EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 A COMUNICAÇÃO TEXTUAL COMO LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO DO DISCURSO Luciene Veiga da Costa PG – UEMS Marlon Leal Rodrigues NEAD/UEMS Resumo: O presente trabalho constitui em analisar a entrevista do escritor João Gilberto Noll concedida a revista Candido, em 2012, dentro dos princípios da Análise do discurso com o intuito de interpretar o texto em questão, sobre a reflexão da linguagem como dominante de objeto de análise. Nessa perspectiva, aplicada ao texto digital, leva a abordar a construção do sujeito no diálogo entre o locutor e o interlocutor mediante a sua materialidade discursiva. Palavras Chaves: Linguagem, objeto, interpretar. Abstract: The present study is to analyze the interview the writer João Gilberto Noll granted in the magazine Candido, in 2012, within the principles of discourse analysis in order to interpret the text in question, on the reflection of language as dominant object of analysis.From this perspective, applied to digital text, leads to approach the construction of the subject in dialogue between the speaker and the listener through their discursive materiality. Key Words: Language, object, interpret. Introdução O presente trabalho tem como pretensão analisar o conteúdo abordado buscando esclarecer dentro dos preceitos da Análise do Discurso e em relação ao sujeito, enfatizar sua linguagem com seu caráter discursivo. A linguagem presente leva a reflexão sobre a relação do sujeito com o mundo enquanto sua prática e sua construção de identidade, no papel de transformar sua história, observando a língua como um sistema abstrato. Eni P. Orlandi (2010. P.15), propõe que, a análise do discurso, procura compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história. EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Ao apropriar-se da Análise do discurso para conceituar esse trabalho, é necessário compreender que seu objeto próprio teve inicio nos anos sessenta do século XX, com interesse na língua como funcionamento para a produção de sentidos.(ORLANDI, 2010, p.17). Para Pêcheux, não há sujeito sem discurso e não há discurso sem sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido.(ORLANDI,2010) Para tal análise, é necessário refletir a língua como objeto de forma a instituir-se socialmente manifestando a ideologia no discurso associada ao sujeito e desta forma, interpreta-la com ligação a sua história. A entrevista corpus para essa análise, propõe essa mediação entre o interlocutor e o locutor, que forma uma concepção dialógica desse sujeito que aos poucos vai revelando o processo discursivo submetido ao discurso indireto e submete-se o sujeito a uma interação que constitui como fenômeno ideológico estabelecido no texto. Orlandi (2010) ao se referir aos formalistas Russos, no século XX, já pressentiam no texto uma estrutura , embora fosse literário, seus trabalhos buscavam uma lógica interna no texto [...] Entretanto, a Análise do discurso leva a discussão e trabalha a sua materialidade, considera a ideologia como afirmação no texto, considera que a linguagem não é transparente, ela se constitui pela relação entre três domínios: a Linguística, o Marxismo, e a psicanalise. Orlandi (2010). Assim a entrevista reeditada com o título de “ Um escritor na biblioteca com João Gilberto Noll”, foi cedida a revista Cândido, Jornal da Biblioteca pública do Paraná em 2012 no projeto, Um escritor na Biblioteca, mediada pelo escritor e romancista José Castello no oitavo encontro do projeto. Nas palavras de Orlandi (2010), o sujeito, diríamos está para o discurso assim como o autor está para o texto. A finalidade a ser desenvolvida é analisar enquanto caráter discursivo e não literário, como a funcionalidade de interpretar pelos viés da AD, a comunicabilidade por entre o texto que fornece uma abordagem, para determinar seu processo de constituição no diálogo que configura e inscreve sua relação com o um mundo por meio da sua linguagem. 