participação da sociedade na elaboração do plano, em face da
ampla mobilização promovida pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública na
elaboração de sua proposta (BORDIGNON et al. 2011).
A esse respeito Valente e Romano destacam como ocorreu o processo de
participação e mobilização instalados pelos movimentos sociais para a elaboração da
proposta do PNE:
Essa não foi uma lei originada de um projeto que tivesse trâmite corriqueiro
no parlamento federal. Ao contrário, ela surgiu da pressão social produzida
pelo “Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública”. As inúmeras entidades
ali presentes forçaram o governo a se mover, ao darem entrada na Câmara
dos Deputados, em 10 de fevereiro de 1998, do Plano Nacional de Educação,
elaborado coletivamente por educadores, profissionais da educação,
estudantes, pais de alunos, etc., nos I e II Congressos Nacionais de Educação
(Coneds). O plano, conhecido como PNE da Sociedade Brasileira,
consubstanciou- se no Projeto de Lei nº 4.155/98, encabeçados pelo
deputado Ivan Valente e subscrito por mais de 70 parlamentares e por todos
os líderes dos partidos de oposição da Câmara dos Deputados (VALENTE;
ROMANO, 2002, p. 97).
Por outro lado, Martins, que acompanhou a tramitação do PNE, manifesta sua
análise:
Ambos os processos tiveram suas virtudes e limitações. O processo do
CONED foi mais participativo, mas deste esteve ausente um agente
importante: o governo. Em muitos momentos a proposta construiu-se por
oposição à política do governo, o que se traduziu pela fixação, como meta,
da revogação de leis, decretos, portarias. (...) O processo do MEC foi mais
limitado. Procurou, contudo, agregar algumas instâncias estratégicas para o
MEC, como o Conselho de Secretários de Estado de Educação (CONSED)
e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Ensino (Undime) – embora
tenha inibido a participação de entidades mais reivindicativas. Assim,
importantes atores estiveram ausentes deste processo. (...) De qualquer
30 Plano
Nacional de Educação. Proposta do Executivo ao Congresso Nacional. INEP, Brasília, 1998.
maneira, o Plano Nacional de Educação, antes mesmo de a discussão iniciarse na Câmara, já começara a ser debatido em dois processos paralelos – cada
qual com suas virtudes e defeitos, suas possibilidades de avanços e
limitações (MARTINS, 2000, p. 67).
O desfecho, configurou-se por meio de um substitutivo elaborado pelo relator,
deputado Nelson Marchezan. O substitutivo tomou como base a Proposta do Executivo,
incorporando algumas metas da Proposta da Sociedade. A tramitação do texto
substitutivo do relator tomou todo o ano de 1999. Após a consolidação das diversas
emendas, tramitou nas comissões e posteriormente foi levado ao plenário da Câmara
e do Senado31 (DIDONET, 2006).
No que se refere ao planejamento educacional e mais especificamente à
descentralização, a Proposta do Executivo baseava-se na eficácia, eficiência e
competitividade, exigia, portanto, uma política específica, por meio da descentralização
da gestão, e uma suposta autonomia das escolas, às quais deveriam ser repassados,
os recursos com base nos resultados e índices alcançados pelas escolas, necessários
para manutenção do cotidiano escolar (Proposta do Executivo, p.78).
A proposta da sociedade brasileira previa uma forma de gestão inserida no
processo de relação da instituição educacional com a sociedade, de tal forma a
possibilitar aos seus sujeitos a utilização de mecanismos de construção e de conquista
da qualidade social na educação.
Nessa perspectiva, concebiam os princípios fundamentais: a instituição
educacional, o caráter público da educação; a inserção social e a gestão democrática,
onde as práticas participativas, a descentralização do poder, a socialização das
decisões desencadeiam um permanente exercício de conquista da cidadania.
(Proposta da Sociedade Brasileira, p. 33). Ainda na perspectiva da gestão educacional,
a proposta da Sociedade Brasileira propunha ações ao Sistema Nacional de Educação:
como eixo central da organização da educação nacional, devem simplificar as
estruturas burocráticas, descentralizar os processos de decisão e execução,
fortalecer as escolas e as unidades prestadoras de serviços, articular os
31
As duas propostas de PNE materializavam mais do que a existência de dois projetos de escola, ou duas
perspectivas opostas de política educacional. Elas traduziam dois projetos conflitantes de país. De um lado, tínhamos
o projeto democrático e popular, expresso na proposta da sociedade. De outro, enfrentávamos um plano que
expressava a política do capital financeiro internacional e a ideologia das classes dominantes, devidamente refletido
nas diretrizes e metas do governo. O PNE da Sociedade Brasileira reivindicava o fortalecimento da escola pública
estatal e a plena democratização da gestão educacional, como eixo do esforço para se universalizar a educação
básica. Isso implicaria propor objetivos, metas e meios audaciosos, incluindo a ampliação do gasto público total para
a manutenção e o desenvolvimento do ensino público. O custo seria mudar o dispêndio, equivalente a menos de 4%
do PIB nos anos de 1990, para 10% do PIB, ao fim dos 10 anos do PNE. A proposta da sociedade retomava, visando
a organizar a gestão educacional, o embate histórico pelo efetivo Sistema Nacional de Educação, contraposto e
antagônico ao expediente governista do Sistema Nacional de Avaliação. Por outro lado, o PNE do governo insistia
na permanência da atual política educacional e nos seus dois pilares fundamentais: máxima centralização,
particularmente na esfera federal, da formulação e da gestão política educacional, com o progressivo abandono, pelo
Estado, das tarefas de manter e desenvolver o ensino, transferindo-as, sempre que possível, para a sociedade e, por
conseguinte, para os demais entes federados (grifos nossos) (VALENTE; ROMANO, 2002, p. 98).
diferentes níveis e sistemas de ensino, integrar a educação formal e a informal,
articular a educação escolar com as ações educativas produzidas no interior dos
movimentos populares, valorizar os processos de avaliação institucional
(Proposta da Sociedade Brasileira, p. 29).
Tal proposta almejava que o Estado brasileiro assumisse uma gestão
democrática,
possibilitando
dessa
forma,
a
autonomia
didático-pedagógica,
administrativa e financeira das instituições educacionais (Proposta da Sociedade
Brasileira, p. 35).
O PNE foi aprovado, transformou-se na Lei 10.172/2001 e foi sancionado com
nove vetos pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Todos
incidiram em questões de financiamento. No que tange ao conteúdo de gestão e
financiamento e sua relação com a categoria da descentralização, a Lei 10.172/2001
aponta nas diretrizes e metas alguns elementos, que nos anos subsequentes,
converteram-se em programas do governo federal, apesar dos vetos. Dentre as metas
destacavam-se as seguintes:
- Deve-se promover efetiva desburocratização e descentralização da gestão nas
dimensões pedagógica, administrativa e de gestão financeira, devendo as unidades
escolares contar com repasse direto de recursos para desenvolver o essencial de sua
proposta pedagógica e para despesas de seu cotidiano.
- Aperfeiçoar o regime de colaboração entre os sistemas de ensino com vistas a uma
ação coordenada entre os entes federativos, compartilhando responsabilidades, a
partir das funções constitucionais próprias e supletivas e das metas deste PNE.
- Estimular a criação de Conselhos Municipais de Educação e apoiar tecnicamente
os Municípios que optarem por constituir sistemas municipais de ensino.
- Elaborar e executar planos estaduais e municipais de educação, em consonância
com este PNE.
- Definir, em cada sistema de ensino, normas de gestão democrática do ensino
público, com a participação da comunidade.
- Estabelecer, em todos os Estados, com a colaboração dos Municípios e das
universidades, programas diversificados de formação continuada e atualização
visando a melhoria do desempenho no exercício da função ou cargo de diretores de
escolas.
- Definir padrões mínimos de qualidade da aprendizagem na Educação Básica numa
Conferência Nacional de Educação, que envolva a comunidade educacional. (Lei
10.172/2001, diretrizes 11.2 e metas 11.3.2).
Nesse contexto, a política neoliberal, como meio orientador das políticas sociais,
difundidas pelos bancos e organizações multilaterais, foi assumida pelo governo federal
na redefinição das funções do Estado. Essa política manifesta-se na modernização
administrativa e econômica, nos processos de descentralização, na busca de parcerias,
nas políticas de participação da sociedade civil e na relação com os entes da federação
(SAVIANI, 2008; OLIVEIRA, 2009).
No âmbito da gestão educacional na década de 2000, dentre as diretrizes e
metas propostas no Plano Nacional de Educação, foram criados e/ou expandidos
alguns programas de interesse do Ministério da Educação com vistas a prestar
assistência técnica e financeira aos municípios. Como já citados anteriormente, o
Programa Dinheiro Direto na Escola, (PDDE), o Programa Nacional de Capacitação de
Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho), o Programa de Apoio aos
Dirigentes Municipais de Educação (Pradime), Programa Nacional de Fortalecimento
dos Conselhos Escolares.
O Programa Nacional Escola de gestores e o Programa Nacional de
Acompanhamento e Avaliação do Plano Nacional de Educação e dos Planos Decenais
correspondentes32 formam parte do novo ordenamento da gestão da educação. Uma
das bandeiras defendidas, principalmente pelos movimentos sociais desde o processo
de redemocratização, e que vem se concretizando desde 1985, refere-se à
descentralização de políticas públicas. Nesse sentido, a descentralização converte-se
em um elemento para a construção mais sólida da municipalização, uma vez que supõe
a interlocução entre as várias instâncias governamentais (FERREIRA; FRANÇA, 2012).
Dessa
forma,
a
autonomia
política
deparou-se
com
possibilidades
administrativas e financeiras pouco favoráveis em um grande número de municípios, o
que vem comprometendo a implementação das políticas educacionais de forma
articulada (FERREIRA e FRANÇA, 2012). Esse contexto repercute na definição e
delineamento da gestão municipal, com implicação na elaboração e revisão do plano
municipal de educação de Valparaíso de Goiás, que apresentamos a seguir.
1.6-
Contextualização histórica de Valparaíso de Goiás33, com ênfase no Plano
Municipal de Educação
Com a Constituição Federal de 1988, os municípios passaram a ser conside-
rados entes federados e a desempenhar um papel mais relevante na administração
pública brasileira. Em decorrência, os municípios receberam extenso e detalhado
tratamento constitucional, com competências privativas ou em colaboração com o
estado e a União. Nessa perspectiva de autonomia, a Constituição de 1988 atribuiu aos
municípios competências tributárias próprias e participações no produto da
arrecadação de impostos da União e dos estados. Em contrapartida, foi ampliada a
32
Para informações mais detalhadas acerca desses programas, acessar o site do Ministério da Educação, link:
http://www.mec.gov.br/. Alguns programas continuam sob a gestão da Secretaria de Educação Básica – (SEB), onde
foram criados, e outros foram assumidos pela Secretaria de Articulação dos Sistema de Ensino – (SASE), a partir
de 2011. A respeito das conferências realizadas nos anos de 2008 e 2010, acessar os links: conae.mec.gov.br e
conae2014.mec.gov.br.
33
Em 18 de julho de 1995, pela Lei Estadual nº 12.667, criou-se o município de Valparaíso de Goiás, decorrente
um movimento de desmembramento de Luziânia.
esfera de obrigações dos municípios na prestação de serviços públicos essenciais.
Registros do IBGE indicam que a história de Valparaíso de Goiás remonta a
1959, com a implantação do primeiro loteamento, denominado Parque São Bernardo,
surgido em decorrência da construção de Brasília. Na ocasião, a região recebeu grande
número de migrantes. O nome da cidade seria uma homenagem a um desses
migrantes, um engenheiro civil, natural de Valparaíso no Chile, que veio para o Brasil e
foi o responsável pelo primeiro projeto habitacional da cidade.
Em 19 de abril de 1979, o prefeito de Luziânia, Walter José Rodrigues, inaugurou
o pequeno Núcleo Habitacional Valparaíso I e empossou o primeiro administrador
regional da localidade, Clóvis José Rizzo Esselin de Oliveira Almeida. Em 1980 foi
instituído o núcleo habitacional Valparaíso, por meio do Decreto-Lei nº 972, de 2 de
maio de 1980. O núcleo contava com um posto telefônico, uma agência dos Correios e
Telégrafos, um escritório de contabilidade e onze lojas comerciais.
Na área educacional, a cidade contava com uma escola estadual, que atendia
aos alunos do primeiro grau (ensino fundamental), e duas escolas particulares. Em
1995, o núcleo habitacional foi desmembrado do município de Luziânia e elevado à
categoria de município, com a denominação de Valparaíso de Goiás, situado no Estado
de Goiás34, pela lei estadual nº 12.667, de 18 de julho de 1995.
A economia de Valparaíso de Goiás consolida-se no setor de serviços e
empresas que são atraídas pelo potencial econômico e principalmente pela posição
estratégica da cidade. A cidade localiza-se no entorno sul do Distrito Federal e possui
população de 132.947 habitantes, IDH de 0,746 e índice de Gini de 0,520 (IBGE, 2010).
Quadro 2 - Município de Valparaíso de Goiás: Prefeitos e Secretários de Educação
Gestão/
Prefeito(a) Municipal
Partido
Secretário(a) de Educação
Período
Político
1995
e Administrador nomeado por
Secretário era de Luziânia
1996
Luziânia – José Valdécio
Pessoa
1997
a José Valdécio Pessoa
PSD
Lêda Borges de Moura
2000
2001
a Juarez Sarmento
PSDB
Maria Risoleta Valadares
2004
2005
a José Valdécio Pessoa
PTB
Maria Rita Guedes Frazão
34
Goiás está situado na região Centro-Oeste do País. Limita-se ao norte com o Estado do Tocantins, ao sul com
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, a leste com a Bahia e Minas Gerais e a oeste com Mato Grosso. Goiás possui
246 municípios. Goiânia, sua capital, é o núcleo polarizador da Região Metropolitana, aglomerado de 20 municípios
que abriga mais de 2 milhões de habitantes. Quanto à demografia, a população de Goiás no ano de 2013, segundo
estimativa do IBGE, é de 6.434.048 habitantes, sendo o estado mais populoso do Centro-Oeste. A população goiana
é constituída, em grande parte, por jovens (entre 15 e 39 anos) representando 42,82% da população, significando
uma expressiva População Economicamente Ativa (PEA). Constata-se também que 9,15% da população são
representados por pessoas de 60 anos ou mais. Perfil competitivo das regiões de planejamento do Estado de Goiás,
2010. Disponível em: <http://www.segplan.go.gov.br/post/ver/102925/perfil-competitivo>.
2008
2009
a Lêda Borges de Moura
PSDB
Rudilene Alves de Farias
2012
Nobre
2013
a Lucimar da Conceição
PT
Ana Claúdia Malta Paulino
2014
Nascimento
Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás/maio-2014
Reproduz-se nos municípios os conflitos políticos e partidários que ocorrem tanto
nos estados como União, entretanto as conquistas dos municípios dependem da
capacidade das forças locais de fazerem valer suas reivindicações. No caso de
Valparaíso de Goiás, as mudanças educacionais ocorridas assinalam possibilidades de
alterações na gestão da educação em relação à condição anterior, antes da
emancipação. A separação ofereceu a oportunidade de romper com velhas práticas
clientelistas de Luziânia, embora ainda haja resquícios do passado, que vem sendo
enfrentados pela população e pela gestão pública.
O município de Valparaíso de Goiás tem um atendimento educacional
compartilhado entre as redes de ensino estadual e municipal. Em 2013, o atendimento
escolar total era de 35.416 alunos. A rede municipal respondeu por 52% (18.397 alunos
- educação infantil, ensino fundamental, modalidades de educação de jovens e adultos
e educação especial), enquanto a rede estadual atendeu 23% (8.003 alunos do ensino
fundamental - anos finais e ensino médio).
1.6.1- Aspectos da Educação Básica de Valparaíso de Goiás
Tabela 1 – Número de alunos matriculados por dependência administrativa – Valparaíso
de Goiás – rede municipal/estadual/privada – 1998 a 2013
Número de Alunos Matriculados - por dependência administrativa - Valparaíso de Goiás - Rede
Municipal/Estadual/Privada - 1998 a 2013
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
R. municipal
9462 13654 15664 17032 18046 19044 19546 18991 18986 17718 17538 18425 18907 20851 21390 18397
R. estadual
6233
8197
8326
9254 10238 10101 10648 10259 10207 10118
8988
8084
7508
8037
7443
8003
0
6565
6391
6621
5647
7213
7770
7753
7094
9016
Rede Privada
6789
6540
6064
5782
4888
3396
Geral - M/E/P 15695 28416 30381 32907 35073 35685 36258 35032 34081 31232 32173 33722 34185 36641 35927 35416
Fonte: Inep/MEC
Disponível em: http:http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-matricula
Coube à iniciativa privada o atendimento de 9.016 alunos, representando 25%
do total. Para atender a essa demanda, o município conta com 79 escolas. Desse total,
42 são municipais, sendo 41 urbanas e 01 rural; 11 escolas são estaduais, todas
urbanas. A iniciativa privada representa 33% do total, com 26 escolas.
Tabela 2 - Indice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb
Ideb, por dependência administrativa - Valparaíso de Goiás - Rede Municipal/Goiás-Rede Estadual e Brasil
Ideb Observado
Dep. Adm.
Ano
2005
3.5
Valparaíso Total
3.5
de Goiás- Anos Iniciais
Anos Finais
3.8
RM
Total
3.9
Goiás - RE Anos Iniciais
3.9
Anos Finais
3.3
Total
Brasil Anos Iniciais
3.8
Anos Finais
3.5
Metas Projetadas
2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019
3.6
4.3
4.6
3.6
3.9
4.4
4.6
4.9 5.2 5.5
3.6
4.3
4.6
3.6
3.9
4.4
4.6
4.9 5.2 5.5
3.6
3.8
3.9
3.8
4.0
4.2
4.6
5.0 5.3 5.5
4.3
4.9
5.3
4.0
4.3
4.7
5.0
5.3 5.6 5.8
4.3
4.9
5.3
4.0
4.3
4.7
5.0
5.3 5.6 5.8
3.4
3.6
4.0
3.3
3.5
3.7
4.1
4.5 4.8 5.0
Não está disponível no site Inep/MEC, dados totais do Brasil
4.2
4.6
5.0
3.9
4.2
4.6
4.9
3.8
4.0
4.1
3.5
3.7
3.9
4.4
2021
5.8
5.8
5.7
6.1
6.1
5.3
6.0
5.5
Fonte: Inep/MEC
Disponível em: http://sistemasideb.inep.gov.br/resultado/
IDEB -2011
Ensino Fundamental
Anos Iniciais
Anos Finais
Valparaiso de Goiás
4,6
3,7
Goiás
5,3
4,2
Região Centro-oeste
5,3
4,3
5
4,1
Brasil
Fonte: Todos pela Educação - dados populacionais e educacionais-2010-2011.pdf
Disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-no-brasil/numeros-do-brasil/dados-por-municipio/municipio/go/valparaiso-de-goias/
O IDEB é um índice que combina o rendimento escolar às notas do exame Prova
Brasil, aplicado a crianças da 4ª e 8ª séries, podendo variar de 0 a 10. O município de
Valparaíso em 2007, 2009 e 2011 alcançou as metas projetadas pelo Inep, tanto das
séries iniciais, quanto das finais. O IDEB nacional, em 2011, foi de 4,7 para os anos
iniciais do ensino fundamental em escolas públicas e de 3,9 para os anos finais. Nas
escolas particulares, as notas médias foram, respectivamente 6,5 e 6,0.
1.6.2 O Plano Municipal de Educação35 de Valparaíso de Goiás
A Lei nº 504 de 29 de julho de 2004 dispõe sobre o PME de Valparaíso de Goiás.
No Art. 2º, a Lei prescreve que o Plano “desenvolverá suas metas e objetivos em
consonância com as diretrizes traçadas pela Constituição Federal, Plano Nacional de
Educação, Plano Estadual do Estado de Goiás e Lei de Diretrizes e Bases da Educação”.
Nessa perspectiva, Monlevade esclarece que o plano para ser efetivamente
35
Conhecendo a legislação educacional e a realidade municipal, a partir de um mapeamento da situação socioeconômica,
demográfica e, principalmente, educacional, os gestores estarão munidos de elementos para discutir as ações e as
prioridades a serem eleitas para compor o Plano Municipal de Educação – PME. Espera-se que o processo de elaboração
do PME seja conduzido de forma democrática e transparente, mobilizando todas as forças sociais e políticas, envolvendo
os poderes executivos, legislativo, o Ministério Público e a sociedade civil organizada, na perspectiva de garantir os
direitos da população, preceituada pela Constituição Federal de 1988, em seus arts. 205 e 206 e incisos I a VII; na Lei de
Diretrizes de Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96; e no Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/01.
(BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica: Documento Norteador para Elaboração de Plano
Municipal de Educação, 2005, p. 9).
um plano, precisa preencher pelo menos três requisitos: ser científico,
participativo e sistêmico. Que significa ser científico no nível municipal?
Ele deve estar baseado não somente em normas legais como principalmente
num diagnóstico que abarque as dimensões históricas, geográficas e
econômicas do município, bem como num levantamento de demandas e de
problemas que limite os objetivos institucionais e os desejos da sociedade.
Ele deve ser estruturado num texto coeso e coerente, que articule diretrizes,
diagnóstico, objetivos e metas, bem como estratégias e ações que garantam
sua efetividade, respaldadas pela mobilização de recursos humanos,
materiais e financeiros para sua consecução. Ele deve ser perpassado pelo
registro de chaves teóricas que resgatem a discussão sobre os temas
polêmicos, sobre as alternativas de interpretação e de solução dos problemas
que historicamente travam o alcance dos objetivos almejados pela população
municipal (MONLEVADE, 2013, p. 20).
Com base na legislação educacional que prevê o planejamento a partir de uma
perspectiva sistêmica do todo articulado, insere-se a gestão pública, que segundo
(BORDIGNON, 2009, p. 90) “deve refletir sobre a realidade, traçar objetivos para que se
evite a improvisação de ações”. Assim, na perspectiva do autor, o Plano Municipal de
Educação como instrumento de implementação e resultante da articulação sócio-política
entres os órgãos que compõem o sistema educacional
define a concepção e viabiliza a realização do projeto municipal de educação,
superando rotinas, ações segmentadas e improvisações. O foco da ação será a
cidadania, tendo a escola, e nela, o educando, como eixos principais de sua
efetivação. O educando, qualidade da educação a ele oferecida, deve ser situado
como razão primeira, original do plano. A ações previstas no plano dele derivam
e a ele se subordinam. O PME é o instrumento da gestão para tornar efetiva a
cidadania e a sociedade preconizada nas bases e diretrizes do Sistema Municipal
de Ensino. Quando o município não tem plano fica à mercê de ações episódicas
que, mesmo planejadas caso a caso, representam improvisações. Sem plano
municipal não visão de Estado nas ações, não há caminho a percorrer, mas
apenas passos ao sabor das circunstâncias de cada governo (BORDIGNON,
2009, p. 92).
O Plano Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás está estruturado em 5
tópicos, a saber:
a) apresentação,
b) abrangência,
c) formação, capacitação e valorização dos professores e demais profissionais da educação
d) financiamento, gestão e desenvolvimento,
e) acompanhamento e avaliação do Plano Municipal Decenal.
De acordo com o disposto no tópico: Apresentação da Lei nº 504 – a elaboração
do Plano de Educação do Estado de Goiás adotou o seguinte processo:
O Estado de Goiás, demonstrando o seu compromisso com o crescimento da
qualidade do ensino brasileiro, iniciou o seu processo de construção do Plano
Estadual de Educação a partir da integração coletiva, partindo primeiramente
da formação de uma comissão composta por 23 entidades e órgãos, onde
foram criadas, mediante a realização de debates nas unidades escolares,
subsecretarias regionais e, nas secretarias municipais, esses debates
culminaram com a elaboração das propostas que foram avaliadas no
Seminário do Fórum em defesa da Escola pública do Estado de Goiás, que
foi realizado no período de 20 a 22 de novembro de 2002. (Lei nº 504 –
Apresentação).
Ainda observando o prescrito, neste mesmo tópico, a Lei assinala que o
processo coletivo de elaboração do Plano Estadual de Educação teve a
participação do Município de Valparaíso de Goiás que a partir da
contribuição nesse processo disporá do seu Plano Municipal de Educação,
direcionando e respeitando a Constituição Federal; a LDB; o Plano Estadual
de Educação, onde se faz possível diante do envolvimento de todos os
segmentos do município, em suas unidades escolares, em sua lei de criação
do Conselho Municipal de Educação que junto à Secretaria de Educação,
organizaram os critérios que serão imprescindíveis para a elaboração do
desenvolvimento das propostas geradas a partir da realidade. Elaborou-se o
projeto político pedagógico da Secretaria de Educação, Cultura, Desporto e
Lazer, consubstanciando com seu sistema Municipal de Ensino, elaborou
seu Plano denominado “Valparaíso Incluído”. (Lei nº 504 – Apresentação).
O PME de Valparaíso de Goiás, concebido a partir do enfoque generalizado de
“Valparaíso de Goiás Incluído”, em consonância com a Constituição Federal de 1988, a
LDB de 1996 e o PEE de Goiás, fixa as diretrizes, priorizando conquistas a serem
alcançadas nos dez anos posteriores a 2004.
O PME será constituído na veracidade, visando às metas da Constituição
Federal, da LDB e do PNE, onde são garantidas sua legitimidade de
aplicação, independente de qual seja o governante do município. Sendo
assim, suas metas devem ser rigorosamente respeitadas e cumpridas por
todos os que ocuparem o Poder Executivo durante a vigência do Plano (Lei
nº 504/2004).
A Lei municipal nº 504/2004 descreve no item 4 – Requisitos Básico do PME de
Valparaíso de Goiás, que o Plano está sincronizado ao ideal da promoção da qualidade
total de vida para a população de Valparaíso de Goiás, observando os programas de ação
do governo municipal, da secretaria de educação, cultura e desporto e lazer, priorizando:
a. Aprimoramento, informatização e modernização da gestão municipal;
b. Inclusão social do cidadão e valorização da cidadania
c. Implantação de educação de qualidade;
d. Qualidade de vida para a população de Valparaíso de Goiás
Segundo trecho do corpo da Lei nº 504/2004, o Plano Municipal de Educação de
Valparaíso de Goiás
qualifica-se pelo envolvimento completo da Secretaria de Educação, Cultura,
Desporto e Lazer com os demais segmentos sociais a partir do provimento de
encontros, seminários, cursos, fóruns e a outras atividades, rumo à conquista de
ações programadas que sustentem a proposta política administrativa e
pedagógica, integrando todos os segmentos da sociedade organizada. Como
também a realização socioeducativa compromissada com novos caminhos que
garantam cada vez mais, a valorização dos profissionais da educação e da gestão
da escola pública (Lei nº 504/2004).
Por outro lado, a Lei 9.394/96, Art. 11 prescreve que os municípios incumbir-se-ão
de:
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus
sistemas de ensino36., integrando-os às políticas e planos educacionais da União
e dos estados; II - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com
prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de
ensino, somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua
área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados
pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.
Parágrafo Único: os municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema
estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica.
A Lei nº 504 que dispõe sobre o PME de Valparaíso de Goiás sinaliza que o Plano
foi elaborado, considerando “os pressupostos que foram surgindo na rede de ensino, nos
segmentos, com ações centralizadas no âmbito da Secretaria de Educação e com a
colaboração do Conselho Municipal de Educação” (Lei nº 504/2004 - Apresentação).
A perspectiva de gestão compõe o tópico IV – Financiamento e Gestão, a Lei nº 504/2004
prescreve que:
A participação efetiva da população nos processos decisórios demonstrará que
a gestão deva seguir a partir de uma base descentralizada, onde todos possam
participar formulando e organizando ações, que visem à melhoria e à adequação
do financiamento acompanhados de diretrizes que obtenham os resultados
necessários para qualidades do ensino. Portanto, é necessário unir os segmentos
comunitários, a comunidade escolar, o conselho tutelar, o conselho municipal
de educação para que o resgate da melhoria da qualidade de ensino torne-se uma
responsabilidade e prioridade de toda a população do município de Valparaíso
de Goiás. (Lei nº 504/2004 – Financiamento e Gestão).
Quanto ao acompanhamento e avaliação, a Lei estabelece que estas devem ser
realizadas com os órgãos que compõem o Sistema de Ensino. Ao aprovar a Lei nº 504,
o Prefeito Juarez Sarmento assinalou que, além da Secretaria de Educação, Cultura,
Desporto e Lazer, deveriam também integrar a comissão permanente para o controle e
avaliação do PME, o Conselho Municipal de Educação, conselhos escolares, os órgãos
do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, Sindicato de Valparaíso e as entidades da
36
Os Sistemas Municipais de Ensino compreendem: I) as instituições do ensino fundamental, médio e de educação
infantil, mantidas pelo poder público municipal; II) as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela
iniciativa privada; e III) os órgãos municipais de educação, aqui cabe o Conselho Municipal de Educação. (Lei
9.394/96, Art. 18).
sociedade civil organizada, interessadas na garantia dos direitos da criança e do
adolescente (Lei nº 504/2004).
