EDIÇÃO Nº 14
JULHO DE 2014
ARTIGO RECEBIDO ATÉ 10/05/2014
ARTIGO APROVADO ATÉ 30/06/2014
A COMUNICAÇÃO TEXTUAL COMO LINGUAGEM NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO DO
DISCURSO
Luciene Veiga da Costa
PG – UEMS
Marlon Leal Rodrigues
NEAD/UEMS
Resumo: O presente trabalho constitui em analisar a entrevista do escritor João Gilberto Noll concedida a revista Candido,
em 2012, dentro dos princípios da Análise do discurso com o intuito de interpretar o texto em questão, sobre a reflexão da
linguagem como dominante de objeto de análise. Nessa perspectiva, aplicada ao texto digital, leva a abordar a construção do
sujeito no diálogo entre o locutor e o interlocutor mediante a sua materialidade discursiva.
Palavras Chaves: Linguagem, objeto, interpretar.
Abstract: The present study is to analyze the interview the writer João Gilberto Noll granted in the magazine Candido, in
2012, within the principles of discourse analysis in order to interpret the text in question, on the reflection of language as
dominant object of analysis.From this perspective, applied to digital text, leads to approach the construction of the subject
in dialogue between the speaker and the listener through their discursive materiality.
Key Words: Language, object, interpret.
Introdução
O presente trabalho tem como pretensão analisar o conteúdo abordado buscando esclarecer
dentro dos preceitos da Análise do Discurso e em relação ao sujeito, enfatizar sua linguagem com seu
caráter discursivo. A linguagem presente leva a reflexão sobre a relação do sujeito com o mundo
enquanto sua prática e sua construção de identidade, no papel de transformar sua história, observando a
língua como um sistema abstrato. Eni P. Orlandi (2010. P.15), propõe que, a análise do discurso, procura
compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral,
constitutivo do homem e da sua história.
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Ao apropriar-se da Análise do discurso para conceituar esse trabalho, é necessário compreender
que seu objeto próprio teve inicio nos anos sessenta do século XX, com interesse na língua como
funcionamento para a produção de sentidos.(ORLANDI, 2010, p.17). Para Pêcheux, não há sujeito sem
discurso e não há discurso sem sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz
sentido.(ORLANDI,2010)
Para tal análise, é necessário refletir a língua como objeto de forma a instituir-se socialmente
manifestando a ideologia no discurso associada ao sujeito e desta forma, interpreta-la com ligação a sua
história.
A entrevista corpus para essa análise, propõe essa mediação entre o interlocutor e o locutor,
que forma uma concepção dialógica desse sujeito que aos poucos vai revelando o processo discursivo
submetido ao discurso indireto e submete-se o sujeito a uma interação que constitui como fenômeno
ideológico estabelecido no texto. Orlandi (2010) ao se referir aos formalistas Russos, no século XX, já
pressentiam no texto uma estrutura , embora fosse literário, seus trabalhos buscavam uma lógica interna
no texto [...]
Entretanto, a Análise do discurso leva a discussão e trabalha a sua materialidade, considera a
ideologia como afirmação no texto, considera que a linguagem não é transparente, ela se constitui pela
relação entre três domínios: a Linguística, o Marxismo, e a psicanalise. Orlandi (2010).
Assim a entrevista reeditada com o título de “ Um escritor na biblioteca com João Gilberto
Noll”, foi cedida a revista Cândido, Jornal da Biblioteca pública do Paraná em 2012 no projeto, Um
escritor na Biblioteca, mediada pelo escritor e romancista José Castello no oitavo encontro do projeto.
Nas palavras de Orlandi (2010), o sujeito, diríamos está para o discurso assim como o autor está para o
texto. A finalidade a ser desenvolvida é analisar enquanto caráter discursivo e não literário, como a
funcionalidade de interpretar pelos viés da AD, a comunicabilidade por entre o texto que fornece uma
abordagem, para determinar seu processo de constituição no diálogo que configura e inscreve sua
relação com o um mundo por meio da sua linguagem.