1.1 O contexto do corpus discursivo no predomínio da AD EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Ao interpretar um texto, retiramos dele o que condiz com a procedência dos fatos revelados, então a observação é o que determinará a relação que se tem do sujeito com sua história e a construção do sujeito por meio dela. Como diz Orlandi (2010, p.59) ao referir sobre o dispositivo da interpretação, a Análise do discurso não procura sentido verdadeiro, mas o real sentido em sua materialidade linguística e histórica. Seria compreensível que a interpretação é a relação com o mundo exterior, partindo da sua abordagem textual e o seu procedimento de formulação e reformulação do sujeito estagnado por esse mundo que se contradiz na sua forma de relacionar-se perante e essa prática dialógica que a condiz. A entrevista cedida ao também romancista João Castello possui traços que leva a essa construção dialógica, e serve para distribuir as aplicações plurais e substanciar os sujeitos encontrados na literatura de Noll correspondente com a ideologia eminente a sua. Orlandi (2010) ao ressaltar sobre esse dispositivo que em face de interpretação diz que: se espera do dispositivo do analista é que lhe permita trabalhar não numa posição neutra mas que seja relativizada em face da interpretação: preciso que ele atravesse e efeito da transparência da linguagem, da literalidade do sentido e da onipotência do sujeito. Esse dispositivo vai assim investir no opacidade da linguagem, no descentramento do sujeito e no efeito metafórico, isto é, no equivoco, na falha na materialidade. No trabalho da ideologia.(ORLANDI, 2010.p.61) Orlandi (2010), ainda afirma que a posição do leitor insinua a interpretação através do simbólico e esse é o ponto de partida que o coloca numa posição deslocada em que a linguagem evidencia seu funcionamento. Dentro desse pressuposto o trabalho a qual terá o corpus para este estudo será desenvolvido por meio da análise do discurso, obtendo através da linguagem inserida na entrevista por Noll, leva as circunstancias na abordagem de construção de seu personagem na esteira contextual da sua escrita. A entrevista com o escritor João Gilberto Noll, romancista e contista no nosso panorama atual da literatura EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 brasileira foi cedida à revista Cândido Jornal da Biblioteca publica do Paraná, no projeto “ Um escritor na biblioteca” em 2012 e mediada pelo também escritor José Castello no oitavo encontro desse projeto. Nessa entrevista João Gilberto Noll fala de suas característica e influência musical , poesia e cinema, características essas, que incorpora a literatura de Noll como expressão de uma voz na contemplação do mundo em relação a sua literatura, e esse estigma é o que compõe a linguagem do autor. A entrevista é dividida em partes, pois fala sobre sua estética literária e cita alguns de seus 16 livros, entre eles os premiados livros Harmada e Bandoleiros , e também sobre seu recente livro lançado naquele ano “Solidão Continental”. Na primeira parte da entrevista é focada nos romances premiados de Noll e como sua escrita o solidificou como um autor que tem na linguagem, traços de uma lírica e ao mesmo um personagem que traz um sujeito sociológico e apático ao seu exterior. Nesse primeiro momento também é abordado sua influência literária, e seu ultimo livro, lançado nesse mesmo ano. A entrevista inicia já com apontamentos sobre a sua singularidade deste seu início em nossa literatura em 1980, pelo gênero conto com livro o” Cego e a Dançarina “ até sua prosa atual, seus personagens foram alguns dos assuntos abordados por Castello, e logo no primeiro momento da entrevista a narrativa de Noll é firmada como expressão. Todos os seus 16 romances são guiados por um homem sem identidade, personagem onipresente em sua ficção, assim o autor se caracteriza em seu processo de produção . Ao observar os elementos contidos na narrativa de Noll e identificar o sujeito que fala sua narrativa interpretada por meio do contexto material, formulada com o objetivo de firmar seu gênero dentro do espaço, a entrevista, e focar a dialética com a interação social. O diálogo contido nessa entrevista entre o locutor que a media leva interação com alguém que constrói o sujeito da narrativa de Noll, enquanto escritor expoente nessa relação. Há uma relação direta com a linguagem que vai se moldando em torno de seu significado e revelando ao mesmo em um discurso indireto o sujeito que ilustra a literatura existente na escrita do autor.Para Maingueneau( 1997,p.85), o discurso direto se caracteriza pela aparição de um segundo "locutor" no enunciado atribuído a um primeiro "locutor". O texto Jornalístico que se apropria é suposto pela disposição que o texto privilegia ao analisar as condições em que se configura, ou seja, dá indícios tanto na elaboração e estilística do autor, quanto na sua formação, e por meio disso, controle em sua significação ao enunciar os sujeitos da sua narrativa. Nesse caso o locutor na condição de entrevistar dá a liberdade necessária contida ao texto/reportagem para o interlocutor, o entrevistado constrói a sua imagem no metadiscurso. Na seguinte passagem da primeira parte da entrevista