Este estudo elegeu como objeto a gestão da educação no município, com foco
na relação entre a Secretaria Municipal de Educação e o Conselho Municipal de
Educação de Valparaíso de Goiás no processo de elaboração e/ou revisão do plano de
educação. Após leitura da Lei nº 504/2004, observou-se que na página 06, está
registrado que a realização do PME contou com a colaboração do Conselho Municipal
de Educação.
Ainda no corpo da Lei, os tópicos de gestão, acompanhamento e avaliação
preveem que o CME faz parte do processo decisório das ações. “Participando,
formulando e organizando ações que visam à melhoria e à adequação do
financiamento, acompanhados de diretrizes que obtenham os resultados necessários
para a qualidade de ensino” (Lei nº 504/04).
Assim, observou-se que a Lei nº 504/2004 que aprova o PME de Valparaíso de
Goiás previu a atuação conjunta do CME e da Secretaria desde o momento da
concepção até sua implementação. A análise de convergências e contradições
observadas no capítulo 3, considerou, sobretudo, as informações fornecidas pelos
conselheiros e gestores entrevistados.
Considerações Parciais
Com a Constituição Federal de 1988, os municípios tornam-se considerados
entes da federação e passaram a desempenhar um papel relevante na administração
pública brasileira. Em decorrência, os municípios receberam tratamento constitucional,
com competências privativas ou em colaboração com o estado e a União. Nessa
perspectiva de autonomia, a Constituição de 1988 atribuiu aos municípios
competências tributárias próprias e participações no produto da arrecadação de
impostos da União e dos estados.
Assim, foi ampliada a esfera de obrigações dos municípios na prestação de
serviços públicos essenciais, este ente federado passou a atuar prioritariamente e
assumir responsabilidades com o ensino fundamental e a educação infantil, buscando
articular-se com os estados e o governo federal para assegurar a universalização do
ensino obrigatório (CF/1988 Art. 211).
Em relação ao Plano Nacional de Educação (2001-2010), a Proposta do
Executivo baseou-se numa concepção de gestão com ênfase na eficácia, eficiência,
competitividade e descentralização (Proposta do Executivo, p.78). Por outro lado, a
Proposta da Sociedade Brasileira almejava um Plano que expressasse em seus
princípios uma concepção de gestão fundamentada: a) na instituição educacional como
direito social; b) no caráter público da educação; c) na inserção social e na gestão
democrática, onde as práticas participativas, a descentralização do poder, a
socialização das decisões desencadeia um permanente exercício de conquista da
cidadania (Proposta da Sociedade Brasileira, p. 33).
O primeiro Plano Nacional de Educação aprovado, transformou-se na Lei
10.172/2001 e passou a articular as responsabilidades federativas para garantir o
direito à educação. Nos anos subsequentes à sua aprovação, conteúdo das diretrizes
e metas da Lei, converteu-se em programas do governo federal.
Dentre as diretrizes e metas propostas no Plano Nacional de Educação, foram
criados e/ou expandidos políticas e programas no âmbito do Ministério da Educação
visando a prestar assistência técnica e financeira aos municípios, a exemplo do
Fundef/Fundeb, do Programa Dinheiro Direto na Escola, (PDDE), do Programa
Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação (Pró-Conselho), do
Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação (Pradime) e do Programa
Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Os conselheiros e gestores da
pesquisa manifestam que algumas dessas políticas e programas repercutem na gestão
da educação do município.
A vigência do Plano Municipal de Educação em Valparaíso de Goiás (2004-2014)
coincidiu com um do período de efetiva descentralização da matrícula pública da
educação infantil e do ensino fundamental e de organização do sistema municipal de
ensino, naquele ente da federação. O PME tornou-se um instrumento de gestão da
educação municipal e, portanto, meio de efetivação da política educacional.
Assim, com a aprovação do Plano Nacional de Educação, em 03 de junho de
2014 pela Câmara dos Deputados e considerando as características do modelo
federativo brasileiro, a elaboração e a revisão do PME de Valparaíso e dos planos
correspondentes dos estados, do Distrito Federal e dos demais Municípios, torna-se
uma necessidade.
Capítulo 2 – A descentralização e o Pró-Conselho – uma proposta de gestão com
participação social
Este capítulo analisa o município como ente federado, considerando os
processos de descentralização via municipalização, seus dilemas na gestão da
educação após a Constituição Federal de 1988. Abordamos ainda, a iniciativa de uma
política de formação continuada para conselheiros municipais de educação no âmbito
da gestão do Ministério da Educação, oficializada em 2003, que tinha por objetivos
fortalecer e ampliar o processo de gestão no município.
Nessa perspectiva, problematiza-se o processo de descentralização delineado
pelo governo federal, com foco no Município, considera-se o contexto de promulgação
da Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
Lei 9.394/96 e o Plano Nacional de Educação – Lei nº 10.172/2001.
Para este capítulo foram eleitas as seguintes questões: de que forma ocorreu a
descentralização/municipalização a partir da Constituição Federal de 1988 e quais os
sentidos resultantes desse processo? Como o Programa Nacional de Capacitação de
Conselheiros Municipais de Educação – Pró-Conselho contribuiu para qualificar a
atuação dos conselheiros?
2.1 – Alguns elementos da municipalização da educação antes de 1988
O debate sobre o processo de municipalização emerge nos anos 1950. A partir
de 1970 ressurge como uma das possibilidades de desdobramento da descentralização
política e provoca questões acerca do financiamento da educação. Em diferentes
décadas e por distintas razões o processo de municipalização foi incentivado. Por
exemplo, o Projeto PROMUNICÍPIO37 – fruto de acordo internacional do Brasil com o
Banco Mundial.
De acordo com Both, a municipalização do ensino no Brasil passou por
três períodos: 1) de 1946 a 1971, situam-se planos e programas oficiais,
marcado por iniciativas particularizadas, sem expressão prática, mas
importante impulso ao pensamento municipalista em educação; 2) de
1971 a 1988, registra-se a ocorrência de experiências expressivas na área;
3) de 1988 a 1991, caracterizada por ser uma fase de transição, por meio
da qual se esperava uma definição mais precisa sobre os
encaminhamentos educacionais, sobretudo a partir da Constituição de
1988, considerada ponto de apoio para a municipalização do ensino
fundamental (BOTH, 1997, 109-110).
Como resultados dos embates e conquistas, oriundos do processo de
redemocratização a partir de 1985, a legislação educacional brasileira sofreu diversas
alterações que influenciaram o processo de descentralização via municipalização, a
exemplo da Emenda Calmon,38 que alterou os mínimos orçamentários para a educação,
estabelecendo que à União caberia a aplicação de pelo menos 13% da receita
resultante de impostos e transferências e aos Estados, Distrito Federal e Municípios
25%.
A criação da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – Undime,
em outubro de 1986 contribuiu para incentivar a descentralização da educação. A
entidade passou a pressionar por maior participação dos municípios nas questões
referentes à educação. Na compreensão de Both, a municipalização da educação pode
ser entendida
como a transferência de competências administrativas e da responsabilidade pela
administração e pelo desenvolvimento dos ensinos pré-escolar e fundamental dos
estados aos municípios, de forma gradual, progressiva e diferenciada, acompanhada
dos necessários apoios e recursos por parte da União e dos próprios estados. A mera
passagem de encargo e serviços por parte da União e dos estados aos municípios
não se coaduna com a essência de uma municipalização da educação, por si só, visto
37
O Projeto Promunicípio criado pelo governo federal em 1974 tinha por objetivos fortalecer a estrutura de apoio
técnico e financeiro aos municípios. Dentre seus objetivos estavam estabelecer ações pedagógicas, criar e fortalecer
órgãos municipais de educação, capacitar professores, construir, restaurar e equipar escolas (BOTH, 1997).
38
A Emenda Constitucional nº 24, de julho de 1983 (conhecida por Emenda Calmon) estabelece a obrigatoriedade
de aplicação anual, pela União, de nunca menos de treze por cento, e pelos Estados, Distrito Federal e Municípios,
de, no mínimo, vinte e cinco por cento da renda resultante dos impostos, na manutenção e desenvolvimento do
ensino. A Lei nº 7.348/85 regulamentou a questão das despesas com ensino, estipulando em seu Art. 2º que os
recursos destinados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, resultantes da aplicação dos percentuais
estabelecidos no § 4º do art. 176 da Constituição Federal, visam a assegurar preferencialmente o cumprimento do
preceito da escolarização obrigatória. Em seu art. 6º § 2º a Lei destaca as despesas que não são consideradas com a
manutenção e o desenvolvimento do ensino, estando entre elas as efetuadas com pesquisa quando não vinculada esta
ao ensino ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, não vise, precipuamente, ao aprimoramento da qualidade
e à expansão racional do ensino, as que se traduzam em subvenções a instituições privadas, de caráter assistencial
ou cultural e as que se destinem à formação específica de quadros para a administração pública, sejam civis, militares
ou diplomáticos (EC nº 24 e Lei nº7.348 de 1985).
ser necessário estar acompanhada das efetivas condições de toda ordem (BOTH,
1997, p. 78).
Both enfatiza a municipalização educacional como um processo democrático e
que, ao interagir com outras áreas sociais, pode oportunizar e desenvolver ações com
um retorno social ao cidadão em suas necessidades básicas, a saber:
Por certo, a extensão do campo de uma municipalização também se encontra na
dependência direta do deixar-fazer democrático, com condições, em que o
município assume gradualmente as competências que lhe cabem. Assim uma
municipalização vista sob a angulação da ação e do benefício social, possivelmente
encontra terreno fértil para atingir o homem em suas necessidades básicas. Dessa
forma, uma municipalização da educação vislumbra emergir da ação e interação
cooperativa de áreas que integram a ordem social da Constituição, como saúde,
previdência social, assistência social e serviços básicos (BOTH, 1997, p. 79).
Com o ordenamento jurídico da educação nacional, inaugurado pela
Constituição Federal de 1988, surgem condições institucionais que vão possibilitar
redimensionamentos no campo da municipalização da educação.
2.2 – A descentralização da educação básica depois de 1988
As décadas de 1990 e 2000 foram marcadas por um intenso processo de
retomada da democracia e reorganização da sociedade civil, tendo como sujeitos os
sindicatos e os movimentos sociais. Nesse período, aconteceram diversos debates na
esfera política, principalmente, no campo educacional, marcado por maior expressão
de cidadania.
Isto representou um progressivo processo de redemocratização do país, de
abertura política e de conflitos de projetos. A correlação de forças foi ampliada, o que
desencadeou intensa mobilização, com vistas à modernização do país. Esse
movimento propiciou o desdobramento de manifestações e marchas que contribuíram
para fortalecer a construção da democracia em todos os setores da sociedade
brasileira, e a descentralização foi compreendida como uma das possibilidades para
avanços sociais.
Sendo assim, pode-se inferir que, nesse período, o sentido do termo
descentralização esteve associado à necessidade de modernização do país e da
ampliação da participação da sociedade nas decisões políticas. Em parte, as
reivindicações democráticas a partir de 1985 consistiam na descentralização das
políticas públicas. A excessiva centralização de poder no regime militar produziu
ineficiência, corrupção e ausência de participação no processo decisório, assim esse
contexto contribuiu para instalação do debate, em várias tendências políticas, acerca
dos benefícios da descentralização.
Recorremos aos estudos de (Ferreira, 2013) para melhor compreensão desse
processo, a autora sinaliza que
a Constituição Federal de 1988 é o marco formal que consagrou o princípio de
participação da sociedade civil, dando início ao processo de democratização da
sociedade e de criação dos espaços públicos. A organização estatal brasileira
sofreu forte impulso descentralizador, sendo transferidas responsabilidades aos
municípios, quanto à formulação e à implementação de políticas públicas. A
autonomia política e administrativa alcançada pelos municípios trouxe maior
complexidade à relação entre os entes federativos, que passa a se apresentar na
forma de um conjunto superposto de arenas de negociação, coordenação e
produção de políticas e serviços públicos, ramificados horizontal, vertical e
setorialmente em cada nível de governo. Muitas vezes, a competição se instaura,
em outras, a cooperação, no relacionamento dos entes federativos (FERREIRA,
2013, p. 71).
Nessa perspectiva, Martins e Santos (2001) acrescenta que a descentralização
é acompanhada por um conjunto de recursos que visa ao fortalecimento do poder local.
Já a desconcentração viabiliza-se por meio de um conjunto de políticas elaboradas em
âmbito do governo central e são transferidas tarefas aos entes federados para que se
proceda a execução. Assim, para os autores, a:
Descentralização: consiste na transferência de poder de um nível de governo para
outro. Este último se responsabilizará pela adoção e gestão integral de
determinadas políticas públicas a ele subordinadas, as quais devem ser
acompanhadas de todos os recursos, com o intuito de viabilizar a execução
política, administrativa e institucional, combinando a participação da sociedade
civil organizada em todas as etapas do processo decisório. Desconcentração:
Transferência de gestão operacional, não política, de determinados objetivos
definidos e coordenados, em nível central, de uma estrutura de governo a outra
ou intragovernamental, de forma a proceder à racionalidade administrativa
gerencial e institucional. Desta forma, difere da descentralização, visto que esta
pressupõe a capacidade de definição política dos princípios, objetivos e metas a
serem alcançados no âmbito a ela vinculado (MARTINS e SANTOS, 2001, p.
240).
Ao analisar a antinomia centralização/descentralização, Oliveira (1999, p. 14)
interpreta que a primeira define os rumos da política educacional em nível central, por
meio da qual expressa a vontade de um grupo político que possui o poder de decisão
“...sobre recursos humanos, financeiros, definição de linhas, planos, programas e
controle sobre a sua execução”. Já na descentralização, as definições políticas são
tomadas por instâncias outras que não as do centro, com variado grau de autonomia.
De acordo com Saviani (2004), há uma relação dialética entre centralização e
descentralização; portanto, torna-se relevante observar as múltiplas determinações que
compõem esse movimento contraditório. Dessa forma, priorizamos estudar: a) o
processo de centralização e descentralização e como ele foi implementado em
Valparaíso de Goiás; b) os sentidos da descentralização: como o município dialoga e
se articula para implementar suas políticas descentralizadas.
A municipalização é o “processo pelo qual os habitantes, cidadãos, de um
determinado município participam da elaboração, da decisão, do acompanhamento e
da avaliação das políticas públicas, em cooperação com os demais entes federados, e
com os Poderes Públicos, executivo e legislativo” (MARTINS; SANTOS, 2001). Os
autores enfatizam a municipalização como um processo que exige participação e
envolvimento da população na vida política do município, o que colabora para o efetivo
exercício da cidadania.
No tocante ao mecanismo de descentralização, em parte de iniciativa da
administração federal, Barroso assinala que:
a difusão, no domínio educativo, do termo [descentralização] está associada, em
geral, ao objetivo de consagrar, simbolicamente, um outro estatuto à
intervenção do Estado na condução das políticas públicas. Muitas das
referências que são feitas ao “novo” papel regulador do Estado servem para
demarcar as propostas de modernização” da administração pública das práticas
tradicionais de controle burocrático pelas normas e regulamentos que foram (e
são ainda) apanágio da intervenção estatal (BARROSO, 2005, p. 727).
Nesse contexto, a questão da municipalização do ensino volta a ocupar o eixo
das discussões e reivindicações durante a elaboração da Constituição Federal de 1988.
No art. 40, Título IX, das Disposições Transitórias, foi dado um prazo máximo de cinco
anos para a transferência ao município do ensino pré-escolar e fundamental. Houve
reação por parte dos educadores, entidades e associações de classe.
Em relação à educação, a Constituição Federal de 1988 estabelece que “a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de
colaboração seus sistemas de ensino” (Art.211). Para os municípios, a instituição de
um órgão normativo passa a fazer parte da exigência de organização dos seus sistemas
de ensino e, aí, encontra-se o papel estratégico que passa a assumir os conselhos
municipais de educação.
Com a implantação do Fundef, em 1997, os municípios não tinham outra opção;
pois, caso tomassem posição contrária às determinações do governo federal, seus
recursos seriam recolhidos. Caso não tivessem alunos matriculados no ensino
fundamental, ficariam impedidos de receber o repasse dos recursos. Essa realidade
levou-os a assumir e a priorizar de forma desordenada o ensino fundamental e
consequentemente o processo de municipalização.
A Constituição Federal de 1988, a Lei nº 9.394/96, o Fundef e o Fundeb foram
dispositivos legais que contribuíram para desencadear a implementação da
descentralização e centralização nas décadas de 1990 e 2000 da política educacional
no país. Induziu também alternativas que foram traçadas para o cumprimento da
universalização da educação básica, por meio da descentralização das ações, via
municipalização do ensino.
Dessa forma, o processo de descentralização das políticas públicas de educação
com as novas vinculações constitucionais à educação e com os fundos de equalização,
atribui aos Conselhos Municipais de Educação maior importância na gestão
educacional dos sistemas municipais de ensino. Mesmo que os fundos de equalização,
do tipo Fundeb, tragam a exigência de instituição de seu próprio Conselho de
Acompanhamento e Controle Social.
Nessa perspectiva, prosseguimos neste estudo para analisar de que modo
ocorreu a descentralização via municipalização, a partir da Constituição Federal de
1988 e quais as dificuldades vivenciadas pelos sistemas municipais, no âmbito da
gestão educacional.
2.3- Dificuldades e possibilidades da descentralização via municipalização da
educação básica
A redistribuição das receitas públicas, previstas na CF/1988, redefine a
autonomia financeira dos entes federados e acelera
político-administrativas
na
gestão
pública.
Nesse
um processo de mudanças
sentido,
o
processo
de
descentralização financeira e de gestão foi seguido pela descentralização das
competências entre as diferentes instâncias administrativas, principalmente com
relação às políticas sociais (BOTH, 1997; MARTINS & SANTOS, 2001; ABRUCIO,
2010) 39.
Na educação, a descentralização teve como uma de suas formas de
manifestação, a municipalização, que consiste em transferir das instâncias centrais as
atribuições e responsabilidades da gestão dos serviços de educação básica para as
instâncias locais. Entretanto, ainda não se tinha muita clareza quanto ao viéis que a
descentralização assumiria, considerando características distintas dos municípios
39
Reagir ao centralismo autoritário era a palavra de ordem da sociedade brasileira no início da década de 1980. Com
esse pano de fundo, a educação e outras políticas sociais foram demarcadas, nos primeiros anos da redemocratização,
pelo discurso da descentralização, traduzida principalmente como municipalização. As origens disso têm raízes mais
gerais, vinculadas à visão de que o processo descentralizador teria uma enorme potencialidade democratizadora e
aumentaria a eficiência na provisão dos serviços. Mas havia também fontes mais específicas no campo educacional,
relacionadas ao histórico debate do municipalismo existente na área e aos exemplos bem sucedidos de alguns
governos locais, ainda sob a égide da ditadura na década de 1970, em produzir ações inovadoras na educação
(ABRUCIO, 2010, p. 59).
Na análise de Bordignon (1993),
Both (1997)
e Abrucio (2010) havia
concepções descentralizadoras, fundamentadas em argumentos participativos. Para
Lopes e Castro, a orgiem da
descentralização esteve relacionada tanto com as demandas populares
resultantes da busca de maior democratização e menor burocratização do
Estado, quanto com o estratagema neoliberal, amparado pelo discurso da
modernização. Assim pode ser interpretada a partir de dois enfoques: como
aspectos das ações governamentais (descentralização governamental) ou como
gestão dos sistemas, que desloca o poder central para instâncias menores; ou
associada às ações da sociedade civil nos assuntos públicos, com deslocamento
do poder do Estado para a sociedade (LOPES & CASTRO, 2012, p. 36).
A municipalização não tem valor em si, não podendo ser considerada como um
fim, mas como um meio para consecução dos objetivos educacionais, pois ao
estudante, não interessa a que instância administrativa cabe a responsabilidade pela
educação pública, e sim que esta lhe seja concedida de forma efetiva e com qualidade.
O estudante não é municipal, estadual ou federal, mas cidadão brasileiro (FONSECA,
1990).
Dentre as análises que pudemos depreender, oriundas da realidade brasileira,
no
anexo I – Produções acadêmicas sobre gestão da educação, destaca-se
principalmente a fragilidade dos municípios perante aos demais entes da federação,
devido à exígua trajetória política-institucional. Esse fato, por ventura, pode ter
desencadeado insuficiente autonomia política, administrativa e financeira, resultando
em autoridades locais dependentes e submissas. Essa dimensão conduz ao
fortalecimento dos grupos locais , e consequentemente aqueles que mais precisam,
ficam distantes do direito à educação.
Dentre os problemas que permearam as gestões municipais nas décadas de
1990 e 2000 e que continuam a se manifestar, apresentam-se na quantidade
insuficiente de equipamentos escolares e infraestrutura para atender a população em
idade escolar, tanto do ensino fundamental como da educação infantil. Como vimos no
capítulo anterior, havia insuficiência de recursos e apoio financeiro, e ainda há; por
parte do governo estadual e também do governo federal.
Os estados não possuíam escolas suficientes para atender a população em
idades escolar, e os municípios se viam obrigados a custear o atendimento
educacional. Sem possuir os recursos necessários, tornavam o atendimento ao aluno
e o salário precário dos professores, com impactos na gestão local.
Com o processo de descentralização por meio da municipalização ocorre
recomposição do poder local, assim o município acentua-como um espaço de disputa
política partidária entre as forças locais e estaduais. Os municípios têm que prover
condições administrativas e financeiras necessárias ao atendimento educacional da
população. A formação continuada de gestores, conselheiros municipais de educação
e a continuidade de políticas de assistência técnica e financeira aos municípios
fortalecem e ampliam a capacidade de atuação local, mas a política e a realidade não
são lineares.
Por outro lado, há também um argumento contrário à municipalização, que se
desdobra na pouca competência administrativa e institucional dos municípios. Essa
possibilidade leva a população ao receio da prefeiturização, da gerência do ensino e
controle absoluto exercidos pelas autoridades locais, rechaçando a participação social
da comunidade. A prefeiturização leva o sistema a ficar submetido somente ao poder
discricionário dos dirigentes municipais. A municipalização pode a) favorecer a troca de
influências e favores pessoais e políticos, b) estimular a oposição entre os grupos locais
e uma política neo-clientelista, sempre renovada e c) favorecer que a população lute
nos espaços locais em defesa dos direitos sociais e educacionais.
Embora no plano político-institucional, os entes federados sejam dotados de
autonomia, nos planos econômico, social e administrativo, o país possui profundas
desigualdades estruturantes. Parte dos municípios é de pequeno porte, com pouca
densidade demográfica, pouca tradição administrativa e dependentes de transferências
fiscais (ARRETCHE, 2002).
Nessa conjuntura, para que o poder local seja, de fato, apoiado fiscal e
administrativamente, torna-se relevante que os entes federados executem as políticas
de modo coordenado, articulado e em regime de colaboração, o que nem sempre
acontece. São necessárias mudanças significativas na estrutura federativa e no papel
do Estado, considerando as enormes desigualdades presentes nas esferas econômica,
social e política que atingem os municípios brasileiros (DINIZ, 2001; OLIVEIRA, 2007;
FERREIRA, 2013).
2.4- Os Conselhos Municipais de Educação
Com a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – Lei nº 9.394/96, os municípios passaram a ter a prerrogativa para organizar
os seus sistemas de ensino, e posteriormente, constituírem um órgão normativo. Os
conselhos municipais de educação se inserem neste contexto educacional como esse
órgão colegiado de caráter normativo, consultivo, deliberativo, propositivo, mobilizador
e de controle social que visa democratizar a gestão da educação e prioriza a qualidade
social da educação.
Nessa direção, o conselho é um mecanismo de comunicação entre a sociedade
civil e o órgão administrativo da educação municipal. Por meio desse canal institucional
de comunicação e participação, a sociedade civil pode intervir e contribuir na
formulação das políticas educacionais em nível local.
Reportando-nos a Cury (2001), o vocábulo conselho é derivado do latim
consilium, que vem do verbo consulo/consulere, e significa ouvir e ser ouvido. Esse é
um verbo que postula a via de mão dupla. Sendo assim, quando o conselho participa
da elaboração das políticas públicas educacionais, o verbo consulere aponta para o
princípio da publicidade, significando que os atos e decisões tomados na esfera pública,
são de interesse geral, pois têm poder decisório sobre a vida social.
O conselho é reconhecido, também, como órgão de gestão democrática, no qual
as decisões precedidas de análise e debates são tomadas a partir do diálogo e do
entendimento, no qual a sociedade civil interfere nas decisões políticas e,
consequentemente, nas prioridades e agendas do governo local. A gestão democrática,
por sua vez,
é o processo de coordenação de estratégias de ações para alcançar os objetivos
definidos e requer liderança centrada na competência, legitimidade e
credibilidade. A gestão da escola e do município, por sua natureza, é um
processo de coordenação de iguais, não de subordinados (BORDIGNON&
GRACINDO, 2001, p.165).
Nessa direção, compreendemos que a existência dos conselhos municipais na
gestão da educação dos municípios pressupõe uma mudança do paradigma da gestão
pública burocrática para um modelo democrático - participativo, a partir do qual o
interesse pela universalização dos direitos básicos promova o exercício da cidadania.
As experiências dos Conselhos Nacional e Estaduais de Educação, cujas
trajetórias são mais antigas que as dos Conselhos Municipais, torna-se
importante para um desempenho efetivo e consequente. Trata-se de um diálogo
entre o irmão mais velho com o mais novo na função de gestores normativos de
direito do cidadão e de um dever de Estado. O gestor necessita de clareza nos
aspectos normativos, quanto aos fatores educacionais e sociais de sua realidade
municipal relativos à educação escolar. O gestor normativo deve encaminhar
orientações necessárias que têm a ver com a cultura dos estabelecimentos
escolares e do próprio sistema de ensino do município (DOCUMENTOREFERÊNCIA, 2007, p. 39).
Esse é o sentido da participação da sociedade nos colegiados, a capacidade de
intervir nas decisões políticas como sujeitos ativos e corresponsáveis do processo
democrático.
A gestão democrática, além de ser um preceito legal presente na Constituição
Federal, no artigo 206, VI e na LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9.394/96 em seus artigos 3º, VIII e no artigo 14, constitui-se como uma reivindicação
ética e política. “Gestão é administração, é tomada de decisões, é organização, é
direção. Este princípio, entretanto, não é intrínseco à gestão como concebida na
administração clássica, mas são princípios sociais” (FERREIRA, 2001, p. 306).
O contexto democrático implica, portanto, uma mudança de atuação dos
gestores, já que a gestão pública da educação pressupõe dialogar com diferentes
concepções e pluralidade de pensamentos. Outro ponto relevante, segundo Cury
(2001), refere-se à atuação ética dos conselheiros na gestão da educação. Com relação
a este princípio, o Artigo 37 da Constituição de 1988 apresenta cinco princípios
norteadores: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Os Conselhos Municipais têm se definido como órgãos colegiados,
desburocratizados que não pretendem ser engessadores da dinamicidade da vida
escolar; porém, alerta Cury (2001) que, se os mesmos forem implantados desconexos
do princípio democrático, eles se perderão na tecnocracia e se desviarão do sentido
original pelo qual e para o qual foram concebidos: cooperar com zelo pela qualidade
social da educação.
A possibilidade da criação de Sistemas Municipais de Ensino – (SME), inova a
organização da educação nacional, que se vê reiterada na Lei 9.394/96 – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Os sistemas de ensino são constituídos em
observância ao princípio da autonomia dos entes federados, conforme prescreve o
artigo 211 da CF, e leva-se também em consideração o princípio da gestão democrática
do ensino público. Ao se destacar o princípio democrático na gestão do Sistema
Municipal de Ensino, pressupõe-se a existência de espaços públicos para discussões,
formulações e decisões de demandas educacionais. Tal condição aporta, portanto,
novos significados para a concepção de municipalização.
Os Conselhos Municipais de Educação (CME) têm a natureza de órgãos
colegiados autônomos, integrantes da estrutura do poder público, representativos da
sociedade local, incumbidos de contribuir para a democratização da gestão educacional
no município e atuam na defesa do direito de todos à educação de qualidade.
O CME, como define Azanha (1993), é um espaço político e coletivo onde se
discute e decide as questões da educação na busca de alternativas para os problemas
existentes. Assim, os CME assumem as funções: normativa consultiva, propositiva,
mobilizadora, deliberativa, de acompanhamento de controle social e fiscalizadora. No
desempenho de suas funções, o conselho constitui-se em espaço de ação social,
atendendo às demandas da sociedade quanto à regulação e transparência da política
educacional e ao uso dos recursos financeiros com vistas à qualificação dos serviços
públicos.