1.1 O contexto do corpus discursivo no predomínio da AD
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Ao interpretar um texto, retiramos dele o que condiz com a procedência dos fatos revelados,
então a observação é o que determinará a relação que se tem do sujeito com sua história e a construção
do sujeito por meio dela. Como diz Orlandi (2010, p.59) ao referir sobre o dispositivo da interpretação,
a Análise do discurso não procura sentido verdadeiro, mas o real sentido em sua materialidade linguística
e histórica. Seria compreensível que a interpretação é a relação com o mundo exterior, partindo da sua
abordagem textual e o seu procedimento de formulação e reformulação do sujeito estagnado por esse
mundo que se contradiz na sua forma de relacionar-se perante e essa prática dialógica que a condiz. A
entrevista cedida ao também romancista João Castello possui traços que leva a essa construção dialógica,
e serve para distribuir as aplicações plurais e substanciar os sujeitos encontrados na literatura de Noll
correspondente com a ideologia eminente a sua. Orlandi (2010) ao ressaltar sobre esse dispositivo que
em face de interpretação diz que:
se espera do dispositivo do analista é que lhe permita trabalhar não numa posição
neutra mas que seja relativizada em face da interpretação: preciso que ele atravesse e
efeito da transparência da linguagem, da literalidade do sentido e da onipotência do
sujeito. Esse dispositivo vai assim investir no opacidade da linguagem, no
descentramento do sujeito e no efeito metafórico, isto é, no equivoco, na falha na
materialidade. No trabalho da ideologia.(ORLANDI,
2010.p.61)
Orlandi (2010), ainda afirma que a posição do leitor insinua a interpretação através do simbólico
e esse é o ponto de partida que o coloca numa posição deslocada em que a linguagem evidencia seu
funcionamento.
Dentro desse pressuposto o trabalho a qual terá o corpus para este estudo será desenvolvido
por meio da análise do discurso, obtendo através da linguagem inserida na entrevista por Noll, leva as
circunstancias na abordagem de construção de seu personagem na esteira contextual da sua escrita. A
entrevista com o escritor João Gilberto Noll, romancista e contista no nosso panorama atual da literatura
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brasileira foi cedida à revista Cândido Jornal da Biblioteca publica do Paraná, no projeto “ Um escritor
na biblioteca” em 2012 e mediada pelo também escritor José Castello no oitavo encontro desse projeto.
Nessa entrevista João Gilberto Noll fala de suas característica e influência musical , poesia e
cinema, características essas, que incorpora a literatura de Noll como expressão de uma voz na
contemplação do mundo em relação a sua literatura, e esse estigma é o que compõe a linguagem do
autor. A entrevista é dividida em partes, pois fala sobre sua estética literária e cita alguns de seus 16
livros, entre eles os premiados livros Harmada e Bandoleiros , e também sobre seu recente livro lançado
naquele ano “Solidão Continental”. Na primeira parte da entrevista é focada nos romances premiados
de Noll e como sua escrita o solidificou como um autor que tem na linguagem, traços de uma lírica e ao
mesmo um personagem que traz um sujeito sociológico e apático ao seu exterior. Nesse primeiro
momento também é abordado sua influência literária, e seu ultimo livro, lançado nesse mesmo ano.
A entrevista inicia já com apontamentos sobre a sua singularidade deste seu início em nossa
literatura em 1980, pelo gênero conto com livro o” Cego e a Dançarina “ até sua prosa atual, seus
personagens foram alguns dos assuntos abordados por Castello, e logo no primeiro momento da
entrevista a narrativa de Noll é firmada como expressão. Todos os seus 16 romances são guiados por um
homem sem identidade, personagem onipresente em sua ficção, assim o autor se caracteriza em seu
processo de produção .
Ao observar os elementos contidos na narrativa de Noll e identificar o sujeito que fala sua
narrativa interpretada por meio do contexto material, formulada com o objetivo de firmar seu gênero
dentro do espaço, a entrevista, e focar a dialética com a interação social. O diálogo contido nessa
entrevista entre o locutor que a media leva interação com alguém que constrói o sujeito da narrativa
de Noll, enquanto escritor expoente nessa relação. Há uma relação direta com a linguagem que vai se
moldando em torno de seu significado e revelando ao mesmo em um discurso indireto o sujeito que
ilustra a literatura existente na escrita do autor.Para Maingueneau( 1997,p.85), o discurso direto se
caracteriza pela aparição de um segundo "locutor" no enunciado atribuído a um primeiro "locutor".
O texto Jornalístico que se apropria é suposto pela disposição que o texto privilegia ao analisar
as condições em que se configura, ou seja, dá indícios tanto na elaboração e estilística do autor, quanto
na sua formação, e por meio disso, controle em sua significação ao enunciar os sujeitos da sua narrativa.