esse interlocutor na condição de escritor entrevistado ao se referir ao seu EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 processo de criação diz : “É uma relação mais para o sagrado, eu acho. Ninguém briga. Enquanto ele não está em produção, eu vou para o computador para escrever em estado de vazio, para que ele possa se estabelecer com liberdade”,( NOLL, 2012) Ao se apropriar de um metadiscurso o interlocutor nesse caso, projeta-se com o objetivo de atingir sua abordagem comunicativa, e leva a atingir com isso uma maior quantidade de interlocutores que irá receber a entrevista como forma ampla ao examinar todo o corpus do texto. Então para Maingueneau o metadiscurso: De um ponto de vista ingênuo, o metadiscurso e apenas um conjunto de acréscimos contingentes destinados a retificar a trajetória da enunciação, colocá-la em conformidade com as intenções do locutor. A AD, em geral, lida com textos cuja produção e relativamente bem controlada, de forma que, com frequência, o metadiscurso mostra-se como tal, a "derrapagem" verbal produz sentido. (p.94). Assim, o discurso na entrevista é articulado dentro de uma pretensão enunciativa a partir de pontos que se intercalam entre a ideia que o objeto se materializa e os níveis comunicativos que exercem ligados aos pontos de sua enunciação, ajustando o seu discurso com sua pretensão interlocutora. Nessas pretensões Maingueneau (1997,p.93) afirma que o ponto de vista do interlocutor, apresenta grande interesse, pois permite descobrir os “pontos sensíveis” [...] Seria esses pontos sensíveis que leva a compreender a sua formação na próxima parte da entrevista: Eu tinha vinte e poucos anos quando A paixão segundo G. H. foi lançado. E esse livro foi definitivo e definidor para mim. Então pensei: se ela fez isso, por que eu não posso tentar fazer também um romance abstrato?” Leitor voraz de poesia, Noll se disse influenciado por Camões e T.S. Eliot, mas também pelo cinema de Michelangelo Antonioni. “Fui um garoto viciado no cinema do Antonioni, que é o cineasta da incomunicabilidade. Me identificava, me identifico muito ainda com aquilo. Talvez porque eu seja uma pessoa realmente com um histórico de muita dificuldade para me expressar e a literatura vem para compensar.”( NOLL, 2012) EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 A relação nesse fragmento do texto já o classifica tanto sua influência literária como o objeto que produz e reflete a uma imagem interior, refletida na construção de seus personagens, ou seja, sujeitos idelogicamente envolvidos no debate, que em uma relação da sua identidade é abalada pelo mundo e interpretado no simbólico constituinte, e esse se estabelece como acontecimento, ou seja o lugar que lhe pertence e que se firmará no seu discurso. Entende-se que o sujeito enquanto entrevistado fala sobre os elementos que engloba sua trajetória no campo ideológico enquanto escritor. Maingueneau refere que, ao significar seus pontos de divergência com seu exterior, marca seu território pr6prio em um campo onde a luta pela existência passa pelo domínio de um certo número de significantes.(1997,p.95). Contudo, utilizar um dos meios de comunicação na era tecnológica, força a conscientizar que o efeito no discurso leva a detectar um sentido material que serve de dispositivo de comunicação na revista digital, mesmo não sendo a fala oral ,o objeto pode ser analisado. Segundo Maingueneau (2004 p.141) ao se referir ao discurso direto, é sempre um fragmento submetido ao enunciador do discurso citante, que dispõe de múltiplos meios para lhe dar um enfoque pessoal. Isso explica a forma que iremos, detectar na entrevista as falas do entrevistado ,por meios de citações e aspas, a linguagem como forma expressiva de interpretação pelas palavras. 1.2 Uma entrevista na Biblioteca: A interpretação como linguagem expoente A partir desse pressuposto a entrevista se constitui em partes transcrita em texto com subtítulos e que divide-se em pontos de fusão que focam a sua significância e construção do sujeito por meio do narrador ,que o autor se apresenta. Esses pontos são divididos em partes que revela toda a construção de seu discurso, e são subdivididas por subtítulos com o seguinte esquema: “Relação com os livros, Teatro , Cantos e Cinema, Influência, T.S.Eliot, Biblioteca”, se refere a sua formação como sujeito no espaço; os subtítulos, “Porto alegre e Homem sem nome “, dá característica relacionadas a sua origem digamos que histórica e sua relação com a sociedade atual, e podemos constatar na cidade como ponto de abertura e na ruptura do segundo subtítulo; “ Relação com o