As atribuições de um conselho de educação, de acordo com a sua natureza,
podem ser classificadas em duas categorias: técnico-pedagógicas e de participação
social. Portanto, a sua estrutura atende à sua natureza, funções e atribuições e ainda
ao número de conselheiros que o compõe, contando com um plenário, ou plenário
pleno, comissões ou até câmaras.
Como instância de mediação entre a sociedade e o poder executivo, o CME
estabelece relações com esse poder, com a comunidade escolar e com a sociedade
em geral. Portanto, torna-se um espaço com possibilidade de expandir a pluralidade de
ideias e a representatividade no colegiado, tendo em vista que a quantidade de
membros que o compõe mobiliza-se pela qualidade da educação.
2.5- Pró-Conselho - uma proposta de gestão com participação social
Os Conselhos Municipais de Educação (CME) passaram a ocupar posição
fundamental na efetivação da gestão democrática dos sistemas de ensino, assim como
na consolidação da autonomia dos municípios e de suas políticas educacionais. São
órgãos de composição plural e de ampla representatividade social, permitem a
participação dos cidadãos, compreendida como estratégia primordial para a melhoria
da qualidade da educação do país e como forma de promover a inclusão social.
Assim em, 2003, partindo da prerrogativa legal de assegurar o regime de
colaboração entre os entes federados, o MEC, por meio da portaria ministerial de nº
3.272 de 2003, criou o Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais
de Educação – Pró-Conselho40, que tem como objetivo central incentivar e qualificar a
participação dos gestores e conselheiros na tarefa de avaliar, definir e fiscalizar as
políticas públicas educacionais do município.
Para contribuir com essa concepção e as formas de desenvolvimento de gestão
educacional, o Pró-Conselho adotou estratégia para constituição de um Grupo de
Trabalho, nomeado por meio de portaria ministerial e composto por instituições
comprometidas com a implantação e fortalecimento dos conselhos municipais de
educação no país. Dentre essas instituições, destacam-se a União Nacional dos
Conselhos Municipais de Educação – (Uncme), a União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), o Fundo das Nações Unidas para a Infância –
(Unicef), o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação – (FNCE), o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – (PNUD).
O Programa buscou aprofundar e ampliar o canal de comunicação entre as
40
O Programa esteve sob gestão da Secretaria de Educação Infantil e Fundamental – (SEIF) e fazia parte das ações
da do Departamento de Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino – (DASE) e da Coordenação de Articulação e
Fortalecimento Institucional dos Sistemas de Ensino – (CAFISE).
instâncias normativas federais, estaduais e municipais e, nessa ótica, fortalecer os
sistemas de ensino (SILVA, 2009).
Dentre os principais objetivos do Programa, destacam-se:
aumentar a
capacidade de compreensão e interpretação da legislação educacional; ampliar a
capacidade de atuação dos conselheiros; estimular a colaboração e integração entre
os conselhos municipais, estaduais e nacional de educação; assegurar a participação
da sociedade civil no alinhamento da gestão educacional; incentivar o fortalecimento
dos CME’s; e fomentar a criação de novos CME’s (BRASIL/MEC/Portaria Nº
3.272/2003; SILVA, 2009, p. 57).
O Pró-Conselho desenvolveu uma estratégia para capacitação dos conselheiros
municipais de educação, por meio da realização de encontros presenciais, nos 26
estados do país. Foram convidados para participar representantes de todos os
municípios brasileiros – tanto os que possuíam quanto os que não possuíam CME.
Com uma programação variando entre três ou quatro dias, os encontros foram
concebidos com vistas a capacitar os conselheiros para o desempenho de suas
diferentes funções e fornecer subsídios aos secretários de educação para criar, ou
manter onde já existisse, uma relação de parceria para implementação das políticas
públicas educacionais com o CME. Entre 2003 e 2005 foram realizados os encontros
da primeira fase do Programa e, em 2006 e 2007, foi implementada a segunda fase.
Nas primeiras fases, realizaram-se 28 encontros estaduais, contemplando todos
os Estados da federação. Foram contemplados 2.137 municípios, o que representa
38% destes. Participaram dos encontros de formação 5.311 conselheiros, técnicos e
gestores municipais de educação. Na segunda fase, foram realizados 5 encontros
estaduais, com a participação de 472 municípios e 1048 conselheiros municipais de
educação capacitados. Já na terceira fase e última, (de modalidade totalmente
presencial), realizaram-se 4 encontros estaduais, com 262 municípios participantes e
572 conselheiros municipais de educação capacitados (BRASIL/MEC/Relatório PróConselho-2007; SILVA, 2009, p. 58).
Os Encontros foram realizados alternando quatro momentos com dinâmicas
diferenciadas: palestras, oficinas pedagógicas, relatos de experiências e grupos de
trabalho. Os grupos de trabalho responsabilizavam-se pela elaboração dos planos de
continuidade com o fito de dar prosseguimento à formação de conselheiros no âmbito
do estado, após o encontro estadual de capacitação. A equipe de palestrantes e de
produção do material didático incluía teóricos, autores estudiosos, todos com amplo
reconhecimento nacional na área de gestão, direito à educação, financiamento e
funções dos conselhos de educação.
Na primeira fase do Programa, aos municípios que já contavam com CMEs,
foram disponibilizadas quatro vagas para participar do Pró-Conselho, sendo uma para
o Poder Executivo municipal e as demais para conselheiros representantes das
distintas categorias que compunham o conselho. Já para os municípios que ainda não
tinham um CME, foram oferecidas duas vagas, uma para o Poder Executivo municipal
e outra para um representante da categoria de professores do município. Valparaíso de
Goiás foi contemplado com 6 vagas, nos quatro encontros que foram realizados, sendo
dois em Brasília e dois em Goiânia.
O Pró-Conselho elaborou um conjunto de materiais para serem utilizados nos
encontros de capacitação, incluindo Caderno de Referência, Guia de Consulta e
Caderno de Oficinas. Os Cadernos de Referência 1 e 2 eram subsídios para a
compreensão da legislação educacional vigente e para o entendimento do papel do
CME na definição, avaliação e fiscalização das políticas educacionais.
Neles, foram desenvolvidas as seguintes temáticas: regime de colaboração no
ordenamento jurídico da educação escolar brasileira; os conselhos municipais de
educação (desafios da gestão democrática); função do CME na elaboração,
implantação e acompanhamento da execução do plano municipal de educação;
educação e desenvolvimento local; direito à educação com qualidade social: o desafio
do direito à educação; funções próprias de um conselho de educação e financiamento
da educação e os municípios.
Os Cadernos de Oficinas 1 e 2 continham orientações metodológicas e
exercícios que auxiliavam na interpretação da legislação e na aplicação dos
conhecimentos adquiridos durante as palestras e encontros. As oficinas eram descritas
em detalhes incluindo, para cada uma das partes que as compunha, a duração,
objetivo, desenvolvimento, material de apoio, leitura complementar e atividades que
seriam realizadas. Os temas abordados nos cadernos de oficinas foram: o contexto de
atuação do Conselho Municipal de Educação; papel e atuação dos Conselhos
Municipais de Educação; direito à educação com qualidade social; financiamento da
educação no município; atuação para contribuir com a garantia da oferta de uma
educação com qualidade social.
O Guia de consulta apresentava considerações sobre a natureza, o papel, as
funções e atribuições dos CME. O foco do material era orientar os conselheiros e
secretários municipais de educação para a organização do Conselho Municipal de
Educação. A publicação foi dividida em três partes: organização dos CME (razões de
criação, natureza, papel, funções, atribuições, atuação, participação e estrutura dos
CME); natureza dos conselhos de educação (sistemas de ensino e conselhos de
educação; competência e gestão dos sistemas de ensino; histórias dos conselhos de
educação; conselhos nacional, estadual e municipal de educação); conselhos de saúde
como referência para a (re)organização dos CME (características dos conselhos de
saúde, semelhanças e diferenças entre os conselhos de saúde e os de educação).
Quadro 3 - Pró-Conselho - Material didático
Palestras
Caderno de
Referência
Anos: 2003/2004/2005 (3 dias)
Palestra 1: Desafios do regime de colaboração e
da gestão democrática da educação
Palestra 2: A importância do CME na
elaboração, implantação e acompanhamento da
execução do PME
Anos: 2006/2007 (4 dias)
Conferência de abertura: A educação no contexto da
política de desenvolvimento local com igualdade
social.
Palestra 1: Direito à educação com qualidade social
Palestra 2: financiamento da educação básica
Palestra 1: O regime de colaboração no ordenamento
jurídico da educação escolar brasileira (Carlos
Roberto Jamil Cury – Conselheiro do CNE, professor
da PUC-MG.)
Palestra 2: Os conselhos municipais de educação:
desafios da gestão democrática (Ivandro da Costa
Sales) – professor da Universidade Estadual Vale do
Acaraú – CE.
Palestra 3: A importância do CME na elaboração,
implantação e acompanhamento da execução do PME
(João Antônio de Monlevade – Consultor Legislativo
da Câmara dos Deputados).
Conferência de Abertura: Educação e Desenvolvimento
Local (Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP
Palestra 2: Direito à educação com qualidade social;
Desafio do Direito à educação – Edla Soares e Eliete
Santiago – (professoras da UFPE).
Palestra 3: Funções próprias de um CME (Carlos Roberto
Jamil Cury – Conselheiro do CNE, professor da PUC-MG.).
Palestra 4: O financiamento da educação básica e os
municípios ((João Antônio Cabral de Monlevade –
Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e
Raimundo Luiz Araújo, assessor técnico da Undime
Nacional).
Oficina 1 – O contexto de atuação do conselho
municipal de educação.
Oficina 2 – Papel e atuação dos conselhos municipais
de educação.
Oficina 1 – Construção coletiva de conceitos (Augusto
Gomes – Secretário Municipal de Educação de MaracanaúCE e Ivandro da Costa Sales - professor da Universidade
Estadual Vale do Acaraú – CE).
Oficina 2 – Direito à educação com qualidade social
(Augusto Gomes – Secretário Municipal de Educação de
Maracanaú-CE e Ivandro da Costa Sales - professor da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – CE).
Oficina 3 – Financiamento da Educação no município (Ana
Luíza O. Buratto e Maria de Salete Almeida e Silva).
Oficina 4 – Atuação do CME para contribuir com a garantia
da oferta de uma educação com qualidade social (Maria
Caderno de
Antonieta Dall’Igna – conselheira do conselho estadual de
Oficinas
educação – RS).
Quadro elaborado pela autora, tendo por base as informações constantes dos relatórios anuais do Programa e Relatórios gerenciais da
Coordenação de Articulação e Fortalecimentos Institucional dos Sistemas de Ensino – (CAFISE) da Secretaria de Educação Básica.
Por meio dos três principais componentes do Programa – o Sistema de
Informações dos Conselhos Municipais de Educação (SICME), os encontros estaduais
de capacitação de conselheiros municipais de educação e da distribuição mensal da
Revista Documenta, publicação do Conselho Nacional de Educação, os membros dos
Conselhos Municipais de Educação foram mobilizados para o debate relativo à
sistematização das suas ações e sobre as possibilidades de atuação desse órgão de
caráter normativo, consultivo, deliberativo, mobilizador e de controle social.
Em 2007, o Ministério da Educação passou a oferecer curso de formação a
distância por meio da Universidade de Santa Catarina, contemplando 1926
conselheiros em parceria com a Coordenação do Programa Nacional de Capacitação
de Conselheiros Municipais de Educação – Pró-Conselho, SEB/MEC. Dentre os
conteúdos estudados estão: Educação e Tecnologia, Concepção, Estrutura e
Funcionamento do CME e Políticas Públicas.
No estado de Goiás, o MEC realizou, em parceria com a Uncme quatro encontros
presenciais e semipresenciais de capacitação para os conselheiros municipais de
educação, no período de 2003 a 2008, com a participação de Valparaíso de Goiás. A
Uncme-GO, em parceria com o Conselho Estadual de Educação e a Undime-GO,
também promoveram outros encontros regionais e municipais para debater o conteúdo
temático, proposto pela Programa.
2.6- O Conselho Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás: criação e
atribuições
Em Valparaíso de Goiás, a lei de criação do Conselho Municipal de Educação CME precede à lei de criação do Sistema Municipal de Ensino - SME. A lei que instituiu
o CME foi aprovada em agosto de 2001, a que instituiu o SME foi aprovada quatro
meses depois, ou seja, só em dezembro de 2001. O CME torna-se o órgão normativo
do sistema municipal de ensino por força de lei. Na sequência, houve primeiramente a
criação do órgão administrativo – a secretaria municipal de educação –, em seguida, a
criação do CME como órgão colegiado e de gestão democrática e, finalmente, a
instituição do SME, transformando o conselho em órgão normativo do sistema.
O Conselho Municipal de Educação do município de Valparaíso de Goiás, criado
pela Lei Municipal n° 317 de agosto de 2001, composto pela Câmara de Educação
Básica e pela Câmara de Legislação e Normas, possui atribuições normativas,
deliberativas, consultivas, fiscalizadoras e de assessoramento à Secretaria Municipal
de Educação do município de Valparaíso de Goiás – GO, de modo a assegurar a
participação da comunidade no aperfeiçoamento do Sistema Municipal de Ensino. (Lei
nº 317 de 2001).
2.6.1 Da Composição do Conselho:
Segundo a Lei nº 317/2001 de criação do Conselho Municipal de Educação, “o
conselho é constituído por 11 (onze) membros titulares, escolhidos entre pessoas de
notório saber e comprovada experiência em matéria de educação, com a seguinte
representação” (Lei nº 317/2001, art. 3º).

2 (dois) membros indicados pela Secretaria de Educação, Cultura, Desporto e
Lazer, com experiência na educação básica do magistério púbico;

1 (um) membro escolhido pela Secretaria de Educação, Cultura, Desporto e
Lazer, dentre os educadores com experiência do conteúdo do ensino superior
do magistério púbico;

1 (um) membro representante do órgão técnico pedagógico da Secretaria de
Educação, Cultura, Desporto e Lazer, por ela indicado;

1 (um) membro indicado pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Município de
Valparaíso de Goiás (SINDSEPEM/VAL);

1 (um) membro eleito pelo Colégio de Diretores das Escolas Municipais;

1 (um) membro, representante da Associação das Escolas Particulares de
Valparaíso de Goiás – AESP;

1 (um) membro eleito entre os pais de alunos;

1 (um) membro eleito pelo movimento comunitário ou associação comunitária;

1 (um) membro, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do
Estado de Goiás – SINTEGO;

1 (um) membro, representante das entidades estudantis, de nível superior, por
elas indicado.
2.6.2 Da Estrutura Organizacional
A estrutura organizacional se estabelece do seguinte modo:



Diretoria Executiva – um Presidente, um Vice-Presidente e o Secretário,
Câmara de Educação Básica - formada por quatro conselheiros,
Câmara de Legislação e Normas - formada por quatro conselheiros.
2.6.3 Das Atribuições
As Câmaras emitem pareceres, resoluções e deliberam de comum acordo com
o Conselho Pleno. No conselho de Valparaíso de Goiás, as deliberações da comissão
são homologadas pelo Conselho Pleno, dentro do prazo de quinze dias.
São atribuições da Câmara de Educação Básica:
– Examinar problemas da Educação Básica Municipal e Educação Infantil da
Rede Privada, oferecendo sugestões para suas soluções;
– Analisar e emitir parecer sobre os procedimentos e resultados dos processos
de avaliação da pedagogia;
– Deliberar sobre as metodologias praticadas;
– Assessorar e fiscalizar as instituições executoras, no âmbito do município, e
– Normatizar sobre os processos de reavaliação de resultados e de
acompanhamento da execução do Plano Plurianual do Sistema Municipal de
Ensino.
São atribuições da Câmara de Legislação e Normas:
– Examinar problemas da Educação Básica do Sistema Municipal, oferecendo
sugestões para sua solução;
– Analisar e emitir parecer sobre os procedimentos e resultados dos processos
de avaliação da pedagogia da Educação Básica;
– Deliberar sobre as metodologias praticadas;
– Assessorar e fiscalizar as instituições executoras, no âmbito do município, e
– Normatizar sobre os processos de reavaliação de resultados e de
acompanhamento da execução do Plano Plurianual do Sistema Municipal de
Ensino.
São atribuições do Conselho Pleno:
– Manifestar-se, por ato propositivo subscrito, por no mínimo, dois conselheiros,
via indicação, contendo sugestões justificadas de estudo sobre qualquer matéria
de interesse deste Conselho;
– Pronunciar-se, via emissão de parecer conclusivo, pelo qual o mesmo delibera
normatizando sobre matérias de sua competência;
– Aprovar resolução decorrente de parecer destinado a estabelecer normas que
serão norteadoras do Sistema Municipal de Ensino.
2.6.4 Da Eleição do Presidente, Vice-Presidente e do Secretário do CME
O Presidente do conselho é um conselheiro eleito pela maioria de seus pares
por escrutínio secreto, por quórum não menor que dois terços do colegiado. Por ocasião
da eleição do Presidente também são eleitos o Vice-Presidente e o Secretário, com
quórum também de dois terços do colegiado. O mandato da Diretoria Executiva é de
dois anos podendo ser reeleita.
2.6.5 Da dinâmica e organização das sessões plenárias
O Conselho Pleno reúne-se ordinariamente duas vezes por mês e,
extraordinariamente, sempre que convocado por seu Presidente ou em decorrência de
requerimento assinado por 1/3 dos seus membros, com antecedência de dois dias
úteis.
As sessões extraordinárias somente podem deliberar com a presença de dois
terços dos seus membros em primeira convocação, e de um terço de seus membros
em segunda convocação decorridos trinta minutos. O quórum mínimo para as reuniões
plenárias ordinárias é de maioria simples. As reuniões ordinárias ocorrem no período
que vai do mês de fevereiro até o mês de dezembro. Já as reuniões ordinárias do
Conselho Pleno e das Câmaras são realizadas, conforme calendário aprovado no início
do exercício, podendo ser alterado, excepcionalmente, com aprovação do plenário (Lei
nº 317 de 2001).
Considerações Parciais
Em meio a múltiplas determinações, a confluência de três acontecimentos
sinalizou sentidos diversos para o termo descentralização, no caso de Valparaíso de
Goiás. São eles: a) emancipação do município de Luziânia; b) a descentralização de
matrícula para o município, estimulada pelo Fundef, posteriormente o Fundeb e; c) o
ordenamento jurídico nacional entre 1988 e 2001 que preconizou a organização do
sistema municipal de ensino de Valparaíso de Goiás e a forma de gestão
implementada.
Esses três acontecimentos convergem para esta característica peculiar da
emancipação. O município se viu diante da necessidade de aprender a assumir-se
como ente federado e ao mesmo tempo organizar-se, com base novo ordenamento
jurídico que estava surgindo. O município passa a tratar diretamente com a União, sem
a mediação do Estado. Assim, com a Constituição Federal de 1988, além da
possibilidade de descentralização da matrícula, ocorreu em Valparaíso de Goiás a
reorganização do sistema educacional, por meio da criação do Conselho Municipal de
Educação, do Sistema Municipal de Ensino e da aprovação do Plano Municipal de
Educação.
Nesse contexto, a criação do Conselho Municipal de Educação e a instituição do
Sistema Municipal de Ensino favorecem uma gestão democrática e, por conseguinte
contribuir com a formulação de políticas públicas. Nesse sentido, em 2003, o Programa
Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação – (Pró-Conselho)
buscou orientar os conselheiros e gestores municipais de educação para que
contribuíssem com o processo de formulação e acompanhamento das políticas públicas
da educação municipal.
O MEC realizou, em parceria com a Uncme quatro encontros presenciais e
semipresenciais de capacitação para os conselheiros municipais do estado de Goiás,
no período de 2003 a 2008, com a participação de Valparaíso de Goiás. A Uncme-GO,
em parceria com o Conselho Estadual de Educação e a Undime-GO, também
promoveram outros encontros regionais e municipais para debater o conteúdo temático,
proposto pela Programa.
Capítulo 3 – A relação entre o Conselho e a Secretaria Municipal de Educação de
Valparaíso
de
descentralização
Goiás:
Plano
Municipal
da
Educação
e
sentidos
da
Este capítulo contextualiza características gerais do sistema de educação do
município de Valparaíso de Goiás que são conjugadas aos resultados dos dados
empíricos. Nesse processo de construção, destacamos a relação entre a Secretaria
Municipal de Educação e o Conselho Municipal de Educação na elaboração do plano
municipal de educação.
Assim, analisamos como como ocorreu o processo de descentralização via
municipalização da educação e de que forma o Conselho Municipal de Educação atuou
na elaboração e/ou na revisão do plano municipal de educação de Valparaíso de Goiás.
Observamos, ainda, se na percepção dos conselheiros e gestores entrevistados, houve
alteração na relação entre o município e o MEC. Consideramos além da legislação
federal já contextualizada nos capítulos anteriores, a legislação municipal: Lei nº
317/2001 que criou o Conselho Municipal de Educação, Lei nº 353/2001 que instituiu o
Sistema Municipal de Ensino e Lei nº 504/2004 que dispõe sobre o PME de Valparaíso
de Goiás.
Foram realizadas o total de nove entrevistas semiestruturadas entre os meses
de outubro e novembro de 2013, sendo sete com conselheiros, que atuam ou atuaram
no conselho de educação do município de Valparaíso de Goiás, e dois gestores, da
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação – Uncme, e do Ministério da
Educação. O roteiro norteador das entrevistas encontra-se no anexo 2.
Neste capítulo ainda buscamos compreender o processo de descentralização
acentuado no Brasil, na década de 1990 e dessa forma, fizemos um esforço para
analisar a relação estabelecida entre os entes federados, bem como considerar as
informações fornecidas e contextualizadas pelos sujeitos da pesquisa. Apontamos para
alguns dos possíveis sentidos do termo descentralização, subjacentes aos documentos
estudados, na lógica do governo federal e na perspectiva dos conselheiros e gestores
entrevistados.
Quadro 4 - Código dos conselheiros e gestores entrevistados
Conselheiro
e Gestor –
Código
C1
Período de
Mandato
2006 a 2012
C2
C3
Formação
Segmento que representa
(Escolas Particulares) - AESP
2013 a 2014
Bacharel em Direito e
Administração
Pedagogia
2006 a 2016
Língua Portuguesa e Filosofia
(Pais de alunos)
(Escolas Particulares) - AESP
C4
2012 a 2014
Pedagogia
(SindsepVal)
C5
2006 a 2008
Pedagogia
(Diretor de Escola)
C6
2009 a 2011
Filosofia
(SindsepVal)
C7
2003 a 2008
Pedagogia
(Sintego)
G1
Língua Portuguesa e Filosofia
Uncme
G2
Mestrado em Educação
MEC
Fonte - Quadro elaborado pela autora - 2014
As categorias de análise escolhidas foram a gestão, participação e
descentralização como forma de aproximar e apreender o objeto encrustado na
realidade histórica e social. Assim analisamos as estratégias e as práticas vivenciadas,
as convergências e contradições reveladas.
Após trabalho de transcrição das entrevistas e seleção de excertos do conteúdo
das falas dos respondentes (conselheiros e gestores), procedemos a sua análise à luz
da literatura científica e das questões teóricas que motivaram este estudo. Para tal, foi
considerada a legislação que estruturou o sistema de educação de Valparaíso de
Goiás.
Para elucidar e demonstrar o processo de descentralização, neste capítulo,
introduzimos algumas tabelas, no entanto, foge aos nossos objetivos discuti-las
plenamente, mas os dados indicam que o município teve que realizar modificações na
gestão da educação pela atuação do CME de Valparaíso de Goiás e para atender às
prerrogativas da legislação educacional da década de 1990.
3.1 – Características gerais do Sistema Municipal de Ensino de Valparaíso de
Goiás
Nesta seção, apresentamos algumas características gerais do SME de
Valparaíso de Goiás relacionadas ao objeto de estudo. Três caraterísticas do SME em
Valparaíso de Goiás foram evidenciadas e serão aqui abordadas por sua importância
na compreensão da gestão educacional, bem como na compreensão dos aspectos da
descentralização do serviço educacional, da participação social e da atuação do CME
na elaboração/revisão do Plano Municipal de Educação.
As três características são: o momento histórico de sua emancipação frente aos
dilemas enfrentados na divisão da rede de ensino entre os dois municípios (Luziânia e
Valparaíso de Goiás); a descentralização financeira que traz consequências para a
gestão da educação e; a conjuntura de reordenamento jurídico da educação nacional,
que influenciou o município na ocasião da sua constituição como nova unidade da
federação.
Assim, em 15 de junho de 1995, pela lei estadual nº 12.667, criou-se o município
de Valparaíso de Goiás, decorrente um movimento de desmembramento de Luziânia.
O novo município herdou uma população com poucas escolas e distante da efetivação
da educação como direito.
A emancipação impõe adequada e necessária implantação de seu sistema
escolar, com a instituição de órgãos administrativos, normativos e de controle social
para a gestão da educação municipal. A evolução da matrícula escolar assume
caraterísticas próprias, influenciadas por fatores internos e externos que vão definir os
contornos do seu sistema municipal de ensino.
Em 2000, segundo dados do IBGE, a população de Valparaíso era de 94.856
habitantes e contava com uma matrícula municipal de 15.664 estudantes. Já em 2010
ela passou para 132.982 habitantes e uma matrícula municipal de 18.907
estudantes. De forma inversa, nesse período, a rede estadual de educação oscilou de
8.326 estudantes (2000) para 7.508 estudantes matriculados em 2010. Esses dados
educacionais
caracterizam
um
processo
de
descentralização
dos
serviços
educacionais em Valparaíso de Goiás.
Acrescenta-se, ainda, o fato de tratar-se de uma cidade fronteiriça, onde
convergem realidades socioeconômicas que tornam mais complexo o processo
educacional. Entender a gestão da educação municipal, particularmente nos aspectos
relativos à descentralização do ensino naquela cidade, implica destacar essas
características social e econômica, decorrentes da sua localização geográfica, fator que
incide de forma peculiar naquele sistema municipal de ensino e lhe confere contornos
próprios.
A cidade está situada no território de Goiás, entretanto, parte da sua população
trabalha na Capital Federal, assim há de se considerar a assimetria dessas duas
realidades. Tal assimetria vai refletir na realidade tributária e fiscal, impactando na
gestão do financiamento da educação. Em outras palavras, a sua população tem uma
expectativa de qualidade de serviço educacional influenciada pela observação do que
vem acontecendo em Brasília, e um financiamento da educação correspondente à
realidade tributária e fiscal de Goiás. Segundo dados da Secretaria de Planejamento e
Gestão do Estado de Goiás, para um PIB per capita de Goiás de R$ 18.298,00 e de R$
8.500,25 de Valparaíso de Goiás, o Distrito Federal dispunha de R$ 63.020,00 em 2011.
Também a renda per capita (2010) revela disparidades: R$ 1.665,42 (DF) e R$ 785,00
(GO) 41.
Portanto, no tocante à gestão da educação municipal, a disponibilidade de
financiamento da educação e as demandas educacionais da sua população vão, de
alguma forma, influenciar as expectativas nesse contrastante contexto social. Em 2008,
segundo o MEC, para um salário médio dos professores da educação básica praticado
em Goiás de R$ 1.364,00 o Distrito Federal pagava R$ 3.360,00. Não foi por acaso que
os entrevistados citaram a forte migração de professores municipais para os quadros
permanentes do Governo do Distrito Federal ou para setores do Governo Federal.
Pode-se apreender desse contexto um tipo de conflito local que perpassou o período
estudado e que repercutiu num sentido peculiar no processo de descentralização.
Do ponto de vista da sua relação com a política nacional de educação, por sua
emancipação recente, há características peculiares desse ambiente institucional.
Erguem-se a estrutura e a organização da educação municipal, desde seu início,
influenciadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 (LDB),
pela Lei 9.424/96 (Fundef) e, a partir de 2001, pela Lei 10.172/2001 (PNE). Contexto
esse que oferece uma oportunidade singular para a compreensão da gestão e sua
articulação com as políticas de educação, estabelecidas pela União.
No que se refere à dimensão educacional, Valparaíso de Goiás caracteriza-se
como gestão pública descentralizada da educação infantil e do ensino fundamental
(séries iniciais universalmente descentralizadas e séries finais majoritariamente
descentralizadas). Isso porque, em 2013, a matrícula das redes públicas e privada de
ensino em Valparaíso de Goiás foi de 6.193 crianças na educação infantil, sendo 1.994
(creche) e 4.199 (pré-escolar). Da matrícula total em creche, 1.696 delas ocorreram na
rede púbica municipal e 298 na rede privada. Na pré-escola, a matrícula da rede
municipal foi de 5.038, enquanto 1.161 crianças foram matriculadas na rede privada de
ensino. Não houve registro de matrícula de educação infantil na rede estadual em 2013.