Nesse caso o locutor na condição de entrevistar dá a liberdade necessária contida ao texto/reportagem
para o interlocutor, o entrevistado constrói a sua imagem no metadiscurso. Na seguinte passagem da
primeira parte da entrevista esse interlocutor na condição de escritor entrevistado ao se referir ao seu
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processo de criação diz : “É uma relação mais para o sagrado, eu acho. Ninguém briga. Enquanto ele
não está em produção, eu vou para o computador para escrever em estado de vazio, para que ele possa
se estabelecer com liberdade”,( NOLL, 2012)
Ao se apropriar de um metadiscurso o interlocutor nesse caso, projeta-se com o objetivo de
atingir sua abordagem comunicativa, e leva a atingir com isso uma maior quantidade de interlocutores
que irá receber a entrevista como forma ampla ao examinar todo o corpus do texto. Então para
Maingueneau o metadiscurso:
De um ponto de vista ingênuo, o metadiscurso e apenas um conjunto de acréscimos
contingentes destinados a retificar a trajetória da enunciação, colocá-la em
conformidade com as intenções do locutor. A AD, em geral, lida com textos cuja
produção e relativamente bem controlada, de forma que, com frequência, o
metadiscurso mostra-se como tal, a "derrapagem" verbal produz sentido. (p.94).
Assim, o discurso na entrevista é articulado dentro de uma pretensão enunciativa
a partir de pontos que se intercalam entre a ideia que o objeto se materializa e os níveis
comunicativos que exercem ligados aos pontos de sua enunciação, ajustando o seu
discurso com sua pretensão interlocutora. Nessas pretensões Maingueneau (1997,p.93)
afirma que o ponto de vista do interlocutor, apresenta grande interesse, pois permite
descobrir os “pontos sensíveis” [...]
Seria esses pontos sensíveis que leva a compreender a sua formação na próxima parte da
entrevista:
Eu tinha vinte e poucos anos quando A paixão segundo G. H. foi lançado. E esse livro
foi definitivo e definidor para mim. Então pensei: se ela fez isso, por que eu não posso
tentar fazer também um romance abstrato?” Leitor voraz de poesia, Noll se disse
influenciado por Camões e T.S. Eliot, mas também pelo cinema de Michelangelo
Antonioni. “Fui um garoto viciado no cinema do Antonioni, que é o cineasta da
incomunicabilidade. Me identificava, me identifico muito ainda com aquilo. Talvez
porque eu seja uma pessoa realmente com um histórico de muita dificuldade para me
expressar e a literatura vem
para compensar.”( NOLL, 2012)
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A relação nesse fragmento do texto já o classifica tanto sua influência literária como o objeto que produz
e reflete a uma imagem interior, refletida na construção de seus personagens, ou seja, sujeitos idelogicamente
envolvidos no debate, que em uma relação da sua identidade é abalada pelo mundo e interpretado no simbólico
constituinte, e esse se estabelece como acontecimento, ou seja o lugar que lhe pertence e que se firmará no seu
discurso. Entende-se que o sujeito enquanto entrevistado fala sobre os elementos que engloba sua trajetória no
campo ideológico enquanto escritor. Maingueneau refere que, ao significar seus pontos de divergência com seu
exterior, marca seu território pr6prio em um campo onde a luta pela existência passa pelo domínio de um certo
número de significantes.(1997,p.95).
Contudo, utilizar um dos meios de comunicação na era tecnológica, força a conscientizar que o efeito
no discurso leva a detectar um sentido material que serve de dispositivo de comunicação na revista digital, mesmo
não sendo a fala oral ,o objeto pode ser analisado. Segundo Maingueneau (2004 p.141) ao se referir ao discurso
direto, é sempre um fragmento submetido ao enunciador do discurso citante, que dispõe de múltiplos meios para
lhe dar um enfoque pessoal. Isso explica a forma que iremos, detectar na entrevista as falas do entrevistado ,por
meios de citações e aspas, a linguagem como forma expressiva de interpretação pelas palavras.
1.2 Uma entrevista na Biblioteca: A interpretação como linguagem expoente
A partir desse pressuposto a entrevista se constitui em partes transcrita em texto com subtítulos e que
divide-se em pontos de fusão que focam a sua significância e construção do sujeito por meio do narrador ,que o
autor se apresenta.