personagem, influência do cinema e linguagem”, refere-se na projeção de seu protagonista, “romance político”, contextualiza com sua ideologia e firmação ao seu espaço; “Mínimos Múltiplos Comuns”, é um subtítulo isolado, pois refere ao seu livro de contos; “Memória, Incomunicabilidade, Formação do leitor e Interlocutor”, esses se referem ao narrador de Noll, pois fala de si próprio em seu processo de comunicação e diálogo com o mundo. Com esses esquemas é que iremos analisar o discurso que o “texto entrevista” propõe no diálogo com o escritor e sua literatura a fim de interpretar, o sujeito com sua relação ideológica, com a história que está inserido num período que se restabelece pelas rupturas. EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Ainda no conceito de Maingueneau (2004, p.111) ,considera que toda fala procede de um enunciador encarnado; mesmo quando escrito, um texto é sustentado por uma voz — à de um sujeito situado para além do texto. Assim, considera-se alguns trechos da entrevista como essa voz, que identificamos para compor a análise na construção pela linguagem transcrita no esboço desse trabalho. Portanto, ao analisar a primeira parte voltada a sua formação intelectual, a entrevista relata sua relação com os livros e o entrevistado fala da mãe como leitora e o começo por Júlio Verne , entre nove e dez anos , quase não leu Monteiro Lobato e teve muita influencia de Choppin e Beethoven, pois se preparava para ser cantor Lírico. Essa musicalidade é marcada em sua literatura por tal influencia, ele ainda firma que a literatura foi sua última opção. Na parte em que fala sobre o teatro, o entrevistado refere-se ao período da adolescência que estava em crise o impossibilitando de participar de peças teatrais devido sua introspecção . Percebe-se em seu discurso uma consubstancia com o mundo, isso explica que seu diálogo com o mundo por meio da leitura , era esse também seu diálogo pela arte, pela literatura que foram fundamentais para seu papel de escritor. Sempre em seus textos presencia-se uma escrita que comunica com a música e isso explica sua formação musical, pois iniciou pela música, cantando em casamentos a Ave Maria de Schubert , aos 16 e 17 anos o escritor relata que não queria mais estudar e foi no período que ficou afastado que começou a escrever nas próprias palavras de Noll, é o mesmo que descreve o sujeito que habita a linguagem do autor. “Pois a escrita era um tipo de expressão que não precisava de uma equipe, de um público diretamente. É, realmente, a arte solitária por excelência.”(NOLL, 2012). Esse discurso com o mundo na interpretação do autor só poderia ser realizada através da escrita, é assim que contextualiza o discurso do seu sujeito , em um mundo mediado por um elemento interior e abstrato. O autor ainda relata suas influências como Sartre, T.S. Eliot, Henry Miller, Françoise Sagan, a Bossa Nova o Jazz que foi apresentado por um grande amigo, ao citar T.S. Eliot faz uma relato sobre a sua forma de relacionar com a Ficção: Eu queria uma coisa assim, que não precisasse falar tanto de enredo, quer dizer, sou um ficcionista um tanto desnaturado, de linguagem, não cultivo tanto o enredo, e o Eliot dava só tópicos, daquelas ruínas, daquela coisa desértica, uma certa decadência muito interessante, muito atrativa para um jovem que vinha criticando ferozmente as coisas institucionais como a família, o colégio e outra coisas que comecei a execrar naquela época. Na minha literatura tem um cara inconstitucional, sem família, desfamiliarizado. Parece que isso foi gestado já ali. E através, principalmente, da grandiosidade obra de T.S. Eliot.(NOLL, 2012) EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Essa influência firma ainda mais, características inseridas em seus personagens que estão em busca de algo, são desterrados no ambiente ficcional que se encontram e isso, é perceptível em seus contos romances, personagens que transitam por um eu que está em busca de algo. No período em que volta a sua origem em Porto Alegre, e diz que não sabe se irá morar nessa cidade pelo fato de morar a muitos anos no rio de Janeiro e ter muitos amigos que fez no período dos vinte e trinta anos em que viveu por lá. Noll (2012).O autor se refere como ser um viajante, uma característica marcada em seus personagens, mesmo ao revelar nesse ponto da entrevista que não é autor biográfico , pois seus livros não refazem sua vida geograficamente ela ainda afirma “que tem um outro que habita dentro de mim e esse é o meu protagonista, você vê que os meus livros tem o mesmo protagonista em circunstancias diferentes, pois um livro não é continuidade explicita do outro [...]”