Tabela 3 - Número de Alunos Matriculados – Valparaíso de Goiás
Matrícula Inicial
Ensino
Ed. Infantil
Município
Dependência
Ensino
Fundamental
Pré- 1ª a 4ª
Creche
Escola
Série e
41
5ª a 8ª
Série e
Médio
Educação
Profissio
nal
(Nível
Técnico)
EJA
(Presencial)
EJA
(Semipresencial)
Funda Médio2 Funda- Médio
menta
mental
l1
Secretaria de Planejamento de Goiás. Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – IMB.
Produto
Interno
Bruto
dos
Municípios
do
estado
de
Goiás,
2011.
Disponível
em:
<http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/pib/pibmun2011/pibmun2011.pdf>.
Estadual
VALPARAISO
DE GOIAS
Anos
Anos
Iniciais
Finais
0
0
0
2584
4500
0
82
628
0
Municipal
1696
3038
9701
5038
0
0
1478
0
5
0
Privada
Total
298
1994
1161
4199
3208
12909
2123
9745
972
5472
592
592
0
1560
0
628
0
5
0
0
Fonte: Censo Escolar da Educação Básica – 2013
1- Não estão incluídos alunos da Educação de Jovens e Adultos Semipresencial
2- Inclui os alunos da Educação de Jovens e Adultos Integrada à Educação Profissional
Com relação ao ensino fundamental, também não houve registros de matrícula
na rede estadual de estudantes da 1ª a 4ª série / anos iniciais em 2013. Os números
da rede municipal com a rede privada apresentaram 12.909 matrículas, 9.701 na rede
municipal. Isto é, foi totalmente municipalizado o atendimento educacional na educação
infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental em Valparaíso de Goiás.
No que concerne aos dados da 5ª a 8ª séries e anos finais do ensino
fundamental, o comportamento da matrícula revela uma expressiva participação da
rede municipal em relação às demais redes de ensino. Dos 9.745 estudantes atendidos
no município, 5.038 ocorreram na rede pública municipal e 2.123 na rede privada de
ensino. Já no ensino médio a matrícula ficou concentrada na rede estadual (4.500) e
uma pequena proporção na rede privada (972).
O corpo docente assume essa caraterística do atendimento educacional
concentrado na educação básica. O Plano de Carreira e Remuneração do Magistério,
da Educação Básica alterado pela Lei municipal complementar nº 078 de 25 de
fevereiro de 2014, estabelece uma remuneração para o exercício de 40 horas semanais
na ordem de R$ 2.381,36 para os professores que possuem formação em nível
superior, incluídos nessa categoria os demais profissionais do magistério. Segundo
dados do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares – SinPro/GO, a iniciativa
privada oferece uma remuneração no valor de 835,80 para 20h e de R$ 1.671,60 para
40h.
No que se refere à gestão dos recursos financeiros destinados à educação, foi
instituído um Fundo municipal para a gestão, controle e prestação de contas da
movimentação dos recursos que são repassados ao município pelo Fundef. O fundo foi
criado por meio da Lei Municipal nº 308 de 09 de maio de 2001, e tem como gestor o
titular da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Desporto e Lazer.
A contabilidade do Fundo possui natureza autônoma e dotação orçamentária
própria. A Lei nº 308 é complementada pela Lei nº 313 de 19 de julho de 2001, que
acrescentou na estrutura administrativa da prefeitura, um setor encarregado de gerir e
movimentar o Fundeb. Os demais recursos, provenientes da arrecadação de impostos
e transferências que não compõem o Fundeb, seguem sendo geridos pela prefeitura, o
que contraria o prescrito pela LDB (art. 69) quando estabelece que a gestão dos
recursos financeiros educacionais deve ser exercida pelo órgão de educação.
Neste capítulo, tentaremos responder às questões específicas a partir das falas
dos conselheiros e gestores entrevistados e considerando a literatura científica
pertinente à temática estudada. As questões são: como a Constituição Federal de 1988,
a Lei 10.172/2001 e a Lei 9.394/96 influenciaram a gestão da educação municipal?
Como e de que forma ocorreu o processo de descentralização via municipalização da
educação em Valparaíso de Goiás? Como o Conselho Municipal de Educação
atua/atuou na elaboração e/ou na revisão do plano municipal de educação de
Valparaíso de Goiás? Na percepção dos gestores e conselheiros, houve alteração na
relação entre o Município e o MEC, após o Pró-Conselho, 2003? É o que veremos a
seguir.
3.2 – Elaboração e revisão do PME: o papel do gestores e conselheiros
No que se refere às mudanças educacionais ocorridas em Valparaíso de Goiás,
parte dos respondentes assinalam vestígios de significativas rupturas na gestão da
educação em relação à condição anterior, antes da emancipação. A separação
ofereceu a oportunidade de romper com velhas práticas clientelistas de Luziânia,
embora ainda haja resquícios do passado que vem sendo enfrentados pela gestão e
pela população.
C3: O Município quando se emancipou, em 1995, ainda tinha alguns ‘ranços’
da época da ligação à Luziânia, e o ranço maior era em relação à Educação. A
Educação era toda controlada pelo executivo, pelo gestor do executivo, no caso
o Prefeito. Mas o tempo foi passando, e a população vai pressionando e, há
cerca de sete anos, a Secretaria de Educação buscou essa emancipação com
relação ao Executivo. Emancipação, no sentido de controlar os recursos da
Educação, então eu acho que já foi um grande avanço, embora Secretário de
Educação seja um cargo de Governo, possui aí essa descentralização financeira.
Então os recursos da Educação são geridos por conta própria, e quem responde
por esses recursos é o Secretário de Educação.
Essa herança clientelista está na base do desenvolvimento da educação
brasileira, marcada pela descontinuidade das políticas e por insuficiência de
planejamento sistemático de longo prazo, fato que reflete a lógica patrimonial do país.
Na maioria dos casos, traduz-se na adoção de programas, projetos e ações, orientados
por prioridades e estratégias, nem sempre articuladas a um macroplanejamento ou a
um planejamento sistêmico (DOURADO, 2011).
Outro conteúdo abordado pelos respondentes articula-se com o contexto da política
nacional de educação e com o federalismo por cooperação. As falas dos conselheiros e
gestores demonstram a compreensão de que a elaboração do plano municipal de educação
é da iniciativa local; entretanto, por ser um plano de Estado, observa o modelo federativo
brasileiro. Isto é, ele depende das diretrizes nacionais para assegurar o princípio da
unidade nacional.
O município é um ente jurídico da federação. As leis municipais também, aprovadas
no âmbito das suas competências e prerrogativas, definem uma política de Estado. A
República Federativa do Brasil é um modelo complexo de autonomia com cooperação;
desse modo, a autonomia da unidade federada não significa soberania, isto considerando
o federalismo por cooperação. A unidade federada local ordena-se pelas diretrizes
nacionais e toma as iniciativas locais de legislar dentro de suas competências e
prerrogativas (CURY, 2010).
O PME é uma lei municipal, portanto, juridicamente um ordenamento do Estado.
Quando a lei é construída com a participação da sociedade civil, ela tem legitimidade social.
Uma lei sem organicidade revela que estamos distantes do Estado Democrático de Direto.
Assim, conforme prescreve a Constituição Federal/1988, Art. 214:
A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o
objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para
assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,
etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das
diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País;
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do produto interno bruto. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 59, de 2009)
Para os gestores e conselheiros, a relação entre os entes federados, União,
Estados e Municípios, e as entidades locais, Conselho Municipal e Secretaria Municipal
de Educação ocorre de forma institucional horizontal, sem subordinação, mas com
interdependência federativa. Os dados coletados revelam também que a participação
dos conselheiros e gestores, a horizontalidade dos debates e deliberação entre os
representantes do governo e da sociedade civil no âmbito do CME contribuem para
organizar as decisões, bem como para a definição de gestão municipal.
Gestor 1: O Pró-Conselho trouxe uma reflexão sobre a autonomia dos entes
Federados, entes estaduais e dos entes municipais. A partir dessa percepção, o
município conseguiu compreender onde é que se encaixaria, na verdade.
Percebemos que, a partir do contato com o Programa, é que o Município tem a
sua organização própria, mas que precisa seguir uma diretriz Nacional que é
diretriz do Plano Nacional. O caderno do Pró-Conselho reforçando bastante a
ideia de colaboração, tanto horizontal: Secretaria Municipal e Conselho
Municipal, quanto em sentido vertical, não o sentido hierárquico, mas vertical
no sentido de outros entes Federados, como os Estados e a União.
Gestor 2: O CME é um órgão colegiado e participa da coordenação do processo
de planejamento da educação municipal. O CME faz parte do sistema de ensino
municipal, estabelecendo de forma democrática normas complementares para a
gestão educacional, na forma da lei. A participação plural da sociedade local e
a horizontalidade das relações de debate e deliberação entre os representantes
do governo e sociedade civil, no CME, permite organicidade nas decisões e na
forma de gestão estabelecida. A ação participativa qualifica as decisões com
impacto no resultado da gestão da educação municipal. Com o incentivo ao
regime de colaboração, o Programa favoreceu ações mais articuladas entre os
sistemas de ensino.
Corroborando a questão anterior, os depoimentos a seguir trazem determinada
avaliação sobre atitudes apáticas de municípios que ficam esperando comando dos
Estados, e não assumem a condição de entes federados em condição de igualdade.
Para eles, os Estados não elaboram seus planos de educação e os municípios
espelham-se neles. Assim duas variáveis impactam diretamente a gestão municipal na
elaboração do PME: a atitude passiva e subordinada de alguns municípios e a
indefinição da União quando não aprova o Plano Nacional de Educação 42.
C3: Olha, por não haver uma normatização Federal clara sobre o assunto, a não
ser na LDB quando fala, no artigo 9º, que a União, em colaboração com os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios elaborarão o Plano Nacional de
Educação. Ora, o artigo 9º é de competência exclusiva da União. Então é como
se os Municípios esperassem que a União se mobilizasse para que, em
consequência disso, eles pudessem se organizar. É claro que, de acordo com
essa evolução, essas discussões foram bastante evidenciadas nas Conferências
de Educação. Tanto na Conferência de 2010 e a que está ainda em pleno vigor.
Os Municípios perceberam que podem deixar a função de passivos e assumirem
a função de ativos nesse processo. Então, primeiro ponto: O que emperra? Os
Municípios não sabem de onde partir, eles não sabem. Eles precisam desse
auxílio, embora o Ministério da Educação tenha, e eu vejo isso como positivo,
tenha organizado o Pró-Conselho, para instruir os Conselhos de Educação e o
42
O texto do Projeto de Lei n.º 8.035/2010, que versa sobre o Plano Nacional de Educação - PNE, foi submetido
pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso Nacional, por meio da Mensagem n.º 701/2010,
apresentada em 20/12/2010, acompanhado pela Exposição de Motivos n.º 33/2010. O PL nº 8.035/2010 foi
designado para Comissão Especial, destinada a proferir parecer. Depois de receber 2.915 emendas, maior número
de emendas recebido até hoje, na Câmara, para um projeto, foi aprovado em 2012, e encaminhado ao Senado Federal
com a denominação de Projeto de Lei Complementar nº 103 – (PLC-103/2012). Após 3 anos e 5 meses de audiências
e tramitações nas comissões da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o PNE foi aprovado pela Câmara dos
Deputados, em 03 de junho e remetido pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, por meio da Mensagem nº
17/14, em 05 de junho de 2014 à sanção da Presidenta Dilma Rousseff. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/54alegislatura/pl-8035-10-plano-nacional-de-educacao>. Acesso à Versão original do PL-<8035/10:
http://www.pne.ufpr.br/wp-content/uploads/2011/05/PL-8035_2010.doc>.
PRADIME, que é para instruir o Secretário de Educação. A partir desses
Programas, acredito que os conselhos tenham substratos para poder dar o
pontapé inicial na construção dos seus Planos. O Segundo é que eles miram
muito os Estados, e os Estados geralmente não organizam os seus Planos. Então
se você for analisar, se fizer uma pesquisa, poucos Estados da Federação têm
Plano ativo de Educação. Aí como os Estados não têm, os Municípios se acham
no direito também de não ter. O Município que não tem Sistema, ele passa a
depender do Estado, então ele pode se emancipar, nessa relação de construção
do Plano de Educação.
A fala do conselheiro induz à importância de que o movimento de conceber a
gestão educacional, seja pela União, Estado ou município é o momento de decidir o
caminho a percorrer, que pode ser na direção de uma perspectiva emancipadora, que,
além de política, inclui a concepção de governo, de sociedade que se pretende
construir, ou a gestão pode limitar-se simplesmente a formular instrumentos técnicos e
burocráticos que organizam as informações orçamentárias e fixam as metas para a
consecução de prioridades da base econômica (FONSECA, 2013).
O Documento-Final da Conae/2010 registra que: “No cenário educacional
brasileiro, marcado pela edição de planos e projetos educacionais, torna-se necessário
empreender ações articuladas entre a proposição e a materialização de políticas, bem
como ações de planejamento sistemático”. Assim, o documento sinaliza a necessidade
de acompanhamento permanente do PNE com vistas a “ajustar suas metas e diretrizes
às novas necessidades da sociedade brasileira” (DOCUMENTO-FINAL CONAE-MEC,
2010, p. 13).
Diante da necessidade de elaboração ou revisão dos planos municipais com a
Conae/2010 e o Projeto de Lei Complementar nº 103/2012, que versa sobre o Plano
Nacional de Educação, as entidades municipais e da sociedade estão problematizando
este tema e trazendo-o para o debate. Evidencia-se na pesquisa que além do município
estudado, outros municípios do Estado de Goiás, citados pelos entrevistados,
assumiram a condição emancipadora em relação à elaboração/revisão do Plano
Municipal de Educação, entre eles Formosa e Rialma. Ouçam o gestor 1:
Gestor 1: Os Entes Municipais miram muito o Estado, e o Estado geralmente
não organiza Plano. Aí, a partir desse movimento de Conferência, de CONAE
e de UNDIME, os Municípios se apoderaram e começaram a organizar o Plano,
como é o caso de Rialma. Rialma fez um evento brilhante, inclusive nós
participamos como palestrantes no primeiro evento, do suplanto de Educação.
Inclusive, a sociedade ficou perplexa, achando que era uma artimanha do
Governo, e foi interessante essa discussão. A Secretária teve que se explicar
bastante. E depois eles perceberam que era uma iniciativa interessante, que era
de mobilizar, fazer com que estudassem e votassem propostas para organizar as
metas e as estratégias do Plano. Rialma é um grande exemplo nesse sentido.
Formosa é outro exemplo, embora Formosa tenha contratado um Grupo. Teve
Conferência com Participação de mil pessoas, então, foi bem expressiva a
organização do Plano, inclusive a gente chama Formosa para fazer algumas
falas, para orientar os outros Municípios. Agora, a Uncme trabalha no sentido
de fazer com que o Município se emancipe e tome a iniciativa nesse processo;
inclusive, a gente vai fazer falas isoladas. Então, há Município que chama a
gente para fazer uma fala com Conselho, Secretaria - Ministério Público que é
pra eles começarem a se envolver no Processo e tomar a iniciativa de elaborar
o Plano. Agora, nem sempre, pela rotatividade, as coisas fluem.
Em 2001, o município de Valparaíso de Goiás, com apenas seis anos de
existência, sua gestão no âmbito educacional passou a receber influência da Lei nº
10.172/2001 – PNE, por esta determinar a elaboração de planos decenais estaduais e
municipais correspondentes. Tal demanda, com força de lei, redimensionou a prática
da secretaria municipal de educação que, de alguma forma, já concebia formas de
gestão educacional.
Ao analisar a Lei nº 504 de 29 de julho de 2004, que versa sobre o Plano Decenal
de Educação do município de Valparaíso de Goiás, observa-se que esta dispõe sobre
a concepção participativa e de colaboração com o CME no seu processo de elaboração:
O Plano foi desenvolvido com os pressupostos que foram surgindo na rede de
ensino, nos segmentos sociais, com ações centralizadas no âmbito da Secretaria
de Educação, e colaboração do Conselho Municipal de Educação, onde a
inclusão do ser tornou-se prioridade, não só no que diz respeito à aprendizagem
do conteúdo, como também a participação e socialização do aluno, valorizando
suas competências gerando um fator de integração total no seio escolar,
vivenciando a comunidade e interagindo com ela. (Lei nº 504/2004, p. 6).
Perguntamos aos conselheiros e gestores como eles participaram do processo
de elaboração do Plano Municipal de Educação, obtivemos as seguintes respostas:
C-1: Dessa situação, quando eu estava no conselho, eu, eu não me recordo da
discussão do Plano Municipal de Educação, porque eu acredito que foi
elaborado via Secretaria e, num primeiro momento, que eu saiba, a “coisa” não
chegou ao Conselho Municipal de Educação, eu não me recordo, sabe da gente
lá debatendo se realmente elaborou, se foi feita uma coisa construída, discutida,
entendeu? Eu não me recordo. Com toda a sinceridade, eu não me recordo da
gente lá discutindo o Plano Municipal de Educação.
C-2: Não tenho conhecimento, talvez até por representar as Escolas
Particulares, nós temos certa distância das Escolas Públicas e da Secretaria, e é
um fato interessante porque eu sempre chego até a falar já há algum tempo para
o Secretário de Educação do Município que as Escolas Privadas deveriam ser
inseridas nesse processo.
C-3: Começamos a buscar uma organização para fazer é... a mobilização para o
nosso próximo Plano, desde 2011. A partir de 2011, nós estabelecemos uma
rotina de uma Conferência por ano, já para consultar a sociedade, já para
consultar a visão da Sociedade para que todos pudessem se inteirar desse
processo de constituição do Plano e/ou adequação em relação ao Plano
Nacional. Nós precisaríamos fazer uma adequação, nós precisaríamos adequar
ao Plano Nacional e para isso nós precisamos de mobilização, então essa
mobilização prévia é bastante importante pra que a sociedade possa se apoderar
dos assuntos discutidos em nível Nacional, e dos assuntos concernentes aos
interesses municipais, para que aí possamos ter uma participação ativa e plena
dos munícipes pra organização da Educação. Então para isso, o conselho tomou
a iniciativa, até porque nós da Uncme entendemos que é competência do
Conselho fazer essa mobilização, porque já faz parte do seu atributo mobilizar,
e em parceria com a Secretaria, até porque é interessante. Nós temos um órgão
de Governo que é a Secretaria e temos um órgão do Estado, que é o Conselho.
Enquanto órgão de Estado, o conselho é aquele que ouve a Sociedade e fala ao
Governo, então é importante que esses dois órgãos, estejam em parceria para
que o Sistema possa andar com equilíbrio. Porque se um órgão tender a buscar,
para chamar para si as realidades, eu acho que o Sistema perde.
C-5: Eu acredito que tenha sido a Secretaria, naquela ocasião. A Secretaria ela
provoca, ela prepara a documentação, encaminha ao Conselho para análise, o
Conselho analisa se achar alguma coisa que esteja errada, faz a devolutiva,
corrige-se, volta para o Conselho, analisa novamente e se tiver ok, aprova e aí
baixa a resolução deliberando no seu devido tempo.
C-6: Até então, era muito distante essa relação, parecia algo muito separado. Ou
vinha da Secretaria já pronto para o Conselho, e aí o Conselho tinha que apreciar
e aprovar, ou então era ao contrário. O Conselho que enviava, pelo menos no
período em que eu estava, não houve essa junção de sentarem, tanto a Secretaria
de Educação como o Conselho, para pensar algo coeso e que iria ser distribuído,
para a rede todinha, não havia esse casamento, digamos. Então era algo muito
distante, o Conselho pensava para um lado e a Secretaria de Educação pensava
para o outro. Depois as coisas foram melhorando e aí tanto o Conselho de
Educação como a Secretaria de Educação começaram a entrar em consenso e a
falar a mesma língua. Eu percebi isso, porque quando eu cheguei o Plano já
estava pronto e aí já estava em execução. Eu acredito que tenha sido pela
Secretaria de Educação e reformulado pelo Conselho. Eu não tenho propriedade
para falar porque quando eu cheguei já estava implantado.
C-7: Eu assumi a Secretaria tem duas semanas, então nós estamos “tomando
pé” da situação, mas sim, a relação com o Conselho sempre foi de parceria,
entendendo as atribuições de cada um, mas dando liberdade pra que cada um
possa atuar. E um contribuindo com o trabalho do outro.
A fala dos entrevistados revelou que contraditoriamente ao disposto na Lei nº
504/2004 que versa sobre o PME, os conselheiros manifestaram certo distanciamento
do processo de elaboração do plano municipal de educação e conhecem de forma
insuficiente a história da relação institucional entre a secretaria e o conselho durante
esse processo.
A relação entre instituições públicas e privadas de ensino na elaboração do
Plano de Educação, a exemplo das disputas em âmbito nacional, tem seus embates e
dilemas quando se considera a necessidade de sua inclusão. A Lei nº 9.394/96, Art.
18 prescreve que as instituições de educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa
privada integram os sistemas municipais de ensino e nessa perspectiva, o PME.
O PME, por ser um plano abrangente, inclui todas as redes de ensino e
contempla todos os níveis, etapas e modalidades ofertadas, portanto a participação da
população torna-se fundamental. Um dos conselheiros sinalizou, entretanto, certo
distanciamento entre escolas públicas e escolas particulares e, destas, com a
Secretaria de Educação. O conselheiro revelou que as escolas particulares estão
isoladas e reivindicam que sejam incluídas nesse processo de discussão e de
participação com a esfera pública, existindo nesta relação um desafio a ser superado.
Para os conselheiros e gestores, torna-se fundamental que eles se apoderem e
tomem conhecimento da legislação educacional que subsidia a elaboração do PME,
como a Constituição Federal, o Plano Nacional de Educação; a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional - Lei n° 9.394/96; o Estatuto da Criança e do Adolescente
- Lei Nº 8.069/1990; a Lei do Fundeb. Nesse contexto, é possível que os conselheiros
e gestores possam conceber uma gestão que evidencie a relação participativa e
cooperativa entre gestores, equipes técnicas, coordenação pedagógica e professores
na definição e elaboração/revisão do PME.
Dessa forma, as falas dos respondentes consubstanciam o fato que o Plano
Municipal de Educação pode constituir-se e traduzir-se em instrumento norteador da
política educacional do município e de sua relação com as políticas estaduais e
nacionais, desde que se considere a participação da comunidade educacional no
processo de elaboração, acompanhamento e avaliação.
O município aprovou em Lei o seu Plano Municipal de Educação e ela está em
vigência. A fundamentação legal desse plano foi a Lei nº 10.172/2001 (PNE 20012010). Diante do processo de tramitação do PL nº 8.035/2010 e a necessidade de
elaboração do próximo Plano Municipal de Educação de Valparaíso, a fala dos
conselheiros e gestores destaca alguns aprofundamentos sobre a necessidade de
melhorar a forma de participação no processo de elaboração do PME, bem como as
possibilidades, limites, e contradições desse instrumento normativo.
3.3 – A participação dos conselheiros no processo de elaboração/revisão do
Plano Municipal de Educação
No município, desde o período de sua emancipação, estiveram presentes a
busca e o esforço para implementar a gestão educacional, de forma participativa, seja
por meio da atuação do sindicato municipal, da criação e atuação dos órgãos
colegiados (Fundef e CME), da criação do sistema municipal de ensino ou pelo esforço
de atuação dos conselheiros e gestores locais.
Uma das possibilidades de modificar e ampliar a institucionalidade do Poder
Público está associada às lutas oriundas das relações conflituosas em sociedade. De
acordo com Cunill Grau (1998), essa ampliação da esfera pública pressiona a
sociedade no sentido de obter maior influência sobre o Estado, bem como a limitação
deste, considerando que a autonomia social pressupõe não só transcender as
assimetrias na representação social, mas também modificar as relações em favor de
maior auto-organização social.
É nesse contexto que a participação social, como espaço e mecanismo de
construção da cidadania, pode assumir dois aspectos diferenciados: um que põe a
sociedade em contato com o Estado, e o outro que propicia seu próprio fortalecimento
e desenvolvimento. Nessa direção, a participação social pode ampliar a qualidade da
gestão da educação, e possíveis caminhos podem ser desvendados, contribuindo com
a luta política da sociedade. A Constituição Federal de 1988 representou um dos
marcos legais que assegurou a participação da sociedade civil. A esse respeito Ferreira
(2013) manifesta que:
a organização estatal brasileira sofreu forte impulso descentralizador, sendo
transferidas responsabilidades aos municípios, quanto à formulação e à
implementação de políticas públicas. A autonomia política e administrativa
alcançada pelos municípios trouxe maior complexidade à relação entre os entes
federativos, que passa a se apresentar na forma de um conjunto superposto de
arenas de negociação, coordenação e produção de políticas e serviços públicos,
ramificados horizontal, vertical e setorialmente em cada nível de governo. Muitas
vezes, a competição se instaura, em outras, a cooperação, no relacionamento dos
entes federativos (FERREIRA, 2013, p. 71).
No que concerne à participação, alguns dos conselheiros municipais de
educação revelam pouca participação do CME na elaboração e/ou revisão do Plano
Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás.
C-1: Não. Não. A questão do Conselho Municipal de Educação, eu não me
recordo em momento algum da gente, enquanto conselheiro e o próprio
Conselho, participar dessa discussão do Município, eu não me recordo, não sei
como é que foi feito.
C-2: Que eu tenha conhecimento, existe assessoria da Secretaria de Educação
para elaborar o plano. Eu não tenho como te responder exatamente como
funciona, por não ter sido convidado a participar em nenhum momento.
C-3: Não, não participei. E foi um plano de gaveta, na verdade, foi uma
assessoria que foi contratada pelo Município, o Município pagou por esse plano,
esse plano foi apresentado pelo Executivo à Câmara. O Executivo tinha a
maioria como sempre tem na Câmara, e acabou sendo aprovado, mas foi
guardado logo após a aprovação, então quase ninguém aqui sabe. Se você for à
Secretaria hoje, ninguém vai saber desse plano. Se você tivesse ido à Secretaria
há dois anos, ninguém saberia. E se você tivesse ido à Secretaria há quatro anos,
ninguém saberia também, então é um Plano extremamente de gaveta, sem
menor participação social.
C-5: Como eu te falei, eu estava de atestado na ocasião. Aqui dentro da
Educação, nós tivemos reuniões, a Secretaria promoveu reuniões para os
diretores de escolas de unidade e diretores de divisão, onde nós elaboramos
metas a serem cumpridas e que seriam elencadas dentro do PME.
Parte dos respondentes manifesta um conhecimento superficial sobre o
processo de elaboração do PME, conforme revelam as respostas selecionadas. Outros
manifestaram ter consciência de que o plano foi uma elaboração formal para atender
ao previsto nas diretrizes e legislação educacionais. Na fala de um dos conselheiros,
foi uma elaboração, de gaveta. Outro assinalou que, ao ser elaborado, o plano
propunha contemplar o segmento que representava; entretanto, declara não ter
participado dos desdobramentos que ocorreram no período de implementação do PME.
O entrevistado C-3 de forma muito enfática manifesta: “Não, não participei. E foi um
plano de gaveta, na verdade, foi uma assessoria que foi contratada pelo Município, o Município pagou
por esse plano”. Este pronunciamento demonstra que a Secretaria contratou assessoria
para elaborar o PME e evidencia ausência de participação dos conselheiros no
processo de elaboração do Plano.
Em relação ao processo de revisão da nova Lei, um dos conselheiros afirma que
o CME organiza e estabelece mecanismos de participação social, como conferências e
audiências, visando mobilizar a sociedade para que, assim, todos “se apoderem dos
assuntos discutidos em nível nacional, e dos assuntos concernentes aos interesses do
município, para que aí possam ter uma participação ativa e plena dos munícipes para
organização da educação”. No entanto, outra conselheira entrevistada, afirmou que até
o momento não foi informada sobre a revisão do PME.
C-3: Para o nosso próximo Plano, começamos a buscar uma organização para
fazer a mobilização. Desde 2011, nós estabelecemos uma rotina de realizar uma
conferência por ano, já para consultar a visão da Sociedade para que todos
pudessem se inteirar desse processo de constituição do Plano e/ou adequação
em relação ao Plano Nacional. Se o Plano Nacional até lá tiver sido aprovado.
Nós precisaríamos fazer uma adequação, nós precisaríamos adequar ao Plano
Nacional e para isso nós precisamos de mobilização; então, essa mobilização
prévia é bastante importante pra que a sociedade possa se apoderar dos assuntos
discutidos em nível nacional, e dos assuntos concernentes aos interesses
municipais, para que aí possamos ter uma participação ativa e plena dos
munícipes para organização da educação.
C-4: Nós já estamos em outubro de 2013 e até agora eles não mencionaram nada
sobre a revisão do Plano para o ano que vem.