Esses pontos são divididos em partes que revela toda a construção de seu discurso, e são subdivididas
por subtítulos com o seguinte esquema: “Relação com os livros, Teatro , Cantos e Cinema, Influência, T.S.Eliot,
Biblioteca”, se refere a sua formação como sujeito no espaço; os subtítulos, “Porto alegre e Homem sem nome “,
dá característica relacionadas a sua origem digamos que histórica e sua relação com a sociedade atual, e podemos
constatar na cidade como ponto de abertura e na ruptura do segundo subtítulo; “ Relação com o personagem,
influência do cinema e linguagem”, refere-se na projeção de seu protagonista, “romance político”, contextualiza
com sua ideologia e firmação ao seu espaço; “Mínimos Múltiplos Comuns”, é um subtítulo isolado, pois refere
ao seu livro de contos; “Memória, Incomunicabilidade, Formação do leitor e Interlocutor”, esses se referem ao
narrador de Noll, pois fala de si próprio em seu processo de comunicação e diálogo com o mundo.
Com esses esquemas é que iremos analisar o discurso que o “texto entrevista” propõe no diálogo
com o escritor e sua literatura a fim de interpretar, o sujeito com sua relação ideológica, com a história
que está inserido num período que se restabelece pelas rupturas.
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Ainda no conceito de Maingueneau (2004, p.111) ,considera que toda fala procede de um
enunciador encarnado; mesmo quando escrito, um texto é sustentado por uma voz — à de um sujeito
situado para além do texto. Assim, considera-se alguns trechos da entrevista como essa voz, que
identificamos para compor a análise na construção pela linguagem transcrita no esboço desse trabalho.
Portanto, ao analisar a primeira parte voltada a sua formação intelectual, a entrevista relata sua
relação com os livros e o entrevistado fala da mãe como leitora e o começo por Júlio Verne , entre nove
e dez anos , quase não leu Monteiro Lobato e teve muita influencia de Choppin e Beethoven, pois se
preparava para ser cantor Lírico. Essa musicalidade é marcada em sua literatura por tal influencia, ele
ainda firma que a literatura foi sua última opção. Na parte em que fala sobre o teatro, o entrevistado
refere-se ao período da adolescência que estava em crise o impossibilitando de participar de peças
teatrais devido sua introspecção . Percebe-se em seu discurso uma consubstancia com o mundo, isso
explica que seu diálogo com o mundo por meio da leitura , era esse também seu diálogo pela arte, pela
literatura que foram fundamentais para seu papel de escritor. Sempre em seus textos presencia-se uma escrita que
comunica com a música e isso explica sua formação musical, pois iniciou pela música, cantando em casamentos
a Ave Maria de Schubert , aos 16 e 17 anos o escritor relata que não queria mais estudar e foi no período que ficou
afastado que começou a escrever nas próprias palavras de Noll, é o mesmo que descreve o sujeito que habita a
linguagem do autor. “Pois a escrita era um tipo de expressão que não precisava de uma equipe, de um
público diretamente. É, realmente, a arte solitária por excelência.”(NOLL, 2012).
Esse discurso com o mundo na interpretação do autor só poderia ser realizada através da escrita,
é assim que contextualiza o discurso do seu sujeito , em um mundo mediado por um elemento interior
e abstrato. O autor ainda relata suas influências como Sartre, T.S. Eliot, Henry Miller, Françoise Sagan,
a Bossa Nova o Jazz que foi apresentado por um grande amigo, ao citar T.S. Eliot faz uma relato sobre
a sua forma de relacionar com a Ficção:
Eu queria uma coisa assim, que não precisasse falar tanto de enredo, quer dizer, sou
um ficcionista um tanto desnaturado, de linguagem, não cultivo tanto o enredo, e o
Eliot dava só tópicos, daquelas ruínas, daquela coisa desértica, uma certa decadência
muito interessante, muito atrativa para um jovem que vinha criticando ferozmente as
coisas institucionais como a família, o colégio e outra coisas que comecei a execrar
naquela época. Na minha literatura tem um cara inconstitucional, sem família,
desfamiliarizado. Parece que isso foi gestado já ali. E através, principalmente, da
grandiosidade obra de T.S. Eliot.(NOLL, 2012)
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Essa influência firma ainda mais, características inseridas em seus personagens que estão em
busca de algo, são desterrados no ambiente ficcional que se encontram e isso, é perceptível em seus
contos romances, personagens que transitam por um eu que está em busca de algo.
No período em que volta a sua origem em Porto Alegre, e diz que não sabe se irá morar
nessa cidade pelo fato de morar a muitos anos no rio de Janeiro e ter muitos amigos que fez no período
dos vinte e trinta anos em que viveu por lá. Noll (2012).O autor se refere como ser um viajante, uma
característica marcada em seus personagens, mesmo ao revelar nesse ponto da entrevista que não é autor
biográfico , pois seus livros não refazem sua vida geograficamente ela ainda afirma “que tem um outro
que habita dentro de mim e esse é o meu protagonista, você vê que os meus livros tem o mesmo
protagonista em circunstancias diferentes, pois um livro não é continuidade explicita do outro
[...]”.(NOLL, 2012).