.(NOLL, 2012). O autor explica que mudam as características mais o protagonista é o mesmo, e alega também que seus personagens estão a parte de um sistema que a sociedade estabelece, ele é contemplativo, e isso é presente em seus personagens que embora sem nome, exceto as vezes em seu romance, usa o nome João como no livro “A fúria do Corpo” e em seu último livro “Solidão Continental”, e isso é uma ironia que o autor deixa no ar no contexto da entrevista, sendo possível a análise por meio da própria obra em si. Ao relatar sua relação com seu personagem é construído na dinâmica do cotidiano , ou seja como está hoje, pelo fato de se apaixonar pelo presente, são os detalhes que ele caracteriza a incompletude desse sujeito. João Gilberto Noll em sua influência se considera um cinéfilo, tem um pendor pela imagem, e isso o que faz como narrador pulsivo, principalmente no livro Solidão continental, a condição de seu personagem segundo Noll é infra-humana, e isso reflete na sua linguagem mais operacionalizante. Esse termo que utiliza para caracterizar seu personagem “infra-humanidade”, nada mais é que a forma que Noll utiliza para dar voz a um personagem e aí surge a metafórico no João, um nome que dá ao seu protagonista, e que se transforma em um cidadão, que vai fazer da ficção uma forma de perplexar, transgredir na literatura, no mundo, atropelado por condições simbólicas, esse meio social se transgrede na literatura de Noll. Ao abordar o romance político, essa é uma parte de fusão na entrevista, tem forte impacto, Noll inicia o texto referindo que seus romances são políticos por que são subjetivos, diferente da década de sessenta e setenta quando um romance subjetivo, era considerado alienado como o caso da escritora Clarice Lispector a qual deve grande influencia literária, ser subjetivo (sozinho),nos dias atuais para o EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 escritor é ser político. Nesse trecho, ele quer se referir como as sociedades modernas manipulam as pessoas e o diferente e ser individual, nessa parte ele cita o exemplo da tela em branco, como se a tela fosse o espaço vazio que todos nós cobrimos, o próprio vazio descontínuo que habita as pessoas principalmente nas cidades grandes que se deparam com o caos. O sujeito atual se vê dentro de uma individualismo que o própria sociedade contribuiu para isso, e nas palavras de Noll : Mas, realmente, os meus romances são políticos, sim, essa é a Condição que a nossa sociedade engendrou através da cibernética, através dessa coisa de todo mundo estar olhando para uma tela em branco tendo que falar, falar, falar nessa terra devastada pelo branco. Mas, hoje, ninguém quer encarar essa condição tão finita que nos foi. legada e que, se não fosse assim, não haveria literatura. A literatura existe porque eu vou morrer. Não quero morrer, gosto de estar vivo, com todas as dificuldades. E a literatura é isso. É a religião que eu perdi, quer dizer, num mundo sem transcendência. Acho que, realmente, falar-se de solidão hoje é um ato político. Basta você viver numa cidade de porte grande, como a que eu e vocês vivem, para saber o quanto as pessoas padecem em fins de semana arrastados. NOLL, 2012) Há uma contemplação de Noll pela literatura, apesar de ter uma formação católica, esse desmembramento com a religião foi substituída pela literatura, é a literatura que transfigura a realidade, e é essa forma de interpretar, que nas palavras de Noll enaltece a vida humana, é quase um pensamento psicológico do autor ao relatar condições interiores do pensamento que liga aos sentimentos das pessoas é com esses sentimentos que está explicitado nessa parte da entrevista como a saudade a solidão o ódio, são esses sentimentos do plano interior que faz a literatura de Noll, pois se diz o que na sociedade não poderia ou não surtiria efeito e ao finalizar essa parte diz que a velocidade é o que domina as relações dos nossos dias.