Depreende-se, a partir das falas, que as informações sobre o processo de
revisão do PME podem estar centralizadas ou são conduzidas por parte dos
conselheiros do colegiado, uma vez que há conselheiros que ainda não têm
conhecimento sobre a revisão do PME a ser implementado a partir de agosto de 2014.
A centralização ou descentralização não ocorre apenas entre o MEC e os entes
federados, mas também ocorre no mesmo ente (o município), entre as diferentes
entidades e entre os diferentes atores locais.
Em outro estudo acadêmico desenvolvido no estado de Goiás, Magalhães
(2011) analisa o processo de construção da autonomia do conselho municipal de
educação de Anápolis-GO. Os conselheiros lutam e, junto com a sociedade civil,
desenvolvem ações para ocupar espaços de participação nas políticas públicas
educacionais para o município. O estudo concluiu que o CME de Anápolis constitui-se
em espaço público, coletivo da sociedade civil e se posiciona, ouve, mobiliza, debate,
envolve os integrantes dos diversos segmentos sociais para apresentarem suas
necessidades aos seus representantes, conselheiros eleitos e/ou indicados. O objetivo
daquele CME é transformar as necessidades educacionais em objeto de políticas
públicas local.
Conforme evidencia a fala de um dos conselheiros do CME de Valparaíso de
Goiás,
percebe-se
que
houve
certo
amadurecimento
do
conselho,
maior
descentralização de poder para esse órgão. Mesmo com os conselheiros indicados pelo
Poder Executivo, por mais que estejam sendo levados a aprovar ou a votar naquilo que
o governo determina, ampliou-se o espaço e a participação no âmbito do CME, parece
que houve um maior questionamento.
C-6: Então, quando eu cheguei o Plano já estava em andamento, já tinha sido
elaborado. Eu participei sim de alguns debates para reformulação, mas não foi
algo muito latente, de grande discussão não. Como eu estou distante, esse
tempo, eu não sei como está essa revisão hoje, como está sendo essa relação
com a Secretaria de Educação e o Conselho Municipal de Educação. Mas eu
acredito que esteja uma relação mais estreita, e que eles estão sentando mais,
estão conversando mais, estão participando mais, isso é o que eu percebo de
fora.
Dessa forma, o PME como processo de construção e de implementação do
Sistema de Ensino (SME) define as políticas e diretrizes, bem como estabelece os
objetivos e metas educacionais do município para um período de dez anos. Essa
construção pode transformar-se em processo de formação, de aprendizagem sobre a
realidade educacional. Nessa direção, Benevides (1994) ressalta que a participação
social pode levar ao exercício da cidadania ativa e ao fortalecimento político das classes
sociais da população, ou pode ficar apenas com alguns que contratam assessorias.
De acordo com Gohn (2011) e Magalhães (2011), o processo de redemocratização
traz novas vozes, antes ignoradas, com o fortalecimento dos movimentos sociais e com a
participação dos conselhos de educação. São sujeitos políticos que lutam, num País sem
tradição democrática, e que passaram a reivindicar espaços de participação social. Dessa
forma, a concepção de gestão para consolidar uma perspectiva de Estado Democrático de
Direito passou a demandar uma estrutura descentralizada e participativa.
Ainda contextualizando a cultura de participação social no âmbito educacional
brasileiro, o trabalho acadêmico de Chazanas (2011) traz a reflexão sobre o tema da
participação na escola, considerando a participação social como um dos elementos
estruturantes da gestão democrática. O trabalho concluiu que o exercício da
participação deve ser aprendido tanto pelas famílias, quanto pelas equipes gestoras,
sendo necessária, portanto, uma estratégia que fortaleça essas famílias para buscar as
mudanças e reestruturações que tornem a escola um espaço de construção
democrática.
No caso de Valparaíso de Goiás, um dos conselheiros relata que possível
assessoria foi contratada para elaboração do plano, e que não houve participação do
conselho para a construção da proposta. No entanto, uma das falas dos conselheiros
indica certa aproximação entre os órgãos municipais (Secretaria e Conselho) na busca
pela revisão do Plano Municipal de Educação, a vigorar a partir de agosto de 2014.
C-6: Hoje eu vejo que o Conselho está mais maduro. Há um crescimento, houve
um crescimento, uma descentralização. Mas eu percebo que mesmo as pessoas
que foram indicadas pelo Governo estão tendo mais consciência, por mais que
estejam sendo induzidas a aprovar ou a votar no que o Governo quer, mas pelo
menos questionam mais, e eu acredito que, agora, nós temos uma base maior
para reformular o PME.
A sociedade brasileira herdou do período autoritário, o que não foi diferente no
contexto do município de Valparaíso de Goiás, crescimento econômico subalterno ao
capitalismo internacional e com exclusão social. Uma gestão descentralizada sinaliza
para uma estratégia de fortalecimento do poder local e da participação. Nessa
perspectiva, “a participação popular ergue uma nova perspectiva de política pública em
confronto com a tradição do caciquismo local e com o centralismo burocrático imposto
pelos grandes grupos econômicos e políticos nacionais”. (DOWBOR, 1994, p. 81).
Apesar de os depoimentos demonstrarem que os conselheiros não participaram
ou não tomaram conhecimento do processo de construção do PME, e ainda de ter sido
contratada assessoria para sua elaboração, a mobilização social iniciada pelo CME
para que a cidade debata a revisão do PME para o próximo decênio (2014-2023), o seu
engajamento no debate local dos temas da conferência nacional de educação, a
realização de conferências municipais anuais preparatórias, o engajamento e
compromisso do sindicato municipal, as demandas da rede particular de ensino, em
especial, nesse processo, evidenciam condições potenciais para revisão do PME de
Valparaíso de Goiás, considerando a participação da sociedade.
3.4 – A Função do CME na perspectiva dos conselheiros e gestores
A partir da experiência e da prática vivenciada pelos conselheiros e gestores,
indagamos sobre o seu entendimento acerca da função do Conselho Municipal de
Educação. Nesse sentido, a experiência municipal com a organização de órgãos
colegiados de gestão participativa é anterior à própria criação do Conselho Municipal
de Educação.
Organizada a partir de 1995, a educação municipal em Valparaíso de Goiás
ingressou na era da descentralização com os estímulos do Fundef. A equalização, em
âmbito estadual, marcou esse período, sobretudo, na redistribuição da receita dos
principais impostos vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino e
obrigatoriedade na instituição de órgão colegiado de controle social - Conselho de
Acompanhamento e Controle Social do Fundef.
Integrados por representantes do Poder Executivo e da sociedade, o Conselho
do Fundef teve a atribuição de proceder ao acompanhamento da aplicação dos
recursos recebidos à conta do Fundo. Estudos realizados em 2010 revelam que a
dinâmica do Conselho do Fundef em Valparaíso de Goiás permitiu institucionalizar
formas democráticas, tanto em relação ao processo de escolha dos membros do
Conselho, quanto aos procedimentos para tomada de decisões entre os conselheiros.
Dentre eles, o critério eletivo para escolha de seus membros pela comunidade,
realidade que só foi possível no início do segundo mandato, em 2000, a partir de um
trabalho feito entre os professores, liderados pelo Sindicato. “A luta pela garantia do
processo democrático mostrou que foi possível mudar as regras do jogo e reverter um
quadro de centralismo em que prevaleciam as relações autoritárias. ” (BARBOSA,
2010, p. 10).
O Sindicato dos Professores do Município de Valparaíso de Goiás –
Sindsepemval – tem atuação expressiva e uma força política evidenciada nas disputas
educacionais. Conflitos na gestão da educação municipal – educação pública versus
educação privada e sociedade civil versus governo municipal -, percebidos tanto na
relação entre CME e a Secretaria de Educação, quanto nas relações internas entre os
membros do próprio órgão colegiado, têm origem nos acontecimentos históricos do
município. Tais aspectos observados revelam a presença de relações democráticas
efetivadas em Valparaíso de Goiás.
C-1: uma questão que gerou uma polêmica também foi a do piso salarial. A
gente cumpre praticamente todas as escolas têm o dissídio trabalhista do
Sindicato dos Professores e eles enviam ali o acordo do dissídio, e a gente
implementa, e aí vem um conselho novo querendo saber, querendo ver carteira,
querendo ver toda a documentação. Isso foi parar até no Ministério Público e
teve um entendimento que bastou uma declaração com as informações do
computador e parece que resolveu essa situação. Eu vejo que, às vezes, o
Conselho radicaliza muito, mas eu acho que não tem... Eu penso que no fundo,
no fundo, isso é positivo. É positivo porque ele tá preocupado com as questões
gerais, ele não está preocupado só com a questão educacional propriamente dita,
porque eu acho que o Ministério Público também entendeu que, eu acho
também, é obrigação do Conselho ver estas questões. Então hoje cumpre-se
25% do período destinado a Coordenação das Escolas Particulares, e também
essa questão hoje do piso salarial. Todas as escolas que estão autorizadas têm
que encaminhar a declaração dizendo que paga o piso; então, eu acho que isso
vem de confronto para unir as coisas e ter um resultado positivo, eu acho que
isso tudo cresce, tudo favorece. Cresce a educação, melhora a qualidade da
educação no Município que... você começa a ter professores também melhor
remunerados, mais qualificados, porque se a coisa ficar muito solta eu acho que
os resultados não são tão bons.
C-2: Por exemplo, no meu segmento, Escolas Privadas são contrárias, por
exemplo, ao CME fazer o papel de fiscalização do trabalho. Tá como se fosse
um fiscal do trabalho, o Ministério do Trabalho. Essa é a nossa posição
contrária, em relação a esse, porque o que nós somos a favor, tanto para as
escolas privadas quanto para as públicas, é que conselheiros e Inspetores do
Conselho visitem, se for o caso, todos os dias ou que tenha semanal, visitando
diariamente essas escolas.... Em Valparaíso, então eu acho que é fácil, existe
uma facilidade nessa tramitação de processos de regularização das Escolas
Privadas e Públicas. Regularização, por exemplo, de documentação, tomar
conhecimento do trabalho que os inspetores estão fazendo. Acho que é o que
nós temos, eu posso dizer que nós temos facilidades. E acho que é importante
dizer que o Conselho não é um Sindicato dos Professores, ele não tem esse
papel, é uma questão de legalidade, só isso, mas nós não somos contra.
C-4: Sobre questões que não dizem respeito ao CME. Não são prerrogativas do
CME, as questões Trabalhistas, para isso tem Sindicato e tem Delegacia
Regional do Trabalho para resolver, e que, de certa forma, os Conselheiros que
tem lá ainda, que são remanescentes do outro Governo, votam com ele. Então
não é bom, não é bom porque ele que decide, a maioria decide com ele. E umas
questões inconvenientes que são que eu sei que são questões Trabalhistas, não
dizem respeito da prerrogativa do CME, que ele tem que acompanhar só o
Educativo, porque questão Trabalhista tem quem cuide disso. E ele tá trazendo,
tá dificultando, e meu voto lá tá sendo vencido, porque o povo vota com ele.
Entretanto, parte dos conselheiros analisa que o CME pauta e delibera sobre
questões que, segundo eles, não são da sua competência, não devem ser assumidas
pelo CME, como por exemplo, exigir que as escolas particulares paguem o Piso salarial
dos professores, assim como é feito pelas escolas públicas. Não é uma discussão ou
uma função que o CME deve assumir, enfatizam os conselheiros. Apesar de
considerarem que tais ações trabalhistas estão em plano legal, são de competência do
Sindicato, do Ministério Público e do Ministério do Trabalho. Dessa forma, o CME, ao
assumir essa questão, está extrapolando em relação às funções próprias, pertinentes
a este órgão.
De acordo com sua Lei de criação nº 317/2001, art. 2º, o CME de Valparaíso de
Goiás tem as seguintes atribuições:
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII.
IX.
X.
XI.
XII.
XIII.
XIV.
XV.
XVI.
XVII.
elaborar seu Regimento Interno, bem como promover sua reformularão,
quando necessário;
emitir parecer sobre assuntos de natureza pedagógica e educacional que
lhe forem submetidos pelo Prefeito Municipal, pelo(a) Secretário(a) de
educação, pela Câmara de Vereadores, ou pelas unidades escolares;
interpretar, no âmbito de sua jurisdição, as disposições legais que fixem
diretrizes e bases da educação;
manter intercâmbio com o Conselho Nacional de Educação e com os
conselhos estaduais e municipais, visando à consecução dos seus
objetivos,
articular-se com os órgãos e entidades federais, estaduais e municipais,
para assegurar a coordenação, a divulgação e a execução de planos e
programas educacionais;
fixar critérios e normas para elaboração e aprovação dos regimentos dos
estabelecimentos de ensino de educação básica;
estabelecer normas e condições para autorização de funcionamento,
reconhecimento e inspeção de estabelecimentos de ensino de educação
básica e de educação superior sob a sua jurisdição;
aprovar o calendário escolar dos estabelecimentos de ensino de educação
básica;
baixar normas para aprovação e reprovação de alunos, observando o
disposto no inciso VI do art. 24 da Lei nº 9.394/1996;
regulamentar a celebração de contratos de estágios, com alunos
regularmente matriculados em cursos normal, médio e superior, de
pedagogia, ou de licenciatura, na forma da legislação vigente;
acompanhar e fiscalizar estabelecimentos ou unidades de ensino superior
mantidos pelo Município, nos termos da Lei nº 9.394/1996, e analisar, em
grau de recurso, as reclamações contra os atos de seus conselhos
universitários;
aprovar planos e projetos de aplicação de recursos, apresentados pela
administração municipal, para efeito de auxílio financeiro no campo
educacional;
baixar normas para renovação periódica do reconhecimento concedido a
estabelecimento de ensino de educação básica;
aprovar programas de educação apresentados pela Secretaria de
Educação, Cultura, Desporto e Lazer e pelas unidades escolares, para fins
de concessão, pelo Município, de auxílio financeiro.
sugerir às autoridades providências para a organização e o
funcionamento do sistema educativo do Município de Valparaíso que, de
qualquer modo, possam interessar à sua expansão e melhoria;
preparar gradualmente normas que regulamentem a gestão democrática
na educação básica;
aprovar grades curriculares dos estabelecimentos de ensino de educação
básica.
Com suas especificidades, esse ambiente de gestão de políticas públicas pode
ter influenciado a atuação dos conselheiros municipais de educação, bem como a
compreensão de sua função social. A concepção de educação, que orienta a prática da
gestão democrática, fundamenta- se numa perspectiva crítica que concebe o homem
em sua totalidade (GRACINDO, 2007).
Assim, os conselheiros, ao desenvolver práticas educacionais em suas diversas
e históricas necessidades, também são tidos como sujeitos dos processos educativos.
Essa prática significa que o processo está sendo compreendido em um sentido mais
amplo, ou seja, está sendo vivenciado enquanto prática social, traduzindo-se nas
relações que os homens criam entre si, nas diferentes instituições e movimentos
sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva das relações (Brasil, 2012, p.28).
Nesse sentido, a gestão do sistema educacional implica, além de ordenamento
normativo e jurídico, a vinculação de instituições sociais por meio de diretrizes comuns,
o que equivale a dizer que a:
A democratização dos sistemas de ensino e da escola implica aprendizado e
vivência do exercício de participação e de tomadas de decisão. Trata-se de um
processo a ser construído coletivamente, que considera a especificidade e a
possibilidade histórica e cultural de cada sistema de ensino: municipal, distrital,
estadual ou federal de cada escola (Brasil, 2004, p.23).
Corroborando essa perspectiva, os estudos desenvolvidos por Barbosa (2005 e
2010) revelam a disposição do município de Valparaíso de Goiás em se consolidar
como ente federado, instaurando o movimento para criação e aprovação de leis que
fortaleceram o sistema municipal de ensino. Nessa direção, foram sancionadas a Lei
que criou o Conselho Municipal de Educação, a Lei que aprovou o Plano Municipal de
Educação e a Lei que instituiu o Sistema Municipal de Ensino.
Depreende-se, portanto, que, na primeira década posterior à emancipação de
Valparaíso de Goiás, a gestão educacional passou a ser parte constituinte do município
e desenvolveu alternativas para a construção do processo político-administrativo da
educação, entendendo-se por “gestão da educação o processo político-administrativo
contextualizado, por meio do qual a prática social da educação é organizada, orientada
e viabilizada” (BORDIGNON & GRACINDO, 2001, p. 147). Ao optar por essa
concepção de gestão, o município assumiu a condição de construção processual e
educativa, traduzindo-se, portanto, em um esforço, não só pedagógico, mas
essencialmente político.
A possibilidade da construção de práticas de gestão nos sistemas de ensino,
numa concepção democrática, está contextualizada na base da legislação federal que
versa sobre a educação (Lei nº 9.394/96, Art. 14) ao estabelecer que “os sistemas de
ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios”:
I - Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II - Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.
Nesse contexto, a legislação está apontando para a gestão da educação nos
sistemas de ensino, considerando a perspectiva democrática. Por meio de processos
de decisão, escolhas e aprendizagens coletivas, uma gestão democrática efetiva-se
por meio da participação dos sujeitos sociais envolvidos com a comunidade
educacional, ou seja, pais, estudantes, professores, equipe gestora, funcionários e
comunidade local, visando à elaboração de seus planos e projetos educacionais.
O CME de Valparaíso de Goiás tem buscado ser ativo, evidenciado pela
realização de duas reuniões por mês e de visitas permanentes às escolas. Para
desempenhar as suas funções, o CME conta com uma equipe de dez servidores. É um
órgão, na percepção dos entrevistados, respeitado e reconhecido no Estado de Goiás.
C-5: Aprendi muito nesse sentido com Conselho, e que nem sempre dá para
esperar pelas Autoridades. A gente fazia mesmo, não esperava a “coisa” vir não,
a gente tomava as rédeas, tomava a frente e fazia. Apesar das dificuldades que
a gente tinha o CME nunca parou, sempre tinha um grupo ali “empurrando”. Tá
aí um Conselho hoje que é referência. Temos a satisfação grande de ter
participado do processo, o Conselho hoje é referência dentro do Estado. Muito
respeitado quando a gente chega em alguma reunião em Goiânia, o pessoal
sempre comenta: - O Conselho de Valparaíso é referência. Nos outros conselhos
das outras cidades que estão começando, às vezes, eles vinham procurar a gente
para saber qual a forma de se construir isso aí.
O CME de Valparaíso de Goiás funciona em prédio alugado, com recursos da
prefeitura, e conta com um veículo para realizar visitas às escolas com um quadro de
dez servidores, sendo sete professores, um supervisor pedagógico, um secretariado
escolar e um servente, ocupando diversas funções 43.
Segundo o regimento do CME, o Conselho realiza duas reuniões quinzenais e
promove audiências mensais. A Lei nº 317 de criação do CME prevê a destinação de
jeton para a função de conselheiro. No entanto, até o momento (abril de 2014), nenhum
conselheiro recebeu qualquer tipo de gratificação por parte da prefeitura, apesar de
constar na legislação do CME e em Decreto municipal, a previsão de R$ 70,00 por
participação em reunião44.
Nessa perspectiva, a gestão da educação volta-se para a transformação social,
contrapondo-se essencialmente à centralização do Poder do Executivo Municipal,
chamando a atenção para a participação dos sujeitos sociais pertencentes à
43
Fonte: CME de Valparaíso de Goiás. Durante as entrevistas no período de outubro a novembro de 2013 estive no
local de funcionamento do CME e observei os dez servidores exercendo suas atividades.
44
Os conselheiros de Anápolis também recebem Jeton - MAGALHÃES, L.M. O Processo de Construção da
Autonomia do Conselho Municipal de Educação. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade de Brasília,
DF. 2011.
comunidade educacional e local. Na análise de Paro (1997)
O caráter mediador da administração manifesta-se de forma peculiar na gestão
educacional, porque aí os fins a serem realizados relacionam-se à emancipação
cultural de sujeitos históricos, para os quais a apreensão do saber se apresenta
como elemento decisivo na construção de sua cidadania. Por esse motivo, tanto
o conceito de qualidade da educação quanto o de democratização de sua gestão
ganham novas configurações. Esta segunda configuração, ultrapassando os
limites da democracia política, articula-se com a noção de controle democrático
do Estado pela população como condição necessária para a construção de uma
verdadeira democracia social que, no âmbito da unidade escolar, assume a
participação da população nas decisões, no duplo sentido de direito dos usuários
e de necessidade da escola para o bom desempenho de suas funções (PARO,
1997, p. 300).
Os conselhos estão situados em um contexto político, histórico, jurídico e
territorial próprio que se diferenciam significativamente entre si, tanto em relação ao
tamanho quanto à história e cultura regional. Cada município, de acordo com suas
especificidades e singularidades, considerando o seu sistema de ensino, pode criar um
conselho que desempenhe função social, mobilizadora e normativa para o legal
funcionamento do sistema.
Assim, uma das possibilidades postas entre o CME e a secretaria está na forma
mediada e negociada de conceber, implementar e rever o Plano Municipal de
Educação. O CME pode, dependendo do tipo de articulação estabelecida com a
secretaria, mobilizar a sociedade, por meio de audiências públicas, conferências, ciclo
de debates para elaboração do PME. Pode ainda acompanhar ou coordenar o próprio
processo de elaboração do PME e, ainda, receber a proposta de PME do Poder
Executivo Municipal para emissão de parecer antes de ela ser encaminhada ao Poder
Legislativo, ou seja, à Câmara de Vereados para aprovação e publicação.
Como um dos órgãos do sistema de ensino, o conselho de educação faz parte
de um todo; apresenta condições de funcionamento, subsidiado pela Secretaria
Municipal de Educação, no entanto contrataram assessoria para elaboração do PME.
É uma instância de mediação que delibera sobre posições, considerando o contexto do
direito à educação universal e às especificidades locais.
No caso de Valparaíso de Goiás, presume-se, segundo depoimento dos
conselheiros, que o PME (2004-2014) foi elaborado por assessoria e nenhum
conselheiro foi ouvido ou consultado. Atualmente, está presente na percepção dos
entrevistados os desafios para revisão do atual ou elaboração do próximo plano
decenal de educação.
Ao proceder à análise de trechos dos conselheiros e gestores participantes da
pesquisa, depreende-se que eles têm posicionamento acerca da função do CME como
um dos órgãos que compõe o sistema municipal de ensino, conforme estabelecido na
Lei 9.394/94, Art. 18.
C-1: É a questão de baixar normas, autorizar funcionamento de escolas tanto
municipais quanto particulares, e funciona muito, no nosso caso. Eu acho que são
fatores elementares. Eu vejo aqui em Valparaíso, se não existisse Conselho
Municipal de Educação, eu acho que a organização das escolas municipais estava
de uma forma ainda mais complexa. O Conselho atuou, por exemplo, até na
orientação para elaboração de atas de resultados finais de algumas escolas, que
tinham algumas irregularidades. O CME trabalhou em cima disso até nessa questão
da gestão das secretarias das escolas. O Conselho debatia e se posicionava, então
várias escolas tiveram que reorganizar todas as suas Secretarias. Hoje eu vejo que
é muito importante um Conselho de Educação nos Municípios, e o Poder Público
tem que dar condições para que o CME funcione e não faça do Conselho um órgão
da Secretaria, um órgão de assessoramento, mas que seja um órgão deliberativo,
um órgão normativo, e não um órgão da Secretaria.
C-2: Bom, eu acho que a principal função é inspecionar se as Escolas estão
funcionando conforme a autorização que foi dada. Quanto aos profissionais da área,
certificar-se se os professores são habilitados. É bom lembrar que o CME de
Valparaíso faz inspeção do Infantil ao nono ano Fundamental nas escolas públicas
e privadas. Então é sustentar e buscar sua principal função que é primar pela
qualidade do ensino em cada escola.
C-4: A função do CME é acompanhar a ação educativa, como por exemplo, analisar
a importância de se constituir o monitoramento nas salas de aula da pré-escola. O
CME de Valparaíso aprovou Resolução e está em funcionamento. Outra atividade
importante do conselho é acompanhar a elaboração do calendário escolar. Outra
questão é sobre a inspeção das escolas. A inspeção da escola particular está sendo
mais rígida do que a inspeção das escolas públicas. As inspetoras que são lotadas
no conselho acompanham a escola desde a criação, seguem inspecionando até a
escola obter estruturas físicas e pedagógicas, para que a escola possa ser avaliada,
ser validada e autorizada seu funcionamento.
C-5: CME é primordial dentro da sociedade, não só no que se refere à Educação,
mas na sociedade como um todo. Então o Conselho é o ponto principal da
estruturação da Educação dentro do Sistema de Ensino Municipal. Tudo passa por
ele, tanto as escolas municipais quanto as escolas particulares no que se refere à
educação infantil que o conselho fiscaliza também. O Conselho tem essa função de
fiscalizar, de orientar, de legislar, de construir, de informar. Um grande ponto
positivo do Conselho atual que eu vejo é a “questão” das Audiências Públicas. Hoje
o Conselho tá bem aberto a essa ideia das Audiências. Sempre que há necessidade
de se criar uma nova resolução, de se propor algo novo à sociedade, chama-se a
sociedade e discute. Isso é muito importante, porque às vezes é bom pra mim, mas
às vezes não é bom para o pai do aluno. Pra mim, enquanto Professor, é interessante,
eu gosto, mas para o pai do aluno não é.
C-6: O Conselho Municipal de Educação é um órgão fiscalizador e normatizador
da educação; então, eu acredito que ele tem que acompanhar, ver a questão da
qualidade. Fico muito preocupada com a qualidade da educação que está sendo
oferecida nas nossas escolas. Eu penso que uma das principais atribuições do
conselho é essa fiscalização mesmo para garantir uma educação de qualidade para
os nossos alunos e ser parceiro mesmo da Secretaria Municipal de Educação,
orientar, porque, muitas das vezes, as pessoas que estão na Secretaria Municipal de
Educação não têm o conhecimento e precisa dessa parceria com o Conselho.
Na percepção da maioria dos entrevistados, o CME, além de baixar normas,
autorizar funcionamento de escolas, tanto municipais quanto particulares, o conselho
tornou-se o ponto principal de estruturação da educação no âmbito do Sistema de
Ensino Municipal. O Conselho, segundo eles, tem a função de fiscalizar, de orientar, de
normatizar, de construir, de informar à sociedade.
Ainda, segundo os conselheiros e gestores, o CME exerce a fiscalização dos
atos administrativos e, por ser um órgão fiscalizador e normatizador da educação,
observa também a qualidade da educação que está sendo oferecida pelas escolas,
além de ser um órgão parceiro da Secretaria Municipal de Educação. Há o
posicionamento acerca das condições que o Poder Público Municipal precisa oferecer
ao CME para que o órgão funcione de forma autônoma e, assim, não seja visto apenas
como um órgão auxiliar, um órgão de assessoramento da Secretaria, mas que tenha
condições de atuação como um órgão deliberativo, um órgão normativo, um órgão que
prima pela qualidade do ensino em cada escola.
Ainda na perspectiva dos conselheiros entrevistados, a função do CME é
inspecionar se as escolas estão funcionando conforme a autorização que lhe foi dada
pelo Conselho, certificar-se se os professores são habilitados para ministrar as aulas
de acordo com a sua formação, e primar pela qualidade do ensino em cada escola.
Para um dos conselheiros, o CME é o legislativo da educação, é o órgão que avalia,
define e aprova as demandas da educação.
C-2: Bom, eu acho que a principal função do CME é inspecionar se as Escolas
estão funcionando conforme a autorização que lhe foi dada, quanto aos
profissionais da área. Isso eu digo sempre, aliás, até agora há pouco com a
inspeção, in loco nessas escolas, certificar se os professores são habilitados. É
bom lembrar que o Conselho – CME de Valparaíso, ele faz inspeção do Infantil
ao nono ano Fundamental II nas escolas públicas e nas escolas privadas,
educação infantil. Então, é sustentar e buscar a principal função, a principal
função é primar pela qualidade do ensino em cada Escola.
C-7: Eu vejo o CME como o Legislativo da Educação. É quem avalia as
demandas da Educação, define e aprova.
Na análise do gestor 1, o conselho de educação é um órgão técnico. Se o CME
assumir essa função, ele já tende a navegar dentro do seu campo de atuação. Para
ele, é o campo que a sociedade espera que o conselho atue, é um campo para qual foi
criado, conforme prescreve a Lei que o constituiu.
Gestor 1: Eu acho que o conselho de educação, ele deve ser um órgão técnico.
A princípio, se ele for um órgão apenas técnico, ele já tende a margear dentro
do seu campo de atuação, é o campo que a sociedade espera e um campo para
qual fora criado por meio da Lei constituinte do Órgão.