O autor explica que mudam as características mais o protagonista é o mesmo, e alega também
que seus personagens estão a parte de um sistema que a sociedade estabelece, ele é contemplativo, e isso
é presente em seus personagens que embora sem nome, exceto as vezes em seu romance, usa o nome
João como no livro “A fúria do Corpo” e em seu último livro “Solidão Continental”, e isso é uma ironia
que o autor deixa no ar no contexto da entrevista, sendo possível a análise por meio da própria obra em
si. Ao relatar sua relação com seu personagem é construído na dinâmica do cotidiano , ou seja como
está hoje, pelo fato de se apaixonar pelo presente, são os detalhes que ele caracteriza a incompletude
desse sujeito.
João Gilberto Noll em sua influência se considera um cinéfilo, tem um pendor pela imagem,
e isso o que faz como narrador pulsivo, principalmente no livro Solidão continental, a condição de seu
personagem segundo Noll é infra-humana, e isso reflete na sua linguagem mais operacionalizante. Esse
termo que utiliza para caracterizar seu personagem “infra-humanidade”, nada mais é que a forma que
Noll utiliza para dar voz a um personagem e aí surge a metafórico no João, um nome que dá ao seu
protagonista, e que se transforma em um cidadão, que vai fazer da ficção uma forma de perplexar,
transgredir na literatura, no mundo, atropelado por condições simbólicas, esse meio social se transgrede
na literatura de Noll.
Ao abordar o romance político, essa é uma parte de fusão na entrevista, tem forte impacto,
Noll inicia o texto referindo que seus romances são políticos por que são subjetivos, diferente da década
de sessenta e setenta quando um romance subjetivo, era considerado alienado como o caso da escritora
Clarice Lispector a qual deve grande influencia literária, ser subjetivo (sozinho),nos dias atuais para o
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escritor é ser político. Nesse trecho, ele quer se referir como as sociedades modernas manipulam as
pessoas e o diferente e ser individual, nessa parte ele cita o exemplo da tela em branco, como se a tela
fosse o espaço vazio que todos nós cobrimos, o próprio vazio descontínuo que habita as pessoas
principalmente nas cidades grandes que se deparam com o caos.
O sujeito atual se vê dentro de uma individualismo que o própria sociedade contribuiu para
isso, e nas palavras de Noll :
Mas, realmente, os meus romances são políticos, sim, essa é a Condição que a nossa
sociedade engendrou através da cibernética, através dessa coisa de todo mundo estar
olhando para uma tela em branco tendo que falar, falar, falar nessa terra devastada pelo
branco. Mas, hoje, ninguém quer encarar essa condição tão finita que nos foi. legada e
que, se não fosse assim, não haveria literatura. A literatura existe porque eu vou
morrer. Não quero morrer, gosto de estar vivo, com todas as dificuldades. E a literatura
é isso. É a religião que eu perdi, quer dizer, num mundo sem transcendência. Acho
que, realmente, falar-se de solidão hoje é um ato político. Basta você viver numa
cidade de porte grande, como a que eu e vocês vivem, para saber o quanto as pessoas
padecem em fins de semana arrastados. NOLL, 2012)
Há uma contemplação de Noll pela literatura, apesar de ter uma formação católica, esse
desmembramento com a religião foi substituída pela literatura, é a literatura que transfigura a realidade,
e é essa forma de interpretar, que nas palavras de Noll enaltece a vida humana, é quase um pensamento
psicológico do autor ao relatar condições interiores do pensamento que liga aos sentimentos das pessoas
é com esses sentimentos que está explicitado nessa parte da entrevista como a saudade a solidão o ódio,
são esses sentimentos do plano interior que faz a literatura de Noll, pois se diz o que na sociedade não
poderia ou não surtiria efeito e ao finalizar essa parte diz que a velocidade é o que domina as relações
dos nossos dias.(NOLL, 2012).
Noll ao referir sobre seus contos em especial ao livro de contos “Mínimos, Múltiplos, Comuns”,
ele encara como em todos os contos uma nova história, uma nova pulsação, diferente de seu primeiro
livro de contos de 1980, “O cego e a Dançarina” que não tinha um direcionamento literário firmado
como personagem protagonista, isso somente aconteceu com um dos seus romances mais famosos “A
fúria do Corpo”, um livro amorosamente segundo o autor, bem sucedido. Fernanda Mussalim (2000,
p.109) afirma que o sujeito define-se através da palavra do outro, isso é o significante do outro, e dividese entre o consciente e o inconsciente relacionado a uma descontinuidade, pois emerge entre os
discursos.