(NOLL, 2012). Noll ao referir sobre seus contos em especial ao livro de contos “Mínimos, Múltiplos, Comuns”, ele encara como em todos os contos uma nova história, uma nova pulsação, diferente de seu primeiro livro de contos de 1980, “O cego e a Dançarina” que não tinha um direcionamento literário firmado como personagem protagonista, isso somente aconteceu com um dos seus romances mais famosos “A fúria do Corpo”, um livro amorosamente segundo o autor, bem sucedido. Fernanda Mussalim (2000, p.109) afirma que o sujeito define-se através da palavra do outro, isso é o significante do outro, e dividese entre o consciente e o inconsciente relacionado a uma descontinuidade, pois emerge entre os discursos. EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Escritor que utiliza a memória para escrever sobre os flashs, devido a sua forte influencia com o cinema, principalmente de Michelangelo Antonioni, cineasta da incomunicabilidade, e isso traz influencia também em sua identidade, pois o autor vem a se expressar pela literatura. João Gilberto Noll teve momentos de crises de identidades na adolescência chegou a ser internado em clínica de repouso, isso ele explica como forma de extravasar sua linguagem na vida literária. Considera-se um escritor metafísico e ao dizer mais uma vez que escreve porque vai morrer. Nesse termo Mussalim (2000, p.2009), ressalta que é sentido que o jogo de imagens faz parte das condições de produção de um discurso, na medida em que as imagens que o sujeito vai construindo ao enunciar vão definindo e redimindo o processo discursivo. Observamos então em seu diálogo, que essa transcendência sobre os assuntos que aborda com naturalidade em seus livros deixa claro que foi resultado de uma evolução também histórica que passou desde sua formação na infância com preceitos católicos, seu conflito interior com o mundo na adolescência até esse extravasamento de conceitos e opiniões, configura a sua autoafirmação como sujeito participante dessa sociedade, na imagem que o sujeito, em sua visão política. Portanto, vê-se que não seja possível o domínio pela própria tela em branco, isso explica sua forma de escrever, sua literatura ele não a faz para atender critérios de um mercado consumidor, e também segundo o próprio autor não pode mudar os rumos da sua literatura para satisfazer esse leitor consumidor. Mussalim, (2000,p.110) discute o materialismo histórico na AD que concebe o discurso como uma manifestação e não materialização da ideologia decorrente do modo de organização dos modos de produção social. Então esse sujeito que fala ocupa seu espaço social e histórico formulado no materialismo de suas ideias contidas em interesses na sociedade. A entrevista, revela que a sua formação foi formada pelo existencialismo, não poderia mudar para a geração high-tech , sua preocupação é a autenticidade e isso é importante para o romance. Lembra também que a sua principal interlocutora foi a Clarice Lispector com o livro a paixão segundo G H, escritora primordial para a sua literatura de certa forma envolvida pela imagem, ainda lembrou Adonias Filho, autor esquecido nos dias de hoje e Dalton Trevisan, lembrando que esses são alguns dos seus mais gratos escritores segundo o próprio Noll. O sujeito em questão interpelado pelo o objeto social do discurso, como detentor na sua formação, não somente como escritor mais como cidadão participante da história e expoente no seu espaço e tempo. EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014 Considerações finais A analise do discurso possibilitou pensar o texto como uma forma de considerar diferentes práticas em que o recurso utilizado propõe em uma dimensão dialógica, e caracteriza o discurso em uma relação com seu elemento. Portanto, se as ideias se materializam pelo discurso, o texto para escolha desse estudo visou uma interpretação e construção ideológica na manifestação comunicativa da entrevista. Por meio da entrevista obteve o apoio para uma abordagem discursiva em face ao seu dispositivo textual, foi possível embasar nas teorias explicitas durante a construção desse trabalho, uma forma de elucidar a questão da comunicabilidade em relação ao outro, e em relação a própria interpretação comumente com o exterior, afirmando que é pela língua que considera a cultura e a história do sujeito coordenada no tempo e no espaço simbólico. Referências Bibliográficas Maingueneau, Dominique. Analises de Textos de Comunicação. Trad.Cecilia P. de Souza e Silva.São Paulo. 3 ed.Décio Rocha: 2004. Maingueneau, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso.Tad. Freda Indursky: revisão dos originais da tradução Solange Maria Ledda Gallo, Maria da Gloria de Deus Vieira de Moraes. Campinas, SP i Pontes : Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1997. Mussalim, Fernanda, Anna Christina Bentes (Orgs.). Introdução à Linguística.- 4, ed. São Paulo: Cortez, 2004. Orlandi. P.Eni. Analise De Discurso.Campinas.9 Ed. SP. Pontes Editores,2010. http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/noticias/entrevista/umescritornabibiotecacomjoãogilberton oll Acessado in.10-11-2014: 22:30. EDIÇÃO Nº 14 JULHO DE 2014 ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014 ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014