Para o Gestor 2, o CME, por ser um órgão normativo, componente do sistema
de ensino, estabelece as normas complementares, conforme determina a Lei:
Gestor 2: Os conselhos municipais de educação são órgãos fundamentalmente




de democracia participativa que demandam uma ligação orgânica dos
conselheiros com a pluralidade dos interesses em confronto, alianças e parcerias
em âmbito local. Ou seja, os mandatos devem estar vinculados a uma
determinada base social, interagir com ela e representar seus interesses no
processo de mediação, objeto das deliberações deste órgão colegiado. A força
política do conselho - digo dos seus componentes - está condicionada ao estágio
de organização da sociedade civil e da formação política e cidadã dos segmentos
educacionais e setores sociais que o compõem. Nesse sentido, a força da atuação
do CME depende de sua legitimidade e da cultura de participação social
praticada no município. Entre as funções educacionais normativas específicas
estão:
Elaboração de normas para o sistema de ensino e a regulação da educação
infantil privada: autorização, supervisão, credenciamento e avaliação das
escolas, do seu sistema de ensino;
Acompanhamento e controle social da política educacional;
Supervisão da rede municipal de ensino;
Articulação (colaboração e cooperação) com outros órgãos locais, estaduais,
regional e nacional para manter integradas e atualizadas as políticas
implementadas pelo sistema municipal de ensino.
Dentre as dificuldades apontadas pelos conselheiros em relação à atuação do
CME, constatou-se a interferência do governo municipal nas decisões tomadas por este
órgão:
C-1: São coisas que eu lembro que acontecia, então. Eu vejo que hoje é muito, mas
muito importante um Conselho Municipal nos Municípios e o Poder Público dá
condições pra que o Conselho funcione e não faça do Conselho um órgão da
Secretaria que seja um órgão de assessoramento, um órgão deliberativo, um órgão
normativo, não é um órgão da Secretaria. E se der essa autonomia, o Município
ganha muito com isso. Uma coisa que precisa muito no Conselho é autonomia
financeira, e é uma coisa que se luta muito para que possa ter autonomia financeira,
e assim o Conselho possa também destravar algumas barreiras, mas as coisas estão
avançando.
C-6: Uma das principais dificuldades que eu vi dentro do Conselho é a questão da
autonomia, não digo autonomia, mas da manipulação que há dentro dos Conselhos
ainda, que é ser paritário, mas acaba havendo uma articulação muito grande por
parte do Governante que está no momento, pra cobrar das pessoas indicadas por
ele. Por exemplo: o representante dos pais tinha ligação direta com a Administração
Pública, ai acabava os Diretores de Escolas também querendo ou não a indicação.
Havia uma indicação do Governo também para esses segmentos, então acabava que
o Conselho não é um Conselho paritário independente, então algumas decisões, eu
via que havia manipulação para que fosse feita a vontade do Governo. Do Governo
Municipal da época, então não havia essa paridade toda. Por que levantasse uma
questão, uma discussão que seria boa para a categoria, a maioria até concordava
que seria boa, mas na hora da votação, seguia o que era proposto pelo governo.
Para o exercício da sua função normativa e de participação no processo de
elaboração/revisão do PME, os conselheiros e gestores localizaram alguns limites e
débitos da gestão da educação em relação ao primeiro período analisado, (2007-2010),
evidenciados no estudo. Um deles está relacionado às deficiências na infraestrutura do
CME, por exemplo, veículo alugado que fragiliza o serviço de inspeção às escolas;
impressora e computador em quantidade insuficiente, ultrapassados e com pouca
manutenção, corte de energia por falta de pagamento da fatura pela prefeitura.
Circunstâncias estas relacionadas à falta de orçamento próprio que efetive a
autonomia financeira e administrativa do órgão. Outro limite relativo a pessoal, por
exemplo, tem-se liberação de apenas dois membros (presidente e vice) para as
atividades do CME, ficando o restante dos conselheiros, divididos entre abandonar as
atividades da sala de aula ou participar das reuniões ordinárias do CME, conforme os
trechos seguintes.
C-5: Nós discutimos muito a necessidade de liberar alguns membros, pelo
menos dois, o Presidente e o Vice-Presidente, para que ficassem direto no
Conselho, nós não éramos liberados. A gente trabalhava na Escola, marcavam
a Reunião, tinham as reuniões ordinárias e as Extraordinárias, então a gente
largava as nossas atividades na escola, ou onde for, para estar. Muitas das vezes
um dos membros não poderia ir, não podia ir, então... Uma vez ou outra a gente
conseguia tá na Plenária completa. A falta de estrutura, que nós não tínhamos
carro, vez ou outra, faltava tinta pra impressora, telefone, se cortava até luz, a
gente ficava sem de vez em quando, e era muito bonito de ver a determinação
do grupo, porque quando faltava, a gente fazia “vaquinha”, dava um jeito e
tocava o barco. Aprendi muito nesse sentido com Conselho, também de que
nem sempre dá pra gente esperar das Autoridades, a gente fazia mesmo. Não
esperava a “coisa” vir não, a gente tomava as rédeas, tomava a frente e fazia.
Apesar das dificuldades, limites e contradições, há elementos que evidenciam
que o CME cumpre as suas funções de órgão normativo do sistema municipal de ensino
de Valparaíso de Goiás; no entanto, os conselheiros reconhecem a necessidade de
ampliar sua atuação, no cumprimento da sua função, em relação à revisão do PME.
Uma demanda por maior participação social reflete o clima de possibilidades no avanço
da gestão democrática da educação.
3.5 – O Pró-Conselho e a gestão da educação municipal
O Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de Educação
(Pró-Conselho) foi criado em 2003 pelo Ministério da Educação e visa a desenvolver
política de democratização da gestão educacional. O Programa foi implementado em
regime de parceria com o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, a
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme), a União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Foram realizados quatro encontros presenciais de capacitação para os
conselheiros municipais do Estado de Goiás, desde a criação do Programa, em 2003.
O programa teve seu material pedagógico disseminado para os municípios no formato
impresso e disponibilizado no site do MEC em formato digital. Sua principal linha de
atuação está na política de capacitação de conselheiros municipais de educação
(Caderno de Referência - 3, 2007). Também, a UNCME, em parceria com o Conselho
Estadual de Educação e a Undime-GO, realizaram encontros regionais e municipais
para debater o conteúdo temático do Programa.
Perguntamos aos sete integrantes do conselho, no tocante aos dois períodos
investigados, se participaram de alguma ação de capacitação no âmbito do PróConselho. As falas dos conselheiros foram muito parecidas, ou seja, demonstraram ter
conhecimento insuficiente da oferta do Pró-Conselho nos dois períodos investigados
por esta pesquisa, 2007-2010 e 2011-2013, conforme evidenciado nas falas a seguir:
C-1: Já ouvi falar muito do Pro-Conselho, mas cursos do Pró-Conselho no
período em que eu estive no Conselho Municipal de Educação, não, que eu
saiba, nós nunca tivemos.
C-2: Não. O Conselheiro que antecedeu a minha gestão, ele que participou, ele
que na verdade poderia dizer, porque ele é de cadeira, então ele que tem a
informação. Eu não poderia responder.
C-3: A influência do Programa na gestão e organização da Educação local. O
primeiro ponto é que o Programa trouxe uma reflexão sobre a autonomia dos
entes Federados, entes estaduais e dos entes municipais. A partir dessa
percepção, o município conseguiu compreender onde é que se encaixaria, na
verdade. Percebemos que, a partir do contato com o Programa do Pró-Conselho,
que o Município tem a sua organização própria, mas que precisa seguir uma
diretriz Nacional que é diretriz do Plano Nacional. O caderno do Pró-Conselho,
reforçando bastante a ideia de colaboração, tanto horizontal: Secretaria
Municipal e Conselho Municipal, quanto em sentido vertical, não o sentido
hierárquico, mas vertical no sentido de outros entes Federados, como os Estados
e a União.
C-4: Não. Embora eu tenha participado de alguns Seminários, da Uncme, aqui
Audiências Públicas, mas sobre a questão da Formação do Pró-Conselho, ainda
não fui convidada, nem me colocaram a par disso. Eu conheço, pela fala do
presidente atual. Ele tem falado que ele faz essa formação, mas ele ainda não
participou essa questão e as necessidades que nós temos como Conselheiros de
nos capacitar pra isso. Já participei de Conferência, uma Conferência, e algumas
audiências públicas.
C-5: Pró-Conselho... Não, não ouvi ainda falar não.
C-6: Eu ouvi falar nesse Programa, mas na época, não foi ofertado este curso,
esse Programa. Não participei e não sei de ninguém, de ninguém que tenha
participado.
C-7: Não, não conheço.
Indagou-se, ainda, aos entrevistados que responderam que conheciam ou
participaram do Programa, como o Pró-Conselho influenciou na organização e na
gestão dos municípios. Responderam:
C-3: Sim, com certeza, foi uma experiência bastante importante, embora eu não
tenha feito como cursista. O fato de eu ser formador me trouxe muitas
informações complementares ao pouco de informações que eu tinha, e me
ajudaram bastante e, principalmente, quando eu preparava os assuntos a serem
abordados tanto pela Plataforma, quanto presencialmente a envolver mais sobre
os assuntos ligados ao Plano de Educação e, com certeza, nós fomos. Nós
buscamos, a partir da sensibilidade do Pró-Conselho, trabalhar um pouco mais
sobre esse assunto, que é o anseio dos Municípios. Os municípios estão
“ansiando” pela organização do Plano. E precisam naturalmente de um apoio
do Pró-Conselho que foi fundamental nesse Processo.
Gestor 1: Em 2011, nós, pela Uncme de Goiás, tivemos um envolvimento,
inclusive, na época, eu era o Vice-Presidente da entidade, para coordenar o PróConselho, junto com a Universidade Federal de Goiás, aqui, do Estado, e, na
oportunidade inclusive, eu fui o formador do núcleo concernente a região, então
na época, a Universidade junto com a Uncme tiveram de dividir o Estado em
10 polos pra facilitar inclusive os encontros presenciais, e, no caso, a Uncme
montou uma estratégia para que os formadores fossem pessoas ligadas aos
Conselhos de Educação, para que houvesse facilidade na hora de tratar sobre o
assunto. Eu acabei então participando do processo eletivo e fui escolhido para
a região, essa região do entorno do DF. Então nós tínhamos atividades via
plataforma moodle e tínhamos 3, 4 encontros presenciais, e esses encontros
presenciais acabavam que eram a extensão das atividades que a Uncme já
orquestrava no Estado de Goiás.
Gestor 2: O CME pode e deve fazer parte do sistema de ensino municipal,
estabelecendo de forma democrática normas complementares para a gestão
educacional, na forma da lei. A participação plural da sociedade local e a
horizontalidade das relações de debate e deliberação entre os representantes do
governo e sociedade civil, no CME, permitem organicidade nas decisões e na
forma de gestão estabelecida. A ação participativa qualifica as decisões com
impacto nos resultados da gestão da educação municipal. Com o incentivo ao
regime de colaboração, o Programa favoreceu ações mais articuladas entre os
sistemas de ensino.
O Ministério da Educação tem como objetivo e atribuição constitucional prestar
assistência técnica aos municípios e estimular mudança de padrões culturais, do ponto
de vista de estruturação, de formulação e acompanhamento das políticas públicas. Uma
das atribuições do CME consiste na elaboração, implementação e avaliação do Plano
Municipal de Educação (PME). Assim ao criar o Pró-Conselho, em 2003, o MEC
apontou para o desenvolvimento de estratégias de gestão no âmbito da educação
municipal com vistas a ampliar e reforçar um processo que favorecesse a
responsabilidade social compartilhada entre os entes federados e possibilitasse, ainda,
o fortalecimento institucional, direcionado a uma prática democrática e participativa, no
âmbito dos municípios.
Os Conselhos Municipais de Educação (CME) ocupam posição fundamental na
efetivação da gestão democrática dos sistemas de ensino, assim como na consolidação
da autonomia dos municípios na condução de suas políticas educacionais. Por isso, o
Programa tinha como objetivo principal incentivar e qualificar a participação de gestores
e conselheiros na tarefa de avaliar, definir e fiscalizar as políticas públicas educacionais
do município.
Na percepção de dois entrevistados, o Programa oportunizou espaço para
reflexão sobre a questão da autonomia dos entes Federados, incluindo a autonomia
municipal que, embora tenha a sua organização própria, precisa seguir uma diretriz
nacional, a exemplo das diretrizes do Plano Nacional de Educação. As relações de
colaboração entre os órgãos do sistema de ensino e entre os próprios entes federados
levam em consideração a relação horizontal.
C3 - Foi uma experiência bastante importante, embora eu não tenha feito como
cursista, o fato de eu ser formador, me trouxe muitas informações
complementares ao pouco de informações que eu tinha e me ajudaram bastante e
principalmente quando eu preparava os assuntos a serem abordados tanto pela
Plataforma, quanto presencialmente a envolver mais sobre os assuntos ligados ao
Plano de Educação e com certeza nós fomos... Nós buscamos a partir da
sensibilidade do Pró-Conselho trabalhar um pouco mais sobre esse assunto que é
o anseio dos Municípios. Os municípios estão “ansiando” pela organização do
Plano. E precisam naturalmente de um apoio do Pró-Conselho que foi
fundamental nesse Processo.
Entretanto, dos nove respondentes, apenas um conselheiro que participou como
formador do curso à distância e dois gestores demonstraram ter participado de alguma
das ações ofertadas pelo Programa. Isto evidencia que três dias de formação
esporádica são iniciativas distantes da realidade dos conselheiros. Há ainda
fragilidades e lacunas no processo de socialização das informações, seja na relação
MEC e Município, seja na relação Secretaria Municipal de Educação e Conselho
Municipal de Educação, seja na forma de relacionamento entre os próprios conselheiros
do CME de Valparaíso de Goiás.
A descontinuidade, a flutuação e a superficialidade no processo de formação dos
conselheiros ocasionaram um descompasso por não considerar as substituições
próprias de quem tem mandatos. A cada quatro anos, o conselho é totalmente
renovado, e qualquer iniciativa de formação continuada deve levar em consideração tal
realidade. Está demonstrado, nesse contexto, uma das limitações do Pró-Conselho,
enquanto política pública de assistência técnica temporária do MEC aos municípios;
além de frágil, seu alcance foi muito restrito.
O esforço para romper com a tradição clientelista, outrora praticada pela gestão
de Luziânia, complementado com o investimento na qualificação da participação, foi
reconhecido pelos entrevistados como fatores relevantes para produzir mudanças na
gestão da educação municipal. O Pró-Conselho foi citado nas entrevistas como uma
das contribuições para implementar a colaboração entre os entes federados, para
empreender a formação continuada dos conselheiros municipais de educação e para
fortalecer a gestão local.
C-3: Um dos cadernos do Pró-Conselho trouxe certa reflexão sobre a autonomia
dos entes Federados, entes estaduais e dos entes municipais. A partir dessa
percepção, o município conseguiu compreender onde é que se encaixa.
Quanto à relação MEC versus município, parte dos entrevistados manifesta que
com a emancipação de Valparaíso, houve mais aproximação e relação direta entre os
dois entes da federação. Anteriormente, quando ainda pertencia ao município de
Luziânia, esta relação acontecia por meio da instância estadual.
C-1: O Município passou a tratar direto com o MEC e até saiu à figura do governo
do Estado uma parte, porque o Governo do Estado aqui o ensino médio público é
ainda do Governo do Estado, eu acho que abreviou muitas coisas. Então eu acho
que essa questão do repasse de recursos do FUNDEB é super tranquilo. A
merenda escolar hoje é de qualidade. Então, eu acho que foi muito bom esta
aproximação entre o Município e o MEC. Eu acho que houve esse ganho muito
positivo, inclusive, possibilita até buscar outros Programas e outros projetos, por
exemplo, nesse ano mesmo, nós estamos com recursos para construir sete novas
creches e já estão preparando o terreno, o recurso, salvo engano, já tá até
empenhado.
C-3: No período em que o Município se emancipou, a relação entre o município
e o MEC se dava mais pelo Conselho Estadual, via Goiânia. Alguns Programas
do Ministério, foram implantados, o PDDE, o PDE, alguns outros Programas
também foram implantados, nesse período em que o Conselho não fiscalizava,
aqui no Município. Essa transição foi o FUNDEF na época, e esses processos
foram bastante interessantes, a gente não teve problema não, na verdade, os
gestores tinham que se organizar, para pleitearem aí esses repasses do Ministério,
até porque a fiscalização era exercida pelo sistema Estadual. O Ministério apenas
fazia o diálogo com relação aos programas de dinheiro, do Município, mas que
não tinha, não apresentavam tantos problemas. Teve um programa que foi piloto,
foi com o FUNDESCOLA, que é ligado ao MEC, e eles estavam desenvolvendo
um Programa para o Brasil, e aí escolheram o Valparaíso pela proximidade para
que fosse a referência, que foi o GESTAR de Língua Portuguesa e Matemática e
Valparaíso assumiu essa condição de Piloto, por um ano, e acredito que tenha
sido um trabalho bastante satisfatório. Acho que no geral, foi um saldo positivo
essa relação entre o Município e o MEC.
C-4: A questão da visibilidade. O nosso Município, atualmente, tem abertura com
os Ministérios, por exemplo, o Programa do transporte escolar. O governo federal
está vendo os municípios com bons olhos e está muito empolgado com os projetos
que o Município apresenta. Os Fundos, por exemplo, nós temos agora um Fundo,
o Fundeb que aumentou, todo o ano aumenta. A Prefeita elabora os Projetos, e
apresenta ao FNDE, que é o Fundo de Desenvolvimento da Educação. Em
contrapartida eles estão atendendo as nossas necessidades. Tá sendo muito bom,
por exemplo, agora nós recebemos alguns ônibus Escolares, que não tínhamos.
Teve também uma Audiência Pública com a sociedade e a Reitoria da
Universidade Estadual e teve também com o pessoal do Instituto Federal de
Educação. Só não sei a data, mas pode ser conferido no site da prefeitura:
“Audiências Públicas em Valparaíso de Goiás. Tem muita Audiência Pública
aqui. Está sendo realizada uma pesquisa na cidade, para saber quais são os cursos
que o povo pretende, que o povo precisa. A Secretaria de Planejamento é o órgão
que realizando esta consulta.
Os conselheiros manifestam que a aproximação com o MEC oportunizou ao
município implementar mais programas, como o Programa Dinheiro Direto na Escola,
a alimentação escolar com mais qualidade, o Programa de Transporte Escolar, o
Programa Gestão da Aprendizagem Escolar Programa - Gestar e ainda que o Fundeb
contribuiu para que os gestores se organizem e pleiteiem os recursos que são
assegurados ao município. Os respondentes afirmam que a relação com o MEC depois
da sua emancipação, em 1995, e 2013, é positiva. Houve mais possibilidade de
execução e melhorias quando o município passou a tratar diretamente com o governo
federal.
3.6 - O processo de descentralização: os desdobramentos no sistema de
educação em Valparaíso de Goiás.
Até 1999, a matrícula da educação infantil e fundamental, somadas as redes
estadual e municipal de ensino, cresceu progressivamente alcançando mais de 36
milhões de estudantes e apresentou um declínio, conforme números apurados pelo
INEP em 2013.
Tabela 4 - Matrícula da Educação Infantil e Ensino Fundamental
Ed. Infantil
Fundamental
1970
374.0000
15.892.000
1980
1.335.000
22.598.000
1991
5.284.000
29.204.000
1999
4.901.000
36.060.000
2013
7.590.600
29.069.281
Cresc. 91/99
- 7,2%
23,5%
Cresc. 99/2013
35,43%
-24,08%
Tabela elaborada pela autora - Fonte: MEC/INEP/DEED - 2013
Analisadas separadamente, as etapas de ensino, a evolução da matrícula
apresenta tendências distintas. O ensino fundamental foi a etapa responsável pelo
expressivo aumento da matrícula, até 1999, como também por sua retração em 2013.
Houve aumento de 7 milhões de matrículas entre 1991 e 1999 e redução de 36 milhões
para 29 milhões de matriculas, entre 1999 e 2013.
Segundo as projeções estatísticas, haverá redução do número de matrículas no
ensino fundamental nos próximos dez anos até alcançar certa estabilidade. Esse
fenômeno é explicado pelo bônus demográfico que vem reduzindo a população em
idade escola nessa faixa etária.
Diferentemente, na educação infantil, a tabela 4 demonstra crescimento da
matrícula de 1970 até 1991, chegando a mais de 5 milhões, e queda entre 1991 e 1999
- período da implantação do Fundef. O número de matrículas volta a crescer entre 1999
e 2013 – período de implantação do Fundeb - com elevação de 4,9 milhões para mais
de 7,5 milhões matrículas nesta etapa de ensino.
Entretanto, como a educação infantil é área de atuação municipal, indagamos
sobre a retração na matrícula da educação infantil no período de vigência do Fundef. A
tabela 5 demonstra que houve um contínuo crescimento da matrícula da Pré-Escola na
rede municipal, isto é, de 2,48 milhões, em 1996, para 3,59 milhões, em 2013. Ao
contrário, a rede estadual de ensino registrou uma queda na matrícula da Pré-Escola
de 759.187, em 1996, para apenas 50.111, em 2013.
Tabela 5 – Matrícula Pré-Escola Estadual e Municipal, por região administrativa
1996
Estadual
%
2000
Municipal
%
Estadual
%
Municipal
2013
%
Estadual
%
Municipal
%
1,4
3.591.750
98,6
Brasil
759.187
23,4
2.489.225
76.6
335.682
11,2
2.995.244
88,8
50.111
Norte
138.340
50,8
134.103
49,2
60.586
24,1
190.999
75,9
2.198
0,5
419.467
99,5
Nordeste
264.527
25,4
777.357
74,6
92.068
9,8
851.803
90,2
3.996
0,4
1.127.315
99,6
Sudeste
156.658
11,2
1.239.919
88,8
43.407
2,8
1.491.432
97,2
1.177
0,1
1.441.855
99,9
Sul
111.954
29,5
266.937
70,5
90.646
20,6
348.323
79,4
9.465
2,3
397.618
97,7
Centro87.708
55,3
70.909
44,7
48.975
Oeste
Tabela elaborada pela autora - 2013 - Fonte: MEC/INEP/DEED
Anos: 1996, 2000 e 2013
30,3
112.687
69,7
33.275
14,0
205.495
86,0
Esses dados educacionais demonstram que a rede municipal de ensino
absorveu praticamente toda a matrícula da Pré-Escola, antes ofertada pela rede
estadual. Então, a retração da matrícula da educação infantil, observada na tabela 5,
ocorreu no período de vigência do Fundef. Essa retração não foi ocasionada pela
omissão da rede municipal, mas pelo fato de os governos estaduais deixarem de
assumir de forma acentuada, esta etapa da educação básica.
Mesmo como área de atuação conjunta, em relação ao ensino fundamental,
pode-se apontar a mesma ocorrência. Entre 1996 e 2013, a rede estadual reduziu sua
participação de 18 milhões de matrículas para apenas 8,5 milhões. Nesse mesmo
intervalo, a rede municipal passou de 10,9 milhões para 16,1. A rede municipal cresceu
absorvendo os estudantes antes atendidos pela rede estadual.
Essa tendência está explicita nos dados educacionais tanto para o país, quanto
para as regiões, Estados e Municípios. Houve uma descentralização da matrícula do
ensino fundamental, da educação básica e um discreto aumento da participação da
rede estadual na oferta do ensino médio.
Em Valparaíso de Goiás, entre 1998 e 2013, a tabela 6 demonstra que a rede
municipal teve um incremento na matrícula do ensino fundamental de mais de 5 mil
matrículas, enquanto a rede estadual apresentou uma redução de 3,6 mil. O que
ocorreu em Valparaíso de Goiás tem origem na política nacional de educação do
Fundef/Fundeb, que se traduz em um dos sentidos da descentralização, na lógica do
governo federal, e que se configurou na indução do processo de municipalização,
acentuado na década de 1990, com a criação do Fundef.
Tabela 6 – Matrícula Ensino Fundamental (Brasil, Centro-Oeste, Goiás e Valparaíso de Goiás)
1996/1998*
2000
2013
%
Estadual
%
Municipal
%
Estadual
%
Municipal
%
10.921.037
37,2
15.806.726
48,6
16.694.171
51,4
8.516.086
34,5
16.154.337
65,5
71,0
616.902
29,0
1.478.138
62,7
879.204
37,3
886.784
48,8
930.934
51,2
67,9
307.081
32,1
629.333
60,3
413.549
39,7
248.555
33,9
484.325
66,1
9.462
60,3
4.623
31,3
10.156
68,7
2.584
15,5
14.039
84,5
Estadual
%
Brasil
18.468.772
62,8
Centro-
1.510.423
Municipal
Oeste
Goiás
Valparaíso
648.485
6.233
39,7
de Goiás
Tabela elaborada pela autora 2013 - Fonte: MEC/INEP/DEED
Os dados de matrícula de Valparaíso de Goiás estão disponibilizados pelo censo escolar/Inep a partir de 1998.
Nessa conjuntura, a ampliação do atendimento educacional45 não foi só um
resultado oriundo do crescimento demográfico, mas também foi uma forma dos
governos federal, estadual e municipal responderem às demandas propostas pelas
entidades da educação, que se consubstanciaram nas defesas lideradas pelo FNDEP.
Essas propostas converteram-se numa bandeira para exigir dos Poderes Públicos
ampliação da taxa de escolarização da população brasileira, redução do analfabetismo
e aumento do número médio de anos de estudo da população, o que tornava necessário
um aumento de investimento na escolarização básica.
Como desdobramento dessa correlação de forças sociais e do entendimento em
prol da descentralização entre os entes federados, a LDB, o Fundeb e a Lei nº
11.274/2006 - Ensino Fundamental de 9 anos, normatizaram e disciplinaram a forma
de redistribuição de responsabilidades entre Estados e Municípios, destaca-se a
ampliação da educação básica. Nesse período, a matrícula na pré-escola passou por
acentuada redução nas redes estaduais e significativa ampliação nas redes municipais.
Os municípios ainda possibilitaram a ampliação na oferta do ensino fundamental. Essa
45
A Lei nº 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9
(nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
municipalização, derivada da descentralização, foi mais intensa nas quatro primeiras
séries e ocorreu de diversas formas no país.
Tornou-se necessário, portanto, instituir novos mecanismos de colaboração
entre as esferas de poder público para a oferta da educação básica e, assim, reforçouse o papel da União como coordenadora da política nacional de educação, nas funções
normativa, supletiva e redistributiva. Assim, a Constituição (art. 211, § lº), prescreveu
que a União deve exercer "função supletiva e redistributiva" em matéria de educação,
por meio de "assistência técnica e financeira" a Estados, Distrito Federal e Municípios,
com o objetivo de assegurar equidade e padrão de qualidade à educação escolar.
Segundo a LDB (art. 8º, § Iº), cabe à União a "coordenação da política nacional
de educação", articulando os diferentes níveis e sistemas de ensino e exercendo
"função normativa, supletiva e redistributiva" em relação às demais instâncias
educacionais. A função normativa torna-se efetiva por meio da elaboração de normas
gerais, de modo a garantir a unidade da educação nacional e a assistência prestada
aos demais entes federados; esta função deve visar o atendimento prioritário à
escolaridade obrigatória (LDB, art. 9º, III).
Os reflexos desta política nacional de
educação e das questões federativas implícitas nela são percebidos pelos gestores e
conselheiros no seu contraditório.
Por um lado, os gestores e conselheiros apontam, em contradição interna dessa
política, a descentralização da oferta dos serviços educacionais para o Município como
uma forma de desconcentração do Estado e da União, tornando o ente local
responsável direto e sem as condições técnicas e financeiras para arcar com tal
incumbência. Fato que leva a significativas alterações na gestão da educação municipal
(MARTINS e SANTOS, 2001).
Por outro, avaliam que há diferenças na descentralização só do bônus sem o
ônus. Com o Fundo houve certa equalização, ampliando a receita municipal. Mas
também houve o crescimento de matrícula. Outro aspecto destacado pelos
entrevistados foi a identificação de alterações na legislação educacional que reordenou
a organização dos sistemas municipais de ensino. Fator que teve avaliação positiva,
por tornar possível uma gestão da educação municipal mais autônoma.
Gestor 2: A criação de um fundo interfederativo – o Fundef e depois o Fundeb
– que ampliou a receita na maioria dos municípios, por vincular determinado
valor per capita, favorecendo a ampliação da matrícula na educação municipal.
Parte do aumento da matrícula municipal de ensino fundamental teve origem
no deslocamento de estudantes da rede estadual para a municipal – com ou sem
pactuação institucional. Essa ampliação da matrícula não correspondeu,
necessariamente, à ampliação da assistência técnica e a colaboração política e
administrativa entre os entes federados para a qualificação e fortalecimento da
gestão local.