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Escritor que utiliza a memória para escrever sobre os flashs, devido a sua forte influencia com
o cinema, principalmente de Michelangelo Antonioni, cineasta da incomunicabilidade, e isso traz
influencia também em sua identidade, pois o autor vem a se expressar pela literatura. João Gilberto Noll
teve momentos de crises de identidades na adolescência chegou a ser internado em clínica de repouso,
isso ele explica como forma de extravasar sua linguagem na vida literária. Considera-se um escritor
metafísico e ao dizer mais uma vez que escreve porque vai morrer.
Nesse termo Mussalim (2000, p.2009), ressalta que é sentido que o jogo de imagens faz parte
das condições de produção de um discurso, na medida em que as imagens que o sujeito vai construindo
ao enunciar vão definindo e redimindo o processo discursivo.
Observamos então em seu diálogo, que essa transcendência sobre os assuntos que aborda com
naturalidade em seus livros deixa claro que foi resultado de uma evolução também histórica que passou
desde sua formação na infância com preceitos católicos, seu conflito interior com o mundo na
adolescência até esse extravasamento de conceitos e opiniões, configura a sua autoafirmação como
sujeito participante dessa sociedade, na imagem que o sujeito, em sua visão política. Portanto, vê-se que
não seja possível o domínio pela própria tela em branco, isso explica sua forma de escrever, sua literatura
ele não a faz para atender critérios de um mercado consumidor, e também segundo o próprio autor não
pode mudar os rumos da sua literatura para satisfazer esse leitor consumidor. Mussalim, (2000,p.110)
discute o materialismo histórico na AD que concebe o discurso como uma manifestação e não
materialização da ideologia decorrente do modo de organização dos modos de produção social. Então
esse sujeito que fala ocupa seu espaço social e histórico formulado no materialismo de suas ideias
contidas em interesses na sociedade.
A entrevista, revela que a sua formação foi formada pelo existencialismo, não poderia mudar
para a geração high-tech , sua preocupação é a autenticidade e isso é importante para o romance. Lembra
também que a sua principal interlocutora foi a Clarice Lispector com o livro a paixão segundo G H,
escritora primordial para a sua literatura de certa forma envolvida pela imagem, ainda lembrou Adonias
Filho, autor esquecido nos dias de hoje e Dalton Trevisan, lembrando que esses são alguns dos seus mais
gratos escritores segundo o próprio Noll.
O sujeito em questão interpelado pelo o objeto social do discurso, como detentor na sua
formação, não somente como escritor mais como cidadão participante da história e expoente no seu
espaço e tempo.
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Considerações finais
A analise do discurso possibilitou pensar o texto como uma forma de considerar diferentes
práticas em que o recurso utilizado propõe em uma dimensão dialógica, e caracteriza o discurso em uma
relação com seu elemento. Portanto, se as ideias se materializam pelo discurso, o texto para escolha
desse estudo visou uma interpretação e construção ideológica na manifestação comunicativa da
entrevista.
Por meio da entrevista obteve o apoio para uma abordagem discursiva em face ao seu
dispositivo textual, foi possível embasar nas teorias explicitas durante a construção desse trabalho, uma
forma de elucidar a questão da comunicabilidade em relação ao outro, e em relação a própria
interpretação comumente com o exterior, afirmando que é pela língua que considera a cultura e a história
do sujeito coordenada no tempo e no espaço simbólico.
Referências Bibliográficas
Maingueneau, Dominique. Analises de Textos de Comunicação. Trad.Cecilia P. de Souza e Silva.São
Paulo. 3 ed.Décio Rocha: 2004.
Maingueneau, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso.Tad. Freda Indursky: revisão
dos originais da tradução Solange Maria Ledda Gallo, Maria da Gloria de Deus Vieira de Moraes.
Campinas, SP i Pontes : Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1997.
Mussalim, Fernanda, Anna Christina Bentes (Orgs.). Introdução à Linguística.- 4, ed. São Paulo:
Cortez, 2004.
Orlandi. P.Eni. Analise De Discurso.Campinas.9 Ed. SP. Pontes Editores,2010.
http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/noticias/entrevista/umescritornabibiotecacomjoãogilberton
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