C-1: Eu digo para você que quando a gente chegou ao Conselho, isso já tinha
ocorrido, e eu acredito que, para o Governo Federal, eu penso que não alterou
nada. Alterou muito foi pra o Governo do Estado porque tirou um peso muito
grande das costas do Governo do Estado, que passou a responsabilidade para o
Município. Agora, de um lado foi ruim, de outro, bom, porque aí o Município
passou a assumir um ônus que não era dele, mas o recurso que o Governo
Federal repassa, quem passou a fazer a gestão foi o Município. Então, de certa
forma, eu acho que foi interessante. Agora, a dificuldade que temos é que cresce
muito a quantidade de alunos na municipalização aí, e hoje, acredito eu, que nós
já estamos aí na faixa de mais 20.000 alunos. O Município precisa muito hoje
de prédios públicos e não tem. Então é sempre um anexo, precisa sempre
improvisar. Enquanto nós não advirmos um ponto de equilíbrio, o Município
estará sofrendo muito com essa situação.
Há justificativas e vantagens em organizar o sistema municipal de ensino na
percepção dos entrevistados. Por exemplo, a distância do município do órgão gestor
da educação estadual (SEE-GO) e do órgão normatizador (CEE-GO) foi minimizada
com o CME de Valparaíso, procedendo à avaliação, supervisão e adoção de medidas
administrativas para assegurar a qualidade da educação em âmbito municipal.
C-5: .... Foi muito bom, para o município deliberar sobre as questões municipais
sem estar preso a Goiânia, porque a nossa cidade tem uma caraterística de
interior, ela é de interior e não é vista como uma cidade de interior, mas para
Goiânia nós somos interior do interior. ....quando buscávamos as Leis que tinha
lá, não serviam para nós aqui. Não condiziam com nossa realidade. Então,
quando o Conselho começou a avaliar e até ver a questão da qualidade, uma
dificuldade que tínhamos antes era porque o Conselho ...Nós estávamos ligados
ao Estado, o Conselho (Estadual) nunca veio aqui, então as escolas funcionavam
do jeito que queriam. Nós tínhamos muitas escolas particulares de ‘fundo de
quintal’, e ai camarada, faz um projeto muito bonito levava para Goiânia,
Goiânia (SEE e CEE de Goiás) aprovava e pronto.
Mesmo com aspectos positivos explicitados, os respondentes concluem que a
elevação da matrícula municipal não correspondeu necessariamente à ampliação da
qualificação dos serviços educacionais e ao fortalecimento da gestão. Não há como, na
mesma velocidade da ampliação das matrículas, erguer uma rede física com prédios
escolares com padrão arquitetônico e educativo de qualidade. A nomeação de
professores depende de concurso público e disponibilidade de recursos orçamentários.
Há, segundo informações dos respondentes, carência de mais de 500 professores
concursados na rede municipal.
C-1: Eu acredito que para o Governo Federal, eu penso que não alterou nada.
Alterou muito foi pra o Governo do Estado porque tirou um peso muito grande
das costas do Governo do Estado, que passou a responsabilidade para o
Município. Agora, de um lado foi ruim, de outro, bom, porque aí o Município
passou a assumir um ônus que não era dele. A dificuldade que temos é que
cresce muito a quantidade de alunos na municipalização aí, e hoje, acredito eu,
que nós já estamos aí na faixa de mais 20.000 alunos. O Município precisa muito
hoje de prédios públicos e não tem. Então é sempre um anexo, precisa sempre
improvisar. Enquanto nós não advirmos um ponto de equilíbrio, o Município
estará sofrendo muito com essa situação. Porque é absurdo de um ano para o
outro o quanto aumenta a quantidade de alunos hoje na Municipalização. Essa
é a dificuldade que eu vejo, mas tenho certeza que nós vamos chegar num
equilíbrio, e quando nós chegarmos ao equilíbrio, aí as coisas haverão de se
normalizarem, e o Município vai poder fazer uma gestão mais tranquila. Porque
hoje a gestão é meio que um caos, é uma loucura, você não queira estar na pele
do Secretário de Educação e da Prefeita. Hoje nós temos uma carência de
professores concursados, de mais de 500 professores, e esse ano agora vai até
também, vai haver também, já tá até programando, um concurso público para
ver se supre com essa demanda. Porque é até uma exigência do Tribunal de
Contas do Município que façamos um concurso público. De uma forma geral,
eu penso que é isso que a gente sabe. O próprio município foi um ônus que o
Município trouxe, mas eu acho que é importante ele assumir realmente o que é
obrigação sua, porque o Estado estava muito distante e omisso, então eu acho
que, por um lado, foi muita coragem até assumir essa questão da
municipalização, eu acho que num futuro próximo nós vamos colher muitos
frutos com isso, melhora até a qualidade do ensino.
O processo de municipalização trouxe dificuldades. Os conselheiros interpretam
a municipalização como o ato de emancipação de Luziânia.
C-7: Na verdade, o Município de Luziânia repassou a Legislação. Foi mantida
aqui a Legislação do Município de Luziânia, até que o Município de Valparaíso
começasse a se adaptar a suas novas leis. Então, foi utilizando as Leis de
Luziânia.
A estruturação do município com câmara, prefeitura, secretaria de educação,
conselho municipal de educação e rede escolar é interpretada como municipalização
nesse caso. Outros definem como a desestadualização da matrícula do ensino
fundamental e da educação infantil, transferindo-as para o município. Esses sentidos
interpretativos estão associados aos efeitos da implantação do Fundef/Fundeb. Alguns
entendem a municipalização como a organização do sistema de ensino de forma
democrática, autônoma, colaborativa com os órgãos internos e com as instâncias
estaduais e nacionais.
Houve uma convergência de acontecimentos em Valparaíso de Goiás que
favoreceram essas percepções. A saber: data da emancipação coincidindo com a
vigência da LDB e do Fundef, ambos em 1996. Esses acontecimentos se colocaram
como uma oportunidade singular que tornaram a gestão da educação municipal em
Valparaíso de Goiás parte de um movimento geral em defesa dos direitos sociais.
Dentre os autores que estudam as diversas concepções do termo gestão,
citamos Lopes e Castro (2012) que analisam alguns sentidos da descentralização e a
repercussão da modernização na gestão educacional. Para as autoras,
A modernização da gestão educacional vem sendo uma temática recorrente em
todo o continente latino-americano. Para isso contou com a colaboração dos
organismos internacionais, que, por meio de encontros sistematizados e de
elaboração de diretrizes e documentos, procuram disseminar a ideia de que o
sucesso da escola depende da forma como ela é gerenciada e que, sem
modernização da gestão e o uso de estratégias gerenciais, dificilmente seria
possível atingir uma educação de qualidade (LOPES; CASTRO, 2102, p. 34).
Assim, ao se estudar os sentidos da descentralização, torna-se importante
observar a concepção e a estratégia de implementação da gestão educacional adotada
pelo sistema de ensino, uma vez que, tanto a gestão democrática, quanto a gestão
gerencial podem interceder uma na outra. Entretanto, são formas de administração
distintas, contrárias. Configuram e sinalizam diferentes concepções de gestão,
conceitos de Estado, políticas sociais, participação e educação. (LOPES & CASTRO,
2012).
Dessa forma, estudamos os sentidos da descentralização na gestão da
educação do município de Valparaíso de Goiás, observando os números da
participação proporcional na matrícula das redes de ensino na oferta da educação
básica. Os dados revelam que ocorreu tanto no município estudado, quanto de forma
generalizada no país, mudanças significativas na oferta da educação infantil e ensino
fundamental com implicações na sua forma de gestão.
Como desdobramento dos dispositivos constitucionais, da LDB e do
Fundef/Fundeb, a redistribuição de responsabilidades entre Estados e Municípios pela
oferta das três etapas da educação básica tornou-se basilar, mas esta redistribuição
não ocorreu de forma tranquila e muito menos dentro de uma perspectiva racional,
política e democrática. Muitos Estados deixaram de assumir a educação infantil e os
municípios de pequeno porte ainda apresentam dificuldades financeiras e técnicas.
Apesar da previsão de responsabilidade compartilhada entre Estados e
municípios pelo ensino fundamental, estabelecida pela legislação educacional,
ressalta-se o crescimento da participação dos municípios na oferta desse nível de
ensino, em decorrência da implantação do Fundef/Fundeb, que, ao redistribuir recursos
de acordo com a matrícula, incentivou às gestões municipais a assumirem maiores
responsabilidades por matrículas no ensino fundamental.
Assim, na tentativa de conhecer as decorrências manifestas como resultado do
processo de municipalização de políticas públicas, recorremos ao estudo desenvolvido
por Abrúcio (2010), no qual foram indicados elementos negativos e que podem se
reproduzir como desdobramento desse processo, por exemplo, a dependência
financeira ou escassez de recursos para atender às demandas do munícipio; baixa
capacidade administrativa dos gestores, que expressa-se por meio das dificuldades
para formular ou implementar programas governamentais.
O autor ainda nos indica como dificuldades “ a) o clientelismo, que pode ser um
dos males que dificultam a democratização dos municípios, b) a prefeiturização,
excesso de poder nas mãos do prefeito e c) o pouco interesse em participar
politicamente e/ou de exercer o controle social sobre os governantes e sobre as
políticas públicas” (ABRUCIO, 2010).
Desse modo, estudar a questão da descentralização do poder e das ações
implica analisar a relação entre governo central e governo regional e/ou local. Essa
relação sempre esteve envolvida nas fortes disputas por hegemonia no âmbito da
União, do Estado, e em Municípios. Assim, para compreender tais relações, torna-se
necessário examinar a relação entre o MEC e o município por meio da gestão da
educação em Valparaíso de Goiás.
A fala de um dos gestores revela alguns desdobramentos ocorridos na legislação
vigente (CF/1988 e Fundef/Fundeb), quando se tornou mais acentuado o processo de
municipalização no país.
Gestor 2: De qualquer forma, depois de 1988, o que se tem vulgarmente
denominado como municipalização passou por dois momentos distintos.
Primeiro, com um dispositivo constitucional que tornou o município pessoa
jurídica e ente autônomo da federação, tornando o sistema de ensino municipal
emancipado para deliberar sobre normas (incluindo as legislativas)
educacionais complementares. Demandou essa mudança constitucional
necessidade de formação dos gestores e conselheiros frente à nova realidade
federativa. Tal mudança gerou os seguintes impactos na gestão da educação
municipal: necessidade de organização dos sistemas municipais de ensino e de
fortalecimento das secretarias municipais de educação, ampliação da
capacidade de gestão e planejamento participativos, fortalecimento da
capacidade técnica local para administrar a rede escolar, acréscimo da
atribuição na regulação das escolas da rede privada de educação infantil e a
busca pelo regime de colaboração. O segundo acontecimento foi a criação de
um fundo interfederativo – o Fundef e depois o Fundeb – que ampliou a receita
na maioria dos municípios por vincular determinado valor per capita,
favorecendo a ampliação da matrícula na educação municipal. Parte do aumento
da matrícula municipal de ensino fundamental teve origem no deslocamento de
estudantes da rede estadual para a municipal – com ou sem pactuação
institucional. Essa ampliação da matrícula não correspondeu, necessariamente,
à ampliação da assistência técnica e a colaboração política e administrativa entre
os entes federados para a qualificação e fortalecimento da gestão local.
Parte dos conselheiros compreende o processo de descentralização, tendo
como referencial o poder local que o circunda, a partir do seu microterritório, circundado
por outro município, ou pelo próprio estado.
C-1: Eu digo pra você que quando a gente chegou ao Conselho, isso já tinha
ocorrido, e eu acredito que, para o Governo Federal, eu penso que não alterou
nada. Alterou muito foi pra o Governo do Estado porque tirou um peso muito
grande das costas do Governo do Estado, que passou a responsabilidade pra o
Município. Agora, de um lado foi ruim, de outro, bom, porque aí o Município
passou a assumir um ônus que não era dele, com o mínimo de recurso que o
Governo Federal repassa. Quem passou a fazer a gestão foi o Município, então,
de certa forma, eu acho que foi interessante.
C-3: Ah ótimo! O Município, quando se emancipou, em 1995, ainda tinha
alguns “ranços” da época da ligação à Luziânia, e o ranço maior era em relação
à Educação. A Educação era toda controlada pelo executivo, pelo gestor do
executivo, no caso o Prefeito. Mas o tempo vai passando, e a população com
certeza vai pressionando, e, há cerca de sete anos, a Secretaria de Educação
buscou essa emancipação com relação ao Executivo. Emancipação no sentido
de controlar os recursos da Educação, então eu acho que já foi um grande
avanço; embora Secretário de Educação seja um cargo de Governo, possui aí
essa descentralização financeira. Então os recursos da Educação hoje são
geridos por conta própria, e quem responde por esses recursos é o Secretário de
Educação.
C-5: Nessa questão, talvez eu não tenha como contribuir contigo, porque, como
eu falei, eu entrei no Conselho, o Conselho já estava meio que estruturado na
questão legal, já tinha sido criado, já tinha a lei de criação, já tinha... Todos
esses passos primeiros, já tinham sido dados. Então, talvez eu não tenha como
contribuir com as suas dificuldades que eles haviam encontrado naquele
momento de transição, momento de municipalização mesmo.
C-6: Justamente em 95 para 96 que houve a emancipação. Eu acho que é
recente, é um período recente, e que houve essa descentralização e, nesse
período entre 95 e 96, que houve a emancipação do Município. Eu não tenho
muita propriedade para falar como foi esse processo de descentralização, porque
eu cheguei no Município só em 98. Então já tinha ocorrido todo esse processo.
Então eu não tenho propriedade pra falar sobre esse período.
Assim, as falas dos conselheiros revelam o que estes entendem sobre a forma
de descentralização vivenciada na década de 1990, quando o município se desligou de
Luziânia.
Os conselheiros e gestores assinalam que a municipalização trouxe benefícios
para o município, como a criação e funcionamento do conselho do Fundef, a criação do
conselho de educação, assistência e orientação técnica por parte do Ministério. Eles
analisam que as políticas e programas implementados pelo MEC, com participação
municipal, oportunizam ambiente para que os gestores se organizem e possam realizar
e agilizar as suas demandas ao governo federal, minimizando a relação com o governo
estadual, que, por vezes mostrou-se ausente e omisso perante às dificuldades que o
município enfrentou, ao tornar-se ente federado.
A investigação aponta para existência de mudança na concepção da relação
federativa no âmbito da educação. Extraiu-se da análise dos documentos e das
entrevistas, a existência de uma forma de colaboração: a colaboração horizontal direta
entre governo federal e município. Tal concepção é reiterada nos depoimentos,
associada à explicação da forma de gestão da educação municipal na sua relação com
o Ministério da Educação.
Tais percepções podem ter origem na condição oportunizada pelo novo
ordenamento jurídico da educação nacional, que estabeleceu uma relação horizontal
entre os entes federados, possibilitando o diálogo direto de políticas nacionais com as
municipais. Antes da CF de 1988, a relação hierarquizada situava os governos
estaduais como intermediários entre a instância municipal e a nacional.
Gestor 1: Na verdade, como a Jurisdição nesse período em que o Município se
emancipou, quando era do Conselho Estadual, a relação se dava mais pelo
Conselho Estadual, via Goiânia. Agora, claro, que em alguns Programas do
Ministério fossem implantados, no PDDE, no PDE, alguns outros Programas
do paralelo também foram implantados, nesse período em que o Conselho não
fiscalizava, aqui no Município. É. Nessa transição foi o FUNDEF, na época, e
esses processos foram bastante interessantes. A gente não teve problema não,
na verdade, os gestores tinham que se organizar para pleitearem aí esses
repasses do Ministério, até porque a fiscalização mesmo era sofrida pelo sistema
Estadual. O Ministério apenas fazia o diálogo com relação aos programas de
dinheiro do Município, mas que não tinha, não apresentavam tantos problemas.
Acho que no geral, foi um saldo positivo essa relação entre o Município e o
MEC.
Gestor 2: Um dos aspectos perceptíveis foi o expressivo fortalecimento da
Uncme. Também, a ampliação do número de CMEs, SME e PMEs. Os quadros
técnicos do MEC estabeleceram um diálogo com os sujeitos engajados na
construção da política pública municipal, descortinando novas relações e
saberes. A qualidade da participação dos conselheiros e a atuação dos conselhos
passaram a fazer parte dos estudos de mestrado e doutorado com inúmeros
trabalhos publicados. A tendência de quem participou dessa construção foi
apresentar um discurso edificante, mas é bom lembrar das limitações e
contradições do Estado capitalista.
C-1: O município passou a tratar direto com o MEC e até saiu a figura do
governo do Estado, uma parte, porque o Ensino Médio Público é ainda do
Governo do Estado, eu acho que abreviou muitas coisas. Então, eu acho que
essa questão do repasse de custos é super tranquilo, do recurso do Fundeb,
então. Outra questão, da merenda escolar, então hoje tem uma merenda de
qualidade. Eu acho que foi muito bom porque aproximou o Município do MEC.
Eu acho que houve esse ganho muito positivo, inclusive, possibilita até buscar
outros Programas e outros projetos. Por exemplo, nesse ano mesmo, nós
estamos com recursos para construir sete novas creches e já “estão” preparando
o terreno o recurso, salvo engano, já está até empenhado. Você abre portas e eu
vejo que isso é, em função da Municipalização. Então eu acho que foi positivo.
C-5: Todas as vezes que nós buscávamos apoio, o MEC estava de portas abertas
para nos subsidiar, até porque é interessante, foi... os conselhos municipais e
estaduais contribuem, são os “olheiros” do Governo Federal, acabam sendo,
porque se o Conselho faz o trabalho direito, como tem que ser feito, como é
para fazer. Ele orienta, ele fiscaliza, ele cobra, ele faz legislação para educação,
e essa legislação toda que é criada, ela tem que está em consonância com as
resoluções federais, não pode atropelar, e sempre que foi buscado, sempre que
se buscou o MEC, ele subsidiou.
C-6: Eu não tenho propriedade para falar, porque quando eu cheguei aqui, já era
Emancipado, foi em 98. Então eu acredito que houve essa ruptura na
emancipação, mas o MEC acredito eu que deva continuar a dar uma assistência
no que for necessário.
C-7: De forma Institucional, as demandas necessárias iam sendo recorridas ao
MEC. Neste momento, foi quando nós fundamos o Sindicato dos Servidores da
Prefeitura, e eu assumi a presidência naquele momento, durante os nove meses.
Então a gente não tinha essa compreensão da estrutura da Secretaria do Governo
quando nós estávamos dirigindo no Sindicato dos Servidores. Todas as
demandas encaminhadas pelo Ministério da Educação a gente tenta implantar.
As divisões internas da Secretaria de Educação falam com o MEC
constantemente, as demandas, as necessidades, as dúvidas. Sempre é recorrido
ao MEC.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, os Municípios passaram a ter a
prerrogativa de criarem seus próprios sistemas de ensino (CF, Art. 211 - A União, os
Estados, o DF e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de
ensino), atribuindo aos mesmos, autonomia relativa na formulação de políticas
educacionais, em específico para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental - CF, Art.
211, § 2º - Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil. Até então, a esfera municipal detinha, apenas, o sistema administrativo.
Nessa direção, foi facultado aos municípios o direito de emitir normas e a
estabelecer políticas, tentando distanciar-se da manutenção de relações hierárquicas entre
os entres da federação, União, Estados e Municípios. Essa possibilidade é expressa pelo
menos em âmbito legal. Apesar de a Constituição de 1988 inovar com essa perspectiva, foi
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que esse conteúdo tornou-se mais
contextualizado e mais específico no que tange às competências e atribuições de cada
ente.
Reportando-nos à LDB nº 9.394 de 1996, Art. 11, destacamos que os municípios
passaram a ter a incumbência de:
I-
IIIIIIVV-
organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus
sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da
União e dos Estados;
exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema
de ensino;
oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade,
o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino
somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua
área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos
vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento
do ensino.
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao
sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de
educação básica.
Em um esforço para aprofundar a análise, busca-se compreender os sentidos da
descentralização à luz da literatura científica. Para Abrúcio
A nova Carta Constitucional procurou atacar os males históricos da política
educacional brasileira, inclusive os localizados em sua dinâmica federativa.
Para o autor, houve grandes avanços no direito à educação e a questão territorial
foi definida como estratégia nesse processo, assim três temas tornaram-se peçachave do novo modelo de política pública, sendo elas: a descentralização, em
especial na sua tradução como municipalização, forma tomada como capaz de
gerar tanto a melhoria da gestão como a democratização do sistema de ensino;
a previsão de políticas nacionais orientadoras e planejadoras, nas formas da
LDB e o Plano Nacional de Educação; e um diferenciador da educação frente
aos outros setores, a proposição de um regime de colaboração entre os níveis de
governo como instrumento que garanta boa implementação da política em todos
os seus ciclos, em especial a educação básica (ABRUCIO, 2010, p. 40).
Entretanto, a trajetória e a implementação das políticas não aconteceram
exatamente como previa a Constituição. Assim, problemas e dificuldades ocorreram nas
décadas seguintes, marcadas por alterações legais, constitucional e infraconstitucionais,
pela criação de programas destinados aos municípios (ABRUCIO, 2010).
Desse modo, na concepção de Abrucio, a descentralização é o processo que
“significa não só passar mais recursos e poder aos governos subnacionais, mas
principalmente, tinha como palavra de ordem a municipalização” (ABRUCIO, 2010, p. 46)
Na análise de Lopes e Castro, a origem do termo descentralização esteve
relacionada tanto com as demandas populares resultantes da busca de maior
democratização e menor burocratização do Estado, quanto com o estratagema
neoliberal, amparado pelo discurso da modernização. Assim pode ser
interpretada a partir de dois enfoques: como aspectos das ações governamentais
(descentralização governamental) ou como gestão dos sistemas, que desloca o
poder central para instâncias menores; ou associada às ações da sociedade civil
nos assuntos públicos, com deslocamento do poder do Estado para a sociedade
(LOPES; CASTRO, 2012, p. 36).
Já para Bordignon, a essência da descentralização via municipalização está
no deslocamento do eixo do poder, permitindo que as políticas e as decisões
sejam formuladas via participação. A prática da descentralização, entre nós, tem
mantido inalteradas a estrutura e as relações de poder, convertendo estados e
municípios em meros executores das decisões do governo central, num
mecanismo que mais descentraliza a vontade do soberano do que o exercício do
poder e a responsabilidade de decisões. A descentralização só se efetiva em
regimes democráticos, pois só as democracias possibilitam e viabilizam a
participação (BORDIGNON, 1993, p. 149-150).
Para o autor, o enfoque descentralizador adotado no Brasil, embora feito em
nome da democratização, não se livrou do veio autoritário e paternalista que marcou a
sociedade brasileira. O autor argumenta esse processo e ao mesmo tempo aborda uma
perspectiva democrática que abrange a participação da sociedade na definição e
formulação das políticas públicas (BORDIGNON, 1993).
Na perspectiva de Cabral Neto e Rodrigues (2007), por um lado, cria-se uma
aparente e relativa autonomia; por outro, adotam-se fortes mecanismos de controle e
avaliação, assim, a descentralização fundamenta-se em aspectos administrativos e
financeiros e não nos curriculares e pedagógicos.
Nesse contexto e em face das novas atribuições e dessa relativa autonomia dos
Municípios, estes se viram diante de desafios no que diz respeito à oferta da educação pelo
município, à formulação de suas leis orgânicas, à elaboração dos planos municipais de
educação, constituição de conselhos, inclusive o de educação, dentre outros.
Os municípios se viram diante dessa perspectiva legal e buscaram desenvolver
mecanismos para organizarem os sistemas de ensino e, assim, atender às novas
demandas educacionais emergentes. Considerando esse contexto, perguntamos aos
conselheiros como eles perceberam as dificuldades ou os problemas enfrentados pelos
gestores e conselheiros de Valparaíso de Goiás, no processo de municipalização, a
saber:
C-3: Olha, primeiro, eu acho que em relação a Servidores. Os Servidores
passaram para o quadro para Valparaíso de Goiás, e nesse processo de
transposição, nós tivemos aí alguns equívocos, na verdade não equívocos, mas
manipulações políticas. Alguns secretários vieram como professores;
professores de séries iniciais, vieram como professores de séries finais, mesmo
sem formação. Outro ponto, na verdade, é em relação às escolas de Valparaíso
de Goiás, que eram jurisdicionadas ao Município de Luziânia, vieram todas
ilegais, todas. Inclusive escolas antiquíssimas. Esse Processo de legalização,
que se dá por Processo instaurado no Conselho de Educação, passou a ser
bastante moroso, até porque o Conselho nasceu 6 anos depois. Então, nesse
ínterim, meu Município dependia... estava jurisdicionado ao Sistema Estadual.
Mas de 2001 pra cá, a organização do Sistema, municipal passou a assumir a
Escola. Talvez aí um terceiro problema seja de cunho Político Partidário, como
o Município de Luziânia era um Município de Coronéis, de grandes fazendeiros
que interferiam na Política, como é a realidade do país, como um todo, Mas os
processos estão aí para poder transformar essa realidade, Valparaíso sofreu
muito com isso, então aqueles exerciam função Política, em Luziânia, passaram
a ser “Coronéis” em Valparaíso de Goiás.
C-5: Acredito que as dificuldades tenham sido mesmo a parte Política,
entendeu, a falta de interesse político. Às vezes, a “coisa” chega e a gente tem
interesse, mas não há interesse Político de que aconteça, e até que se chegue a
esse consenso, acredito que a dificuldade tenha sido só nesse ponto mesmo.
C-6: Uma das principais dificuldades foi com relação aos Servidores, o Servidor
teria que optar entre ficar no Município de Luziânia, ou optar pelo novo
Município então criado, que era Valparaíso, que é Valparaíso. Houve um
conflito muito grande e pela proximidade que nós temos com o Distrito Federal,
eu acho que essa emancipação ocorreu de forma muito desigual, porque nós
somos muito longe da Capital, que é Goiânia, da Capital do Estado de Goiás e
muito próximo do Distrito Federal. Só que daí, a gente segue o padrão de vida
do Distrito Federal, o custo de vida do Distrito Federal, com a infraestrutura de
Goiás, bem afastado, bem esquecido pela Capital, que é tão longe de Goiânia e
nós acabamos ficando esquecidos. Então, há essa discrepância muito grande. E
aí nós estamos nesse meio, abandonados tanto por um, como pelo outro. Então
eu acho que essa emancipação deixou mais latente, mais visível essa
discrepância que sempre ocorreu, mas que agora com a emancipação nós
ficamos mais abandonados, eu acredito, pelo Estado de Goiás.
A descentralização de políticas educacionais para o âmbito do município
proporciona um aspecto positivo, expresso na possibilidade de uma administração mais
ágil, principalmente em Estados com grandes dimensões territoriais. Não obstante,
torna-se necessário compreender que a possibilidade de uma gestão local bem
sucedida depende das diferentes capacidades administrativas desses municípios.
O Plano Municipal de Educação constitui-se e traduz-se em instrumento
norteador da política educacional do município e de sua relação com as políticas
estaduais e nacionais, desde que se considere a participação da comunidade
educacional no processo de elaboração, acompanhamento e avaliação. No caso de
Valparaíso de Goiás apontamos a) para a necessidade de participação sócio-política
do CME no processo de elaboração do PME; para b) o aprofundamento do estudo sobre
as possibilidades, limites, e contradições desse instrumento normativo; c) para maior
socialização de informações e cursos a todos os conselheiros que compõem o CME de
Valparaíso de Goiás.
Assim, torna-se fundamental conhecerem a legislação educacional que subsidia
a elaboração do PME, como a Constituição Federal, o Plano Nacional de Educação; a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei n° 9.394/96; o Estatuto da Criança
e do Adolescente - Lei Nº 8.069/1990; a Lei do Fundeb. Nesse contexto, é facultado ao
município conceber uma gestão que evidencie a relação participativa e cooperativa
entre gestores, conselheiros, equipes técnicas, coordenação pedagógica e professores
na definição e elaboração/revisão do PME.
Depreende-se, a partir das falas dos respondentes, que as informações sobre o
processo de elaboração/revisão do PME podem estar centralizadas ou são conduzidas
por parte dos conselheiros do colegiado, uma vez que há conselheiros que ainda não
têm conhecimento sobre a revisão do PME a ser implementado a partir de agosto de
2014.
Apesar das dificuldades, limites e contradições, há elementos que evidenciam
que o CME cumpre as suas funções de órgão normativo e de gestão democrática do
sistema municipal de ensino; no entanto, apontamos para a necessidade de ampliar
sua atuação, em relação à revisão do PME. Uma demanda por maior participação social
reflete o clima de possibilidades no avanço da gestão democrática da educação do
município de Valparaíso de Goiás.
A aproximação com o MEC, na visão dos conselheiros, oportunizou ao município
implementar mais programas, como o PDDE, o PDE, a Merenda escolar com mais
qualidade, o Programa de Transporte Escolar, o Programa Gestar e ainda que o
Fundeb contribuiu para que os gestores se organizassem e pleiteassem os recursos
que são assegurados ao município. Os respondentes afirmam que a relação com o
MEC depois da sua emancipação, em 1995, e 2013, é positiva. Houve mais
possibilidade de execução e melhorias quando o município passou a tratar diretamente
com o governo federal, conforme corroboram os últimos depoimentos citados.
Uma das concepções consideradas neste estudo sobre a política de
descentralização é que esta consiste na transferência de poder de um nível de governo
para outro. Este último se responsabiliza pela adoção e gestão de determinadas
políticas públicas a ele subordinadas. Essas políticas nem sempre são acompanhadas
de todos os recursos necessários, com o intuito de viabilizar a execução política,
administrativa e institucional, combinando a participação da sociedade civil organizada
em todas as etapas do processo decisório (MARTINS e SANTOS, 2001).
Os autores entendem a municipalização como um processo que exige
participação e envolvimento da população na vida política do município, colaborando
assim para o efetivo exercício da cidadania, ou seja, a municipalização: é o processo
pelo qual os habitantes, cidadãos, de um determinado município participam da
elaboração, da decisão, do acompanhamento e da avaliação das políticas públicas, em
cooperação com os Poderes Públicos, executivo e legislativo e com os demais entes
da federação (MARTINS e SANTOS, 2001),
Assim, fizemos um esforço para analisar a relação estabelecida entre os entes
federados e considerar as informações fornecidas e contextualizadas pelos
conselheiros e gestores, da pesquisa. Apontamos para alguns dos possíveis sentidos
do termo descentralização, subjacentes aos documentos estudados, na lógica do
governo federal:
a) Transferências de Recursos – Fundef/Fundeb: as mudanças de natureza
política e de ordem jurídico institucional realizadas no âmbito da educação
básica na década de 1990 e 2000 redefiniram sua estrutura para as décadas
subsequentes. Em consequência, além da implantação do Fundef – 1997, um
dos mecanismos de descentralização financeira que influenciou o processo de
municipalização no país, ocorreram alterações na legislação educacional
brasileira que também resultaram em nova reconfiguração, tendo como
expressão maior a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei n.
9.394/96 e o Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172/2001. O Fundef/Fundeb
criaram possibilidades para que municípios, principalmente os de pequeno porte,
se fortalecessem e dispusessem de um mínimo de recursos financeiros para o
atendimento da demanda educacional.
b) Municipalização: transferência de atendimento de estudantes da educação
infantil e ensino fundamental do estado para o município. Esse processo foi
acentuado após a criação do Fundef/Fundeb.
c) Desconcentração: consiste na transferência da gestão operacional, não da
política, e não das decisões de determinados objetivos definidos e coordenados,
em nível central. Busca-se transferir a execução de funções de governo a outro,
de forma a proceder à racionalidade administrativa gerencial e institucional
(MARTINS e SANTOS, 2001).
d) Modernização da gestão e uso de estratégias gerenciais: observamos que
convivem no ambiente educacional diversos modelos de gestão. Entretanto, é
no gerencialismo que se apoiam diversos programas oficiais em implementação
em todos os sistemas de ensino, a saber: Programa Dinheiro Direto na Escola
– PDDE(1995), PDE-Escola(1998), e Plano de Desenvolvimento da Educação –
PDE, institucionalizado em 2007. O PDE de forma sistêmica organiza a maioria
dos programas do Ministério da Educação para oferta aos estados e municípios.
Tais programas fazem parte do mesmo conjunto de diretrizes e são influenciados
por esta perspectiva gerencial; portanto, estão presentes na gestão dos sistemas, seja
por meio da descentralização das ações; da instituição de mecanismos de participação
(colegiados), das estratégias e discursos de responsabilização dos diretores e
professores, pelos sucessos e fracassos dos alunos, dentre outras.
A descentralização na visão dos conselheiros e gestores sinalizou para os seguintes
sentidos:
a. Emancipação de Valparaíso de Goiás do município de Luziânia: a
emancipação impôs a necessidade de implantação de seu sistema escolar, com
a instituição de órgãos administrativos, normativos e de controle social para a
gestão da educação municipal. A evolução da matrícula escolar assume
caraterísticas próprias, influenciadas por fatores internos e externos que
definiram os contornos do seu sistema municipal de ensino. No que se refere às
mudanças educacionais ocorridas em Valparaíso de Goiás, parte dos
respondentes assinalam possibilidades de alterações na gestão da educação
em relação à condição anterior, antes da emancipação. A separação ofereceu a
oportunidade de romper com velhas práticas clientelistas de Luziânia, embora
ainda haja resquícios do passado, que vem sendo enfrentados pela população
e pela gestão pública.
b. Aumento do Poder local: os conselheiros entendem que a conquista do Poder
local se dá quando o ente federado cria suas próprias leis e executa as políticas
e programas ofertados pelo MEC, sem interferência política e técnica do Estado.
c. Colaboração direta entre governo federal e município: a investigação aponta
para existência de mudança na concepção da relação federativa no âmbito da
educação. Extraiu-se da análise dos documentos e das entrevistas, a existência
de uma forma de colaboração: a colaboração direta entre governo federal e
município. Tal concepção é reiterada nos depoimentos, associada à gestão da
educação do município na sua relação com o Ministério da Educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em um dos episódios que se passa nas Veredas-Mortas da obra Grande Sertão:
Veredas, do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), publicado em 1956, a
poética literária proferida pelo jagunço letrado Riobaldo nos revela uma preocupação,
talvez a principal. Nessa passagem, Riobaldo fica à espreita do diabo, o aguarda,
decidido a mostrar que quem decide e dá as ordens sobre o seu destino é ele mesmo.
Talvez Riobaldo tenha se dado conta (é uma possibilidade!) de que o diabo é
pura metáfora, que vender a alma é não mais comandar a si mesmo e submeter-se a
uma orientação alheia ao seu próprio discernimento. O que restaria aí é manter-se à
margem, no certo, no seguro, no comum, negando-se assim, a travessia.
O vocábulo atravessar é derivado do latim transversare - mexer através, e que
significa percorrer de ponta a ponta, de lado a lado, de extremidade a extremidade;
transpor, passar por; vivenciar; experimentar, abrir caminho em meio a, interpor-se,
contrapor-se. Em sentido literário, atravessar é perceber que a realidade se modifica e
nos modifica. As relações se alteram e nós vamos nos modificando, nos reinventando.
Em sentido social, a travessia é constitutiva de ações e de espaços de aprendizagem,
seu movimento está presente tanto na trajetória desta pesquisa, quanto nas relações
sociais que nos dedicamos a estudar.
Neste estudo, quando os segmentos organizados da sociedade (conselhos,
sindicatos, associações, fóruns, e outras formas de organização social) se envolvem
em conflito e em disputas políticas, torna-se possível a transformação da realidade por
meio desses embates para fazer valer as suas demandas e, de alguma forma, intervir
nas políticas de Estado. A participação política e social, mesmo tendo suas
oportunidades limitadas, é um meio institucionalizado para defender os interesses da
sociedade.
Sob o ponto de vista da sociedade e reportando-nos aos estudos de Cury (2000):
negar a contradição no movimento histórico é falsear o real, representando-o
como idêntico, permanente e a-histórico. Cada coisa é uma totalidade de
movimentos de momentos que se envolvem profundamente, e cada uma contém
os momentos e elementos provenientes de suas relações, de sua gênese e de sua
abertura. Por isso a realidade não é apenas o já sido, embora ela possa no seu
estar-sendo incorporar elementos do sido. Ela também não é só o ainda-não,
embora sem este elemento o real se torne superável. A realidade, no movimento
que lhe é endógeno, é exatamente a tensão dialética sempre superável do já sido
e do ainda-não no sendo. A tensão ente o já sido e o ainda-não é que possibilita o
surgimento e a implantação do novo, pois penetra no processo, do começo ao fim,
o desenvolvimento de todas as coisas (CURY, 2000, pp. 30-31).
Retomando Guimarães Rosa, o que provavelmente pretendia Riobaldo era estar
sendo, era poder ser, comandar-se desde si, desde um destino, pois o rio, como ele
diz, não quer chegar a lugar nenhum, mas está sempre a correr, a fluir e, nesse fluir,
quer ser mais largo, mais fundo. Aqui encontro a síntese do meu percurso e
compreensão do nosso processo, o anúncio do impacto vivido no confronto e no conflito
entre os saberes, e entre estes e a realidade, no ato de conhecer - o desconhecido. Ou
seja, o resultado por vencer desafios e incertezas, viver o sofrimento da superação do
senso comum e nutrir-se da riqueza da descoberta, durante essa travessia.
Assim, a partir dos fatos históricos e dos movimentos da sociedade contextualizados
à luz da Constituição Federal de 1988, da Lei nº 9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e da Lei nº 10.172/2001 - Plano Nacional de Educação, o esforço foi
analisar os seus desdobramentos nos sistemas municipais de ensino.
Em relação ao primeiro capítulo - Marco histórico e legal nas políticas de
elaboração de planos de educação -, os municípios passaram a ser considerados, após
a Constituição Federal de 1988, entes da federação, e a desempenhar papel relevante
na administração pública. Em decorrência, receberam tratamento constitucional, com
competências privativas ou em colaboração com o estado e a União. Nessa perspectiva
de autonomia, a Constituição de 1988 atribuiu aos municípios competências tributárias
próprias e participações no produto da arrecadação de impostos da União e dos
estados.
A esfera de obrigações dos municípios é ampliada. No tocante à prestação de
serviços públicos essenciais, o ente federado passou a atuar prioritariamente e assumir
responsabilidades com o ensino fundamental e a educação infantil, buscando articularse com os estados e o governo federal para assegurar a universalização do ensino
obrigatório (CF/1988 Art. 211).
Nessa época, o PNE aprovado transformou-se na Lei nº 10.172/2001. Nos anos
subsequentes à sua aprovação, conteúdo das diretrizes e metas da Lei, foram
convertidos em programas do governo federal. Assim, foram criados e/ou expandidos
alguns programas no âmbito do Ministério da Educação visando a prestar assistência
técnica e financeira aos municípios, tal como o Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE), o Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de
Educação (Pró-Conselho), o Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de
Educação (Pradime) e o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos
Escolares. Os conselheiros e gestores entrevistados manifestam que alguns desses
programas repercutiram na gestão da educação do município.
A vigência do Plano Municipal de Educação em Valparaíso de Goiás (2004-2014)
coincidiu com um dos períodos de efetiva descentralização da matrícula pública da
educação infantil e do ensino fundamental e de organização do sistema municipal de
ensino, naquele ente da federação.
No entanto, o processo de elaboração e implementação do Plano Municipal de
Educação de Valparaíso de Goiás demonstrou um diálogo insuficiente com os três
acontecimentos que marcaram a construção de uma identidade territorial, política e
administrativa: a) a emancipação do município de Luziânia – entendida pelos
conselheiros e gestores como descentralização administrativa; b) a descentralização
de matrícula para o município, estimulada pelo Fundef, posteriormente o Fundeb; e, c)
o novo ordenamento jurídico nacional entre 1988 e 2001 que influenciou a organização
do sistema municipal de ensino e a forma de gestão implementada.
A emancipação e a crítica ao modelo de gestão do município de Luziânia
trouxeram especificidades peculiares à Valparaíso de Goiás, marcando uma diferença
em relação aos demais municípios que não vivenciaram essa dinâmica social. Neste
município, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, não só ocorreu a
possibilidade de descentralização da matrícula, mas também a possibilidade de
reorganização e autonomia da gestão municipal.
O Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2023), aprovado em 03 de junho de
2014, foi remetido pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados à sanção da
Presidenta da República Dilma Rousseff, por meio da Mensagem nº 17/14, de 05 de
junho de 2014. Em Valparaíso de Goiás, o PME está em vigência, mesmo orientado
pela Lei nº 10.172/2001.
Em relação ao segundo capítulo - A descentralização e o Pró-Conselho: uma
proposta de gestão com participação social -, a confluência de três acontecimentos
sinalizou sentidos diversos para o termo descentralização, no caso de Valparaíso de
Goiás, são eles: a) emancipação do município de Luziânia; b) a descentralização de
matrícula para o município, estimulada pelo Fundef, posteriormente o Fundeb e; c) o
ordenamento jurídico nacional entre 1988 e 2001 que preconizou a organização do
sistema municipal de ensino de Valparaíso de Goiás e a forma de gestão
implementada.
Esses três acontecimentos confluíram e apontam para essa característica
peculiar da emancipação. O município se viu diante da necessidade de atuar como ente
federado e, ao mesmo tempo, organizar-se com base novo ordenamento jurídico que
estava surgindo. A relação entre MEC e Município é modificada, o novo ordenamento
jurídico, até certo ponto, repactua a federação. O município passa a tratar diretamente
com a União, sem a mediação do Estado. Além da possibilidade de descentralização
da matrícula, ocorreu em Valparaíso de Goiás a reorganização do sistema de educação
por meio da criação do Conselho Municipal de Educação, do Sistema Municipal de
Ensino e da aprovação do Plano Municipal de Educação.
Em relação ao Pró-Conselho, observa-se sua inexpressiva influência na gestão
do município de Valparaíso de Goiás, e parte dos conselheiros desconhece a origem e
a proposição Programa. A descontinuidade e a fragilidade da contribuição do PróConselho decorrem, muitas vezes, das frequentes substituições dos conselheiros que
interferem no processo de formação.
Em geral, o conselho, composto por onze representantes do governo e da
sociedade civil, é renovado a cada quatro anos e qualquer iniciativa de formação
continuada leva em consideração tal realidade. Esta é, portanto, uma das limitações do
Pró-Conselho, enquanto programa de assistência técnica do MEC aos municípios;
política que vem sendo realizada com a suposição de efetivar o regime de colaboração.
O CME, quando incorpora as vozes organizadas da sociedade, exerce o papel
de órgão de gestão democrática, caso contrário, restringe-se a ser um órgão normativo
do sistema, instituído por lei, com a delegação do Poder Legislativo. A forma de escolha
dos conselheiros, a composição do CME, a pluralidade e a representatividade social
revelam se o conselho é democrático ou não.
Só com o estímulo ao processo participativo pelos entes federados é que o
diálogo social e a cooperação federativa passam a ter como alicerce as instituições
políticas e atos legais, como os Conselhos Municipais de Educação e os Conselhos de
Acompanhamento e Controle Social, as Leis Federais e Orgânicas Municipais, a
exemplo do Plano Nacional de Educação, dentre outros. No caso dos sistemas públicos
municipais de ensino, essa perspectiva pode ser contemplada em seus Planos
Municipais de Educação, elaborados com a participação da sociedade e em articulação
com os Planos Estaduais e Nacional correspondentes.
De qualquer maneira, este estudo compreende que está instaurado um processo
de luta, uma busca pela construção de uma gestão com participação social, um esforço
da população e do conselho para avançar em práticas de gestão participativa e em
processos educativos.
Posso afirmar que há indícios de participação social, promovida e articulada pelo
CME de Valparaíso de Goiás. São elas: audiências públicas, debates, conferência de
educação. Instâncias de participação cidadã que favorecem a revisão do próximo Plano
Municipal de Educação, resguardadas as limitações e as mazelas próprias de uma
democracia em construção.
No que concerne ao terceiro capítulo - a relação entre o Conselho e a Secretaria
Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás: Plano Municipal da Educação,
participação social e sentidos da descentralização -, a gestão educacional, na primeira
década posterior à emancipação de Valparaíso de Goiás, passou a ser parte
constituinte do município e desenvolveu alternativas para a construção do processo
político-administrativo da educação. O município assumiu a construção processual e
educativa, traduzindo-se, portanto, em um esforço, não só pedagógico, mas
essencialmente político.
No entanto, a pesquisa revela que a elevação da matrícula municipal não
correspondeu necessariamente à ampliação da qualificação dos serviços educacionais
e ao fortalecimento da gestão. Ainda necessitam erguer uma rede física com prédios
escolares e com padrão arquitetônico e educativo de qualidade. Há carência de
professores nomeados por concurso público e a disponibilização de recursos
orçamentários para esse fim.
O CME de Valparaíso de Goiás, criado em 2001, assume a condição de um dos
órgãos que compõe o sistema de ensino do município. O conselho de educação de
Valparaíso de Goiás apresentava condições de funcionamento, subsidiado pela
Secretaria Municipal de Educação. Entretanto, umas das fontes da pesquisa relatou
que assessoria foi contratada para elaboração do PME, em 2004. Não houve
participação do conselho para a construção da proposta. Observa-se certa
aproximação entre os órgãos municipais (Secretaria e Conselho) na busca pela revisão
do Plano Municipal de Educação, a vigorar a partir de julho de 2014.
A relação do Conselho com a Secretaria Municipal de Educação expressa-se
como uma das possibilidades para conceber, implementar e rever o Plano Municipal de
Educação, de forma mediada e negociada entre os órgãos que compõem o Sistema
Municipal de Ensino e com a participação da sociedade.
Nessa perspectiva é fundamental que conselheiros e gestores se apoderem e
tomem conhecimento da legislação educacional que subsidia a elaboração do PME,
como a Constituição Federal, o Plano Nacional de Educação; a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional - Lei n° 9.394/96; o Estatuto da Criança e do Adolescente
- Lei Nº 8.069/1990; a Lei do Fundeb. Assim torna-se possível implementar uma gestão
participativa e cooperativa entre gestores, equipes técnicas, coordenação pedagógica
e professores na definição e elaboração/revisão do PME.
Observo que está em andamento uma mudança na concepção da relação
federativa no âmbito da educação. Com base na análise dos documentos e das
entrevistas, constato a existência da colaboração direta entre governo federal e
município. Percebemos, também, a descentralização como uma forma de transferência
de poder de um ente federado a outro ente da federação. A partir da relação
estabelecida, o Ministério da Educação, representando um dos entes da federação, a
União, transfere o que fazer para o município de Valparaíso de Goiás.
Assim, esta perspectiva do Ministério da Educação significa submeter o município à
sua decisão política, quando concebe as políticas educacionais, o que se configura na
imposição de poder de um ente federado sobre outro. Essa relação de subordinação
contraria as recomendações expressas na Constituição Federal de 1988 e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394/1996, quando preveem que a
relação entre os entes da federação considera a perspectiva de uma relação horizontal e
em processo colaborativo.
No que concerne à autonomia dos entes federados, a descentralização nem
sempre considera relação cooperativa e colaborativa - tanto para decidir ou executar
políticas - e não possibilita a articulação e pactuação entre os diferentes sistemas de
ensino, em nível horizontal. Na perspectiva federal, apontamos alguns dos possíveis
sentidos do termo descentralização subjacentes aos documentos estudados:
a) Transferências de Recursos – Fundef/Fundeb: as mudanças de natureza política e
de ordem jurídico institucional realizadas no âmbito da educação básica na década de
1990 e 2000 redefiniram sua estrutura para as décadas subsequentes. Em
consequência, além da implantação do Fundef – 1997, um dos mecanismos de
descentralização financeira que influenciou o processo de municipalização no país,
ocorreram alterações na legislação educacional brasileira que também resultaram em
nova reconfiguração, tendo como expressão maior a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) Lei n. 9.394/96 e o Plano Nacional de Educação, Lei nº
10.172/2001. O Fundef/Fundeb criaram possibilidades para que municípios,
principalmente os de pequeno porte, se fortalecessem e dispusessem de um mínimo de
recursos financeiros para o atendimento da demanda educacional.
b) Municipalização: transferência de atendimento de estudantes da educação infantil e
ensino fundamental do estado para o município. Esse processo foi acentuado após a
criação do Fundef/Fundeb.
c) Desconcentração: consiste na transferência da gestão operacional, não da política, e
não das decisões de determinados objetivos definidos e coordenados, em nível central.
Busca-se transferir a execução de funções de governo a outro, de forma a proceder à
racionalidade administrativa gerencial e institucional (MARTINS e SANTOS, 2001).
d) Modernização da gestão e uso de estratégias gerenciais: observamos que convivem
no ambiente educacional diversos modelos de gestão. Entretanto, é no gerencialismo
que se apoiam diversos programas oficiais em implementação em todos os sistemas de
ensino, a saber:
Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE(1995), PDE-
Escola(1998), e Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, institucionalizado em
2007. O PDE de forma sistêmica organiza a maioria dos programas do Ministério da
Educação para oferta aos estados e municípios.
Tais programas fazem parte do mesmo conjunto de diretrizes e são influenciados
por esta perspectiva gerencial; portanto, estão presentes na gestão dos sistemas, seja
por meio da descentralização das ações; da instituição de mecanismos de participação
(colegiados), das estratégias e discursos de responsabilização dos diretores e
professores, pelos sucessos e fracassos dos alunos, dentre outras.
A descentralização na visão dos conselheiros e gestores sinalizou para os seguintes
sentidos:
a) Emancipação de Valparaíso de Goiás do município de Luziânia: a
emancipação impôs a necessidade de implantação de seu sistema escolar, com
a instituição de órgãos administrativos, normativos e de controle social para a
gestão da educação municipal. A evolução da matrícula escolar assume
caraterísticas próprias, influenciadas por fatores internos e externos que
definiram os contornos do seu sistema municipal de ensino. No que se refere às
mudanças educacionais ocorridas em Valparaíso de Goiás, parte dos
respondentes assinalam possibilidades de alterações na gestão da educação
em relação à condição anterior, antes da emancipação. A separação ofereceu a
oportunidade de romper com velhas práticas clientelistas de Luziânia, embora
ainda haja resquícios do passado, que vem sendo enfrentados pela população
e pela gestão pública.
b) Aumento do Poder local: os conselheiros entendem que a conquista do Poder
local se dá quando o ente federado cria suas próprias leis e executa as políticas
e programas ofertados pelo MEC, sem interferência política e técnica do Estado.
c) Colaboração direta entre governo federal e município: a investigação aponta para
existência de mudança na concepção da relação federativa no âmbito da educação.
Extraiu-se da análise dos documentos e das entrevistas, a existência de uma forma de
colaboração: a colaboração direta entre governo federal e município. Tal concepção é
reiterada nos depoimentos, associada à gestão da educação do município na sua
relação com o Ministério da Educação.
A descentralização de políticas educacionais no âmbito do município revela
contradições, expressas na possibilidade de uma administração mais ágil,
principalmente em estados com grandes dimensões territoriais. As diferenças e as
desigualdades de recursos financeiros, de capacidade técnica e operacional interferem
na implementação de políticas públicas. Assim, torna-se fundamental que os processos
de descentralização da educação sejam acompanhados de iniciativas que favoreçam
ao fortalecimento da capacidade de gestão local, sempre associada à participação
popular e ao controle social.
O processo de descentralização não se resume apenas ao funcionamento do
aparelho do Estado, mas ao jogo do poder necessário à manutenção das relações
capitalistas internacionais e nacionais. É insuficiente e limitador relacionar o conceito
de descentralização apenas ao deslocamento de políticas do governo central para os
governos locais, seja no campo administrativo da política tributária e fiscal, seja na
redistribuição de atribuições acompanhadas ou não do ônus financeiro.
Dessa forma, um dos desafios postos para os municípios e para os demais entes
da federação é buscar compreender em que medida a descentralização de políticas
públicas ou programas federais possibilita a autonomia política e/ou burocrática dos
municípios.
Considerando o percurso realizado nesta pesquisa, posso afirmar, ainda, que é preciso
ao país realizar outra travessia, que é a concepção de um Sistema Nacional de Educação que
assuma a descentralização como um processo em que haja efetivamente a participação do
Poder local. Perspectiva que confirma a abordagem de Bordignon (1993) quanto ao fato de que
a descentralização só se efetiva em regimes democráticos e quando viabiliza a participação
social.
REFERÊNCIAS
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política pública para a realização do direito à educação básica? 2005. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade de
Brasília, Brasília. 2005.
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emergência da regulação supranacional. Revista Educação e Sociedade, v.22, n.75, p. 15-32, 2001.
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gestão, controle e prestação de contas da movimentação dos recursos que são repassados ao município
pelo Fundeb. Impresso. Valparaíso de Goiás, 2001.
_____________________. Lei nº 317, de 1º de agosto de 2001. Cria o Conselho Municipal de
Educação na forma que especifica. Impresso. Valparaíso de Goiás, 2001.
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Ensino de Valparaíso de Goiás e dá outras providências. Impresso. Valparaíso de Goiás, 2001.
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Anexo I - Produções acadêmicas sobre gestão da educação
Pesquisador(a)
Título
Orientador(a)
Instituição
Ano
Ananda Grinkraut
Conflitos na Implementação da
Política Educacional Brasileira: as
relações entre a União e os
Municípios a partir do Plano de
Desenvolvimento da Educação
(PDE)
Nora Rut Krawczyk
Unicamp
Dissertação
2012
Lázaro Moreira de
Magalhães
O Processo de Construção da
Autonomia do Conselho Municipal
de Educação
Maria Abádia da
Silva
UnB
Dissertação
2011
Deborah Saib da
Silva
A implementação de novos modos
de regulação do sistema
educacional no Brasil: o plano de
ações articuladas e a relação entre
as escolas e a união
Marisa Ribeiro
Teixeira Duarte
UFMG
Dissertação
2011
Maria Márcia
Sigrist Malavasi
Unicamp
Dissertação
2011
UnB
Tese
2011
Mariana Costa
Chazanas
Participação na escola: a voz das
famílias
Ana Elizabeth M. De
Albuquerque
O processo de institucionalização
do princípio da gestão democrática
do ensino público
Maria Abádia da
Silva
Maria Lucimar de
Souza Lima
Gestão, Cultura e Organização da
Escola Municipal
Jorge Gregório da
Silva
Carlos Alberto
Abicalil
Plano nacional de educação na
República Federativa do Brasil:
instrumento de retórica política
pública para a realização do direito
à educação básica?
Erasto Fortes
UnB
Dissertação
2005
Soraia Chafic El
Kfouri Salerno
Administração gerencial ou gestão
administrativa? Foco no
planejamento educacional
Zacarias Pereira
Borges
Unicamp
Dissertação
2004
Maria Beatriz
Moreira Luce
UFRG
Dissertação
2003
Lisete arelaro
USP
Dissertação
Isabel Letícia
Pedroso de
Medeiros
Marcos Mendonça
Pedro Ganzeli
Gestão Democrática na rede
municipal de educação de Porto
Alegre de 1989 a 2000: a tensão
entre reforma e mudança
Fórum de Educação a Zona Leste –
Participação e Cidadania, a luta por
uma escola pública de qualidade
(1993-2002)
Estruturas Participativas na cidade
de Campinas
Maria da Gloria
Marcondes Gohn
UFA
Dissertação
Unicamp
Dissertação
2006
2003
1993
Quadro elaborado pela autora - Levantamento realizado em 2012 –Banco de dados da Capes, Scielo e Univeridades
Anexo II - Roteiro de entrevistas semiestruturado com os conselheiros e gestores do
CME de Valparaíso de Goiás, Uncme e MEC
Roteiro de Entrevistas - semiestruturado
Categorias de Análise
1. GESTÃO
2. DESCENTRALIZAÇÃO
Questões
O senhor conhece o Pró-Conselho? Já participou de cursos de
formação oferecidos pelo Pró-Conselho?
Comente sobre a relação entre a Secretaria e o Conselho no
processo de elaboração/revisão do PME.
Quando e como ocorreu o processo de descentralização no
município?
3. PARTICIPAÇÃO
4. PROBLEMAS E
DIFICULDADES
5. FUNÇÕES DO CME
Comente três problemas ou dificuldades enfrentadas no processo de
municipalização
O senhor percebeu se houve alteração na relação entre o município
e o MEC? Ou entre SME E CME? Comente.
O senhor participou do processo de elaboração/revisão do plano
municipal de educação? Como?
Comente sobre uma demanda ou reivindicação da sociedade/ou
segmento que representa que foi contemplada no (PME)
Há dificuldades para encaminhar as demandas dentro do CME?
Como ocorre a participação nas discussões e deliberações das
plenárias?
Quais as dificuldades e limites dos municípios elaborarem os seus
planos de educação? (Uncme e Gestor MEC)
Comente sobre a atuação do CME na elaboração e/ou revisão do
PME.
Comente sobre a função do CME?
Quadro elaborado pela autora – Agosto de 2013
Anexo III – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Caro Conselheiro,
Estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada A gestão da Educação Básica
no Município: sentidos da descentralização sob a orientação da Prof.ª Dra. Maria
Abádia da Silva, na área de Políticas Públicas e Gestão da Educação Básica, no curso
de mestrado acadêmico em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação
ofertado pela Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB).
Para dar continuidade à essa pesquisa, solicito a sua participação na entrevista
gravada, abaixo autorizada, esclarecendo-lhe que as informações coletadas serão
mantidas em total anonimato e utilizadas exclusivamente nesse estudo.
Desde já agradeço a sua colaboração, apoio e empenho.
Atenciosamente,
Lêda Maria Gomes - Matrícula UnB nº 120047802
DECLARAÇÃO
Eu ________________________________ declaro que fui devidamente informado (a)
sobre os objetivos e justificativas deste estudo de forma clara e detalhada e que
concordo em participar da entrevista.
Data: 24/10/2013
Assinatura do participante .............................................................
Assinatura do pesquisador .............................................................
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